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PÁTIO

QUEIMAS EXTERNAS
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RAKU Ana Flores

O Raku - técnica japonesa de queima cerâmica era utilizado inicialmente nas peças
da cerimônia do chá.

Esta cerimônia era praticada desde o século XII, mas os potes Raku remontam ao
Receita base para Raku (960ºC) final do século XVI, em Kioto, quando o mestre do chá Sem-no-Rikyû (1522-1591)
Sobre argila branca com chamote:
pediu ao ceramista Chôjirô (falecido em 1589) que fizesse tigelas de chá para a
chanoyu (cerimônia do chá japonesa).
Frita Alcalina 85%
Bal Clay 7,5% Rikyû foi o mais famoso mestre de chá do seu tempo e vivenciava a cerimônia do
Calcita 7,5%
chá com uma profunda dimensão espiritual. As tigelas de chá com vidrado negro e
+Ox. de Cobre 3%
vermelho com queima Raku confeccionadas por Chôjirô, 1 a geração da dinastia
Raku, no início dos anos de 1580 seguiam os preceitos da estética de Rikyû e
continham sua idealização de austeridade, do inacabado e do significado não
explícito.

No Japão, a tradição Raku tem sido passada de pai para filho há 400 anos, sem
nenhuma instrução escrita. Cada geração tem que reinventar seu próprio trabalho.
A inovação é a verdadeira tradição da dinastia RaKu.

Raku Kichizaemon XV nasceu em Kioto em 1949. É o filho mais velho de Raku


Kakunyû XIV. Graduou-se em Escultura na Universidade de Tóquio e posteriormente
estudou na Itália, tendo recebido o título de 15 a geração da dinastia Raku, aos 32
anos. As peças Raku são consideradas parte do Tesouro Nacional e têm valor
Receita base para Raku (960ºC)
incalculável.
sobre argila de Palhoça /SC
Em 1911, o inglês Bernard Leach foi estudar no Japão e estabeleceu contato com o
Frita Alcalina 85% ceramista Shôji Hamada e ao retornar ao ocidente introduziu a técnica Raku na
BallClay 7,5%
cerâmica européia, sendo que no início, as peças desenvolvidas ainda estavam
Calcita 7,5%
ligadas às formas tradicionais orientais.
+ Ox. de Estanho 5%

Nos EUA, o Raku foi introduzido por Gilberson que em 1939, também foi estudar no
Japão.

Mas sem dúvida, o amplo uso atual da técnica de queima Raku no Ocidente, deve-
se ao ceramista norte-americano Paul Soldner, que tendo estudado no Japão,
desenvolveu nos anos sessenta a técnica de redução pós-cocção.

Assim, no Ocidente, a técnica Raku consiste em queimar peças vidradas até cerca
de 980ºC quando então são retiradas do forno ainda incandescentes e colocadas
dentro de uma câmara de redução. No Japão as peças são retiradas do forno e
resfriam ao ar livre.

Receita base para Raku (960ºC)


sobre argila de Palhoça/SC

Frita Alcalina 85%


Ball Clay 7,5%
Calcita 7,5%
+Ox. de Cobre 1,5%
+Ox. de Estanho 3%

VEJAMOS A TÉCNICA RAKU PASSO A PASSO:

1) Modele algumas peças com argila resistente a choques térmicos. Lembre, você pode melhorar a resistência a choques
térmicos das argilas e massas cerâmicas com chamote (de 10 a 50%) e talco (5%).

2) Você pode modelar com qualquer técnica, mas comece com peças menores e sem muitas emendas.

3) Pinte as peças já biscoitadas e deixe secar o vidrado. É conveniente não vidrar a parte de baixo das peças para que não
grudem na prateleira do forno.

4) Queime as peças biscoitadas e vidradas até cerca de 960-980ºC. A temperatura do forno pode subir bem rápido e você
pode fazer vários ciclos de queima.

5) Você pode usar forno a lenha, a gás ou elétrico, mas saiba que as resistências elétricas sofrerão maior desgaste com os
repetidos choques térmicos.

6) Quando o vidrado atingir o ponto de maturação, ou seja, quando estiver fundido é hora de desligar o forno e abri-lo.

7) Use equipamentos de segurança, como máscara e luvas para Raku, avental e botas de couro. Evite roupas sintéticas
que podem ser inflamáveis. E lembre sempre de desligar o disjuntor do forno elétrico antes de introduzir pinças
metálicas junto as resistências elétricas.

8) Usando seu equipamento de segurança, retire as peças do forno com pinça de ferro com 70- 90 cm de
comprimento. As peças ainda incandescentes são colocadas dentro de uma câmara de redução.

9) Esta câmara pode ser um tonel com tampa que contenha serragem, folhas secas, casca de arroz, etc. Estes materiais
entrarão em combustão carbonizando as peças. Se o tonel for hermeticamente fechado, o fogo que precisa de oxigênio
para continuar queimando, “roubará” oxigênio dos óxidos metálicos utilizados nos vidrados para Raku. Este processo
chama-se redução.

10) Depois de queimar por alguns minutos ( 10 a 30 minutos), a peça é retirada da câmara de redução e pode ser
deixada para esfriar lentamente ou pode ser submergida em água para deter o processo de redução.

11) Lave as peças com água e sabão neutro para retirar o excesso de fuligem.

São características do Raku peças com lustres metálicos, craquelados e pinholes (“furinhos”), zonas enegrecidas onde não
há vidrado, e uma aparência de antigo na superfície, além de pequenas rachaduras no vidrado e mesmo na peça.

Devido a estas características, peças com queima Raku não são indicadas para utilitários (recipientes para comida e
bebida). Ainda mais contra-indicadas serão se houver fundente de chumbo na composição do vidrado.

Fotografias de Adriana Andricopulo de queima de Raku de trabalhos de Ana Flores

RECEITA-BASE DE VIDRADO RAKU ( 960°C ):

Frita alcalina 85

Ball Clay 7,5

Carbonato de Cálcio 7,5

Esta receita-base de vidrado Raku (de Christine Constant e Steve Ogden, p.09) é transparente e você pode colorir com
óxidos metálicos. As cores variam de acordo com a cor do biscoito e a intensidade de redução. Comece com biscoitos de
argila branca.

Óxido de Estanho 5% Branco leitoso

Óxido de Estanho 10% Branco opaco

Óxido de Cobre 3% Turquesa metalizado

Óxido de Ferro 10% Caramelo

Dióxido de Manganês 1% Marrom translúcido

Óxido de Cobalto 5%
+ + Azul Médio
Óxido de Estanho 5%

Óxido de Cobalto 0,5%


+ + Preto
Óxido de ferro 6%

Óxido de Cobre 1,5%


+ + Azul Claro
Óxido de Estanho 5%

Óxido de Cobre 1,5%


+ + Marrom Esverdeado Metalizado
Óxido de ferro 6%

A técnica Raku não é algo que deva ser simplesmente imitado e repetido. A tradição transmite o conhecimento ancestral
que é modificado com a interpretação do mundo de cada nova geração e do que apreendemos a partir da própria pesquisa
em poéticas visuais.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BRANFMAN, Steven. Raku, a practical approach. Iola, Krause, 2001.

CHAVARRIA, Joaquim. Esmaltes. Lisboa, Estampa, 1999. 64p. il.

CHITTI, Jorge Fernandez. Tóxicos Cerámicos . Buenos Aires, Ed. Condorhuasi, 2000.

CONSTANT, Christine. & OGDEN, Steve. La Paleta del Ceramista. Barcelona, Gustavo Gili, 1997.

GALE, John. Pottery. Londres: McGraw-Hill, 2001.

HANAZATO, Mari. Kichizaemon Raku XV in Clay in Art, Grécia, s/ed., 2006. p.190-199

JONES, Alejandra & DIVITO, Ana María. Cerámica Raku, uma técnica, uma pasión. Buenos Aires , Lumiere, 2005.

MATTISON, Steve. The Complete Potter. New York , Barron’s, 2003. 224p. il.

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