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Prefá cio 7
As últim as palavras sã o para record ar alguns colegas e am igos: o
Paulo Jorge Azeved o Fernand es, pelas repetid as ajud as que prestou nos
m om entos finais d e preparaçã o d o livro e d o CD; o Carlo s N ogueira, pela
d ecisiva intervençã o na d efiniçã o d a estética d o CD, e o Ped ro Tavares d e
Alm eid a, pela leitura atenta d o original d o livro. Mas serí am os injustos se,
entre tod os, nã o d estacá ssem os o N uno Gonçalo Monteiro, nã o só pelos
contributos que d eu neste ou naquele m om ento, m as, acim a d e tud o, pelo
perm anente estí m ulo intelectual que a sua convivência tem representad o,
d esd e há anos.
8 Prefá cio
Com o é sabid o, entre 1832 e 1836, a organizaçã o d o território portu -
guês sofreu um a profund a rem od elaçã o d a qual nasceu a d ivisã o ad m inis -
trativa actual.
A reform ulaçã o d o espaço entã o operad a constitui um a d im ensã o e
um legad o fund am ental d a Revolu çã o Liberal e é, em si m esm a, um objecto
d e estud o d e grand e interesse. Para além d isso, ela tem colocad o aos his -
toriad ores problem as sérios: a um ní vel bá sico, há d ificuld ad e em enqua -
d rar na nova d ivisã o ad m inistrativa inform ações avulsas relativas ao An-
tigo Regim e e vice-versa; a um ní vel m ais com plexo, a reorganizaçã o d o es-
paço tem constituí d o um obstá culo inultrapassá vel à prod uçã o d e carto -
grafia com pará vel, representand o d ad os recolhid os antes e d epois d a Re -
voluçã o Liberal. De facto, com o com parar variá veis agregad as em com ar-
cas com variá veis agregad as em d istritos? Com o com parar inform ações
sobre concelhos anteriores e posteriores à profund a reform a d e 1836?
Exem plos d as d ificuld ad es referid as pod er -se-ã o encontrar em vá rios tra-
balhos recentes d e grand e m érito.
Estes problem as, com o seria d e esperar, nã o afectam som ente os his-
toriad ores portugueses. N um sem iná rio realizad o no Instituto
Universitá rio Europeu d e Florença, em 1994, o tem a d a com parabilid ad e d e
d ad os georeferenciad os no contexto d e m ud anças d o espaço polí tico-
ad m inistrativo foi abord ad o por vá rios d os presentes em relaçã o a paí ses
tã o d iversos com o a Grécia, a H oland a, a Bélgica e a N oruega .1
Introd uçã o 11
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2 O m étod o por nós seguid o encontra-se exposto no anexo I. Sobre outros trabalhos ver
Joã o José Alves Dias - Gentes e Espaços (Em Torno da Populaçã o Portuguesa na Primeira
M etade do Século X V I), vol. I, Lisboa, Fund açã o Calouste Gulbenkian,1996; António Manuel
H espanha - A s V ésperas de Leviathan. Instituições e Poder Polí tico - Portugal Sec. X V II, Lis-
boa, ed . d o autor, 1987, 2 vols.; Fernand o Onório e António Eanes - Comarcas e Concelhos de
1826, escala 1:500000.
3 Russell G. Congalton e Kass Green - The ABC of GIS. An Introd uction to Geographic In -
form ation System s, in Journal of Forestry, 90, 11, 1992, pp. 13-20; Maria H elena Dias (coord .)
– Os M apas em Portugal. Da Tradiçã o aos N ovos Rumos da Cartografia, Lisboa, Cosm os, 1995.
12 Introd uçã o
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Introd uçã o 13
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14 Introd uçã o
Um território precocemente definido
O Antigo Regim e 17
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2 Daniel N ord m an e Jacques Revel - La Form ation d e l’ Espace Français, in Jacques Revel
(d ir.) - L’ Espace Français, Paris, Seuil, 1989, pp. 43-55.
3 Lu is Gonzá lez Antón - El Territorio y Su Ord enación Politico-Ad m inistrativa, in
Miguel Artola (d ir.) - Enciclopedia de Historia de España, tom o II, Mad rid , Alianza Ed itorial,
1988, pp. 11-92. Ver tam bém o tom o VI d a m esm a enciclopéd ia, contend o um a d esenvolvid a
cronologia e um a boa colecçã o d e m apas.
4 A respeito d o conceito d e fronteira na Id ad e Méd ia ver o artigo d e Rita Costa Gom es -
Sobre as Fronteiras Med ievais: A Beira, in Revista de História Económica e Social, n.º 21,
1987, pp. 57- 71.
18 O Antigo Regim e
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exercí cio d e soberania e eram , ao m esm o tem po, fonte d e rend im ento,
através d a cobrança d e d ireitos alfand egá rios. 5
N o século XVIII, a Intend ência Geral d a Polí cia, criad a em 1760, co -
ord enava a vigilâ ncia d a fronteira a cargo d os juí zes d as terras. Vigilâ ncia
que, em tem pos d e agitaçã o, constituí a um a preocupaçã o d om inante d os
m agistrad os territoriais.
De qualquer m od o, no iní cio d o século XIX a fronteira nã o era um a li-
nha d e separaçã o absoluta. Por exem plo, em Trá s-os-Montes, no couto
constituí d o pelas povoações d e Santiago, Meã os e Rubiã es, um a d as zonas
em d isputa três séculos antes, viviam galegos e portugueses; na regiã o d a
Beira, a vila d a Bouça, situad a no paí s vizinho, era habitad a por portu -
gueses e, um pouco m ais a Sul, os m orad ores d e Malpica lavravam terras
em Espanha; m ais curioso, talvez, é o caso d e Moura que, até 1893, parti-
lhava a propried ad e d e um bald io com d uas ald eias espanholas.6 Por ou-
tro lad o, o regulam ento geral d e polí cia d e 1863 d ispensava os habitantes
d a zona d a fronteira d a necessid ad e d e apresentar passaporte e p erm itia-
lhes que entrassem e saí ssem livrem ente d esd e que fossem “ conhecid os
com o and and o em contí nuo giro com ercial” .(art. 2º )
O Antigo Regim e 19
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terrâ neo, ressequid o por longos estios” . N o N orte, o contraste entre o lito-
ral e a zona interior, é outra d iferença a nã o esquecer. 7
A d iversid ad e natural, que Orland o Ribeiro tã o bem d escreveu, re-
flectiu -se ao longo d o tem po na econom ia, na estrutura social, no com por ta-
m ento d em ográ fico e no povoam ento. Aquela d iversid ad e, que quase se
d iria constitutiva, foi m esm o o quad ro conceptual a partir d o qual Jo sé
Mattoso procurou pensar as origens d e Portugal. 8
Os contrastes N orte/ Sul e litoral/ interior, acim a referid os, sã o bem
visí veis no m apa n.º 1 que representa a d ensid ad e populacional por conce -
lho em 1828.9 A separaçã o entre as d uas prim eiras zonas faz-se, neste
caso, pela linha d o Tejo. N a m etad e N orte, a populaçã o concentra -se num a
faixa litoral entre os rios Minho e Mond ego, penetrand o para o interior, ao
longo d os principais cursos d e á gua. É nesta regiã o que se situam as m ais
altas d ensid ad es d o paí s, com o o segund o m apa m ostra. A partir d este
núcleo, os valores vã o progressivam ente d im inuind o à m ed id a que se cam i-
nha para leste. Em torno d e Lisboa, a norte e a sul d a foz d o Tejo, d ese-
nha-se um a outra m ancha d e concelhos com elevad as d ensid ad es, que s e
tornaria m ais visí vel aind a, se existissem d ad os d em ográ ficos sobre a capi -
tal.
N a m etad e Sul d o paí s, na zona d o Alentejo, a baixa d ensid ad e po -
pulacional ressalta com clareza, contrastand o com o que suced e no N orte,
funcionand o a d icotom ia litoral/ interior no sentid o inverso ao que se refe-
riu antes: a populaçã o ad ensa-se um pouco na á rea d e Portalegre, no eixo
Cam po Maior-Elvas-É vora e na regiã o d e Beja. N o litoral algarvio, por úl-
tim o, a d ensid ad e volta a aum entar.
N os últim os cem anos a paisagem agr o-florestal sofreu m od ificações
profund as. De facto, só um terço d a á rea d o continente estava cultivad o
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10 Gerard o Augusto Pery - Geografia e Estatí stica Geral de Portugal e Colónias, Lisboa, Im -
prensa N acional, 1875, pp. 108-109 e Eu génio Castro Cald as - A A gricultura Portuguesa no
Limiar da Reforma A grá ria, Oeiras, Fund açã o Calouste Gulbenkian, 1978.
11 Ver o m apa respectivo em Relatório A cerca da A rborizaçã o Geral do Reino, Lisboa,
Tipografia d a Acad em ia Real d as Ciências, 1868.
12 António H enriques d a Silveira - Racional d iscurso sobre a Agricultura e Populaçã o
d a Proví ncia d o Alentejo, in M emórias Económicas da A cademia Real das Ciências de Lisboa, Tom o
I, Lisboa, 1789, pp. 50-51; Alexand re H erculano - Os Ví nculos, in Opúsculos, tom o II, ed .
crí tica, Lisboa, Presença, 1983, p. 50 (1ª ed ., 1856); Oliveira Martins - Projecto d e Lei d e Fo-
m ento Rural, in Fomento Rural e Emigraçã o, Lisboa, Guim arã es Ed itores, 1956. O projecto d e
lei foi apresentad o à Câ m ara d os Deputad os em 1887.
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22 O Antigo Regim e
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grand e público, m anteve-se até tard e [fim prim eira m etad e d o século
passad o] o uso d e fund os d e m apa perfeitam ente antiquad os.” 16
Só em 1865 se publicou o que pod e ser consid erad o “ o prim eiro
m apa geral m od erno d o Paí s, construí d o com sólid as bases cientí ficas” , a
Carta Geográ fica de Portugal, à escala d e 1:500 000. Este m apa foi o culm i-
nar d e um m ovim ento d e interesse pela cartografia d o território d o conti -
nente que rem onta ao século XVIII. A fund açã o, em 1779, d a Acad em ia
Real d e Marinha e d a Acad em ia d as Ciências constituiu, d este ponto d e
vista, um m arco im portante e foi seguid a, em 1798, pela criaçã o d a Socie -
d ad e Real Marí tim a, Militar e Geográ fica para o Desenho e Im pressã o d as
Cartas H id rográ ficas, Geográ ficas e Militares. Os esforços d esencad ead os
por estas instituições esm oreceram n o com eço d o século XIX, tend o rece-
bid o um novo e d ecisivo estí m ulo com a criaçã o d o Ministério d as Obras
Públicas, Com ércio e Ind ústria em 1852. 17
O m esm o m ovim ento intelectual que levou ao d esenvolvim ento d a
cartografia teve reflexos na prod uçã o d e estatí sticas sobre o território.
Desd e o final d o século XVI que existem d escrições d o paí s e, no iní cio d o
século XVIII, publica-se a im portante Corografia Portuguesa d o Pad re Carva-
lho d a Costa, seguid a d e outras obras d o género. 18 N esta literatura, no en -
tanto, o núm ero é m ais um objecto d e curiosid ad e d o que um instrum ento
d e d escriçã o capaz d e perm itir um a intervençã o transform ad ora d a reali-
d ad e.19
A fund açã o d a Acad em ia d as Ciências constitui, d e novo, um a refe -
rência im portante, pelo im pulso d ad o à prod uçã o d e M emórias sobre os
m ais d iversos aspectos d o Portugal d a época. Em 1790, a própria coroa
suscitou, através d os seus m agistrad os, um a grand e recolha d e d ad os so-
bre o paí s que, infelizm ente, só em parte foi efectuad a.20 Alguns anos d e-
O Antigo Regim e 23
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pois (1798) levou -se a cabo um recenseam ento d a populaçã o, por fogos, e
em 1801, sob o im pulso d e D. Rod rigo d e Sousa Coutinho, o m esm o que
estivera por d etrá s d a fund açã o d a Socied ad e Real Marí tim a, proced eu -se
a um novo censo populacional. N o entanto, já d epois d a Revoluçã o Libe-
ral, é frequente ouvirem -se queixas na Câ m ara d os Deputad os, sobretud o
por parte d os parlam entares envolvid os nos trabalhos d e reorganizaçã o d o
território, m otivad as pela falta d e d ad os estatí sticos.
Por outro lad o, os portugueses viajavam pouco e faziam -no, essen-
cialm ente, na faixa litoral entre Lisboa e Porto ou na regiã o d o Minho, ond e
o trâ nsito era m ais fá cil. Em 1873 Ed uard o Coelho reuniu em livro narrati-
vas d e três viagens que efectuara pelo paí s, originalm ente publicad as na
im prensa periód ica. N a prim eira jornad a, saí u d e Lisboa d e com bóio em
d irecçã o à Mealhad a. Aí apanhou a d iligência que, pela estrad a d o Luso,
Santa Com ba Dã o e Manguald e, o levou até Viseu. Com enta o autor: “ Foi
pelo interior d a Beira Alta a m inha prim eira excursã o, por uns sí tios na
m á xim a parte só falad os em tem pos d e revoluçã o ou d e eleições, pouco
frequentad os pelos touristes e pouco tratad os nas revistas literá rias e nos
rom ances, em bora povoad os d e assuntos.“ A d escriçã o d a segund a via-
gem , d e Lisboa à Covilhã , que alcançou um enorm e sucesso, tem m esm o o
sabor d e um a aventura por terras algo exóticas e pouco conhecid as. 21
N ad a d isto surpreend e se pensarm os que os transportes em Portugal
eram trad icionalm ente m aus. Até à segund a m etad e d o século XIX, foi pe -
queno o investim ento realizad o nas estrad as e os rios, com excepçã o d o
Douro, d o Mond ego e d o Tejo, só eram navegá veis em pequenas d istâ ncias
para além d a foz. Em consequência, o interior a norte d o Tejo, isolad o pe-
las m ontanhas, era um a zona d e d ifí cil acesso e assim perm anecerá até ao
final d o século passad o. O litoral, por seu lad o, era beneficiad o pelo relevo
e pela existência d e portos, entre os quais existia um a im portante navega-
çã o d e cabotagem . 22
Em qualquer caso, as d eslocações eram lentas. Em 1798, d epois d a
abertura d a nova estrad a Lisboa-Coim bra, um d os poucos m elhoram entos
24 O Antigo Regim e
TERRITÓRIO E PODER
Percepçã o da diversidade,
ausência de poderes regionais
23 Artur Teod oro d e Matos - Transportes e Comunicações em Portugal, pp. 379 e 453.
24 José António Santos - Regionalizaçã o. Processo Histórico, Lisboa, Livros H orizonte, 1985,
p. 26 e José Mattoso - A Identificaçã o de Um Paí s, vol. II, p. 190.
25 A. H . d e Oliveira Marques - Portugal na Crise dos Séculos X IV e X V , Lisboa, Presença,
1986, pp. 295-297.
O Antigo Regim e 25
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tensã o m uito m ais red uzid a e em m aior núm ero d o que as ant eriores. As
unid ad es prim itivas passam , entã o, a ser d esignad as por proví ncias, à s
quais, d esd e m ead os d o século XVII e até à Revoluçã o Liberal, correspon -
d erá , som ente, um governo m ilitar. 26
Paralelam ente, a id eia d e proví ncia persistirá com o um conceito e s-
sencial na d escriçã o d o território. A Constituiçã o d e 1822 refere-se à quelas
m esm as seis proví ncias, ao enum erar as partes d o Reino Unid o d e Portu -
gal, Brasil e Algarves no continente europeu.
A cad a proví ncia atribuí am os geógrafos e corógrafos as suas carac-
terí sticas especí ficas, que d istinguiam tam bém os portugueses nascid os em
cad a um a.27 N o entanto, esta consciência d a d iversid ad e nã o se trad uziu
na existência d e regiões d otad as d e um a forte id entid ad e própria. O es-
tud o d a d iscussã o sobre a reorgan izaçã o d o território no final d o século
XVIII confirm a esta id eia: nem os m agistrad os, nem as câ m aras que inter -
vieram neste processo d eixaram transparecer projectos d e tipo regionalista.
A única zona ond e pod erá ter existid o um a certa consciência d a sua u ni-
d ad e terá sid o o Algarve.28
Por outro lad o, se a separaçã o d as proví ncias se fazia por referência
aos rios e serras, estes nã o constituí am fronteiras naturais d elim itad oras
d e espaços cuja id entid ad e fosse legitim ad a através d o recurso à natureza.
N em a serra d o Marã o, nem o Mond ego, nem o Tejo assum iram tal papel
no fim d o século XVIII. Os acid entes geográ ficos eram encarad os, sim ples -
m ente, com o obstá culos à circulaçã o d as pessoas que, um a vez d efinid os
com o lim ites, d ariam lugar a circunscrições m ais facilm ente percorrí veis.29
Finalm ente, na É poca Mod erna nã o existiam regiões com órgã os pró-
prios d e pod er, situad os num plano interm éd io entre o pod er central e os
pod eres locais, que constituí ssem um a em anaçã o d a socied ad e d esses ter -
ritórios, com o trabalhos recentes têm sublinhad o. 30
26 O Antigo Regim e
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no Antigo Regim e, in César Oliveira (d ir.) - História dos M unicí pios e do Poder Local, Lisboa,
Cí rculo d e Leitores, 1995, pp . 113-118.
31 José Mattoso - A Identificaçã o de Um Paí s, vol. II, p. 13 e 178 e segs.
32 Roland Mousnier - Les Institutions de la France sous la M onarchie A bsolue, Tom o I,
Paris, PUF, 1974, p. 470 e segs.
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28 O Antigo Regim e
TERRITÓRIO E PODER
35 Para épocas anteced entes ver a respectiva cartografia em José António Santos - Regio-
nalizaçã o. N o m apa 3, com o nos restantes, as m anchas brancas correspond em à s zonas d a
carta actual para as quais nã o foi encontrad a equivalência no passad o.
36 Corografia Portuguesa e Descripçam Topográ fica do Famoso Reyno de Portugal, tom o III,
Lisboa, 1712.
37 Ibidem, tom o II, Lisboa, 1708.
O Antigo Regim e 29
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A divisã o administrativa
A d ivisã o ad m inistrativa que chega até ao com eço d o século XIX, por
um lad o, é o resultad o d a sobreposiçã o d e circunscriçõ es com um a exis-
tência m ultissecular, criad as com m otivações d iferentes e em m om entos d i -
ferentes; por outro lad o, aquela d ivisã o é a trad uçã o espacial d o sistem a
polí tico d o Antigo Regim e.40
30 O Antigo Regim e
TERRITÓRIO E PODER
Comarcas e provedorias
À origem d as com arcas já antes nos referim os. Vim os que no iní cio
d o século XIV existiam seis d ivisões d este tipo, abrangend o vastas á reas, e
que no século XVI, m ais precisam ente, no reinad o d e D. Joã o III, no â m bito
d e um a profund a reorganizaçã o territorial, a d esignaçã o d e com arca pas -
sara a ser aplicad a à s novas e m ais pequenas circunscrições em que o terri -
tório d as anteriores se fragm entara. Em 1541 existiam 28 com arcas; em
Lisboa, Cí rculo d e Leitores, 1993, pp. 303-331, col. José Mattoso (d ir.) - H istória d e Portugal,
vol. IV e Os Poderes Locais no A ntigo Regime.
41 António Manuel H espanha em vá rios d os seus trabalhos tem insistid o na id eia d a alte -
rid ad e d o sistem a polí tico d o Antigo Regim e. Ver A s V ésperas de Leviathan; A Revoluçã o e os
Mecanism os d o Pod er, in António Reis (d ir.) - Portugal Contemporâ neo, vol. I, Lisboa, Alfa,
1990, pp. 107-136; Poder e Instituições no A ntigo Regime; id em (coord .) - O A ntigo Regime
(1620-1807), Lisboa, Cí rculo d e Leitores, 1993, col. José Mattoso (d ir.) – H istória d e Por-
tugal, vol. IV.
O Antigo Regim e 31
SILVEIRA
1640 o seu núm ero tinha aum entad o para 32; em 1801 eram 44 e, em 1826,
45.42
N o século XVI, a com arca era o espaço d e jurisd içã o d o correged or,
um m agistrad o nom ead o pela coroa, seu principal representante no territó-
rio. Os correged ores acum ulavam , com o era caracterí stico d a ad m inistra-
çã o d o Antigo Regim e, im portantes funções jud iciais e ad m inistrativas: jul-
gavam as causas em segund a instâ ncia, estavam encarregad os d o policia -
m ento e fiscalizavam a acçã o d as câ m aras. Controlavam , aind a, o proces-
so d e eleiçã o d os m agistrad os m unicipais. 43
Um século volvid o, com o se d isse, a coroa criara novas circunscri-
ções, aum entand o, aind a, o seu núm ero no século XVIII. Ora, a esm agad ora
m aioria d estas unid ad es recém -constituí d as, equivalentes à s com arcas,
reunia concelhos d os d onatá rios e à sua frente estav a nã o um correged or,
m as um ouvid or, nom ead o pelos senhores, d esem penhand o funções id ênti-
cas aos m agistrad os d a coroa. Esta situaçã o m anteve-se até 1790, altura
em que as ouvid orias foram extintas e transform ad as em com arcas. Aind a
assim , no final d o Antigo Regim e os d onatá rios d e m aior im portâ ncia
(Casa d e Bragança, Casa d as Rainhas e Casa d o Infantad o) nom eavam os
correged ores que superintend iam nas suas terras.
O m apa d e com arcas d e 1826 (n.º 4) poucas d iferenças tem em rela-
çã o ao que Fernand o Onório e António Eanes prod uziram . Os seus traços
caracterí sticos sã o o grand e núm ero d e circunscrições, a d esiguald ad e em
term os d e á rea e, sobretud o, a d escontinuid ad e territorial d as unid ad es
ad m inistrativas.
42 1541: Joã o José Alves Dias - Gentes e Espaços, vol I, p. 238; 1640: António Manuel
H espanha - A s V ésperas de Leviathan, vol. I, pp. 137-141;1801: Fernand o d e Sousa - A Popu-
laçã o Portuguesa nos Iní cios do Século X IX , p. 10 e segs.; 1826: contagem nossa. Ver, aind a, em
N uno Gonçalo Monteiro - Os Poderes Locais no A ntigo Regime, pp. 86-87, a com pilaçã o d as
cartas prod uzid as por Joã o José Alves Dias, António Manuel H espanha e Fernand o Onório e
António Eanes.
43 N uno Gonçalo Monteiro - Os Poderes Locais no A ntigo Regime, pp. 85-88 e Lu í s
Vid igal - O M unicipalismo em Portugal no Século X V III, Lisboa, Livros H orizonte, 1989,
p. 41.
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N ota: á rea para a qual nã o se encontrou correspond ência nas antigas com arcas: 474,82
Km2, correspond end o a 0,54% d a superfí cie total d o con tinente e a 26 territórios.
N ã o inclui os habitantes d as paróquias urbanas d o Porto e d e Lisboa (ver anexo II).
O Antigo Regim e 33
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34 O Antigo Regim e
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d as por terras d ela. Mas juntam ente servem aquelas m esm as ter ras d e ver-
d ad eiras m ad rastas à boa ad m inistraçã o d e justiça, que se d eve praticar
para com os crim inosos e facinorosos d esta com arca. Porque refugiad os
neles [sic] se alentam para novos d elitos fazend o d ificultoso o justo
castigo.” 46
Além d o m ais, com o afirm a o correged or d e Trancoso, a d ispersã o
geográ fica d os territórios d as com arcas era prejud icial aos povos, que se
viam obrigad os a grand es d eslocações nos julgam entos d os seus recursos
perante os tribunais d e segund a instâ ncia. Por este m otivo, em 1821, os
habitantes d e Buarcos, Penacova e Mortá gua protestaram contra a d epen -
d ência em que se encontravam d a vila d e Tentúgal, sed e d a com arca a que
aqueles lugares pertenciam (m apa n.º 6). 47
N o século XVI os correged ores tam bém exerciam tarefas ligad as à
ad m inistraçã o financeira d a coroa. N o entanto, d urante esta centúria essas
funções passaram para a alçad a d os proved ores, m agistrad os régios que
supervisionavam a cobrança d os im postos e as finanças d os m unicí pios,
hospitais e m isericórd ias.48 As proved orias eram os espaços sob a respon -
sabilid ad e d estes m agistrad os. O núm ero d e proved orias existentes em
1811 é significativam ente m enor d o que o d as com arcas (m apa n.º 7 e
quad ro II). As d isparid ad es d e á rea tam bém sã o evid entes neste caso: a
pequena proved oria d e Braga contrasta com a enorm e proved oria d e
É vora. Mas a proporçã o d e circunscrições com um espaço contí nuo é
grand e. Contud o, o m apa nã o d eixa d e ser m arcad o pelos encravam entos.
Além d o m ais, nã o havia correspond ência entre o território d as
proved orias e o d as com arcas.49
O Antigo Regim e 35
SILVEIRA
Quad ro II
Provedorias de 1811
Código Provedoria Área (Km2) N .º de
territórios
1 Algarve 4110,61 1
2 Aveiro 2375,11 1
3 Beja 5912,13 4
4 Braga 342,28 8
5 Castelo Branco 4533,08 1
6 Coim bra 2999,54 4
7 Elvas 2247,36 2
8 É vora 7374,78 1
9 Gu ard a 3769,27 1
10 Gu im arã es 4122,87 3
11 Lam ego 4935,62 2
12 Leiria 2295,38 2
13 Lisboa 521,85 1
14 Mirand a 4235,99 3
15 Moncorvo 3001,39 3
16 Ou riqu e 6282,14 1
17 Penafiel 523,32 1
18 Portalegre 2611,94 1
19 Porto 1326,97 3
20 Santarém 4720,07 1
21 Setúbal 4104,38 1
22 Tom ar 4964,69 4
23 Torres Ved ras 2473,51 2
24 Viana 3598,39 5
25 Viseu 4391,07 2
Total 87773,74 58
—————————————————————————————————————
N ota: á rea para a qual nã o se encontrou correspond ência nas proved orias : 968,48
Km2, correspond end o a 1 % d a superfí cie total d o continente e a 45 territórios.
36 O Antigo Regim e
TERRITÓRIO E PODER
Concelhos
50 José Mattoso - Identificaçã o de um Paí s, vol. I, p. 289 e segs.; Maria H elena d a Cruz
Coelho - Os Concelhos in Maria H elena d a Cruz Coelho e Arm and o Lu í s Carvalho H o m em
(coord .) - Portugal em Definiçã o de Fronteiras (1096-1325), Lisboa, Presença, 1996, pp. 554-
584 e A. H . d e Oliveira Marques - Portugal na Crise dos Séculos X IV e X V , p. 315.
51 Sobre estes aspectos ver N uno Gonçalo Monteiro - Os Poderes Locais no A ntigo
Regime, pp. 31-32.
O Antigo Regim e 37
SILVEIRA
38 O Antigo Regim e
TERRITÓRIO E PODER
O Antigo Regim e 39
SILVEIRA
59 N uno Gonçalo Monteiro - Os Poderes Locais no A ntigo Regime, pp. 51-54, 158-161.
60 Joaquim Rom ero d e Magalhã es - As Estruturas Sociais d e Enquad ram ento d a Eco-
nom ia Portuguesa d e Antigo Regim e: Os Concelhos in N otas Económicas, n.º 4, 1994, pp. 30-
47; José Viriato Capela - O M inho e os Seus M unicí pios. Estudos Económico-A dministrativos so-
bre o M unicí pio Português nos Horizontes da Reforma Liberal, Braga, Universid ad e d o Minho,
1995.
61 N uno Gonçalo Monteiro - Os Poderes Locais no A ntigo Regime, pp. 121-136; Lu í s Vid i-
gal - O M unicipalismo em Portugal no Século X V III, p. 80 e segs.
40 O Antigo Regim e
TERRITÓRIO E PODER
N ota: núm ero d e concelhos cuja á rea nã o foi d eterm inad a - 16; á rea para a qual nã o se
encontrou correspond ência nos concelhos d e 1826: 616,06 Km2, correspond end o a 0,69% d a
superfí cie total d o continente .
Quad ro IV
Concelhos de 1826 - Área
Área (Km2) N .º de concelhos % % acum.
0 - 99 563 71,45 71,45
100 - 199 110 13,96 85,41
200 - 299 39 4,95 90,36
300 - 399 27 3,43 93,78
400 - 499 11 1,40 95,18
500 - 999 29 3,68 98,86
>=1000 9 1,14 100,00
Total 788 100,00
—————————————————————————————————————
O Antigo Regim e 41
SILVEIRA
Quad ro V
Concelhos de 1826 - Área por proví ncia
Proví ncia\ Área (Km2) 99 199 299 399 499 999 1000 Total
Alentejo 40 26 11 9 4 8 6 104
Algarve 6 1 2 2 1 4 16
Beira 267 41 10 4 1 8 331
Estrem ad ura 81 14 5 7 4 4 2 117
Minho 127 16 3 3 1 150
Trá s-os-Montes 42 12 8 2 1 4 1 70
Total 563 110 39 27 11 29 9 788
—————————————————————————————————————
Área (Km2): os valores inscritos nesta linha ind icam o lim ite superior d a classe.
N ota: ver quad ro III.
Quad ro VI
Concelhos de 1826 - Área média por proví ncia
Proví ncia Área média (km2)
Minho 50,11
Beira 68,33
Estrem ad ura 136,23
Trá s-os-Montes 153,95
Alentejo 259,96
Algarve 306,49
42 O Antigo Regim e
TERRITÓRIO E PODER
Quad ro VII
N úmero de indiví duos por concelho em 1828
N .º de indiví duos N .º de % % acum.
concelhos
0 - 999 290 36,57 36,57
1000 - 1999 185 23,33 59,90
2000 - 2999 85 10,72 70,62
3000 - 3999 67 8,45 79,07
4000 - 4999 32 4,04 83,10
5000 - 9999 70 8,83 91,93
10000 - 19999 45 5,67 97,60
> = 20000 19 2,40 100,00
Total 793 100,00
—————————————————————————————————————
N ota: núm ero d e concelhos para os quais nã o foi possí vel calcular a populaçã o: 9. Para
além d isso foram excluí d os os concelhos d e Lisboa e Porto, d ad o a inform açã o nestes casos
ser incom pleta (ver anexo II).
A d istribuiçã o d o núm ero d e ind iví d uos por concelho reforça a id eia
d a red uzid a d im ensã o d a m aioria d estas unid ad es: repare-se que 37% ti-
nha m enos d e 1000 habitantes e 70% m enos d e 3000.62
62 Os concelhos com um a populaçã o até 200 fogos eram na época consid erad os com o
m uito pequenos. Ver a este respeito o Projecto nº 150 sobre a Divisã o d o Território Apresen -
tad o à Câ m ara d os Deputad os em 20 d e Março d e 1827 in Marcelo Caetano - Os A nteceden-
tes da Reforma A dministrativa de 1832 (M ouzinho da Silveira), Lisboa, 1967, p. 37. Pelo exam e
d a populaçã o d os concelhos d e 1828, verifica -se que aquele núm ero d e fogos pod ia corres-
pond er até 965 ind iví d uos.
O Antigo Regim e 43
SILVEIRA
63 Fortunato d e Alm eid a - História da Igreja em Portugal, nova ed içã o, Porto, Portuca-
lense, 1967-1971; A. H . d e Oliveira Marques - História de Portugal, vol. I, pp. 26-30 e 41-42;
id em - Portugal na Crise dos Séculos X IV e X V , pp. 365-367; Maria Alegria Fernand es Mar-
ques - Organizaçã o Ad m inistrativa d o Clero Secular in Maria H elena d a Cruz Coelho e Ar-
m and o Lu í s Carvalho H om em (coord .) - Portugal em Definiçã o de Fronteiras (1096-1325), pp.
225-230; Joã o José Alves Dias - Gentes e Espaços, vol. I, pp. 239-279.
64 Fernand o d e Sousa - A Populaçã o Portuguesa nos Iní cios do Século X IX , pp. 23-26.
44 O Antigo Regim e
TERRITÓRIO E PODER
65 Avelino d e Jesus d a Costa - Paróquia, in Dicioná rio de História de Portugal, Vol. III,
Lisboa, Iniciativas Ed itoriais, s. d ., pp. 309-310 e José Mattoso - Identificaçã o de um Paí s, vol.
I, pp. 398-403 (d ond e a citaçã o foi retirad a) e vol. II, p. 194.
66 A. H . d e Oliveira Marques - Portugal na Crise dos Séculos X IV e X V , p. 367 e Fernand o d e
Sousa - A Populaçã o Portuguesa nos Iní cios do Século X IX , p. 25. José António Santos em A s
Freguesias. História e A ctualidade, Oeiras, Celta Ed itora, 1995, p. 37 e 56, refere a existência
d e 4232 paróquias em 1798 e d e 4093 em 1826.
O Antigo Regim e 45
SILVEIRA
Quad ro VIII
Paróquias de 1826 nã o cartografadas - D istribuiçã o por proví ncia
Proví ncia Total de paróquias Paróquias nã o cartografadas %
Minho 1231 50 4,06
Beira 1251 108 8,63
Trá s-os-Montes 699 159 22,75
Estrem ad ura 472 46 9,75
Algarve 67 3 4,48
Alentejo 368 81 22,01
Total 4088 447 10,93
—————————————————————————————————————
N ota: á rea para a qual nã o se encontrou correspond ência nas paróquias d e 1826:
1648,62 Km2, equivalend o a 1,86% d a superfí cie total d o con tinente.
Quad ro IX
Paróquias de 1826 - Área
Área (Km2) N .º de paróquias % % acum.
0- 9 1557 42,76 42,76
10 - 19 925 25,41 68,17
20 - 29 426 11,70 79,87
30 - 39 228 6,26 86,13
40 - 49 125 3,43 89,56
50 - 59 77 2,11 91,68
60 - 69 48 1,32 93,00
70 - 79 36 0,99 93,99
80 - 89 29 0,80 94,78
90 - 99 22 0,60 95,39
>=100 168 4,61 100,00
Total 3641 100,00
—————————————————————————————————————
N ota: núm ero d e paróquias cuja á rea nã o foi d eterm inad a : 447.
46 O Antigo Regim e
TERRITÓRIO E PODER
Quad ro X
Paróquias de 1826 - Área média por proví ncia
Proví ncia N .º de paróquias Área média (km2)
Minho 1181 6,35
Beira 1143 19,51
Trá s-os-Montes 540 19,94
Estrem ad ura 426 36,82
Algarve 64 70,49
Alentejo 287 91,75
Total 3641
Quad ro XI
N úmero de indiví duos por paróquia em 1828
N .º de indiví duos N .º de paróquias % % acum.
0 - 99 134 3,34 3,34%
100 - 199 414 10,31 13,65%
200 - 299 614 15,30 28,95%
300 - 399 536 13,35 42,30%
400 - 499 425 10,59 52,89%
500 - 599 317 7,90 60,79%
600 - 699 268 6,68 67,46%
700 - 799 197 4,91 72,37%
800 - 899 169 4,21 76,58%
900 - 999 145 3,61 80,19%
>= 1000 795 19,81 100,00%
Total 4014 100,00
—————————————————————————————————————
N ota: núm ero d e paróquias em relaçã o à s quais nã o foi possí vel calcular a populaçã o: 74.
Fonte: ver anexo II.
O Antigo Regim e 47
SILVEIRA
67 Joaquim d a Costa Leite - Portugal and Emigration, 1855-1914, Colu m bia University,
1994, p. 594.
48 O Antigo Regim e
TERRITÓRIO E PODER
68 Ver d e Albert Silbert - Um a Ald eia Com unitá ria d a Beira Baixa no Iní cio d o Século
XIX: Monforte, in id em - Do Portugal de A ntigo Regime ao Portugal Oitocentista, 2ª ed . Lisboa,
Livros H orizonte, 1977, p. 105 e segs.
69 De acord o com Fernand o d e Sousa em O Clero d a Diocese d o Porto ao Tem po d as
Cortes Constituintes, in Revista de História, Porto, vol. II, 1979, p. 7, 70% d os sacerd otes
exerciam o seu m agistério nas freguesias d e que eram oriund os.
70 M anifesto das Contendas do Cabido da Sé de Coimbra com o Prior e M oradores do Couto
de V ila N ova de M onsarros, Lisboa, Im pressã o Régia, 1815.
71 Sobre a com arca d e Vila Real, ver Fernand o d e Sousa - O Clero d a Diocese d o Porto,
pp. 13-15. Ver tam bém Daniel Ribeiro Alves - Os Últimos 5 A nos dos Dí zimos: Produçã o
A grí cola, Rendimentos e Relações Sociais na Regiã o de V iana no Final do A ntigo Regime, Lis-
boa, 1996, policopiad o.
O Antigo Regim e 49
SILVEIRA
50 O Antigo Regim e
TERRITÓRIO E PODER
Distrito de Lisboa: Os Últimos Cinco A nos (1827-1831), Lisboa, 1996, policopiad o e Arnald o
Silva- Os Dí zimos nas V ésperas da sua A boliçã o: Produçã o A grí cola, Rendimentos e Relações
Sociais na Regiã o de Coimbra (1827-1831), Lisboa, 1996, policopiad o; sobre o pasto d o gad o
em É vora e sobre o arrend am ento d e d ireitos senhoriais em Penela, ver José Manuel Tengar -
rinha - M ovimentos Populares A grá rios em Portugal, vol. II, pp. 104 e 212.
75 Fernand o d e Sousa - O Clero da Diocese do Porto, pp. 5-6; id em - Subsí d ios para a
H istória Social d o Arcebispad o d e Braga. A Com arca d e Vila Real nos Fins d o Século XVIII,
in Bracara A ugusta, Tom o XXX, nº 70, 1976; Jacques Marcad é - La Diocèse d e Beja d ans la Se-
cond e Moitié d u XVIIIe Siècle, in Bulletin des É tudes Portugaises, XXXII, 1971, p. 59.
76 Este ponto baseia-se, essencialm ente, no trabalho d e Ana Cristina N ogueira d a Silva - O
M odelo Espacial. À bibliografia aí ind icad a d eve-se acrescentar o livro,
recentem ente publicad o, d e Fernand o d e Sousa e Jorge Fernand es Alves - A lto M inho. Popula-
çã o e Economia nos Finais de Setecentos, Lisboa, Presença, 1997, ond e se ed ita m ais um d ocu -
m ento resultante d o processo d e reform a d as com arcas.
O Antigo Regim e 51
SILVEIRA
52 O Antigo Regim e
TERRITÓRIO E PODER
O Antigo Regim e 53
SILVEIRA
exem plo, red und ou num enorm e fracasso, d ela nã o resultand o m ais d o que
a supressã o d as ouvid orias. Os obstá culos foram m uitos: os juí zes d em ar -
cantes, um cargo d e natureza com issarial, paralelo à m agistratura régia, ti-
veram d ificuld ad e em im por a sua autorid ad e; a colaboraçã o d os correge -
d ores, proved ores e câ m aras, essencial à consecuçã o d o seu trabalho, nã o
foi fá cil d e conseguir; as próprias instituições centrais - Secretaria d os N e-
gócios d o Reino e Tribunal d o Desem bargo d o Paço - m anifestaram resis-
tências; d epois houve insuficiência d e m eios hum anos e financeiros e falta
d e conhecim ento d o território, o que im possibilitou aqueles juí zes d e fazer
face aos argum entos d as autorid ad es locais.
54 O Antigo Regim e
Quand o a Revoluçã o chega a Portugal, no ano d e 1820, existiam pelo
m enos d ois m od elos d e im plantaçã o territorial d o Estad o que pod eriam
servir d e referência: o inglês e o francês, este últim o d epois ad optad o em
vá rios paí ses, com o, por exem plo, em Espanha e na Prússia. Os nossos
liberais conheciam m elhor a ad m inistraçã o francesa e a espanhola, pelo
m enos através d a leitura, m as a em igraçã o nas d écad as d e 1820 e 1830
perm itiu -lhes um contacto d irecto com a realid ad e inglesa.
Os d ois m od elos d istinguiam -se, essencialm ente, pelo peso d a m á -
quina estatal, m aior nos paí ses d o continente, e pelo papel reservad o à s
elites locais, m aior em Inglaterra. Deste últim o ponto d e vista, no entanto,
as d uas fórm ulas tend eram a convergir a partir d a d écad a d e 1830. Passe-
m os rapid am ente em revista a organizaçã o periférica d o Estad o em In -
glaterra, França e Espanha, pois isso vai-nos perm itir um entend im ento
m ais claro d a evoluçã o portuguesa. 1
O modelo inglês
1 Elem entos para um a com paraçã o d os m od elos inglês e francês e d a variante alem ã en -
contram -se no estim ulante artigo d e Christophe Charle - Légitim ités en Péril. É lém ents pour
une H istoire Com parée d es É lites et d e l’ É tat en France et en Eu rope Occid entale (XIXe -XXe
Siècles), in A ctes de la Recherche en Sciences Sociales, 116/ 117, 1997, pp. 39-52.
A Revoluçã o 57
SILVEIRA
volvim ento económ ico. A d om inaçã o aristocrá tica, d e tã o evid ente, nunca,
d e resto, foi verd ad eiram ente posta em causa pelos historiad ores. O que se
d iscutiu nos últim os anos foi o cará cter d as classes m éd ias inglesas, d efen -
d end o alguns a sua d ebilid ad e e incapacid ad e d e tom ar o pod er, lem -
brand o outros a especificid ad e d a sua cultura e a d esnecessid ad e d essa
tom ad a d e pod er.2
Para além d e d om inar o Estad o central (câ m ara alta d o parlam ento,
governo, ad m inistraçã o), a aristocracia controlava tam bém o pod er local.
A este ní vel, o sistem a d e ad m inistraçã o nascid o no iní cio d a É poca Mo -
d erna sobreviveu até ao final d o século XIX. H á , no entanto, que d istinguir
entre as cid ad es e o cam po. Os centros urbanos, que conheceram um vigo ro-
so crescim ento d esd e o século XVI, eram trad icionalm ente governad os
por corporações. Em 1835 estes velhos organism os foram substituí d os por
ad m inistrações eleitas através d e um sufrá gio censitá rio. Isto provocou um
enfraquecim ento d a influência aristocrá tica que, apesar d e tud o, se m an -
teve nalguns casos.3
N a Inglaterra rural a situaçã o era d iferente. À frente d o cond ad o es-
tava um governad or (lord -lieutenant) nom ead o pelo pod er central. O go-
vernad or tinha a seu cargo a m ilí cia e d ispunha d e um a grand e capacid ad e
d e intervençã o na organizaçã o d as eleições para a câ m ara baixa d o parla -
m ento. Durante o século XVIII os governad ores ganharam o m onopólio d a
nom eaçã o d os juí zes, papel d e que só abd icaram em 1910. O cargo d e
“ lord -lieutenant” era invariavelm ente d esem penhad o por um m em bro d a
nobreza titular.
O posto m ais im portante no governo local era o d e juiz d e paz
(justice of the peace). Originalm ente, com o o nom e ind ica, estes juí zes eram
responsá veis pela m anutençã o d a paz. Mas d epois d o século XVI as suas
funções foram -se am pliand o. Entre as novas atribuições contam -se: a regu -
laçã o d os preços e salá rios, o licenciam ento d os botequins, a reparaçã o d as
pontes e estrad as, a ad m inistraçã o d o auxí lio aos pobres e a cobrança d e
im postos para estes fins. Os juí zes d e paz reuniam -se trim estralm ente no
2 A bibliografia sobre estas m atérias é extensí ssim a. Sirva d e introd uçã o o excelente ar -
tigo d e M. J. Daunton - “ Gentlem anly Capitalism ” and British Ind ustry 1820-1914, in Past
and Present, 122, 1989, pp. 118-158.
3 F. M. L. Thom pson - Tow n and City, in id em (ed .) - The Cambridge Social History of Bri-
tain 1750-1950, vol. I, Cam brid ge, University Press, 1990, pp. 1-86.
58 A Revoluçã o
TERRITÓRIO E PODER
que pod ia ser consid erad o o parlam ento d o cond ad o, as “ quarter ses-
sions” , ond e eram tratad as as questões ad m inistrativas e legais a seu
cargo.
Eram eles que governavam a naçã o. Por isso o seu recrutam ento era
selectivo, send o exigid o um m í nim o d e rend im ento anual a quem exercia o
lugar. Até ao últim o quartel d o século XIX este posto foi um m onopólio d a
nobreza rural inglesa (gentry), cujo pod er estava basead o na propried ad e
d a terra.
A erosã o d a influência d os juí zes d e paz com eçou com o apareci-
m ento d as juntas encarregad as d e tratar d o auxí lio aos pobres, d a saúd e
pública ou d as estrad as, por exem plo. Quand o eram eleitas, perm itiam a
entrad a d e lavrad ores e com erciantes, m as os juí zes continuaram aí bem
representad os. Mais im portante foi a profissionalizaçã o d o governo local,
d e que é exem plo a polí cia d os cond ad os, surgid a nas d écad as d e 1840 e
1850. A verd ad eira reform a, no entanto, só aconteceu em 1888 com o
“ County Councils Act” que criou os conselhos eleitos. Mesm o assim , a
substituiçã o d a antiga elite foi grad ual.
Em conclusã o, a Inglaterra possu í a um a aristocracia que encarava a
sua participaçã o no pod er nã o só com o um d ireito, m as com o um d ever.
Durante boa parte d o século XIX “ o governo local foi essencialm ente pater -
nalista, d esd e a ad m inistraçã o d a justiça até ao pagam ento d a assistência
aos pobres. Em parte isto foi possí vel porque ele perm aneceu um a coutad a
d e senhores nã o rem unerad os e a Inglaterra nã o d esenvolveu um a burocra -
cia profissional, enquanto o facto d a sua sobrevivência sugere que ele
foi relativam ente bem suced id o.” 4
O modelo francês
4 Para tod a esta d escriçã o ver a excelente sí ntese d e J. V. Beckett - The A ristocracy in En-
gland (1660-1914), Oxford , Blackw ell, 1986, pp. 374-402.
A Revoluçã o 59
SILVEIRA
60 A Revoluçã o
TERRITÓRIO E PODER
d am entais: “ Foi por ele [pelo d epartam ento] que passou o lento processo
d e integraçã o d a naçã o.” A ele se ad aptaram d epois os restantes ram os d a
ad m inistraçã o (as d ivisões m ilitar, jud icial e d e ensino). 6
Entretanto, a Constituinte d efinia tam bém os novos órgã os d e pod er,
eleitos em eleições censitá rias, ind irectas no caso d os d epartam entos e d is -
tritos e d irectas nas com unas. N este sistem a o pod er central pouca influên-
cia tinha. A d itad ura jacobina vibrará os prim eiros golpes neste ed ifí cio, no
sentid o d a centralizaçã o, que N apoleã o plenam ente consagrará . A partir
d e 1800, m antend o-se a d ivisã o territorial, a França passa a d ispor d e um a
organizaçã o ad m inistrativa fortem ente hierarquizad a, existind o à frente d e
cad a circunscriçã o um funcioná rio nom ead o pelo pod er central, com capa -
cid ad e executiva, assistid o por órgã os colegiais, tam bém nom ea d os, com
pod er d e d eliberaçã o.
N a d écad a d e 1830 este sistem a foi ad aptad o ao liberalism o repre -
sentativo: assim , conservou -se o cará cter centralizad o d a m á quina ad m i-
nistrativa, que continuou a basear-se em funcioná rios nom ead os, com po-
d er executivo, e órgã os colegiais d eliberativos; m as intro d uziu -se a eleiçã o
censitá ria d estes últim os. Destaque-se que o presid ente d a câ m ara
(“ m aire” ) passou a ser seleccionad o através d e um processo m isto, send o
escolhid o pelo governo entre os cid ad ã os eleitos para o órgã o colegial d a
com una. Estand o d epend ente d as autorid ad es ad m inistrativas, o “ m aire”
constituí a o ponto d e intersecçã o entre o pod er central e o pod er local re-
presentativo.7
Verificava-se assim a passagem d o sistem a napoleónico ao d os notá -
veis, em que o pod er a ní vel local tend ia a id entificar -se com a elite eco-
nóm ica e social. Deste ponto d e vista, a França aproxim ava-se d a Ingla-
terra. Contud o, este sistem a perm anecia unid o ao napoleónico pela centra -
lizaçã o, ao m esm o tem po que o pod er d os notá veis era m inad o pela con -
corrência d e elites profissionais ligad as a um Estad o m uito m ais anónim o
d o que o inglês.8
A Revoluçã o 61
SILVEIRA
O caso espanhol
62 A Revoluçã o
TERRITÓRIO E PODER
A Revoluçã o 63
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64 A Revoluçã o
TERRITÓRIO E PODER
A evoluçã o portuguesa
O programa liberal
A Revoluçã o 65
SILVEIRA
66 A Revoluçã o
TERRITÓRIO E PODER
A Revoluçã o 67
SILVEIRA
22 Tu d o o que afirm o sobre esta d iscussã o baseia -se em Paulo Jorge Azeved o Fernand es -
A s Faces de Proteu. Elites Urbanas e Poder M unicipal em Lisboa de Finais do Século X V III a
1851, Lisboa, 1997, policopiad o, pp. 136-140 e 149-162.
68 A Revoluçã o
TERRITÓRIO E PODER
A Revoluçã o 69
SILVEIRA
25 Sobre a reform a d a justiça ver Bened ita Maria Duque Vieira - A Justiça Civil na Tran-
siçã o para o Estado Liberal, Lisboa, Ed ições Joã o Sá d a Costa, 1991.
70 A Revoluçã o
TERRITÓRIO E PODER
reno” e porque eram m uito grand es, previa -se agora a criaçã o d e 11 cir-
cunscrições d este tipo. Quanto aos concelhos, a com issã o referia a d esi-
guald ad e d e superfí cie, a “ configuraçã o sum am ente irregular e m onstruo-
sa” e, esquecid as as veleid ad es d e aum entar o núm ero d e m unicí pios,
falava antes na necessid ad e d e o red uzir. A justificaçã o d esta m ed id a re-
tom ava um argum ento que já no século XVIII era utilizad o contra as peque-
nas câ m aras: a d ificuld ad e d e encontrar pessoas “ d ignas” para exercer o
governo m unicipal. N o entanto, d ad a “ falta d e conhecim entos e inform a -
ções” , a reform a d os concelhos era d eixad a para m ais tard e. 26
H avia, aind a, um outro m otivo que recom end ava o d iferim ento d a
nova form açã o d os concelhos: a reorganizaçã o d as paróquias, aspecto que
tam bém nã o tem recebid o m uita atençã o d os historiad ores. A necessid ad e
d esta m ed id a estava relacionad a, nã o só com a pretend id a coincid ência
d os vá rios ní veis d a d ivisã o d o território (ad m inistrativa, jud icial, ecle -
siá stica, …), com o com o problem a d a sustentaçã o d o clero secular.
A figura d o pá roco, ao contrá rio d a d o frad e, era querid a à nova elite
polí tica. Longe d e qualquer m anifestaçã o d e ateí sm o, esta elite era crente e,
por outro lad o, tinha em d evid a conta a im portâ ncia d a religiã o com o ins -
trum ento d e coesã o social. Deste ponto d e vista, a m issã o d o pá roco era
inquestioná vel. Para além d isso, pela í ntim a relaçã o que tinha com os p o-
vos, o clero paroquial pod eria aind a ter um a funçã o relevante na d ifusã o
d a nova ord em polí tica. Assim , o pá roco inspirava sim patia e à utilid ad e e
im portâ ncia d a funçã o que d esem penhava d everia correspond er um rend i-
m ento d igno.
Já tivem os ocasiã o d e com entar a d im ensã o d as paróquias portugue-
sas. Ora, algum as havia em que, m esm o d epois d e atalhad os os abusos
existentes em torno d a repartiçã o d os d í zim os, seria d ifí cil sustentar o pá -
roco. Por outro lad o, os povos queixavam -se d aqueles abusos nas petições
que enviavam à s Cortes e o Estad o vivia nestes anos m om entos d e aperto
financeiro. Conjugavam -se, pois, factores d iversos para im por a necessi-
d ad e d e um a reform a que, pela red uçã o d as paróquias, perm itisse um a d e -
cente sustentaçã o d o clero e que, pela d im inuiçã o d os benefí cios sem cura
d e alm as, libertasse recursos financeiros para o Estad o. Se bem que um
26 Sobre o projecto ver José António Santos - Regionalizaçã o, pp. 57-62 e Diá rio do Gover-
no, n.º 92, d e 18 d e Abril d e 1823.
A Revoluçã o 71
SILVEIRA
Os debates de 1826-1828
72 A Revoluçã o
TERRITÓRIO E PODER
perm ite concluir pela existência d e um núcleo restr ito d e ind iví d uos preo-
cupad os com as questões d e ad m inistraçã o e que as reform as levad as a
cabo d epois d e 1834, se bem que executad as com a precipitaçã o que a agi-
taçã o polí tica im punha, foram longam ente am ad urecid as. As posições que
alguns tom aram nesta ocasiã o, observad as d este m od o, d eixam d e parecer
m anobras d e puro oportunism o polí tico e ganham um a outra consistência.
A com issã o d e d ivisã o d o território apresentou um projecto d e d ivi-
sã o polí tica (eleitoral), jud icial e ad m inistrativa. Enunciava os princí pios e
queixava-se d a falta d e d ad os estatí sticos. Tend o em conta esta lacuna e a
com plexid ad e d a tarefa, suscitava a atençã o d a câ m ara para a apreciaçã o
d e um plano nã o d efinitivo.
Previa a com issã o a existência d e proví ncias, com arcas e concelhos,
m as tinha d úvid as sobre a necessid ad e d a d ivisã o ad m inistrativa se com -
por d estes três graus, pelo que d eixava o assunto à consid eraçã o d os d e-
putad os. N a sua proposta, a proví ncia era um a circunscriçã o eleitoral.
Com provand o que os problem as regionais nã o existiam , a com issã o até en -
tend ia que se pod iam m anter os lim ites d as proví ncias d o Antigo Re gim e,
com a novid ad e d a fragm entaçã o d a Beira em d uas.
A proposta m ais inovad ora consistia na d ivisã o d o reino em 17 co -
m arcas. “ Com o fim d e se evitarem questões d e suprem acias locais, e tud o
quanto pod eria excitar pretensões d e preferências, concord ou a Com issã o
em que as Com arcas se d esignassem , nã o pelos nom es d as Povoações prin -
cipais, ond e os Ad m inistrad ores ou Contad ores houvessem d e resid ir, m as
pelos d os rios e m ontanhas notá veis, ou pelos d os lugares históricos que
existem nos seus Distritos. Ad optou -se nesta parte o m esm o que os
Franceses praticaram a respeito d os seus Departam entos.” 30 A com issã o
retalhou o território sem respeitar as fronteiras trad icionais, com o se havia
feito em terras d e França, m as com intenções d iferentes: as proví ncias anti-
gas até se m antinham .
Quanto aos concelhos, esta com issã o, tal com o a d e 1823, apesar d o
que estava escrito no artigo 133 d a Carta, voltava a m anifestar a necessi-
d ad e d e suprim ir os m ais pequenos e d e d ivid ir os m aiores. N a d efesa d a
A Revoluçã o 73
SILVEIRA
74 A Revoluçã o
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A Revoluçã o 75
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76 A Revoluçã o
TERRITÓRIO E PODER
guel regressa a Portugal, Mouzinho, com o tantos outros, aband ona o paí s,
ind o viver para França. A sua estad ia neste paí s é d ecisiva para com pr e-
end er a legislaçã o que publica aquand o d a sua passagem pelo governo em
1832, em plena guerra civil, pois ela perm itiu -lhe um a observaçã o d irecta
d o funcionam ento d as instituições francesas. 35
Mouzinho partia d a id eia d a necessid ad e d e introd uzir um a pro-
fund a m ud ança em Portugal, que se tinha tornad o inevitá vel d epois d a
perd a d a colónia brasileira. Para além d isso, o nosso paí s tinha d e acom -
panhar a transform açã o que se vivia na Europa d a época. A base para a
m ud ança era a Carta Constitucional d e 1826, que havia que escorar através
d e leis regulam entares que tornassem o novo regim e um a realid ad e irre-
versí vel.
É o que Mouzinho vai fazer com os num erosos d ecretos que rubricou,
com os quais vai procurar m aterializar os d ois grand es princí pios d o Libe-
ralism o: Liberd ad e e Propried ad e. Para que a m ud ança pretend id a fosse
alcançad a, havia aind a que reform ar o Estad o. É este o propósito d os 3
d ecretos d e 16 d e Maio d e 1832 sobre Fazend a, Justiça e Ad m inistraçã o. 36
As bases que regulam esta últim a foram tom ad as d a legislaçã o d e
França, com o o próprio afirm a no preâ m bulo d o respectivo d ecreto. Este,
para além d e consagrar o princí pio d a separaçã o d o pod er d e ad m inistrar
e julgar, consensualm ente aceite, d ava corpo à s concepções d e um a cor-
rente que se vinha a m anifestar d esd e 1821, d efensora d e um a ad m inistra -
çã o centralizad a e hierarquizad a em três ní veis. N o entanto, ao atribuir ao
proved or d o concelho, funcioná rio d e nom eaçã o régia, o pod er d e executar
as d eliberações d as câ m aras, Mouzinho u ltrapassou um a fronteira até en-
tã o respeitad a.
Salvo esta d iferença essencial, sã o flagrantes as sem elhanças entre a
estrutura criad a em 1832 e a que Rebelo d a Silva projectara em 1827. 37 O
A Revoluçã o 77
SILVEIRA
quad ro junto esquem atiza essa estrutura, ond e os m agistrad os, d e nom ea-
çã o régia, d etinham o pod er executivo e os corpos ad m inistrativos d elibe -
ravam . Estes eram eleitos pelos cid ad ã os, no caso d as câ m aras, ou pelos
próprios corpos, elegend o as câ m aras as juntas d e com arca e estas as d e
proví ncia. O conselho d e prefeitura tinha funções contenciosas e era d e
nom eaçã o régia.
Quad ro XII
Magistrados e corpos administrativos
D ecreto de 16 de Maio de 1832
Circunscriçã o Magistrado Corpos administrativos
Proví ncia Prefeito Ju nta Geral d e Proví ncia Conselho d e Prefeitu ra
Com arca Su bp refeito Ju nta d e Com arca
Concelho Proved or Câ m ara Mu nicip al
78 A Revoluçã o
TERRITÓRIO E PODER
A Revoluçã o 79
SILVEIRA
N ota: á rea para a qual nã o se encontrou correspond ência nas com ar cas d e 1834: 593,52
km 2, equivalend o a 0,67% d a superfí cie total d o continente e a 26 territórios.
Fonte dos dados sobre populaçã o: ver anexo II.
80 A Revoluçã o
TERRITÓRIO E PODER
39 Ver Maria d e Fá tim a Bonifá cio - “ A guerra d e tod os contra tod os” (ensaio sobre a
instabilid ad e polí tica antes d a Regeneraçã o), in A ná lise Social, n.º 115, 1992, pp. 91-134.
40 A. H . d e Oliveira Marques - História da M açonaria em Portugal, vol. II, 1ª parte, Lis-
A Revoluçã o 81
SILVEIRA
boa, Presença, 1996, pp. 51-62; Fernand o Catroga - A Maçonaria e a Restauraçã o d a Carta
Constitucional em 1842. O Golpe d e Estad o d e Costa Cabral, in Revoltas e Revoluções, Revista
de História das Ideias, n.º 7, Coim bra, 1985 pp. 155-181.
41 António Ped ro Manique - M ouzinho da Silveira. Liberalismo e A dministraçã o Pública,
Lisboa, Livros H orizonte, 1989, pp. 103-120 e 146-154.
82 A Revoluçã o
TERRITÓRIO E PODER
Em conjugaçã o com este m ovim ento, que ela própria anim ava, a
oposiçã o à facçã o m od erad a no governo, iniciou no Parlam ento o com bate
contra a m esm a legislaçã o, logo em Outubro d e 1834. N ã o vale a pena d es-
crever as d iscussões em porm enor, porque isso já foi feito. 42 Interessa tã o-
-só sublinhar as id eias essenciais e rever interpretações. De resto, este
d ebate constitui um excelente exem plo, d ocum entad o, d a form a com o se
m anipu lavam as d ecisões parlam entares.
Os d eputad os d a esquerd a atacavam a legislaçã o ad m inistrativa nos
m esm os pontos em que as câ m aras o faziam . Levantavam -se contra os
prefeitos, expressivam ente apod ad os d e paxá s, “ Reis d e p roví ncia, com o
seu Conselho d e Estad o e com as suas Cortes” (António Luí s Seabra,
Gazeta do Governo, 8 d e Outubro d e 1834). A este respeito d izia o
d eputad o Galvã o Palm a: “ fico satisfeito contanto que d ê um vivo golpe
nesse gigante - Prefeituras - que, nascend o na ilha [sic] d os Açores em 16
d e Maio d e 32, tend o apenas três anos d e id ad e, já se reputava com forças
atléticas para, por si e seus subalternos, praticar atentad os que d e tod os
os pontos d a naçã o têm ressoad o nesta Assem bleia. Se quand o m í nim o era
já tã o m em brud o, tã o m onstruoso, que fisionom ia apresentaria se o
d eixá ssem os chegar ao estad o d e ad olescência e com a id ad e ad quirisse
robustez? Se aind a no berço m anejava um pod er d iscricioná rio, d ictatório,
d eportand o, prend end o, soltand o, d em itind o autorid ad es a seu belo
prazer, atacand o o d ireito d e propried ad e, m and and o arrancar vinhas,
reputand o-se com pod er legislativo, im pond o tributos, que aconteceria se o
d eixá ssem os m ed rar?” (Diá rio da Câ mara dos Senhores Deputados, Lisboa,
Im prensa N acional, 1835, p. 813).
A esquerd a tem ia a concentraçã o d e pod er nos prefeitos, represen -
tantes d o executivo nas proví ncias, pod erosos instrum entos na luta polí -
tica contra a oposiçã o; por outro lad o, criticava tam bém a actuaçã o con-
creta, arbitrá ria, d os ind iví d uos que haviam sid o nom ead os. O governo,
por seu turno, reconhecia estas irregularid ad es publicam ente, em portarias
em que repreend ia os abusos que alguns haviam praticad o. 43 Mas esse re-
conhecim ento tam bém transparecia d a correspond ência particular. N um a
A Revoluçã o 83
SILVEIRA
44 Correspond ência d e António Dias d e Oliveira em António Viana (com p.) - José da Silva
Carvalho e o seu Tempo, vol. II, Lisboa, Im prensa N acional, 1894, p. 151 e 166.
84 A Revoluçã o
TERRITÓRIO E PODER
45 António Viana (com p.) - José da Silva Carvalho e o seu Tempo, vol. II, pp. 181-183.
46 António Viana (com p.), ibidem, vol. II, p. 180.
47 António Viana (com p.), ibidem, vol. II, p. 210. Dias d e Oliveira, para além d e d epu tad o
em vá rias legislaturas d esd e 1834 a 1864, ch egou a ser presid ente d as Cortes em 1837. Entre
Junho e Agosto d este ano foi presid ente d o conselho d e m inistros. N a carreira d a m agis -
tratura atingiu o cargo d e juiz d o Suprem o Tribunal d e Justiça (ver N otí cia dos M inistros e
Secretá rios de Estado do Regimen Constitucional nos 41 A nos Decorridos desde a Regência Ins-
talada na Ilha Terceira em 15 de M arço de 1830 até 15 de M arço de 1871, Lisboa, Im prensa N a-
cional, 1871, pp. 6, 21-22 e 24).
48 António Viana (com p.), ibidem, vol. II, p.152. Sobre a filiaçã o m açónica d e António
A Revoluçã o 85
SILVEIRA
Para que tud o corresse d e feiçã o, Oliveira recom end ava a Freire, em
Julho d e 1835, “ o m aior segred o nas nossas ligações e até certa aparência
d e hostilid ad e” 49. Pouco tem po havia passad o, nesta altura, sobre a
d iscussã o parlam entar d a lei d e criaçã o d os d istritos, em que am bos
tiveram papel relevante, com o verem os.
N a Câ m ara d os Deputad os, a esquerd a batia forte na legislaçã o d e
Mouzinho d a Silveira. N a d ireita, no entanto, poucos se levantavam em
d efesa d o d ecreto d e 1832. Erguia-se o próprio Mouzinho, para record ar
que esse d ecreto m al havia sid o aplicad o e que o facto d e o ter sid o no
m eio d a luta contra os absolutistas fazia com que o sistem a ad m inistrativo
parecesse m au, d espótico, m as que isto nã o tinha fund am ento. (Diá rio da
Câ mara dos Senhores Deputados, 1835, p. 810). Levantava-se tam bém
António José d e Ávila para d efend er a existência d e um a hierarquia d e três
funcioná rios d e nom eaçã o régia (ibidem, pp. 811-812), em nom e d a eficá cia
d a m á quina ad m inistrativa e d a possibilid ad e d a real extensã o d o pod er
d o executivo a tod o o território. Mas na d ireita havia d ivergências sobre
esta m atéria, d iferentes opiniões, com o se verá .
Send o assim , o entend im ento vai ser possí vel. Sigam os, no essencial,
o cam inho percorrid o. Em 6 d e Outubro d e 1834, um grupo d e d eputad os
d a oposiçã o, encabeçad o por António Luí s Seabra, propôs a extinçã o d os
prefeitos e d os proved ores d e concelho. O executivo ficava, entã o, repre -
sentad o pelos subprefeitos, ao ní vel d as com arcas, passand o as
atribuições d os proved ores para as câ m aras m unicipais.
A 30 d o m esm o m ês, a com issã o d e Ad m inistraçã o Pública d a Câ -
m ara d os Deputad os, com posta m aioritariam ente por oposicionistas, em i-
tind o um parecer sobre a proposta anterior, d ecid iu am pliá -la, d e acord o
com o seu autor. Assim , os subprefeitos passavam a d enom inar -se ad m i-
nistrad ores d e com arca e continuavam a ser nom ead os pelo governo; m as,
a grand e novid ad e era o aparecim ento d a figura d o ad m inistrad or d e con-
celho, encarregad o d a ad m inistraçã o geral e d a polí cia, tam bém nom e ad o
pelo governo, sob proposta d as câ m aras, que viam reconhecid a a sua esfe-
ra d e actuaçã o própria. Deste ponto d e vista, tratava -se d e um a filosofia
Dias d e Oliveira ver A. H . d e Oliveira Marques - História da M açonaria em Portugal, vol. II,
2ª parte.
49 António Viana (com p.) - José da Silva Carvalho e o seu Tempo, vol. II, p. 191.
86 A Revoluçã o
TERRITÓRIO E PODER
sem elhante à d o p rojecto d e Rebelo d a Silva d e 1827, o qual tam bém era
m em bro d esta com issã o d e ad m inistraçã o em 1834. N o d ocum ento agora
apresentad o, d ispersava-se o pod er d e um grupo lim itad o d e prefeitos por
vá rios ad m inistrad ores d e com arca e recuperava-se a figura d o ad m inis-
trad or d e m unicipalid ad e tam bém prevista em 1827.
A este parecer respond eu o governo, em 20 d e Janeiro d e 1835, com
um a proposta assinad a, nã o pelo m inistro d o Reino, m as, o que pod erá ser
ind icativo d e d ivergências no seio d o m inistério, pelo Duqu e d e Palm ela,
com o presid ente d o conselho, cargo que nã o existia na lei, m as que o Duque
tinha assum id o. N este texto o governo m antinha um funcioná rio ao ní vel
d a proví ncia, agora cham ad o governad or civil, elim inava os seus re -
presentantes na com arca e aceitava a existência d e um ad m inistrad or d e
concelho a ser nom ead o pelo governo entre os eleitos para a câ m ara. A
grand e inovaçã o era o aparecim ento d o cargo d e reged or d e paróquia,
d elegad o d o ad m inistrad or d e concelho e presid ente d a junta d e paróquia,
cuja existência havia sid o d ecretad a em 1830 nos Açores e abolid a por
Mouzinho d ois anos d epois.
N o d ia seguinte a oposiçã o, pela voz d e Seabra, contrapôs um pro-
jecto em que retom ava as suas id eias anteriores: d ivisã o d o paí s em com ar -
cas - precisand o-se, pela prim eira vez, que d eviam ser d ezassete - e conce-
lhos, existind o naquelas um ad m inistrad or d e com arca, d e nom eaçã o régia,
e nestes um ad m inistrad or d e concelho, nom ead o pelo governo, sob pro -
posta d a câ m ara m unicipal. Para que nã o restassem d úvid as, explicitava-
se que as d ecisões d as câ m aras seriam postas em execuçã o pelo seu presi-
d ente.
As propostas d o governo e d a oposiçã o estavam a convergir: am bos
concord avam com um único grau d e ad m inistraçã o acim a d o m unicí pio e
am bos aceitavam que o representante d o executivo no concelho fosse no-
m ead o por um processo m isto, com intervençã o d a câ m ara ou d os eleitores
m unicipais. A grand e d ivergência estava no facto d a proposta d o Duque
d e Palm ela prever que a execuçã o d as d eliberações cam ará rias ficava a
cargo d o ad m inistrad or d e concelho. Entretanto, novos sinais d e entend i-
m ento surgiram : a proposta d o executivo foi enviad a para apreciaçã o d e
um a com issã o d a Câ m ara d os Deputad os em que figuravam elem entos im -
portantes d a oposiçã o e tam bém d o lad o d o governo.
A Revoluçã o 87
SILVEIRA
A sessã o parlam entar corria para o fim , sem que qualquer d ecisã o
fosse tom ad a. É , entã o, que um vasto grupo d e d eputad os oposicionistas
d ecid e apresentar um projecto sum á rio, em 7 artigos, contend o as bases d o
sistem a d e ad m inistraçã o e um a autorizaçã o ao governo para, posterior-
m ente, legislar em conform id ad e d o que fosse aprovad o. Retom avam -se os
d ezassete cí rculos ad m inistrativos, agora d enom inad os d istritos, ad m inis -
trad os por um m agistrad o d e nom eaçã o régia; os d istritos d ivid ir -se-iam
em concelhos, ond e existiria um ad m inistrad or, d e nom eaçã o m ista; have-
ria aind a um a junta electiva em cad a paróquia. Quand o à execuçã o d as
d eliberações d as câ m aras, m atéria d e m ais d ifí cil consenso, usava -se um a
expressã o vaga. Ad vinhe-se quem era o prim eiro subscritor d o projecto:
D. Bernard a Clara, quer d izer, António Dias d e Oliveira, o espiã o. Estava -
-se a 8 d e Abril d e 1835.
Perfeitam ente por acaso, d ir-se-ia, na m esm í ssim a sessã o, o hom em
que em Fevereiro d esse ano assum ira a pasta d o Reino, Agostinho José
Freire, apresentava tam bém um ped id o d e autorizaçã o legislativa para o
governo, a que Palm ela continuava a presid ir, reform ar o sistem a ad m inis -
trativo, extinguind o um a d as três escalas existentes, aum entand o o núm ero
d os cí rculos m aiores e red uzind o o d os con celhos. Com o se im agina, a par-
tir d aqui o entend im ento entre a esquerd a e a d ireita foi relativam ente sim -
ples e facilitad o por oportunas intervenções d e Freire e Dias d e Oliveira.
O m inistro estava claram ente d isposto a ced er quanto aos escalões
d o sistem a ad m inistrativo. Preferia até que as circunscrições m aiores fos-
sem m enos d o que d ezassete (Diá rio da Câ mara dos Senhores Deputados,
1835, p. 810). Record e-se que Freire havia feito parte d a Com issã o d e
Estatí stica d as Cortes legislativas d e 1823 que tinha proposto um m apa
ad m inistrativo com 11 d istritos. Por isso, em 1835, foi aprovad o que
haveria até 17 d istritos ad m inistrativos. A nom eaçã o m ista d os
ad m inistrad ores d e concelho nã o levantava problem as.
Freire aceitava tam bém a autonom ia d as câ m aras: “ na m inha opiniã o
é um a injustiça m and ar-se um proved or ad m inistrar os interesses d os m u -
nicí pios, porque isto será o m esm o que substituir os juí zes d e fora.”
(ibidem, p. 811)
Este era um ponto essencial para a esquerd a. Dizia Barjona: “ o pre -
sid ente d as câ m aras m unicipais d eve ser o executor d as suas ord ens”
88 A Revoluçã o
TERRITÓRIO E PODER
A Revoluçã o 89
SILVEIRA
90 A Revoluçã o
TERRITÓRIO E PODER
Quad ro XIV
Magistrados e corpos administrativos. Legislaçã o de 1835
Circunscriçã o Magistrado Corpos administrativos
Distrito Governad or Civil Ju nta Geral d e Dis- Conselho d e Distrito
trito
Concelho Ad m inistrad or d e Câ m ara Mu nicip al
Concelho
Fregu esia Com issá rio d e Ju nta d e Paróqu ia
Paróqu ia
—————————————————————————————————————
N ota: entre 1836 e 1842 o governad or civil cham ou -se ad m inistrad or geral d e d istrito,
regressand o-se nesta d ata à d esignaçã o anterior. O com issá rio d e paróquia, d epois d e 1836,
foi d esignad o por reged or d e paróquia. Em 1840, os órgã os paroquiais, em bora continuassem
a existir, d eixaram d e fazer parte d a or ganizaçã o ad m inistrativa. N este ano foi criad o o con -
selho m unicipal.
A Revoluçã o 91
SILVEIRA
92 A Revoluçã o
TERRITÓRIO E PODER
51 Sobre a origem d o m apa d os d istritos, ver José António Santos - Regionalizaçã o, p. 84.
52 Apud Maria d e Fá tim a N unes - O Liberalismo Português, p. 150.
A Revoluçã o 93
SILVEIRA
94 A Revoluçã o
TERRITÓRIO E PODER
54 Apud Maria d e Fá tim a N unes - O Liberalismo Português, p. 151. Sobre os d istritos ver
António Ped ro Manique - M ouzinho da Silveira, p. 154.
55 António Ped ro Manique - M ouzinho da Silveira, p. 158.
A Revoluçã o 95
O funcionamento do sistema administrativo de 1835
Os prim eiros anos d o regim e liberal foram tem pos extrem am ente
com plicad os. O paí s, saí d o d e um a guerra civil, vivia um a época econom i-
cam ente d ifí cil, m otivad a pela d esestruturaçã o d o im pério colonia l e pela
natural d esorganizaçã o d a ind ústria e d a agricultura, que sofriam tam bém
as consequências d a m ud ança d o quad ro legal em que operavam . As d ifi-
culd ad es económ icas m ultiplicavam os pobres que se juntavam aos jovens
que aband onavam o exército e am bos alim entavam um surto d e band itism o
um pouco por tod o o lad o.
Os liberais, longe d e estar unid os, d iglad iavam -se entre si, sem conse-
guirem chegar a acord o quanto ao sistem a constitucional. Este, por sua vez,
era incapaz d e d ar soluçã o aos conflitos polí ticos que, am iúd e, se trans-
form avam em confrontos m ilitares. Por outro lad o, os m iguelistas, d errota -
d os na guerra, espreitavam a sua oportunid ad e, em conjugaçã o com a
evoluçã o d a situaçã o espanhola, ond e, record e-se, a prim eira guerra civil
entre liberais e absolutistas d urou até 1839.
A conflitualid ad e era aind a agravad a pela legislaçã o revolucioná ria
que, d esd e 1832, vinha a ser publicad a e que afectava quase tod os os sec-
tores d a socied ad e. Entre estes cite-se a Igreja, d uram ente atingid a pela ex-
tinçã o d os d í zim os e d as ord ens religiosas m asculinas. As relações com o
novo regim e foram aind a agravad as pelas d isputas em torno d a nom ea çã o
d os bispos, d and o origem a que um a parte d eles, os que haviam sid o pro -
postos por D. Miguel, nã o fossem reconhecid os pelos liberais e que os bis -
pos apresentad os por estes últim os nã o fossem aceites por Rom a. As d i-
vergências com a Santa Sé levaram m esm o ao rom pim ento d as relações
d iplom á ticas em 1833. A questã o religiosa, nom ead am ente a oposiçã o d e
um a parte d o clero ao novo regim e, contribuiu grand em ente para a d ifí cil
situaçã o em que se vivia.
Em busca d a estabilizaçã o 99
SILVEIRA
1 Arquivo N acional d a Torre d o Tom bo, Ministério d o Reino, A.S.E., m aço 1941. Agrad e -
cem os ao Dr. N uno Pousinho a ind icaçã o d este d ocum ento.
A reforma do sistema
2 Rui Graça Feijó - Liberalismo e Transformaçã o Social. A Regiã o de V iana do A ntigo Re-
gime a Finais da Regeneraçã o, Lisboa, Fragm entos, 1992, p. 208.
3 Declaraçã o d o m inistro d o Reino em Fevereiro d e 1839, na Câ m ara d os Deputad os,
apud Marcelo Caetano - A Codificaçã o A dministrativa em Portugal, p. 343.
m esm o que referend ara o d ecreto d e 18 d e Julho d e 1835, que levou essa re -
visã o até ao fim , vind o a rubricar a lei d e 29 d e Outub ro d e 1840.4
Esta lei e a d e 27 d e Outubro d o m esm o ano, sobre o m od o d e verifi-
caçã o d o censo eleitoral, com plem entad as pela d e 16 d e N ovem bro d e
1841, sobre o conselho m unicipal, invertem a tend ência d escentralizad ora
iniciad a em 1835, reforçand o a influência d o pod er central e apertand o o
controlo d a ad m inistraçã o cam ará ria. Restringem aind a o eleitorad o a ní vel
local, aum entand o o pod er d os hom ens m ais ricos nos concelhos. Por outro
lad o, os órgã os paroquiais, se bem que continuem a existir, d eixam d e fazer
parte d a organizaçã o ad m inistrativa.
O cód igo ad m inistrativo d e 1842, publicad o após a Restauraçã o d a
Carta Constitucional, que m arcou a subid a ao pod er d a facçã o liberal ul-
traconservad ora, m ais nã o fez d o que sistem atizar as inovações d a legisla -
çã o d e 1840-1841, aprofund and o aind a a tutela d a acçã o d os m unicí pios,
ao exigir a aprovaçã o prévia pelo conselho d e d istrito d e m uitas d as d eci-
sões d as câ m aras.
Deste m od o, regressá m os a um sistem a ad m inistrativo m ais próxim o
d aquele que Mouzinho d a Silveira havia pretend id o im plantar. De acord o
com o cód igo d e 1842, que esteve em vigor até 1878, os m agistrad os ao ní -
vel d o d istrito e d o concelho sã o nom ead os pelo rei e o próprio reged or d e
paróquia, que perd eu a qualid ad e d e m agistrad o ad m inistrativo, send o
proposto pelo ad m inistrad or d e concelho, é nom ead o pelo governad or ci-
vil. Este últim o e o reged or d e paróquia possuem o pod er d e executar as
d eliberações d os corpos eleitos nas respectivas circunscrições.
A junta geral d e d istrito é, com o a junta d e p roví ncia d e 1832, o re-
sultad o d e um a escolha orgâ nica, send o eleita pelas câ m aras e conselhos
m unicipais. N ela pod em ter assento, com o acorria d esd e 1835, os ind iví -
d uos com rend im ento suficiente para serem d eputad os. É um corpo que
reúne, ord inariam ente, um a vez por ano, d urante 15 d ias, com funções d e -
liberativas lim itad as.
4 Rod rigo d a Fonseca reassum iu a pasta d o Reino em 26 d e N ovem bro d e 1839, no m inis -
tério d e transiçã o presid id o pelo Cond e d e Bonfim , em que a esquerd a e a d ireita esta vam re-
presentad as.
N a letra d a lei, o regim e estabelecid o pelo cód igo d e 1842 era, ind is -
cutivelm ente, centralizad or. Mas com o d ecorreu a sua aplicaçã o prá tica?
Para que a centralizaçã o legal passasse a ser real, era necessá rio que
o Estad o possuí sse um a m á quina ad m inistrativa eficiente, d ispond o d e
m eios m ateriais e d e um funcionalism o suficiente em núm ero e com petente.
Com o aquele a que Mouzinho d a Silveira se referia neste passo: “ Sexta
Tese: A falta d e um a lei, que tolha os requerim entos para em prego s d e Fa-
zend a a quem nã o tiver ad quirid o os conhecim entos necessá rios para os
d esem penhar - Quand o eu propus ao Sr. D. Ped ro o d ecreto d a
organizaçã o elem entar d a Fazend a estabeleci este princí pio e em tod os os
Estad os bem governad os os cand id atos [passam ] para tud o por um a
rigorosa fieira d e exam es, e na Prússia aond e isto tem sid o levad o ao
m á xim o rigorism o os em pregad os sã o óptim os, e o filho d o Rei que nã o
satisfez em público aos exam es requerid os e que se nã o m ostra m elhor que
os seus concorrentes para o lugar d e alferes nunca é alferes.” 5
A instituiçã o d o concurso público para o recrutam ento d os funcioná -
rios d o Estad o procurava assegurar a iguald ad e d e oportunid ad es d os
cand id atos e um a selecçã o basead a no m érito, em d etrim ento, portanto, d e
privilégios d e grupo e d e consid erações d e cará cter pessoal ou polí tico. A
aplicaçã o d este proced im ento representava um progresso no plano d os d i-
reitos d o ind iví d uo e era, ao m esm o tem po, um a form a d e conseguir o
aperfeiçoam ento d a m á quina estatal.
5 Parecer sobre os princí pios que d evem reger o funcionam ento d as alfâ nd egas. Sem
d ata, possivelm ente d o iní cio d a d écad a d e 1840, in Miriam H alpern Pereira (coord .) - M ou-
zinho da Silveira. Obras, vol. I, p. 973.
6 Ver, sobre esta m atéria, António Ped ro Ginestal Tavares d e Alm eid a - A Construçã o do
Estado Liberal. Elite Polí tica e Burocracia na “ Regeneraçã o” (1851-1891), vol. II, Lisboa, 1995,
pp. 260-268.
trar nã o é assinar ofí cios, é com prar m uitos livros, estud ar m uitas
questões, […]” [itá licos nossos]. 8
A d ebilid ad e d a ad m inistraçã o periférica fazia com que o Estad o,
para controlar o território, se apoiasse no pod er d as elites locais. É esse o
sentid o d a exigência d e um m í nim o d e rend im ento que, d esd e 1835, se fa-
zia para se ser eleitor ou elegí vel para os vá rios corpos d a ad m inistraçã o
d istrital, concelhia e paroquial, a que se juntava a necessid ad e d e resid ên-
cia na respectiva circunscriçã o. E os requisitos d e rend im ento, bem com o a
sua verificaçã o, foram reforçad os pelas reform as d e 1840-1841, com o vi-
m os. Por outro lad o, se o governad or civil era nom ead o livrem ente pelo go -
verno, aos ad m inistrad ores d e concelho (até 1842) e aos com issá rios/
/ reged ores d e paróquia eram feitas as m esm as exigências d e rend im ento e
resid ência que aos m em bros d os correspond entes corpos ad m inistrativos.
Do ponto d e vista d a relaçã o com as elites locais, o Estad o portuguê s
aproxim ou -se d os seus congéneres d a época. Por outro lad o, esta relaçã o
com as elites é sem elhante à que existia no Antigo Regim e, d urante o qual,
por nã o d ispor d e um funcionalism o num eroso e por acred itar na autori-
d ad e natural e na m aior isençã o no d esem penho d os cargos, d ecorrente d a
posse d e recursos próprios, a coroa confiava o exercí cio d o governo m uni-
cipal à gente nobre d a governança. O que agora se alterou foi o critério d e
form açã o d as elites que d eixou d e ser basead o no sangue, para se fund ar
na riqueza.9
Quais foram as repercussões d esta m od ificaçã o no recrutam ento
efectivo d as elites m unicipais? Dispom os d as conclusões d o estud o d e al-
guns casos e d e elem entos d e outras investigações aind a a d ecorrer que,
globalm ente, nos d ã o um a im agem d iferenciad a.
Assim , num a regiã o d e pequena propried ad e e num d os poucos con -
celhos d o paí s cujo território nã o sofreu m od ificações, Vale d e Cam bra, o
governo d o m unicí pio, no Antigo Regim e, era d esem penhad o por proprie -
8 D. António d a Costa d e Sousa d e Maced o - Estatí stica, p. 150. Sobre tod os estes aspec-
tos, ver Lu í s N uno Espinha d a Silveira - Estad o Liberal e Centralizaçã o. Reexam e d e um
Tem a, in id em (coord .) - Poder Central, Poder Regional, Poder Local. Uma Perspectiva His-
tórica, Lisboa, Cosm os, 1997.
9 Sobre o Antigo Regim e ver N uno Gonçalo Monteiro - Os Poderes Locais no A ntigo Re-
gime, p. 63.
13 Elem entos d a d issertaçã o d e m estrad o d e Paulo Jorge d a Silva Fernand es, em ela bora-
çã o no Departam ento d e H istória, Faculd ad e d e Ciências Sociais e H um anas d a U.N . L.
14 Joã o Manuel Rod rigues Pereira - Elites Locais e Liberalismo. Torres V edras 1792-1878,
Lisboa, 1997, policopiad o.
15 Paulo Jorge Azeved o Fernand es - A s Faces de Proteu, pp. 238-240.
16 Em 1835 e 1836 as câ m aras nom eavam os vogais d as juntas d e lançam ento, capa cid ad e
que perd eram em 1837 quand o aquelas juntas passaram a ser constituí d as por m em bros
ind icad os pelo ad m inistrad or geral d e d istrito e por m em bros eleitos. Após 1838 o Es tad o
procu rou lançar os im postos através d os seus funcioná rios, m as em 1852 ped iu, d e novo, a
colaboraçã o d as câ m aras que voltaram a d esignar um a parte d os vogais d as juntas d e re -
partid ores (escolhid os, segund o a lei, entre os proprietá rios) e aind a os avaliad ores.
17 António Ped ro Ginestal Tavares d e Alm eid a - A Construçã o do Estado Liberal. vol. I, pp.
167-169.
18 Paulo Jorge Azeved o Fernand es - A s Faces de Proteu, pp. 224-225
19 Ver Lu í s N uno Espinha d a Silveira - Estado Liberal e Centralizaçã o. Sobre o problem a
d a cobrança d e im postos em Espanha ver Juan Pro Ruiz - Las Elites Locales y El Pod er Fiscal
d el Estad o en la España Contem porá nea, in Les É lites Locales et l’ É tat dans l’ Espagne M oder-
ne, X V I-X IX Siècle, Paris, CN RS, 1993, pp. 283-294.
Por outro lad o, há sinais d e que, m esm o num perí od o geralm ente
visto com o correspond end o a um a fase d e centralizaçã o d o pod er, a d é-
cad a d e 1840, o controlo d as câ m aras era m uito m enos eficaz d o que se
supõe: no d istrito d e Leiria, por exem plo, alguns m unicí pios nã o prestaram
contas entre 1843 e 1852.
Os próprios órgã os d istritais tinham d ificuld ad e em im por as suas
d eliberações. N a assistência aos expostos, um a com petência d escentrali-
zad a, as juntas d e d istrito tinham capacid ad e d e d ecisã o e d e regulam en -
taçã o. Um a vez m ais recorrend o ao exem plo d e Leiria, verificam os que, en -
tre 1838 e 1852, nenhum a câ m ara pagou o que d evia e, em alguns anos, al-
gum as nã o pagaram nad a, porque tinham d í vid as d e im postos que nã o
queriam cobrar, o que as d eixava com falta d e recursos, e porque nã o con -
cord avam com o regulam ento d a assistência. Só quand o este foi alterad o a
situaçã o se com eçou a regularizar. 20
Para concluir, d urante a Revoluçã o Liberal a reform a d o Estad o por -
tuguês seguiu o m od elo francês. Mas, nã o d ispond o d e um a burocr acia
abund ante e com petente, aquele apoiou -se no pod er d as elites locais, com o
ocorreu em França ou em Espanha, cujos sistem as se aproxim avam , d este
ponto d e vista, d o m od elo inglês.
O que é especí fico d a evoluçã o nacional é o respeito pelo espaço
próprio d o m unicí pio, d efend id o pela esquerd a e tam bém por sectores d a
d ireita liberal, o que nã o aconteceu em França ou em Espanha. Em Portu -
gal, reconquistad a um a relativa autonom ia em 1835, quand o a centraliza-
çã o se reforçou, anos m ais tard e, o controlo d o m un icí pio, d e acord o com a
lei, fazia-se através d o exercí cio d a tutela pelos órgã os d istritais, o que é
substancialm ente d iferente d o que ocorreu naqueles paí ses, ond e o presi-
d ente d a câ m ara era nom ead o pelo governo. N a prá tica, em Portugal, a
d ebilid ad e d o Estad o central d eixou ao m unicí pio algum espaço d e actua -
çã o e algum a capacid ad e d e resistência face aos representantes d o pod er
central e m esm o face aos órgã os d istritais.
N ã o d evem os, no entanto, exagerar nesta tentativa d e rever a im agem
d o m unicí pio no século passad o. É essencial lançar, d e form a fund am en -
tad a, novas id eias que sejam capazes d e aliviar o peso esm agad or d os es -
critos d e autores com o Alexand re H erculano, H enriques N ogueira ou Lobo
d ’ Ávila, id eias que sustentem novas investigações. Mas nã o exagerem os.
O m unicí pio português no século XIX apresenta evid entes sinais d e d ebili-
d ad e. Exam inem os, sinteticam ente, d ois aspectos essenciais: as eleições e
as finanças locais.
Face ao Antigo Regim e, as eleições censitá rias representaram um pro -
gresso: alargou -se, em regra, o núm ero d e eleitores, ultrapassand o -se o es-
trito cí rculo d a gente nobre d a governança. Aquele núm ero continuava, no
entanto, a ser m uito restrito. N as eleições m unicipais d e 1847 variou entre
os 1 659 cid ad ã os no conjunto d os concelhos d o d istrito d e Beja e os
14 034 no d o Porto 21. Dois terços d os m unicí pios tinham m enos d e 500
ind iví d uos inscritos no recenseam ento eleitoral. Dad a a precaried ad e d as
estatí sticas d em ográ ficas, é aventuroso estabelecer a relaçã o entre os
eleitores e a populaçã o total: d e form a aproxim ad a, no concelho d e Lisboa,
aqueles correspond eriam a 8,4% d esta. O núm ero d e elegí veis que, na
d écad a d e 1840, variava consoante a d im ensã o d o concelho, era aind a
m ais red uzid o: em Lisboa correspond ia a 1,7% d o total d a populaçã o.
Razã o tinham aqueles que se queixavam d o d esinteresse d os povos
em relaçã o aos actos eleitorais: nas m esm as eleições m unicipais d e 1847, a
abstençã o m éd ia para o conjunto d o paí s foi d e 58,1%. N os m unicí pios
m ais urbanizad os este valor d im inuí a um pouco e na capital d o paí s, ond e
as eleições se revestiam d e um cará cter algo m ais m od erno, a abstençã o fi -
xou -se em 46,7%. A polí tica, m esm o a m unicipal, era apaná gio d e um nú -
m ero m uito pequeno d e cid ad ã os. 22
Por outro lad o, o m unicí pio era um a entid ad e, em regra, pobre. É cer -
tam ente necessá rio introd uzir um a d istinçã o entre os concelhos d as cid a-
d es m ais im portantes e os restantes. Lisboa com os seus 206 contos d e réis
d e receita em 1850 é um caso absolutam ente excepcional. 23 Mas os m unicí -
pios d e algum as capitais d e d istrito nã o fugiam à im agem geral d e po breza.
24 Ver Lu í s N uno Espinha d a Silveira - Estado Liberal, Centralismo e A tonia da V ida Lo-
cal, no prelo.
As proví ncias
25 N as eleições d e 1822 e nas d e N ovem bro d e 1836, que tiveram lugar na vigência d a
Constituiçã o d e 1822, bem com o nas d e 1838 e 1840, quan d o esteve em vigor a Constituiçã o
d e 1838, o paí s foi d ivid id o em cí rculos que pod iam ou nã o coincid ir com os d istritos. É
interessante notar que, ao contrá rio d o que aconteceu nos casos ind icad os no texto, nas
eleições d e 1822, d e 1838 e d e 1840 exigia -se que tod os ou parte d os d eputad os fossem na -
turais ou resid entes na proví ncia a que pertencia o cí rculo d e eleiçã o.
1836 sã o d ifí ceis d e d esenhar com rigor, pois a legislaçã o eleitoral, em bora
m antenha as proví ncias previstas em 1834, nã o especifica a correspond ên-
cia entre elas e os d istritos. Mas nã o d evem ser m uito d istintas d o m apa d e
1842 (n.º 15).
Este últim o, se tem um núm ero d e d ivisões id êntico ao d e 1834, d ifere
m uito nas suas fronteiras interiores, e estas d iferem tam bém d os lim ites
d as proví ncias que chegaram até 1826. Trá s-os-Montes e o Algarve sã o as
regiões que em 1842 m ais sem elhanças têm com as d o passad o.
É certo que a m anutençã o d a proví ncia com o circunscriçã o eleitoral
d ecorria d e um a exigência d o próprio texto d a Carta. Contud o, um regim e
que estivesse apostad o em d issolver antigas id entid ad es, nã o pod eria atri -
buir à s proví ncias, m esm o m od ificad as, um a funçã o tã o d ecisiva.
Os distritos
27 Porto, Bragança, Viseu, Aveiro, Coim bra, Castelo Branco, Leiria, Lisboa, É vora, Beja
e Faro.
28 Em 18 d e Julho d e 1835 Viseu viu negad a a cond içã o d e capital d e d istrito a favor d a
cid ad e d e Lam ego, m as por d ecreto d e 15 d e Dezem bro d o m esm o ano reconquistou -a.
Os concelhos
Quad ro XV
Evoluçã o dos concelhos 1826-1842
Classes N .º de concelhos % Área (Km2) %
1 70 8,88 14 570,05 16,53
2 436 55,33 16 551,45 18,78
3 282 35,79 57 004,67 64,69
Total 788 100,00 88 126,17 100,00
—————————————————————————————————————
A transform açã o operou -se através d e um corte rad ical d o núm ero d e
concelhos com m enos d e 100 Km 2 d e á rea (ver quad ros IV, XVII e m apa n.º
23), tend o-se d issipad o, em especial, a nuvem d e m unicí pios m inúsculos,
que nã o iam além d e 40 Km 2 (quad ros III e XVI). Em consequência, a á rea
m éd ia d os concelhos subiu d e 112 para 232 Km 2. Um terço d estas circuns -
N ota: núm ero d e concelhos cuja á rea nã o foi d eterm inad a - 0; á rea para a qual nã o se
encontrou correspond ência nos concelhos d e 1842: 321,01 Km2, correspond end o a 0,36% d a
superfí cie total d o continente .
Quad ro XVIII
Concelhos de 1842 - Área por proví ncia
Proví ncia\ Área (Km2) 99 199 299 399 499 999 1000 Total
Alentejo 2 9 5 13 4 11 6 50
Algarve 2 4 3 2 4 15
Beira Alta 22 13 4 1 40
Beira Baixa 5 15 10 7 4 6 47
Douro 32 36 8 1 77
Estrem ad ura 30 18 10 8 3 6 2 77
Minho 12 11 4 5 32
Trá s-os-Montes 10 8 11 9 3 3 44
Total 115 114 55 45 15 30 8 382
—————————————————————————————————————
Área (Km2): os valores inscritos nesta linha ind icam o lim ite superior d a classe.
N ota: ver quad ro XVI.
Quad ro XIX
Concelhos de 1842 - Área por distrito
D istrito\ Área (Km2) 99 199 299 399 499 999 1000 Total
Aveiro 9 12 3 24
Beja 1 2 1 2 7 4 17
Braga 10 3 4 2 19
Bragança 1 9 4 3 2 19
Castelo Branco 1 5 3 3 5 17
Coim bra 12 16 3 1 32
É vora 2 1 5 2 2 2 14
Faro 2 4 3 2 4 15
Guard a 5 14 5 4 1 1 30
Leiria 6 5 2 1 1 1 16
Lisboa 20 9 4 2 1 2 1 39
Portalegre 1 5 3 6 2 2 19
Porto 11 8 2 21
Santarém 4 4 4 5 1 3 1 22
Viana 2 8 3 13
Vila Real 10 7 2 5 1 25
Viseu 22 13 4 1 40
Total 115 114 55 45 15 30 8 382
—————————————————————————————————————
Área (Km2): os valores inscritos nesta linha ind icam o lim ite superior d a classe.
N ota: ver quad ro XVI.
Quad ro XX
Concelhos de 1842 - Área média por proví ncia
Proví ncia Área média (Km2)
Douro 115,82
Beira Alta 118,93
Minho 152,17
Estrem ad ura 227,49
Trá s-os-Montes 247,87
Beira Baixa 267,36
Algarve 326,92
Alentejo 479,68
Quad ro XXI
Concelhos de 1842 - Área média por distrito
D istrito Área média (Km2)
Porto 108,98
Aveiro 114,78
Viseu 118,93
Coim bra 121,09
Braga 143,39
Viana 165,01
Vila Real 173,13
Lisboa 183,55
Guard a 195,45
Leiria 213,27
Portalegre 297,13
Santarém 315,71
Faro 326,92
Bragança 346,22
Castelo Branco 394,26
É vora 522,16
Beja 648,73
Quad ro XXII
N úmero de indiví duos por concelho de 1842
N .º de indiví duos N .º de concelhos % % acum.
0 - 999 1 0,26 0,26
1 000 - 1 999 11 2,89 3,16
2 000 - 2 999 40 10,53 13,68
3 000 - 3 999 65 17,11 30,79
4 000 - 4 999 66 17,37 48,16
5 000 - 9 999 129 33,95 82,11
10 000 - 19 999 53 13,95 96,05
>=20 000 15 3,95 100,00
Total 380 100,00
—————————————————————————————————————
Repare-se, entã o, que houve um corte rad ical, em núm eros absolutos,
d os concelhos com m enos d e 2000 ind iví d uos e m uito pronunciad o na
classe seguinte. Por outro lad o, verificou -se um reforço substancial d os
m unicí pios cuja populaçã o se situava entre os 4000 e os 10000 habitantes.
Em term os percentuais, um pouco m enos d e m etad e d os concelhos ficou
com m enos d e 5000 ind iví d uos, registand o-se um peso relativo acentuad o
d a classe entre os 5000 e os 10000 habitantes.
Os núm eros apresentad os retratam um traço m uito original d a evolu -
çã o portuguesa: o red im ensionam ento d os concelhos, que crescem em á rea
e populaçã o, obtid o através d a red uçã o rad ical d o seu núm ero e d a red efini-
çã o d as suas fronteiras. Em Espanha, com o vim os (capí tulo II), a Revolu çã o
m ultiplicou -os e foi d im inuind o o m í nim o d e habitantes exigid o para
constituir um m unicí pio d os 1000, d ecretad os em 1812, até aos 150,
fixad os em 1845. Daqui resultou que, em finais d o século passad o, a
m aioria d os 9287 m unicí pios espanhóis tinha m enos d e 1000 alm as,
enquanto em Portugal, em 1826, antes, portanto, d a reform a, 37% d os
concelhos estava nessas cond ições. Estam os, portanto, perante realid ad es
substancialm ente d iferentes.29
A intervençã o registad a entre nós em 1836 nã o teve, apesar d e tud o,
a profund id ad e necessá ria, pois, o problem a d a d im ensã o d os m unicí pios
continuará a ser d iscutid o ao longo d o século XIX, send o um factor im por -
tante para explicar a sua d ebilid ad e financeira. Em 1855 nova red uçã o se
verificou, passand o entã o a existir 256 concelhos. 30
As freguesias
Quad ro XXIII
Freguesias de 1842 nã o cartografadas - D istribuiçã o por proví ncia
Proví ncia Total de freguesias Freguesias nã o cartografadas %
Alentejo 314 67 21,34
Algarve 62 1 1,61
Beira Alta 348 5 1,44
Beira Baixa 499 18 3,61
Douro 732 15 2,05
Estrem ad ura 472 28 5,93
Minho 785 21 2,68
Trá s-os-Montes 556 31 5,58
Total 3768 186 4,94
—————————————————————————————————————
N ota: á rea para a qual nã o se encontrou correspond ência nas freguesias d e 1842:
1173,57 Km2, equivalend o a 1,32% d a superfí cie total d o con tinente.
Quad ro XXIV
Freguesias de 1842 - Área
Área (Km2) N .º de freguesias % % acum.
0- 9 1508 42,10 42,10
10 - 19 906 25,29 67,39
20 - 29 424 11,84 79,23
30 - 39 236 6,59 85,82
40 - 49 127 3,55 89,36
50 - 59 77 2,15 91,51
60 - 69 46 1,28 92,80
70 - 79 36 1,01 93,80
80 - 89 28 0,78 94,58
90 - 99 23 0,64 95,23
>=100 171 4,77 100,00
Total 3582 100,00
—————————————————————————————————————
N ota: núm ero d e freguesias cuja á rea nã o foi d eterm inad a - 186;
Área para a qual nã o se encontrou correspond ência nas freguesias d e 1842: 1173,57 Km2,
equivalend o a 1,32% d a superfí cie total d o continente.
Quad ro XXV
Freguesias de 1842 - Área média por proví ncia
Proví ncia N .º de freguesias Área média (Km2)
Minho 764 6,35
Douro 717 12,36
Beira Alta 343 13,86
Trá s-os-Montes 525 20,68
Beira Baixa 481 26,00
Estrem ad ura 444 38,18
Algarve 61 80,39
Alentejo 247 96,69
Total 3582
—————————————————————————————————————
Quad ro XXVI
Freguesias de 1842 - Área média por distrito
D istrito N .º de freguesias Área média (km2)
Braga 487 5,56
Porto 360 6,35
Viana 277 7,73
Viseu 343 13,86
Aveiro 172 15,95
Guard a 335 17,34
Vila Real 248 17,42
Coim bra 185 20,73
Bragança 277 23,60
Leiria 107 30,74
Lisboa 203 34,82
Castelo Branco 146 45,87
Santarém 134 49,20
Portalegre 77 73,32
Faro 61 80,39
É vora 78 93,72
Beja 92 118,78
Total 3582
—————————————————————————————————————
N ota: núm ero d e freguesias em relaçã o à s quais nã o foi possí vel calcular a populaçã o -
100.
Fonte: ver anexo II.
Conclusã o 131
SILVEIRA
132 Conclusã o
TERRITÓRIO E PODER
Conclusã o 133
Anexo I
Metodologia de elaboraçã o das cartas geográ ficas
1 O d ecreto d e 6 d e N ovem bro d e 1836, por exem plo, ad m ite ter om itid o freguesias. Sobre
a d ificuld ad e d e tratam ento d este tipo d e fontes, d ad as as falhas que contêm , ver Fausto J. A.
d e Figueired o - A Reforma Concelhia de 6 de N ovembro de 1836.
Anexos 137
SILVEIRA
138 Anexos
TERRITÓRIO E PODER
freguesias d e 1991 e vice-versa). Este facto levou -nos a criar m ais três tabe-
las para as interligar.
Anexos 139
SILVEIRA
Problemas
3 O m étod o retrospectivo foi igualm ente usad o noutros trabalhos d e cartografia h istórica.
Ver a sua ind icaçã o na nota 2 d a introd uçã o.
4 Ver na bibliografia a ind icaçã o d as Obras de Referência sobre a Evoluçã o do Território.
O anexo ao d ecreto d e 6 d e N ovem bro d e 1836 foi um auxiliar precioso para a com pre ensã o
d a transform açã o operad a neste ano ao ní vel d os concelhos. Em certos casos, consultá m os
aind a trabalhos especí ficos sobre algum as localid ad es, os quais estã o igualm ente cita d os na
bibliografia.
140 Anexos
TERRITÓRIO E PODER
Anexo II
A qualidade dos dados do censo de 1828
Anexos 141
SILVEIRA
por nã o se ind icar d etalhad am ente o núm ero d e ind iv í d uos d e cad a fre-
guesia d e Lisboa, apresentand o-se antes um a estim ativa para o conjunto
d a cid ad e, basead a nos nascim entos d e um quinquénio.
Estes d ois casos põem -nos d e sobreaviso quanto à qualid ad e d o re-
censeam ento efectuad o: há originais que se perd eram ; há inform ações
pouco exactas. Contud o, a atitud e assum id a em relaçã o à capital m ostra
tam bém que houve um certo cuid ad o aquand o d a publicaçã o d os núm eros,
preferind o-se apresentar um d ocum ento com lacunas a um d ocum ento com
d ad os que na altura pareciam suspeitos. A realizaçã o d as eleições, para as
quais a inform açã o d em ográ fica era fund am ental, aconselhava prud ência.
Por outro lad o, a leitura d o m apa m ostra que o núm ero d e ind iví d uos
nã o resulta nem d e um cá lculo arred ond ad o, nem d e um a m ultiplicaçã o d o
núm ero d e fogos por um coeficiente.
Finalm ente, a com paraçã o d os d ad os referentes a 1828 com os d o
M apa da Populaçã o do Reino de Portugal em 1820 (quad ro XXVIII), aponta no
sentid o d a verosim ilhança d os núm eros cuja qualid ad e tem os estad o a co -
m entar. A evoluçã o d o conjunto d a populaçã o portuguesa, na prim eira m e -
tad e d o século XIX, está praticam ente por estud ar. Os únicos d ad os segu -
ros que possuí m os referem -se a 1801 e resultam d o trabalho d e Fernand o
d e Sousa. Para os anos posteriores pouco m ais se tem feito d o que repro -
d uzir as inform ações d a época. Os elem entos d isponí veis sugerem um a
quase estagnaçã o ou, quand o m uito, um crescim ento lento d a populaçã o
d o continente: em 1801 haveria 2 912 673 ind iví d uos; em 1820, 3 013 900;
em 1835, 3 061 684. Os 3 006 045 d e 1828, núm ero a que se chega d epois
d e suprid as, d e form a rud im entar (ver nota ao quad ro XXVIII), as lacunas
d o recenseam ento d este ano, nã o d estoam d esta evoluçã o. 7
7 1801: Fernand o d e Sousa - A Populaçã o Portuguesa nos Iní cios do Século X IX ; 1820: A l-
manaque Português, Lisboa, 1826, pp. 1-5; 1835: Joel Serrã o – Fontes de Demografia Portugue-
sa, p. 122.
142 Anexos
TERRITÓRIO E PODER
Quad ro XXVIII
Comparaçã o dos dados dos censos de 1820 e 1828
Proví ncia N .º freguesias Indiví duos
1820 1828 1820 1828 1828-1820
Alentejo 368 368 289640 291490 1850
Algarve 66 67 113600 105976 -7624
Beira 1261 1251 904270 933339 29069
Estrem ad ura 475 472 652490 456178 -196312
Minho 1230 1231 750820 720684 -30136
Trá s-os-Montes 701 699 267750 269513 1763
Total 4101 4088 2978570 2777180 -201390
—————————————————————————————————————
Fontes: Censo d e 1820 - A lmanaque Português, Lisboa, 1826, pp. 1-5. Censo d e 1828 -
Decreto d e 3 d e Junho d e 1834, Mapa n.º 1, in An tónio Delgad o d a Silva - Colecçã o da
Legislaçã o Portuguesa desde a última Compilaçã o das Ordenações. Legislaçã o de A gosto de 1833
a Dezembro de 1834, Lisboa, 1837, pp. 472-589.
N ota: Para que esta com paraçã o fosse possí vel, os d ad os d o recen seam ento d e 1828,
publicad os d e acord o com a d ivisã o ad m inistrativa d e 1834, foram rea grupad os segund o a
d ivisã o ad m inistrativa d e 1826, a qual servira igualm ente d e base à publicaçã o d o censo d e
1820. N o entanto, com o se pod e ver, há d ivergência no total d e freguesias. N o quad ro nã o
foi consid erad a a correcçã o introd uzid a aquand o d a publicaçã o d o censo d e 1820, referente
à tropa d e linha, religiosos e religiosas, 35 330 ind iví d uos no total, por nã o estar d istribuí d a
geograficam ente. A transposiçã o d a inform açã o d o recenseam ento d e 1828 d e um a para
outra d as d ivisões ad m inistrativas provocou um a perd a d e 11 376 ind iví d uos,
correspond end o a 0,4% d o total entã o apurad o (2 788 556).
Repare-se que o recenseam ento d e 1828 nã o inclui os ind iví d uos d as paróquias urbanas
d o Porto e d e Lisboa. Se aos 2 788 556 habitantes subtrairm os os d o term o d o Porto (10 900)
e d e Lisboa (41 611) e lhe ad icionarm os a populaçã o d os d ois concelhos em 1820 (60 000 no
caso d o Porto e 210 000, no d e Lisboa), obtem os um total d e 3 006 045 ind iví d uos em 1828.
Anexos 143
SILVEIRA
Anexo III
Legislaçã o sobre a divisã o do território
(1832-1840)
144 Anexos
TERRITÓRIO E PODER
Anexos 145
Fontes
Manuscritas
A rquivo Histórico do M inistério das Obras Públicas
Com issã o Encarregad a d e Prop or o Plano d a N ova Divisã o Eclesiá stica e
Ad m inistrativa. Map a Alfabético d as Fregu esias d o Continente d o Reino con-
form e a N ova Divisã o Territorial Civil, Ju d iciá ria, Eclesiá stica e Militar, com
referência ao Sistem a Antigo [até Od eleite], caixa 6
Impressas
Códigos e constituições
Bibliografia 149
SILVEIRA
Colecções de leis
Outras
150 Bibliografia
TERRITÓRIO E PODER
Bibliografia 151
SILVEIRA
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