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Esse texto é uma reflexão crítica sobre a obra A Redenção de CAM

(1985). Obra que pertence ao autor espanhol Modesto Brocos, é uma


significativa representação das teorias do embranquecimento que surgiram
após as declarações a abolição da escravidão, no caminho para um suposto
progresso, em que o Brasil tinha como referência a Europa branca e via o
negro como um problema, e para resolver esse problema seria necessário
misturar a população negra com a branca, geração por geração, ate mudar o
perfil “racial “do país.
A escolha do título dessa obra remete ao mito bíblico da maldição que
Noé lançou sobre seu filho Cam e seus descendentes. Diz a história que Noé
dormiu embriagado de vinho. Cam, seu filho, expôs a nudez do pai aos irmãos
como zombaria e, ao acordar, o pai então amaldiçoou Canaã, filho de Cam, a
ser “servo dos servos”. Esse mito foi usado para justificar a escravidão de
habitantes do continente africano, sob o marco do cristianismo. Brocos
reinterpreta esse mito seguindo várias teses eugenistas de sua época que
diziam, que a salvação ou redenção dos descendentes de Cam se daria por
meio da extinção, por efeito do branquecimento. Pos para eles o europeu tinha
o padrão da melhor saúde, da maior beleza e da maior competência, em
comparação as demais “raças”, hoje sabemos que não existe várias raças, e
não tem como diferenciar biologicamente os seres humanos, uma vez que as
vertentes teóricas construídas a partir do século XVI já foram superadas pela
perspectiva de que somos uma só raça humana. Nossa constituição genética
indica isso. Portanto, não existem “raças humanas”. Flores (2008, p. 24)
escreve:
As mais recentes pesquisas dos especialistas no assunto, os
geneticistas, demonstram que nos genes não se comprovam
as teorias das raças humanas. A genética, com vigor para se
tornar a principal ciência do século 21, tem afirmado que não
há motivos para acreditar que a espécie à qual pertencemos,
Homo sapiens, possa ser dividida em grupos biológicos
distintos e separados. A diversidade biológica é,
incomparavelmente, pequena quando analisada com as
experiências e as situações ambientais e culturais. Por isso,
quando afirmamos que as raças não existem, queremos
chamar a atenção para o fato de que somos todos parentes e
também somos todos diferentes.

Podemos, portanto, assumir o uso do termo raça apenas quando


quisermos nos referir aos aspectos físicos (à aparência exterior herdada e
transmitida hereditariamente), que mostram repercussões negativas nas
relações entre brancos, negros e índios, ou seja, quando for necessário
demonstrar as tensões existentes a partir das diferenças na cor de pele, olhos,
tipos de cabelo etc., a partir de um padrão estético branco e europeu, que
estabelece também relações de dominação.
Lendo a obra, é possível ver uma senhora negra, descalça sobre um
chão de terra ,que ergue as mãos e os olhos aos céus ao lado de uma mulher,
provavelmente sua filha, de tom de pele mais claro, que segura seu bebê,
branco, no colo. E um homem branco à sua direita.

Segundo as teses eugenistas da época, os três personagens


representariam as três gerações necessárias para que o Brasil se tornasse um
país branco. O homem branco à direita, ao que tudo indica, o marido da mulher
ao centro e pai da criança, olha para o menino com admiração. Ele é o elo que
permite o branqueamento completo dos descendentes da senhora,
possivelmente escrava e, assim, a sua salvação. Percebe-se nessa obra
nitidamente o teor do anseio pelo branqueamento. A senhora descalça com as
mãos para cima agradecendo a “salvação” do seu povo com a miscigenação,
e, pelas expressões seria uma decisão voluntária e pacífica entre todos. O que
de fato não era a realidade, pois sabemos que durante os quinhentos anos de
exploração e colonização não demonstra essa convivência “pacífica” entre
brancos, negros e índios; ao contrário, sabemos quantos conflitos ocorreram e
quantas crueldades foram cometidas pelos brancos colonizadores,
principalmente por meio do extermínio dos índios e da escravização dos
negros.

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