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Introdução à Saúde

Mental da População
LGBTQIAPN+
Desenvolvimento das
Identidades de Gênero
Professor Saulo Vito Ciasca
Psiquiatra CRM 125035 RQE 57364
Por que estudar sobre IG e OS?
● Cunho científico
● Busca da compreensão do comportamento humano e
sua diversidade
● Jamais com a intenção de modificá-la de alguma
forma
● A tentativa de manipulação de seus fatores com
objetivos de eugenia é antiética e criminosa
● É mais um argumento de que a identidade de gênero e
orientação sexual não são uma escolha e sim um
expressão da diversidade

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Conceito de identidade de
gênero
● Convicção da pessoa em se identificar/reconhecer em
relação ao seu gênero
● Grau de congruência com o gênero designado ao
nascimento
● Auto referida
● Não tem relação com a orientação sexual
● Não tem relação com a expressão de gênero

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Cis e trans
Cisgênero (“Cis”): pessoa que se identifica com o gênero
designado ao nascimento

Transgênero (“Trans”): pessoa que não se identifica com


o gênero designado ao nascimento
● Pessoa trans binária: homem ou mulher
● Pessoa trans não binária

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Erros conceituais frequentes
“Transexual é alguém que não se identifica com o próprio sexo”
“Transexual é alguém que não se identifica com o próprio corpo”
“Considera-se travesti a pessoa que nasceu com um sexo,
identifica-se e apresenta-se fenotipicamente no outro gênero,
mas aceita sua genitália.”
“Transexual é a pessoa que quer modificar seu sexo,
transgênero é a que modifica seu gênero”

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Transexualidade não é
doença ou transtorno mental

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Transgeneridades
Não é doença
Não precisa de tratamento
Modificações corporais (hormonização e cirurgias) não são
terapias / tratamento

Os diagnósticos atuais
CID – 11 – Incongruência de gênero (com o gênero designado ao nascimento)

DSM – 5 – Disforia de gênero – sofrimento e prejuízo decorrentes da


incongruência de gênero
Disforia NÃO é sinônimo de transgeneridade
Há pessoas trans com ou sem disforia

A identidade de gênero é autoatribuída (inclusive na infância)


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Desenvolvimento das
Identidades de Gênero

Fatores
Biológicos

Fatores Fatores Sociais


Psicológicos e Culturais

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Desenvolvimento das
Identidades de Gênero
Aspectos Psicossociais

● Todo ser humano resulta da interatividade de diversos


marcadores, tais como religião, raça, nível
socioeconômico, geração, educação e outros
● Ser homem, mulher ou outros gêneros em cada sociedade
e cultura é diferente
● O ambiente interfere na expressão de gênero
● Feminino e masculino são classificações de um mundo
social usados na identificação de atividades, lugares,
objetos, profissões. Pode mudar com o tempo!
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Aspectos Psicossociais
Identificação da identidade de gênero na infância leva à busca
de padronização de comportamento

Exposição a estereótipos de gênero


● Homens: agressividade, espírito de aventura, grosseria,
crueldade. Trabalham
● Mulheres: compreensão, delicadeza, generosidade.
Cuidam da casa
● Linguagem – binarismo

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Desenvolvimento das
Identidades de Gênero
Aspectos Psicossociais

Ação
Experiência
Emoções Resultado
Esquema do corpo e Aquisição de
Crenças das
corporal da Sentimentos conhecimentos
experiências
socialização
Prazer

Pensamentos / Fantasias / Atitudes / Tendências


Nós sentimos de forma diferente uns dos outros
O que se O que se O que se
SENTE? TEM? QUER?
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Aspectos Socioculturais -
Ocidocentrismo
Noções ocidentais que se impuseram como chave explicativa
única para o exame de práticas culturais diversas.
Processo de invenção de tradições generificadas, algo
inexistente na Iorubalândia antes do contato com o Ocidente
Corpos físicos são sempre corpos sociais
A divisão do trabalho, a vinculação do exercício do poder ao rei
(ao homem) é prova de um esforço colonial de categorização.
“O acesso ao poder, exercício de autoridade e adesão em
ocupações derivadas da linhagem, era regulado internamente
pela idade e não pelo sexo (... Na Iorubalândia).”

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Aspectos Socioculturais -
Teoria Queer

O gênero é construído a partir da repetição de atos estilizados


associados ao que é considerado masculino ou feminino,
constituindo uma performance de gênero.

Não seria aprendido conscientemente, mas vivenciado e


praticado.
Questiona identidades binárias e a heteronormatividade.
“estudo dos mecanismos históricos e culturais que produzem
as identidades patologizadas, invertendo o foco da análise do
indivíduo para as estruturas sociais”. (Bento,2015)

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Aspectos Socioculturais

Mohave Índia, Albânia, Croácia, México


(EUA) Bangladesh Kosovo, etc Muxes
Two-spirit Hijras e Sadhin Burneshas

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Desenvolvimento das
Identidades de Gênero
Aspectos Biológicos

Fatores
Genéticos

Fatores Fatores
Cerebrais Hormonais

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Desenvolvimento das
Identidades de Gênero
Fatores Genéticos
Genes codificados nos cromossomos sexuais:
● Agem antes do início da ação hormonal
● Determinam a diferenciação sexual cerebral

● Estudos em gêmeos: 39,1% de concordância em gêmeos


monozigóticos | nenhuma concordância em gêmeos
dizigóticos

● Humanos: polimorfismos genéticos que têm associação com


identidade de gênero trans: COMT, CYP11A1, CYP17, CYP19, ERα,
ERβ, HSD17B6, PGR, SRD5A2 e SULT2A1 e STS, SULT2A1 AR (AR-ERβ,
AR-PGR, AR-COMT, CYP17-SRD5A2)
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Diferenciação sexual cerebral:
Interação de ações dos hormônios e dos genes

Ativação cerebral
● Funcionais Funcionamento visuoespacial
Resposta neural

● Mulheres trans quando cheiram


feromônios masculinos:
- Aumento da atividade hipotalâmica Reações
semelhantes à
● Estimulação erótica: mulheres cis
- Ativação do tálamo, amígdala e córtex
orbifrontal

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Determinação do sexo genital:
- primeiro trimestre da gestação

Diferenciação sexual cerebral:


- segundo trimestre da gestação
- influência genética e hormonal

Os 2 processos podem ocorrer de formas


independentes

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Desenvolvimento das
Identidades de Gênero
Conclusões:
Identidade de gênero é autoatribuída

O desenvolvimento da identidade de gênero não é um processo linear,


podendo se constituir de forma consistente, fluida, rígida ou flexível,
sendo ressignificada ao decorrer da vida.

Cada pessoa nasceria, portanto, com um aparato biológico sob o qual


experiências vividas do mundo externo podem ser assimiladas,
tornando-se mais ou menos significativas para a construção identitária.

Ehrensaft: "criatividade de gênero", que se refere à "criação única de


cada indivíduo de um self de gênero que integra o corpo, o cérebro, a
mente e a psique, o que, por sua vez, é influenciado pela socialização e
cultura, para estabelecer seu gênero autêntico, identidade e expressões”.
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Referências
Nguyen HB, Loughead J, Lipner E, Hantsoo L, Kornfield SL,
Epperson CN. What has sex got to do with it? The role of
hormones in the transgender brain. Neuropsychopharmacology.
2019 Jan;44(1):22-37.

Roselli CE. Neurobiology of gender identity and sexual


orientation. Journal of neuroendocrinology. 2018 Jul;30(7):e12562.

Bao AM, Swaab DF. Sexual differentiation of the human brain:


relation to gender identity, sexual orientation and
neuropsychiatric disorders. Frontiers in neuroendocrinology. 2011
Apr 1;32(2):214-26.

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Referências
Hembree WC, Cohen-Kettenis PT, Gooren L, Hannema SE, Meyer
WJ, Murad MH, Rosenthal SM, Safer JD, Tangpricha V, T’Sjoen GG.
Endocrine treatment of gender-dysphoric/gender-incongruent
persons: an endocrine society clinical practice guideline. The
Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism. 2017 Nov 1;102(11).
P.3869-903.

Berenbaum SA, Beltz AM. Sexual differentiation of human


behavior: effects of prenatal and pubertal organizational
hormones. Frontiers in neuroendocrinology. 2011 Apr 1;32(2):183-
200.

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