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não pode ser caracterizada clínica e patologicamente anteriormente como agricultor, ex-fumante (abstêmio
como qualquer outra doença” o termo é estritamente há 12 anos) e ex-etilista (abstêmio a 7 anos),
clinico e não implica uma alteração tecidual compareceu a clínica de Diagnóstico VI da
histopatológica especifica3. O termo foi adaptado Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC)
diversas vezes, sendo sua última versão, como em 2016, para acompanhamento de lesão branca
“placas brancas de malignização possível após anteriormente diagnosticada. Foi verificado que o
exclusão daquelas que não transportam tal risco”4. paciente já havia realizado duas biópsias incisionais
Seu aparecimento ocorre principalmente em com diagnóstico de queilite actínica sem atipia
homens acima dos 40 anos, encontradas em celular (2010 e 2013). Na época foi proposto o
aproximadamente 70% dos casos no vermelhão do tratamento com o uso de protetor solar FBS 30 em
lábio, seguidos da mucosa oral e gengivas. Das lesões bastão. No exame clínico atual observou-se lesão
em língua, assoalho de boca e vermelhão dos lábios, esbranquiçada, com aspecto verruciforme, medindo 2
90% exibem displasias ou carcinoma3. A causa das cm no maior diâmetro, localizada em lábio inferior
leucoplasias é desconhecida, contudo existem (Figura 1). Além disso, o lábio encontrava-se
algumas teorias sobre o fator etiológico causador. endurecido, com aspecto roliço. Duas hipóteses de
Uma das teorias mais aceitas relata que o uso do diagnóstico foram levantadas: queilite actínica
tabaco estaria intimamente ligado ao seu associada a leucoplasia e carcinoma verrucoso.
aparecimento, sendo que mais de 80% dos pacientes Diante das características clínicas da lesão,
com leucoplasia intraorais são tabagistas. Outra histórico do paciente e tamanho da lesão optou-se
hipótese associa a radiação ultravioleta como o fator pela realização de biópsia incisional. A biópsia foi
etiológico da leucoplasia de vermelhão do lábio realizada através de uma incisão superficial em forma
inferior, estando diretamente relacionada à queilite de cunha, abrangendo tecido epitelial e conjuntivo.
actínica3,5,6. Para conseguir uma melhor aproximação das bordas
A queilite actínica (QA) é uma alteração com durante a sutura e minimizar os danos estéticos foi
potencial de malignização comum do vermelhão do realizado uma manobra cirúrgica chamada divulsão
lábio inferior (95% dos casos), que resulta de uma do tecido (Figura 1).
exposição progressiva e/ou excessiva aos raios
ultravioletas (UV). Ocorre geralmente em homens em
uma proporção de 10:1, acima dos 45 anos,
leucoderma, com ocupação profissional ao ar livre.
Sua malignização pode resultar no carcinoma
espinocelular, sendo que este carcinoma corresponde
a aproximadamente 94% de todas as lesões malignas
da mucosa bucal3,4,7.
O diagnóstico da queilite actínica é baseado
em uma avaliação clínica e histopatológica. Há
divergência com relação à necessidade de biópsia.
Alguns autores relatam que a necessidade de biópsia
vai de acordo com a evolução da lesão, porém alguns
autores afirmam que a biópsia é indicada em todos os
casos, pois há grande risco de malignização8. Já o
diagnóstico das leucoplasias é dado por exclusão, ou Figura 1: Lesão inicial evidenciando placa branca, com aspecto
verrucoso, durante biópsia incisional.
seja, a partir de uma avaliação clínica, realiza-se uma
biópsia da lesão, após analisar o laudo O exame histopatológico (Figura 2) revelou
histopatológico, onde constará a exclusão de outras tecido epitelial de revestimento pavimentoso
placas brancas semelhantes, dá-se o diagnóstico de estratificado exibindo abundante hiperceratose
leucoplasia, já que esta não pode ser caracterizada (imagem maior), com alterações de maturação e
clinicamente ou patológicamento como qualquer proliferação epitelial restritas ao terço inferior do
outra lesão3,9. epitélio (imagem menor). Além disso, o tecido
No presente estudo será relatado o caso de conjuntivo denso apresentava intensa elastose solar
um paciente atendido na clínica de Diagnóstico VI da (seta), concluindo-se tratar de queilite actínica com
Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC), displasia epitelial leve. No pós-operatório de 30 dias
com acompanhamento durante seis anos de placa observou-se boa cicatrização da área operada
branca em lábio inferior. (Figura 3). O tratamento proposto foi o uso de filtro
solar FPS 30 em bastão, além do uso de chapéu de
CASO CLÍNICO
aba larga. Também foi proposto, acompanhamento
Paciente, sexo masculino, leucoderma, 60 semestral para controle da evolução da lesão, e para
anos de idade, aposentado e motorista, trabalhava estabelecer um contato mais próximo com o paciente.
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