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Aula 1

História e Historiografia Conversa Inicial


Medieval Ocidental

Profª Dra Mariana Bonat Trevisan


Prof. Dr. Douglas Mota Xavier de Lima

1 2

A Idade Média existiu/existe? A “Idade Média”

Período de mil anos entre o fim do Império


“A Idade Média não existe” (Amalvi, 2006, Romano Ocidental (476) e a conquista de
Constantinopla pelos turcos-otomanos (1453)
p. 537)
Uma periodização fabricada, uma construção
O que é a “Idade Média”?
social
Quem inventou essa idade “intermediária” e Periodizações  marcadas pelas subjetividades e
quando? questões dos indivíduos e sociedades que as
elaboraram (HISTORICIDADE)

3 4

“Nem legenda negra, nem legenda rosa” (LE


GOFF, Jacques – medievalista francês)
Nem só trevas, nem mundo idealizado! Afinal, o que é a Idade Média?
Dever do historiador: compreender a época
por si, não julgá-la com base no nosso
presente
Cada época tem suas contradições

5 6
Idade Média: a formação do conceito Idade Média: a formação do conceito

Petrarca (imagem de “A periodização da história jamais é um ato


domínio público, autor neutro ou inocente. [...] a imagem de um período
desconhecido) histórico pode mudar com o tempo.” (Le Goff,
2015, p. 29)
Século XIV  Humanistas: oposição com o tempo
que lhes era imediatamente anterior, admiração
pelos pensadores da Antiguidade Clássica
Petrarca (1304-1374): tenebrae

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Francesco_Petrarca00.jpg
Joachim von Watt (1484-1551): media aetas

7 8

Retrato de Voltaire (1694-1778)


Século XVII: separação da história humana
da história ligada à religião cristã (Salvação)
Periodização europeia fixada: Antiguidade,
Idade Média, Idade Moderna
Século XVIII: Iluminismo (oposição ao
aristocratismo e clericalismo)  “Idade
Média” = “Idade das Trevas” (generalização
e julgamento de mil anos de história
humana)
Nicku / Shutterstock Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Fran%C3%A7ois-
Marie_Arouet,_dit_Voltaire_(1694-1778)_portrait_(A).jpg

9 10

Estas são construções medievais?


Catedral Metropolitana de Igreja Votiva, Viena, Áustria
São Paulo (Wien Votivkirche zwischen)

A Idade Média romantizada:


nostalgia e nacionalismo

Henrique Bianchi / Shutterstock mRGB/ Shutterstock

11 12
A Idade Média no século XIX e início do XX: Idade Média, Estado-Nação e Romantismo
identidades nacionais e idealizações no século XIX
românticas
Momento de afirmação dos Estados Nacionais
(revoluções burguesas, quedas do Antigo
Século XIX: reabilitação da Idade Média Regime): nacionalismos
(romantização e idealização) em convívio Busca de origens: nostalgia e apropriação de
com a visão tenebrosa figuras emblemáticas como heróis medievais e
mitos fundadores da nação
Por que a Idade Média foi idealizada e
romantizada no século XIX? Romantismo: literatura/artes  idealização do
passado medieval (ex.: Walter Scott, Ivanhoé)

13 14

Estátua equestre de Carlos Magno


(1867) junto a seus vassalos Roland e
Pintura romântica de Joana D'Arc A Idade Média na literatura e nas artes dos
na Batalha de Orleães (1886/90 –
Olivier, praça em frente à Catedral de
Notre-Dame de Paris Jules Eugène Lenepveu) séculos XIX/XX: o amor de Pedro I
e Inês de Castro
Fonte:https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Lenep
veu,_Jeanne_d%27Arc_au_si%C3%A8ge_d%27Orl%C

A Coroação de Inês de Castro em 1361 (c. Rótulo de cigarro com a representação do


1849), por Pierre-Charles Comte (Museu de beija-mão da rainha morta (Coleção Brito Alves,
Belas-Artes de Lyon) Pernambuco, final século XIX/início XX)
https://commons.wikimedia.org/wiki/Fil
e:Tableau_In%C3%A9s_de_Castro.jpg

rg/wiki/File:R%C3%B3tulo_de_ciga
Fonte:https://commons.wikimedia.o
Renata Sedmakova / Shutterstock

rro._D._Inez_de_Castro.JPG
3%A9ans.jpg

15 16

A história científica nos séculos XVIII/XIX e Idade Média: concepções até


a Idade Média meados do século XX
Criação de academias científicas e História científica de influência iluminista e
de história na Europa depois positivista (linearidade: tendência
Compilações (edições) de fontes humana ao progresso)
manuscritas. Exemplos: Idade Média aqui: dark ages (trevas),
Monumenta Germaniae Historica interlúdio para a civilização moderna e
– MGH (1819-1886) contemporânea
Portugaliæ Monumenta Historica Oposição Idade Média (trágica) X
– PMH (1856-1917) https://upload.wikimedia.org/wiki Renascimento (artificialidade da ruptura)
pedia/commons/9/9f/Monumenta
_Germaniae_Historica.png

17 18
Idade Média, concepções e ensino Idade Média, concepções e ensino

Visão de marcha “civilizatória”


eurocentrada: sociedades menos evoluídas
Organização dos currículos escolares para mais evoluídas (centros de civilização
Divisão linear, evolutiva, “civilizatória”: dentro da própria Europa: Inglaterra e
Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna França)
Idade Contemporânea Ensino de História Medieval no Brasil:
período Imperial, Segundo Reinado
(currículo Colégio Pedro II – RJ: 1855/57)

19 20

Renovações dos usos políticos da Idade


Média no século XX

Primeira Guerra Mundial (1914-1918):


As múltiplas “Idades Médias” origens medievais dos Estados-Nação
no século XX europeus – orgulho nacional mote nas
disputas bélicas
Segunda Guerra Mundial (1939-1945):
Nazismo e III Reich (apropriação da memória
do Sacro Império Romano Germânico)

21 22

Idade Média e tendências autoritárias Idade Média e tendências autoritárias


no século XX no século XX
Nazismo na Alemanha (Sacro Império como
justificativa) Francisco Franco e a arte postal inspirada
nas figuras medievais de El Cid e da rainha
União Soviética (URSS): propaganda com a Isabel, a Católica, durante a Guerra Civil
reabilitação de heróis medievais como Espanhola
Alexander Nevsky
Reapropriações estão acontecendo hoje pela
Salazarismo em Portugal: discurso no Castelo extrema direita atual em diferentes países no
de Guimarães (retorno às origens medievais mundo
de glória portuguesa)

23 24
A historiografia do século XX e a renovação A historiografia do século XX e a renovação
da compreensão sobre o medievo da compreensão sobre o medievo

Renovação francesa: Escola dos Annales Georges Duby e os estudos sobre as


Marc Bloch e a antropologia histórica: mulheres medievais, a vida privada, as
Os Reis Taumaturgos catedrais etc.
Le Roy Ladurie: estudo da sociedade e Jacques Le Goff e o estudo da cultura, das
cultura a partir da heresia no povoado de cidades, dos rituais, das universidades e vida
Montaillou intelectual

25 26

Novas revisões sobre a Idade Média


e o Ocidente A Idade Média é múltipla!  História global
Mesmo com renovações, a Idade Média Interações entre cristãos, judeus e
permanecia marcada pelo centralismo da muçulmanos
cristandade latina e pelos modelos sociais
Interações e conexões entre continentes –
francês e inglês
Europa, Ásia e África – e povos no período
Perspectivas pós-coloniais: estudos
Problematização e ampliação dos estudos: a
decoloniais
Idade Média não é só europeia, branca, cristã
Problematização da visão e periodização e marcada pelo predomínio masculino e viril
eurocêntrica da Idade Média

27 28

O que é medievalismo/neomedievalismo
(medievalism/neomedievalism)?

Mundo globalizado, cultura de massas,


O medievalismo e
neomedievalismo plataformas e mídias digitais: proliferação de
imagens e informações sobre a Idade Média
A história no mundo público, não apenas
acadêmico/escolar: margem para divagações
não profissionais, usos e abusos

29 30
Medievalismo: campo de estudos empenhado O caso dos livros de George
em investigar as apropriações, interpretações Martin e da série Game of Thrones
(GoT) (HBO, 2011-2019): ficção,
e ressignificações da cultura medieval em fantasia e elementos pinçados de
épocas posteriores à Idade Média medievalidade
DVD do filme Monty Python: Inspiração na Guerra das Duas
Em busca do Cálice Sagrado Rosas e outros contextos de
conflito na Europa Medieval
Peter Gudella / Shutterstock

Fixa uma imagem parcial: mundo


medieval predominantemente
bárbaro, branco, viril, brutal (dark
ages + dragões)
enchanted_fairy / Shutterstock

31 32

A Idade Média Ocidental e suas


periodizações

“O termo ‘Idade Média’ deve ser o mais


Periodizações da Idade Média desastrado de todos esses inúmeros rótulos
Ocidental que nós, historiadores, continuamos por
hábito a apor a cortes arbitrários do passado.
Porque toda a época é, se quisermos, uma
“idade média”, uma transição entre o
passado e futuro” (Lopez, 1965, p. XI)

33 34

Concepções recentes Anos 1970: Peter Brown e a definição da


Antiguidade Tardia como período dos séculos
Desconstrução da ideia de mero declínio do
III a VII que reflete continuidades e
Império Romano com a crise política e as
renovações na história do Mediterrâneo com
invasões bárbaras (propagada por Gibbon e
outros no século XVIII) a afirmação do cristianismo

Antiguidade Tardia (Henri Irénée Marrou e Visões recentes (Chris Wickham e outros):
outros): século XX e a renovação da visão de críticas tanto às ênfases nas rupturas quanto
transição do mundo antigo para o medieval nas continuidades. É preciso considerar todas
 Renovação do Império Romano, fusões e as variantes (desaceleração econômica,
origem de nova civilização a partir do século III transformação religiosa etc.)

35 36
As periodizações da Idade Média Linha do tempo tripartida

Alta Idade Média Baixa


1ª) Define duas Idades Médias Idade Média Central Idade Média
(marco inicial: (marco: (marco final:
Alta Idade Média (séculos V-IX) 476) 1453 ou 1492)
1000)
Baixa Idade Média (séculos X-XV)
Essa proposta ainda persiste em muitos
manuais escolares, porém é pouco usual Sécs. V a X Sécs. XI Sécs. XIV e XV
a XIII
no meio acadêmico

37 38

Le Goff e a “Longa Idade Média” Rupturas fundamentais após Revoluções


Industrial e Francesa (séc. XVIII)
Antiguidade Tardia até século X Mundo medieval/
X Mundo contemporâneo
moderno
Depois, dividida em três períodos
Igreja instituição
X Estado laico, civil
Idade Média Central: do ano 1000 até a Grande dominante
Peste de 1348
Mundo rural predominante X Mundo urbano, industrial
Idade Média Tardia: da Guerra dos Cem Anos à
Fragmentação de poder, Estado (lei única, moeda,
Reforma feudalidade
X
ordem poder)
Longuíssimo “outono”: terminando com a Tradição, culturas locais
Revolução Industrial e a Revolução Francesa X Globalização
mais fortes que gerais

39 40

Refletir sobre as periodizações Refletir sobre as periodizações

Ainda que nos centremos no estudo do


Ocidente Medieval, devemos compreender a
amplitude da sociedade medieval A diversidade de experiências na própria
mediterrânica Europa medieval (diferentes núcleos com
suas especificidades, tal como a Península
Conexões com muçulmanos na
Ibérica, a Escandinávia, a Península Itálica,
Península Ibérica e norte da África
a Europa Central e o Leste Europeu)
Com a sociedade bizantina
(o Oriente cristão)

41 42
Reflita sobre as seguintes questões e
sistematize suas respostas

Qual era a noção de Idade Média que você


tinha antes de nossa aula?
Na Prática
Qual é a noção de Idade Média que você tem
agora? O que mudou? O que permaneceu?
A sua visão de Idade Média estava mais
alinhada à “idade de trevas” ou a uma
época romantizada?

43 44

Reflita sobre as seguintes questões e


sistematize suas respostas

Você consegue compreender agora como Finalizando


diferentes olhares e contextos históricos
influenciam as concepções sobre as variadas
épocas históricas?

45 46

O que é a Idade Média? O que é a Idade Média?


Retomando a questão Retomando a questão
Ampliação do olhar sobre como um período
histórico é enquadrado em uma perspectiva
cronológica  Desvendamento dos mecanismos de
Percepção das parcialidades dos construção, usos e abusos da Idade Média.
enquadramentos Luta por um conhecimento histórico amplo,
Questionamento com base na ciência profissional, ético e acessível ao público
histórica atual: “que Idade Média queremos
como profissionais da História?”

47 48
AMALVI, C.. Idade Média. In: LE GOFF, J.;
SCHMITT, J-C. (coord.). Dicionário temático
do ocidente medieval. São Paulo: EdUSC,
2006, vol. 1, p. 537-551.
Referências BITTENCOURT, C. Livro didático e saber
escolar: 1810-1910. Belo Horizonte:
Autêntica, 2008.
BROWN, P. The world of late Antiquity: from
Marcus Aurelius to Muhammad. London:
Thames and Hudson, 1971.

49 50

LE GOFF, J. Para um novo conceito de Idade


Média: tempo, trabalho e cultura no Ocidente.
Lisboa: Estampa, 1980.
LOPEZ, R. S. Nascimento da Europa (séculos
V-XIV). Lisboa: Edições Cosmos, 1965.
WICKHAM, C. O legado de Roma: iluminando
a idade das trevas, 400-1000. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo,
2019.

51
Aula 2

História e Historiografia Conversa Inicial


Medieval Ocidental

Profª Mariana Bonat Trevisan


Prof. Douglas Mota Xavier de Lima

1 2

A formação do Ocidente medieval


Elementos:
O legado institucional e cultural romano
As migrações bárbaras e a reconfiguração O legado romano
demográfica e territorial do Ocidente europeu
A descentralização do poder político, com o
fortalecimento das aristocracias rurais e a
formação dos primeiros reinos medievais
A organização da Igreja romana e a difusão do
cristianismo

3 4

As heranças da Antiguidade Roma e a Europa medieval


Indo-europeia e sociedade O herói grego Teseu A língua: o latim (administração, política,
trifuncional (sacerdotes, lutando contra o
religião; referência línguas vulgares europeias)
aristocracia guerreira/política, Minotauro
produtores/trabalhadores) As vias de circulação terrestre (estradas, pontes)
Grega (visão mítica do herói
O Direito: legislações (Codex Theodosium, lex
sobre-humano, cristianizado na
figura dos santos) romanavisigothorum, Corpus Iuris Civiles)
Bíblica/hebraica (saber, Instituições e divisões administrativas (urbe,
memória, referências sociais,
diocese)
culturais, políticas e econômicas)
Romana (língua, cultura, Base monárquica sacralizada; associação das
instituições, legislação, etc.) matiasdelcarmina / Adobe Stock
noções de Imperium e Christianitas

5 6
As línguas europeias atuais e a Europa medieval
Catolicidade latinidade
Cristianismo e adoção de elementos da
cultura clássica:
Formas de culto, assimilações intelectuais;
aproximação da ética cristã com o poder
politico
Processo: Igreja se introduzindo entre o
indivíduo, a família e a cidade
treenabeena / Adobe Stock

7 8

Invasões ou migrações bárbaras?


A formação da Europa: passado e presente
Representação
Refugiados sírios migrando em contemporânea de guerreiro
direção a países da União bárbaro: as apropriações
Europeia (2015) culturais do presente
As migrações dos povos bárbaros

Ajdin Kamber / Adobe Stock Aleksminyaylo1/ Shutterstock

9 10

Invasões ou migrações bárbaras? Chegada, instalação, assimilação dentro das


fronteiras do Império Romano: processo
longo, multifacetado (distinto da visão de
Qual a sua visão sobre apenas “hordas bárbaras invasoras e
os “povos bárbaros”? destruidoras”)
Invasores Historiografia e arqueologia recentes 
ferozes/violentos X freshidea / Adobe Stock
desconstrução da perspectiva “civilizatória” e
colonialista
populações que
migraram para o Por que seriam “ povos bárbaros”? Na visão
Império Romano? de quem eram “bárbaros”?
freshidea / Adobe Stock  “Estrangeiro”

11 12
Os “bárbaros”: “Os bárbaros não conquistaram o Império,
Francos, alamanos, burgúndios, vândalos, eles se assimilaram intensamente à
ostrogodos, visigodos, hunos, alanos, saxões, sociedade romana, a ponto de, sob a
hunos... perspectiva arqueológica, ser muito difícil
Grupos multiétnicos no contexto migratório dos distingui-los dos romanos, especialmente a
séculos III e IV (sem uma homogeneidade partir do século VI” (Silva, 2019, p. 15)
/origem/unidade étnica estáveis)
Gradualmente  formulações identitárias e
mutações constantes, ligações de referências em
comum pelo contato cultural (relatos de origem e
núcleos de tradições comuns, ritos e As renovações da arqueologia e da
cosmogonias também variáveis) (Mantel, 2017) historiografia

13 14

Migrações bárbaras – caráter dinâmico Crise romana política, social, econômica 


século III (mutação de relações)  pressão
fiscal (impostos) sobre os povos submetidos
(gastos militares e despesas do Império)
Povos federados (foederati)
Wikipédia/CC-PD

Sistema de hospitalidade (hospitalitas)


Assentamento nas fronteiras, efetivos
militares junto aos romanos
Títulos e honrarias romanas concedidas:
João Miguel
rex (rei), magister (general)

15 16

Revoltas dos povos locais Alarico e os visigodos em


pressionados, submetidos, Atenas (ilustração de
1920)
“aculturados” e migrantes Autor desconhecido
das fronteiras do Império
(Alarico, Armínio, Boudica,
Viriato)
Os reinos medievais
Mas também assimilações
com o tempo:
 Latim, ingresso no
exército, cultura romana,
casamentos entre romanos e
bárbaros, posterior adoção
do cristianismo Wikipédia/CC-PD

17 18
Reis, rainhas, príncipes, princesas,
Nem sobreposição de poder sobre o
castelos... Como se formaram as
vácuo de Roma, nem adoção passiva
monarquias medievais? Efígie do rei
do sistema político e administrativo ostrogodo Atalarico
em soldo (+/-537)
As mutações do tempo: divisão Império romano:
Romano Ocidente e Oriente (Roma e
Bizâncio) Hibridizações, criações (legado
Problemas e crise poder imperial no imperial unitário romano+ chefaturas
Ocidente, intervenções dos povos bárbaros bárbaras) Crédito: CC-PD

(ex.: Reino Ostrogodo em Roma) Reinos diversos, políticas e sucessões


Século V: reinos diversos diversas (hereditariedade, eleições)

19 20

Maior controle e unidade territorial a partir


do século VI
Reino Ostrogodo na Península Itálica e
Base jurídica e religiosa do Império Romano,
Vândalo no Norte da África (reconquista
mas administração e economia mudam:
bizantina com Justiniano – séc. VI)
(fiscalidade  posse de terras)
Reino Visigodo: Península Ibérica, Loire e
Ródano (crise e fim com a expansão
muçulmana – séc. VIII)

21 22

Reino Anglo-Saxão: Grã-Bretanha (até o


século XI, cai com normando Guilherme, o
Reinos
Conquistador)
medievais no
Reino Franco: expansão gradual sobre a Gália final do século V
e Germânia (domínio sobre outros povos:
burgúndios, alamanos, bávaros, turíngios)

Marzolino / Shutterstock

23 24
Mapa político reinos bárbaros por volta de 510 d.C. A afirmação do reino franco

Batismo do rei Clóvis: conversão ao


cristianismo oficial romano
Dinastia Merovíngia e influência da família
Wikipédia/CC-PD

Pipinida  Major domus (prefeito do palácio)


– reestruturação monarquia franca
Pepino, o Velho; ... ; Pepino de Herstal; Carlos
Martel (famoso pela Batalha de Poitiers:
derrota muçulmana na fronteira em 732)
João Miguel

25 26

O Império Carolíngio
Sacralidade dos reis francos: unção Busto relicário de
Carlos Magno
régia (modelo Antigo Testamento) Catedral de Aachen,
Pepino, o Breve  depõe o último rei Aliança Igreja e Carolíngios,
merovíngio expansão territorial e da fé cristã no
Ocidente: Carlos Magno (sucessor de
Apoio ao papado contra os lombardos, Pepino, o Breve)
legitimação da Dinastia Carolíngia (754) Coroação de Carlos Magno pelo
Papa: Natal de 800
(Renovatio Imperii no Ocidente,
Moskwa / Shutterstock
maior independência de Bizâncio 
afirmação da cristandade latina)

27 28

As mudanças no cristianismo e a
organização institucional da Igreja

O século IV e os éditos que marcaram o


A organização da Igreja cristianismo, de religião perseguida à
religião oficial do Império:
Édito de Tolerância (311, Galério)
Édito de Milão (313, Constantino)
Édito de Tessalônica (380, Teodósio)

29 30
Expansão do número de cristãos no Império: As múltiplas Idades Médias do Ocidente
Ásia Menor, África, Europa Estátua São Maurício.
século XIII, Catedral de
São Maurício,
Magdeburgo São Maurício de Tebas por Matthias
As doações e os bens adquiridos (a inversão (Alemanha) (mártir cristão do Grünewald (séc. XVI)

da perseguição – destruições e apropriações século III)


de templos e bens pagãos): a formação da  Muito popular na
Europa Ocidental,
riqueza (mosteiros, bispados, paróquias, foi patrono de várias
etc.) dinastias germânicas
medievais e
Os bens e a assistência aos necessitados imperadores do
(caridade): “para dar é preciso ter” (porém, Ocidente. No Brasil
é padroeiro das
desigualdade de posses  acentuada) escolas militares CC-PD
FrimuFilms/Shutterstock

31 32

Mudanças na comunidade cristã (crescimento,


institucionalização no Império), hierarquizações
no clero (papel dos bispos nas comunidades e
cidades  dioceses – administração de unidade
territorial, séc. V)
Bispos eleições por autoridades romanas
(elites)  aristocratização da cúpula da Igreja A disseminação do cristianismo
Sínodos, concílios, escritos dos Padres da Igreja,
escolhas e traduções latinas dos textos Sagrados
definitivos, enquadramento de vertentes
derrotadas: heresias (ex.: arianismo,
nestorianismo, monofisismo etc. - resistências
em outras partes do Império)  bases da Igreja
institucionalizada: séculos IV/V

33 34

Por que o cristianismo se espalhou tão


rápido?
Vida monástica: reclusão em comunidades
A inserção espacial da Igreja e a com ideais de vida cristã austera (difusão no
missionação: cidades do mundo imperial
Oriente e depois no Ocidente)
romano e difusão nos campos (“santos
homens”  monges ascetas, eremitas e * Oposições aos luxos e exageros imperiais
pregação cristã nas comunidades rurais) Ocidente: São Bento (séc. V, Monte Cassino,
* Alento e ideia de fraternidade em contexto Itália)
de crise e desigualdades acentuadas

35 36
Conversão de povos germânicos ao Conversão reis e elites locais: institucional
cristianismo ariano no Ocidente O Batismo de Clóvis (formas de culto regionais, adaptações, bem como
por São. Remígio, continuidades de ritos e cultos locais)
(atuação de pregadores) e pintura do séc. XVI
posteriormente ao dogma romano. Ex.: datas comemorativas
(Natal, Páscoa – festas de
Ex.: rei franco Clóvis (496)
fertilidade, entidades da
Expansão cristã – missões: Irlanda natureza)* calendário cristão
– séc. V e VI (São Patrício); Reino Sobreposição das figuras cristãs,
anglo-saxão – séc. VII (Beda, o santos/mártires do cristianismo Eduardo Frederiksen / Shutterstock

Venerável); Bavária, zonas às entidades locais (heróis, deuses/as) e suas


relíquias
germânicas (período carolíngio,
séc. VIII); Escandinávia, eslavos, Construção de igrejas sobre locais de culto pagãos
Islândia – sécs. X, XI CC-PD
Fusão de símbolos religiosos pagãos e cristãos

37 38

“A conversão da Europa ao cristianismo é Na Prática


uma longa aventura, que termina por volta
do Ano Mil” (Baschet, 2006, p. 62)

39 40

Passado e presente na cultura ocidental

Pesquise, registre, reflita:


Locais que eram templos de religiões pagãs e
foram transformados em igrejas cristãs no O que esses elementos coletados nos dizem
medievo sobre as transformações históricas, as
O significado original de rituais, símbolos e relações de poder e dominação e as
comemorações cristianizados (presentes de mudanças culturais no tempo?
forma variada até hoje nas culturas de matriz
Ocidental, tal como festas do calendário cristão,
a exemplo do Natal e da Páscoa, símbolos como a
guirlanda, a árvore de Natal, os ovos de Páscoa
etc.)

41 42
A formação de uma nova sociedade

Finalizando Processo lento, gradual


Mescla de diferentes povos, culturas, ritos,
cultos, formas de administração, economia,
poder

43 44

Crises, mutações econômicas e políticas no


Império Romano + chegada de novos povos
(assimilações, resistências e contestações
da dominação romana) + difusão, adoção e Referências
posterior propagação da religião cristã e da
estrutura eclesiástica
Ocidente europeu: difusão cristã em meio à
formação dos reinos romano-bárbaros (base
da instituição monárquica medieval)

45 46

BASCHET, J. A civilização feudal: do ano mil à BROWN, P. A Antiguidade Tardia. In: VEYNE, P.
(Org.). História da vida privada. Volume 1 – do
colonização da América. São Paulo: Globo, Império Romano ao ano mil. São Paulo: Cia das
2006. Letras, 2009, p. 213-285.
LADERO QUESADA, M. Á. Catolicidade e latinidade
BASTOS, M. J. M. Os «reinos bárbaros»: (Idade Média – século XVII). In: DUBY, G. (Dir.).
estados segmentários na Alta Idade Média A civilização latina: dos tempos antigos ao mundo
moderno. Lisboa: Dom Quixote, 1989, p. 117-140.
ocidental. Bulletin Du Centre D’études
MANTEL, M. M. Etnogénesis, relatos de origen,
Médiévales, Hors-Série n. 2, 2008. etnicidad e identidad étnica: en torno a los conceptos
BLOCKMANS, W.; HOPPENBROUWERS, P. y sus definiciones. Anales de Historia Antigua,
Medieval y Moderna, 51, 2017, pp 71-86.
Introdução à Europa medieval, 300-1550.
SILVA, M. C. Da. História Medieval. São Paulo:
Rio de Janeiro: Forense, 2012. Contexto, 2019.

47 48
Aula 3

História e Historiografia Conversa Inicial


Medieval Ocidental

Profª Mariana Bonat Trevisan


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1 2

O feudalismo e a sociedade senhorial

Questionamento do feudalismo e da Europa


feudal: A Idade Média ocidental se resume a
isso?
O feudalismo
A sociedade senhorial: a dominação e as formas
de poder aristocrático
A sociedade de ordens, a cavalaria e a sociedade
cavaleiresca
Mutações na Europa medieval: crescimento
populacional e aumento da produção nos campos

3 4

Afinal, o que é feudalismo? As duas abordagens predominantes sobre o


Ele predominou em toda a Europa Medieval? feudalismo
1. Restrita: abrange relações de vassalidade
Senso comum e educação básica: “feudal” ou (aristocráticas) e a forma jurídica dos
feudalismo = Idade Média benefícios concedidos pelos senhores a
outros nobres (propriedades, títulos, serviços
Feudum = domínio, posse (não “terra” etc.)
especificamente)
2. Ampla: as relações de dominação (em uma
“Feudalismo”, “regime feudal”: conceitos dos estruturação hierarquizada) englobam a
séculos XVIII e XIX sociedade em todas as suas dimensões,
caracterizando-a como feudal

5 6
As linhas historiográficas do século XX
Ganshof (1944): tese restritiva do feudalismo
(fenômeno restrito às relações vassálicas)
Mutação em torno do ano 1000
Marc Bloch e Georges Duby (1ª e 2ª metades
(“feudalização”  poderes atomizados dos
do século XX, respectivamente): tese
senhores, ascensão da cavalaria, violência,
“mutacionista”
sociedade de três ordens)
Feudalismo (relações hierárquicas de
dependência mútua) englobando toda a
sociedade medieval (*predominante no
nosso ensino)

7 8

A historiografia mais recente

Críticas à generalização do modelo feudal


Revisões do modelo mutacionista, criado com base em estudos regionais
da “revolução feudal”: anos 1990 franceses (Susan Reynolds, 1994)
Barthélemy (1992): superar a ideia de Cada vez menos o termo “feudal” define
mutação do ano 1000  ajustamentos de forma ampla a sociedade medieval do
institucionais e sociais sucessivos, ocidente europeu
mais que ruptura

9 10

Novas tendências nos estudos medievais

Afastamento da ideia de crise da autoridade


pública e da pulverização do poder, bem
Sociedade feudal  sociedade senhorial:
como da ideia de “anarquia feudal”  foco
domínio social de uma elite militar de
vai para a fixação espacial da dominação
senhores de terra sobre um amplo
aristocrática – Idade Média Central
conjunto de camponeses, livres, não
(a partir do século X) (Morsel, 2008)
livres e trabalhadores urbanos

11 12
As relações de dominação

Essencial no medievo: não a vida rural e a terra


(característica na Europa até o século XVIII), e
A dominação senhorial sim as relações de dominação  entre os
senhores das terras, os que trabalhavam nela e
os que habitavam o entorno do poder senhorial
(Silva, 2019)
Dominação aristocrática: terras e homens
(controle da justiça, impostos, obrigações aos
vassalos, direitos consuetudinários)

13 14

Um típico castelo medieval? O que estes dois castelos têm em comum?


Castelo de Neuschwanstein (Baviera, Alemanha) Reconstrução do Castelo de Saint
Sylvain d’Anjou (sécs. XI/XII, França)

Yury Dmitrienko/Shutterstock Fred49 / Depoit Photos / Imageplus Valentina Proskurina/Shutterstock

15 16

A ancoragem espacial do poder senhorial


Encastelamento e fixação Castelo Rising
das relações de dominação (Inglaterra, séc. XII)
Enfraquecimento do poder real, afirmação da
Início: fortificações, defesa dominação senhorial
(castrum)
Nobreza: aristocracia romano-germânica e
Século XII em diante:
habitações, centros do poder milites (guerreiros famílias locais, defesa,
senhorial coerção) + linhagens (sangue, sobrenomes)
Reorganização espacial: Valentina Proskurina/Shutterstock
castelos, aldeias, paróquias,
monastérios

17 18
Afirmação de Jean II em cerimônia de O feudo, segundo um rei medieval
adubação de cavaleiros.
compromissos mútuos  Iluminura em latim (sécs. Afonso X, o Sábio
XIV e XV)
relações vassálicas “Feudo é o benefício dado pelo (1221-1284).
Iluminura do Libro
(concessão de benefícios senhor a algum homem porque de los Juegos (1283)

– bens, rendas, títulos) se tornou seu vassalo e lhe fez


homenagem de lhe ser leal,
Ritos: juramento de
tomou este nome da fé que
fidelidade, cerimônia de
deve o vassalo guardar ao
homenagem
senhor.”
Vassalagem: somente Fonte: Afonso X, o Sábio, Las Siete
entre as elites Bibliothèque Nationale de France-CC/PD
Partidas, IV, t. XXVI, I, 1 CC/PD

19 20

A sociedade das “três ordens”: era real?


O clérigo, o cavaleiro e o
lavrador. Iluminura presente
Construção literária, em Li Livres dou Santé, final do
séc. XIII
Guerreiros e sociedade elemento do imaginário
cavaleiresca medieval
Porém: sociedade de
ordens (estamentos),
hierarquizada (não previa
igualdade jurídica)
CC/PD

21 22

O cavaleiro e a sociedade medieval

Ascensão de grupos de guerreiros equestres Aperfeiçoamento: armas, vestes (malhas) e


em torno da aristocracia (vindos de vários combates montados
estratos sociais: camponeses abastados,
Fusão e sobreposição: nobreza e cavalaria 
aristocracia inferior, setores urbanos)
sociedade cavaleiresca
Militarização da sociedade  santificação do
papel guerreiro (defesa da cristandade)

23 24
“[...] esse ideal cavalheiresco forjado no século Mutações e hierarquizações dentro da
XI foi adotado de forma muito lenta pela nobreza (duques, condes, marqueses...)
sociedade da Europa medieval. A difusão dos Segregações  restrições à cavalaria
chamados costumes corteses se deu de cima (hereditariedade, hierarquias), muitos
para baixo. Abraçados pela elite, esses valores se jovens sem bens, na dependência de outros
irradiaram gradualmente do cume da sociedade senhores (tropas mercenárias, vassalos),
para a sua base, de modo que, somente no final solteiros sem possibilidades
do século XIX, a burguesia ‘adotou’ tais práticas
Vida errante e busca de ascensão social
sociais. A cavalaria medieval nunca existiu.”
por honra e glória militar
Fonte: COSTA, Ricardo S. da. A cavalaria medieval existiu?
História Viva, Especial Grandes Temas, n. 26. São Paulo: Códigos de valores específicos: lealdade,
Duetto Editorial, 2009, p. 82 fidelidade, honra, bravura (valores viris)

25 26

Torneios, justas, honra e fidelidade


Iluminura do Codex
Manesse (Zurique, séc. XIV)

Ética cavaleiresca e
cultura cortesã
Ideal de cavaleiro e amor
cortês (jovem solteiro e
MG fotos/Shutterstock dama casada inatingível)
Estátua dedicada a D. Rodrigo Diaz de Vivar
Mestre do Codex Manesse (Pintor
(El Cid), erigida em 1927 (Sevilha, Espanha) da Fundação) ( fl. circa1305-
cerca de 1340) - CC/PD

27 28

Romances de cavalaria, canções de gesta


(Matéria da Bretanha, rei Arthur, Santo
Graal)
Ao mesmo tempo: tentativa de moralização O crescimento demográfico: a
dos guerreiros pela Igreja, por exemplo: população na Europa medieval
livros (Livro da Cavalaria, catalão Ramon
Llull), ritual cristão do adubamento
Tensões: ética cristã x combates e cultura
cortesã (conquistas, abusos, torneios/
justas)

29 30
O crescimento da população na Europa
“A população europeia aumentou três vezes medieval
entre 950 e 1300. O crescimento exponencial
da população também pode significar Imprecisões (ausência de censos), porém
simplesmente que todos ficam mais pobres. estimativas
No entanto, tal não se verificou no período” Aumento mais forte na Europa Central e
(Wickham, 2019, p. 189)
Oeste
Recuperação populacional a partir do século
Por que o historiador Chris Wickham afirma VII (estabilização de reinos medievais,
isso? formação do domínio senhorial)

31 32

Aumento cumulativo séculos XI a XIII O desenvolvimento da produção


(arroteamentos e aumento da produção agrícola
agrícola, melhora do clima, recuo de
doenças e fome, menor mortalidade)

33 34

O arado: ontem e hoje Transformações no campo e na produção na


Idade Média Central (sécs. X a XIII)
Iluminura presente no calendário
do livro das Riquíssimas horas do
duque de Berry, século XV
Formação do
domínio senhorial
Avanço dos
arroteamentos,
Hennadii H/Shutterstock expansão das aldeias,
represamento de rios
O que essas mudanças técnicas/tecnológicas
implicam? CC/PD

35 36
Moinho de água
(substituição do moinho Um padeiro e seu
de escravos)  moenda aprendiz (The Bodleian
Library, Oxford, s/d)
de trigo  aumento da
Inovações: uso de fertilizantes, cultivo de
produção do pão
cereais por clima/região, uso da charrua
Aumento das oficinas de
(arado de ferro), tração a cavalo, rotação
artesãos rurais (serviços
trienal do solo (duplicação das colheitas)
e necessidades da
população): pão, cerveja,
madeira, pedra, vidro, lã Biblioteca Bodleian, Oxford.-CC/PD

etc.

37 38

Aumento populacional + avanços agrícolas:


liberação de mão de obra para outras
atividades  campo e cidade no medievo Na Prática
central
Renovação do comércio e das trocas
monetárias, desenvolvimento de outras
atividades, dinamismo social

39 40

Confrontando a Idade Média dos livros


didáticos Busque um livro didático de História do
Ensino Fundamental (6º ou do 7º ano) ou
do Ensino Médio (1º ano), verifique o ano
de publicação e procure identificar:
Historiografia recente: questionamento de
um feudalismo definidor da Idade Média De que forma ele aborda questões como
Ocidental servidão, vassalagem, senhorio e, em
especial, a noção de feudalismo. Como
Sociedade senhorial, dominação senhorial
essa abordagem se difere ou não do que
discutimos?

41 42
A sociedade senhorial

Renovações historiográficas referentes ao


Finalizando
uso da expressão “feudalismo”
Verificação do processo de dominação
senhorial, o fenômeno do encastelamento e
as mutações na aristocracia medieval

43 44

(...)
O lugar e os valores da aristocracia guerreira
e da cavalaria na sociedade medieval Referências
As transformações no campo e o aumento
populacional que geraram outras
consequências no medievo central

45 46

BASCHET, J. A civilização feudal: do ano mil à


colonização da América. São Paulo: Globo,
2006. LE GOFF, J. Para um novo conceito de Idade
Média: tempo, trabalho e cultura no Ocidente.
BLOCKMANS, W.; HOPPENBROUWERS, P.
Lisboa: Estampa, 1979.
Introdução à Europa medieval, 300-1550.
Rio de Janeiro: Forense, 2012. Silva, M. C. da. História medieval. São Paulo:
BROWN, E. La tiranía de un constructo: el Contexto, 2019.
Feudalismo y los historiadores de la Europa WICKHAM, C. Europa medieval. Lisboa:
medieval. In: LITTLE, L. K.; ROSENWEIN, B. Edições 70, 2019.
H. (ed.). La Edad Media a debate. Madrid:
Akal, 2003, p. 239-272.

47 48
Aula 4

História e Historiografia Conversa Inicial


Medieval Ocidental

Profª Mariana Bonat Trevisan


Prof. Douglas Mota Xavier de Lima

1 2

A Igreja Cristã no Ocidente: consolidação,


renovação e contestação (séculos XI a XIII)

Afirmação da Igreja na Idade Média Central;


afirmação do papado sobre as estruturas
Igreja sociedade  Idade Média/Ocidente
seculares
Afinal, o que é a Igreja no Ocidente
Renovações religiosas, heresias e
medieval?
perseguições
Eklesia, christianitas – Instituição,
Saber, universidades, arte e arquitetura
comunidade, clérigos ≠ laicos

3 4

A imposição do poder papal sobre as


estruturas seculares

Pressões e mandos das aristocracias locais


sobre o clero
Afirmação da Igreja no Ocidente
Desvios de conduta de clérigos:
Simonia – vendas de relíquias sagradas e
ritos
Nicolaísmo – ausência de celibato,
casamentos

5 6
O processo reformista/revolucionário

“Reforma gregoriana” – processo amplo, não Reestruturação global da sociedade cristã,


se restringe a um pontificado (como o de envolvendo clérigos e laicos, mas buscando
Gregório VII) distinguir seus papéis e afirmar o poder
Séculos XI e XII: reformas na Igreja, espiritual (Baschet, 2016)
afirmação do poder papal perante Processos mais visíveis:
autoridades e instituições
1) Reforma moral do clero
seculares/temporais
2) Disputas entre papas, reis e imperadores
do Ocidente durante séculos

7 8

A questão das investiduras O conflito entre Henrique IV e Gregório VII


Rei investindo bispo
com as insígnias
Investidura laica: bispos episcopais
(figura de 1937) Dictatus Papae (1075) – poderes espirituais e
e abades, após eleitos,
temporais do papa, proibição de investiduras
investidos por autoridades
laicas de bispos
laicas (reis, príncipes etc.)
Deposição papal x excomunhão do imperador
Vassalagem a estes
Perdão ao imperador (ida à Canossa, 1077 –
Autoridade imperial
encontro no castelo da nobre Matilde de
intervindo na escolha papal
Canossa)
(“Cesaropapismo”) Philip Van Ness Myers (d. 1937)- CC/PD

9 10

A hierocracia e o primado pontifício


Iluminura representando o
Predomínio sacerdotal nas Papa Bonifácio VIII, século XV
As disputas duraram para além do tempo do questões espirituais e
imperador e do papa, porém acabaram por temporais
revelar a supremacia papal no período Papa – sucessor de São Pedro
(vigário de Cristo, mediador
Concordata de Worms (1122) – Henrique V e supremo): processo lento de
papa Calixto II; preponderância eclesiástica luta pela supremacia papal
nas investiduras Bula Unam Sanctam (1302),
Bonifácio VIII – disputa com
Felipe, o Belo: a sujeição ao
Pontífice e à Igreja CC/PD

11 12
IV Concílio de Latrão (1215) – papel central
no controle da vida e do cotidiano social e
Autoridade jurídica do papado na individual:
Cristandade, leis canônicas, julgamentos etc. Definição dos sete sacramentos, regulação
– século XII de casamentos, relações de parentesco,
Sínodos (reuniões eclesiásticas) e concílios normas, rituais, confissão, afirmação,
(sucessões papais) – autonomia eclesial celibato e moral sacerdotal etc.
Uso de distintivos nas vestes por não
cristãos (judeus e muçulmanos)

13 14

Separação entre clérigos e laicos (marca


Renovação religiosa e as novas
predomínio dos primeiros sobre os segundos) entonações do cristianismo
Separação entre cristãos e não cristãos no
mundo latino medieval

15 16

A renovação monástica da Idade Média


A vida monástica ontem e hoje
Central
Crânio ornamentando
Monge cartuxo de claustro de San Martino,
mosteiro em Évora
mosteiro cartuxo de
(Portugal)
Nápoles, Itália
Ordem de Cluny (século X, ducado da
Borgonha):
A prece vigilante e a salvação dos mortos
(Dia de Finados)

Ricardo Perna/Shutterstock Lucamato/Shutterstock

Ricardo Perna/Shutterstock

17 18
Iluminura do Livro das
Ricas Horas do Duque de
Cistercienses, Cartuxos e Premonstratenses Berry (fl. 75r), século XV

(século XI): Multiplicação da arte


religiosa (livros de
Valorização do labor (subsistência local),
horas, relicários,
desapego material (vida austera) e
crucifixos adornados,
espiritualidade
iconografia da Virgem
Aproximação com a vida comunitária – e do Cristo sofredor da
procissões, festas religiosas, teatro Paixão)
religioso, culto mariano
Jean Colombe (1430-1493) - CC/PD

19 20

Multiplicação dos Mutações e conexões no século XIII


Selo alemão de 1979,
conventos femininos contendo iluminura
representando Hildegarda de
Renúncia aos bens mundanos
O caso de Hildegarda de Bingen com um manuscrito
(1297/1299), obra de Giotto.
Bingen (1098-1179) e seu Basílica de São Francisco de
mosteiro de Rupertspberg Assis, Itália
– monja de visões,
saberes enciclopédicos,
médicos e musicais,
correspondia-se com
autoridades políticas e
religiosas da época Boris15/Shutterstock
Giotto di Bondone (–1337)-CC/PD
(Schmitt, 2013, p. 165, 168)

21 22

Franciscanos e dominicanos: a renovação S. Francisco cortando os


religiosa urbana do século XIII Ordem dos Frades
cabelos de S. Clara em sua
consagração (iluminura
alemã, século XV)
Menores: franciscanos e
clarissas (S. Francisco de
Críticas às ordens anteriores e aos Assis, S. Clara)
comportamentos, e enriquecimento de
Imitatio Christii
conventos e monges
(pobreza/mendicância,
Surgimento das ordens mendicantes desapego, pregação,
nas cidades medievais penitência), regra
própria
Gunnar Bach Pedersen-CC/PD

23 24
Ordem dos Frades
Pregadores: dominicanos Dominicanos
(S. Domingos de Guzmán) interrogando Galileu,
obra de Cristiano Banti
Adota regra agostiniana – (1857)

pregação contra heresias,


suporte à Inquisição Heresias e perseguição
recém-criada
Reconhecida por seus
membros intelectuais e
universitários, como São
Tomás de Aquino e Alberto Cristiano Banti (1824–1904)-CC/PD

Magno

25 26

“[...] todo o herético Expulsão dos habitantes da vila


cátara de Carcassone, 1209
tornou-se tal por (miniatura sobre pergaminho, Movimentos religiosos locais ou regionais
Grandes Chroniques de France, 1415)
decisão das que acabaram por ser condenados e/ou
autoridades perseguidos como heresias
ortodoxas. Ele é antes Heresia = escolha/opção – no caso, tudo o
de tudo um herético que colocasse a opção religiosa/vida fora
aos olhos dos outros. da mediação eclesiástica
Precisamente: aos
Surgimento de comunidades religiosas
olhos da Igreja, de
independentes da Igreja Romana
uma Igreja” CC/PD
(Duby, 1990, p. 177)

27 28

O século XII, o surgimento e a perseguição


de movimentos heréticos Forquilha ou garfo medieval,
Museu de tortura em Lubuskie
Contestação – corrupção e modo de vida de Reação da Igreja a Zielona Gora (PO)

membros do clero; surgem em paralelo às possíveis ameaças


iniciativas reformistas da Igreja ao monopólio da
Surgem em geral ligados a ideais de pobreza função e
e imitação da vida apostólica e de Cristo hierarquia
eclesiástica
Diversificação social – elementos mais (Silva, 2019, p. 106)

pobres e classes dirigentes locais e regionais Esik Sandor/Shutterstock

(caso dos cátaros e valdenses)

29 30
Elaboração manuais de confissão, manuais de
inquisidores, manuais de pregação – fontes
“Sociedade persecutória” (Moore, 1987) – a para o estudo do período
partir do século XI; sofisticação de Criação de tribunais do Santo Ofício
mecanismos de controle e perseguição de (Inquisição papal) – séculos XII/XIII
hereges e marginalizados (judeus, Processos podiam ser iniciados por
muçulmanos, leprosos, homossexuais) autoridades clericais, sem denúncias formais
Contradição com o desenvolvimento de vítimas, baseados em rumores e supostas
econômico, intelectual e artístico da época evidências
Redução de direitos de acusados, margem
para abusos e condenações injustas (Ohst, 2014)

31 32

Importante! Variações locais das inquisições


(reinos, regiões), de práticas e penas Processo de múltiplas faces, maior controle
sobre a população, além de clima de suspeita
Penas: excomunhão, interdição
comunitária, obrigações (ex.: vestes com e perseguição – escalada do medo
identificações de heresia), confisco de (Delumeau, 1989)
bens, de heranças, prisão e, em casos Ápice – caça às bruxas (séculos XVI,
limítrofes, condenação à morte, XVII- Modernidade)
geralmente na fogueira

33 34

Alguns movimentos heréticos dos


séculos XII e XIII
Heresia Motivação Condenação

Pedro Valdo (Lyon, França), leigo pregador.


Tradução e leitura da Bíblia, pobreza Perseguidos e excomungados em
Valdenses absoluta, condenação de juramentos e da
pena de morte, defesa participação laica nos
1184, sobreviveram durante
muitos séculos na clandestinidade Igreja e saber: escolas e
ritos, sem mediação da Igreja
universidades medievais
(Sul da França, Albi) Acreditavam que o Condenados em diversos concílios
mundo foi criado por Satã e que só os puros no século XII. Em 1209, foi
poderiam chegar a Deus. Negavam a matéria decretada a cruzada albigense
Cátaros e a propriedade, adotando a pobreza para exterminá-los. Foram
absoluta. Condenavam a riqueza da Igreja, o perseguidos pela Inquisição;
casamento, a hierarquização dos sexos e muitas mortes, carnificina de
qualquer forma de juramento cátaros e não cátaros em Béziers

(Norte da Europa) Pobreza absoluta, caridade


Irmãos do Condenados em 1209, foram
e amor livre, crença milenarista,
livre posteriormente perseguidos
consideravam-se parte direta de Deus por
espírito implacavelmente pela Inquisição
terem em si o Espírito Santo

35 36
As escolas na Idade Média

(...)
Antigas escolas romanas – escolas sob Programa de Alcuíno (mundo carolíngio) –
jurisdição clerical (mosteiros, paróquias): Sete Artes Liberais:
“monopólio do saber”
Trivium (Gramática, Dialética, Retórica)
Formação de futuros clérigos, mas também
Quadrivium (Matemática, Geometria,
de laicos (nobres, citadinos, camponeses)
Música e Astronomia)
Ensino geral – leitura, escrita e cálculo

37 38

O renascimento do século XII e a renovação


do ensino
Surgimento de escolas laicas (filhos de
comerciantes e artesãos urbanos – saberes
Renovação das cidades e do comércio – úteis aos ofícios e negócios)
renovação da circulação de pessoas e do
Redescoberta dos clássicos da Antiguidade
saber
(contexto de cruzadas, contato com
Multiplicação de escolas, mestres e alunos
muçulmanos e bizantinos, traduções árabes)
Crescimento nas cidades e burgos – Aristóteles (dialética e lógica); Direito e
(anexas às paróquias e catedrais) Medicina

39 40

As universidades no Ocidente medieval

Universitas – corporação de mestres e alunos


Séculos XII e XIII – surgimento primeiras
Licença papal e proteção, mas autonomia
universidades
universitária
Bolonha (Direito) e Paris (Medicina e
Espaços masculinos (educação feminina –
Teologia)
mais restrita a preceptores, conventos
Difusão pelos reinos europeus (Oxford, femininos e algumas escolas urbanas)
Coimbra, Salamanca etc.)

41 42
Os estudos e a vida Reunião de doutores na Universidade
universitária de Paris, manuscrito de Chants royaux
(fl. 27v), século XVI

Livros caros e poucos;


dificuldades de moradia, Os estudos – Escolástica (quaestio,
itinerância disputatio, determinatio), fé + razão
Estudo rigoroso, disciplina Tempo de ambiguidades – saber/ensino x
rígida, memorização
perseguições/segregações
Estereótipo social –
bêbados, arruaceiros,
vagabundos
Étienne Colaud -CC/PD

43 44

As mudanças a partir do Ano Mil

Renovação do cristianismo, expansão das


cidades e da população, fortalecimento
Arte, religião, Igreja eclesiástico
Aumento das construções de igrejas e
catedrais
Renovação da arquitetura e construções
(igrejas, mas também castelos, torres e
palácios)

45 46

O românico O gótico

Séculos XI e XII Sé Velha de Coimbra,


Séculos XII a XV
Portugal, século XII Arcos ogivais, mais
Inspiração romana,
janelas e luminosidade,
arcos redondos, pouca vitrais coloridos
luminosidade, janelas
Verticalidade – altura
pequenas
cada vez maior (céu,
Horizontalidade – distanciamento de
Mariana

paredes espessas, pecados); dimensão Bonat


Trevisan,

pilares maciços, solidez gigantesca (metáfora: 2015

Mariana Bonat Trevisan, 2015 poder clerical sobre a


“Fortalezas de Deus” cidade)

47 48
O Mosteiro da Batalha
(século XV, Portugal): gótico flamejante

Na Prática

Mariana Bonat Trevisan, 2015

49 50

Explorando monumentos medievais Questões para a visita guiada


Qual ordem religiosa foi responsável por
cada mosteiro?
Visita virtual a dois mosteiros portugueses: Quais as características arquitetônicas das
Mosteiro de Alcobaça (século XII) e Mosteiro construções?
da Batalha (séculos XIV e XV) Como a história dos mosteiros relaciona-se
com a história da monarquia medieval
http://www.mosteiroalcobaca.gov.pt/
portuguesa?
http://www.mosteirobatalha.gov.pt/
Como os mosteiros relacionavam-se com a
produção agrícola da região?

51 52

A instituição eclesial e a sociedade do


Ocidente medieval

Fortalecimento e afirmação do papado e da


instituição eclesial perante outros poderes e
Finalizando
a sociedade
Processo reformista, renovações (novas
ordens religiosas, mendicantes), perseguição
aos que saíram da mediação eclesiástica
(hereges)

53 54
Tempos ambíguos – sociedade persecutória x
novas formas de arte e arquitetura, bem Referências
como de um humanismo cristão e de uma
expansão do saber com escolas e
universidades

55 56

BASCHET, J. A civilização feudal: do Ano Mil à colonização


da América. São Paulo: Globo, 2006.
BLOCKMANS, W.; HOPPENBROUWERS, P. Introdução à OHST, M. A Igreja no século XIII. In: KAUFMANN, T.;
Europa medieval, 300-1550. Rio de Janeiro: Forense, KOTTJE, R.; MOELLER, B.; WOLF, H. (org.). História
2012. Ecumênica da Igreja: Da Alta Idade Média até o início da
DUBY, G. Heresias e Sociedades na Europa Pré-Industrial, Idade Moderna, v. 2. São Paulo: Loyola, 2014. p. 53-113.
séculos XI-XVIII. In: Idade Média: Idade dos Homens.
São Paulo: Companhia das Letras, 1990. SCHMITT, J. C. Hildegarda de Bingen. In: LE GOFF,
Jacques (Dir.). Homens e mulheres da Idade Média. São
MOORE, R. I. The formation of a persecuting society:
Paulo: Estação Liberdade, 2013.
Power and deviance in Western Europe, 950–1250. New
York: Basil Blackwell Publishing, 1987. Silva, M. C. da. História medieval. São Paulo: Contexto,
OPITZ, C. O quotidiano da mulher no final da Idade Média 2019.
(1250-1500). In: KLAPISCH-ZUBER (Dir.). História das
mulheres no Ocidente. Lisboa: Afrontamento, 1990. v. 2.

57 58
Aula 5

História e Historiografia Conversa Inicial


Medieval Ocidental

Profª Mariana Bonat Trevisan/


Prof. Douglas Mota Xavier de Lima

1 2

O início da expansão europeia


(séculos XI-XIII)
Expansão europeia na Idade Média?
Idade Média estagnada?  equívoco
Estabilização no Ocidente (cessar invasões Ásia O Ocidente e os Demais Centros
Central e Escandinávia) de Poder no Medievo
Crescimento agrícola, diminuição da fome e
aumento populacional, tensões sociais
Mudanças nas relações Ocidente europeu,
Bizâncio e mundo muçulmano
Dinâmicas internas: sociedade  vida e trabalho
nas cidades medievais

3 4

Mudanças de equilíbrio: do caráter Bizantinos e muçulmanos na


periférico ao caráter expansionista europeu Idade Média Central: mudanças no
Início do século XI  Europa periférica em equilíbrio mediterrâneo
relação aos centros de poder, cultura e economia
muçulmana, bizantino e do Extremo Oriente Bizâncio
Idade Média Central Após estabilidade e sucessos dos Comnenos
Bizâncio e Islã  disputas internas e pressões (séculos IX-XI)  conflitos e perdas
externas  fragmentações territoriais (avanço turco, Sultanato de
Ocidente  crescimento populacional, Rum e reconstituição reino búlgaro) +
renovação agrícola, comercial, urbana, reforma pressões europeias e muçulmanas no
na Igreja, movimento em direção à expansão contexto das Cruzadas
religiosa e política

5 6
Mundo muçulmano
Acentuação divisões internas (ex.:
fatímidas no Egito X turcos seljúcidas em
Bagdá), disputas com cristãos na Palestina
(Cruzadas) e conflitos dinásticos turcos no
Oriente Próximo

Recorte do Oriente Medieval em 1265 João Miguel

7 8

A ampliação do conceito de cruzada


Muitas apropriações no mundo contemporâneo
Da indústria cultural e mídias a ideologias e
As Cruzadas movimentos políticos ultranacionalistas desde
Guerra, Colonização os fascismos e totalitarismos – anacronismos
e Intercâmbios “convenientes”: deus vult
Concepção tradicional
Movimento militar cristão, direcionado ao
Oriente Próximo (1095-1291)
Ampliação
Expedições militares/religiosas cristãs

9 10

Outros contextos cruzadísticos

Península Ibérica  confronto com os


muçulmanos (séculos VIII-XV), queda de
Báltico  “Cruzadas do Norte” Granada em 1492
Contra pagãos (séculos XII-XIII), ordens *Norte da África conquista portuguesa de
militares + reis Dinamarca e Suécia Ceuta, em 1415
França  “cruzada albigense” (cátaros), Campanhas marítimas e terrestres contra os
século XIII turcos otomanos entre os séculos XV e XVIII

11 12
As motivações

Auxílio ao Oriente bizantino (Jerusalém,


Tese materialista domínio turco e bloqueio das peregrinações),
Expansão populacional/busca de novas porém  torna-se projeto de expansão da
áreas e mercados  insuficiente cristandade latina

Inserção no movimento de reforma da Igreja A “peregrinação armada”


(afirmação papal) Paz e Trégua de Deus (paz Caráter penitencial (indulgência) e “guerra
entre cristãos) – Concílio Clermont-Ferrand santa”
(1095), papa Urbano II

13 14

As cruzadas no Oriente
Primeira cruzada (1099)
Séculos XI a XIII Mais bem-sucedida, cria Estado papal no
Levante, colônias como Antioquia, Trípoli,
Oito cruzadas oficiais
Edessa e Reino de Jerusalém
Pedro, o Eremita, e a primeira cruzada não
Criação e protagonismo das ordens militares
oficial
(templários, hospitalários, teutônicos)
Movimentação popular que demonstrou o
Papel político e econômico na região
alcance da palavra papal

15 16

Terceira cruzada
Segunda cruzada
Participação de reis, diplomacia com
Fracasso, Saladino e recuperação de pouco território
disputas
Quarta cruzada
internas,
perda de Desvio de propósito, ficam em Bizâncio,
territórios venezianos tomam a cidade (Império Latino
do Oriente até 1261)

João Miguel

17 18
Quinta à oitava cruzadas
Discurso religioso se
torna anacrônico no Saldo
século XIII (após os A cristandade latina se expande, o papado
acontecimentos da IV se afirma, porém, com o custo de muitas
cruzada e momento de vidas, séculos de desgastes e traumas entre
forte apelo político e povos e religiões
econômico às
expedições) Representação da tomada de
Jerusalém em 1099 (iluminura do
século XV, Passages d’outremer)

19 20

A revolução comercial urbana medieval


Séculos XI-XIII

Fenômeno de maior peso até


A Cidade Medieval a industrialização
O crescimento das cidades
Expansão população, êxodo
rural
Torre di Arnolfo, Palazzo
Vecchio, Florença, Itália
AlexMastro/Shutterstock

21 22

A cidade medieval de Carcassone


Verticalização (Sul da França) e suas muralhas
Torres, palácios, catedrais
Ampliação das muralhas (burgos e
subúrbios)
Expansão espacial
 Função de defesa
Identidade militar

JaySi/Shutterstock

23 24
A multiplicação das cidades
e da rede urbana Grandes rotas comerciais e ligas de comércio
Novas cidades que se formam Mar do Norte, feiras no centro europeu,
no entorno de castelos,
portos como os de Lisboa e Porto 
mosteiros, rotas de
peregrinação e comércio a efervescer comercial
partir do século XI Ligação das cidades a autoridades nobres ou
(≠ evolução da urbs romana – eclesiásticas (cobranças feudais e abusos,
modelo concêntrico) disputas de poder)
Rede urbana Busca de autonomia por parte dos grandes
Planta datada de c. 1572,
Portos, estradas, canais da cidade de Palmanova, Itália
comerciantes e artesãos
de abastecimento regionais Civitates Orbis Terrarum

25 26

Movimentos comunais
Os Primórdios
Lutas pela liberdade das cidades: “o ar da de uma Revolução Comercial
cidade liberta” (Forais régios – leis próprias
da cidade, mas obediência ao rei)

27 28

Cheque e cartão de crédito na Idade Média?


Impactos da revolução comercial
Século XIII Sedentarização do comércio

Vendas por atacado, aumento do consumo Diminuição do papel das grandes feiras,
(têxteis – enriquecimento Flandres e fortalecimento redes de mercadores
França) (guildas e hansas)

Primeira fase do capitalismo comercial  Cidades italianas e comércio de longa


distância (Oriente, especiarias etc. 
Surgimento de sistemas contábeis (letras
histórias de Marco Polo)
de câmbio, cartas de crédito, seguro,
bancos, papel-moeda)

29 30
Campo, cidade, transportes

Dinamismo e dependência
Trocas entre campo e cidade (produção do Transportes
campo, venda nas cidades, comércio
Desenvolvimentos  portos, estradas,
regional)
instrumentos de navegação (bússola,
Cercamento dos campos na Inglaterra incorporada do Oriente) navios, mapas etc.
Terras comunais cercadas para criação de
ovelhas e produção têxtil (o campo e sua
população condicionados à cidade)

31 32

Muito além das “três ordens”


A diversificação da sociedade urbana
Crescimento urbano  participação nobreza,
burguesia e trabalhadores (urbanos e rurais)
A Sociedade Urbana Especialização do trabalho e mobilidade
social nas cidades
Ofícios diversos (açougueiros, padeiros,
ourives etc.) e formação de corporações:
juramento, regulamentação do ofício, auxílio
mútuo, religiosidade (confrarias)

33 34

Divisão espacial As desigualdades nas cidades


Ruas de açougueiros, serralheiros, alfaiates
etc.  presença no Brasil Massa de jornaleiros
Divisões nas oficinas e corporações Trabalho e remuneração instáveis,
Mestres, aprendizes e jornaleiros vulnerabilidade social
(trabalhadores assalariados) Nasce o imaginário em torno do “vagabundo”
Acesso ao mestrado (o pobre que não trabalha, preocupação das
autoridades citadinas), em oposição à
Cada vez mais difícil e restrito a vínculos
imagem do pobre digno da caridade cristã
familiares (século XIII)

35 36
As mulheres e o trabalho nas cidades

Muitas mulheres tiveram


ofícios especializados
Marginalização/depreciação (tecelagem, padaria),
As profissões consideradas ilícitas/indignas foram comerciantes,
(carcereiros, barbeiros, carrascos, coveiros, professoras em escolas
urbanas etc.
artistas e prostitutas) (Geremek, 1989)
Comando de oficinas e comércios (viuvez e
ausências dos maridos), integrando,
inclusive, guildas e corporações
Vladimir Endovitskiy/Shutterstock

37 38

Contudo, muitas também trabalhavam em Na Prática


ofícios não regulamentados, sofrendo com a
estigmatização do trabalho feminino

39 40

O trabalho e a precarização: ontem e hoje

Brasil (2019-2021)
Vendedora ambulante de 40 milhões de trabalhadores informais
verduras em Paris
Pesquise e reflita sobre as condições de
Condições e desafios dos trabalho informal nas cidades medievais e
trabalhadores informais no no tempo presente
tempo?

Anciens cris de Paris, século XVI (c.1500), fólio 5,


prancha 4. Biblioteca Nacional da França

41 42
As transformações da Idade Média Central
(séculos XI-XIII)
Início de expansão da sociedade Ocidental
Abertura cultural, espacial (cruzadas, cidades,
comércio, viagens, peregrinações, transportes)
Finalizando
Intensa dinâmica interna e novas relações com
outras culturas (Oriente e Bizâncio)
A população cresce, as cidades se expandem
Entre especializações, riquezas e produção, com
o tempo se acentuam desigualdades e restrições
aos que buscavam os ares de libertação das
cidades

43 44

BASCHET, J. A civilização feudal: do ano mil à


colonização da América. São Paulo: Globo, 2006.
BLOCKMANS, W.; HOPPENBROUWERS, P.
Introdução à Europa Medieval, 300-1550. Rio de
Referências Janeiro: Forense, 2012.
FERNANDES, Fátima Regina. Cruzadas na Idade
Média. In: MAGNOLI, Demétrio. História das
Guerras. São Paulo: Contexto, 2006.
FLORI, Jean. Guerra Santa: formação da ideia de
Cruzada no Ocidente cristão. Campinas:
Unicamp, 2013.

45 46

LE GOFF, J. Trabalho. In: LE GOFF, Jacques;


GEREMEK, Bronislaw. O marginal. In: LE SCHMITT, Jean-Claude (orgs.). Dicionário
GOFF, Jacques (Dir.). O Homem medieval. Temático do Ocidente Medieval. v. 2. Bauru:
Porto: Presença, 1989. Edusc, 2006. p. 559-572.
LE GOFF, J. Para um novo conceito de Idade RILEY-SMITH, Jonathan. As Cruzadas, uma
Média. Tempo, Trabalho e Cultura no história. Campinas: Ecclesiae, 2019.
Ocidente. Lisboa: Estampa, 1979. SILVA, M. C. História Medieval. São Paulo:
Contexto, 2019.

47 48
Aula 6

História e Historiografia Conversa Inicial


Medieval Ocidental

Profª Mariana Bonat Trevisan e Prof. Douglas Mota Xavier de Lima

1 2

A Baixa Idade Média e os séculos XIV e XV


Problemas na Igreja (cisma,
questionamentos) e novas formas de
Guerra, peste, fome e crise (“Outono
devoção
medieval”) X criações, arte italiana,
imprensa, navegações (“Primavera dos Emergência do Estado Moderno (guerra,
tempos modernos”)? (Huinzinga) fisco)

Época de calamidades, resiliências e Revoltas urbanas e rurais: os contrastes


transformações sociais

A tríade do século XIV: guerra, fome, peste Continuidade da dinâmica de expansão do


(crise) Ocidente

3 4

Um tempo de crises e incertezas,


mas não só
A partir de 1300: estagnação e problemas
Tríade “apocalíptica”: fome, peste e guerras
Fome, Peste e Guerra Sociedades pré-industriais (não só a medieval) e
períodos de fome: recorrentes
Problemas climáticos, pragas, guerras
(destruições, mortes): desabastecimento 
século XIV
A Fome Geral: 1315-1317 (problemas
meteorológicos, péssimas colheitas, morte de
rebanhos)

5 6
Crises alimentares  A Peste negra e os surtos de peste
desabastecimento cidades e
campo  aumento dos preços Peste Negra: surto 1347/48
dos alimentos Origem na Ásia Central/Oriental, chega na
Consequências: Grande Europa pelos navios mercantes genoveses
Fome, dizimou os mais
Infecção: pulgas dos roedores (peste
pobres
bubônica)
Desnutrição ou subnutrição
(alimentação pobre, Tipos de peste (bacilo Yiersinia pestis):
carências de nutrientes)  bubônica (a mais comum na Europa
baixa de imunidade, medieval), septicêmica, pulmonar
suscetibilidade a doenças Alta e rápida letalidade
Fresnel/Shutterstock Kateryna Kon/Shutterstock

7 8

O mapa da peste a partir de 1347 Recorrência de surtos de peste ao


longo dos séculos XIV/XV
Exemplo de Portugal: Rei D. Duarte
 morte por peste 1438 (sua mãe
havia morrido de peste em 1415)
Problema junto a outras epidemias:
sarampo, gripe, varíola (não existiam
vacinas)  mortalidade ainda maior
Estampa de
Péssimas condições de higiene e camiseta atual em
referência aos
urbanização das cidades medievais médicos medievais
do tempo da peste

João Miguel
europeias Hand Draw/Shutterstock

9 10

Atuações governamentais

Atuação dos governos urbanos


Crises de abastecimento: fixação de preços
Hospitais: Assistência aos doentes, aos
de alimentos
pobres e aos peregrinos
Cidades e maior contágio na peste: controle
Fortalecimento das autoridades laicas
do tráfego de pessoas, sistemas de
quarentena, isolamento das cidades
afetadas, regulamentações sanitárias,
construção de hospitais

11 12
O problema das guerras A guerra é cara: impostos
A guerra é violenta:
Afirmação das monarquias, disputas dinásticas mortes, estupros,
pilhagens, destruições
Guerra dos Cem Anos (1337-1453): França X
Inglaterra Luta armada, batalhas
campais, cercos (ainda
Guerra das Duas Rosas (1455-1485): Lancaster X
não é “guerra total”)
York
Ciência militar: arco
Guerra de Sucessão Portuguesa (1383-1385):
longo, bestas, pólvora A Batalha de Aljubarrota (1385) –
ascensão da Dinastia de Avis Iluminura da Chronique d’Angleterre,
(trombas e bombardas), de Jean de Wavrin (British Library,
Guerra de Sucessão Castelhana (1475-1479): contratação mercenários: Royal 14 E IV f. 204 recto)

disputa peninsular (Isabel e Fernando de Estado moderno em


Aragão) formação
Jean d'Wavrin (Chronique d'Angleterre)/CC/PD

13 14

O Cisma do Ocidente (1378-1417)


A Igreja “bicéfala”
1309-77: Papado transferido para Avignon
1378: Disputa papal após morte de Gregório
A Reorientação dos Fiéis XI em Roma, corte papal dividida entre os
Cismas, Conflitos e Vida Religiosa dois locais
Dois papas são eleitos (Avignon e Roma):
duas cabeças da Igreja durante 40 anos
Divisão religiosa e política da Cristandade
(ex.: França, Castela e outros com Avignon X
Inglaterra, Portugal e outros com Roma)

15 16

Descrédito e descrenças perante a confusão


Concílio de Pisa (1409): igreja acaba
papal  iniciativas reformistas, novas
“tricéfala”
religiosidades
Concílio de Constança (1414-18): eleição de
Jan Huss na Boêmia (hussitas) e John Wycliff
Martinho V e fim do cisma
(lollardos) na Inglaterra: reformistas do
século XIV condenados Concílios e reforço da perseguição aos
hereges (queima de Huss em 1415),
Movimento conciliarista  concílios e
segregação dos judeus, controle do
submissão do papa à congregação dos fiéis
comportamento do clero etc.
(Christianitas)

17 18
Crise na Igreja central, fortalecimento das
“igrejas nacionais” em ligação com as
monarquias Contrapartida: Igreja e reforço da
exteriorização da fé (aumento prática
Devotio moderna - livros de horas e outras indulgências)
narrativas, ex.: Imitatio Christi, Thomas de
Kempis Intensificação da fé  tempos conturbados:
onipresença da morte, medo de morrer e do
 Religiosidade leiga, individual, Além, questionamentos das práticas em vida
experiência mística, visões do Cristo e da
Virgem (ex.: beguínas)

19 20

A alegoria da Dança Macabra

Clima apocalíptico (vinda do Anticristo),


movimentos milenaristas (Juízo Final),
flagelantes, tratados da arte de morrer,
inúmeras representações da morte e do Juízo
Final (Delumeau, 1989)
Representação da Dança macabra (afresco da
igreja de São Nicolau, Tallinn, Estônia, fim do
século XV)
Bernt Notke - CC/PD

21 22

Afirmação monárquica,
estruturação do Estado
Rivalidades entre casas nobiliárquicas e realezas:
mudanças dinásticas (conflitos internos e
externos)
A Consolidação das Monarquias Mobilização de guerras, necessidade de recursos
 impostos
Monarquias e fiscalidade regular (deixam de ser
cobranças excepcionais ou direitos senhoriais)
Investimentos e avanços tecnológicos nas
guerras: pólvora do Oriente e canhão, arcos
longos ingleses, infantaria sobre cavalaria,
tropas mercenárias contratadas a soldo

23 24
A guerra Usos da religião para a guerra e fortalecimento
Motor das monarquias e do Estado Moderno monárquico
Batalha de Crécy Impactos e divisões do Cisma: o outro é
(Guerra dos Cem sempre o herege a ser combatido (Portugal X
Anos) Castela; França X Inglaterra)
Manuscrito iluminado Criação de santos dinásticos (ex.: Santa Joana
das Chroniques, de D’Arc, Infante Santo D. Fernando)
Jean Froissart (século Combate a hereges contestadores na Boémia e
XV), BNF, FR 2643, f.
Inglaterra (ex.: sufocamento hussitas e
165v lolardos – movimentos contestadores do poder
Jean Froissart - CC/PD
da Igreja e da ordem social desigual)

25 26

Obediência, ordem, unificação


Legislações régias (longo processo até o
século XVIII)
Aumento de impostos e descontentamentos Reis se cercam de “homens de saber”
(nobreza, clero, burguesia citadina) (juristas universitários, burocratas da
organização estatal, letrados clérigos e
Negociação  assembleias representativas laicos)
(Parlamento inglês, Cortes ibéricas etc.)
Símbolos
Heráldica, cerimônias públicas,
genealogias, história (crônicas),
monumentos

27 28

Porém: estruturas políticas


medievais  diversidade
(não homogeneidade)
Reinos, principados,
cidades autônomas, Contrastes, Desigualdades
comunidades e Contestações Sociais
camponesas livres,
Sacro Império no Campo e na Cidade
“Estados nacionais”
x
Real brasão de armas inglês, portão
Regionalismos da abadia de Westminter (Londres)
(até a contemporaneidade,
vide conflito catalão atual) Pres Panayotov/Shutterstock

29 30
“Sempre teceremos panos de seda A pobreza “laboriosa”  pobres que
E nem por isso vestiremos melhor, [...] trabalham, mas não conseguem se
E estamos em grande miséria, sustentar (preço alto alimentos, impostos)
mas, com os nossos salários, enriquece Altos impostos
aquele para quem trabalhamos; [...] Grande parte
das noites ficamos acordadas/e todo dia para
isso/ameaçam-no de nos moer de pancada/nossos Exploração do trabalho
membros quando descansamos”
Reprodução de canção popular em romance de
cavalaria. In: Chrétien de Troyes. Yvain, O
Explosão de revoltas na cidade, no campo
cavaleiro do Leão (c.1180) Apud Macedo (1992) ou mistas (séculos XIV e XV)

31 32

Êxodo rural e o sonho frustrado na cidade

Ambuiguidades da Cristandade no contexto:


Desemprego, subemprego/exploração do compaixão e caridade com o pobre X
trabalho  fome, miséria, marginalização desprezo, ideia de “vagabundagem”
Exclusão social, mendicância e criminalidade Formação de aristocracias urbanas
nas cidades (pessoas, com trabalho inclusive, Controle dos ofícios e cargos de poder nas
que roubam para sobreviver)  linha tênue cidades
miséria e marginalidade

33 34

O sermão do padre John Ball (1338-1381) As revoltas sociais no final da Idade Média

“Quando Adão cavava e Complexidade, envolveu diferentes setores


Eva fiava, quem então era sociais e objetivos
o senhor feudal?” Elites urbanas restritas e cada vez mais miséria,
desemprego e desigualdades nas cidades
Desde o início, todos os
homens foram criados Pressões: problema da peste, crises alimentares,
iguais, e nossa escravidão impostos altos, descontentamento com o clero.
ou opressão veio da John Ball encorajando Wat Tyler e os
Populares  ex.: Pe. John Ball lollardo, Wat Tyler
opressão injusta de rebeldes (c. 1470), manuscrito iluminado
das Chroniques, de Jean de Froissart
e a revolta popular em Londres (1381)
homens malcriados Biblioteca Britânica - CC/PD Auras protestantes e luta contra desigualdades

35 36
Revoltas mais elitizadas  ex.: mestres/artesãos
têxteis de Flandres (“unhas azuis”) e controle de
cidades (século XIV) (Macedo, 1993)
Jacquerie, França (1358): depressão econômica,
aumento preços/impostos, congelamento de
A Contínua Expansão do Ocidente
salários, pressões senhoriais

Revolta popular gerou outras semelhantes


(ações de banditismo social)
Revoltas: fenômeno endêmico no fim da Idade
Média

37 38

A revisão da oposição medieval x moderno

Mais continuidades que rupturas  grandes Dinâmicas científicas, filosóficas,


navegações (viagens, expansões medievais), tecnológicas, políticas, vida urbana e
invenção da imprensa em 1450 (sociedade comércio não declinam (mesmo com a crise),
oral/escrita) continuam
Estruturas centrais da sociedade feudal A oposição medieval x moderno é uma
permanecem até o século XVIII (base criação enquadrada
agrária, religião em ligação com o Estado
monárquico)

39 40

Jogos digitais e o contexto


dos séculos XIV e XV
A Plague Tale: Innocence (2019): crianças
órfãs lutam pela sobrevivência (Guerra dos
Na Prática Cem Anos, Peste, perseguição de inquisidores
– século XIV)
Kingdom Come: Deliverance (2018): jovem
filho de um ferreiro sobrevive em vilarejo da
Boêmia aos ataques do rei Sigismundo
(aprendizado do combate e vingança)

41 42
Explore podcasts

Programa “Estudos Medievais”, do


Análise de jogos  documentos históricos Laboratório de Estudos Medievais LEME:
(produções culturais e ensino de História) “episódio 1- Games e História” (Spotify,
Anchor, Google podcasts, itunes)
Busque informações sobre os jogos 
resenhas e vídeos de apresentação no Episódio “Kingdom Come: Deliverance”,
YouTube, acesse materiais podcast “Pós-Jogo”, do Grupo de Pesquisa
ARISE – Arqueologia Interativa e Simulações
Eletrônicas, da USP, disponível (plataformas
Sondcloud e itunes)

43 44

O Ocidente medieval: 10 séculos de uma


intensa dinâmica humana
“Nem flores, nem trevas”: como toda época
histórica  contrastes (inovações, criações,
solidariedades, arte, belezas, violências,
Finalizando dominações, abusos, injustiças)
Compreender o medievo para compreender a
nós mesmos no Ocidente do século XXI 
conflitos, explorações desigualdades, usos
escusos das religiões, desafio global da
pandemia de Covid-19, mas também ciência,
tecnologia, solidariedade, humanitarismo etc.

45 46

BASCHET, J. A civilização feudal: do ano mil à


colonização da América. São Paulo: Globo, 2006.
BLOCKMANS, W.; HOPPENBROUWERS, P.
Introdução à Europa Medieval, 300-1550. Rio de
Referências janeiro: Forense, 2012.
DELUMEAU, J. História do Medo no Ocidente.
1300-1800. São Paulo: Cia das Letras, 1989.
GENET, J.-P. Estado. In: LE GOFF, J.; SCHMITT,
J.-C. (orgs.). Dicionário Temático do Ocidente
Medieval. Bauru: Edusc, 2006. v. 1.

47 48
GENET, J.-P. Estado. In: LE GOFF, J.; SCHMITT, LE GOFF, J. Trabalho. In: LE GOFF, J.;
J.-C. (orgs.). Dicionário Temático do Ocidente SCHMITT, J.-C. (orgs.). Dicionário Temático
Medieval. Bauru: Edusc, 2006. v. 1, p. 397-409.
do Ocidente Medieval. Bauru: Edusc, 2006. v.
GEREMEK, B. O marginal. In: LE GOFF, J. (Dir.). O 2, p. 559-572.
Homem Medieval. Porto: Presença, 1989.
MACEDO, J. R. A mulher na Idade Média. São
HEERS, J. História Medieval. São Paulo: Difel,
1981. Paulo: Contexto, 1992.
HELMRATH, J. Cisma, Concílios, Reforma. In: MACEDO, J. R. Movimentos populares na
KAUFMANN, T.; KOTTJE, R.; MOELLER, B.; WOLF, Idade Média. São Paulo: Moderna, 1993.
H. (org.). História Ecumênica da Igreja. 2. Da
Alta Idade Média até o início da Idade Moderna. SILVA, M. C. História Medieval. São Paulo:
São Paulo: Loyola, 2014. p. 128-166. Contexto, 2019.

49 50
Aula LEPI

“Pelo pão de cada dia”:


Mulheres, cidades e trabalho
na Europa medieval
1
16

Prof. Ma. Fernanda Ribeiro Haag


Profa. Dra. Mariana Bonat Trevisan
Aula LEPI: o que é?

Laboratório de Experimentos Práticos


Interdisciplinares;
Semana 2 de cada fase;
Objetivo: discussões e práticas a partir de um
tema (práxis);
2
16

Ao Vivo, a partir do estúdio, com a participação


de estudantes.
Por que falarmos das mulheres e o mundo
do trabalho?

IBGE, 2021 → mesmo com a crescente participação


feminina no mercado de trabalho, as mulheres
trabalham mais horas por semana comparado aos
3 homens e permanecem com rendimentos inferiores.
16

Brasil (2019-2021) – IBGE: 40 milhões de


trabalhadores e trabalhadoras informais.
Gênero e Trabalho: como pensar?

O que é trabalho?
Atividade humana e prática de manipulação
da natureza
Contextos históricos diferentes produzem
relações de trabalho diferentes
4
16
Trabalho é uma pauta CENTRAL para as
mulheres
Gênero & Classe Social
Divisão sexual do trabalho
As mulheres e o trabalho na Europa
medieval

As mulheres trabalhavam nas cidades da


Europa medieval?

Quais seriam os trabalhos exercidos pelas


5 mulheres nesse contexto? Você estudou algo
sobre isso na escola?
16

Qual era o contexto geral dos ofícios nas


cidades medievais europeias?
Os trabalhos das mulheres nas cidades
medievais
O que a imagem
descreve?
Quem seria essa
mulher?
O que ela está
fazendo?
6
16 O que ela carrega?
Ela possui um ofício,
qual seria?

Anciens cris de Paris, início século XVI (c.1500), fólio 5, prancha 4.


Biblioteca Nacional da França 817652, cote RES-EST-264.
As mulheres e o trabalho nas cidades

Muitas mulheres tiveram ofícios


especializados (como tecelagem,
padaria), foram comerciantes,
professoras em escolas urbanas etc. Vladimir Endovitskiy/Shutterstock

Tiveram o comando de oficinas e comércios (viuvez


e ausências dos maridos, pais, irmãos), integrando,
7
16

inclusive, guildas e corporações.


Contudo, muitas também trabalhavam por jornada
e em ofícios não regulamentados, sofrendo com a
estigmatização do trabalho feminino.
8
16

Presença das mulheres em ofícios urbanos no Portugal dos séculos XIV e XV.
Fonte: PEREIRA Mariana da Fonseca A. A. A mulher e o trabalho nas cidades e nas
vilas portuguesas medievais. Dissertação de Mestrado em História Medieval.
Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2020.
As mulheres e os ofícios medievais:

Os peleiros e peleiras da corporação de


Basileia → direitos iguais homens e mulheres
(1226).
Finais Idade Média (XV/XVI): Hostilidades
para com o trabalho feminino em alguns
9
16
setores (ex.: fabricação da cerveja – BENNET,
1996): concorrência e disputa por trabalho →
marginalização (salários menores) e
vulnerabilização das mulheres para ofícios de
caráter domésticos ou informalidade.
As mulheres e a construção?

Descreva a imagem.
Quem seriam essas
mulheres?
Observando suas
vestimentas seriam elas
trabalhadoras, citadinas
médias ou nobres?
10
16
Você acha que as
mulheres trabalharam
nas construções na
Idade Média?

Detalhe do Roman de Girart de Roussillon, Cod. 2549, fol. 167v,


c.1448, Österreichische Nationalbibliothek, Vienna. Disponível em:
https://onb.digital/result/10FFC0F6
As mulheres e o trabalho intelectual

O que a imagem
representa?
Poderiam mulheres
escrever e serem
referências intelectuais
no medievo europeu?
Você sabe quem é mulher
11
16

que a imagem retrata?

Iluminura do compêndio das obras de Christine de Pizan (1413), produzida em


seu scriptorium em Paris. British Library. Harley 4431, f. 259v. Disponível em:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Christine_de_Pisan_-_cathedra.jpg
Prática: As Ordenações Afonsinas
e o caso das “barregãs” dos
clérigos
12
16
A fonte escrita:
século XV, legislação portuguesa

Referência:
ORDENAÇÕES Afonsinas. 5v.
Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 1984. v. V, tít. CXXI,
13
p. 409-414.
16

Disponível em:
http://www.ci.uc.pt/ihti/proj/af
onsinas/l5pg409.htm
A prática no Padlet
(padlet.com)

Ferramenta digital para criação


de murais, quadros, mapas, listas
de postagens coletivas online.
Clique em + para responder a
cada questionamento da fonte.
Link da atividade:
14
16
https://padlet.com/linguagensesoc
iedade1/lepi-hist-ria-a-ii-pelo-p-o-
de-cada-dia-mulheres-cidades-e-t-
jdikmdu4ww8eu6kk
O trabalho com a fonte
escrita:

15
16
1) De que fonte se
trata? Do que trata o
documento?

2) Quais grupos de
mulheres são citados
na fonte? Quais são
16 os ofícios dessas
mulheres?
16
"Pedindo os clérigos por favor que resolvêssemos esse
problema, declaramos que as antigas Ordenações,
foram feitas contra as barregãs dos clérigos e não
contra as mulheres que por honestos serviços fazem
seu dinheiro.[...]. E nos, vendo o que assim diziam e
pediam, sabendo que alguns meirinhos, alcaides e
outras pessoas de nossos reinos usavam as ditas
Ordenações como não deviam, prendendo, soltando e
desrespeitando muitas mulheres somente por fazerem
algum serviço aos clérigos, [...] querendo isto resolver,
17 como pertence à nossa Real Dignidade, declarando
16
sobre as ditas Ordenações, mandamos que nenhuma
mulher seja presa, nem seja feito nenhum mal, por ter
se dito que ela faz algum dos serviços ditos ou outro
serviço honesto aos clérigos. [...] Isso se ela viver em
casa separada e honestamente, salvo se ficar provado
que ela é de fato barregã de clérigo [...].
“[...] como há alguns clérigos muitos velhos, que
passam dos sessenta anos ou mais, os quais
necessitam para manter a vida de cuidados e
serviços contínuo de alguma mulher, que não
sejam humanamente tolhidos disso. [...]
Queremos e outorgamos que em tal velhice os
ditos clérigos possam ter em casa consigo
mulheres honestas, que passem da idade de 50
anos, [...] para continuamente os servirem e
tratarem de suas dores e enfermidades sem
18
16

temor de pena alguma [...]. E assim, com a graça


de Deus, esperamos que as ditas Ordenações,
com a dita declaração e adição por nós feitas,
sejam executadas e cumpridas."
3) O que o rei faz após as queixas dos clérigos?
A voz das mulheres foi considerada?

19
4) Após a leitura dos trechos, diga quais foram
os principais desafios e condições vividas por
16

essas trabalhadoras no contexto.


Bibliografia
BENNETT, Judith M.; KARRAS, Ruth (org.). The Oxford Handbook of
Women and Gender in Medieval Europe. Oxford: Oxford University
Press, 2013, 1-17.

BENNET, Judith. Ale, Beer and Brewsters in England. Women’s work


in a changing world- 1300-1600. Oxford/New York: Oxford
University Press, 1996.
20
16 BROCHADO, Cláudia Costa; DEPLAGNE, Luciana Calado (org.). Vozes
de mulheres na Idade Média. João Pessoa: Editora UFPB, 2018.
Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil.
Rio de Janeiro: IBGE, Coordenação de População e Indicadores
Sociais, 2021.
OPITZ, Claudia. O quotidiano da mulher no final da Idade Média (1250-
1500). In: DUBY, Georges; PERROT, Michelle (org.). História das
Mulheres. Volume 2: A Idade Média, sob direção de Christiane Klapish-
Zuber. Porto: Afrontamento, 1993.
PEREIRA Mariana da Fonseca A. A. A mulher e o trabalho nas cidades e
nas vilas portuguesas medievais. Dissertação de Mestrado em História
Medieval. Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2020.
RIBEIRO, Josena Nascimento L. “Tam ousada de quallquer estado e
comdiçom”: As relações de gênero nos mesteres em Lisboa de 1385 a
21
16 1438. Tese de doutorado. Universidade Federal Fluminense, Niterói,
2022.
ROFF, Shelley. Appropriate to her sex? Women’s participation on the
Construction Site in Medieval and Early Modern Europe. In:
EARENFIGHT, Theresa (ed.). Woman and Wealth in Late Medieval
Europe. New York: Palgrave Macmillan, 2010, p. 109-134.

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