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A partir do que foi lido nos textos de referência e discutido em sala de aula, cite as
mudanças por que passaram as operações de paz a partir do pós-Guerra Fria,
explicitando também as críticas a esse novo modelo implementado pela ONU.
Resposta esperada: A partir do final da Guerra Fria, as operações de paz romperam com
características basilares em relação ao período anterior, sobretudo os princípios de
neutralidade, de consentimento das partes e de não ingerência nos assuntos internos.
Isso aconteceu porque, a partir da década de 1990, com o novo paradigma de operações
de paz da ONU, passou-se a ter uma ênfase maior no poder coercitivo das tropas de
manutenção de paz. Além disso, a categoria de “peace-making”, sobretudo quando
ligado à lógica do “state-building”, esteve ligado à ingerência direto nos assuntos
domésticos dos Estados periféricos, a partir do processo de reconstrução dos Estados.
Além disso, as operações de paz contemporâneas são caracterizadas por um maior
entrelaçamento com as organizações regionais de segurança, como a OTAN, a OEA e a
União Africana.
Esse modelo é passível de críticas pois, em primeiro lugar, parte de uma visão
ocidentalizada de paz, identificando-a com a ideia de “paz liberal”, formada a partir da
conjugação entre democracia liberal e economia de mercado (sobretudo nos moldes
neoliberais). Além disso, essas operações acabam reforçando as relações de poder
existentes no sistema internacional, ao permitirem certa tutela dos Estados periféricos
pelos países centrais, reproduzindo uma lógica colonial de poder na segurança
internacional.
A guerra irregular esteve durante anos ausente nos Estudos Estratégicos, tendo
adquirido maior importância a partir do final do século XX. Entretanto, além de antigo,
esse fenômeno foi significativo para a compreensão de diversos eventos internacionais
nesse período, como foram os casos dos processos de descolonização no continente
africano e asiático durante as décadas de 1960 e 1970, os movimentos de libertação
nacional na América Latina (como na Revolução Cubana e na Revolução Sandinista),
além da própria Guerra do Vietnã.
Resposta esperada: A guerra irregular é marcada pelo confronto armado entre Estados e
organizações armadas não-estatais – ainda que também possa ocorrer entre dois
Estados, desde que estes detenham capacidades desproporcionais. Nesse sentido, o
principal alvo dessa guerra é o povo, tanto em termos de conquista de seu apoio
explícito ou tácito, quanto pela incorporação de novos combatentes às fileiras dos
grupos armados não-estatais. Por outro lado, seu objetivo central é a tomada do poder
do Estado, geralmente estando vinculado a movimentos revolucionários. Outro ponto
importante é a descentralização dos grupos armados, sua flexibilidade no campo de
batalha e o confronto indireto, seja por meio de ações ilegais (assaltos, sequestros,
envolvimento com o crime organizado), seja por confrontos rápidos com tropas
regulares (emboscadas, ataques furtivos).
Com base no que foi estudado e discutido, defina as principais características das novas
guerras segundo a perspectiva de Kaldor.
Resposta esperada: Para Mary Kaldor, as novas guerras são fruto do ressurgimento da
política de identidade nos países periféricos após seu colapso – que se deu em função ao
colapso dos regimes sustentados pela dinâmica da Guerra Fria e pelo enfraquecimento
dos Estados em função das reformas neoliberais. Dessa forma, esses conflitos estavam
assentados principalmente nas divisões étnicas, religiosas e raciais dentro de uma
mesma sociedade. Por outro lado, essas guerras são alimentadas pela globalização, pois
esta possibilita um maior fluxo de capitais para alimentar esses conflitos armados.
Em termos de forma como são lutadas, as novas guerras envolvem diferentes tipos de
atores: tropas regulares, organizações armadas irregulares, mercenários, tropas de
operações de paz, agentes do crime organizado, dentre outros. Já a forma como a
violência é empregada envolve diferentes tipos de atrocidades e desrespeito ao Direito
Internacional Humanitário, como limpeza étnica, violência sexual, escravização de
populações, genocídio, dentre outras formas de emprego.