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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz


PPG em Solos e Nutrição de Plantas
FERTILIDADE DO SOLO

Manejo de resíduos orgânicos e suas


Influências nas propriedades químicas do
solo

Prof. PAULO S. PAVINATO

Agradecimento ao prof. Maurício R. Cherubin


Legislação vigente
para a utilização de resíduos
em áreas agrícolas
INSTRUÇÃO NORMATIVA MAPA N.39/2018

IN 61/2020

3
http://www.agricultura.gov.br/assuntos/insumos-agropecuarios/insumos-agricolas/fertilizantes/legislacoes
Classificação dos Fertilizantes Orgânicos
IN 61/2020
Classe “A”: produto que utiliza, em sua produção, matéria-prima gerada nas
atividades extrativas, agropecuárias, industriais, agroindustriais e comerciais,
incluindo aquelas de origem mineral, vegetal, animal, lodos industriais e
agroindustriais de sistema de tratamento de águas residuárias com uso autorizado
pelo Órgão Ambiental, resíduos de frutas, legumes, verduras e restos de alimentos
gerados em pré e pós-consumo, segregados na fonte geradora e recolhidos por
coleta diferenciada, todos isentos de despejos ou contaminantes sanitários,
resultando em produto de utilização segura na agricultura;

Classe “B”: produto que utiliza, em sua produção, quaisquer quantidades de


matérias-primas orgânicas geradas nas atividades urbanas, industriais e
agroindustriais, incluindo a fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos da coleta
convencional, lodos gerados em estações de tratamento de esgotos, lodos
industriais e agroindustriais gerados em sistemas de tratamento de águas
residuárias contendo qualquer quantidade de despejos ou contaminantes
sanitários, todos com seu uso autorizado pelo Órgão Ambiental, resultando em
produto de utilização segura na agricultura.

SDA – Secretaria de Defesa Agropecuária


Instrução Normativa Nº 61/2020

Teores mínimos de nutrientes


Fertilizante orgânico simples:
Instrução Normativa Nº 61/2020

Teores mínimos de nutrientes


Fertilizante orgânico mistos e compostos:
Teores mínimos de nutrientes – produtos simples ou misturas
BIOFERTILIZANTES DE SUBSTÂNCIAS HÚMICAS
ORGANOMINERAIS
Restrições DE USO

Classe B – órgãos ambientais federal ou dos estados


Instrução Normativa SDA Nº 27/2016

Limite máximo de contaminantes admitidos em fertilizantes orgânicos

Contaminante Valor máximo admitido


Arsênio (mg kg-1) 20,00
Cádmio (mg kg-1) 3,00
Chumbo (mg kg-1) 150,00
Cromo hexavalente (mg kg-1) 2,00
Mercúrio (mg kg-1) 1,00
Níquel (mg kg-1) 70,00
Selênio (mg kg-1) 80,00
Coliformes termotolerantes - nº mais
1000,00
provável por grama de matéria seca
Ovos viáveis de helmintos - nº por quatro 1,00
gramas de sólidos totais
Salmonella sp Ausência em 10 g de ms
LEGISLAÇÃO

O produto, para uso na agricultura, deve estar


REGISTRADO ou AUTORIZADO PELO MAPA

Deve ainda atender às disposições da resolução


CONAMA Nº 498/2020 (Lodo de Esgoto)
CONAMA Nº 498/2020
Tabela 3. Valores máximos permitidos de substâncias químicas no
biossólido a ser destinado para uso, em solos.
CONAMA Nº 498/2020
O biossólido Classe 2 somente poderá ser aplicado em solos se a taxa
máxima anual e a carga máxima acumulada de substâncias químicas não
exceder os limites apresentados na Tabela 4.

Tabela 4. Taxa máxima anual e carga máxima acumulada de substâncias


químicas em solos quando do uso de biossólido Classe 2.
Registro

 Atender aos parâmetros agronômicos (IN 23/2005);


 Atender aos limites máximos de contaminantes (IN 27/2016);
 Estabelecimento deve estar registrado no Ministério;
 Licenciamento ambiental;
 Atender às disposições da resolução Conama 498/2020 (lodo de
esgoto).

Caso o produto não atenda aos parâmetros agronômicos definidos para


registro ou não atenda aos limites definidos na IN 27/2006 para
contaminantes, poderá ser autorizados pelo MAPA, desde que:

Autorização

 Comprove a eficiência agronômicas;


 Manifestação do Órgão ambiental;
 Atender aos limites máximos de contaminantes e às demais;
disposições previstas resolução Conama 498/2020 (lodo de esgoto).
Utilizados na
Origem dos Resíduos Orgânicos Agricultura

Geralmente provém:

• Atividade agrícola: restos de cultura (palhadas)


dejetos de animais (bovino, suíno e aves)

• Centros Urbanos: composto orgânico de lixo urbano


composto de lodos de esgotos

• Industriais: indústria alimentícia


indústria sucroenergética: (vinhaça, torta de filtro...)
Resíduos Orgânicos e suas Alterações nas
Propriedades Químicas do Solo
Origem agrícola

DEJETOS DE
ANIMAIS

Suínos
Aves
Bovinos
Dejeto de Animais
Suínos

Distribuição Número de animais FR %


Brasil 39.306.718 100,00
Santa Catarina 7.968.116 20,27
Oeste Catarinense 6.003.173 15,27
Rio Grande do Sul 5.677.515 14,44
Paraná 5.448.536 13,86
Minas Gerais 5.014.334 12,76
Outros Estados 15.198.217 38,67
MAPA(2013) Sul do Brasil = 48,6%

CERETTA et al. (2010);


GIROTTO et al. (2010); (2013);
SCHERER et al. (2010);
SEIDEL et al. (2010)
CASSOL et al. (2012); Influência da aplicação de dejeto
BASSO et al. (2012);
BRUNETTO et al., (2012); de suíno nas propriedades
GUARDINI et al. (2012);
LOURENZI et al. (2012); (2013);
químicas do solo
RAUBER et al. (2012);
VEIGA et al. (2012)
Recomendações de dejetos de animais
Aspecto econômico

 Cálculo para granja c/ 1.000 suínos:

– Um suíno produz em média 8,6 L de DLS/dia


(1.000 x 8,6 x 365) / 1.000 = 3.139 m³ DLS/ano
Concentração de N no DLS = 2,8 kg de N/m³

3.139 m³ x 2,8 kg/m³ = 8.789 kg de N 19.531 kg ou 19,53 ton de uréia / ano;

19,53 ton X 5.000 R$/ton = R$ 97.650,00 / ano.


BIODIGESTOR
DE LONA
PLÁSTICA
Dejeto de Animais
Aves

BRASIL = 3º maior produtor mundial


Maior exportador mundial

Maior concentração de N,P,K

 Menor umidade
 Mistura de fezes líquidas e
Cama Aviária: (“cama” + fezes) sólidas;
 Alimentação com concentrados
Dejeto de Animais
Aves

Influência nas propriedades químicas do solo

Aumento dos teores dos


nutrientes

 Em geral os trabalhos apontam para incremento de


N, P, K, Ca, Mg, S, Cu, Zn...;
 Aumentos nos valores de pH e reduz Al;
SCHERER e NESI (2009);
 Promove incrementos no C org. em superfície. CARVALHO et al. (2011);
SILVA et al. (2011);
VALADÃO et al. (2011);
PINTO et al. (2012)
Dejeto de Animais
Bovinos

Dejeto utilizado em
larga escala nas áreas
de pastagens! “A pasto”
x
“Confinado”

Em muitos casos a
única adubação
aplicada no solo

Aumento dos teores dos


nutrientes Galvão et al. (2008) Erthal et al. (2010)
Silva et al. (2008) Costa Jr et al. (2013)
Dejeto de Animais
Bovinos

A heterogeneidade de
distribuição do esterco
promove aumento da
variabilidade espacial
dos atributos químicos
do solo

Anghinoni e Silva (2011)


Origem Urbana

COMPOSTO
DE LIXO URBANO
Lixo Urbano

Aumento da População

Aumento do lixo
produzido

11,37 milhões de habitantes

Brasil
378 kg hab-1 ano-1
Resíduo Sólido Urbano
Inorgânico
Orgânico Compostagem
ABRELPE (2010)
Lixo Urbano

Após estabilizar, tem sido utilizado como adubo


orgânico na agricultura

Exige
Composição Aumento da CTC, C org., Monitoramento!
VARIÁVEL N total, P, S, Ca, Mg, K e
Na, e redução da acidez Contaminação com
nitrato; metais pesados;
potencial e trocável do
ABREU JR et al. (2002); (2005); microrganismos
OLIVEIRA et al. (2002); solo. patogênicos; Compostos
MANTOVANI et al. (2005); (2006);
TEDESCO et al. (2008)
orgânicos de difícil
SILVA et al. (2008); degradação
KROB et al. (2011)
COMPOSTO – lixo urbano
COMPOSTADORES – resíduos agrícolas

TORTA DE FILTRO
Origem Urbana

LODO DE ESGOTO
Lodo de Esgoto

Resíduo semissólido, pastoso, de natureza predominantemente


orgânica, oriundo de estações de tratamento de esgoto.
(PEDROZA et al., 2010)

Uso agrícola:
• Incrementam os teores de C org. do solo;
• Tem potencial de fornecer P, Ca, Mg, K, Mn e Fe e do pH e CTC do solo.

MELO e MARQUES (2000); OLIVEIRA et al. (2002)


Monitoramento constante BARBOSA E FILHO (2006); GUEDES et al. (2006),
PEDROZA et al. (2010); RICCI et al. (2010)

Limitações:
Calagem = feita através da
- O uso pode ser limitado pela presença de
adição de cal ao lodo, é
substâncias poluentes (metais pesados e
capaz de alcalinizar o meio,
patógenos);
causando a estabilização
- Deve passar pelos processos de higienização e
química e a desinfecção de
estabilização.
patógenos
Origem Agroindustrial

Vinhaça
Vinhaça
Resíduo gerado na produção do etanol

Para cada litro


de etanol são
produzidos de
10 a 13 L de
vinhaça.

Marques (2006)
Vinhaça
Portaria P. 4231 – CETESB - Dosagem máxima de vinhaça a ser
aplicada no tratamento de solos agrícolas em cultura de cana-de-açúcar

m3 de vinhaça/ha = [(0,05 x CTC – ks) x 3744 + 185] / kvi

ks = concentração de potássio no solo, cmolc /dm3 , à profundidade de


0,80 m

3744 = constante para transformar os resultados da análise de


fertilidade, expressos em cmolc/dm3 para kg de potássio em um
volume de um hectare à 0,80 m.

185 = kg de K2O extraído pela cultura por ha, por corte

kvi = concentração de potássio na vinhaça, expressa em kg de K2O /m3


Origem Agroindustrial

AJIFER

Fertilizante Organomineral
Resíduo gerado da produção de ácido glutâmico,
L-lisina.

Usado em lavouras de cana-


de-açúcar e pastagens

Uso restrito às áreas próximas


à unidade fabril
Costa et al. (2003)
Valores de pH, CTC e condutividade elétrica de solo adubado com Ajifer
após 180 dias da aplicação na profundidade de 0-20cm

pH CTC Condutividade
Tratamento elétrica
CaCl2 mmolc/dm3 dS/m

Controle 5,5 43 0,11


Ajifer 4,8 50 0,11
Mattiazzo e Glória, (2003)

Benefícios da aplicação de Ajifer:

•Fonte de N, S
•Aumenta CTC do solo
•Reduz pH
•Comporta-se no solo como o sulfato de amônio
•Baixas perdas por volatilização de amônia
Análise laboratorial

Custo alto

Dificuldades operacionais

Heterogeneidade de amostras

Procedimento a ser adotado

Tempo dispendido
Fonte: SBCS - CQFS RS/SC (2016)
B100
Fonte: Boletim 100 (2022)
Fonte: SBCS - CQFS RS/SC (2016)
RESULTADOS
Fonte: Ceretta et al. (dados compilados)
Fonte: Ceretta et al. (2008)
Fonte: Ceretta et al. (2008)
Fonte: Ceretta et al. (2008)
Fonte: Ceretta et al. (2008)
Dejeto de Animais
Suínos

Influência nas propriedades químicas do solo

1 º Teores dos nutrientes Cassol et al. (2012)

 Aumento nos teores de nutrientes (N, P, K, Ca, Mg,


Zn, Cu) especialmente em superfície;
 Pouco efeito sobre os teores de C org e atributos
de acidez do solo (reduz Al).

CERETTA et al. (2010); BASSO et al. (2012);


GIROTTO et al. (2010); (2013); BRUNETTO et al., (2012);
SCHERER et al. (2010); GUARDINI et al. (2012);
SEIDEL et al. (2010) LOURENZI et al. (2012); (2013);
CASSOL et al. (2011); (2012); VEIGA et al. (2012)
Dejeto de Animais
Suínos

Influência nas propriedades químicas do solo

2º Teores de metais pesados


Basso et al. (2012)
 Aumento nos teores de metais pesados no solo
(Zn, Cu e Mn), podendo tornar-se um problema
ambiental.

CERETTA et al. (2010); BASSO et al. (2012);


GIROTTO et al. (2010); (2013); BRUNETTO et al., (2012);
SCHERER et al. (2010); GUARDINI et al. (2012);
SEIDEL et al. (2010) LOURENZI et al. (2012); (2013);
CASSOL et al. (2011); (2012); VEIGA et al. (2012)
8 anos (2003-2010)
PS = 32 aplicações
PM = 8 aplicações

Fonte: Guardini et al. (2012)


Efeitos da aplicação de vinhaça nas
propriedades químicas do solo

Teores de K antes e depois da aplicação de vinhaça em solo argiloso

Penatti e Forti (1999)


Efeitos da aplicação de vinhaça nas
propriedades químicas do solo

Com Vinhaça
Sem Vinhaça

Barros et al. (2010)


Consideração Finais

O uso agrícola de resíduos orgânicos no solo promove:

 Destinação final adequada ao resíduo;

 Melhorias na fertilidade do solo


- Adição de C ao solo
- Fonte de nutrientes: N, P, K, S, Ca, Mg, Cu, Zn, Mn, B, Fe
- Resíduos com poder corretivo de solo
- Melhorias nas propriedades físicas e biológicas do solo

 Alternativa viável economicamente, reduzindo os custo


de produção agrícola.
No entanto, deve-se observar...

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