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O GRITO DE MUEDA
Primeira Ópera Nacional Moçambicana

Ficha Técnica
Livreto: Nilza Laice e Oscar Castro, sobre ideias de Hortensio Langa
e Feliciano de Castro Comé
Música: Feliciano de Castro Come, Pedro Tinga, Samuel Manhica, Ilidio Manhica, Luis Caruana, Diego
López y Oscar Castro,

PERSONAGENS:
Professor da escola rural – Bajo
Pedro (Chefe da Turma) – tenor
Ana (Namorada do chefe da turma) e Mulher Velha - soprano
Rosa (aluna)- mezzo
Luis Cuzzani: Missionário extrangeiro, bandoneonista
Camponesa I - Contralto
Camponesa II – Soprano
Camponêz 1 – Tenor
Camponêz 2 – Barítono
Camponêz 3 – Baixo
Enferméira – Mezzo
Motorista da região sul – Tenor

Pai do Pedro (aldeiano makonde) – Baixo


Mãe do Pedro (aldeiana makonde) – Mezzo contralto
Pai da Ana (aldeiano makonde) – Barítono
Mãe da Ana (aldeiana makonde) – Mezzo soprano Homem
Joven (Pai do bebé) (aldeiano makonde) - Tenor Mulher
Joven (Mãe do bebé) (aldeiana makonde) – Soprano
Governador de Cabo Delgado - Barítono
Administrador de Mueda – Baixo
Comandante do Pelotão - Tenor
Yamila (Empregada da Administração de Mueda) – Soprano
Padre Madeira (Cura Párroco da Igreja Católica de Mueda) - Tenor
Coro de estudantes – Sopranos, Mezzos, Tenores e Baixos
Coro dos soldados – Tenores, Barítonos e Baixos
Coro do povo de Mueda – Sopranos, Mezzos, Tenores e Baixos

Música 1: Abertura e prólogo


(música coral e instrumental)
Coro:

Mueda e seus mártires assinalam o caminho do sacrifício.


Não esqueceremos, abracaremos com amor suas bandeiras.
Construiremos uma só Pátria, sem oprimidos e sem pobreza.
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(Uma mulher velha, com cerca de 75 anos, vestida elegantemente, aparece por frente-direito do palco.
Caminhando devagar, com a bengala, hacia o frente esquerdo. Delante do microfone diz ao público:)

Mulher velha: Caros compatriotas. Eu sou da Província de Cabo Delgado. Estou aqui para lhes contar
o que aconteceu em Mueda, em junho de 1960. Naquela época eu era uma rapariga e frequentava a escola
primária. Lembro claramente que naquele mês o desejo de liberdade e justiça surgiu em mim. Desde
então, lutei por esse sentimento e sonhei com ele em cada amanhecer. Hoje estou prestes a morrer. Antes
de partir, quero lhes dar a chama que nasceu naqueles dias. Eu sou velha e a memória as vezes me falha,
mas lembro que na escola…, ( se ilumina a cena com os estudantes na aula, alguns deles ja chegaram,
outros estão entrando e saudam-se com afecto) muito cedo, todos os dias, nós cantávamos para a natureza
e para Deus. Eramos muito pobres, mas as crianças e os jovens podem ser felices mesmo na pobreza
extrema.

( e s t u d a n t e s )

Mesa
Cuadro Cadeira

Mulher Velha
(microfone)

ACTO I
Cena I
(Sala de aulas de uma escola rural muito precária. Os estudantes estão a espera do Professor. O
Chefe da Turma (Pedro) orienta a seus colegas numa canção.

Música 2. “Oração matinal” (Samuel Manhiça)


Coro de estudantes a 4 vozes mistas
(A mulher velha aproxima-se ao lado esquerdo do cenário, tira a roupa de velha, deixa a bengala e
transforma-se numa rapariga. Logo dirige-se agilmente ao cenário e incorpora-se a aula).

Cena 2

(O professor entra por o frente-dereito com um missionário extrangeiro. Ele porta seu bandoneon- Os
alunos levantam-se.)

Alunos: Bom dia senhor professor.

(O Professor caminha do frente -dereito ao frente esquerdo. Luis fica no frente-dereito, perto da cadeira

Rosa (outros estudante) Ana -Pedro (outros estudantes)

Mesa
Cuadro Cadeira
Professor Luis

Professor: Bom dia, como estão?


Alunos: Estamos bem, obrigado.
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Professor: Podem-se sentar.


Alunos: Obrigado.

Professor: Hoje temos a visita de um missionário extrangeiro: o jovem Luis


Cuzzani. Ele trabalhará por três meses com o padre Madeira, ensinando
catecismo e colaborando com a comunidade. Ele trouxe o instrumento
musical que ele toca para nos mostrar. Querem conhecer-lo?

Alunos: Sim!

(Luis tira o bandoneón do estofo)

Pedro (Chefe da turma): Qual é o nome desse instrumento?

Luis Cuzzani: Bandoneón

Música 3 (Luis Caruana)


(Uma música do Rio de la Plata começa na orquestra. Enquanto Luis retira seu instrumento junta-se
ao discurso musical, tocando o bandoneón)

Professor: Muito bonito !! ... Vocês gostaram?

Alunos: Siiiimmm!!! queremos ouvir mais


Professor: Luis, pode ficar conosco?

Luis: Estou feliz em ficar com vocês.

Professor: Obrigado Luis.


Hoje vamos conhecer os continentes do nosso planeta Terra.

( Dirigi-se ao quadro e apresenta um disenho rudimentário com os seis continentes)

Música 4 – “Canção dos continentes”


(Solo de baixo, coro, guitarra, contrabaixo e bandoneón)
(Luis acompanha “Canção dos continentes” com o bandoneón. O clima é quase festivo, enquanto eles
aprendem os nomes dos continentes.)

Professor: Aqui é a Europa

Alunos: Europa?

Professor: Sim, a Europa, a terra dos homens brancos.


Eles com aço e sangue conquistaram
Regiões e povos do mundo

Aqui é a Ásia

Alunos: Ásia? Ásia?

Professor: Sim, a Ásia,


Com países de grandes cidades e altas montanhas.
China, Índia e Japão estão na Ásia

Professor: Aqui é Oceânia

Alunos: Oceania, Oceânia

Professor: É a Austrália e muitas ilhas.


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Aqui é a América

Alunos: América? América?

Professor: Mistura de raças, continente de sonhos e esperanças.

Muitos homens do mundo encontraram paz e trabalho na a América.

Longe está a Antártida

Estudantes: Antártida? Antártida?

Professor: Muito frio e pouca gente.

Aqui está a África

(Em quanto os estudantes escutan “África”, se paran e dancan mentras cantan)

Alunos: África, África, nossa terra, nossa casa,


nosso povo, nossas lágrimas, que se converten en cantos e danças.

Professor: O Homem surgiu aqui, sua cultura iniciou aqui.

Alunos: O Homem surgiu aqui, sua cultura iniciou aqui.


Aqui está África, África,
nossa terra, nossa casa, nosso povo, nossas lágrimas,
que se convertem em cantos e danças.

(O Professor pide calma com os bracos. Os estudantes novamente voltan asentarse no chao)

Professor: Agora repitamos juntos os nomes dos continentes:

(O Professor sinhala no cuadro os continentes e estudantes nombram)

Alunos: Europa, Asia, Oceânia, Antártida, África...África… África,

(Novamente os estudantes dancan em quanto escutan “África”.)

nossa terra, nossa casa, nosso povo, nossas lágrimas,


que se convertem em cantos e danças.

Uma das meninas da turma, Rosa, ubicada no fondo-esquerdo não participa da aula. Para-se e
caminha em diagonal hacia o frente-esquerdo, perto de Luis Cuzzani. Senta-se no chao e esconde a
sua cara entre as mãos.

( e s t u d a n t e s )

Mesa Luis
Cuadro Cadeira
Professor Rosa

Quando o professor descobre-la, a música cesa (G.P.) O professor aproximasse a Rosa.

Professor: O que é que se passa Rosa? (Rosa não responde),


Rosa, estas bem? Qual é o problema?

(Rosa levanta-se e canta. Caminha por o proscenia hacia o frente esquerdo)

4
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( e s t u d a n t e s )

Mesa Luis
Cuadro Cadeira
Rosa Professor

Música 5 : “Sofremos muito”


Rosa: Sofremos muito com a ausência da nossa mãe,
Ficamos souzinhos, não temos dinheiro para arroz e feijoao, passamos fome.
Sofremos muito com a ausência da nossa mãe,
(O Professor olha para a turma, solicitando uma explicação. Ana levanta sua mao)
Ana: Sr. Professor, a mãe dela faleceu há um mês, sofrem muito com os irmãos e agora o pái
procura casar-la, para cobrar o lobolo
(Luis guarda seu bandoneón)
Professor: Rosa, eu sei como é difícil perder alguém, principalmente para vocês que ainda são jovens.
Mas nem tu, nem nenhuma outra pessoa nesta sala vai deixar de estudar para se casar e
trabalhar. Vou encontrar-me com os outros adultos, o Padre Madeira e o régulo e juntos
vamos encontrar uma solução, esta bem? (O professor consola a Rosa no frente-esquerdo)
Por favor, Luis : Você pode acompanhá-la até a casa dela e ver se eles têm algo para comer
hoje.
Luis Cuzzani: Com certeza. Eu vou cuidar desta menina e seus irmãos.
(Rosa busca a Luis no frente-direito e juntos saiem por o frente-direito)
Professor: Já agora, quem pode dizer souzinho todos os continentes?

Cena 2
(Um dos alunos levanta sua mão, mas aparecem repentinamente cinco camponêses por o frente-dereito.
Os alunos levantam-se.
Camponês 1: Com licencia…
(Os alunos levantam-se.)
Alunos: Bom dia meus senhores
Camponêses: Bon día, meninos.
Professor: Podem se sentar.
Camponês 1: (ofegante) Bom dia... Sr. Professor, desculpe-nos pela interrupção mas,
temos uma notícia muito importante....
(Olha para os lados para ter certeza que não há ninguém a ver-lhes, tiram o rádio do saco e colocam
na orelha do professor)
Professor: Wau! Que notícia fantástica...

( e s t u d a n t e s )

Mesa
Cuadro Cadeira

Professor Camponés 1 Camonés 2 Camponesa II


Camponés 3
Camponesesa I

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Camponês 2: É muito mais do que nós poderíamos imaginar, ou sonhar...


Camponês 3: Temos que fazer uma reunião agora mesmo...
Professor: Meninos podem sair para o intervalo...
(Os alunos saiem, resmungando e questionando-se, o chefe da turma toma coragem e volta)
Pedro (Chefe da turma): Desculpa, Professor mas não íamos a nomear os continentes agora?
Professor: Sim, logo que falar com meus colegas. Por favor, saiam!
Pedro (Chefe da turma): Sim , mas o que é que se passa, porque estão tão nervosos ?
Professor: (o professor sorri) Porque nós também... logo seremos livres, livres do
colonialismo.
Pedro (Chefe da turma): Colonialismo? O que é o colonialismo Sr. Professor?
Vão entrando os outros alunos, interrogados e surpresos fazem a mesma questão.
Ana: O que é colonialismo?
Os outros alunos: O que é colonialismo?... O que é colonialismo?...

Música 6:
Canção: O colonialismo é uma das vergonhas da Humanidade (Ilidio Manhiça)
Coro de Camponêses e Professor (S, C, T, B)
O colonialismo é uma das vergonhas da Humanidade, hi, hi , hi
O colonialismo é um destruidor da dignidade.
É a exploracao do homem pelo homem,
é a riqueza de uns sobre a pobreza de muitos.
Temos de vencer, essa besta exterminar,
nossa terra libertar, nossa história engrandecer,
para deixarnos, de ser colonia portuguêsa
e marginalizados na nossa própria terra
O colonialismo é uma das vergonhas da Humanidade, ih, , hi, ih, hi
O colonialismo é um destruidor da dignidade, ih, hi.
O Povo, o Povo vencerá

Professor: Agora por favor podem ir ao intervalo...


(Os estudantes saiem cantando o estribillo por o medio-izquerdo).

Cena 3

Mesa
Cuadro Cadeira

Camponés 1 Camponés 2 Camponesa II


Professor Camponés 3
Camponesa I

Professor: Nossa reunião na escola tein que ser corta, se não os portugueses desconfiam...

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Camponês 1: Isso tem de acabar, viver vigiado na sua própria terra…viver como mendigo, suplicando
por liberdade…Porque tem que ser assim?
O que foi que eu fiz para nascer escravo?
Camponêsa I: Calma irmão...calma
Camponês 1: Calma?! É isso que querias dizer? Peça me tudo menos calma, eu não posso ficar calmo
enquanto os meus irmaos morrem lavrando a terra, enquanto choram da
alegria que é passageira, enquanto ventres rebentam de fome... calma
irmão? É isso que querias dizer?
Camponês 2: Ela queria dizer que as tuas feridas tambem são nossas, mas que precisamos ter cautela...
Camponêsa II: Um cão quando se exalta é porque ja não teme o seu dono.
Camponês 1: Eu ja não temo.
Camponês 3: Eu ja não temo e nunca temi. Se a morte me vier, não temerei serei estrume
para alimentar os meus irmãos.
Camponêsa I : Não fales de morte, hoje é dia de vitória, é tempo de regarmos os campos
com sorrisos e não com sangue.
Professor: E... já tem os pontos para a nota que vamos levar ao Sr. Governador de
Cabo Delegado?
Camponês 1: Nos somos os pontos, e só ele olhar para nos uma vez na vida e, logo
percebera o que reevendicamos.
Camponês 3: Esta tudo escrito nos nossos olhos, na palma das nossas mãos, nas minhas
costas, nos teus pés, nas nossas palhotas, no cantar susurrado das crianças,
que mais temos que escrever?
Professor: Tudo bem, mas precisamos ter isso escrito numa folha. Nos tempos de hoje
os papeis é que falão...
Camponês 2: Por favor senhor professor, escreva numa folha o que ela disse (sinhala a
Camponesa II)

(Camponês 1 busca a mesa y coloca a frente do cuadro; a Camponêsa I leva a cadeira ao Professor por
detrás do grupo. Camponêsa 1I adelanta-se para falar rápido)

Cuadro

Camponesa I Camponés 1 Camponés 2


Cadeira Professor Camponés 3
Mesa
Camponesa II

Camponêsa II: (rápido) Mais dignidade, mais respeito pela nossa cultura, melhor preço
para as nossas coleitas
Professor: Um momento, meus amigos. É preciso manter as regras de cortesía…
(O professor senta-se na cadeira e escrebe, en tanto pensa en voz alta)
“Senhor Governador, com tudo respeito solicitamos…”
O professor escreve a nota e os camponeses repetem. Pela emoção dos leitores, continuam em forma
cantada.

Música 7 : Canção da solicitação


(mezzo solista e coro de vozes mistas)

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Camponêsa II : Senhor Governador solicitamos mais liberdade, mais dignidade


Camponês 1: (falado) Isso mesmo, mais dignidade
Camponêsa II : Mais dignidade e respeito pela nossa cultura
Os outros camponêses: ...respeito pela nossa cultura...
Camponêsa II : Desejamos circular sem restrição
Os outros camponêses: …circular sem restrição...
Camponêsa II : …queremos vender nossas colheitas por um preco justo…
Os outros camponêses: ...colheitas por um preço justo...
Professor: (escrebendo) …vender as nossas colheitas por um preço justo…
Camponêsa II : Finalmente precisamos de eleger os nossos próprios governantes!
Os outros camponêses: ...eleger os nossos propios governantes!!
Professor: (escrebendo) …Com o nosso mais profundo respeito: o Povo de Mueda
Os outros camponêses: ...o Povo de Mueda,
o Povo de Mueda, livre, digno, em sua própria terra…(2 vezes).
Camponês 1 (falado): Calma, calma, companheiros. Por favor lêa toda a peticao,
para escutar todo o escrito
Professor: (levánta-se) Senhor Governador solicitamos mais liberdade, mais dignidade
e respeito pela nossa cultura.
Desejamos circular sem restrição
Queremos vender nossas colheitas por um preco justo…
Eleger os nossos propios governantes.
Com o nosso mais profundo respeito: o Povo de Mueda
Os outros camponêses: ...o Povo de Mueda,
o Povo de Mueda, livre, digno, em sua própria terra…(4 vezes).

Cena 4
(Entra uma enfermeira e um motorista por o frente-dereito).

Cuadro

Camponesa I Camponés 1 Camponesa II Camponés 2 Camponés 3


Cadeira Professor Enfermeira
Mesa Motorista

Enfermeira: Bom día a todos


Todos: Oh! Bom día!, bom día!...bem vindos!
Enfermeira: Finalmente estou em casa... Em Tanzânia, senti muita saudade de vocês...
Professor: De voces ou de mim? Hum....?!
Enfermeira: Professor...
Professor: Enfermeira...
Riem-se todos...
Professor: Bem vindos camaradas. É verdade o anúncio que ouvimos na rádio?
Enfermeira: Sobre o qué?

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Professor: Que o governo livre da Tanzânia, apoia os movimentos de libertação de


Moçambique?
Enfermeira: É verdade! E eu quero falar com vocês sobre isso, precisamos nos reunir.
Os nossos irmãos da Tanzânia estão dispostos a ajudar.
Todos: Hurre !! Qué bom !!.
Camponês 2: Sra. Enfermeira, como vive o povo de
Tanzânia? Como é viver em liberdade?
Enfermeira: Em liberdade o coração explode de alegría !! Se tein a sensacao que todo
será resolto com felicidade para todos…

(A Enfermeira inicia seu relato com palavras mais logo continua com uma canção e o grupo faz o coro.
Para cantar, a Enfermeira avanza hacia o frente-medio).

Cuadro

Camponesa I Camponés 1 Camponesa II Camponés 2 Camponés 3


Cadeira Professor
Mesa Motorista

Enfermeira

Música 8 - “Quando o povo vive livre”


(ária para soprano seguida do coro)
Quando o povo vive livre é como pombas brancas em céu azul. Sente
flores que surgem em suas mãos e que o horizonte é infinito Quando o
povo vive livre canta nas ruas, nas escolas e nas machambas Quando o
povo vive livre, as crianças podem sonhar
As mães constroem universos de amor e ternura
E a pátria é o lugar de todos.
(Quando a Enfermeira finaliza seu canto, retrocede ao medio-centro. Os estudantes aparecen por el
frente- izquerdo, a nivel da plateia e sentan-se no chao do palco)

Cuadro

Camponesa I Camponés 1 Enfermeira Camponesa II Camponés 2 Camponés 3


Cadeira Professor
Mesa Motorista

estudantes

Cena 5

Pedro (Chefe da turma): Desculpa professor, mas não pudemos deixar de ouvir…porque estão
tão felizes?
Professor: Porque deixaremos de ser colonia de Portugal
Pedro (Chefe da turma): Deixar de ser colonia de Portugal? É posible? Mas Sr. Professor, se nós já
não formos colónia portuguesa, o que seremos?
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Professor: Uma só nação livre e soberana.


Aluno 4: Uma só nação?!?
Ana: Nos somos muito diferentes em Mozambique, muitas etnias, culturas e diversas
línguas no mesmo território... nós somos makondes e o Senhor que é do
sul (sinala ao motorista) não tem as tatuagens que são características da
nossa cultura, como seremos uma só nação?
Pedro: Ninguém fala todas as línguas de Moçambique, como vamos nos
enteder?
Motorista: Nós nos entedemos filho, mas o colono faz nos acreditar que não...Eu sou
da zona sul do nosso país, nao percebo a vossa língua materna, mas percebo
os vossos problemas, que tambem são os nossos problemas no sul, porque
somos todos irmãos sedentos da mesma coisa: DE LIBERDADE.
Ana: É possivel uma só nação livre?
Professor: Sim, é possível !! ... até a união de toda a África, sem fome é
possível !!
Aluno 4: A união de toda a África sem fome !!?? ...
Pedro: Toda África unida, livre e sem fome. Não é uma fantassia ?
Motorista: Hoje parece uma fantassía...mas será realidade algum dia! .. África é
bonita e um dia será livre

(O Motorista ocupa o centro- frentes para cantar. Os estudantes escutan o solo de Motorista olhando a
ele, mas quando cantan o estribillo giran para o frente, olhando ao público)

Cuadro
Camponesa I Camponés 1 Enfermeira Camponesa II
Camponés 2
Cadeira Professor Camponés 3
Mesa
Motorista

Estudantes a nivel de plateia- Ana Pedro- outros estudantes a nivel de plateia

Música 9 – “Africa Unida” (Pedro Tinga)


(Motorista + coro de estudantes e camponêses)
(O Motorista canta “Africa Unida”. Quando os outros percebe o sentido da canção, repeten o estribillo)

Em shangana Traducção
‘Africa ‘Africa
‘Afric a li bonde ‘Africa libonde
‘Afric a Maputo ‘Africa Maputo
‘Afric a wako chon ga ‘Africa bonita
‘Afric a ‘Africa
‘Afric a Zim babwe ‘Africa Zimbabwe
‘Afric a Tanz ania ‘Africa Tanzania
‘Afric a sempre unid a ‘Africa sempre unida
‘Afric a ‘Africa

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‘Africa swahile ‘Africa swahile


‘Afric a shan gan a ‘Africa shangana
‘Afric a ‘Africa
‘Afric a hit a z hula ‘Afri ca Em ‘Africa estaremos em Paz
Humbani mitamo ya mwina Unem as vossas forcas
‘Afric a unida ‘A fric a ‘Africa unida ‘Africa
‘Afric a Ho y’ e Viva ‘Africa
Hita wissa hu colonhi ‘A frica Descansaremos do colonialismo em ‘Africa
Hita hanha hi kukhul a ‘A frica Viviremos em Paz
‘Afric a unida ‘A fric a ‘Africa unida ‘Africa
‘Afric a Ho y’ e Viva ‘Africa

(Coro)
S ase le tiko sas’e (3 v ez es)
S ase le tiko l a ‘Afri ca

Pedro (Chefe da Turma): Nós percebemos o que é o colonialismo e agora percebemos o que é a
liberdade. E por isso, também queremos acompanhar-vos na petição com
o Governador Português.
Professor: … mas vocês são muito jovens e...
Pedro (Chefe da Turma): Somos jovens mas partilhamos os mesmos sonhos!
Ana: Deixe-nos participar professor...
Enfermeira: Deixe-lhes ir professor, também fazem parte do povo de Mueda, sofrem os
mesmos problemas e tem o direito de reivindicar com os outros…
Camponês 3: Sim, deixe-lhes ir professor…
A turma: Por favor Sr. Professor...nós também queremos um futuro melhor...
Professor: Vocês são muito jovens !
Camponês 1: É bom as crianças aprenderem como é que se fala com os brancos…(riem-
se) Deixe-lhes ir professor!
Professor: Esta bem. Mas tem que pedir autorização aos seus pais! Só se eles
autorizarem, vocês podem vir conosco.
A turma: Hurree!!
Professor: ….Eu ja sonho com a liberdade…
Todos: Nos todos, sonhamos despertos com a liberdade

Cuadro
Cadeira
Mesa
Professor CamponesaI Camponés1 Enfermeira Camponesa II Motorista Camponés2 Camponés 3
Estudantes a nivel da plateia

Música 10 - “Sonhamos despertos com a liberdade”


( solistas e coro misto)
Coro: Sonhamos despertos com a liberdade
Solos (invencao livre): Num mundo onde todos somos tratados de igual forma
Onde não existem pretos nem brancos, simplismente homens
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E sentimos flores nas mãos e escutamos melodías no lugar de palavras


Sentimos sinos de amizade e poesías com gosto de paz
(Os camponese e o Professor avncan hacia o proscenio)
Sonhamos despertos com a liberdade
Falamos de amor e não conhecemos a maldade
estreitamos a mão de um irmão,
não para derrubar-lhe mas para elevar-lhe

Mientras acontece “Sonhamos despertos com a liberdade, se fecha o telao


e muda da escenografía

Fim Acto I

ACTO II
Aldeia Makonde

Cena I

Pae de Pedro Homem Joven construie palhota

Mae de Ana- Mae de Pedro Yamila (se arregla o cabello)

Mulher Joven
(Em seus braços embala um bebé) Pai de Ana
(artesano)

Duas mulheres e cantam:


Música 11 - Canção tradicional Makonde de trabalho
Homen Jovem construie sua palhota e canta:

Música 12 - Canção tradicional Makonde de embalar


(Mulher jovem embala seu bebé. O homen jovem aproxima-se da mulher jovem, abraça-lhe por atrás e
la acompanha no canto com boca fechada)

Música 13 - Canção tradicional Makonde de trabalho


(Artesano, Pai de Ana, canta)

Cena 2
12
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Aparecem o chefe da turma e a sua namorada e cuatro colegas . Como saudação, eles cantan Yalelo no
frente - centro, anivel da plateia. Todos os aldeianos cantam com eles.

Pae de Pedro palhota

Mae de Ana- Mae de Pedro Yamila

Homem joven
Mulher Joven
(Em seus braços embala um bebé) Pai de Ana

Pedro, Ana e cuatro colegas

Música 14 – Yalelo
(Canção tradicional Makonde - Coro a 3 vozes mistas).

Pedro, Ana e os otros estudantes suben por o frente medio. Pedro e Ana ocupan o medio-centro. Os
otros colegas o medio-dereito.

Pae de Pedro palhota

Mae de Ana- Mae de Pedro Yamila

Pedro, Ana e cuatro colegas

Homem joven
Mulher Joven
(Em seus braços embala um bebé) Pai de Ana

Pedro: Papá, nos viemos despidir. Vamos a Mueda acompanhar o grupo que leva
a petição.
Pai do Pedro: O grupo que leva a petição? O que é isso?
Mãe de Pedro: Petição de qué? Que grupo?
Pedro: O grupo que vai a Mueda para falar com o Sr. Governador para pedir mais
liberdade e respeito pela nossa cultura. Estamos seguros, não se preocupem
vamos com o Sr. Professor, a enfermeira e um grupo de camponeses.
Pai da Ana: Nem pensar, vocês ainda são crianças, o que vão fazer lá?
Mãe da Ana: Deixem isso para os mais velhos, que sabem falar com os brancos... E se
voces forem recrutados para trabalhar nos campos de algodão?!
Pai do Pedro: Eu pensei que voces fossem a escola para aprender alguma coisa, mas já
vi que não...É melhor voltarem para casa e vivermos todos
felizes...esqueçam essa história de ir a Mueda!
Mulher Jovem: Papá tem razão, não há vida mais feliz que todos junt na aldeia. Voltem
para casa, façam a vossa machamba e casem-se.
Ana: Mas é por isso que vamos a Mueda. Para lutar pelos nossos direitos… para
um dia podermos voltar para casa, e nos casarmos sem medo que de repente
um de nós seja recrutado, espancado ou até morto.
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Pedro: Estamos fartos da opressão, dominação e humilhação que vivemos sujeitos


todos os dias...quero poder conhecer a minha família que vive do outro lado
do planalto, saber o que se passa nos outros cantos do pais, sem pedir como
limosna o Namakongo, essa humillante licenca para transitar que inventó o
colonialismo.
Homen jovem: Eles querem ser livres!
Pai da Ana: Ser livres?! Se somos livres...que coisa mudaria?
Pedro: Todo mudaría….a educacao, a saude, o trabalho…
Ana: … Nos ja sonhamos despertos com a liberdade…

Música 15 – Fragmento de “Sonhamos despertos com a liberdade”


(Pedro e Ana + coro)

(Pai de Ana faz un gesto enérgico para cortar o canto)

Pai de Ana: Bonitas ideias... Mas vocês creem que o Sr. Governador escutará suas
palavras?
Yamila: Não escutaram nada!! Eles só dizem mentiras
Mãe da Ana: Nem sequer vocês poderam olhar nos olhos!! Yamila trabalha na
Administração de Mueda e saube como são os brancos!
Mãe do Pedro: Nem pensem nessa viagem! Vocês fiquem conosco! Tua irmã Yamila viu
carros de sipaios na baixa e não gosta de seus patrões brancos…eles
falam uma coisa e logo fazem outra…

(A mãe do Pedro chora. Yamila abraza-la e tenta consolar-la)

Pedro: Não se preocupem... A viagem será breve, rapidamente voltaremos a aldeia


para vos saudar e contar as boas novas sobre a petição.
Homen jovem: Mas ... Se no grupo há também camponeses... eu posso ir com vocês a
Mueda? ... eu gostaria de acompanhar...
Mulher Jovem: Santo Deus !! Meu marido também perdeu a razão !
Pedro: Com certeza !! Para construir uma pátria livre, todos são bem vindos !
Homen jovem: (a sua mulher) Vou com eles...cuida da nossa filha. Voltarei com mais
força para trabalhar numa terra livre... eu também sonho com a liberdade...

(A mãe do Pedro entrega aos jovens um cesto de mandioca. Tem um ar pesado e não diz se quer uma
palabra).

Pedro: Fica tranquila, Mãe. Logo estaremos em casa com vocês e as novidades
serão tão bonitas
Pai do Pedro: Muito cuidado com os brancos... eles tem todo o poder...
Yamila: Por favor, irmãos, não podem ir! Vocês não podem obter nada bom disso
Ana e Pedro: Voltaremos logo! Não se preocupem...

(Os estudantes dirígen-se ao frente-medio para sair. Aparece o Mapiko e procura detener a os estudantes
cruzando-les o caminho. Cuatro homems suben ao palco com tambores por o frente esquerdo e -ao
mesmo tempo - outros cuatro homens suben ao palco por o frente direito. Cercam ao Mapiko com
instrumentos de percussão. O Mapiko tem uma gestualidade trágica. Procura advertir aos jovems do
perigo. Os jovems nao percibem o mensage e saiem. Mapiko danza encima do palco e logo em um pasillo
14
15

da plateia. Os homems com tambores e aldeianos van ao proscenio mentras se fecha o telao. Mapiko
saie por o fondo da plateia)

palhota

(Fecha-se o telao)
Mulher Joven – Pai de Pedro- Tambores - Mae de Ana- Mae de Pedro-Yamila - Pai de Ana

Mapiko no pasillo

Música 16 - Dança tradicional makonde de Mapiko

Mientras acontece Dança de Mapiko, se fecha o telao e muda da escenografía

Fim do Acto II

Acto III
Cena 1 – A

Administração de Mueda, frente a praça. O Governador Português está sentado no proscenio fumando
um cigarro na companhía do Comandante do Pelotão e o Administrador de Mueda. No fondo, a banda
do batalhão (dois trombones)inicia uma música que logo canta o Governador:

Casa de Administracao de Mueda


Cipaio (trb I) Cipaio (trb II)
Cipaio 3 Cipaio 4
Cipaio 5 Cipaio 6

Gobernador
Administrador mesa Comandante

Caixa de wisky

Música 17: “Moçambique é nosso e sua gente nossos serventes” (Ária de Barítono )

Moçambique é nosso e sua gente nossos serventes,


ficaremos aqui eternamente
Moçambique é nosso e sua gente nossos serventes

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nos foi dada por Deus e conquistado pelas nossas mãos


Ficaremos aqui eternamente
(O Administrador e o Comandante do Pelotão acenam cada frase de seu superior. Quando finaliza a
música poem-se todos a rir as gargalhadas...)

Governador : Estes selvagens da região de Mueda estão a cada dia piores... Decidí
convocar a todos para falar claro e dar-lhes um puxão de orelhas! Sr.
Administrador, mandou avisar em todas as aldeias do encontro de hoje aqui
na praça?
Administrador: Sim Sr. Governador. Mas temos informação que a população vai
apresentar uma petição...
Governador: Petição!?? Também isso? ...brutos ignorantes...mas vão aprender o que é
bom para tosse. Já não chega darmos-lhes educação de graça, ainda vem
aqui exigir mesquinhices... Comandante: Os soldados de reforço já estão
em Mueda?
Comandante: Sim, Sr. Governador. Desde ontem estão ocultos na zona baixa.
Governador: Perfeito... Quando toda a gente estiver na praça, com os fuzies apontados
as suas cabeças, apressamos os seus dirigentes e serviremos a eles uma
boa sova... uma exemplar sova para que sirva de lição a todos!... e logo
mandamos estes malandros directo a Cadeira de Porto Amélia!.

(O Governador e Administrador riem-se)

Comandante do Pelotão: O Povo de Mueda pode pôr-se muito violento quando apresionarmos
os seus dirigentes...E se levássemos as crianças e os bebés como reféns?
Administrador: Reféns para que??
Comandante do Pelotão: Para não ficarem violentos…porque…
Governador: Comandante, Poupe-nos! Dois sopapos a cada dirigente e três tiros que
zumbem nas orelhas da população e todos lembraram quem é aqui o dono
da situação e da terra.

Cena 2 - A

Entra Yamila (a jovem empregada da Administração) por o fondo – direito e serve wisky. Os três
homens olham para ela lascivamente. A menina está incomodada pela situação e sai rápidamente
despois de servir a bebida por o fondo - direito.

Administrador: Yamila: Falta o gelo! (a seus parceiros). Esta pretinha me tira do sério,
começo logo a ferver ... e...
Governador: E é por isso que as coisas aqui não andam...se primeiro te
concentrasses com assuntos da Pátria...
Os três homens: hahaha (Riem-se todos)
Comandante do pelotão: É impossível concentrar-se com raparigas destas a cada volta. Outro dia o
Padre Madeira ausentou-se umas horas para um funeral. Eu deparo-me
com a irmã desta criatura a limpar os bancos da igreja... Aiaiai...Só Deus
é quem sabe como fez essa pretalhada... Quando o Padre voltou, a Virgem
Maria chorava por tanto pecado...
Os três homens: hahaha (Riem-se todos)

(Entra Yamila por o fondo-direito e serve gelo em cada copo. Os três homens olham para ela novamente
com luxuria. Sai Yamila por o fondo - direito)
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17

Governador: Onde mora a prima desta rapariga?...eu lembro que no ano pasado
fez 15 anos...
Administrador : Hoje com 16 é uma festa aos olhos... mas a semana caió-se e mal consegue
pôr-se em pé.
Governador: E eu a preciso dela em pé? . Eu quero ela na cama sem roupa !!! (Riem-se
todos) . Verei-lhe logo que sairmos disto!

Cena 2 – B

(Entra Yamila e junta os copos uma bandeja. Os três homens olham para ela novamente e quando ela
aproxima-se tocam suas pernas e cadeiras. Yamila esquiva as mãos dos homes e sai)

Comandante: Ontem vi o Padre Madeira com um assistente branco. Quem é ele?

Administrador: Um jovem missionário extrangeiro que está ensinando catecismo em Mueda.

Comandante: Por que ele visita tanto as aldeias? ... não estará organizando esses ignorantes?

Administrador: Nãoooo !!! ... o seu papel é trabalhar para a Igreja Católica e a Igreja esteve
sempre com Portugal

Comandante: ... mas fico com desconfiança ... hoje há muita confusão …alguns religiosos
em America Latina apoian os movimentos de camponeses sim terra.

Administrador: É verdade…também em Cuba, um argentino, a quem chamam Che Guevara,


lutou junto aos revolucionários até que aqueles homens barbados e sujos
derrotaram o governo do Presidente Batista ...

Governador: Mas aqui é diferente ... aos revolucionários volamos pronto suas cabeças com
três tiros ... mas o melhor é perguntar ao próprio Padre Madeira o que o jovem
extrangeiro faz nas aldeias ...Yamilaaa !!

(Yamila entra por o fondo-direito)

Governador: Procure o Padre Madeira, precisamos falar com ele e seu assistente branco.

(Yamila sai apressadamente por o frente-esquerdo)

Cena 2 - C

Governador: Agora, meus amigos, é preciso trabalhar. Comandante: apronte a tropa!


Comandante do Pelotão: A tropa já está pronta! Soldado, toque a chamada!

(O cipaio trombonista I toca a chamada. O Comandante do Pelotão canta)

Música 18: “Soldados em guarda”


(Ária de tenor + coro masculino )
Soldados em guarda, nossa mãe pátria precisa de nós
Marchemos adiante em nome da nossa honra
Marchemos adiante em nome de Deus
Soldados em guarda, nossa mãe pátria precisa de nós
17
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Cena 3

(Entran o Pai Madeira e Luis Cuzzani, guiados por Yamila, por o frente-esquerdo

Casa de Administracao de Mueda


Cipaio (trb I) Cipaio (trb II)
Cipaio 3 Cipaio 4
Cipaio 5 Cipaio 6

Yamila

Gobernador
Administrador mesa Comandante
Caixa de wisky

Luis – Padre Madeira

Padre Madeira: Bom dia, meus caros Senhores

Governador: Bom dia, Padre Madeira ... Eu não pergunto como está a Igreja porque eu
tenho visito com frequência ... (os três portugueses riem maliciosamente).
Vamos direto ao motivo de mandar chamá-lo. Por que seu assistente
extrangeiro visita com frecuencia as aldeias? ... (a Luis) O que você está
ensinando aqueles ignorantes?

(O Padre Madeira caminha por detrás dos portugueses e se ubica entre o Gobernadot e o
Comandante)

Casa de Administracao de Mueda


Cipaio (trb I) Cipaio (trb II)
Cipaio 3 Cipaio 4
Cipaio 5 Cipaio 6
Yamila
Padre Madeira
Gobernador
Administrador mesa Comandante
Caixa de wisky
Luis

Padre Madeira: Ele está ensinando catequese nas aldeias, na companhia de seu
bandoneón.

Administrador: Bandoneón? O que é isso?

Luis Cuzzani: É o instrumento típico da música argentina. Você quer conhecêr-lo?

Comandante: Você tem o bandoneón nessa caixa preta? ... Só para ficar calmo ... eu
quero ver!

Música 19 – (Mesma música que Nro.3)


(Luis tira o bandoneón do estojo e faz soar. Os três homens estão em êxtase).

Governador : Verdade que é bonito!

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19

Luis Cuzzani: Chegou à Argentina nas malas dos imigrantes alemães e pronto integrou
as orquestras de tango, a dança típica de esse país. Tão popular entre os
argentinos quanto a timbila e a marrabenta entre os moçambicanos.

Administrador: Timbila ... marrabenta ... Não fale conosco sobre essos lixos!!

Luis Cuzzani: Eles não são lixos, são o sentimento do povo moçambicano.

Administrador : Estes brutos não sentem nada !! ... Não me diga que você está
ensinando bandoneón aquí para tocar marrabenta?

Luis Cuzzani: Eu não tinha pensado nisso ... mas é uma boa ideia ...

Governador: Por favor, Padre Madeira, instrua seu assistente a não perder seu
tempo com esses camponêses. Cuide de Deus e dos portugueses,
que são os que mantêm todas as igrejas de Moçambique.

Padre Madeira: (finge submissão) Muito bem, Sr. Governador ... isso será feito

Governador: Agora vai embora ... e quando a prima de Yamila aparece


para a sua Igreja, manda-a falar imediatamente comigo

(os três homens riem maliciosamente)

Padre Madeira: (olha para Luis impotente) ... Sim, senhor Governador ... isso vai ser feito ...

(Padre Madeira e Luis saiem por o frente-esquerdo)

Cena 4
Governador: Meus caros amigos, é a hora de servir a Portugal. Os brutos estao prontos
a chegar.
Administrador: Yamilaaaa!!. Retira os copos.

Yamila entra e retira os copos. Os cipaios 3, 4, 5 e 6 retiran a 3 cadeiras, a mesa e a caixa de wisky. Os
tres portugueses suben ao nivel superior, no fondo do palco.A população começa a chegar a praça.
Alguns deles se ubican parados no costado esquerdo, outros no costado direito. Alguns povoadores suben
ao palco por o frente -medio e fican no chao. Outros quedan las escadas de cada lado.

Casa de Administracao de Mueda

Cipaio (trb I) Administrador Comandante Cipaio (trb II) Cipaio 3


Gobernador Cipaio 4
Cipaio 5 Cipaio 6

Campones I Campones 2
Ana Ho. Joven
Pedro Camponesa II
Camponesa I Enfermeira
Camponés 3 Motorista
Professor

Povo Povo (sentado) Povo

Camponês 1: Boa tarde, Sr. Governador...


Governador Português: Vocês, quem são?

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Camponês 2: Somos representantes do Povo de Mueda e trazemos conosco uma petição


de todos os moradores.
Governador Português: “ Petição de todos os moradores …” (ri-se) Pode lê-la, se souber, é
claro…
(O Camponês 2 busca com sua mirada alguem que possa leer a petição. Pedro, o Chefe da Turma,
levanta a mão e aproxima-se. Camponês 2 entrega ao Pedro a petição. Pedro desenrola o papel e inicia
a leitura, apoiado por o Povo de Mueda)

Casa de Administracao de Mueda

Cipaio (trb I) Administrador Comandante Cipaio (trb II)


Cipaio 3 Gobernador Cipaio 4
Cipaio 5 Cipaio 6

Campones I Campones2
Ana. Ho. Joven
Camponesa I Pedro Camponesa II
Camponés 3 Enfermeira
Professor Motorista

Povo Povo (sentado) Povo

Música 20 – “Canção da solicitação” (Solo tenor e coro) (última parte de la canção)

Pedro: Senhor Governador solicitamos mais liberdade, mais dignidade


e respeito pela nossa cultura.
Desejamos circular sem restrição
Queremos vender nossas colheitas por um preco justo…
Eleger os nossos propios governantes.
Com o nosso mais profundo respeito: o Povo de Mueda
Todo o Povo : o Povo de Mueda...LIVRE...DIGNO...em sua própria terra

Governador: Quem ensinou-vos a decorar? Depois daqui, falem com o padre Madeira,
para inserir-vos no grupo de teatro…

Governador, Administrador e Comandante: hahahaha!

Camponese 3: A nossa petição não é teatro, Sr Governador, é nossa justa reclamação...


Governador: “Justa reclamação”? ...Brutos ignorantes !! Vocês não tem capacidade nem
para juntar castanhas de cajú do chão. De qué, “colheitas por um preço
justo” falam?
Administrador: “Circular sem restrição” ? ... onde é que querem ir? Ao mato para
continuarem a viver como animais?
Governador: “Livre e digno em sua própria terra”? (ri-se) Vocês não podem ensinar a
nós o que é dignidade. Só uma filha tola pretende ensinar a sua mãe como
carregar as crianças.

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Música 21 - “Vocês são malucos”


(Governador, o Administrador e o Comandante)
(Trio de tenor, barítono e baixo)

Vocês estão malucos, vocês não tem cultura.


Portugal deu-vos tudo
Vocês estão malucos, vocês não tem cultura.

Música 22 - (O povo de Mueda responde com: “Sonhamos despertos com a liberdade”)

(O Governador, o Admistrador e o Comandante interompem-lhes grosseiramente e se gera então uma


luta de canções.)

Música 23 – Luta de canções entre


“Sonhamos despertos com a liberdade e “Vocês estão malucos”
(A um gesto claro de fechar o som do Gobernador , todo o mondo fica em silencio)

Cena 5
Governador: Chega de insolências ! Soldados: prendam os líderes

(Cipaios 3 e 5 prendem a Campones 1. Cipaios 4 e 6 prendem a Camponés 3. Com violencia os lideres


camponêses são levados para o balcão da Casa da Administração)

Camponês 1: Mas por qué? ...Sr. Governador... isto é uma injustiça!


Camponêsa 1: Que mal nós fizemos?
Camponês 2: Afinal fomos chamados para conversar sobre os nossos direitos ou assistir
a serem algemados?
Governador: Vocês aprenderam a respeitar as autoridades por bem ou por mal. E
quanto a vocês (ao povo), voltem as vossas palhotas, que já se faz tarde!
Pedro: Eles voltarão conosco hoje mesmo!
Administrador: Aié?! Só se for no caixão!
Pedro: Que seja! Mais vale morrer por um propósito, do que viver para nada!
(Pedro avanza hacia o medio-centro e levanta, desafiante, a petição em
sua mão direita)
Governador: Não seja por isso!
(Acena para o comandante e este dispara um tiro a petição mas fere na
mão ao chefe da turma. A peticao cae no chao.O jovem é socorrido pelo
Professor, a Enferméira e Ana. O Povo de Mueda abandona a sua
quietude, avança sobre a Casa da Administração para invadir. Começam
a falar protestando pela agressão ao chefe da turma e aprisionamento
dos seus líderes)
Comandante: Atrás, atrás, soldados em guarda!
(Os soldados rodeiam o balcão, apertam e batem com os seus fuziles o
Povo)
Camponêsa II: Soltem a nossa gente !!
Comandante: Daqui eles não vão sair até que aprendam a ter respeito. Atrás vocês,
atrás, atrás!!

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O Povo: Soltem a nossa gente !!


Comandante: Atrás, volta para as vossas palhotas ou amanha, nenhum de
vocês verá o nascer do sol !
Governador: Voltem as vossas palhotas !!. Nossa paciência acabou e também
essa absurda petição!
(o Governador toma a peticao do chao e rasga a petição)
Ana: O colonialismo acabou!
Administrador: Pretinha insolente! Portugal é uma benção para vocês.
Pedro: . Não queremos essa benção, queremos liberdade!
Administrador: Sem Portugal, vocês estariam como os animais no mato
Ana: Sem o colonialismo, os animais vivem mais felizes.
Governador: BASTA! Comandante, prepare a tropa!
Comandante: Soldados em posição de tiro!.
Pedro: Não disparem!, Há muitas mulheres e criancas! Nós não temos nem
se quer pedras!
Comandante: Soldados: Apontem!
Pedro: Não disparem, nós não temos armas! Não disparem !! Não disparem !!
Governador: Comandante, proceda!!
Comandante: FOGO-FOGO! (soms de percusão e trombones)
Governador: Agora este monte de lixo vai aprender !! Mais balas, Comandante, mais
balas!!
Comandante: FOGO-FOGO!!
Música 24
Percusão e trombones como se fossem metralhadoras
(Alguns manifestantes caem mortos e outros fogem aterrorizados. Entre os mortos está Pedro e Homem
Jovem. Entre os que fogem está Ana. Asseguir ao massacre, as autoridades retiram- se com
tranquilidade. As luzes baixam, como se fosse de noite)

Cena 6
De noite, Ana, os pais do Pedro, os pais da Ana, a Mulher Jovem com a sua filha nos braços, os
estudantes sobreviventes e outras pessoas de Mueda buscam entre os mortos da praça os seus ente-
queridos. Suben ao palco por as duas escadas e rodeiam a os mortos. Quando encontra o seu namorado,
Ana abraça o cadáver e canta:

Música 25 - “Nossa sede de liberdade é um sonho que vai-se dar”


(solo soprano + coro misto)
Nossos mortos nos abraçam, suas almas voltarão
para lutar conosco, esta noite passará.
Nossa sede de liberdade dia a dia vai florecer.
Nossos filhos, nossos netos, nossa luta vai continuar.
Caros mortos, com certeza, a vitoria vai ficar.
Nossa sede de liberdade é um sonho que vai-se dar.
Não importa quanto tempo nossa luta vai precisar.
Nos sabemos que unido todo o povo vai triunfar.

Fim
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