Modificações Gravídicas Gerais
Postura e Deambulação
O volume do útero e das mamas alteram o
centro de gravidade para frente, e, para
compensar, o corpo projeta-se para trás.
Assim, há (hiper)lordose da coluna lombar.
Para compensar, também ocorre afastamento
dos pés. Há queixa de dores cervicais e
lombares.
A marcha passa a ser anserina, em especial
pelos passos oscilantes e curtos.
Os ligamentos são mais frouxos durante a
gestação, devido à ação da relaxina secretada
pela placenta. Isso se manifesta principalmente
na sínfise púbica, o que resulta no aumento da
capacidade pélvica.
Metabolismo
A glicose materna é transferida continuamente
para o feto por difusão facilitada. Isso, aliado à
ação de hormônios placentários, determina o
aumento da resistência à insulina no final do
2º trimestre.
A hiperfagia e o crescimento do concepto levam
ao acréscimo de peso materno, porém a
tendência ao acúmulo de gordura cessa no
terceiro trimestre.
Durante a gestação, a concentração
aminoácidos é diminuída.
A retenção de líquido é notável e pode gerar
aumento do débito cardíaco e do fluxo
plasmático renal. Isso ocorre, entre outros
motivos, pela retenção de sódio determinada
pela maior secreção de aldosterona
(hiperaldosteronismo secundário da gravidez)
e pelo efeito natriurético da progesterona.
Sistema Cardiovascular
O aumento do volume plasmático resulta no
aumento do volume sanguíneo e, por essa
razão, no aumento do débito cardíaco.
Ocorre elevação progressiva da frequência
cardíaca materna de até 15 bpm e do volume
sistólico.
Acontece redução da resistência vascular
periférica e, assim, diminuição da pressão
sanguínea em até 10 mmHg. A pressão é
normalizada a termo.
A partir de 20 semanas, o útero passa a
impedir o retorno venoso ao coração na
posição supina, em virtude da compressão da
VCI, gerando hipotensão. O quadro melhora na
posição decúbito lateral esquerdo, devido à
restauração do débito cardíaco.
No parto, ocorre autotransfusão sanguínea a
cada contração uterina. A resposta simpática à
dor aumenta a frequência cardíaca e a pressão
arterial.
No pós-parto imediato, a autotransfusão
sanguínea aumenta o débito cardíaco.
Sistema Sanguíneo
de
O aumento do volume plasmático dilui os
fatores circulantes. É notável a hemodiluição
de hemácias. A anemia fisiológica da gravidez
decorre da redução da concentração de
hemoglobina. Isso define a maior necessidade
de ingestão de ferro pela gestante. Por outro
lado, a concentração de leucócitos é aumentada
na gestação.
Acadêmica: Melanie Letícia Soto Banha
 Modificações Gravídicas Gerais
A concentração de plaquetas é diminuída,
havendo trombocitopenia gestacional.
Entretanto, o aumento da concentração de
fatores de coagulação gera
hipercoagulabilidade. É importante notar que
isso gera maior risco de trombose.
Sistema Urinário
O aumento volume uterino desloca os rins para
cima. Ocorre dilatação da porção superior
deste sistema a partir de 7 semanas
(hidronefrose fisiológica), devido a fatores
hormonais e mecânicos, o que causa estase
urinária e, assim, maior propensão a infecções.
A proteinúria é representada pela
microalbuminúria fisiológica.
Sistema Respiratório
A expansão do volume sanguíneo e a
vasodilatação repercutem em hiperemia e
edema da mucosa do trato respiratório
superior, predispondo a congestão nasal,
epistaxe (hemorragia nasal) e alterações vocais.
A pressão do útero no diafragma é compensada
pelo aumento dos diâmetros anteroposterior e
transverso do tórax, que permitem a expansão
da parede torácica.

Há ureteroectasia em decorrência da Em contrapartida, a elevação da cúpula

compressão dos ureteres pelo útero e pela ação diafragmática está diminuída, reduzindo
inibidora da progesterona na musculatura lisa também os volumes de reserva expiratório e o
ureteral. volume residual.

A bexiga desloca-se anteriormente também Ocorre hiperventilação, que gera alcalose

pela compressão. A resposta contrátil do colo respiratória e dispneia. Ao realizar exercício
vesical a estímulos alfa-adrenérgicos é físico, há aumento compensatório da
reduzida, podendo resultar em maior frequência respiratória.
incidência de incontinência urinária.
A progesterona estimula o centro respiratório
O aumento do débito cardíaco e o aumento da no Sistema Nervoso Central.
resistência vascular sistêmica geram aumento
no fluxo plasmático renal e na taxa de filtração
glomerular. Isso repercute em níveis
diminuídos de creatinina plasmática.

Ocorre hipercalciúria pelo aumento de

absorção intestinal de cálcio, mas a taxa de
formação de cálculos renais é inalterada, visto
que fatores inibidores de sua produção também
encontram-se aumentados.

A glicosúria é fisiológica devido ao aumento da

taxa de filtração glomerular, a qual excede o
limite de reabsorção tubular de glicose. Assim,
não é indicativo de diabetes gestacional.

Acadêmica: Melanie Letícia Soto Banha

 Modificações Gravídicas Gerais
Sistema Digestório
A ocorrência de náusea e vômito levam à
anorexia no primeiro trimestre.

Até o final do 2º trimestre, há menor secreção

de suco gástrico. Entretanto, a pirose está
presente devido à atonia do sistema
gastrintestinal, ocasionadas por fatores
hormonais, e ao aumento da pressão intra-
abdominal.

A atonia do cólon, por sua vez, gera

constipação intestinal.

Há maior tendência para formação de cálculos

biliares devido à hipotonia da vesícula biliar.

Sistema Endócrino
A tireoide encontra-se aumentada
fisiologicamente, aumentando também os
níveis de T4 total, em oposição aos níveis de
TSH reduzidos. O hCG possui ação tireotrófica,
estimulando a produção de T4 livre, o que inibe
a secreção de TSH. Após o primeiro trimestre,
os níveis de TSH normalizam.

O T4 livre materno é importante para o

desenvolvimento cerebral do feto, em especial
antes da 12ª semana, quando a tireoide fetal
passa a ter produção hormonal.

Pele e Fâneros
Há ocorrência de estrias no abdome,
principalmente no último trimestre.

A pigmentação ocorre na linha alba, que passa

a se chamar linha nigra, vulva, aréolas
mamárias e face (cloasma gravídico).

Há hipertricose, ou seja, aumento dos pelos da

face e de outras regiões, além do crescimento
acentuado dos cabelos.
Acadêmica: Melanie Letícia Soto Banha
 Modificações Gravídicas Locais
Vulva e Vagina
O epitélio vaginal sofre espessamento devido à
ação dos estrogênios, tendo maior descamação
e, assim, mais secreção vaginal. A secreção
possui pH mais ácido com fins de proteção
contra infecções ascendentes.
Ocorre tumefação da vulva e da vagina, com
amolecimento e alteração da coloração (passa a
ser vermelho-vinhosa), com ninfas e grandes
lábios entreabertos, caracterizando o sinal de
Jacquemier. Isso ocorre devido ao aumento da
vascularização local durante a gestação.
Útero
Ocorre amolecimento imediato do local da
implantação, que progride por todo o órgão. A
diminuição do tônus é notada principalmente
no istmo, determinando o sinal de Hegar.
O aumento do volume acontece de forma
assimétrica, pois começa também na zona de
implantação (sinal de Piskacek). O número de
células miometriais é aumentado por
hiperplasia no início da gestação, mas depois
estabiliza-se. A matriz uterina assume formato
globoso, e não mais piriforme, e a diferença é
perceptível ao toque do fundo dos sacos
laterais (sinal de Nobile-Budin). Vale ressaltar
que o crescimento uterino no início da gestação
independe do feto.
O formato esférico se mantém até o 4º ou 5º
mês, quando o órgão passa a se alongar no
diâmetro transverso e, por isso, ter formato
cilíndrico. A cilindrificação da matriz é
acentuada no final da gestação pela
incorporação da cavidade do istmo à do corpo.
Apenas a partir da 12ª semana o útero passa a
ser perceptível à palpação abdominal, a
depender do panículo adiposo e da
musculatura da parede. Antes disso, ele é
exclusivamente pélvico.
Na segunda metade da gestação, o crescimento
uterino ocorre por hipertrofia celular e tem
influência de hormônios esteroides. A
distensão da matriz leva ao afinamento gradual
da parede uterina.
Há aumento e redistribuição do fluxo
sanguíneo uterino. Fora da gestação, a divisão
ocorre igualmente entre miométrio e
endométrio. Já no útero gravídico, até 90% do
fluxo é dirigido à placenta.
O miométrio torna-se mais espesso e assim se
mantém até o 4º a 5º mês, quando começa a
afinar.
Ocorre desenvolvimento de junções
comunicantes nas células miometriais, o que
vai permitir alterações rápidas no potencial de
membrana, facilitando a despolarização e,
assim, a contração.
O colo torna-se amolecido na gestação devido à
ação de estrogênio e progesterona. A maior
vascularização também gera pigmentação do
colo uterino, que passa a ser azulado.
Referência
MONTENEGRO, C. A.B.; REZENDE FILHO J.
Obstetrícia. 13 ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2017.
Acadêmica: Melanie Letícia Soto Banha