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Inclusão Escolar de crianças com autismo: Desafios e avanços

GUIMARÃES, Vera Lucia Stradiotto


Licenciando/Bacharelando Em Pedagogia –
Segunda Licenciatura no Centro Universitário
Internacional Uninter

SOBRENOME, Nome do Professor orientador


convidado (o nome do professor Corretor deve
ser colocado após a primeira postagem e
correção)
RESUMO
Este estudo examina a inclusão escolar de crianças com autismo, abordando os
desafios e progressos na educação inclusiva. Adotando uma abordagem qualitativa, a
pesquisa realiza uma revisão bibliográfica com critérios específicos de seleção,
enfatizando a importância de fontes recentes para fortalecer o embasamento teórico. O
objetivo central é fornecer informações valiosas para promover a educação inclusiva e
ajustar práticas pedagógicas conforme as necessidades dos alunos autistas. A
problemática da inclusão escolar dessas crianças se justifica pela urgência de
compreender os obstáculos e avanços nesse contexto educacional.
A metodologia empregada baseia-se em uma revisão bibliográfica que abrange
trabalhos acadêmicos, teses, revistas e artigos relacionados à inclusão escolar de crianças
com autismo. Os resultados destacam a complexidade desse processo, sublinhando a
necessidade de integração da Educação Especial à educação geral. A pesquisa evidenciou
que estratégias como a incorporação de tecnologia, a realização de atividades lúdicas e a
orientação do professor de apoio desempenham papel fundamental na promoção da
inclusão. Tais abordagens não apenas facilitam a participação ativa dos alunos com
Transtorno do Espectro Autista (TEA) no processo de aprendizado, mas também
favorecem a adaptação às suas necessidades específicas. O estudo contribui
significativamente para a compreensão e aprimoramento das práticas inclusivas na
educação.
Palavras-chave: Autismo, inclusão, educação especial, TEA.
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1. INTRODUÇÃO
A inclusão escolar de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA)
representa um desafio complexo e multifacetado, exigindo não apenas um entendimento
aprofundado do autismo, mas também a implementação de estratégias eficazes para
garantir a participação plena desses alunos no ambiente educacional. Este artigo visa
explorar e analisar a temática da inclusão escolar de crianças com autismo, destacando os
avanços, desafios e estratégias eficazes que moldam esse cenário educacional.
Inicialmente, delimitamos o assunto ao apresentar uma abordagem qualitativa,
concentrando nossa investigação em trabalhos acadêmicos, teses, revistas, pesquisas e
artigos que aprofundam a compreensão da inclusão escolar de crianças com autismo. A
revisão bibliográfica adotada como metodologia baseia-se em critérios rigorosos,
considerando parâmetros como a data de publicação, abrangendo o período de 2010 a
2022. Ao compreender os Transtornos do Espectro Autista (TEA), exploramos as origens
históricas do termo "autismo", desde as contribuições pioneiras de Plouller e Bleuler até
os estudos fundamentais de Kanner e Asperger. Essa contextualização histórica destaca a
diversidade no espectro autista e a importância de reconhecer as contribuições de
diferentes perspectivas para um diagnóstico mais abrangente.
Os princípios da educação inclusiva surgem como fundamentais para entendermos
como as escolas devem se adaptar para atender às diversas necessidades dos alunos,
promovendo um ambiente educacional que favoreça a qualidade do ensino para todos.
Nesse contexto, destacamos a legislação brasileira que respalda a Educação Especial,
reforçando o direito à educação para todos, incluindo crianças com deficiência. Contudo,
a inclusão escolar enfrenta desafios significativos, e é crucial explorar essas barreiras para
desenvolver estratégias eficazes. Analisamos a integração sensorial no autismo como um
desses desafios, ressaltando a importância da compreensão e adaptação do ambiente
escolar para atender às necessidades específicas das crianças com TEA.
Apesar dos desafios, destacamos avanços notáveis na inclusão escolar,
especialmente com a implementação de salas de recursos multifuncionais e o uso
estratégico da tecnologia assistida. Essas inovações proporcionam um ambiente mais
acessível e adaptado, facilitando o protagonismo do aluno com TEA em seu processo de
aprendizagem.
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Dessa forma, este artigo visa não apenas abordar a inclusão escolar de crianças
com autismo, mas também contribuir para o desenvolvimento de práticas educacionais
mais inclusivas e eficazes. Ao explorar as origens históricas, princípios, desafios e
avanços, buscamos oferecer uma visão abrangente que estimule a reflexão e o
aprimoramento contínuo das práticas inclusivas no ambiente educacional.
2. METODOLOGIA
O presente artigo adotou uma abordagem qualitativa, focalizando a investigação
em trabalhos acadêmicos, teses, revistas, pesquisas e artigos para aprofundar a
compreensão da inclusão escolar de crianças com Autismo. A metodologia empregada
baseou-se em uma revisão bibliográfica, na qual foram estabelecidos critérios rigorosos
para a seleção das obras. Durante esse processo, parâmetros essenciais, como a data de
publicação, foram considerados, abrangendo o período de 2010 a 2022.
Para a busca ativa de fontes relevantes, foram empregadas palavras-chave
específicas, como "inclusão escolar", "autismo" e "educação especial". As pesquisas
foram conduzidas em bases de dados reconhecidas, incluindo PubMed, Google
Acadêmico, SciELO, entre outras. Essa abordagem metodológica visou a obtenção de
uma gama abrangente de informações relacionadas ao tema.
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 A inclusão escolar
Atualmente, no Brasil, esta adotando abordagens mais inclusivas e atenciosas para a
educação de crianças com necessidades especiais. Antes acreditava-se que a educação
especial, em paralelo à educação comum, era a melhor maneira de atender alunos com
deficiência ou que não se adequavam aos sistemas convencionais de ensino (BRASIL,
2010).
A inclusão escolar desempenha um papel significativo de crianças com aspectro autista,
promovendo um ambiente educacional que valoriza a diversidade e atende às
necessidades individuais. Em um contexto inclusivo, Crianças no espectro autista, ao
participarem de ambientes inclusivos, têm a oportunidade de desenvolver suas
habilidades sociais, cognitivas e emocionais de maneira integrada. De acordo com Paulo
Freire (1999, p.25), o ato de ensinar não se resume à transmissão de conhecimento, mas
envolve a criação de condições para a produção e construção desse conhecimento. Nessa
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perspectiva, é essencial conceber a educação como um processo dialético, no qual a


criança interage com seus grupos, revelando suas potencialidades, projetos e ações.
A abordagem dialética de Paulo Freire reforça a importância da interação na construção
do conhecimento.

A presença da Educação Especial e Inclusiva desempenha um papel


crucial no ambiente educacional, pois compartilha o objetivo
essencial de promover o bem-estar entre os alunos e toda a
comunidade escolar, ao mesmo tempo em que os prepara para uma
integração plena na sociedade (UNESCO, 1994, p. 8-9).

A Educação Inclusiva não é apenas um conceito, mas um direito fundamental de cada


cidadão. Enfrentar os desafios da inclusão é responsabilidade da sociedade
contemporânea, abraçando as particularidades de cada indivíduo, seja ele portador de
deficiência ou alguém que não se encaixe nos padrões tradicionalmente impostos como
norma para todos.
De acordo com ensinamentos de Paulo Freire, “cabe ao educador orientar o processo
educacional, despertando a consciência dos alunos sobre seus direitos e capacitando-os a
lutar por eles. A intervenção pedagógica deve se fundamentar na realidade dos
estudantes, trabalhando suas culturas de origem, para assegurar direitos iguais a todos."

3.1 Transtornos do Espectro Autista (TEA)


A TEA é uma condição neuropsiquiátrica cuja característica dominante é a falta de
interação e comunicação social, além de comportamentos repetitivos e restritos. O termo
‘’espectro’’ significa a diversidade de sintomas observados em indivíduos por essa
condição. O espectro abrange uma ampla gama de desafios e habilidades reconhecendo
que o autismo se manifesta de maneiras diferentes em cada indivíduo.
A expressão "autismo" foi inicialmente introduzida na literatura psiquiátrica por
Plouller em 1906. Entretanto, em 1911, Bleuler utilizou esse termo para descrever os
sintomas negativos e a alienação social em pessoas diagnosticadas com esquizofrenia
(RAPIN; TUCHMAN, 2009; SALLE et al., 2005). Na época, Bleuler referiu-se ao autismo
como o "transtorno básico da esquizofrenia", caracterizado pela limitação nas relações
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pessoais com o mundo externo, excluindo tudo o que parecia ser o "eu" da pessoa
(SALLE et al., 2005, p. 11).
Em 1943, os estudos de Leo Kanner redefiniram o autismo como uma condição
específica, distinta de outras psicoses graves da infância. Em seu artigo intitulado
Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo Kanner observou onze crianças com
comportamentos distintos, como a incapacidade de se relacionar com outras pessoas,
distúrbios severos de linguagem e insistência obsessiva na invariância (ROSENBERG,
2011). Para Kanner existe três grupos de sintomas para a síndrome que são inabilidade
social; problemas de linguagem e comunicação; e necessidade de repetição. Em sua obra
pioneira de 1943, "Autismo Infantil Precoce", Kanner delineou pela primeira vez
características comportamentais distintivas, descrevendo dificuldades na comunicação,
padrões repetitivos de comportamento e interação social peculiar em crianças.
Paralelamente aos estudos de Kanner,o pediatra autriáco Hans Asperger, em seu
país, descreveu um grupo de crianças com dificuldades no desenvolvimento, sem
características associadas ao retardo mental, chamando-as de "psicopatia autística".
Embora Asperger tenha observado uma possibilidade de prognóstico melhor em
comparação com as crianças de Kanner, elas compartilhavam incapacidades no
desenvolvimento e um profundo déficit de relacionamento interpessoal (RAPIN;
TUCHMAN, 2009). Na época da descrição de Kanner, a etiologia do autismo foi
relacionada aos cuidados parentais, sugerindo que a criança nascia biologicamente
normal, tornando-se autista devido a inadequações ambientais, especialmente por parte
da mãe. Essa perspectiva persistiu por anos, sendo apenas na década de 60 que estudos
começaram a sustentar uma causa biológica para essa condição (SCHWARTZMAN, 2011a).
Diferentemente da abordagem de Kanner, Asperger também observou que
algumas dessas crianças tinham habilidades intelectuais, dentro dessas habilidades incluía
uma memória excepcional, habilidades matemáticas avançadas entre outros. Sua
observação resultou na síndrome posteriormente nomeada em sua homenagem,
Síndrome de Asperger.
As contribuições de Kanner e Asperger formaram as bases para a conceituação
inicial do autismo, introduzindo a diversidade no espectro. A distinção entre autismo
clássico e Síndrome de Asperger, inicialmente delineada por Asperger, trouxe uma
compreensão mais abrangente da variabilidade dentro do TEA. Portanto o diagnóstico do
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autismo requer não apenas analisar as características clínicas de Kanner, mas também
reconhecer as contribuições de Asperger, enfatizando a heterogeneidade do espectro
autista. Essas perspectivas pioneiras continuam a influenciar diagnósticos, pesquisa e
terapias no campo do autismo, sublinhando a importância de uma visão integrada.
3.2 Princípios da educação inclusiva
Os princípios fundamentais da Educação Inclusiva abrangem uma abordagem
integrada de ensino, onde todas as crianças, independentemente de suas diferenças e
desafios individuais, participam ativamente. Essa filosofia ressalta a importância de as
escolas reconhecerem e atenderem às diversas necessidades dos alunos, criando um
ambiente educacional que promova a qualidade do ensino para todos. Isso implica a
implementação de práticas de ensino adequadas e medidas organizacionais que
fomentem a inclusão, além do uso estratégico de recursos e parcerias para enriquecer a
experiência educacional. Esses princípios também destacam a necessidade de fornecer
assistência adicional às crianças com necessidades especiais, garantindo que recebam o
suporte necessário para alcançar o sucesso em seu processo de aprendizagem. Na busca
por uma educação verdadeiramente inclusiva, destacam-se cinco princípios fundamentais
que são:
O primeiro pilar é o Ensino Conjunto, assegurando que todos os alunos participem
coletivamente, independente das diferenças individuais. Em paralelo, o segundo princípio
destaca o Atendimento às Necessidades, reconhecendo e integrando as diversas
demandas dos estudantes como elementos essenciais do processo educacional. A
consecução de uma Educação de Qualidade para Todos representa o terceiro princípio,
envolvendo práticas de ensino adaptadas e a criação de ambientes inclusivos capazes de
atender aos variados estilos de aprendizagem. No quarto princípio, a ênfase recai sobre
Recursos e Parcerias, sublinhando a importância do uso de recursos adequados,
estratégias educacionais bem delineadas e colaborações eficazes para enriquecer o
ambiente educacional. Finalmente, o quinto princípio ressalta a importância da
Assistência Adicional, garantindo suporte extra para crianças com necessidades especiais,
assegurando que todas tenham as condições necessárias para prosperar em seu processo
de aprendizagem.
Através desses princípios, a educação inclusiva para crianças com autismo
proporciona benefícios substanciais. Para as crianças, isso resulta em um
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desenvolvimento mais abrangente de habilidades sociais, emocionais e acadêmicas,


promovendo uma interação mais positiva com os colegas de classe. Para as famílias,
implica em estabelecer parcerias eficazes com a escola, envolvendo os pais, educadores e
profissionais de apoio. Essa colaboração fortalece o ambiente educacional, especialmente
para crianças com necessidades educacionais especiais, permitindo que os pais recebam
apoio valioso de outros responsáveis e obtenham uma compreensão mais aprofundada
do desenvolvimento típico e atípico de seus filhos. Além disso, os pais são incentivados a
participar ativamente do processo educacional, fomentando uma colaboração mais
estreita entre a escola e o ambiente familiar.
Os educadores das turmas inclusivas desenvolvem uma compreensão mais
abrangente das diferenças e características individuais das crianças. Essa compreensão
aprimorada facilita uma cooperação mais eficaz com os pais e outros profissionais, como
fisioterapeutas, terapeutas de reabilitação, fonoaudiólogos, assistentes sociais, entre
outros (BORZOVA, 2020; TIMOSHENKO; SHUMILOVA, 2020).
Atualmente, diversas legislações regem as políticas públicas de Educação Especial
no Brasil, todas fundamentadas na Constituição Federal de 1988. Exemplos incluem as
Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica e a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, nº. 9.394, de 1996. A Constituição, desde 1988, garante o
direito à educação para todos, destacando a necessidade de universalização do ensino. A
partir de então, começou a se falar em uma educação para todos, tendo a necessidade de
universalização do ensino, Rodrigues (2000) destaca que:

A Educação Inclusiva é frequentemente apresentada como uma


transformação da abordagem integrativa na escola. Contrariamente, ela
não representa uma evolução, mas sim uma ruptura significativa com os
valores da educação tradicional. A Educação Inclusiva posiciona-se como
respeitadora das diversas culturas, capacidades individuais e
possibilidades de desenvolvimento de todos os alunos. Ela promove a
escola como uma comunidade educativa, advogando por um ambiente de
aprendizagem diferenciado e de qualidade acessível a todos os
estudantes. Essa abordagem reconhece as disparidades, trabalha com
elas para o progresso, e atribui-lhes sentido, dignidade e funcionalidade
(RODRIGUES, 2000, p.10).
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Para Sassaki (2007) a inclusão é um processo de transformação do sistema social


para abraçar a diversidade humana e garantir que ninguém seja excluído ou discriminado.
Na sociedade moderna, ouvimos frequentemente falar sobre inclusão. Afinal, qual
é o sentido da inclusão? Segundo o Dicionário Aurélio (2010), conter significa conter algo
em algum lugar. Consiste em um processo de inserção. Como tal, o termo inserção
significa inclusão. Por outras palavras, neste contexto pode-se dizer que significa incluir
pessoas em lugares. Dessa forma, podemos pensar na escola como o local onde
aprendemos formalmente a ler e a escrever. Na visão de de Mittler (2000, p. 25):

(...) no campo da educação, a inclusão inclui um processo de


reforma e reestruturação de escolas inteiras, com o objetivo de garantir
que todos os alunos possam aceder a toda a gama de oportunidades de
serviços educativos e sociais oferecidos pela escola.

O significado da inclusão no contexto das crianças vai além de uma simples


definição; é um convite para compreender profundamente como esse conceito molda as
experiências e oportunidades das crianças. Refletindo as palavras de Thomas Hehir,
especialista em educação inclusiva, “A inclusão não se limita a um programa para pessoas
com deficiência; é um programa destinado a todos os alunos. Essa abordagem destaca a
abrangência da inclusão, incentivando-nos a explorar não apenas sua definição, mas
também como se manifesta em práticas que têm impacto direto no desenvolvimento e
no contexto educacional das crianças.
A exploração do desenvolvimento social em crianças com necessidade especiais
de aprendizagem ressalta a importância crítica da inclusão em ambientes educacionais.
Estudos recentes têm focado em como a participação em ambientes inclusivos não
apenas remove barreiras educacionais, mas também desempenha um papel crucial no
aprimoramento de habilidades sociais e emocionais, influenciando positivamente o bem
estar emocional dessas crianças. É necessário reconhecer que cada criança é única em
sua forma de conhecer o mundo, independentemente de apresentar ou não limitações.
Portanto, em vez de aplicar uma abordagem única para todos, é importante ajustar a
interação e o ensino de acordo com as características especificas de cada criança.
As escolas devem se concentrar no desenvolvimento de práticas de ensino sem
julgamentos que os ajudem a construir novos conhecimentos e novas práticas; é
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necessário adotar uma atitude de valorização que permita a diversidade. Portanto, é que
as escolas examinem suas práticas de exclusão e estejam dispostas a fazer novas
configurações para enfrentar os desafios da inclusão. Strieder e Zimmermann (2000, p.
145) afirmam que:

A Inclusão significa aspiração e mudanças profundas na filosofia e


na prática educacional. Criar mudanças com diferentes expectativas
baseadas no princípio da participação coletiva.

O princípio da educação inclusiva reflete uma das ideias fundamentais da


democracia: cada criança é uma parte valiosa e ativa da sociedade. A abordagem
educacional em ambientes inclusivos beneficia não apenas crianças com necessidades
educacionais especiais, mas também suas colegas, famílias e a sociedade como um todo.
A interação com crianças saudáveis é um catalisador para o desenvolvimento cognitivo,
físico, de fala, social e emocional das crianças com necessidades educacionais especiais.
Simultaneamente, crianças com desenvolvimento típico proporcionam modelos
comportamentais adequados, inspirando as demais a adquirir novos conhecimentos e
habilidades de forma intencional. Nas salas de aula inclusivas, a interação entre alunos
com necessidades educacionais especiais e seus colegas promove a formação de
amizades, cultivando a percepção e tolerância naturais às diferenças humanas. Essa
dinâmica contribui para sensibilizar as crianças, preparando-as para a colaboração mútua.
A Lei 8.069, conhecida como Estatuto da criança e do adolescente, garante o
atendimento educacional e especializado a todas as crianças com deficiência
principalmente na rede regular de ensino.
Nos artigos 205 e 206 da constituição federal 1988, declara que “ a educação é um
direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, a cidadania e a
qualificação para o trabalho, a igualdade e o acesso a permanência na escola”.
De acordo com o artigo 208, trata – se que a Educação Básica é obrigatória e
gratuita dos 4 aos 17 anos, e afirma que “é dever do Estado garantir atendimento
educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede
regular de ensino”.
3.3 Desafios da Inclusão Escolar
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A integração do aluno com deficiência no contexto educacional, certamente é um


grande desafio para o sistema. Este tema gera debates e opiniões divergentes, apesar das
bases legais existentes. Mesmo com respaldo jurídico, enfrenta muitos obstáculos que,
por vezes, comprometem sua efetividade. É crucial que as atividades propostas pela
escola estejam alinhadas com a realidade vivenciada pelo aluno incluído, facilitando sua
adaptação ao contexto educativo e promovendo uma participação ativa no processo de
aprendizagem. É crucial compreender verdadeiramente o conceito de educação inclusiva,
conforme destaca Cavaco (2014, p.36).

A inclusão vai além do ambiente físico da sala de aula ou da escola. É um


conceito que envolve a aceitação, a dedicação dos pais, dos professores, dos
funcionários, das escolas, da sociedade e do mundo em geral. A inclusão é uma
forma de estar e de ser, onde todos trabalham juntos para criar um ambiente
educacional acolhedor e inclusivo para todos os alunos.

Uma instituição educacional inclusiva vai além da simples admissão de alunos com
deficiência; ela demanda adaptações para abraçar a diversidade e atender às
necessidades individuais desses estudantes. Essas transformações devem abranger tanto
o ambiente físico quanto as atitudes. A afirmação de que o ensino deve ocorrer
prioritariamente na rede regular não implica o encerramento das escolas especiais. Pelo
contrário, essas instituições desempenham um papel complementar e de apoio na
formação dos alunos dentro do sistema regular de ensino.
A neuropsicopedagoga e professora especializada em educação inclusiva, Cleuci
Mara Barbosa Martins, explica que os obstáculos enfrentados pelos alunos autistas
podem ser evitados com as intervenções certas. Ela afirma que “O ambiente escolar não
deve ser preparado apenas com tutor ou auxiliar de inclusão, o aluno com TEA precisa
que todos estejam preparados, desde aquele que recebe o autista no portão e o
encaminha para a sala até quem prepara o alimento”. Para Cleuci, a dificuldade mais
grave que um aluno autista enfrenta nas escolas regulares sem o devido preparo, é a
integração sensorial, já que as formas como eles veem o mundo e processam as
informações sensoriais dentro de cada ambiente, é diferente das outras pessoas.
A integração sensorial no autismo refere-se à capacidade do sistema nervoso de
processar informações sensoriais de maneira eficaz. Portanto crianças com Transtorno do
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Espectro Autista (TEA) frequentemente enfrentam desafios na integração sensorial, o


que pode se manifestar de diversas maneiras, como hipersensibilidade (sensibilidade
aumentada a estímulos como luz, som, toque) ou hipossensibilidade (insensibilidade ou
menor resposta a estímulos). A dificuldade na integração sensorial pode afetar a
capacidade do indivíduo de regular seu comportamento, emoções e interações sociais.
No entanto terapias de integração sensorial são frequentemente utilizadas para ajudar
pessoas com autismo a lidar melhor com essas questões sensoriais. Essas terapias visam
desenvolver a habilidade de processar e interpretar sensações de forma mais organizada,
proporcionando assim uma melhoria na qualidade de vida e nas interações diárias.
Conforme o DSM-5 (2014), os primeiros indícios do transtorno do espectro autista
são geralmente identificados entre o primeiro e o segundo ano de vida e comumente
incluem:

Dificuldades na reciprocidade socioemocional, desde


abordagens sociais atípicas até desafios em estabelecer
conversas normais e compartilhar interesses, emoções ou afeto.
Também envolvem dificuldades em iniciar ou responder a
interações sociais. 2. Deficiências em comportamentos
comunicativos não verbais para interação social, abrangendo
desde comunicação verbal e não verbal pouco integrada até
anormalidades no contato visual, linguagem corporal e déficits na
compreensão e uso de gestos. Pode incluir a ausência total de
expressões faciais e comunicação não verbal. 3. Desafios em
desenvolver, manter e compreender relacionamentos, que
variam desde dificuldades em ajustar comportamentos para
diferentes contextos sociais até problemas em compartilhar
brincadeiras imaginativas, fazer amigos e falta de interesse por
pares (DSM-5, 2014, p. 94).

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) pode estar associado a outros distúrbios,


tais como depressão, epilepsia e hiperatividade. Apresentando-se em uma ampla gama de
graus, desde manifestações mais severas, em que a pessoa não demonstra fala, contato
visual ou interesse interpessoal, até formas mais leve conhecido como alto
funcionamento, onde os indivíduos têm capacidade para falar, acompanhar estudos
regulares, desenvolver-se profissionalmente e estabelecer vínculos interpessoais.
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O material produzido pelo Ministério da Saúde, que abrange as orientações para a


atenção à reabilitação de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), destaca
que:

O tratamento deve ser implementado de maneira acolhedora e


humanizada, levando em consideração o estado emocional da pessoa
com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e seus familiares. O foco deve
ser direcionado ao desenvolvimento de habilidades funcionais, à
mitigação de limitações e à prevenção ou retardamento de possíveis
deteriorações nas capacidades funcionais. Isso deve ser alcançado por
meio de processos de habilitação e reabilitação, com ênfase no
acompanhamento médico e de outros profissionais de saúde. Esses
profissionais devem abordar as dimensões comportamentais, emocionais,
cognitivas e linguísticas (oral, escrita e não verbal), fundamentais para a
integração social das pessoas com TEA na sociedade (Brasil, 2012, p. 57).

De acordo com Santos (2008) a escola desempenha um papel importante na


investigação diagnóstica do autismo, pois é um ambiente onde a criança pode enfrentar
desafios na adaptação às regras sociais.
É importante ressaltar que, como os autores afirmam neste estudo, a falta de
profissionais capacitados para trabalhar com portadores de TEA, é um dos grandes
desafios da rede regular do ensino. Portanto, profissionais, educadores, a escola em geral
tem sua grande importância no desenvolvimento da criança autista no ambiente escolar.
É de suma importância o papel desses profissionais para oferecer suporte personalizado,
implementar estratégias adaptativas e promover um ambiente inclusivo que atenda às
necessidades específicas desses alunos.
Reconhecendo as dificuldades enfrentadas pelos pais na busca por diagnósticos
assertivos e antecipados, enfatizamos a importância de iniciar terapias precocemente
para impulsionar o bem-estar, autonomia e qualidade de vida. Apelamos por políticas
públicas eficazes que verdadeiramente atendam às pessoas com autismo, desafiando
paradigmas discriminatórios. Embora evitemos discutir a cura, nosso objetivo é contribuir
para a otimização da qualidade de vida, acesso a direitos e a superação de barreiras
excludentes. A sociedade precisa aprender a respeitar todos, independentemente de
patologias
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Para superar essas barreiras, é essencial implementar estratégias inclusivas. Isso


envolve não apenas a adaptação de ambientes físicos, mas também a promoção da
aceitação e compreensão por meio de programas de conscientização. A educação para a
inclusão e a sensibilização sobre o TEA são passos cruciais para criar um ambiente mais
acolhedor e facilitar a participação plena dessas crianças. Por isso destacamos a
necessidade de políticas públicas que atendam verdadeiramente às crianças com
autismo, buscando otimizar qualidade de vida, acesso a direitos e superar paradigmas
discriminatórios.
3.4 Avanços na Inclusão Escolar de Crianças com Autismo: Estratégias Eficazes
Desde a identificação inicial do autismo por Kanner, houve uma proliferação
significativa de estudos sobre o tema, envolvendo cientistas de todo o mundo. Estes
pesquisadores têm se dedicado a investigar tanto as causas quanto possíveis abordagens
para a reversão dos quadros de autismo.
Segundo a visão de Kleina (2012, p. 22) a Educação Especial deve ser integrada à
educação geral, com adaptações para atender as necessidades específicas dos alunos
com necessidades educacionais especiais.
Nas últimas décadas, observa-se um notável progresso na área da Educação
Especial no Brasil, especialmente no âmbito da tecnologia assistida. Um marco
significativo foi a implementação das salas de recursos multifuncionais em escolas
públicas, destinadas à execução do Atendimento Educacional Especializado (AEE).
O Atendimento Educacional Especializado (AEE) constitui um serviço da educação
especial que tem como propósito identificar, desenvolver e organizar recursos
pedagógicos e de acessibilidade. Esses recursos são designados para superar obstáculos
e garantir a plena participação dos alunos, levando em consideração suas necessidades
específicas (SEESP/MEC, 2008).
Esses recursos estão equipados com mobiliário, materiais didáticos e pedagógicos,
além de recursos de acessibilidade e equipamentos específicos. Destinadas ao
atendimento dos alunos que são público-alvo da Educação Especial e que necessitam de
suporte especializado no período escolar, essas salas desempenham um papel crucial no
avanço da inclusão e na oferta de um ambiente mais acessível e adaptado às
necessidades individuais dos estudantes.
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Muitas escolas adotaram, praticas inclusivas, com suporte especializado,


adaptações treinamentos para educadores. A tecnologia desempenhou um papel crucial
proporcionando ferramentas e recursos que pode contribuir com o processo de
aprendizagem e autonomia, proporcionando uma efetiva inclusão do aluno com
deficiência.
Ortega (2019) afirma que "o uso da tecnologia permite que estudantes com
limitações físicas, mentais ou diferentes estilos de aprendizagem se tornem protagonistas
do seu próprio aprendizado, adaptando-o às suas necessidades’’.
A tecnologia é uma ferramenta inovadora que oferece melhorias na comunicação,
habilidades sociais e aprendizado da criança autista, como aplicativos e dispositivos
específicos para o autismo, tablets e software interativos, podem ser uma ferramenta
inovadora que oferece melhorias na comunicação, habilidades sociais e aprendizado da
criança autista.
Em destaque, Reily (2004) afirma que essas tecnologias podem ser utilizadas no
contexto escolar, especificamente na sala de aula, de forma pedagógica, sendo que essas
não são apenas ferramentas, mas sim, prováveis recursos que podem auxiliar no
atendimento do aluno com necessidades específicas.
Num contexto similar, diversas tecnologias instrucionais são empregadas na sala
de aula, oferecendo benefícios específicos para alunos com autismo. Entre essas
tecnologias, destaca-se a modelagem de vídeo, que facilita o reconhecimento de
expressões faciais. Nessa abordagem, os alunos imitam comportamentos de forma
lúdica, proporcionando uma maneira envolvente de expressar emoções (RODRIGUES;
ALMEIDA, 2017).
Conforme ressaltado por Santos (2008), o aspecto lúdico direciona-se à
experiência da criança, proporcionando uma forma dinâmica e positiva de interagir com o
mundo ao seu redor. A brincadeira emerge como um meio pelo qual a criança expressa
sua comunicação, linguagem, sentimentos e emoções. Por essa razão, torna-se
imperativo incorporar atividades lúdicas na prática escolar, com o objetivo de facilitar a
assimilação da realidade pela criança.
A inclusão do aluno com TEA pode ser facilitada pela combinação da tecnologia
com atividades lúdicas. Almeida (1994), ao afirmar que toda essa possibilidade só ocorre a
partir da interação e mediação do professor de apoio, a fim de motivar e estimular o
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aluno, envolvê-lo com tecnologias que possibilitem inclusão e atividades lúdicas que
integrem essas ferramentas digitais.
Portanto, a escola desempenha um papel fundamental na investigação
diagnóstica do autismo, proporcionando um ambiente onde a criança pode enfrentar
desafios na adaptação às regras sociais. A Educação Especial, por sua vez, deve ser
integrada à educação geral, com adaptações para atender as necessidades específicas
dos alunos. Além disso, o uso da tecnologia, aliado a atividades lúdicas e à mediação do
professor de apoio, pode facilitar a inclusão do aluno com TEA, permitindo que eles se
tornem protagonistas do próprio aprendizado e se adaptem melhor às suas necessidades.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao concluir esta análise sobre a inclusão escolar de crianças com Transtorno do
Espectro Autista (TEA), é essencial destacar a complexidade e a relevância do assunto. Os
múltiplos aspectos discutidos neste artigo sublinham a urgência de práticas inclusivas
efetivas, que transcendem a simples adaptação física do ambiente escolar.
A compreensão da trajetória histórica do autismo, desde suas primeiras descrições
até a atual definição do espectro, é fundamental para uma abordagem inclusiva que
considere cada indivíduo em sua singularidade. Os princípios da educação inclusiva,
amparados pela legislação brasileira, reforçam a necessidade de reconhecer e atender às
demandas específicas de cada estudante.
Os obstáculos encontrados, como a integração sensorial, requerem mais do que
adaptações estruturais, demandando sensibilidade e preparação de toda a comunidade
escolar. Contudo, os progressos alcançados, particularmente com a implementação de
salas de recursos e o uso de tecnologia assistiva, demonstram que estratégias eficazes
podem ser transformadoras.
Diante disso, é imprescindível enfatizar a necessidade constante de
aperfeiçoamento das práticas pedagógicas. É recomendável investir em formação
continuada para professores, fomentar a conscientização sobre o TEA e fortalecer a
colaboração entre escola, família e profissionais de apoio.
Estas considerações finais visam não apenas concluir o artigo, mas também incitar
ações práticas em favor de uma inclusão escolar mais eficiente e empática. Que este
estudo possa contribuir para a criação de ambientes educacionais verdadeiramente
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inclusivos, onde cada criança, independentemente de suas particularidades, encontre o


suporte necessário para desenvolver plenamente seu potencial.
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REFERÊNCIAS
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