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Nº 01 ESPAÇOS DE 2022

FLUXOS
POR CONEXÕES EXPANDIDAS
ÍND 05 Conexões
Expandidas

ICE
Apresentamos o
Grupo de Pesquisa!

06 Fluxos
comunicacionais
Soraya Ferreira

09 Compartilhamento
como expansão do fluxo
Bianca Colvara

14 Fluxos da notícia:
TV x redes sociais
Leticya Bernadete

18 Netfluxos: A reconfiguração
da dinâmica audiovisual via
streaming
Matheus Bertolini

21 Imediatismo, volatilidade,
plataformas e influência:
Como tudo isso se relaciona?
Carolina Terra

ESPAÇOS DE FLUXOS | 2022


25 Metaverso
e Semiosfera
Francisco Pimenta

29 Espaços de fluxos
no nytimes.com
Sabrina Chinellato

33 O fluxo digital de/entre


plataformas por meio do perfil de
Lil Miquela
Laryssa Gambellini

36 O Big dos Fluxos:


Influenciadores digitais e a
reconfiguração do ecossistema digital
Thaiana Alves

39 Efeito Poliana: A reivenção das


telenovelas no mundo digital
Débora Oliveira

ESPAÇOS DE FLUXOS | 2022


EXPEDIENTE
ESPAÇOS DE FLUXOS | 2022

ORGANIZAÇÃO
GRUPO CONEXÕES EXPANDIDAS

EDIÇÃO
SORAYA FERREIRA

DIAGRAMAÇÃO E DESIGN
MATHEUS BERTOLINI E SABRINA CHINELLATO

REVISÃO
DÉBORA DE OLIVEIRA

INSTITUCIONAL
CONEXOESEXPANDIDAS@UFJF.BR

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
COMUNICAÇÃO DA UFJF
CAMPUS UNIVERSITÁRIO, BAIRRO MARTELOS
CEP 36.036-330 – JUIZ DE FORA – MG
CONEXÕES
EXPANDIDAS
Apresentamos aqui como o Grupo de
Pesquisa Conexões Expandidas arquiteta o
conceito de fluxo nas suas pesquisas no
intuito de promover e entender como vem
se dando as dinâmicas comunicacionais
contemporaneamente nos mais variados
ambientes digitais por onde transitam as
informações.

O fluxo aqui ganha o lugar de protagonista


nas discussões, pois o nosso esforço é para
o de explicitar como as dinâmicas - daquilo
que comumente chamamos de mídia –
acontece hoje de maneira contaminada e na
passagem de um ambiente a outro, de um
ponto a outro, de um signo com outro.
Entendemos os ambientes como uma
ecologia. Por isto: “Espaços de Fluxos”
revisita o conceito de fluxo concebido por
alguns autores a saber: Raymond Willimas,
Castells, Santaella, Di Felice...

Como as dinâmicas comunicacionais


emergentes acontecem na arquitetura
informativa contemporânea conectiva e em
rede? Quais são os espaços de fluxos que
as tecnologias emergentes possibilitam?

É sobre isto que o espaço de fluxos vai


tratar.

Grupo Conexões Expandidas


FLUXOS COMUNICACIONAIS
por Soraya Ferreira | Professora UFJF
Coordenadora Conexões Expandidas

Os fluxos comunicacionais, essenciais para a circulação das linguagens, parecem ter


importância cada vez maior nas expressividades dos acontecimentos presentes na
produção audiovisual, na ecologia digital conectiva; como vem mostrando ser: a tv na sua
expansão para a web, as redes sociais digitais e as plataformas de streaming com suas
produções originais.

As novas formas de habitar (Di Felice: 2009) articulam efeitos com a convivência em
ambientes que estão na esfera da possibilidade, da ação conectiva, das interfaces e da
interação digitalizada que vão se instalando pela cultura digital e podem ser observados
nos hábitos de consumo audiovisual por parte da população. Os dispositivos acabam por
nos fazer transitar na esfera da simultaneidade, mas também da fragmentação, em
especial os móveis. A conexão articula lugares diferentes, em tempos diferentes,
minimizando as distâncias instauradas entre o que era compreendido como real e digital.

Hoje pesquisar as linguagens contemporâneas equivale também a refletir sobre o pós-


humanismo, elementos transorgânicos, que transpassam e estão em semiose na
produção e no uso das linguagens no ecossistema digital. Estamos nos referindo aos
algoritmos, a inteligência artificial.
As tecnologias digitais permitem dinâmicas entre as diferentes telas que criam fluxos
distintos. Nós estamos nos fluxos, já que podemos acionar o caminho a seguir e como
seguir, bem como podemos produzir e nos inserir em um fluxo já dado. Este
comportamento gera também estéticas que surgem nas dinâmicas que acionam o
indivíduo; seja o que interfere, seja o que está no fluxo. Essas relações revelam um
sujeito inserido não apenas como emissor ou receptor de uma mensagem. As múltiplas
inteligências hoje expandem-se, sejam elas humanas ou artificiais e interferem nas ações.
Hoje atribuir apenas aos seres humanos a possibilidade de propor dinâmicas e fluxos é
negar o atravessamento dos algoritmos. A plataformização acontece também devido ao
acréscimo da inteligência artificial.

Tratar a sociedade contemporânea a partir de uma visão ecossistêmica gerida a partir da


pós-convergência é trazer à luz fluxos em cursos distintos, oriundos de processos e
dinâmicas comunicacionais complexas típicas da sociedade reticular. Deslocando muito
das vezes a produção e circulação dos conteúdos e que são potencializados pela
conectividade e já “normalizados” pelos efeitos da convergência que agora são
incorporados aos nossos hábitos como o fato de estarmos presentes nas redes sociais
digitais. Em suma, a conectividade e a tecnologia digital são elementos permanentes e
que estão inseridos na sociedade como interagentes do poder, da informação, da
economia e da cultura.

Williams chamou, nos anos 70, de fluxo planejado o modo como a televisão agrupava
seus programas. Observou nas TVs americanas e inglesas como a programação era
colocada e interrompida para inserção de vinhetas entre os gêneros e formatos
televisivos. No seu livro Television and cultural forms, que foi traduzido (2016), a
televisão é tratada como uma tecnologia social e uma instância de valor enraizada no
tempo. Para ele, a organização dos produtos televisivos é típica da lógica do consumismo,
que aceita a interrupção dos programas, através de propagandas comerciais de modo
mais natural na sociedade americana e de modo menos natural na britânica.

A informação atualmente circula de acordo com várias outras dinâmicas, inclusive com a
da datificação, em que toda e qualquer informação se transforma em dados e sua
mineração seleciona os que interessam a determinado sujeito na hora de oferecer
produtos. Hoje, mais do que nunca, vivemos em uma sociedade formada por informações
ou, como dizia Castells (1999), por espaços de fluxos. Somos e estamos diante dos fluxos
em rede, dos fluxos conectivos que podem nos levar a modos de cognição diferenciados.
Tentamos entender o fluxo como o elemento que está em trânsito, o que propicia o
movimento, o elemento que se dá no tempo, nas dinâmicas comunicacionais
sociotécnicas; enfim derivadas dos ecossistemas atravessados pela tecnologia e suas
linguagens. É material e imaterial. É o lugar de passagem das linguagens, de ambientes, de
informações. O fluxo é o que faz circular, evidenciado pelos links, nós, pontos de saídas,
voltas, apresentados muitas vezes iconicamente nas telas. Podemos pensar que esta
iconicidade se torna a interface possível de contato dos espaços, propiciando o fluir. O
fluxo possibilita a continuidade.

No ambiente conectivo, o tempo presente e real é acionado a qualquer momento de


maneira ubíqua. Diversas mudanças nas formas de produção, distribuição e circulação
das produções audiovisuais têm sido implementadas com as tecnologias emergentes e
seus espaços de fluxos. Um ecossistema bastante interessante se coloca em cena e nos
faz ver que muitas metamorfoses se anunciam no uso de múltiplas telas que se misturam
e se remedeiam com as já existentes, seja por meio de remixagens, repetições,
hipermidiatizações ou transmidialidades, que se encontram, muitas vezes, nas bordas e
nos fluxos de atuação dos agentes: sujeitos, perfis autônomos de empresas,
comunidades, instituições, influenciadores, para destacar alguns mais atuantes na
arquitetura audiovisual e suas misturas. Os espaços de fluxos que aqui trazemos
ressaltam estes movimentos que vão se instalando nos habitats emergentes com suas
tecnologias.

CASTELLS. Manuel. A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra.1999.

FELICE, Massimo Di. Paisagens Pós-Urbanas. São Paulo:Annablume.2009.

WILLIAMS, Raymond. Televisão: tecnologia e forma cultural. Tradução: Marcio Serelle; Mário F. I. Viggiano. 1 ed. São
Paulo: Boitempo; Belo Horizonte, MG: PUCMinas, 2016.
compartilhamento
como expansão do fluxo

por Bianca Colvara | Mestre pelo PPGCOM


Um post no Instagram convida as Este novo fluxo é diferente do modelo
seguidoras a participarem do grupo no unilateral, famoso pelo exemplo da
Telegram. No aplicativo de mensagens, programação da TV, em que o usuário
uma pergunta vira pauta para o texto escolhe o que consumir dentro uma
compartilhado via newsletter e postado grade já definida de opções e deve estar
no site e blog. Os comentários e resenhas no lugar certo e na hora certa para poder
feitos no site da loja são publicados no consumir tal conteúdo. Com o advento da
Instagram. E os desejos confessionados web, as opções de streaming aumentaram
no grupo do Telegram viram produtos da e se diversificaram, possibilitando ao
loja. Assim são os fluxos expandidos que espectador o controle sobre seu “fluxo de
experenciamos no ambiente digital mídia”; momento em que observamos um
conectivo: não- hierarquizados, fluídos e fluxo bilateral, como sugerido por Soraya
ilimitados. Ferreira, modelo este que é marcado pela
contaminação entre a TV e a web, o que
leva a uma reconfiguração de ambos:
Os gêneros televisivos com
suas linguagens e narrativas já
consolidadas vão
reconfigurando sua estética e
linguagem, promovendo uma
forma de apresentação do
conteúdo baseada na interação
entre usuário e emissora.”
(FERREIRA, 2015, p. 9 apud
MELLO, L., 2019, p. 45).

O fluxo expandido representa, então, uma Ou seja, estamos falando de um fluxo


atualização de tais modelos, agora de pautado não apenas na distribuição, mas
forma não-linear, sem limitações dos polos na circulação do conteúdo.
de emissor e receptor. Fruto de um
contexto igualmente convergente e Em ambientes digitais, especialmente nas
conectivo, o fluxo expandido convida à redes sociais, a circulação depende da
participação ilimitada. Nas palavras de conexão entre os indivíduos, o que por sua
Luiza Mello: “A nova perspectiva de fluxo vez também está relacionado aos laços
comunicacional não se restringe a apenas sociais que formamos e ao capital social
duas direções, não possui lugar para que trocamos. Este é o fluxo presente em
começar e terminar, nem tem sentido fixo. dinâmicas comunicacionais do ambiente
O novo fluxo é ubíquo, descentralizado e digital, e que observamos também no
distributivo. É um fluxo que tem como Instagram.
principal característica a conectividade”
(MELLO, L., 2019, pg. 53). Neste texto, refletimos sobre como
algumas dessas dinâmicas comunicacionais
podem indicar a expansão do fluxo para
novos espaços conectivos.
A MAIOR COMUNIDADE DE EXPERTS DE BELEZA DO BRASIL

Essa é a descrição do perfil @bonitadepele O site da Bonita de Pele é lançado


no Instagram: um espaço para o primeiramente para a eleição de um
compartilhamento de dicas e experiências ranking dos melhores produtos de beleza
de beleza e skincare que reúne mais de 300 do ano de 2019. Hoje, esse mesmo site
mil seguidoras. A Bonita de Pele foi criada comporta um blog, com textos que são
em 2018 por Jana Rosa, e em seus quatro divulgados originalmente na newsletter
anos já passou por processos extremos de oficial do perfil. O ranking foi incorporado
desconstrução, contaminação e ao Boniclub, a marca de curadoria de
compartilhamento de linguagens, que produtos de beleza da Bonita de Pele, no
fazem do perfil um objeto híbrido e mesmo site em que as seguidoras
complexo, representante de tantas (carinhosamente chamadas de Bonis)
transformações da própria comunicação também podem resenhar e comentar sobre
digital. seus produtos favoritos. Essas resenhas
podem, ainda, compor o feed de
Esses processos extremos são sugeridos publicações do perfil @bonitadepele. O
por Christine Mello em seu livro Boniclub vende as Bonibox – caixas
Extremidades do vídeo (2008, Editora temáticas com produtos selecionais de
Senac São Paulo), o resultado de uma beleza -, e outros produtos licenciados da
leitura crítica sobre a videoarte brasileira, e marca, como bolsas e roupões de banho.
que nos sugerem, quando olhamos para o Além dos sites e perfis da Bonita de Pele e
Instagram, processos próprios de do Boniclub, há ainda a possibilidade de
ressignificação ou transformação. conversar com outras Bonis diretamente
no grupo do Telegram, onde as seguidoras
Os vértices extremos de desconstrução, trocam fotos, dicas, e são avisadas em
contaminação e compartilhamento estão primeira mão das novidades da Bonita de
relacionados aos movimentos do objeto Pele, do Boniclub e de marcas parceiras.
quando em fronteira. Ou seja, de que forma
podem se expandir e se afetar e incorporar Essas ações podem ser consideradas como
em si mesmos linguagens outras, tornando- estratégias para a expansão do fluxo
se híbridos e transformados. comunicacional. Na comunidade criada
pela Bonita de Pele, a ideia de hierarquia é
Chamamos atenção aqui especialmente ao quebrada e as Bonis também participam do
compartilhamento, que representa a processo de produção e circulação de
possibilidade de expansão do fluxo mensagens, não mais estando somente na
comunicacional para diferentes ambientes. posição de receptoras.
Este pode ocorrer quando há uma busca
por novos domínios, formatos e linguagens. Além disso, o próprio conteúdo circula de
A Bonita de Pele, por exemplo, passa a maneira fluida, já que é possível observar
atuar em outras plataformas que não uma tentativa de habitar novos ambientes
somente o Instagram. digitais.
Do Instagram para o site; e então a criação Dessa forma, a concepção linear de um
do e-commerce Boniclub; e do grupo no polo emissor ou produtor é reconfigurada
Telegram, as newsletters via e-mail, e até nessa dinâmica: Bonis e Bonita de Pele
mesmo o desenvolvimento de conteúdo em participam, juntas, da dinâmica
formato de podcast. Ou seja, são novos comunicacional. Apesar de termos
domínios e ambientes para expandir o diferentes elementos sociotécnicos que
conteúdo que inicialmente estava modulam o fluxo (e talvez exerçam certa
disponível somente no Instagram. Há uma influência sobre ele), é possível dizer que
preocupação em desdobrar e expandir a há, também, alguma fluidez no
comunidade Bonita de Pele, não se atendo compartilhamento da informação. O
somente ao Instagram. conteúdo da comunidade Bonita de Pele
circula em um fluxo comunicacional
expandido. •

Newsletter

Boniclub Site

Expansão
de conteúdos

MELLO, Christine. Extremidades do vídeo. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2008.

MELLO, Luiza de. Conectividade TV e web: A construção do fluxo e da dinâmica comunicacional do BBB18 a partir do
engajamento dos fãs. 2019. Dissertação (Mestrado em Comunicação) - Faculdade de Comunicação, Universidade
Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2019.
FLUXOS DA NOTÍCIA:
TV X REDES SOCIAIS

“QUANDO VOU TE VER APRESENTANDO O POR LETICYA BERNADETE


JORNAL NACIONAL?” MESTRANDA PPGCOM

Essa pergunta assola os estudantes de


jornalismo e os profissionais já formados
durante grande parte de suas vidas. Não à toa:
a televisão está presente em quase todos os
domicílios brasileiros. Conforme o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em
2019, havia um aparelho em 96,3% das casas
no país¹. Porém, quando se trata de busca por
informação, a televisão tem perdido espaço
para os meios on-lines e, aqui, daremos uma
atenção especial ao uso das redes sociais para
esta finalidade.

O Digital News Report 2021², do Reuters


Institute for the Study of Journalism,
demonstra que, em 2013, as redes sociais
foram fonte de informação para 47% dos
brasileiros, porém, esse número aumentou ao
longo dos anos. Em 2021, foi para 63%,
ultrapassando meios tradicionais como a
televisão (61%) e o impresso (12%) (NEWMAN
et al, 2021).

¹ Mais informações em: https://bit.ly/referenciaibge


² Mais informações em: https://bit.ly/referenciareuters
19

Por trás destes dados há diversos fatores O fluxo televisivo que conhecemos no
que modificaram nossas formas de Brasil foi herdado do modelo norte-
acessar às notícias. Durante os anos americano, que contém uma
2000, de segunda a sábado, eu sentava programação voltada à lógica capitalista.
no sofá depois das 19h para assistir à Ou seja, qualquer programa que
televisão com meus pais. Por volta das assistimos, desde jornais a filmes, são
20h15, começava o Jornal Nacional, interrompidos o tempo todo pelo
nossa principal referência de informação. intervalo comercial. Este aspecto foi
Assistíamos às notícias apresentadas pelo levantado por Raymond Williams em
William Bonner e pela Fátima Bernardes, 1974, que trata este curso de
seguindo a programação do jornal. Não informações fragmentado como um
sei dizer exatamente quando isso mudou, fluxo planejado, já que a grade de
mas a minha forma atual de me informar programação da televisão é pensada
está mais próxima dos 63% dos para atender, justamente, às
brasileiros que usam as redes sociais para necessidades comerciais da mesma.
isso. Além disso, hoje carrego também a
bagagem de quem produz notícia para
televisão, rádio, impresso e on-line.
Tudo é calculado, inclusive as falas dos Entretanto, as possibilidades de fluxos de
apresentadores. Cada linha de 32 informação são infinitas por conta da
caracteres de um roteiro para um jornal complexidade por trás deste ecossistema.
televisivo equivale a cerca de 2 segundos
(KOPPLIN & FERRARETTO, 2018, p. Facebook, Twitter e Instagram são alguns
108). Ou seja, ao montarem a programação exemplos de plataformas utilizadas por
do jornal, os blocos são estimados a partir jornais para levar uma notícia. Por trás
do tempo das reportagens, das falas dos delas, dados, algoritmos, interfaces,
apresentadores e de um espaço relações de propriedade, modelos de
determinado para entradas ao vivo, no caso negócios e contratos de usuários
de jornais que usam esta ferramenta. Tudo determinam as possibilidades de uso e do
para estabelecer o que encaixa no tempo fluxo.
em que o programa será exibido e entre os
intervalos comerciais. Para os jornalistas, diferentemente da
televisão, não há mais limite de tempo ou
Um ponto que cabe destacar aqui também de quantas matérias poderão ser
é sobre o tipo de interação que temos com publicadas. Para cada usuário, é produzida
a televisão e como isso se modifica quando uma experiência única ao acessar essas
nos informamos no ecossistema digital. Ao informações. A conta que eu utilizo é
assistir um jornal televisivo, vemos as diferente dos meus amigos, pois seguimos
matérias seguindo o tempo próprio do e interagimos com pessoas diferentes e
programa e o que os editores selecionaram isso é apenas parte do que determina o
para aquele dia, para aquele horário. Em tipo de conteúdo que terei acesso.
um jornal ao vivo, não temos a autonomia
de pular ou rever uma reportagem. O Ao abrir o Instagram, é impossível adivinhar
máximo que conseguimos é desligar a o que se apresentará para mim primeiro no
televisão ou trocar de canal, ou seja, sair feed ou nos stories. Isto depende do
daquele fluxo. algoritmo e do meu comportamento dentro
daquela plataforma. Sendo assim, nada
Moldar seu conteúdo para atender uma garante que eu verei todos os conteúdos
lógica capitalista ainda se mantém no postados pelos jornais que eu sigo. Porém,
digital. Hoje, presenciamos um fenômeno diferentemente da televisão, eu tenho uma
no qual Van Dijck, Poell e Waal (2018) maior autonomia para buscar essas
tratam como “plataformização”, que é a informações.
forma como setores inteiros da sociedade
estão se organizando e se subordinando às Usar um smartphone me permite visitar o
estruturas de grandes empresas digitais, no perfil de um jornal que eu gosto quando
caso, as “Big Five”: Google, Amazon, Meta, quiser, independentemente de onde
Apple e Microsoft. O próprio jornalismo é estiver. Posso escolher qual matéria vou
um desses setores que têm se adaptado ler, qual não vou dar atenção ou se vou
para utilizar determinadas plataformas, acessar o site do veículo para me
como as redes sociais digitais, para levar aprofundar no assunto. Se o jornal fizer uso
informação. dos stories, posso assistir a todos, pular
para o próximo ou voltar para reler algo
que me chamou a atenção.
A própria metáfora de rede demonstra uma
complexidade, visto que representa nós e
conexões que são formados de maneiras
imprevisíveis. O fluxo está ali, em local e
tempo não determinados. Como leitora, ele
está sujeito às minhas próprias escolhas;
como jornalista, não há mais como planejar
o fluir da notícia.

KOPPLIN, Elisa; FERRARETTO, Luiz Artur. Assessoria de Imprensa: teoria e prática. Porto Alegre: Editora Sagra Luzzatto.
2018.

NEWMAN, Nic et al. Digital News Report 2021. Reuters Institute for the Study of Journalism. Oxford: United Kingdom,
2021.

VAN DIJCK, Jose; POELL, Thomas; WAAL, Martjin de. The Platform Society: Public Values in a Connective World.
Oxford University Press, 2018.

WILLIAMS, Raymond. Televisão: Tecnologia e forma cultural. São Paulo: Boitempo, 2017.
NE T F L U X O S
A RECONFIGURAÇÃO DA DINÂMICA
AUDIOVISUAL VIA STREAMING
POR MATHEUS BERTOLINI | DOUTORANDO PPGCOM

O contexto da cultura comunicacional A Netflix, tal qual conhecemos, iniciou sua


digital nos permite a reflexão constante distribuição audiovisual a partir de 2007,
sobre mudanças que reconfiguram as apenas nos Estados Unidos. Em 2011
direções do fluxo audiovisual. A Web 2.0 chegou ao Brasil e toda América Latina,
(O'REILLY, 2009) se popularizou como uma inserindo aos espectadores, uma
perspectiva evolutiva para designar uma funcionalidade que também é uma
nova geração inserida nos habitats digitais. expansão da realidade defendida pela web
O termo engloba uma tendência que 2.0: colocar na mão dos usuários o poder
evidencia a colaboração e participação na de decisão, criação e consumo de
web, tornando desse ambiente um espaço determinado material.
dinâmico, veloz e onipresente no consumo
cotidiano da sociedade. Conforme Wolff (2015) a Netflix é uma
oportunidade que engloba o business
Na esfera da dinâmica comunicacional, é inteligence, ou seja, a artificialidade
importante refletirmos sobre os pontos de combinada às oportunidades de negócios.
contato que produtos audiovisuais Nesse caso, um modelo expansivo como
possuem nesse cenário. São materiais que uma propagadora/provedora de conteúdos
estão inscritos em etapas de produção, audiovisuais sem infração dos direitos
circulação, acesso, compartilhamento e autorais e com uma “transmissão”
remixagem, que tem da web um agente centralizada no consumo de mídias, dados e
ativo para todo esse fluxo, que é da própria internet.
multidirecional e, ao mesmo tempo,
personalizável conforme a usufruição
sujeitocêntrica.
Instaurado esse consumo no país, vale A Netflix, com mais de 10 anos em
ressaltar que o público também precisava território brasileiro, nos faz um convite para
adaptar-se à essa reconfiguração. Em mãos, entendermos como o consumo audiovisual
os brasileiros agora tinham uma expansão é ubíquo. Segundo Santaella (2013) trata-se
de linguagens, narrativas e identidades, de uma urgência para a dinâmica
antes postas majoritariamente pela difusão comunicacional a forma como narrativas
do fluxo televisivo. Talvez, vale refletirmos são construídas e disponibilizadas para uma
que a Netflix não chegou com o objetivo de presença concomitantemente e abrangente
desmonte da TV, muito pelo contrário, se entre lugares, pessoas, competências,
buscarmos nas reflexões da Cultura da dispositivos, etc.
Convergência (JENKINS, 2015), não
estamos sobre substituições de mídias, mas As mudanças da tecnologia e da plataforma
por uma transformação que converge a mantiveram-se paralelas e equidistantes.
mentalidade humana, as linguagens e, Conforme os adventos tecnológicos
principalmente, os fluxos. avançavam, características e o próprio
serviço da Netflix, também passava por
Ora, reconfigurar os fluxos audiovisuais é, alterações. Diante as muitas
portanto, reconhecer multidirecionalidades transformações, uma que é válida
que a tecnologia evidencia e proporciona mencionarmos é a possibilidade de
aos espectadores. Não é desprender-se de download dentro da plataforma. Esse
modelos anteriores de distribuição, mas artifício coloca novas possibilidades de
incorporá-los para novas atribuições de espaços de fluxos para os espectadores.
sentido e consumo que a tecnologia
emerge. Dessa forma, reconhecer que
existem novas rotas assumidas pelo fluxo é
levar em consideração que web e tv não
são rivais, mas no contexto
contemporâneo, são interdependentes.
Se anteriormente descrevemos o streaming
como um fluxo de mídias, com esse
advento colocamos nessa descrição o
caráter de transfiguração em um dinâmica
em constante devir. Afinal, a partir do
download, o espectador baixa o título que
deseja assistir e, mesmo assim, não fere os
direitos autorais da obra, pois combinado
ao download está um espaço de
armazenamento artificial, em nuvem, no
próprio aplicativo, que permite um
consumo legal e com a mesmas
características permitidas pela plataforma:
pausar, avançar, acelerar, etc.

Essa transfiguração é uma metáfora para


pensarmos as diferentes formas possíveis
do fluxo se materializar a partir do advento
da internet, principalmente aplicado no
consumo audiovisual.

Transfigurar o fluxo dentro da Netflix é


também levar em considerações as
múltiplas direções que ocorrem para além
dela, ou seja, em outras telas, abas,
dispositivos, narrativas, etc. Não apenas
centrada em buscar uma forma, afinal o
fluxo é orgânico ao ponto de assumir
diferentes arquétipos no ecossistema
comunicacional digital, mas cabe-nos nessa
reflexão pensar as expansões e
descentralizações possíveis a partir de sua
movimentação líquida, e não mais retida e
fixa.

JENKINS, Henry. Cultura da convergência. Aleph, 2015.

SANTAELLA, Lúcia. Desafios da ubiquidade para a educação. Revista Ensino Superior Unicamp, v. 9, p. 19-28, 2013.

O'REILLY, Tim. What is web 2.0. " O'Reilly Media, Inc.", 2009.

WOLFF, Michael. Televisão é a nova televisão. Globo Livros, 2015.


IMEDIATISMO,
VOLATILIDADE,
PLATAFORMAS E
INFLUÊNCIA:
COMO TUDO ISSO SE RELACIONA?
POR CAROLINA TERRA

Carolina Terra tem pós-doutorado e doutorado em Ciências da


Comunicação, é professora do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação e da graduação da Faculdade Cásper Líbero. E-mail:
contato@carolterra.com.br
Ao ser convidada para esse e-book, fiquei pensando:
como posso trazer a influência digital, um dos meus
interesses de pesquisa, para o universo das tecnologias
que fazem emergir dinâmicas e fluxos
comunicacionais? Assim, nasceu a vontade de falar
sobre como as exigências da aceleração social do
tempo (TERRA & PRAZERES, 2022) impactam na
comunicação dos indivíduos, mas também e
enormemente, na das organizações e seus atores.

Em um contexto de imediatismo, na obrigatoriedade


de agirmos em tempo real (TERRA, 2015) em relação
ao que ocorre no cotidiano, aos memes, às trends, às
“dancinhas” e desafios do TikTok e tudo mais o que
envolve o cenário digital, é preciso que o profissional
de comunicação consiga dosar quando entrar “de
cabeça” nessa seara frenética e quando “tirar o pé do
acelerador e frear” para que a estratégia
comunicacional seja pensada, digerida, planejada e
surta efeitos. É exatamente aí que me refiro ao tempo
acelerado e à necessidade de se reagir imediata e
prontamente aos anseios do ser e estar digitais.

Além da velocidade a que estamos submetidos,


lidamos com um contexto em que tudo dura pouco. A
liquidez preconizada por Bauman (2001) nunca fez
tanto sentido. Tudo está líquido: relações, atenções,
dedicações, envolvimentos e a comunicação das
organizações. Estamos falando da liquidez da
exposição e visibilidade midiáticas em uma cena volátil.
Nada é feito para durar. Um meme dura alguns dias.
Uma polêmica, mais alguns. Uma crise empresarial,
com tratamento e sorte, algumas semanas. Para se
manter em evidência é preciso se visibilizar. Há quem
engaje e apareça pelo absurdo. Jogar-se da
estratosfera em nome de uma marca de energéticos
(TREEGARDENER, 2017)? Temos. Vender um look que
ainda não foi idealizado para gerar visitas ao e-
commerce (MEIO & MENSAGEM, 2022)? Temos
também. Lançar um tênis completamente detonado
para gerar buzz (DE NOSSA, 2022)? Ahã. Sim.
E por que tudo isso acontece? Porque temos as
plataformas de mídias sociais à nossa disposição para
nos expressarmos, nos relacionarmos, seguirmos
marcas e influenciadores e o caminho inverso também
se faz verdadeiro. Isto é, marcas e influencers também
dispõem do mesmo arsenal para se tornarem visíveis,
bem quistos e, claro, vendáveis. A plataformização da
sociedade como um todo (VAN DJICK, 2019) se
tornou realidade e afeta imensa e profundamente o
cotidiano de usuários e organizações. A
plataformização não somente afeta a forma como
produzimos, circulamos e distribuímos comunicação,
mas o novo modus operandi para ver e ser visto. Já
pontuava Germaine Greer (APUD BAUMAN, 2008, p.
21): “A invisibilidade é equivalente à morte”.
Estaríamos reféns das plataformas? Difícil responder
negativamente a essa questão.

Somado a tudo isso, ainda nos vemos em uma


compulsoriedade de sermos influentes. Vamos realizar
uma pesquisa acadêmica e, de repente, nos vemos
como pesquisadores-influencers utilizando as nossas
redes pessoais para angariar adeptos a um
questionário ou chamar a atenção para um artigo
científico publicado em uma revista. Ao assistirmos
uma palestra, sentimos vontade de registrar a
apresentação daqueles que estão no palco e
procuramos por seus perfis de Instagram e lattes para
sabermos quem são. Assim, nos legitimamos como
acadêmicos ao mesmo tempo em que ganhamos
crédito pelo que estamos fazendo. Nem no lazer ou no
entretenimento, escapamos. Vamos a um museu ou a
uma exposição e nos deparamos com cenários
instagramáveis, com sugestões de hashtags e
tagueamentos. Afinal, o conteúdo gerado pelo usuário
ou consumidor vale ouro. O endosso de um terceiro
pode ser uma mídia espontânea e orgânica incrível.
Somos aquilo que expomos e visibilizamos nas redes.
Damos um verdadeiro “show do eu”, já dizia Sibilia
(2008).

Nesse emaranhado de redes, fluxos comunicacionais e


novas dinâmicas há que se lidar com o tempo
acelerado das plataformas, a coleta desconhecida e
compartilhada dos dados, a efemeridade dos
acontecimentos do mundo ao mesmo tempo em que
nos fazemos presentes, expostos, influentes,
transparentes (HAN, 2018).
O dilema das redes vai além dos algoritmos, Pensar tais fluxos e dinâmicas
das bolhas e das estratégias escusas das comunicacionais multidirecionais e
plataformas: ele passa pelo nosso cansaço mutantes é companhia constante
mental, pelas horas a fio de telas e pela para os pensantes do campo.
nossa quase-obrigatoriedade, como Prontos para essa viagem sem fim?
pesquisadores da comunicação e do
contemporâneo, em estarmos imersos nesse
mundo refletindo-o criticamente,
encontrando objetos de pesquisa, saídas,
soluções e discussões que nos façam ter
olhares diferenciados em relação a esse
espírito do tempo.

BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadorias. Rio de Janeiro: Zahar Editores,
2008.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.

DE NOSSA. Rasgado, sujo e grifado: Balenciaga lança tênis destruído por R$ 10 mil. 09/05/22. Site Uol. Disponível em:
https://www.uol.com.br/nossa/noticias/redacao/2022/05/09/rasgado- sujo-e-grifado-balenciaga-vende-tenis-
destruido-por-r-10-mil.htm?cmpid=copiaecola. Acesso em 19/05/22.

HAN, Byung-Chul. Sociedade da transparência. São Paulo: Vozes, 2018. MEIO&MENSAGEM. Como o Mercado Livre
planeja vender um produto que não existe. 12/04/22. Site

Meio & Mensagem. Disponível em: https://www.meioemensagem.com.br/home/marketing/2022/04/12/como-o-


mercado-livre- planeja-vender-um-produto-que-nao-existe.html. Acesso em 19/05/22.

SIBILIA, Paula. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2008.

TERRA, Carolina F. Tudo em tempo real: estamos vivendo a era das Relações Públicas do imediatismo? Anais do IX
Congresso Abrapcorp 2015. Disponível em: http://rpalavreando.com.br/wp-content/uploads/2015/06/Artigo-RP-do-
Imediatismo.pdf. Acesso em 19/05/22.

TREDGARDENER, Cat. Há 5 anos, este homem saltava da estratosfera. 11/10/2017. Site Red Bull. Disponível em:
https://www.redbull.com/br-pt/red-bull-stratos-comemora-5-anos. Acesso em 19/05/22.

VAN DJICK, Jose. A Sociedade da Plataforma: entrevista com José van Dijck. Site DigiLabour. 2019. Disponível em
https://digilabour.com.br/2019/03/06/a-sociedade-da- plataforma-entrevista-com-jose-van-dijck/ Acessado em
19/05/22.
METAVERSO
E SEMIOSFERA
por francisco pimenta

O AUTOR POSSUI GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO


SOCIAL PELA UFJF, MESTRADO E DOUTORADO EM
COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA PELA PUC-SP.
REALIZOU PESQUISA DE PÓS-DOUTORADO EM
CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO PELA UNISINOS.

É PROFESSOR TITULAR E TUTOR DO GRUPO


PET/SESU DA FACOM UFJF.
A ideia de metaverso constitui, hoje, um Na realidade, constituem um fenômeno
campo complexo de possibilidades, único e as redes sociais são apenas um dos
realizações concretas e pensamentos aspectos atuais da ideia mais geral de
tecnológicos. Em termos científicos, metaverso. Como a comunicação por meio
abrange diversas áreas, em especial, é claro, de signos é a base sobre a qual se
a computação e várias de suas subáreas, desenvolvem, a semiótica é uma esfera
entre elas a Realidade Virtual, que cria privilegiada para compreender melhor essas
mundos à parte, e a Realidade Aumentada, relações. É interessante notar que todas
que se integra e recria nosso ambiente essas metáforas giram em torno da
cotidiano. Portanto, é um conceito proposta de ampliar nossa semiosfera, ou
extremamente rico que pode ser abordado seja, o ambiente sígnico no qual estamos
de diferentes perspectivas. Do nosso ponto imersos. E expandir nosso universo em
de vista, é algo interessante como processo metaversos por meio de vínculos, redes,
comunicacional, mais propriamente, sígnico, que amplificam nossa noção de sociedade é
pois, na nossa concepção, baseada nas o mesmo processo expansivo que
obras do lógico norte-americano Charles caracteriza a semiose, por meio do
Sanders Peirce, não há comunicação sem contínuo e irrefreável desenvolvimento de
signos. signos a partir de outros signos. É a aldeia
global de McLuhan propiciando a
O metaverso é um claro exemplo da progressiva interação entre mentes, sejam
contínua evolução dos processos elas ocidentais, orientais, humanas, animais
semióticos, ou semioses, em associação ou maquínicas. As distâncias físicas
com o crescimento da área da eletrônica e, permanecem, mas os pensamentos se
daí, da computação. Esses processos vêm movem sem barreiras, a não ser aquelas
evoluindo principalmente a partir da impostas por interesses particulares, de
invenção do transístor e, mais tarde, dos caráter pessoal ou grupal, econômicos ou
circuitos integrados, os chips, que políticos.
permitiram a miniaturização dos
equipamentos, seu barateamento e Face ao crescimento da semiosfera pela
disseminação. A representação dos objetos expansão dos processos sígnicos digitais,
pelos meios técnicos avança, então, naturalmente todas as faixas etárias
velozmente; facilitada, ainda, pela participam desse processo, que a todos
digitalização que possibilitou que as antigas atinge. Seria preciso a realização de
mídias analógicas fossem progressivamente pesquisas bastante complexas, envolvendo
integradas. O Second Life surgiu num diversas áreas, para avaliar esses impactos
período em que muitas dessas tecnologias na faixa infantil, os quais, certamente, não
ainda estavam no início de seu serão inócuos. Basta fazer um paralelo com
desenvolvimento e por isso, dentre outros as significativas mudanças causadas nesse
motivos, não prosperou. Mas a tendência público pela introdução da televisão em
dos processos de representação sígnica larga escala, um suporte comparativamente
reproduzirem, cada vez mais, o mundo muito mais simples, para termos uma ideia
natural e criarem universos imersivos do que essa tecnologia pode gerar.
híbridos com os ambientes vividos, é um
movimento irreversível.
Por meio da semiótica podemos prever que essas
alterações afetarão desde as esferas perceptivas, sensórias,
passando pela ampliação do universo conhecido por esses
usuários infantis, implicando em outros modos de ver o
mundo, até os impactos em suas capacidades
interpretativas, suas competências, sendo bastante
" O METAVERSO É UM
CLARO EXEMPLO DA
CONTÍNUA EVOLUÇÃO
provável que as próximas gerações adquiram,
crescentemente, uma maior capacidade crítica em relação
DOS PROCESSOS ao seu próprio uso dessas tecnologias. Nunca é demais
SEMIÓTICOS, OU lembrar a já histórica relação entre jogos eletrônicos e as
SEMIOSES, EM
ASSOCIAÇÃO COM O esferas da educação e do treinamento, gerando
CRESCIMENTO DA ÁREA desenvolvimentos que já estão sendo explorados por
DA ELETRÔNICA E, DAÍ,
empresas e pelo setor público e que, certamente,

"
DA COMPUTAÇÃO.
consistirão num campo de alta relevância social e
econômica nas próximas décadas.

A busca da cidadania nos ambientes digitais, portanto,


também se viu impactada por esses desenvolvimentos.
Atuou, ainda, contra a disseminação dessas plataformas,
suas próprias limitações técnicas, na medida em que os
metaversos demandam grande capacidade computacional e
a significativa disponibilidade de recursos exigida para isso
não é o que caracteriza a luta pelos direitos sociais. Ao
contrário, esses meios foram apropriados pelo grande
capital e pelas próprias empresas que se desenvolveram na
esfera digital, criando um novo contexto social, político e
econômico que as favorecem e ampliam sua influência por
meio da manipulação dos algoritmos e do big data, como
ocorreu, recentemente por meio do microdirecionamento
de dados pessoais nas eleições do Brexit, do ex-presidente
Trump e, no Brasil, com Bolsonaro.

De acordo com as pesquisas que realizamos naquele


período, sobre uma possível emergência de ações
relacionadas aos valores da cidadania nos metaversos e
seus ambientes digitais tridimensionais e interativos,
concluímos que as limitações técnicas decorrentes das altas
taxas de transferência de dados restringiam a capacidade
de representação de ambientes e de interações entre
grupos e pessoas. Outras limitações do próprio suporte
constatadas foram relativas à baixa funcionalidade do menu
do Second Life destinado a comandar gestos como rir,
acenar, dançar e se irritar, que conduziam à uma expressão
de emoções ainda muito apoiada em signos visuais
codificados, os “emoticons”, e não nos recursos
tridimensionais característicos dos metaversos.
A grande transformação que se espera que O desafio que se coloca, de fato, aos
seja realizada pelos metaversos está movimentos de promoção da cidadania
relacionada à imersão das mentes é a elaboração de novas formas de
interpretadoras dos signos assim veiculados condutas estéticas, éticas e políticas
numa semiosfera híbrida entre o mundo com valores universais. Isso inclui a
virtual e os fenômenos que ocorrem fora denúncia e superação da atual cultura
dele em nossa vida cotidiana. Nesse de massas, que impõe seus valores
sentido, faz parte de um processo que já particulares a todo o planeta, em
vem ocorrendo há algumas décadas, de direção ao respeito à autonomia de
evolução da dominância do código verbal outros modos de criação sígnica. Para
para sistemas multicódigos. Até muito isso contamos, agora, com essas
recentemente, o meio de comunicação tecnologias reúne as condições para
amplamente hegemônico de nossa espécie atuar como suporte apto a expressar a
era o código verbal, falado e escrito, mas complexidade de elementos que
isso está mudando rapidamente com as compõem o atual ambiente.
possibilidades criadas pelo código binário
do digital que permite integrar imagens,
sons e a tatilidade, por meio de teclados
sensíveis ao toque, ou de vibrações, entre
outros, a essas instâncias do verbal.

Entrevista completa disponível em http://www.ihu.unisinos.br/612293-estetica-etica-e-politicas-universais-os-desafios-


da-promocao-da-cidadania-no-metaverso-entrevista-especial-com-francisco-pimenta
ESPAÇOS
DE FLUXOS
NO NYTIMES.COM
Texto e Fotografias
por Sabrina Chinellato
Mestranda PPGCOM

Referência mundial em conteúdo digital, o jornal americano The New York Times já está
presente há mais de 25 anos na web e, devido ao seu alcance, influência e relevância no
jornalismo internacional, empresas de comunicação de todo o mundo tendem a seguir suas
estratégias comunicativas. Em entrevista para o projeto Journalist’s Resources, da
Universidade de Harvard, Martin Nisenholtz, vice-presidente do departamento de
Operações Digitais do The New York Times entre 2005 e 2012, revelou que os passos do
jornal na internet seguiram as fases que autores como Palacios e Martino apresentaram: a
notícia deixou de ser, com o tempo, apenas um “ctrl c" da edição impressa e “ctrl v” no site,
para a completa mudança na lógica da produção do jornalismo.

A emergência contínua de tecnologias, carregadas de textos, imagens e sons, provocou


uma conexão inédita entre as distintas mídias e mudou todo o conteúdo jornalístico.
Palacios (2015) afirma, portanto, que os dispositivos móveis emergiram como uma
tecnologia definidora de novos padrões de produção, distribuição e consumo da notícia.
Esse "tsunami digital” (SANTAELLA, 2018) em que o jornalismo se insere vem se
desenvolvendo justamente na multiplicação de rebentos computacionais, como os
smartphones, o turbilhão de plataformas, aplicativos, redes sociais digitais e o variado
número de telas que nos rodeiam.
Nesse contexto, os estudos
comunicacionais que voltam o olhar ao
digital merecem novas abordagens, tendo
em vista a transformação não somente da
lógica da produção, consumo e
distribuição do conteúdo jornalístico, mas
também o próprio fluxo de interlocução,
em que a interação com a notícia passa a
ser mediada por uma tecnologia digital.

Sendo assim, as ideias norteadoras da


minha pesquisa vão de encontro com as
discussões presentes nessa revista sobre
a relevância do uso do termo "espaços de
fluxos" para o novo cenário do jornalismo,
uma vez que os significados consolidados
no dicionário, até então, não são tão
familiares à arquitetura do digital. Desta
forma, o conceito de "espaços de fluxos”
nos parece abrangente e dinâmico o
suficiente para abarcar as transformações
contínuas e emergentes e a dinamicidade
do digital.

A doutrina de que tudo que existe no


mundo natural e artificial, no campo da
mente e da matéria, é contínuo vem
sendo constatada por filósofos pré-
modernos e cientistas pragmaticistas por
milênios. Heráclito (séc. V a.C.), por
exemplo, buscou explicar o mundo pelo
desenvolvimento de uma natureza
comum a todas as coisas: o eterno
movimento e a estrutura dinâmica do
real. Heráclito considerou a realidade, na
sua totalidade, como um fluxo perpétuo.

Assim como ele, séculos mais tarde,


Charles Pierce (1893) também apresenta
na essência de suas ideias de concepção
sinequista e evolucionista do mundo, a
continuidade e o entendimento de que
tudo no ambiente está em constante
modificação e em relação, ou seja, em
espaços de fluxos.
Ademais, considerando a atualidade das
transformações tecnológicas intensas na
transição da Web 2.0 para a Web 3.0, o
conceito de fluxos se coloca ainda mais
em destaque. Na natureza, conforme
explicou Heráclito (séc. V a.C.), não nos
banhamos duas vezes no mesmo rio, já
que nem o rio nem quem nele se banha
são os mesmos em dois momentos
diferentes da existência. Da mesma
forma, as águas do rio da comunicação
sempre estiveram em constante fluxo,
desde a era da cultura oralizada.

Mas o fato é que a Era Digital aumentou


exponencialmente a velocidade da
correnteza, intensificando os fluxos e as
transformações da linguagem e seus
processos sígnicos. É possível perceber
essas mudanças se observamos como os
principais jornais do mundo vêm lidando
com o jornalismo digital nos últimos anos.
Nesta Era Digital cada vez mais acelerada,
o jornalismo é produzido em um
ecossistema onde os fluxos informativos
se movimentam fora de um espaço físico,
ou seja, além das páginas do tradicional
jornal impresso.

A arquitetura dos espaços dos sites e das


redes sociais digitais, onde o jornalismo é
criado e consumido, permite que um
mesmo conteúdo assuma linguagens e
elementos estéticos diferentes,
possibilitando ao leitor, agora interator,
experiências aumentadas. A mesma
história habita espaços fluxos distintos e
transpassa as características próprias da
mídia em que ela foi publicada
inicialmente.
Essa dinâmica dos espaços de fluxos se do interagente, dando ao interator a
coloca em destaque no jornalismo digital possibilidade de participar da construção
do The New York Times. Dispondo das daquela notícia, por meio dos
potencialidades das novas tecnologias comentários.
digitais, o Jornal permite com que a
notícia produzida molde seus elementos No The New York Times, o mesmo
estéticos e sua linguagem para fluir entre conteúdo não se limita a apenas um
o jornal impresso e o site e ainda perfil, mas é replicado no feed de
performar uma nova rede, o Instagram. diferentes contas, como a conta no
Instagram oficial do jornal @nytimes e as
Quando analisamos uma mesma notícia e contas das diversas editoras como, a
comparamos suas diferentes versões Travel e a Cooking. Nos comentários,
publicadas em meios distintos, centenas de usuários interagem com as
percebemos que são nítidas as diferenças histórias, alguns inclusive completam as
na interface do digital e na diagramação falas dos entrevistados da matéria
do impresso, como o menor número de original, oferecendo seus próprios
fotografias no jornal de papel e o uso de depoimentos sobre as situações descritas
recursos diferentes como o intertítulo no nas notícias, marcando amigos ou dando
impresso e os hiperlinks no digital. sugestões e opiniões.

Levando em conta a ideia do axioma de De fato, ao dispor de todos esses


McLuhan “o meio é a mensagem", o meio elementos e potencialidades das
fluido molda o conteúdo, que assume a ferramentas digitais, os espaços de fluxos
forma fixa e durável da mídia impressa e da notícia no The New York Times situam
a forma dinâmica e emergente do site. o jornal na terceira geração do
Muitas vezes, a notícia se transforma até webjornalismo e, cada vez mais, o
mesmo recebendo uma nova manchete, aproxima do que teóricos preveem como
se adequando à linguagem de cada meio. a Web 3.0 ou Web Semântica, um
Posteriormente (ou antecipadamente a Metaverso onde/quando a Inteligência
depender da notícia) o conteúdo flui para Artificial irá revolucionar não somente o
as redes sociais, assumindo não apenas jornalismo, mas todas as atividades
uma nova estética, mas uma nova humanas.
linguagem, inclusive deslocando o papel

MARTINO, L. Teoria das Mídias Digitais: Linguagens, Ambientes, Redes. Petrópolis: Vozes, 2014.

PALÁCIOS, M.; BARBOSA, S.; SILVA, F.; CUNHA, R. Jornalismo móvel e inovações induzidas por affordance sem
narrativas para aplicativos em tablets e smartphones. In: CANAVILHAS, J; SATUF, IVAN (org.). Jornalismo para
Dispositivos móveis: produção, Distribuição e consumo. Covilhã: Labcom, 2015.

PIERCE, C. S., Charles H., Paul W. and Arthur W. Collected Papers of Charles Sanders Peirce. Cambridge, Mass:
Belknap Press of Harvard University Press, 1965.

SANTAELLA, L. Acelerações espaço-temporais evanescentes. In: Fluido, Fluxo: reflexões sobre imagens voláteis,
gênero, pós-verdade, fake news e consumo neste tempo de espirais fluidas. Pollyana Ferrari (Org.). Porto Alegre,
RS: Editora Fi, 2018.
O FLUXO
DIGITAL DE/ENTRE
PLATAFORMAS POR
MEIO DO PERFIL DE
LIL MIQUELA POR LARYSSA GABELLINI
DOUTORANDA PPGCOM

ABAS ABERTAS, VISITAÇÃO DE SITES QUE PERPASSAM DE JANELA


EM JANELA. APLICATIVOS FUNCIONANDO AO MESMO TEMPO,
ÁUDIOS DE MÚSICAS OU PODCASTS, FEED DE DIFERENTES
PLATAFORMAS EXIBINDO FOTOS, VÍDEOS E OUTROS CONTEÚDOS.
ESSA É A REALIDADE DO DIA A DIA HIBRIDIZADO E DIGITAL.
DIVIDIMOS NOSSAS HORAS ENTRE PLATAFORMAS DIFERENTES
CONSUMINDO PRODUTOS, NARRATIVAS, LINGUAGENS E
EXPERIÊNCIAS IMERSIVAS ANCORADAS EM ECOSSISTEMAS DIGITAIS
COMPLEXOS E RAMIFICADOS.
LIL
MIQUELA

São nesses e a partir desses espaços que o que


podemos chamar de fluxo ocorre. O termo
pode ser caracterizado pelo ato de fluir, como
uma espécie de flanar comunicacional que
permite a condução, movimentação e difusão
de tantas informações codificadas. Ato esse
que passou a assumir um nível de
complexidade mais alto à medida que se
estabelece um maior intercruzamento de
novos fluxos, refração dos já existentes e uma
maior necessidade da continuidade no acesso Em um sentido ainda mais figurado, fluxo
aos conteúdos comunicacionais na seria uma sucessão de acontecimentos.
contemporaneidade. Em analogia, são Conteúdo por conteúdo. Perfil por perfil.
informações que trafegam entre avenidas e Stories por stories. Link por link. Vídeo por
estradas com diversos outros veículos que vídeo. Plataforma por plataforma. E, com a
também exercem um fluxo/percurso próprio e contemporaneidade e a hibridação desse
recebem interferência de todos os lados. É um movimento, a sucessão não restringe a
tipo de circulação a partir do fluxo sanguíneo, repetição desse acesso, afinal, estamos
porém de dados, que alimenta o caminhar e a lidando com uma dinâmica comunicacional
expansão de um fenômeno por dentro de um multifacetada e com inúmeras interferências
corpo que se alimenta, se mantém em pé humanas e não humanas sobre ela. Nesse
fluindo à medida que é preenchido por cada sentido, podemos nos perguntar, o que guia
informação que compreende esse pulsar que é esse fluxo?
gerado pelas informações se movendo em
percursos digitais. Dentro das respostas desse questionamento
muitas exemplificações se fazem verdade.
Fluxo é movimento, é o percurso das Neste caso iremos utilizar uma que se
informações, dos conteúdos. Ele pode ser mais aproxima em termos de construção,
intenso, abundante ou mais difuso e lento. A compartilhamento e contaminação desse
intensidade é definida pela quantidade de ambiente hibridizado descrito anteriormente,
conteúdos que circulam nos ambientes em que utilizaremos como duto de visualização o
ele se destaca. Ou seja, nas mídias, nas perfil da influenciadora virtual Lil Miquela e
plataformas, nas trocas diárias, em todas essas como suas ações são recheadas de
situações, é possível ver, sempre a partir de transmidialidade, fluxos e caminhos digitais
uma dinâmica comunicacional, sujeitos, interligados caminham como fluxos de
assuntos e informações que transbordam direção, dados e informações de um local
diante do exposto. digital a outro.
O percurso do fluxo que aqui será Assim, pode-se dizer que diante da aceleração
evidenciado se inicia no perfil @miquela na das inovações tecnológicas, o estudo da
plataforma Instagram. Com cerca de 3 ecologia da mídia agora se depara com uma
milhões de seguidores na rede, Miquela é importante transformação no campo das
uma influenciadora virtual criada interfaces: as plataformas digitais,
artificialmente através de programas de infraestruturas programáveis que facilitam e
realidade virtual, algoritmos e tecnologia. Sua moldam interações personalizadas entre
conta no Instagram foi criada em 2016 por usuários, organizadas por meio de coleta
iniciativa de uma startup de Los Angeles, nos sistemática, processamento algorítmico,
Estados Unidos, chamada Brud, especializada monetização e circulação de dados (POELL;
em inteligência artificial, robótica e outras WAAL; DIJCK, 2019). E essas modificações
aplicações de negócios de mídia. atuam na intensificação dos fluxos e nas
dinâmicas já conhecidas.
Miquela gera fluxo de e entre plataformas a
partir do momento que se coloca como uma A partir do exposto, entende-se que as
influenciadora no espaço do Instagram, mas plataformas abrigam ecossistemas digitais e
assume um perfil no Tik Tok – com 3,6 passam a assumir uma dinâmica
milhões de seguidores - em que posta comunicacional que atua de forma a evidenciar
conteúdos exclusivos, e mais ainda quando os fluxos. Observar os elementos pertencentes
compartilha suas músicas no Spotify – com a esse espaço, como o perfil da Lil Miquela e
191.181 ouvintes mensais. Apenas nessa tantos outros, auxilia no processo de entender
breve descrição a partir de um ponto, sua a forma com a qual eles se relacionam, que tipo
existência digital, Miquela aciona e mobiliza de interação se promove entre eles e sua
um conteúdo transmídia que perpassa por forma de atuação como edificadores na
três diferentes plataformas, intercruzando cultura, nas ações humanas e não humanas e
suas informações, seus dados e conteúdos. O na construção de identidade e identificação
que acontece é que quem gosta, se identifica dos seres que habitam esse ecossistema. Essa
e quer acompanhar as novidades sobre a necessidade se ancora nos processos de
influenciadora virtual irá caminhar por todos entendimento da dinâmica comunicacional que
esses ecossistemas digitais interagindo, é assumida dentro desse espaço, responsável
disseminando curtidas, likes e comentários também por evidenciar processos e em
que farão novos fluxos comunicacionais. especial gerar fluxos digitais.

Miquela se destaca por suas excentricidades,


por ser um agente híbrido dentro de espaços
recheados de relações hibridizadas, e por isso
carrega ainda mais essa essência do fluxo, pois
também é criada a partir de objetos, questões e
tecnologias que provem dele.

REFERÊNCIAS:

VAN DIJCK, J.; POELL, T.; DE WAAL, M. 2018. The Platform


Society: Public Values in a Connective World. Oxford: Oxford
University Press.
O BIG DOS
FLUXOS
INFLUENCIADORES
DIGITAIS E A
RECONFIGURAÇÃO DO
ECOSSISTEMA DIGITAL
POR THAIANA ALVES
MESTRANDA PPGCOM

Não importa em que lugar do Brasil você Hoje, o BBB está na televisão aberta, na tv
esteja nos primeiros meses do ano, fechada através do canal multishow, nas
certamente em algum momento a pauta da principais redes sociais, nas principais
sua conversa, o comercial na televisão, o seu plataformas agregadoras de podcasts, no
feed nas redes sociais, o programa em alta do portal Gshow e na plataforma de streaming
seu streaming ou agregador de podcast será Globo Play, nos canais digitais dos
sobre o Big Brother Brasil (BBB). Goste você patrocinadores, nos canais digitais dos
ou não, o programa comanda a pauta participantes e nos principais termos de
nacional do período, por onde você anda, pesquisa de google.
olha, ouve ou acessa, vai esbarrar no
programa. Parece que ele está em todos os Atentos às evoluções das redes, em 2020 o
lugares. E Está mesmo. O Big Brother é um programa deu um importante passo para
programa que originalmente passa na expandir as linguagens no ambiente digital:
televisão, porém nunca se limitou a ela, é um convidou influenciadores para compor parte
programa que já nasceu com vocação para a do seu elenco. Objetivando trazer para
comunicação transmidiática. televisão os nativos da internet, convidou
influenciadores que juntos possuíam 22,4
Em 2002, quando desembarcou no Brasil milhões de seguidores em suas contas na
para sua primeira edição, os fluxos se davam plataforma Instagram.
entre a TV e o telefone, onde a votação
semanal ocorria através de ligações e de sms Essa reconfiguração do ecossistema digital
(mensagens de texto). Com o passar dos criado em torno do BBB expandiu ainda mais
anos, evolução tecnológica e a popularização os fluxos comunicacionais multimeios,
do uso da internet, o BBB se atualizou, alcançando números inéditos.
incorporando na sua estratégia os mais
variados meios.
Para tv aberta, houve um aumento da
audiência entre os adolescentes de 12 a
17 anos, com relação à edição de 2019,
foi de 36% e entre os jovens adultos, de
18 a 24 anos, de 38%”. (Exame, 2020),
isso mostra, que o público jovem, que
Anualmente, o google informa quais foram as
habitualmente está no meio digital, passou
palavras mais pesquisadas daquele ano. Das
a acompanhar também o programa na
13 categorias informadas, o BBB apareceu
televisão. A expansão do fluxo não parou
em cinco:
apenas na audiência na TV aberta, o canal
Multishow, teve sua audiência jovem
dobrada com relação aos 2 anos
Buscas do ano - em quinto lugar
anteriores. (Exame, 2020).

O que é - em nono lugar, com a pesquisa


Assim como a tv se beneficiou dessas
“o que é sororidade?”, fazendo referência
dinâmicas, observamos um movimento
a um diálogo entre os participantes Manu
semelhante na internet. Nas redes sociais,
Gavassi e Felipe Prior.
no Twitter, as menções ao programa
foram 10 vezes maiores em 2020 (Patricia
Personalidades - em sexto lugar com
Kogut, 2020), já no Instagram, a hashtag
Manu Gavassi, em oitavo lugar com Rafa
#bbb20 possui 2.593.265 publicações
kalimann e em nono com Babu.
(Instagram, 2021).

Perguntas - em segundo lugar com


No portal Gshow, site de entretenimento
“Quem sai do BBB?” e em terceiro lugar
da Globo, onde ocorrem as votações, a
com “Quem ganhou o BBB?”
partir dos acontecimentos do programa na
televisão, uma única votação atingiu a
TV – em primeiro lugar
marca de 1,5 bilhões de votos (Pop &
Arte, 2021), que entrou para livro dos
recordes como a maior votação de todos
os reality shows do mundo.

No serviço de streaming da Rede Globo, o


Globo Play, o aumento foi de 500% em
2020 comparada com a edição anterior (O
Tempo, 2020).
Ainda é possível observar o conteúdo multimeio gerado pelos patrocinadores, que
inicia no programa de televisão através de provas, festas e atividades, mas se
expandem para de ações promocionais acessadas por QR code, redes sociais e site.

Outro ponto imprescindível foi a atuação dos participantes, que pela primeira vez
inverteu a lógica de produção de conteúdo, saindo da passividade limitada a
participação no programa, para o controle estratégico da sua comunicação. De forma
inédita, as participantes Manu Gavassi e Bianca Andrade deixaram, antes de entrar no
programa, conteúdos programados em suas redes sociais. Aliando a temporalidade ao
seu planejamento, produziram conteúdo que conversasse com as situações que
aconteceriam na casa, já confinadas. Essa ousadia temporal, fez que com que cada
vez mais pessoas acompanhassem as suas redes sociais e as narrativas criadas por
elas, bem como o programa na televisão e os desdobramentos que ele
proporcionaria.

Por fim, devemos considerar a importância do público, seja meros espectadores, fãs
ou críticos. O público expande o fluxo comunicacional do BBB nos mais diversos
espaços e meios, gerando ao programa a audiência e o engajamento necessário para
que o projeto se renove e ganhe força a cada ano.

CAMPANELLA, Bruno. Compreensão e afetividade: o fã dentro da lógica comercial do Big Brother Brasil. E-
Compós, v. 10, p. 1 - 17, 2007a.

CAMPANELLA, Bruno. Investindo no Big Brother Brasil: uma análise da economia política de um marco da
indústria midiática brasileira. E-Compós, v. 8, 2007b.

KARHAWI, Issaaf. Notas teóricas sobre influenciadores digitais e Big Brother Brasil: visibilidade, autenticidade e
motivações. E-Compós, São Paulo, p. 1 - 22, 2020.
#PESQUISAEMMOVIMENTO

efeito
Poliana
A REINVENÇÃO DAS
TELENOVELAS NO MUNDO DIGITAL
POR DÉBORA OLIVEIRA | MESTRANDA PPGCOM

Basta uma pesquisa rápida no google com Entretanto, considerando a imersão desse
os termos “Poliana moça” e “audiência” que público nos meios digitais, o aparelho de
logo surgem as notícias afirmando o televisão parece não fazer “brilharem os
fracasso da novela infanto juvenil que passa olhos”, e apesar de ainda estar presente em
de segunda a sexta-feira em horário nobre 96,3% das casas brasileiras, ele vem
no SBT. Registrando a menor audiência de perdendo espaço para os celulares, uma
uma novela infantil do SBT desde 2015, vez que segundo os dados do PNAD de
marcando 7.1 pontos de audiência em São 2019 do IBGE o número de pessoas acima
Paulo, segundo o portal RD1, a novela traz de 10 anos com celular subiu para 81%, ou
um debate importante sobre a manutenção seja, 8 a cada 10 brasileiros possui um
dessa programação na televisão brasileira. celular pessoal. Sendo assim, é preciso
compreender esse fluxo comunicacional e
Apesar dos dados desanimadores atuais, como os novos hábitos dos jovens influem
quando surgiram, as novelas infanto- também no consumo das telenovelas.
juvenis foram um marco na TV, trazendo os
jovens para frente das telinhas com Segundo Soraya Ferreira “O que de fato se
debates voltados para esse público. De evidencia é a necessidade da TV se
acordo com Fábio Costa “Uma estratégia estruturar de forma a atender às novas
de programação de nicho, junto a um demandas sociais, mercadológicas e
público cativo da emissora em outros técnicas.”. É preciso compreender esse
horários, com produção nacional, e após momento, e trabalhar para não ficar pra
terem sido exibidas com sucesso outras trás nesta convergência digital.
histórias, tanto brasileiras quanto
estrangeiras, se revelou cada vez mais
acertada no decorrer do tempo”.
E foi essa a aposta do diretor artístico Publicado no dia 20 de maio de 2022 o
Fernando Pelegio, que em uma coletiva vídeo “Pegadinhas que foram longe
de imprensa da novela destacou que “a demais”, somou mais de 749 mil
produção de Íris Abravanel não possui visualizações em 24 horas, já o vídeo
uma meta de audiência. O SBT acredita “Poliana Moça | Capítulo 45 –
que a audiência atual não pode ser 20/05/22, completo” nas mesmas 24
medida apenas pelos números da horas chegou a um milhão de
televisão aberta”, ainda de acordo com visualizações 7 . No mesmo período do
ele, a emissora passou a considerar a vídeo publicado, Poliana Moça
repercussão nas redes sociais e o ultrapassou a quantidade de
desempenho nas plataformas de visualizações do youtuber. Assim, é
streaming. possível demonstrar a fidelidade do seu
público e o interesse pela telenovela
Assim, é levando em consideração o nesse novo ambiente.
contexto digital que podemos entender
melhor a repercussão da novela. No
instagram, a #polianamoça conta com
75,4 mil menções, já o perfil oficial da
novela @polianamocaoficial conta com
3,3 milhões de inscritos 6 . Mas é no
Youtube, principal plataforma de
streaming gratuita que encontramos um
espaço similar para realizar o
comparativo com a audiência televisiva.

No Youtube, os capítulos completos da


novela Poliana Moça são divulgados
oficialmente pelo SBT através do canal
TV Zyn, onde são feitos conteúdos
paralelos e complementares daqueles
que passam na TV aberta, voltados para
a audiência desse público mais jovem.
Por lá, os episódios vêm batendo, em
uma média de 24 horas após o
lançamento, 1 milhão de visualizações.

Para considerar o impacto de 1 milhão


de visualizações nesse período,
podemos fazer o comparativo com
Felipe Neto, o principal Youtuber
Brasileiro, com o 2º canal ativo com
mais inscritos do País, e que soma 44
milhões de seguidores.
Enquanto ouvimos em qualquer esquina Podemos então considerar que esse
o debate sobre a crise televisiva, em que “Efeito Poliana” veio para transformar as
todas as emissoras vêm perdendo telenovelas, trazendo à tona um
audiência, o efeito das novelas infantis importante debate de espaço. A
nas plataformas de streaming digital televisão há alguns anos já não se
surge como uma “luz no fim do túnel”. resume ao aparelho estático na nossa
Com essas conquistas de engajamento sala. Desde que se tornou possível ter
no meio digital, mostram que ainda há as telinhas na palma da mão, essa ideia
sim o interesse no conteúdo televisivo, de praticidade tomou o público e foi
no entanto, é preciso pensarmos fora da ganhando espaço. E é papel das redes
caixa, literalmente. televisivas compreender as demandas e
a criação de estratégias para adaptação
E reforçando essa informação, no fim do e manutenção da sua programação.
ano de 2021 outra novela infanto
juvenil também foi palco de debates no Assim como Poliana faz na novela, é
universo digital. “Carinha de Anjo” preciso encarar esses novos fluxos
chegou à plataforma de streaming comunicacionais e essa convergência
Netflix, e a primeira temporada midiática com o famoso “Jogo do
dominou o ranking de audiência no Contente”, vendo em cada
período de 8 a 14 de novembro de 2021 acontecimento, o lado positivo. As
com mais de 116 milhões de horas telenovelas tem, no universo digital,
vistas. uma gama de possibilidades que
fomentam a reinvenção, novas
Na mesma semana, a novela infantil articulações, mas sem perder a tão
Carrossel ocupou o quarto lugar entre aspirada fidelidade do público.
as séries mais assistidas na plataforma,
Chiquititas esteve em 6º e As Aventuras
de Poliana (novela que antecede Poliana
Moça) ocupou o 8º lugar.

CARNEIRO, Raquel. Carinha de anjo foi vista mais de 116 milhões de horas na Netflix. *Veja*. Disponível em:
https://veja.abril.com.br/coluna/tela-plana/carinha-de-anjo-foi-vista-mais-de-116-milhoes-de-horas-na-netflix/

COSTA, Fábio. Novelas infantis não são um “fenômeno” recente da TV brasileira, mas a longa duração pode
desgastá-las. *Observatório da TV*. Disponível em: https://observatoriodatv.uol.com.br/critica-de-tv/novelas-
infantis-nao-sao-um-fenomeno-recente-da-tv-brasileira-mas-a-longa-duracao-pode-desgasta-las

OLIVEIRA, Fábio. Poliana Moça não é um fracasso para o SBT, saiba o motivo. *Dabeme*. Disponível em:
https://www.dabeme.com.br/poliana-moca-nao-e-considerado-um-fracasso-saiba-o-motivo/

Uso de Internet, televisão e celular no Brasil. *IBGE Educa*. Disponível em:


https://educa.ibge.gov.br/jovens/materias-especiais/20787-uso-de-internet-televisao-e-celular-no-brasil.html

Poliana moça registra a menor audiência de uma novela infantil do SBT. *RD1*. Disponível em:
https://rd1.com.br/poliana-moca-registra-a-menor-audiencia-de-uma-novela-infantil-do-sbt/

VIEIRA, Soraya Maria Ferreira; SILVA, Liliane Maria de Oliveira; CHINELATO, Sabrina. Estratégias e correntes de
fluxos em espaços híbridos: a Web e a TV. *Revista Geminis*. V. 7, N. 2, p. 26-42.
O GRUPO
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