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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS - CCA


DEPARTAMENTO DE CLÍNICA E CIRURGIA VETERINÁRIA - DCCV
MEDICINA VETERINÁRIA
DOENÇAS PARASITÁRIAS DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS
PROFESSORA. DRA. IVETE LOPES DE MENDONÇA

Mosca de Interesse Veterinário – GenêroTabanus, Hematobia


irritans e Stomoxs calcitrans

Aline Maria Moreira do Rêgo


Francisco Guilherme Rosa Vieira
Mariana Orsano Vieira Lima

Teresina – PI

Dezembro / 2020
SUMÁRIO

Hematobia irritans --- 3

Tabanus spp. --- 6

Stomoxs calcitrans --- 9

Referências --- 11

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Haematobia irritans

1. Importância do tema
As infestações por Haematobia irritans ou mosca-dos-chifres, como é
chamada popularmente, possui um impacto negativo em toda a
produção e desempenho do gado devido a sua atividade hematófaga e
picadora, bem como a possível transmissão de patógenos. O estresse
causado pelas picadas dolorosas da mosca reduzem o desempenho
produtivo do animal, causando redução na taxa de produção do leite,
ganho de peso, conversão alimentar e apetite do animal. Como as
moscas picam incessantemente o animal, ele pode vir a morrer devido
ao estresse excessivo.

2. Etiologia
Foi descrita pela primeira vez por Linné na França, em 1758 e
reconhecida como uma praga de bovinos em 1830. No Brasil, a
constatação ocorreu inicialmente em Roraima entre os anos de 1976 e
1977, oriunda da Guiana. Devido as condições ambientais propicias da
região, a H.irritans rapidamente se disseminou pelo território,
alcançando regiões tradicionais na pecuária de corte, como as regiões
do Sul e Centro-Oeste do país.

3. Epidemiologia
O nível das infestações pela mosca-dos-chifres irá variar com a estação
do ano, pelagem, sexo, idade, e susceptibilidade individual dos
indivíduos. As infestações ocorrem em maior parte nos períodos
chuvosos do que nos períodos secos e afetam principalmente animais
de pelagem escura, porém é comum a observação de um elevado
número de moscas em animais de pelagem clara. Os machos adultos
são os mais acometidos devido sua menor mobilidade e sensibilidade,
além dos fatores hormonais, como a elevada concentração de
testosterona.

4. Ciclo Biológico
O ciclo tem início quando a fêmea adulta do H.irritans busca por fezes
frescas dos bovinos para depositar os seus ovos, sendo a interface do
bolo fecal com o solo o local de prevalência. No bolo fecal, as fêmeas
podem colocar aproximadamente 20 ovos e durante toda sua vida, que
dura em média 3 semanas, elas realizam cerca de 15 posturas.
Em aproximadamente 24 horas após a postura, as larvas L1 eclodem e
penetram profundamente nas fazes, a fim de, proteger-se da ação dos
raios solares. Esse estágio dura cerca de 10 horas, até que passam

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para larvas L2, e depois de 18 horas, tornam-se larvas L3. A medida
que o bolo fecal resseca no ambiente, as larvas migram cada vez mais
fundo para as partes mais úmidas.
As pupas (estágio intermediário entre a larva e o adulto) podem ser
encontradas nas fezes em até 64 horas após a eclosão dos ovos. O
período de pupa irá durar cerca de 5 a 6 dias até que emerjam para
adultas.
Após a emergência em adultos, o H.irritans migra em direção a
superfície das fezes ou então para a vegetação e lá permanecem por 1
hora aproximadamente com a cabeça voltada para baixo (geotropismo
positivo), e daí eles partem em busca do hospedeiro.
A cópula irá ocorrer sobre o hospedeiro ou então na vegetação a partir
do segundo dia de vida e postura a partir do terceiro dia da emergência
das fêmeas.

5. Processo Patogênico
Após chegarem na fase adulta, a H.irritans se instala no corpo do
animal, preferencialmente nas partes superiores, como o dorso. Em
casos de infestações, o animal pode vir a estar com todo o corpo
recoberto. Ao receber as picadas constantes de um grande número de
moscas, o animal ficará cada vez mais estressado e irá agitar-se na
tentativa de se livrar delas, perdendo assim grande parte de sua energia
que deveria ser destinada a sua produção (carne ou leite). O estresse
provocado pelas picadas também irá elevar os níveis de cortisol no
plasma sanguíneo, promovendo maior retenção do nitrogênio corpóreo.
A picada também causará anemia devido a constante perca de sangue e
dermatites, o que facilitará o acesso de possíveis patógenos
secundários causando doenças como o Carbúnculo hemático, Leucose
e Anaplasmose.

6. Sinais Clínicos
O principal sinal clínico é a observação das moscas no corpo do animal,
seguindo de anemia, mucosas pálidas, reações inflamatórias na pele e
perca da flexibilidade, diminuição da produtividade, perda de peso e
estresse.

7. Diagnóstico
O diagnóstico pode ser feito pela visualização das mocas no corpo do
animal e pela visualização das larvas e/ou pupas nas fezes do animal.

8. Tratamento
O tratamento pode ser feito através de banhos de pulverização com
medicamentos ou então aplicação de inseticidas no dorso do animal,
utilização de drogas para o controle das larvas da H.irritans nas fezes,

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como o Methropene ou Diflubenzuon, que são inibidores da formação de
quitina. Essas drogas não afetam o crescimento das larvas de besouros
e outros insetos, pois são muito específicas para as dípteras. Outras
drogas que podem ser utilizadas são as avermectinas, possuindo alta
eficiência como um inseticida sistêmico em dosagens baixas.

9. Profilaxia
A principal medida profilática se dá pela higienização regular das
instalações, a fim de remover as fezes, pois elas são o principal local de
desenvolvimento da H.irritans. Inserir controladores biológicos no pasto,
como algumas famílias de coleópteros (besouros), que possuem
potencial de predação sobre as pupas de H.irritans. Desinfectar veículos
de transportadores de animais e utilização de inseticidas nas formas de
pulverização, brincos impregnados e/ou polvilhamento.

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Tabanus spp.

1. Importância do tema
As moscas Tabanus sp. (ordem Diptera, subordem Brachycera e família
Tabanidae), são moscas de caráter intercontinental, conhecidos
vulgarmente no Brasil como mutucas ou botucas – variando por região.
São consideradas possíveis pragas devido á capacidade de
disseminação de vírus, bactérias e alguns helmintos através do seu ato
de hematofagia (praticado pelas fêmeas – os patôgenos ficam alojados
na probóscide das mesmas). Moscas deste gênero são comumente
visíveis em animais de campo, sendo um dos responsáveis pela
disseminação rápida e direta de algumas doenças entre os mesmos.

2. Distribuição geográfica
A família Tabanidae possui 4.300 espécies descritas, distribuídas em
137 gêneros. No Brasil, na macrorregião da Amazônia, podemos
encontrar até 250 espécies registradas dessas moscas.

3. Etiologia
Moscas do gênero Tabanus estão presentes em quase todo o Globo
(com exceções de lugares frios) e apresentam tanto caráter fitófago -
machos e fêmeas virgens (probóscides mais simples devido alimentação
á base de sucos vegetais) – como caráter hematófago – fêmeas (picada
dolorosa devido sua probóscide ser curta, forte e completa). São
facilmente visíveis impestando equinos, bovinos, cães, eventualmente
humanos e até aves e répteis.

4. Epidemiologia
A alimentação destas moscas é de caráter fitofágo e hematófago
(fêmeas madurasa), sendo influenciado por fatores ambientais, como a
temperatura, a umidade do ar e a intensidade da luz, ou seja, na
hematofagia há a necessidade de sangue para ovipostura e
crescimento, promovendo assim a procura por animais e
(eventualmente) humanos como fonte alimentar, possibilitando a
transmissão mecânica de vírus, bactérias, protozoários e helmintos, pelo
fato desses patógenos se aderirem à estrutura da probóscide e, na
picada, entratrem direto para o sistema circular da vítima.

5. Ciclo Biológico
O ciclo biológico da mutuca começa pela ovipostura da fêmea em locais
imersos mas que encontram-se próximos á superfície da água (folhas ou
plantas aquáticas e pedras), parada ou com pouca movimentação. De

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três a sete dias após a oviposição, as larvas eclodem mas continuam
mergulhadas. De um a três anos, a larva procura um local mais seco e
transforma-se em pupa. Após aproximadamente duas semanas, a pupa
transforma-se em inseto adulto. Foi observado que a troca de pupa para
inseto acontece sazonalmente permitindo assim encontrar um variado
número de moscas de espécies e idades diferentes, principalmente em
períodos quentes e chuvosos.

6. Processo Patogênico
O processo patogênico se inicia pela necessidade alimentar das fêmeas
grávidas desse gênero. Na procura, acabam se alimentando em um
animal previamente infectado por um determinado parasita e, devido ao
incômodo da picada para o animal, a mosca é interrompida e se
direciona a um outro já transportando o agente na sua peça bucal ou no
seu sistema digestivo. Na continuação da hematofagia, o parasita é
repassado através do ferimento criado na picada e entra na circulação
concluindo o ciclo de transmissão direta. Além da infestação veiculada,
há a perca de sangue no animal levando a um quadro anêmico e, pela
presença do ferimento causado pela picada, podem ocorrer outras
infecções secundárias – como dermatites, inflamações e entradas de
outros patógenos como Clostriduim tetani e outros.

7. Veículo de tansmissão
Tabanídeos podem ser vetores de transmissão mecânica de algumas
bactérias e protozoários para os animais, entre as bactérias observa-
se: Anaplasma marginale, Bacillus anthracis, Pasteurella multocida,
Francisella tularensis, Clostridium chauvoei, Brucella sp., Listeria
monocytogenes e Erysipelothrix rhusiopathiae. Já entre os protozoários
que podem ser transmitidos, sabe-se do: Trypanosoma
vivax, protozoário de bovinos na América do Sul, transmitido
por Tabanus nebulosus e por Tabanus importunus.

8. Sinais Clínicos
Durante a hematofagia, o inseto causa desconforto e até irritabilidade,
principalmente quando há uma grande quantidade de insetos no
animal. Pode-se observar também inquietação, apatia, anemia e
possíveis contantes espamos musculares tentando afastar as moscas.
Pela vetorização de doenças bacterianas e protozoários é possível
visualizar sinais clínicos referentes às mesmas (se houver o parasitismo
pelo microorganismo).

9. Diagnóstico
Após a picada, é comum a ocorrência de reações alérgicas no local.
Como tabanídeos apresentam o hábito de mudar de lugar para

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hematofagia e uma alta taxa de infestação no animal, é possível
observar diversos lugares com um filete de sangue escorrido e
coagulado ao longo do corpo do animal.

10. Tratamento
É necessário cuidados básicos como limpeza no local da picada,
aplicação de medicamentos para cicatrização e uso de repelentes. Em
casos de infecções secundárias é necessário além dos cuidados citados
anteriormente, tratamento da doença em questão (protocolo variável de
acordo com o patógeno).

11. Profilaxia
É necessário o uso de repelentes e inseticidas tanto nos animais quanto
pequenas dosagens no campo (local de maior incidência das moscas)
mas com extremo cuidado para evitar a intoxicação do rebanho e perca
da plantação. Evitar o acesso dos animais a áreas sombrias e úmidas.
Limpeza dos cursos das águas próximos aos animais e drenagem de
campos alagadiços.

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Stomoxs calcitrans

1. Importância do tema
A mosca Stomoxs calcitrans, da qual é popularmente chamada de
Mosca-de-estábulo(ordem Diptera, subordem Brachycera e família
Muscidae),possui notável semelhança com a mosca doméstica, embora
se diferencie pela tromba alongada do aparelho e manchas no abdome
bucal.Tem ocorrência em quase todas as américas, ataca diversas
espécies domésticas, causando altos custos econômicos devido ao fato
de ser transmissora de agentes patogênicos diversos.

2. Etiologia
Historicamente uma praga de grandes animais em confinamentos devido
à abundância de matéria vegetal em decomposição somada com
excrementos animais, como também associados a resíduos acumulados
da alimentação animal durante o inverno, a introdução de operações de
cultivo em grande escala perto de fazendas de gado e / ou o uso
inadvertido de fertilizantes orgânicos.O aumento populacional de
moscas Stomoxs calcitrans também podem ter causas naturais,
afetando não apenas animais domésticos e / ou selvagens, mas também
humanos.

3. Epidemiologia
Stomoxs calcitrans adultos de ambos os sexos são de carater
hematofágo, contudo, para a produção de ovos, a fêmea requer que seu
abdômen esteja cheio de sangue. Onde os ovos são colocados entre
materiais orgânicos em putrefação, como feno, esterco e madeira(o que
explica sua abundancia em locais de produção de grandes animais). Os
machos geralmente morrem após o acasalamento e as fêmeas após a
postura dos ovos. O ciclo de vida dura cerca de duas semanas em
temperaturas em torno de 27 ° C.

4. Ciclo Biológico
Os ovos eclodem de 12 a 24 horas em larvas L1, que se alimentam e
amadurecem através até a fase L3 em 12 a 13 dias na temperatura ideal
do local de reprodução de 27 ° C. As larvas L3 se transformam em
adultos dentro da pupa e então emergem. O ciclo de vida estável médio
da mosca-de-estabulo varia de 12 a 20 dias, dependendo das condições
ambientais, mas geralmente é de cerca de 28 dias. Os adultos podem
voar dentro de uma hora após a sua ascenção e estarão prontos para
acasalar três a cinco dias depois. Uma vez acasalada, a fêmea
começará a botar ovos cinco a oito dias após a emergência.

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5. Processo Patogênico
Além de relatos onde o gado fortemente infestado com moscas estáveis
podem chegar a um quadro anêmico e vacas leiteiras demonstraram
menor produção de leite, a mosca estável pica humanos em repouso ao
ar livre. E devido a sua dieta e processos reprodutivos necessitarem de
sangue, possibilita que ela seja vetor de parasitas (Trypanosoma brucei)
e doenças como a brucelose ,mastite, anemia infecciosa equina,varíola
e antraz.

6. Sinais Clínicos
Podem ser observadas mucosas hipocoradas em grandes
infestações(devido a anemia), em decorrência da picada uma lesão
característica de uma dermatite além do estresse causado aos animais.

7. Diagnóstico
O diagnóstico pode ser feito pela visualização e contagem das mocas no
corpo do animal e pela visualização das larvas e/ou pupas em material
orgânico próximo as instalações.

8. Tratamento
Pode ser viabilizado a partir da montagem de armadilhas para
monitoramento, aplicação de inseticida e larvicida em pequenas poças
de deposição orgânica detentoras de elevada umidade e utilização de
cal virgem nas curvas e locais próximos aos estábulos e de deposição
de matéria orgânica. Tratamento de esterco possivelmente infectado
com piriproxifeno e buprofezina diluídos em água em conjunto com uma
formulação granular de novaluron, Além do controle microbiano por meio
do fungo Metarhizium anisopliae que tem se mostrado viável para o
controle da mosca-dos-estábulos em estudos.

9. Profilaxia
É necessário que se haja um manejo correto dos dejetos orgânicos
oriundos do cultivo de animais e de produção agricola nas propriedades,
analisando os níveis de umidade dos mesmos, além de estratégias
recorrentes de controle migratório da espécie para as propriedades
vizinhas com o uso de armadilhas, além de distribuição de cartilhas de
conscientização de higiene rural nas propriedades.

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Referências

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199: 18-19.

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