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Exemplo 14

A sociedade Mercúrio, Lda. dedica-se à construção de imóveis para venda. Em janeiro de


2021, devido à crescente dificuldade em vender dois imóveis em inventário, celebrou um
contrato com a empresa Juno com as seguintes condições: a Juno tomará posse do imóvel
em maio de 2021 para proceder a obras de adaptação do imóvel à sua atividade de
hotelaria; nos 12 meses seguintes pagará um valor de 5 mil euros mensais pela utilização
do referido imóvel; a escritura definitiva só será celebrada em junho de 2022, pelo valor
total de 350.000 euros mas sendo descontado o valor dos pagamentos mensais efetuados
pela Juno.
Quando é que, para efeitos de IRC, deve ser reconhecido o rédito da venda o imóvel por
parte da sociedade Mercúrio?
Resolução:
As condições do contrato levam-nos a concluir que a sociedade Mercúrio terá transferido
para a empresa Juno os riscos e vantagens significativos da propriedade dos bens, em
maio de 2021, pois a compradora irá já nele proceder às obras necessárias para o
adaptar à atividade aí a desenvolver, sendo que a quantia do rédito pode ser fiavelmente
mensurada, bem como os gastos inerentes à transação. O facto da escritura apenas ser
realizada em junho de 2022, não impede que o rédito desta operação deva ser
reconhecido em 2021, quer de acordo com as normas contabilísticas, quer com as normas
fiscais. (nº 3, al. a) e nº 4, do artº 18º CIRC).
NOTA:
No caso de venda em que existam cláusulas de reserva de propriedade, o facto de a
propriedade só ser transmitida posteriormente, não altera o critério de reconhecimento
do rédito. E é assimilada a venda com reserva de propriedade a locação em que exista
uma cláusula de transferência de propriedade vinculativa para ambas as partes (n.º 4 do
art.º 18º do CIRC).

Exemplo 15
A sociedade Mercúrio, Lda. está também a finalizar a construção de 6 moradias. Em 2021,
entregou aos adquirentes duas das moradias e prevê entregar até final do ano de 2022 as
restantes quatro. Será também em 2022 que concluirá a construção do jardim e restantes
zonas verdes anexas a essas moradias, conforme obrigação que ficou estabelecida
aquando a aprovação dos projetos.
Quando é que, para efeitos de IRC, deve ser reconhecido o rédito da venda das moradias
por parte da sociedade Mercúrio?
Resolução:
Tratam-se de obras efetuadas por conta própria e vendidas fracionadamente, que têm
uma regra específica no n.º 6 do art.º 18º do CIRC. Esta estabelece que o reconhecimento
do rédito e dos gastos incorridos (apurando-se aqui os resultados referentes à venda das
moradias) é efetuado à medida que as citadas moradias forem sendo concluídas e
entregues aos adquirentes. Isto significa que o rédito da venda das duas moradias
entregues em 2021 deve ser reconhecido neste mesmo período, bem como os respetivos
gastos com a sua construção. Mesmo que a Mercúrio ainda não conheça exatamente os
gastos totais que irá suportar com a conclusão da construção do jardim e restantes zonas
verdes, deve efetuar uma estimativa desses gastos por forma a imputá-los, na proporção
devida, a 2021, pois tratam-se de gastos inerentes à construção.
(nº 3, al. a) e nº 6, do artº 18º CIRC
Exemplo 16
O contabilista da sociedade Tétis tomou conhecimento, já após a aprovação de contas de
2021, que existiam 9 faturas de fornecedores de serviços que não lhe tinham sido
entregues para serem registados em 2021, período em que se deram as aquisições. Tais
faturas totalizam 36 mil euros.
Estando as contas da Tétis de 2021 já encerradas e aprovadas, o contabilista da Tétis fez
o registo contabilístico dessas aquisições em 2022, na data em que detetou o erro, e seguiu
as regras da NCRF 4 relativas à correções de erros. Tratando-se de gastos que deveriam
ter sido reconhecidos em 2021 (em subcontas da conta 62 – Fornecimentos e serviços
Externos), sendo um erro materialmente relevante, a contrapartida do crédito das contas
de fornecedores foi a conta 56- Resultados transitados Qual o tratamento em IRC desses
gastos de 2022?

Resolução:
Não sendo gastos imprevisíveis ou manifestamente desconhecidos o contabilista da Tétis
não pode considera-los na determinação do lucro tributável de 2022 (e ainda que a
contrapartida do crédito na conta de fornecedores fosse a conta 6881 - Correções
relativas a períodos anteriores, caso em que teria de acrescer o valor da correção no
quadro 07 ) (artº 18º nº1 e nº 2).

Exemplo 17
A sociedade Pandora, SA. detém 35% da sociedade Prometeu, Lda. usando o método de
equivalência patrimonial para mensuração da participação detida.
Relativamente ao período de 2021, prevê-se que a Prometeu obtenha um lucro
contabilístico de 55.000 euros, pelo que, nesse período de 2021, a Pandora reconheceu
como rendimento 19.250 euros relativo à proporção do lucro obtido pela participada.
Em fevereiro de 2022, realizou-se a Assembleia Geral da Prometeu deliberando-se que
seriam distribuídos, apenas 80% dos lucros obtidos, cabendo à Pandora apenas 15.400
euros. Os lucros em causa foram pagos à Pandora no final do mês de março de 2022.
Qual a relevância fiscal, na declaração modelo 22, da sociedade Pandora destas
operações?

Resolução:
Apesar do registo contabilístico como rendimentos de 2021, pela percentagem dos lucros
obtidos pela participada, tais rendimentos não concorrem para a formação do lucro
tributável da Pandora, em 2021, porque resultam da aplicação do método de
equivalência patrimonial (art.º 18º nº 8 CIRC). No quadro 07 da declaração modelo 22
de 2021, na linha 758, devem deduzir-se os 19.250 euros. Só concorrem para a formação
do lucro tributável os lucros distribuídos à Pandora, o que sucede em 2022, período em
que tais rendimentos lhe foram colocados à disposição. No quadro 07 da declaração
modelo 22 de 2022, na linha 712, devem ser acrescidos 15.400 euros. Isto sem prejuízo
de poder ser aplicado o disposto no art.º 51º do CIRC.

Exemplo 18
A sociedade Miranda exerce a atividade de criação de animais bovinos para a produção
de leite e para revenda.
Relativamente a 2021, registou as seguintes variações de justo valor:
- Propriedades de investimento – ganhos por aumento de justo valor – 14.700 euros;
- Vacas leiteiras – perdas por redução do justo valor – 4.750 euros;
- Vitelos juvenis para venda – ganhos por aumento de justo valor – 8.960 euros;
- Ações de empresa cotada em Bolsa (percentagem detida pela sociedade Miranda: 0,1%)
– perdas por redução de justo valor – 1.100 euros;
- Unidades de participação em fundo de tesouraria com cotação divulgada no site da
CMVM – ganhos por aumento de justo valor – 2.030 euros;

Qual a relevância na determinação do lucro tributável da sociedade Miranda, em 2021,


destes ganhos e perdas por variações de justo valor?

Resolução:
Apenas as variações de justo valor correspondentes aos vitelos juvenis para venda (ativos
biológicos consumíveis), às ações da empresa cotada em Bolsa e das unidades de
participação em fundo tesouraria é que relevam na determinação do lucro tributável da
sociedade Miranda, em 2021. alínea a) e b) do n.º 9 do art.º 18º do CIRC e al.g) do nº 1
do artº 20º CIRC)
No caso das ações verificam-se as três condições previstas na alínea a) do n.º 9 do art.º
18º do CIRC para que concorram para a formação do lucro tributável: são instrumentos
de capital próprio; têm um preço formado em mercado regulamentado e a percentagem
detida pela sociedade Miranda não é igual ou superior a 5% do capital social da
participada.
As unidades de participação são instrumentos financeiros sendo que sociedade faz a sua
mensuração pelo justo valor através de resultados, em conformidade com o normativo
contabilístico aplicável.( alínea a) do n.º 9 do art.º 18º do CIRC)
As variações do justo valor dos demais ativos (ativos biológicos de produção e
propriedades de investimento) não relevam na determinação do lucro tributável da
sociedade Miranda. Deste modo há que proceder às seguintes correções no quadro 07
da modelo 22 de 2021:
- Propriedades de investimento – deduz 14.700 euros no campo 759
- Vacas leiteiras – acresce 4.750 euros no campo 713
(n.º 9 do art.º 18º do CIRC)

Exemplo 19
Em 2021, em virtude de uma restruturação do Departamento de Assistência Técnica a
sociedade acordou com 3 trabalhadores a cessação dos respetivos contratos de trabalho,
tendo sido estabelecidas as respetivas indemnizações no valor total de 72.000 euros.
Embora os contratos de trabalho tivessem cessado em novembro, as indemnizações só
foram pagas aos trabalhadores em janeiro de 2022.
Em que período fiscal deve ser considerado o gasto fiscal decorrente da cessação desses
contratos?

Resolução:
Apesar do montante das indemnizações ter de ser reconhecido como gasto contabilístico
em 2021, período em que se deram as desvinculações dos trabalhadores, tais gastos só
são aceites fiscalmente no período de tributação em que as indemnizações foram pagas
ou colocadas à disposição. O que só ocorre em 2022. (art.º 18º nº 12, CIRC)
Em resumo: no quadro 07 da modelo 22 do período de 2021 acresce-se 72.000 euros e
no quadro 07 da modelo 22 de 2022 deduz-se os 72.000 euros.

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