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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO-MEC
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
Fundação instituída nos termos da LEI nº 5.152 de 21/10/1966 – São Luís/MA
PRO-REITORIA DE ENSINO-PROEN
DIRETORIA DE AÇÕES ESPECIAIS-DAESP
PLANO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA - PARFOR
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1 FICHA DE IDENTIFICAÇÃO
CURSO HISTÓRIA
MODALIDADE PRESENCIAL
CRÉDITOS 04
Prof.
Profa.
Prof.
2. EMENTÁRIO
A História como forma de conhecimento. As bases fundamentais da história da disciplina, considerando
seu nascimento na antiguidade clássica Greco-romana e seu desenvolvimento até o século XX. Desafios
do historiador: veracidade, temporalidade, objetividade, memória, alteridade. O uso das fontes. História
e Ciências sociais. Panorama atual da historiografia. Escola metódica e o positivismo. O idealismo e a
História. Marx e a História. O movimento dos Annales. A Nova História.
3. JUSTIFICATIVA
Esta disciplina faz parte de um ementário para formação de professores para atuarem na educação
básica e, portanto, trata dos conteúdos aproximados dos currículos utilizados na referida modalidade de
ensino.
4. OBJETIVOS
-Compreender como os historiadores concebem seu trabalho com a disciplina História.
-Analisar o papel do historiador e suas diferentes abordagens e procedimentos históricos às
fontes históricas durante a realização de uma pesquisa, comtemplando nos debates ,o espaço, o
tempo, o fato e os sujeitos históricos.
-Proporcionar uma reflexão crítica sobre os procedimentos de trabalho do historiador tais como
os critérios de seleção de fatos históricos, os recortes cronológicos ou temáticos, a relação com
as fontes.
-Fornecer elementos que permitam uma visão de conjunto da produção historiográfica,
localizando os principais paradigmas teóricos e os debates mais importantes nesta área do
conhecimento nas últimas décadas
5. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO (delimitar os conteúdos por unidades didáticas, com a
divisão temática de cada uma)
CAPÍTULO I - CONCEITOS DA HISTÓRIA
1 - Conceituando a história
UNIDADE I
2- C o n c e i t o s históricos: historiografia
3- A história e seu campo de renovação
CAPÍTULO II - AS FONTES HISTÓRICAS
1- Definição das fontes históricas
UNIDADE II 2- As fontes históricas
3 Tipos de relatos ou documentos
4 A metodologia da pesquisa
CAPÍTULO III - O fazer histórico: os sujeitos e o espaço do historiador
6. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Os conteúdos serão trabalhados, privilegiando:
Aula expositiva e dialogada
Discussões, debates e questionamentos
Leituras e estudos dirigidos
Escritos e exposições individuais e em grupos
Rodas de conversa sobre experiencias e habilidades com o ensino de História
7. RECURSOS DIDÁTICOS
Livros da área de ensino como base conceitual
Apostilas, artigos e outros materiais.
Trabalhos acadêmicos publicados
Relatos de experiencias
8. AVALIAÇÃO
O processo de avaliação da construção de conhecimentos a partir da observação e análise de:
observação, do interesse, do envolvimento, do compromisso, da participação, da assiduidade durante
as aulas e regularidade e cumprimento do prazo na entrega dos trabalhos solicitados. E para efeito de
atribuição de notas será processada a análise de esquemas, de resumos, de estudos dirigidos,
seminários e testes para verificação da aprendizagem.
9. BIBLIOGRAFIA
ALENCAR, Maria Amélia Garcia de. (org).A História da História. Goiânia: UCG,2005.
BLOCH, Marc. Introdução a História. Portugal: Publicações. Europa-América,s/d.
BOURD, G. MARTIN, H. As Escolas Históricas. Portugal: Publicações Europa
América,1983.
BORGES, Vavy Pacheco. O que é a História. São Paulo: Brasiliense, 1981.
PREVISÃO DE
DATA UNIDADE CONTEÚDOS ATIVIDADES REFERÊNCIAS
HORAS-AULA
PREVISÃO DE HORAS-
DATA UNIDADE CONTEÚDOS ATIVIDADES REFERÊNCIAS
AULA
O fazer histórico
O conhecimento histórico
O fato histórico
O fato histórico no fazer do
historiador
Funções sociais de
historiadores e historiadoras
Funções da história e o
ensino
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
Fundação instituída nos termos da LEI nº 5.152 de 21/10/1966 – São Luís/MA
PRO-REITORIA DE ENSINO-PROEN
DIRETORIA DE AÇÕES ESPECIAIS-DAESP
PLANO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA - PARFOR
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CAPÍTULO I
CONCEITOS DA HISTÓRIA
Cyntia Simioni França
1 Conceituando a história
Neste capítulo você será levado a compreender o que é história, a função social do
conhecimento histórico e a história no contexto das ciências humanas. Assim como Conceitos
históricos: historiografia, os modos que se produz a história e as diferentes concepções
historiográficas. E a história e seu campo de renovação :os campos de renovação
historiográfica da história e perceber o que a distingue dos modos de conceber a história em
épocas anteriores. Ao final desta unidade poderá perceber que a história passou por muitas
transformações e por isso também a consideramos um conhecimento que está sempre em
construção.
Iniciamos o debate indagando: afinal, o que é história? Recorremos a alguns
historiadores de diferentes épocas e concepções. Para Leopold Von Ranke (1790-1880), a
história era para mostrar o que realmente ocorreu no passado. Enquanto para Marc Bloch
(2001), a história é a ciência dos homens no tempo. O historiador Edward Thompson (1981)
entende que a história é a compreensão das várias faces do fazer humano que faz parte das
experiências vividas. Ainda para Walter Benjamin (1985) a história é objeto de uma
construção, e seu lugar não é o tempo homogêneo e vazio, mas um tempo “saturado de
agoras”.
As diferentes explicações são necessárias para entendermos que os modos de
compreender a história são diferentes pelos historiadores e nesse sentido o campo de
investigação fica aberto ao debate. Vamos iniciar as reflexões?
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1 Conceituando a história
Aqui seremos levados a compreender elementos que poderão trazer para nós o
conceito de História, a função social do conhecimento histórico e a história e sua relação com
as ciências. E iremos estudar:
✓ O que é história.
✓ A história e as ciências.
✓ A história em suas diferentes épocas
A história é construída a partir das vivências e ações cotidianas. Assim, o objeto de estudo da
história é o homem em sociedade, parafraseando Bloch (2001), onde encontramos carne humana é digno
de investigação histórica!
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os costumes, instituições, arte e, também, a análise cronológica dos regimes bem como dos
governos.
Na segunda metade do século XVII nasce a ideia de que existe uma história
universal. O antiquário transforma-se em um crítico da História e também um escritor da
mesma. Período em que os materiais de pesquisa passam a ser diversificados por meio de
publicações de anais, memórias e compilações. A História dessa forma é apenas uma narrativa
não rígida no que diz respeito aos conteúdos, mas mantém os padrões estéticos e morais, como se
fosse um trabalho de um escritor (FURET, 1967).
Identifica-se que do século XI ao XVII os acirramentos teológico-políticos
consequentes da Reforma Protestante contribuíram para a “[...] tendência presente nas
histórias oficiais: produzir por intermédio da história política ou religiosa os elementos históricos
favoráveis à causa defendida pelo historiador. Caberia então à história proporcionar provas e
argumentos às partes em litígio” (FALCON, 1997, p. 63).
Nota-se um fato interessante, pois desde aquela época histórica, a história desenvolveu-
se por necessidade de a Igreja construir e exaltar os valores das tradições cristãs, em confronto
naquele momento com os protestantes, por isso ficou conhecida como área de erudição
eclesiástica.
Somente em meados do século XVIII acontece um grande descontentamento em relação aos
Colégios Jesuítas por parte do ministro de Portugal, Marquês de Pombal, sendo estes substituídos por
professores escolhidos pelo Estado para assumir a direção das escolas
Somente com a Revolução Francesa, em 1789, que acontece um aceleramento das
mudanças na área da história, estabelecendo sobre a educação nacional.
É com a Constituição de 1791 que ocorre a implantação da disciplina de história
(FURET, 1967). Somente foi inserida no currículo a partir do século XVIII, período de
consolidação dos Estados-Nacionais europeus e da burguesia. Por sua dimensão política,
passa a ser um ensino vigiado e controlado, pois representava um perigo ao Estado.
Assim, é nos currículos franceses que a história primeiro torna-se disciplina escolar e
adquire um novo status escolar, independente da relação com a Antiguidade, mas mantém a
marginalidade frente ao programa regular. Enquanto disciplina escolar é sempre clandestina
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diante dos programas oficiais. Contudo, uma das propostas da história nesse momento
histórico seria a busca da formação da memória nacional e a construção de uma identidade
nacional, por isso foi considerada por Furet (1967, p. 137) “[...] genealogia da nação e o
estado da mudança, daquilo que é subvertido, transformado, campo privilegiado em relação
àquilo que permanece estável”.
Somente em 1830 a história como disciplina curricular sofre alterações decisivas no que
diz respeito, principalmente, à junção do passado com o futuro, sendo enriquecida com os estudos
econômicos e sociais e revestida de cientificidade. Assim, discernida como conhecimento da nação,
funciona com o objetivo de formar o juízo e o patriotismo, influenciados pela historiografia do
romantismo que defendia:
[...] o Estado-nação como tema central tanto da investigação quanto da
narrativa históricas; a crítica erudita das fontes elemento essencial para
desenvolver o método histórico, garantia da cientificidade do
conhecimento; introdução dos conceitos de história como singular
coletivo em conexão com o novo conceito de revolução; a perspectiva
historicista aplicada quer à história-matéria quer à disciplina [...]
(FALCON, 1997, p. 65).
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escolas históricas nacionais europeias com nomes como Leopold von Ranke, Auguste Comte
e outros que gozavam de prestígios acadêmicos.
Agora testemos nossos conhecimentos sobre o que lemos e ouvimos sobre a Ciência História:
1 Discuta essa questão com os colegas, com base no que foi apresentado: qual a função
social da história?
2. Explique com suas palavras os motivos pelos quais a história não pode ser comparada
às ciências exatas (experimentais).
3 Por que a história durante algum tempo foi mantida sob vigilância de religiosos e das
autoridades constituídas?
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1 - Historiografia tradicional
A historiografia tradicional foi fundada no século XIX, a partir de um con- junto
de padrões metodológicos marcado pela influência do positivismo e do historicismo
(metódica). A junção das duas correntes deu início à historiografia tradicional, já que do
idealismo alemão (metódica) recebeu a tendência de dar primazia ao particular, às estruturas,
aos acontecimentos individualizados, e do positivismo foi influenciado pelo caráter científico,
pela busca de fatos e pelo estabelecimento de relações precisas entre o documento e a
narração- — a ciência aplicada.
Ainda do idealismo alemão (metódica), que muitos confundem como positivista,
recebeu a base do desenvolvimento da ideologia nacionalista para justificar a missão de outros
povos em realizar a colonização e ofereceu um caráter acadêmico à historiografia tradicional,
influenciando por meio de algumas regras que consideravam extremamente importantes para
a prática historiográfica. Tal escola histórica ganhou impulso na Alemanha, com o precursor
Leopold Von Ranke.
O método científico encontrou-se bem especificado pelos pensadores Charles
Seignobos e Langlois (1946) que escreveu um manual de Introdução aos estudos históricos
em que enfatizavam que a
História é a disciplina em que com maior império se faz sentir a necessidade de bem
conhecerem os autores os métodos próprios, que lhes devem presidir à feitura das
obras. [...] os processos racionais, que nos levam a atingir o conhecimento histórico,
são tão diferentes dos das demais ciências que devemos conhecer-lhes as
peculiaridades, para fugirmos à tentação de aplicar à história os métodos das
ciências já constituídas (LANGLOIS; SEIGNOBOS, 1946, p. 10 )
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Segundo Bourdé e Martin (1983), a história metódica (idealismo alemão) marcada
pelo cientificismo faz do historiador um observador passivo da his tória, utilizando análises
objetivas, caracterizadas em eleger os grandes heróis e seus principais feitos.
Portanto, o papel do historiador consiste em apenas narrar um assunto e a única
habilidade restringe-se a retirar do documento todas as informações que apresentavam e não
acrescentar nada, como se o documento falasse por si só. Na perspectiva metódica, a história
não passa da aplicação de documentos escritos, principalmente o oficial, porque nada substitui
os documentos, e assim onde não há documentos escritos não há história (LANGLOIS;
SEIGNOBOS,1946, p. 275).
Da escola positivista, na França, representada por Auguste Comte, o positivismo
assentava-se em três leis: “[...] a lei dos três estágios de desenvolvimento do pensamento
humano: as fases do pensamento teológico, metafísico e positivismo; a lei da subordinação da
imaginação à observação; a lei enciclopédica (classificação das ciências)” (CARDOSO, 1981,
p. 30).
A história tradicional recebe a influência do positivismo acerca do conceito de tempo
como evolutivo, linear, evolucionista e progressista. Aproximando-se das ideias da escola
metódica, no sentido de também compreender que o fato histórico era um dado objetivo, que
poderia ser verificado por meio da união dos documentos pelos historiadores e que atuavam
de forma passiva diante da documentação, limitando-se apenas à narração dos mesmos.
Além disso, no século XIX a ciência provoca inúmeras transformações na vida
econômica e social dos indivíduos. Doutrinas como positivistas, mecanicistas e evolucionistas
organizaram a sociedade em sistemas de ideias inteligíveis, a princípio era o que acreditavam
naquele momento histórico. Nesse contexto histórico, quer também a história encontrar seu
lugar. Então, é durante o século XIX que a história começa a procurar constituir-se como ciência,
voltada para a investigação e transmissão de um método rigoroso, como nas ciências
experimentais. Portanto, o marxismo e a Escola dos Annales, além de se contraporem à
historiografia tradicional, passaram a caminhar em busca de a história alcançar o campo da
ciência. É o que veremos a seguir:
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consegue distinguir o verdadeiro do falso (BLOCH, 2001).
Na teoria positivista, a história só aparece quando há documentos escritos e eles são
vistos como irredutíveis do fato, o espelho da realidade, prova irrefutável de uma
investigação, e os testemunhos são abstratos e empíricos (SILVA, 1984). O que se questiona
nesse sentido é como pode ser possível produzir história, seguindo a corrente tradicional, se a
história é o estudo da experiência humana no tempo e todos os vestígios do passado são
considerados matérias para o historiador
Para os historiadores dos Annales, a história não era vista no passado pelo passado,
como os metódicos pensavam, mas a partir do presente para entender o passado, e a
incompreensão do presente não nasce da ignorância pelo passado, mas é difícil entender este,
se não soubermos nada do presente. “Visto que o conhecimento do presente interessa à
inteligência do passado” (BLOCH, 1965, p. 44).
Contudo, os historiadores da Escola dos Annales propuseram aos história- dores uma
história globalizante e totalizante no sentido de abarcar todos os elementos, ou seja,
considerar os aspectos políticos, sociais, econômicos e culturais para escrever a história.
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excedente. Segundo Hobsbawm (1998), o marxismo se propôs a mostrar que o progresso do
homem no controle sobre a natureza não se deve somente às formas de produção e suas
mudanças, mas também das relações sociais que envolviam a produção
A principal contradição dialética para Marx é aquela que existe entre as sociedades
humanas historicamente dadas e a natureza, e que fixa a determinação “[...] em última
instância da base econômica sobre os níveis de superestruturas” (CARDOSO, 1981, p. 36).
O resultado dessas contradições é o surgi- mento dos conceitos fundamentais de
modo de produção, classes sociais e formação econômico-social. Para Marx, a oposição das
forças produtivas e as relações de produção resultam na luta de classes, impulso da história,
levando às mudanças históricas. Nesse sentido, o autor mencionado explica que os homens
fazem a sua história, não por sua vontade própria e com um plano coletivo, isso significa dizer
que os “[...] homens não escolhem as suas formas sociais já que não são livres arbitrários das
suas forças produtivas é uma força adquirida, produto de uma atividade anterior”
(CARDOSO, 1981, p. 37).
Assim, as lutas de classes levam a transformações das estruturas sociais que
acontecem em situações bem definidas e que determinam os limites do que é possível ou não
para aquele momento histórico. Como dito, a luta de classes constitui a história de toda
sociedade, vistas como egoístas e antagônicas, com interesses diversos. Assim, existem os que
possuem o capital produtivo, constituindo a classe exploradora, e de outro lado, os
assalariados, os quais não possuíam a propriedade, constituindo assim o proletariado que
vendia a sua força de trabalho (GARDINER, 1995).
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fizeram parte desse movimento, Eric Hobsbawm, Raymond Williams, Cristopher Hill, Edward
Thompson e outros passaram a fazer uma revisão de alguns conceitos do marxismo
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histórico a fim de tornar-se como uma “história em migalhas”, como foi denominada por
François Dosse (1992).
Sobre as contribuições da Nova História para o pensamento histórico moderno —
além das deixadas pela geração anterior — pode-se dizer que, ao construir grandes contextos
espaço temporais, consequentemente intensificaram a divisão quadripartite europeia, a
desvalorização das investigações das ações dos sujeitos e suas significações históricas e o
abandono da análise das estruturas políticas. Limitou-se também ao minimizar a articulação
entre a história local e a história global. Por esses motivos, parte dos historiadores mudou para
a Nova História Cultural, área de estudo de Carlo Ginzburg e Roger Chartier.
Na década de 1980 a Nova História Cultural surgiu com publicações da historiadora
Lynn Hunt. A Nova História Cultural como a Nova História da década de 1970 utilizam a
expressão “nova” para diferenciar as pesquisas historiográficas das formas anteriores
(BURKE, 1992), enquanto o emprego da palavra “cultura” é para demonstrar a diferença de
História intelectual, área que abrange as formas de pensamento, antiga história das ideias, da
História social. A cultura é entendida como um conjunto de significados partilhados e
construídos pelos homens para explicar o mundo.
A História Cultural preocupou-se em analisar novos direcionamentos para a escrita
da história no que diz respeito às relações de saber e poder que consequentemente têm
possibilitado reflexões sobre a história, a partir de áreas temáticas específicas como as
abordadas anteriormente e sobre a história das práticas de leitura; De Certeau, com a análise
do discurso historiográfico e a invenção do cotidiano; Foucault e White sobre a linguagem e
as relações entre o saber e o poder.
Portanto, sua contribuição para o pensamento histórico é a valorização das ações e
concepções de mundo dos sujeitos das classes populares a partir do seu próprio espaço e
tempo e ainda o trabalho com novas temporalidades, quando novos e múltiplos sujeitos foram
incorporados nas reflexões historiográficas.
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possuem caráter subjetivo diverso, podendo beneficiar ou dificultar o trabalho de
investigação. É impossível reproduzir a experiência histórica em laboratório, podemos apenas
esperar da experiência que ela se manifeste e venha a ser interpretada aos olhos da
historiografia
Dessa forma, os historiadores contemporâneos têm o dever de valorizar as diversas
fontes disponíveis para a condução de sua investigação. Pois a experiência histórica humana
não pode e não deve ser vista e analisada apenas como um fenômeno isolado. A História é
viva e ela se relaciona com as mais diversas formas de expressões temporais e espaciais.
Neste sentido, o contato e a análise do fato histórico exigem do historiador grande
discernimento e postura ética.
As conclusões dos historiadores nunca são definitivas. Portanto, a historiografia não
deve ter a preocupação de fixar verdades absolutas, prontas e acabadas, pois a História, como
forma de conhecimento, é uma atividade contínua de pesquisa.
O historiador é um pesquisador que necessita ter um cuidado especial com as fontes
históricas, pois são elas que darão sentido para o seu ofício. É a partir do ato reflexivo ligado
ao material de pesquisa que o investigador irá esmiuçar o seu objeto de análise e estudo.
2 As fontes históricas
2.1 As fontes históricas como relatos
François Dosse lembra que, “[...] se a história é, antes de tudo, relato, ela é também
[...] uma prática que se refere ao lugar da enunciação, a uma técnica de saber ligada à
instituição histórica” (DOSSE, 2003, p. 137). Nesse sentido, profissionais da História não
podem sobreviver sem o “relato”, que é inerente a sua própria função em pesquisa e ensino,
mas também é o elemento funda- mental para problematizar sua prática. As fontes históricas
são vestígios do passado que permitem que o historiador desenvolva sua pesquisa e responda
questões referentes a elas1. Elas são usadas para construir narrativas históricas, permitindo
que os historiadores recriem eventos, contextos e culturas do passado.
Muitas vezes, o conhecimento histórico utilizou-se do termo “fonte” para designar
documento (e ainda o utiliza, dependendo da abordagem).
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Pessoas vivendo no passado deixaram muitas pistas sobre suas vidas. Essas pistas
envolvem documentos primários e secundários na forma de livros, artigos pessoais,
documentos governamentais, cartas, oralidade, diários, mapas, fotos, relatórios, romances e
contos, artefatos, moedas, selos e outros.
Muitos desses documentos foram publicados, o que significa que pode- riam ter
audiência e distribuição, como é o caso de livros, jornais, revistas, documentos
governamentais e não governamentais, literatura de toda espécie, panfletos, mapas, anúncios,
pôsteres, leis e processos
Pessoas vivendo no passado deixaram muitas pistas sobre suas vidas. Essas pistas
envolvem documentos primários e secundários na forma de livros, artigos pessoais,
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A oralidade é, sem dúvida, muito instigante do ponto de vista do seu uso como
documento para fins históricos. Tradições orais e histórias orais proporcionam outro meio de
aprender sobre o passado de pessoas que vivenciaram muitos eventos ou mudanças.
Esse tipo de documento começou a ganhar forma semelhante à atual nos anos 1930,
quando uma série de medidas que envolviam história oral foi tomada para registrar a crise
ocasionada pelas tempestades de terra no meio oeste dos Estados Unidos, o fenômeno que
ficou conhecido como Dust Bowl. Esse processo de migração forçada, pauperização da
população de classe média rural, forçada a fugir da fome em direção à Califórnia, acabou
sendo retratada em um livro de John Steinbeck intitulado Vinhas da Ira, de 1939, que também
recebeu uma versão fílmica com o mesmo nome em 1941.
A História Oral, como campo do conhecimento, reforçou-se ainda mais na segunda
metade do século XX, especialmente quando pensamos nos estudos históricos de minorias,
como os indígenas, ou outros grupos étnicos, que são, muitas vezes, excluídos dos principais
produtos culturais e historiográficos
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História Oral é o relato oral acerca de um fato histórico. Geralmente é um relato feito por
alguém que foi testemunha ocular do acontecimento. A história oral é um registro muito
importante da história, pois fornece valiosos subsídios para o trabalho do historiador.
Contudo, essa forma de encarar a História Oral sofreu inúmeros ataques, o que
repercutiu positivamente em tempos posteriores, e a trajetória particular desse campo é
interessante, por mesclar teoria e método, bem como uso de novas tecnologias numa velocidade
maior do que outros campos de estudo histórico.
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preciso que o pesquisador saiba fazer as perguntas para os documentos, que consiga captar os
detalhes mais negligenciáveis ou aqueles que por parecem tão óbvios passam despercebidos.
O cinema pode muito bem ser utilizado como uma fonte histórica e não apenas como
um recurso para ilustrar o conteúdo ministrado em sala de aula. Mas um filme não pode ser
tomado como retrato do que “realmente” aconteceu, o filme é uma produção e uma
reelaboração de uma perspectiva da história, segundo os valores, o imaginário e o sistema
cultural em que estão inseridos os diretores, os produtores e os profissionais do cinema. Por
isso, o filme deve ser encarado como um “artefato”, que deve ser criticado, desconstruído,
questionado.
A fotografia é outra fonte riquíssima para a pesquisa histórica. Todavia, ela não é um
retrato de uma realidade, um espelho ou uma janela para o passado. Uma fotografia deve ser
analisada a partir dos valores de uma época, de uma determinada sociedade. A fotografia está
condicionada àquilo que uma de- terminada sociedade, grupo, classe social ou indivíduos
desejam perpetuar e transmitir para a posteridade, aquilo que é considerado importante e
digno de ser lembrado.
Os jornais também são fontes extremamente importantes para a pesquisa histórica. A
mídia impressa (os jornais, em especial) pode revelar as tensões e os conflitos de uma
determinada sociedade. A fonte jornalística pode reproduzir as disputas e os interesses que
estavam em jogo naquele determinado contexto. O jornal não é um mero reprodutor de
informações, cujas características principais são a neutralidade e a imparcialidade, pelo
contrário, ele participa ativamente da construção dos valores políticos, sociais e culturais da
sociedade em que está inserido
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Outra fonte muito utilizada atualmente na pesquisa histórica é aquela que é fruto da
oralidade. As fontes orais são construídas através do trabalho de rememoração ou lembrança
dos sujeitos históricos através de depoimentos ou entrevistas de história oral. A construção da
fonte oral é um momento sempre complexo, pois depende muito do contexto histórico
vivenciado pelo entrevistado. Por exemplo, quando uma pessoa que vivenciou momentos de
violência física e simbólica em contextos de ditadura militar ou situações de disção e injúria,
ao colocar-se a falar sobre suas experiências, não raro o testemunho pode ser marcado pela
emoção, por traumas, ressentimentos, por ódios, esquecimentos etc.
O pesquisador sempre deve partir de um “problema” de pesquisa que vai definir seu
tema ou objeto de pesquisa. O próximo passo é fazer uma revisão bibliográfica da literatura
sobre o tema. A seguir, o pesquisador deve selecionar as fontes para a construção da pesquisa.
A discussão e os resultados da pesquisa são construídos a partir do cruzamento e confronto
entre as fontes históricas e a historiografia, ou seja, aquilo que já foi escrito sobre o tema
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( ) O trabalho com fontes históricas permite que o historiador pesquise e explore o período
histórico com precisão. Com as diversas fontes históricas acessíveis ao historiador, a
fidelidade à verdade histórica e a preocupação em estabelecer verdades absolutas sobre os
fatos históricos ganham força e espaço dentro da historiografia atual.
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( ) A fonte histórica é um dado que necessita de uma nova análise constantemente.
Independente do período histórico em que ele foi produzido, a análise do mesmo objeto de
estudo, em tempos diferentes, é crucial para a pesquisa histórica, pois entende-se que a escrita
do historiador atenderá questões relacionadas ao tempo presente, e a realidade a qual está
inserido.
( ) A História Oral ganhou espaço dentro da historiografia na Gré- cia, com Tucídides, quando
este defende o uso de narrativas pessoais para escrever o livro sobre a Guerra do Peloponeso.
Desde então, as escolas historiográficas buscam o aperfeiçoamento deste método,
problematizando as narrativas e inserindo questionamentos atuais a essas memórias.
( ) A História Oral tem como material de análise a memória, seja ela individual ou coletiva.
Estas memórias aproximam o historiador da vivência de um grupo ou de uma pessoa sobre o
período histórico em que a pesquisa está inserida. Dessa forma, as narrativas da memória não
necessitam de questionamentos ou problematização, pois a História Oral, enquanto método de
pesquisa, busca a veracidade da memória para compor o trabalho de investigação da pesquisa.
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relevância, desde o seu surgimento, a História Oral é compreendida como um modo de
“preencher lacunas” quando os documentos oficiais não suprem as necessidades da pesquisa.
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( ) A partir da Nova História o conceito de documento é reformulado, abrangendo uma vasta
possibilidade de pesquisas. O historiador conta com outros tipos de documentos para além dos
escritos. Fotografias, filmes e outras manifestações culturais tornam-se objeto de análise e
estudo desses pesquisadores, indicando as transformações que ocorrem com o tempo, as
mudanças estruturais, culturais e morais de uma sociedade. Vale ressaltar que este tipo de
documento visual é produto da percepção de outra pessoa, sendo que é necessária a análise
crítica do historiador.
( ) Com o avanço da mídia em todas as suas formas, o acesso a algumas informações tornou-
se rápido e dinâmico. A utilização de documentos multimidiáticos mostra-se recente na
historiografia, sendo amplamente utilizados por historiadores da nova geração, ao considerar
como fonte de pesquisa para fins acadêmicos e didáticos relatos postados em sites de
compartilhamento, como o Youtube e outras redes sociais.
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( ) A pesquisa histórica parte dos objetivos. Sendo este o primeiro passo a ser elaborado pelo
pesquisador, toda produção deverá responder os objetivos gerais e específicos. A escolha da
metodologia, fundamentação teórica e hipóteses deverão responder a esses objetivos, sendo
que, se isto não for possível, a produção histórica não possui validade no campo acadêmico.
( ) Cinema, fotografias e outras fontes de cunho representativo de um meio social podem ser
utilizadas como fonte histórica. Com esse tipo de fonte, é possível analisar detalhes sociais e
culturais de um determinado período histórico, além de detalhes cotidianos. Por se tratar de
uma representação de algo que aconteceu, esse tipo de fonte não necessita de uma análise
crítica do historiador, sendo que esta já passou por tal crivo de quem a produziu.
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HISTORIADOR
Fazer profissional da história, evidenciando os sujeitos históricos, o fato histórico e
algumas tendências da historiografia, com ênfase em história ambiental
1 O fazer histórico
O fazer histórico deve ser entendido pelo menos em duas dimensões: a história como
produção do conhecimento e como ação do sujeito em seu cotidiano. Nessa seção
discutiremos essas duas facetas métier dos historiadores e das historiadoras
1.1 O conhecimento histórico
No mundo ocidental, a história, com esse nome, emergiu na Grécia do período
clássico. Heródoto escreveu nove livros intitulados Histórias, cada um deles levando o título
de musas helênicas, e repletos de feitos e comportamentos tanto gregos, quanto bárbaros de
um período não tão distante do autor.
Mas a história não pode ser resumida a livros escritos por alguns de seus pretensos e
disputados pais. Ninguém pode negar a Heródoto seus méritos, mas há que se destacar que
Tucídides também se apresenta como genitor do que hoje é esse campo institucionalizado. A
história emerge não de livros, mas de uma necessidade mais existencial, que impele os
humanos de diversas regiões do globo a querer buscar interpretações sobre sua orientação, seu
sentido, no tempo (RÜSEN, 2007a).
Os humanos buscam identificar mudanças e continuidades para perceberem-se no
papel crítico de agente de escolhas históricas. Ser agente é ao mesmo tempo um processo de
ação e de reflexão sobre a sua ação no seu tempo em um determinado espaço histórico.
A história é produzida como ciência na medida em que organizamos narrativas para
encadear uma explicação lógica do passado dos indivíduos ou das sociedades.
Especialmente ao longo do século XIX, passamos a pensar a ciência histórica,
marcada, aí sim, por protocolos de pesquisa, por uma racionalização institucionalizada, por
cadeiras, por especialidades, por teorias e métodos, uma história (RÜSEN, 2007a).
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O fim do século XIX é marcado pela luta incessante pela apropriação de um passado
para a Europa, especialmente greco-romano (ideia que o autor também compartilhava),
percebendo que a história começava a incomodar nas esferas públicas e privadas,
especialmente quando se pensa em manutenções ou reordenações do status quo econômico,
político, social ou cultural
A história do final do século XIX não era mais aquela baseada no ver ou ouvir
contar, tão característicos a Heródoto. E também não era mais apenas aquela baseada em
narrativas de guerras amparadas em documentos dispostos cronologicamente, de Tucídides.
Muito menos continuava sendo a narração da vida dos santos, marca de um mundo medieval.
Por fim, também já estava apartada das preocupações filosóficas propostas por iluministas dos
séculos XVII e XVIII. Agora era uma disciplina autônoma, com seus próprios recursos,
modelos, autoridades, perspectivas, prerrogativas e abordagens
Darwinismo social é originário dos estudos Charles Darwin no campo da
biologia. Darwin em A origem das espécies (1859) desenvolveu a teoria evolucionista que se
contrapunha às justificativas religiosas do criacionismo.
O darwinismo social foi uma extrapolação das teorias evolucionistas para outras
áreas do conhecimento. Desse modo as culturas europeias estariam mais evoluídas e, portanto,
seriam superiores. Essa visão serviu como base de muitas justificativas para a dominação de
muitas culturas por sociedades industrializadas e para a expansão do neocolonialismo.
Resquícios dessa visão equivocada persistem até os dias de hoje em concepções etnocêntricas.
Em contraposição a essa visão preconceituosa e racista por extensão, surgem visões como o
relativismo cultural e o multiculturalismo, em que as culturas não devem ser entendidas como
inferiores e superiores, mas sim que toda manifestação cultural só pode ser entendida no
contexto em que foi gerada
Se entre os séculos XVIII e XIX há toda uma gama de inversões, contestações,
emergências de novas posições em torno do conhecimento histórico; se, na virada do século
XIX para o XX há diversas reelaborações conceituais que vão separando, cada vez mais, a
história de outros campos —, se estas separações buscam estabelecer algumas fronteiras entre
os campos e processos inerentes ao realismo científico típico da naturalização das ciências na
sociedade contemporânea, é impossível determinar caminhos gerais ou modelos específicos
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para o que acontecerá no século XXI, embora possamos identificar algumas perspectivas
amplamente reconhecidas na comunidade de historiadores e historiadoras.
O processo de transformação do conhecimento histórico posto nesse período amplia-
se ao longo do século XX e está em curso. Ele é impulsionado, simultaneamente, por
mudanças nas concepções gerais de história, nos pro- cedimentos de pesquisa e de ensino, na
multiplicação de formas de escrita, na reelaboração de narrativas, nas mais variadas
especializações da história, no debate sobre o que é e o que não é história, no conceito de
documento, de periodização, nos jogos de escala, na ideia de arquivo e patrimônio, no uso de
tecnologias
Então, cabe aqui que você faça uma pausa para reflexão: o que seria, com base
em todas as derivações apresentadas, o conhecimento histórico? O que é a história?
Peter Burke (1995), em A escrita da história, ao falar dessa que ficou conhecida
como a Nova História, afirma que qualquer tentativa de definição categórica sobre a história
implica problemas, e que poderíamos pensá-la mais a partir de uma descrição negativa, ou
seja, poderíamos explicá-la pelo que ela não pode ser. Ou seja, não sendo uma história
tradicional não tem uma preocupação em achar uma verdade única, pois o que supomos ser a
realidade é uma construção histórica e culturalmente determinada.
Uma definição positiva do conceito poderia advir da recente profissionalização do
historiador, aprovada pela Câmara dos Deputados. Contudo, o texto legal não expõe, também,
quais seriam os elementos fundamentais da história, e que perpassam por quaisquer de
suas especialidades.
Ficando assim o texto final aprovado pela Comissão de Assuntos Aociais:
PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 368, DE 2009
Regula o exercício da profissão de historiador e dá outras providências.
O CONGRESSO NACIONAL decreta:
Art. 1º Esta Lei regula a profissão de historiador, estabelece os requisitos para o
exercício da atividade profissional e determina o registro em órgão competente.
Art. 2º É livre o exercício da atividade profissional de historiador, desde que
atendidas as qualificações e exigências estabelecidas nesta Lei.
Art. 3º O exercício da profissional de historiador, em todo o território nacional, é
privativo dos portadores de:
I — diploma de curso superior em História, expedido por instituições regulares
de ensino;
II — diploma de curso superior em História, expedido por instituições
estrangeiras e revalidado no Brasil, de acordo com a legislação;
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3 Funções sociais de historiadores e historiadoras
A história não é construída apenas por historiadores interessados em perpetuar
lembranças, feitos gloriosos ou a vida dos reis. Estando inteiramente presos às sociedades que
os comportam, historiadores e historiadoras ora incorporam épocas e locais de aceitação da
sua crítica e apresentam uma capacidade de discernimento sobre os problemas sociais, ora são
extremamente perseguidos.
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mais variados espaços que compõem a realidade do Brasil e do próprio planeta que
habitamos.
Estudar história não significa apenas problematizar o passado, mas acima de tudo
refletir sobre o presente. O historiador-professor deve ser visto como um intelectual de
fundamental importância na sociedade, pois é com base em suas intervenções que diversas
questões poderão ser problematizadas
4 Outras histórias
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impossível estabelecer a descrição de grande parte desses sub campos, uma vez que
convivemos com poucos deles no dia a dia.
Como exemplo de uma recente tendência, falaremos aqui da história ambiental, ou
como afirma Burke (1995, p. 8), “[...] às vezes mais conhecida como eco - história”
A história ambiental apresenta-se como área de pesquisa útil a interpretar problemas
contemporâneos das relações entre humanos e não humanos no tempo, tomando a categoria
“ambiente” ou “ambiental” como o resultado das dimensões “natural e construída pela mão
humana, do mundo palpável” (BUELL, 2002, p. 37).
Na sua condição de professor ou professora, ou mesmo na condição de
estudante, uma problematização interessante para entender sua realidade é fazer um inventário
na sua região de manifestações climáticas extremas ou recorrência de fenômenos em escalas e
números não muito comuns. Valendo-se de recursos da história oral, você poderá montar um
acervo de temas para futuras pesquisas e processo de ensino com seus alunos.
O campo da história ambiental e a forma como ele se estrutura é relativamente
recente, quer o pensemos em termos teórico-metodológicos, como temáticos, uma vez que,
grosso modo, “a história ambiental é a história dos papéis e lugares da natureza na vida
humana, a história de todas as interações que sociedades têm apresentado com o passado não
humano, nos seus ambientes” (STEWART, 1998, p. 352). Mas ela também é a história das
interações entre humanos e não humanos quando se pensa em ecologias como a de um prédio
num centro urbano como São Paulo/SP, ou numa explosão de reator nuclear, como em
Tchernobyl, na então União Soviética de 1986, ou ainda no vazamento de Césio-137 em
Goiânia, no Brasil de 1987 (KLANOVICZ, 2010).
Ante a modernização exacerbada acarretada por eventos da primeira metade do
século XX, é possível perceber, também, críticas que comporão as fundações de uma história
ambiental dos anos 1970. Parte delas emerge do próprio background científico caracterizado
pela racionalidade mecanicista acerca do mundo natural, da separação antagônica e
artificialista entre humanos e “natureza”, das dicotomias “sociedade” e “ambiente”.
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Para o historiador atual, não é mais tão difícil fazer pesquisas ou mesmo ter
acesso a inúmeras fontes. E nesta nossa discussão sobre a história e o tempo, essas sensações
sobre o tempo também aparecem constantemente e fazem parte do nosso dia a dia, tanto
acadêmico como do docente.
Não poderíamos, nesta discussão sobre história e tempo, deixar de fazer algumas
pequenas considerações sobre os estudos de história baseados na memória. Eles são muito
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O tempo para os marxistas continua com uma visão muito próxima daquela encontrada
pelos positivistas. Se os adeptos da teoria de Ranke veem o tempo como linear e progressivo, os
descendentes de Marx não refutam essa ideia. Em vez disso, lançam mão de uma nova
interpretação: o tempo é visto como evolutivo, uma sucessão de sistemas econômicos que sempre,
invariavelmente, vão melhorando e progredindo um após o outro.
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é o tempo passado, presente, futuro, é a nossa noção de tempo quando o sentimos, não quando
o marcamos.
Para José D’Assunção Barros (2011), quando o homem consegue tecer análises sobre
as temporalidades, como a Antiguidade, o Medievo e a modernidade este homem está se
apoderando das temporalidades, ou seja, do próprio devir histórico, e isso é fundamental para
as análises que o historiador deverá fazer ao longo da sua profissão.
As palavras de Bloch traduzem de maneira muito objetiva a impressão sobre o
presente que temos na história. O autor deixa claro que o presente, se pensarmos bem, não
existe. Ele é muito fugaz, é algo totalmente abstrato. É um segundo que não retorna para que
possamos analisá-lo. É claro que, como o autor diz, não podemos tomar esta análise ao pé da
letra. O presente existe, mas o seu aspecto fugaz é algo que complica bastante a análise.
Bloch, no livro em que estamos nos baseando, Apologia da história (2001), faz uma
importante discussão sobre o tempo passado e presente. O passado é por definição o campo
mais óbvio de análise do historiador, e é exatamente esta obviedade que Bloch crítica no livro
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Percebemos que para Rüsen a união entre o ensinar história e o pesquisar história é
algo comum, claro, sem dificuldades para acontecer. Podemos até nos atrever, dizendo que a
pesquisa, o ensino e a reflexão entre essas práticas formam um processo dialético
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Ora, não é por acaso que o ensino de história na educação básica inicia-se no sexto
ano, quando os anos estão exatamente na finalização do processo piagetiano descrito na
citação acima. Apesar de ainda terem sérias restrições e dificuldades para abstrair o conceito
de tempo, entendendo-o como polissê- mico, esses alunos já conseguem, ao menos
biologicamente, traçar algumas relações óbvias sobre o tempo e o seu entendimento. Mas o
que seria essa segunda fase do entendimento temporal, o pensar historicamente?
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