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Sinopse

No dia do seu aniversário de 18 anos, Aurora Craton sentiu o chamado do


seu parceiro, enquanto trabalhava servindo os convidados na festa do
líder da matilha. Mas o parceiro de Aurora é ninguém menos que
Wolfgang, o alfa do bando Lua de Sangue. Ao descobrir que sua parceira
é apenas uma criada, Wolfgang não apenas se recusou a aceitá-la, como
ainda ameaçou marcá-la como uma renegada se ela ousar contar a
alguém que é a parceira dele.
Aurora não tem escolha a não ser permanecer na matilha, condenada
à solidão. Mas, ela imagina, que deve existir uma razão para a Deusa da
Lua ter unido os dois...
Classificação etária: 16+
Autor original: Natchan93
E-book Produzido por: SBD e Os Lobos do Milênio
Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 1
Aurora

Acasalamento...
Imprinting...
Alma gêmea...
Amor verdadeiro
Ao crescer na sociedade dos lobos, ouvi muito essas palavras em nossa
aldeia.
Sim, você leu direito. Sociedade dos lobos.
Eu sou uma lobisomem. Acredite ou não, nós existimos. Na verdade,
a gente vive entre os humanos — fato totalmente ignorado por eles.
Normalmente, a gente anda por aí nas nossas formas humanas e
desenvolvemos a capacidade de nos transformarmos em lobos no nosso
aniversário de 18 anos.
E, quando isso acontece, encontramos nosso parceiro.
Funciona assim: a Deusa da Lua criou uma alma gêmea para cada um
de nós. E, quando a encontramos, não amamos ninguém que não seja
aquela pessoa para o resto de nossas vidas.
Porém, poucos de nós temos essa chance. Hoje em dia, é raro um lobo
conseguir encontrar seu parceiro.
Principalmente porque, a cada dia, somos menos e menos lobos,
graças à incessante perseguição de caçadores humanos e rastreadores
renegados.
Meus pais foram alguns dos poucos sortudos que conseguiram se
casar com seus parceiros.
Meu pai conheceu minha mãe em uma reunião das aldeias vizinhas,
e, logo de cara, se apaixonou profundamente por ela. Mas, infelizmente,
minha mãe morreu no parto — enquanto eu, Aurora Craton, nascia.
Na solidão do luto, meu pai se casou novamente, e sua segunda
esposa, que virou minha madrasta, passou a governar a família Craton.
Meu pai era um guerreiro da nossa matilha, o gama, para ser mais
precisa, mas, há cinco anos, ele morreu em ação.
Agora, eu estava a poucos dias de completar dezoito anos. E estava
nervosa com a expectativa de finalmente conhecer minha loba.
E, o mais importante, de encontrar meu parceiro.
— Aurora! Você já terminou de lavar a roupa? O jantar está pronto! —
gritou minha madrasta de dentro de casa.
— Já estou indo, Montana! — respondi também gritando, enquanto
pendurava a última peça de roupa no varal. Olhei para o céu,
aproveitando o calor que o sol oferecia.
Era um acontecimento raro, já que nós morávamos em uma pequena
aldeia chamada Iliamna, no Alasca.
Nossa matilha, a Lua de Sangue, vivia entre humanos que não faziam
ideia da nossa existência.
Quando entrei em casa, fui recebida pela careta horrenda da minha
madrasta.
— Por que você demorou tanto? Estou morrendo de fome! — ela
reclamou.
— Você podia ter começado sem mim, — respondi, me sentando para
comer.
Eu preciso dar esse crédito para a Montana. A comida dela é
excelente.
— Então, Rory... em alguns dias você irá fazer 18 anos, certo? —
perguntou minha madrasta.
Olhei para ela, por cima do meu prato. — Oi? Ah... sim, — murmurei,
voltando a atenção para a minha comida.
— Sabe... já está na hora de você começar a ganhar seu próprio
dinheiro. A pensão do Rodrick está ficando cada vez mais minguada.
Olhei para ela de novo, quase engasgando com a minha comida.
— Como é?
— Sim, já não era grande coisa para começar, querida. E ter que
dividi-la entre nós duas tem causado um enorme impacto sobre as
finanças, — ela disse.
— Então, decidi oferecer seu nome para a casa do líder. Eles precisam
urgentemente de criados para trabalhar na comemoração do aniversário
do alfa, — continuou.
— Você fez o quê? — gritei. Então, me levantei tão bruscamente que
minha cadeira caiu para trás. — Como você pôde?
— Preste atenção, Rory! Já passou da hora de você ajudar com as
despesas por aqui.
Ela cruzou os braços.
— A festa do alfa é um dos maiores eventos do ano. Eles precisam de
qualquer mão extra que conseguirem.
Ela levantou as sobrancelhas.
— Pense nisso! Talvez você conheça seu parceiro nessa noite.
Eu não conseguia acreditar naquilo. Bufei, irritada, e saí pisando duro
em direção ao meu quarto. Eu não queria ficar nem mais um minuto
perto dela.
Não que ela fosse uma má pessoa. A Montana praticamente me criou
após a morte do meu pai. Mas ela era tão irritante às vezes, presumindo
que fosse lá o que ela decidisse por mim era a escolha certa.
Peguei meu celular e fiz uma chamada de vídeo para a minha melhor
amiga, Emma Johnson.
— Ei, boo! — ela me cumprimentou com uma gosma preta
assustadora no rosto.
— Que diabos você tem na cara? — perguntei, erguendo uma
sobrancelha.
— Ah, é uma máscara de carvão. Tracy deu a dica, então decidi
experimentá-la, — disse ela, encolhendo os ombros enquanto engolia um
Cheetos.
— E aí? Quais são os planos para o seu niver? Você deve estar super
animada em fazer 18 anos. Você vai conhecer seu parceiro! — ela gritou,
entusiasmada.
Revirei meus olhos.
— Mal posso esperar para fazer 18 anos, — continuou Emma.
— Antes de mais nada, nem tenho certeza de que vou mesmo
conhecer meu parceiro. Você sabe que isso é uma coisa que só acontece
uma vez durante a lua azul.
Eu rolei sobre a cama e abracei meu ursinho de pelúcia.
— E vou ter que trabalhar no meu aniversário, então não vai dar para
fazer muita coisa.
— Como assim você vai trabalhar nessa noite? — ela perguntou
ofegante. — Ô, minha Deusa. — Você não... — ela me lançou um olhar
desconfiado.
— Não, eu não. Mas a Montana sim, — eu disse, revirando os olhos
novamente.
— O quê?! Por que ela fez isso? — perguntou Emma, confusa.
— Ela disse que essa seria a melhor maneira de eu encontrar meu
parceiro.
— Ah, vai! Ela não pode estar falando sério! — as narinas da Emma se
abriram. — Às vezes não consigo entender sua madrasta, cara.
— É, bom... não tem muito que fazer. Vou na porcaria do baile,
trabalhar a noite toda, ganhar meu dinheiro e voltar para casa, — eu
disse, sufocando um bocejo.
— Bom... se você está dizendo... Eu te ligo mais tarde, então. Vou lá
tirar essa coisa da minha cara e pegar algo para comer. Te amo, boo, —
disse ela, saltando da cama.
— Amo você mais.
Desliguei e me estiquei na minha cama.
É mesmo tão importante assim encontrar meu parceiro?
Já nem é mais uma coisa tão comum.
E se ele for um esquisitão?
Essas perguntas ficaram dançando na minha cabeça até eu cair no
sono.
Acordei algumas horas mais tarde. Saí da cama, desci e descobri que
estava sozinha em casa.
— Montana deve ter saído, — pensei em voz alta antes de voltar para
o meu quarto. Eu não estava com fome, então não me preocupei em
preparar nada.
Como de costume, minha madrasta não estava em casa, então eu
também não precisava me incomodar com ela. Mas suas palavras idiotas
continuavam ecoando na minha cabeça.
E se eu encontrar meu parceiro nessa noite?
Vou embora com ele imediatamente?
Ele vai mesmo gostar de mim? Eu vou gostar dele?
— Argh! Isso é tão irritante! — bufei, apertando meu travesseiro.
No dia seguinte, acordei com um barulho parecido com uma
martelada na porta do meu quarto.
— Já estou acordada, já estou acordada! — gritei. Pulei da cama,
tropecei até a porta, abri e dei de cara com a minha madrasta.
— O que você quer? — perguntei.
— Querida, você já deveria estar vestida. Você tem que estar na casa
do líder em uma hora. — ela disse, sorrindo.
— Por quê? — perguntei, exasperada.
— Como assim 'por quê'? Já falamos sobre isso, Aurora. — ela disse.
— Não, não falamos! Você tomou a decisão por mim. — eu devolvi. —
Sabe de uma coisa? Eu vou, sim, e espero encontrar meu parceiro lá, para
ele me levar para longe deste lugar e de você!
Bati a porta na cara dela.
Uma hora depois eu estava vestida e a caminho da casa do líder,
reclamando baixinho sobre como a minha vida era miserável.
Mal sabia eu...
— Eu provavelmente deveria pedir desculpas para Montana na volta.
— murmurei para mim mesma.
Ao me aproximar da casa do líder, não pude deixar de me sentir
perturbada por sua opulência. Era extravagantemente grande.
Quantas pessoas moravam ali?
Um guarda estava a postos na entrada. Ele me olhou da cabeça aos
pés antes de falar.
— Qual é o motivo da sua visita?
— Hum, fui contratada como criada para ajudar na celebração do
alfa. — respondi, me sentindo um pouco intimidada.
— Nome? — perguntou ele, puxando uma prancheta.
— É, hum... Aurora Craton, senhor. — minha voz saiu num guincho.
Ele verificou a lista e acenou com a cabeça. Levei um segundo para
entender que isso significava que eu tinha permissão para entrar.
Eu estive na casa do líder apenas uma vez, quando meu pai ainda era
vivo.
Eu tinha uns seis anos e nós dois estávamos brincando no parque
quando ele foi convocado para uma reunião urgente.
Como não tinha mais ninguém com quem me deixar em tão pouco
tempo, meu pai me levou com ele.
Eu me lembro de ele ter me colocado numa cadeira do lado de fora da
sala de reunião.
— Fique aí quietinha, Rory. Não vou demorar. — Ele deu uns
tapinhas na minha cabeça e entrou no espaço cheio de outros
lobisomens.
Enquanto eu estava sentada ali, um homem enorme veio caminhando
na minha direção.
Ele tinha cabelos longos e pretos, olhos escuros como ônix e um
horrível corte no rosto.
Ao lado dele estava um garoto, com a mesma massa de cabelos negros
e os mesmos olhos azuis brilhantes. O menino estava discutindo com o
homem mais velho.
— Mas eu sou o futuro alfa, pai! Eu deveria estar nessa reunião com
você!
Eram o alfa da matilha e seu filho.
— Você ainda não está pronto para reuniões como essa, filho. —
respondeu o alfa em uma voz monótona e com uma expressão estóica.
Eles se aproximavam cada vez mais, então rapidamente deslizei da
cadeira e curvei minha cabeça em sinal de respeito.
Era o que meu pai e os outros aldeões sempre faziam quando viam o
alfa.
Eles nem tomaram conhecimento da minha presença, apesar de eu
estar bem na frente deles. Os dois apenas continuaram conversando.
— Eles mataram minha mãe! Aqueles desgraçados mataram minha
mãe e quero que eles paguem por isso. — gritou o garoto.
Ele estava tremendo e as lágrimas ameaçavam cair do canto dos seus
olhos.
Seu pai ficou ali, sem expressão, antes de finalmente falar.
— Filho, quando chegar a hora, você irá se juntar a nós na sala de
reunião. Mas, por enquanto, continue com seus treinos de defesa, —
disse o homem, enquanto girava a maçaneta da porta.
— Eu vingarei sua mãe, — completou o alfa em um tom ameaçador
antes de desaparecer atrás da porta.
Eu levantei um pouco a cabeça para olhar para o menino, que estava
encarando a porta. Seus olhos estavam vermelhos com as lágrimas
querendo cair, seus punhos cerrados.
O garoto finalmente me notou. Ele se virou para mim e me encarou,
enxugando rapidamente as lágrimas com o braço.
— Há quanto tempo você está aí? Quem te deixou entrar? — ele
perguntou, ainda me encarando.
— Hum... meu pai foi convocado para uma importante reunião com
os alfas e os anciãos, senhor. — respondi rapidamente, curvando minha
cabeça mais uma vez.
— Quem é seu pai? Qual é o nome dele? — perguntou ele, ainda não
convencido.
— Rodrick Craton, senhor. — respondi, mexendo as mãos
nervosamente.
— Craton? Seu pai é o gama? — ele perguntou, mais calmo dessa vez.
Naquela época, eu não estava muito familiarizada com os status da
matilha. Eu sabia que havia o alfa, o líder. Depois o beta, o seu segundo
em comando.
E o gama, responsável pela estratégia e organização de todos os
eventos e reuniões.
Depois havia os anciãos, os curandeiros ou médicos lobisomens, os
guerreiros, os buscadores e os pacificadores.
Eu sabia que o papel do papai na matilha era importante, mas eu não
entendia o quanto.
— Hum... sim? — eu disse.
— Isso é uma resposta ou uma pergunta? — ele perguntou, zombando
de mim.
— Ééé... resposta, senhor. Meu pai é o gama, — respondi, tentando
falar com mais confiança.
Ele me olhou nos olhos por um momento, depois balançou a cabeça e
acenou com a mão, me dispensando.
— Continue com... com o que você estava fazendo aí. — E, com isso,
ele girou sobre os calcanhares e foi embora.
— Ei, você aí! — Fui arrancada das minhas lembranças por uma voz
gritando comigo.
Uma senhora de cinquenta e tantos anos estava andando em minha
direção o mais rápido que conseguia. Seu rosto era uma carranca.
— Você é uma das criadas voluntárias para o baile de gala? — ela
perguntou.
— S-sim, senhora. Sou Aurora Craton, senhora, — respondi,
curvando minha cabeça.
Senti uma leve pancada no ombro e levantei a cabeça para ver a
senhora tapando a boca com a mão.
— Rory? — perguntou ela.
— Sim, senhora, — respondi, confusa com sua mudança de atitude.
Ela me surpreendeu ao me dar um grande abraço.
— Aaah, Rory! A última vez que eu te vi você era apenas uma menina.
Veja como você cresceu! — Ela me empurrou de volta, me analisando da
cabeça aos pés.
— Você já encontrou um parceiro? — perguntou.
— Hum, não, senhora. Eu só faço 18 daqui a alguns dias. Eu... eu te
conheço? — perguntei.
— Ah! Desculpe, minha criança. Eu sou Kala, a criada-chefe da casa
do líder e a parteira da aldeia. Conheci seu pai, quando ele era o gama da
matilha. E conhecia sua mãe também.
Sua expressão se tomou triste.
— Eu estava lá no dia em que ela... — Kala não conseguiu terminar a
frase. — Sinto muito por não ter conseguido salvá-la, querida.
Coloquei uma mão em seu ombro para tranquilizá-la.
— Está tudo bem, Senhora Kala, — eu disse, sorrindo. — É um prazer
conhecê-la.
— Então você está aqui para nos ajudar para a grande noite de
amanhã, hein? — ela perguntou, caminhando na direção de onde veio.
Eu a segui.
— Sim, senhora. Minha madrasta ofereceu meu nome. Lamento dizer
que eu nem sabia que tanta ajuda era necessária. — eu disse, coçando
minha cabeça.
— Bem, graças à Deusa ela fez isso. Precisamos de todo apoio que
conseguirmos. — ela respondeu. Enquanto falava, abriu duas grandes
portas douradas que revelaram um vasto salão.
Não é de admirar que eles precisem de tanta ajuda, pensei.
O lugar era enorme!
Capítulo 2
Aurora

Levamos um dia inteiro e mais metade do outro dia para preparar o local
para a festa.
A Senhora Kala me contou que haveria mais de seiscentos
convidados, entre nossa matilha e as vizinhas, com as quais
compartilhamos um tratado de paz.
Quando terminamos de arrumar tudo, a Senhora Kala me mandou
para casa para que eu pudesse descansar algumas horas. Eu tinha que
estar de volta à casa do líder ao cair da noite. A festa não começaria antes
das nove horas.
Quando cheguei em casa, fui recebida pela desagradável visão de
minha madrasta andando nua pela sala...
— Ecaaalt, — eu disse em voz alta, para chamar a atenção dela. —
Sabe, esses cômodos foram feitos especificamente para a nossa
privacidade. Não para andarmos completamente nuas pela casa.
Eu virei de costas, esperando que ela pegasse algumas roupas.
— Ah, desculpe por isso, querida. Eu não estava esperando você tão
cedo. Acabei de voltar da patrulha na área sul do vilarejo, — ela
respondeu, indiferente.
Minha madrasta era uma buscadora, ela tinha um olfato apurado.
Ocasionalmente, o alfa a designou para a patrulha, para ver se ela
conseguia farejar os renegados que andavam pela fronteira ultimamente.
— Que seja, — revirei os olhos para ela, subi direto para o meu quarto
e me joguei na cama.
Tentei dormir, mas o sono não chegou, então me levantei e decidi
descer para preparar o jantar.
Quando cheguei lá embaixo, percebi que estava completamente
sozinha em casa. Montana saiu de novo.
Encolhi os ombros.
— Melhor para mim.
Entrei na cozinha e fiz uma massa, depois sentei em frente à TV e
comecei a procurar um filme para assistir.
Meu celular tocou. Olhei para a tela e sorri quando vi que era minha
amiga.
— Ei, Em, — atendi, enquanto descia a lista de filmes na TV.
— E aí... como foi a limpeza e a preparação para a grande festa? — ela
perguntou.
— Até agora, bem cansativo. Aquele lugar é enorme. Achei que a
gente nunca terminaria a decoração. — Enquanto falava, enfiei uma
garfada na boca.
— Argh, posso imaginar. Que horas começa? — ela perguntou.
— Eu tenho que estar lá por volta das cinco e meia. O tormento todo
começa às oito.
— Você sabe que horas vai sair?
— Não, na verdade, mas tenho certeza que não vai ser antes da meia-
noite
— Puxa... que saco isso. Acho que vou ter que te desejar um feliz
aniversário amanhã.
— Sim, eles me mandaram deixar o celular em casa, então não vou
conseguir ler nenhuma mensagem até voltar para cá.
Emma rosnou.
— Isso, sim, é um saco.
Não pude deixar de dar uma risadinha.
Passamos o resto da tarde conversando e rindo. Eu mal me dei conta
do tempo voando.
Poucas horas depois, estava a caminho da casa do líder. Eu me
apresentei no portão, fui para os aposentos dos criados e vesti meu
uniforme oficial.
A roupa consistia em uma camisa branca com mangas compridas, um
laço vermelho, calças pretas de cintura alta e sapatos de salto pretos.
Quando terminamos de nos vestir, nós todos, criados, fomos para a
sala de gala, onde as luzes estavam apagadas. Cada um de nós pegou uma
bandeja e se preparou para receber os convidados.
A Senhora Kala designou a cada criado uma seção de mesas, em que
deveríamos ficar de olho, depois nos instruiu a ficar de pé contra a parede
mais próxima da área determinada.
O espaço logo começou a se encher de pessoas, todas vestidas com
seus trajes mais caros.
Os últimos a entrar foram nossos aliados, a matilha Lua Azul, vinda
do oeste.
Seu alfa entrou com a filha, Tallulah Wilhelm. Ela era a garota mais
bonita que eu já tinha visto.
Ela tinha um cabelo loiro, longo e lindo, uma pele bronzeada e
brilhantes olhos de avelã. Todo o seu ser exalava perfeição.
Depois deles, entrou o gama da nossa matilha, Remus Boman, que
estava na casa dos vinte e tantos anos. Ele estava de mãos dadas com sua
parceira, Aspen.
Remus tinha cabelos escuros, com alguns fios grisalhos aqui e ali. Ele
tinha olhos castanhos e era um dos homens mais baixos da nossa aldeia.
Mas, apesar do tamanho, ele não somente era um dos mais
inteligentes da matilha, mas um dos mais fortes.
Em seguida veio o beta, Maximus Barone. Ele era alto, com cabelos
loiros e olhos verdes.
Todas as meninas eram loucas por ele, apesar de ele ser um
mulherengo. Maximus era o segundo lobo mais forte do grupo.
Por último, mas não menos importante, o herói do momento pisou
no salão.
Nosso alfa, Wolfgang Fortier Gagliardi. Se o beta deixava as mulheres
loucas, era o alfa quem tinha o poder de fazer calcinhas caírem.
Ele tinha uma massa de cabelos negros — que davam sempre a
impressão de que ele acabou de sair da cama — e olhos tão azuis que
brilhavam como safiras.
Ele era enorme, e eu podia ver os músculos salientes marcando suas
roupas. Era como se ele tivesse sido desenhado pela própria Deusa.
Mas havia um problema com ele...
O homem não sabia sorrir, nem ser simpático com ninguém.
Apesar de ser lindo de morrer, aquela cara fechada, combinada à sua
poderosa aura alfa, afugentava as pessoas.
Na maioria das vezes, ele era visto apenas com o seu beta, que, por
acaso, era seu amigo de infância. Ou com Tallulah, a filha do outro alfa.
Por um momento, nossos olhos se encontraram, e seu olhar intenso
me pregou no chão. A coisa toda durou uma fração de segundo, mas foi o
suficiente para mexer comigo por dentro.
Quando o alfa tomou seu lugar, todos fizeram o mesmo.
E assim começou a festa.
Estava passando tudo muito rápido. Eu estava tão ocupada com
minhas mesas que nem me dei conta da velocidade com que o tempo
corria.
— Rory, a Senhora Kala precisa de você na cozinha, — disse um dos
meus colegas de trabalho.
— Vou lá num minuto, — respondi, recolhendo pratos vazios e
enchendo algumas taças de champanhe.
Quando entrei na área da cozinha, fui recebida com uma chuva de
confetes.
— Feliz aniversário, Aurora! — todos gritaram. Trouxeram um lindo
bolo com dezoito velas.
— Ah, minha Deusa! Gente, vocês não precisavam! — eu disse,
olhando para o bolo maravilhada.
— Ah, pára com isso! Não é todo dia que se faz dezoito anos, — disse
um dos cozinheiros.
— Sim, muito em breve você irá ouvir sua loba.
— Então será capaz de se transformar e... — a Senhora Karla arrastou
o 'e' enquanto olhava para todos. — ... encontrar seu parceiro!
Revirei meus olhos enquanto eles davam risada.
Comemos um pouco do bolo e voltamos para o salão para continuar
nosso trabalho.
De repente, ouvi uma voz estranha na minha cabeça.
— Olá, Aurora..., — era sutil, mas clara como o dia.
Era a minha loba. Ela tinha finalmente despertado.
— Hum... olá? — respondi em minha mente.
Ela riu e veio à tona. Seu pêlo era branco como a neve e seus olhos
eram roxos.
— É um prazer conhecê-la. Meu nome é Rhea. Eu sou sua loba, — disse
ela, sentada ali, olhando para mim.
— O prazer é meu, Rhea, — respondi. — Espero que consigamos nos dar
b...
Minhas palavras foram interrompidas por um aroma delicioso que
encheu minhas narinas. O cheiro era uma mistura de pinheiro-bravo,
amêndoas e âmbar.
Era inebriante, quase como se estivesse me atraindo em sua direção.
Rhea também sentiu. Ela apontou o focinho lá para o alto, farejando.
Em seguida ela disse algo que me arrepiou até os ossos.
— Nosso parceiro está aqui. Posso sentir o cheiro dele.
Capítulo 3
Wolfgang

Não acredito que deixei Max e Remus darem essa festa de merda.
Meu aniversário foi há três meses. Qual é o sentido de comemorar
agora?
Eu sabia que eles só queriam uma desculpa para dar uma festa.
— Vamos, Wolfgang, é só uma noite! Quero ver se consigo finalmente
encontrar minha parceira. — Max choramingou. Ele apoiou o queixo na
minha mesa, implorando.
— Você vive dizendo isso. E, nessa busca pela sua parceira, você já
dormiu com cerca de 90% da população feminina. — Remus
argumentou. Ele tinha uma pilha de papéis nas mãos.
— Ah, cala a boca. Você não liga porque já tem uma parceira. — Max
disparou para Remus, que era o mais velho de nós três.
Ele tinha 29 anos e Max e eu tínhamos 26.
Todos nós havíamos assumido os papéis que nos foram designados no
início da vida, após a grande guerra.
E após a maioria dos líderes — incluindo meu pai, o falecido Alfa, o
pai de Max, seu segundo em comando, e o gama Craton — terem
morrido em combate contra os renegados.
— O fato de eu estar com a Aspen não tem nada a ver com isso. Eu
quero um momento para relaxar tanto quanto você, Max, mas nossas
obrigações vêm primeiro. — Remus argumentou.
— Mas eu quero encontrar minha parceira! — Max reclamou,
parecendo uma criança. Às vezes, eu me perguntava como diabos ele
conseguiu o título de beta.
— Você vai encontrar sua parceira no devido tempo. Agora, a gente
precisa descobrir um jeito de nos livrar do renegado Klaus e dos seus
lacaios. — Remus disse.
— Argh. A gente está correndo atrás desses idiotas há um ano! Uma
noite de folga não vai fazer mal a ninguém. Além disso, quem sabe você
finalmente não encontra sua parceira também, Wolfie? — disse Max,
erguendo as sobrancelhas.
— Não estou interessado, — respondi. E era verdade.
A última coisa que passava pela minha cabeça era encontrar minha
parceira — e ter que me preocupar com a segurança dela e da minha
prole.
Tudo o que eu queria era pegar aquele desgraçado do Klaus e acabar
com essa guerra.
— Como assim 'não estou interessado'? Sabe, estou começando a
achar que você pode não se interessar por lobas... — ele disse com um
sorriso, recebendo de volta meu olhar fulminante.
— Se você me permite dizer, senhor, ele está certo. Ninguém nunca
viu você interessado em uma mulher. Aliás, a gente nunca nem viu você
falando com uma. — Remus acrescentou.
Eu o encarei, enquanto Max dava risada do meu lado.
— Tá bom! Vou permitir que vocês deem essa maldita festa no fim do
mês, — eu disse, apertando meu nariz. — Mas, depois disso, a gente volta
direto para caçar e aniquilar o Klaus.
— Oba! — Max deu um pulo de alegria.
— Sim, senhor, — disse Remus. — Vamos começar então os
preparativos para a gala.
Foi assim que acabei aqui hoje, nesta festa onde eu nem queria estar.
Agora, nós, os líderes — o alfa da matilha Lua Azul e sua filha
Tallulah, Remus e sua parceira, Max e eu, — estávamos do lado de fora da
porta do grande salão, esperando o anúncio.
Um por um, eles entraram quando seus nomes foram chamados.
Meu nome foi o último. Entrei, sem me preocupar com as pessoas ao
meu redor.
Assim que cheguei à mesa, olhei à minha volta. Meus olhos
encontraram um par de olhos acinzentados que pareciam conseguir
enxergar minha alma.
Era uma criada simples, que estava no canto mais distante, à minha
esquerda. Ela parecia intrigante, com aqueles enormes olhos cinzentos e
cabelos castanhos.
Eu rapidamente desviei o olhar e concentrei meu foco em outro lugar.
A festa seguiu devagar, para o meu desgosto. Eu já estava entediado
de ter que rejeitar constantemente as garotas me convidando para
dançar.
Até a filha do alfa Lua Azul, a Tallulah, veio até mim, batendo os cílios
e tentando me seduzir.
— Ei, Wolfgang, — disse ela com uma voz doce. Eu só acenei para ela
com a cabeça e continuei com os braços cruzados.
— Bela festa a sua. Eu não sabia que você era o tipo de cara que dava
festas como essa, — disse ela.
— Eu não fiz merda nenhuma. Max e Remus que inventaram essa
festa. Apenas dei minha autorização, — respondi, já perdendo a pouca
paciência que tinha.
Naquele momento, fui abordado por um idiota bêbado.
— Ei, aniversariante! — Max passou o braço por cima do meu ombro
enquanto tentava manter o equilíbrio.
— Sabe, meu aniversário foi há meses. Isso aqui é só para tirar você do
meu pé, — respondi.
— Ah, vamos lá, não seja estraga-prazeres. Não é possível que você
esteja entediado, — ele disse com a fala arrastada, enquanto bebia sua
cerveja.
— Estou, sim, na verdade. Só continuo aqui porque sou o anfitrião, —
olhei para ele. — Você já encontrou sua parceira? Eu quero acabar com
essa festa logo.
Lamentei a pergunta no momento em que ela saiu da minha boca.
Max começou a chorar e jogou os braços sobre os meus ombros.
— Não! Estou começando a acreditar que não tenho um par. Ah,
Deusa da Lua! Será meu destino ser um lobo solitário para sempre? — ele
gritou, segurando meus braços.
— Me solta, seu idiota!
Mas ele me segurava com uma mão de ferro.
— Não, você precisa me consolar! Estou com o coração partido, não
consigo encontrar minha parceira.
— Eu disse para você me largar! — Parei abruptamente quando um
perfume celestial penetrou em minhas narinas. Empurrei Max para o
lado, tentando farejar o ar em busca da fonte.
— O que... ei! — Max começou a choramingar, mas eu o interrompi.
— Você está sentindo esse cheiro? — perguntei a ele.
— Que cheiro? — perguntou Tallulah. Esqueci completamente que
ela ainda estava ali.
— Hum? — Max cheirou o ar. — Eu não sei exatamente que cheiro
devo sentir, cara.
Eu o ignorei. O cheiro era doce e delicado, como baunilha e
marshmallow.
De repente, meu lobo, Cronnos, estava uivando como um louco na
minha cabeça. Ele deu um pulo e correu de um lado para o outro,
também farejando o ar.
— Cara... eu posso sentir o cheiro dela. Sinto o cheiro da minha parceira
disse Cronnos dentro da minha mente.
Eu gelei. Isso não podia estar acontecendo. Eu não consegui
encontrar minha parceira em oito anos. Por que agora?
— Wolfgang? Você está bem? — Tallulah perguntou.
— É, cara. Você ficou muito pálido. Tá tudo bem? — Max perguntou.
— Hã... sim. Estou bem, — eu disse, ainda focado naquele cheiro.
— Nossa parceira está aqui, garoto, finalmente. Vá encontrá-la! Eu posso
sentir o cheiro dela! — Cronnos gritou.
Eu saí do transe.
— Preciso usar o banheiro. Desculpem. — Afastei-me de Max e
Tallulah.
Eu tinha que encontrá-la. Aquele perfume estava me atraindo como
um ímã.
Caminhei entre os convidados, sem reconhecer nenhum deles.
Tudo o que eu tinha em mente era encontrá-la. Cronnos ainda estava
gritando na minha cabeça.
Continuei andando até que minha mão instintivamente agarrou
outra mão, pequena e macia.
Olhei para frente e fiquei cara a cara com ninguém menos que a
criada de olhos acinzentados que eu tinha visto antes.
— Parceira... — nós dois dissemos ao mesmo tempo.
Capítulo 4
Aurora

— Parceiro... — nós dois falamos juntos.


E encarei os olhos azuis mais intensos que já vi na minha vida.
— É ele, Aurora! Ele é nosso companheiro! Rhea gritou na minha
cabeça, dando piruetas.
Eu olhei para a pessoa diante de mim, segurando minha mão com
força, mas, ao mesmo tempo, gentilmente.
Era o alfa da matilha, Wolfgang.
Ficamos nos encarando pelo que pareceu uma eternidade, mas
provavelmente foram apenas alguns minutos. De repente, ele soltou
minha mão. Perdi seu calor quase instantaneamente.
Ele olhou para mim com uma expressão de choque.
— Você?
Sua voz transbordava desdém. Então ele balançou a cabeça, como se
não acreditasse no que estava vendo, e se virou para ir embora.
— Espere... — Agarrei sua mão instintivamente e senti um
formigamento quando minha pele tocou a dele.
Mas ele puxou a mão dele de volta como se a minha estivesse imunda.
Ele olhou para mim.
— Nunca. Mais. Toque. Em. Mim. Criada — ele rosnou, com os dentes
cerrados. Então se virou mais uma vez e foi embora.
Eu estava em choque.
Lágrimas ameaçavam cair. Senti como se todo mundo estivesse
olhando para mim. Eles viram toda a cena.
Eu estava morrendo de vergonha. Então, eu me virei e corri o mais
rápido que pude.
Longe do salão...
Longe dos sussurros...
Longe da vergonha...
— Aurora, o que você está fazendo? Vá atrás dele! — — minha loba
gritou na minha cabeça, mas a ignorei.
Continuei correndo até sair pela porta da frente e chegar ao jardim
aberto que levava aos portões, mas não parei ali.
Corri até chegar em casa, sem me importar mais com o trabalho —
nem com o uniforme que esqueci de tirar.
— Aurora? É você? — ouvi minha madrasta me chamar da sala.
Voei pelas escadas, e entrei no meu quarto, bati a porta e me joguei na
cama, abraçando meu travesseiro e chorando.
Pouco tempo depois, a porta do quarto se abriu e Montana entrou.
— Achei que a festa acabaria tarde. O que aconteceu?
Não respondi. Simplesmente continuei chorando.
— Aurora, qual é o problema? — ela perguntou com uma voz
preocupada.
— Só me deixa em paz, — eu disse através do travesseiro onde a
minha cara estava enfiada.
Mas, como de costume, Montana ignorou minhas vontades e senti a
cama afundar quando ela se sentou ao meu lado. Sua mão fria acariciou
minha cabeça.
— Pronto, calma, — disse ela. — Você não deveria estar chorando
agora, minha querida. Não no seu aniversário. Mas eu sei o que vai te
animar.
Senti o movimento do colchão quando minha madrasta se levantou.
Minha curiosidade me venceu, então espiei por cima do travesseiro e a vi
segurando um velho envelope.
— Aqui, — disse ela, entregando-o para mim. — Seu pai me confiou
isso aqui e pediu para eu te dar apenas quando você fizesse 18 anos.
Peguei o envelope e abri, era uma carta escrita à mão. Reconheci a
letra do meu pai.
Montana deve ter percebido que era um momento íntimo e saiu
rapidamente do quarto.

C R
Cara R y,
Não consigo i gi r o quanto tem si fícil para você
nter sua boa ín le e seu c ação ter neste n cruel.
Mas sei que você será a luz escuridão. Aquela que não
cederá à neg ivi de.
A esta altura, você certamente a receu e se t u
u bela e talent a jovem, e a qualquer mento poderá
encontrar seu ver deiro e ú co a r.
Não se desespere caso ele não apareça ime amente.
Ape s a Deusa Lua sabe o p quê s decisões dela.
Mas, se você se sentir zanga , goa ou desaponta ,
saiba que, mes que eu ten parti , sem e estarei ao seu
la .
Não deixe que seus sentiment a impeça de ver as bênçã
que a cercam.
Peça à Deusa Lua para per tir que você veja o
n neira co sua mãe e eu o vi s, e você se
t rá a lher que deseja ser...
Um reflexo s seus pais. Para seus a g e seu turo
parceiro.
Com to o a r que existe meu c ação,
Papai.

Eu virei uma cachoeira de novo, mas agora as lágrimas eram de


felicidade.
Papai estava certo. Ficar triste e chorar era um desperdício de energia.
Tanto quanto foi para mim, deve ter sido um choque para o Alfa
Wolfgang descobrir que éramos parceiros.
Talvez, com o tempo, ele conseguiria aceitar isso.
Eu só tinha que ser paciente.
Wolfgang
Uma criada.
Uma ômega é a porcaria da minha parceira?!
Isso só pode ser uma piada!
Fiquei andando pra lá e pra cá no meu escritório, tentando lidar com
o que tinha acabado de acontecer.
Quer dizer, eu era um alfa, pelo amor de Deus. Minha linhagem é
muito antiga, é uma longa sucessão de líderes nobres.
Então, por que diabos a Deusa da Lua me botou como par de uma
criada comum?
Chutei minha cadeira com tanta força que ela se espatifou na parede.
— Droga! — Sentei na minha mesa, tentando me acalmar.
— O que diabos tem de errado com você, garoto? — Cronnos falou na
minha consciência.
— Agora não. — Fechei os olhos e abaixei minha cabeça, contando até
dez para me acalmar antes que eu fizesse mais estragos.
— Ah não, você não ouse, seu cretininho. Por nove anos eu tive que ficar
por aqui, esperando minha parceira aparecer. E agora que ela finalmente
surgiu, você vai fugir como um covarde? — Cronnos rosnou.
— Levante-se e vá atrás dela. Ela está magoada. Eu posso sentir a dor
dela, — disse ele. Um flash dos inocentes olhos acinzentados da garota,
transbordando choque e lágrimas, veio à minha mente. De repente, me
senti envergonhado.
Acho que eu não deveria ter falado com ela daquela maneira.
Balancei minha cabeça, negando.
— Ela é perda de tempo. Não posso aceitar alguém como ela como minha
Luna. Não tenho escolha. Preciso rejeitá-la, — pensei de volta para o meu
lobo.
— Não se atreva ou juro pela Deusa que vou morder seu traseiro real, —
Cronnos rosnou em minha cabeça.
Eu o ignorei. Não havia outra maneira. Eu tinha que fazer isso.
— Remus... preciso de você aqui no meu escritório imediatamente, — eu
me conectei telepaticamente com o meu gama.
Eu teria chamado Max, mas ele ainda estava bêbado como um gambá,
então não dava para contar com ele.
— Estou a caminho, alfa, — Remus respondeu quase
instantaneamente. Cinco minutos depois, ele estava batendo na porta.
— Remus, preciso do nome completo e de uma investigação do
histórico de uma das criadas que trabalharam hoje à noite no baile de
gala, — eu disse, enquanto ele olhava espantado para a bagunça que eu
tinha feito.
— Vou pedir à Senhora Kala as fichas de todas as criadas. Você está
procurando algo específico, — ele perguntou.
Minha mente imediatamente voltou para os seus lindos olhos
cinzentos.
— Olhos acinzentados e cabelos castanhos, — respondi.
— Muito bem, — ele assentiu. — Quando você precisa disso, alfa?
— Amanhã de manhã.
Capítulo 5
Aurora

O dia amanheceu, com um sol forte para contrastar com meu humor
sombrio. Eu fiquei com as palavras do meu pai na cabeça e fiz o possível
para não ficar pensando na noite péssima que tive.
Tomei um banho e procurei algo para vestir, eu ia voltar à casa do
líder para devolver o uniforme.
E também para confrontar Alfa Wolfgang sobre a noite passada.
Qual é a pior coisa que poderia acontecer? pensei comigo mesma.
Se ele não gosta de mim, pode me rejeitar Então, nós dois seguiremos em
frente.
Mas a ideia de ser rejeitada por ele me fez estremecer.
Se ele me desse as costas, eu ficaria sem um parceiro pelo resto da
minha vida — ao contrário dele, que tem o poder de escolher outra
pessoa, mesmo sem conexão.
Como um alfa, ele podia rejeitar qualquer loba que a Deusa da Lua
designasse como sua parceira.
E se ele me rejeitar? Eu me perguntei enquanto uma gota de suor
gelado escorria pela minha têmpora.
— Ele não vai te rejeitar. Relaxa. Apenas fale com ele, — Rhea tentou me
tranquilizar.
— Rory! Você poderia vir aqui por um momento? — minha madrasta
gritou lá de baixo.
— Estou indo, — respondi. Escovei meu cabelo e coloquei uma
presilha para segurar minha franja. Estava começando a ficar muito
longa.
Herdei os cabelos longos e sedosos, e a pele clara da minha mãe, e
ganhei os fios castanhos e os olhos acinzentados do meu pai. Eu era uma
mistura completa dos dois.
— Aurora! Desça agora mesmo! — minha madrasta gritou mais uma
vez.
— Argh! Qual é o problema dela logo cedo? — resmunguei. Peguei a
sacola com o uniforme cuidadosamente dobrado e, o meu celular e saí do
quarto.
— O que você quer, Monta..., — o resto das palavras ficaram presas na
garganta quando meus olhos se conectaram com os olhos azuis gelados
que me encaravam.
— A-Alfa Wolfgang, — eu disse, ofegante e surpresa. Ele estava
parado no meio da nossa pequena sala, com seu gama e a Senhora Kala.
— Aurora, tenha mais respeito, — Montana sibilou ao meu lado, me
despertando do meu transe.
— Ah, me desculpem. Bom dia, alfa Wolfgang, gama Remus, Senhora
Kala, — eu disse, curvando minha cabeça em sinal de respeito.
— Senhora Craton, estamos aqui para recuperar algo que você tirou
do baile de gala ontem à noite. Não iremos acusá-la de roubo, mas
faremos disso um aviso, — disse gama Remus.
— Hum... algo que eu peguei? Não peguei nada. — Fiquei chocada e
confusa. Do que eles estavam falando?
— Hum, você levou o uniforme com você na noite passada, querida,
— a Senhora Kala esclareceu.
— Ah! É isso? Eu estava prestes a levá-lo de volta..., — comecei a dizer,
mas fui interrompida por alfa Wolfgang.
— Roubos não são tolerados neste bando, Senhorita Craton. Você
tem sorte de estarmos apenas avisando desta vez. Da próxima, o chicote
será sua punição e vamos trancá-la na masmorra por um mês!
Sua voz era tão áspera que comecei a tremer.
— Tenho certeza de que deve ter sido um mal-entendido, alfa
Wolfgang. Eu sei que Rory não faria uma coisa dessas, — disse a Senhora
Kala.
— Isso mesmo, — Montana concordou. — Eu garanto a você, alfa,
que minha Rory não é uma ladra. Algo ou alguém fez com que ela fosse
embora correndo da festa. Ela chegou em casa chorando ontem à noite.
Montana entrou na minha frente, tentando me defender.
— Certamente, em sua pressa de chegar em casa em segurança e
longe de quem quer que a tenha machucado, ela se esqueceu de devolver
o uniforme.
Eu não conseguia falar. Eu estava tremendo, pregada no chão,
lutando contra as lágrimas que queriam desesperadamente cair.
Por que ele estava sendo tão mau comigo?
— Quem fez isso com você, Rory? — a Senhora Kala perguntou de
repente.
Olhei para o alfa, que me deu um aviso silencioso. Fechei minha boca
com força e olhei para os meus pés.
— Posso ter uma palavra com a Senhorita Craton? Sozinho? — o alfa
Wolfgang perguntou.
Eu me virei para Montana, que me encarou brevemente e então olhou
para as três pessoas que estavam diante de nós.
— Hum. Claro, — ela disse. Meu coração deu um salto, em pânico. —
Por aqui. Vou servir chá para vocês.
Ela acompanhou o gama e a Senhora Kala até a cozinha, me deixando
sozinha com o alfa.
Ficamos ali em silêncio por alguns minutos antes que ele finalmente
falasse.
— Vou dizer isso apenas uma vez, então ouça com atenção, Senhorita
Craton. Eu sou o alfa deste bando, conhecido pela minha força e minha
destreza em cuidar desta vila, assim como meu pai e meus ancestrais
fizeram.
Ele olhou para mim.
— Todos esperam muito de mim. Especialmente o tipo de parceira
que apresento como minha Luna...
Ele parou de falar por um momento, enquanto me avaliava da cabeça
aos pés.
— E tenho certeza que você não se qualifica. Espero, para o seu
próprio bem, que ainda não tenha contado a ninguém. Porque eu vou
negar.
Pronto, era isso.. Olhei para ele lá, parado, sua expressão estóica
como sempre.
Era o que eu mais temia. Ele ia me rejeitar.
Eu seria solitária pelo resto da minha vida.
— Por que não sou boa o suficiente, alfa? — ousei perguntar, minha
voz trêmula, saindo quase como um sussurro.
— O quê?
— Eu perguntei... por que não sou boa o suficiente para você? Por que
você vai me condenar a ser uma loba solitária? — perguntei, agora
olhando diretamente nos olhos dele.
Lágrimas rolavam pelo meu rosto.
— Porque você não passa de uma plebeia. Você seria um risco para
mim se fosse minha parceira, — ele disse.
Wolfgang balançou a cabeça.
— Eu mandei te investigarem. Você não tem nenhum talento nem
habilidade que possam ser úteis para mim como líder, para governar e
proteger minha matilha.
Baixei a cabeça de vergonha. Era isso e apenas isso o que ele pensava
de mim..
Um risco. Uma pessoa sem valor algum. Alguém que não tinha nada a
oferecer a ele como parceira.
— Eu... eu entendo.., — eu disse, sem olhar para ele.
Tinha como minha vida ficar pior que isso?
Capítulo 6
Wolfgang

Droga! O que diabos há de errado comigo?


Vim aqui com uma missão: rejeitá-la e seguir com a minha vida.
Mas eu não conseguia pronunciar as palavras certas..
Fiquei lá divagando sobre ela ser um risco e ser inútil para mim e para
o bando como minha parceira, mas não conseguia rejeitá-la.
Ela ficou parada na minha frente, tremendo e chorando, enquanto
me escutava dizer os motivos pelos quais eu não a queria.
Senti um impulso urgente de abraçá-la e nunca mais soltá-la.
Mas eu não podia fazer isso. Eu não podia arriscar a segurança da
matilha só por causa dela.
— Pare de tagarelar, garoto! Você está partindo o coração dela! —
Cronnos gritou na minha cabeça. Olhei fundo em seus olhos. Aqueles
enormes olhos acinzentados que revelavam todas as emoções dentro
dela. Eu estava com medo de que sua figura frágil entrasse em colapso a
qualquer momento.
— Eu... eu entendo, — ela finalmente disse. Ela olhou para os pés
enquanto suas mãos, visivelmente trêmulas, brincavam com a sacola.
É agora ou nunca. Rejeite-a e supere isso.
— Eu... — comecei a falar, mas fui interrompido por uma garota
estranha com cabelos ruivos, e pernas e braços compridos, que correu até
Aurora, abraçando-a.
— Rory, você está bem? — ela perguntou e segurou os ombros
trêmulos de Aurora, que chorava.
— Emma! — Aurora gritou, tentando controlar os soluços.
Então, meu gama e a Senhora Kala voltaram da cozinha com a
Senhora Craton, que imediatamente foi para perto da menina.
Todos demonstravam simpatia por ela, que tremia e soluçava nos
braços da amiga.
— Alfa, você não precisava ter sido tão duro com ela, — Remus me
repreendeu. — A Aurora obviamente levou o uniforme por acidente. Ela
estava perturbada porque algum idiota a magoou na noite passada.
Tenho certeza de que ela não fará nada assim novamente.
Imagina se ele soubesse que o idiota era eu.
— É este o uniforme, meu amor? — Kala perguntou, apontando para
a sacola que Aurora segurava.
Ela apenas acenou com a cabeça.
— Vou levá-lo comigo então, querida, — Kala pegou a sacola da mão
de Aurora e sorriu para mim.
— Viu? Sem nenhum dano. O uniforme está de novo em nossa posse,
— Kala disse e veio para o meu lado.
Eu me esforcei ao máximo para manter uma expressão estóica, como
sempre. Aurora ainda se recusava a olhar para mim.
Respirei fundo e fui em direção à porta.
— Estamos saindo.
Deixei a casa de Aurora, ainda ouvindo seus soluços.
Cronnos começou a me dar um sermão sobre estar machucando a
garota novamente, mas eu só conseguia pensar no fracote que eu era.
E que eu ainda não tinha conseguido rejeitá-la.
Aurora
Assim que Montana fechou a porta, subi correndo as escadas e entrei no
meu quarto, trancando a porta atrás de mim. Eu não queria ouvir
nenhuma das perguntas dela, nem as de Emma.
O que eu diria? Eu não poderia contar a elas porque eu estava tão
triste.
E não tinha nada a ver com me chamarem de ladra. Era porque agora
eu sabia, sem dúvida nenhuma, que o Alfa Wolfgang não me queria.
— Aurora, não chore... Ele te quer, sim. Ele simplesmente não quer aceitar
isso., — disse Rhea, tentando fazer eu me sentir melhor.
Mas eu só conseguia chorar sem parar.
— Rors! Vamos, boo. Abra. O que está acontecendo? — Ouvi minha
melhor amiga falando do outro lado da porta.
— Não quero falar sobre isso, — respondi.
— Vamos, querida. Não chore. Não foi nada sério. Todos entenderam
que foi apenas um engano, — disse Montana.
— Por favor, abra. Eu odeio ver você assim... — ela continuou.
— Vão embora... me deixem em paz, — gritei da minha cama.
Eu ouvi Montana suspirar.
— Acho que você deveria ir para casa, Em, — ela disse, se afastando da
porta.
— Liga pra mim quando você se sentir melhor, ok? Estou aqui para
você, — ouvi minha amiga dizer antes de ir embora.
Não sei em qual momento, mas finalmente adormeci.
Quando acordei, estava quase anoitecendo, então me levantei e decidi
dar uma caminhada para clarear as ideias.
Desci as escadas e vi minha madrasta dormindo profundamente no
sofá da sala.
Eu não queria acordá-la, então saí silenciosamente de casa e desci
para o parque onde meu pai costumava me levar para brincar.
Assim que cheguei lá, o sol já tinha ido embora e a lua brilhava
intensamente sobre a minha cabeça. Sentei-me em um dos balanços e
pensei sobre tudo o que tinha acontecido hoje.
A maneira como o alfa Wolfgang me tratou. As coisas que ele disse
sobre mim.
Minha tristeza logo foi substituída por raiva. Meu corpo ferveu de
ódio. Senti que poderia explodir a qualquer minuto.
— Está na hora da sua transformação, Aurora. Como é a sua primeira
vez, vai doer um pouco, — disse Rhea dentro da minha cabeça.
— Recomendo que você corra para a floresta, tire suas roupas e as
esconda em algum lugar Assim que completarmos a transformação, elas vão
se rasgar, e você ficará nua quando voltar à sua forma humana, — ela
explicou.
Eu me lembrei vagamente do meu pai fazendo piada sobre ficar sem
roupa depois de se transformar, e ter que voltar para casa se cobrindo
com qualquer folha ou pedaço de papelão que pudesse encontrar.
Olhei em volta e vi que estava completamente sozinha. Levantei-me,
corri para a floresta logo além do parquinho e me escondi atrás de uma
árvore.
Olhei ao redor mais uma vez, apenas para ter certeza de que estava só,
então tirei minhas roupas rapidamente.
Eu as escondi na cavidade de um baú e esperei por mais instruções de
Rhea.
— Ok, agora concentre-se. Sinta a aura que estou mandando para você.
Você sentirá o calor emanar de seu peito e se espalhar por todo o corpo. Não
lute contra. Apenas deixe essa sensação assumir o controle.
Fiz o que ela me disse e senti um formigamento no peito.
Lentamente, começou a ficar mais forte.
Então uma explosão de dor irrompeu dentro de mim, como se cada
osso do meu corpo estivesse se partindo em dois.
— Aaah! — Agarrei meus braços quando a dor se intensificou.
— Não lute contra. Deixe tomar conta de você, — disse Rhea em minha
mente.
Fiz o melhor que pude para não me conter. Deixar ir. A dor se
espalhou para os meus braços e pernas, dedos das mãos e dos pés.
Eu podia sentir cada osso dentro de mim se esticando. Minhas pernas
dobrando-se para trás de um jeito estranho.
Caí no chão, observando minhas mãos lentamente se transformando
em patas com garras afiadas. Uma grossa pelagem se espalhou sobre
mim, cobrindo minha nudez.
Minha boca se alongou, transformando-se em um focinho, enquanto
presas afiadas substituíram meus dentes.
Eu olhei para a lua e senti todos os meus sentidos se intensificarem.
Minha visão era aguçada como a de um gato. Eu podia ver uma
pequena joaninha voando sobre um arbusto a alguns quilômetros de
onde eu estava.
Meu olfato também ficou mais forte, permitindo-me sentir o cheiro
do orvalho que apenas começava a pousar na grama. Eu podia sentir o
cheiro de coelhos que passavam correndo pela árvore ali perto.
Eu podia sentir o cheiro de tudo a quilômetros de distância.
— Você conseguiu, Aurora! Você se transformou. Como você se sente?. —
Rhea me perguntou.
— Eu sinto... vontade de correr! — eu disse para a minha loba interior,
que deu uma risada doce em resposta.
— Então corra! O que você está esperando?
Não pensei duas vezes, apenas corri como um cachorro selvagem.
Corri tão rápido que minha visão ficou turva. Eu me sentia tão livre,
tão viva.
Alguns quilômetros depois, cheguei a uma clareira com um enorme
lago. Eu estava sedenta, então fui até a água e baixei minha cabeça para
bebê-la.
Mas parei quando vi meu reflexo.
Meu pêlo era branco como a neve e meus olhos roxos brilhavam,
como uma ametista. Nunca vi ou ouvi falar de uma transformação como
a minha antes.
— Talvez você seja única, — Rhea me disse.
Bufei e bebi água.
— Sim, certo, — respondi.
Deitei na clareira, descansando depois de toda aquela corrida.
— Você é especial, Aurora. Só você não enxerga isso ainda. — Rhea
continuou.
— Eu não sou especial, Rhea. Sou inútil. Você ouviu o próprio alfa
dizendo isso. Ele não vai me aceitar como sua parceira porque sou fraca. Uma
loba inútil.
Enquanto falava, lembrei-me de suas palavras dolorosas. Eu não pude
evitar o gemido que escapou de dentro de mim.
Isso é inútil. Não tem nada de bom nesta cidade para mim. Talvez eu
deva arrumar minhas coisas e ir embora, pensei comigo mesma.
Eu poderia ir para a aldeia onde minha mãe cresceu, no leste. Sempre
sonhei em ir para lá um dia.
Eu estava imersa em meus pensamentos quando ouvi um galho
estalando.
Eu me levantei repentinamente, entrei em estado de alerta e olhei
para o lugar de onde o som saiu.
E dei de cara com um enorme lobo preto com gelados olhos azuis.
Eles pareciam tão familiares mas eu não sabia dizer onde os tinha visto
antes.
O lobo veio ameaçadoramente na minha direção. Ele rosnou,
mostrando suas presas.
Merda.
Capítulo 7
Wolfgang

Corri pela floresta, tentando apagar da minha mente tudo o que


aconteceu nessa tarde.
E tentando calar Cronnos, que ainda estava latindo sobre eu ter
arruinado sua chance no amor.
Decidi assumir o serviço de patrulha esta noite para tirá-la da minha
cabeça, mas eu não conseguia parar de pensar naqueles lindos olhos
acinzentados me encarando com tristeza.
— Ela está aqui fora! Eu posso senti-la! — Cronnos começou a gritar na
minha cabeça.
— Que porra você está falando, seu saco de pulgas velho? perguntei ao
meu lobo.
Em seguida, um cheiro doce entrou nas minhas narinas.
Eu reconheceria aquele cheiro em qualquer lugar. Era ela...
Aurora estava aqui. Mas o que ela estava fazendo tão longe de casa a
esta hora da noite? Não era seguro correr sem proteção.
A raiva cresceu dentro de mim.
Que porra ela estava fazendo aqui na floresta, perto da fronteira,
sozinha?
— Quem se importa?! Encontre-a antes que algo aconteça com ela! —
Cronnos gritou na minha cabeça.
Corri na direção do cheiro dela — a ansiedade aumentou ao perceber
que o perfume estava mais forte perto da fronteira da nossa matilha.
Cheguei a uma clareira. Bem ao lado do lago, estava sentada uma
linda loba com pelo branco como a neve e olhos que brilhavam como
ametistas.
Quem era essa loba? Ela era linda, mas eu nunca tinha visto uma
transformação assim antes.
Normalmente, a verdadeira forma de um lobo lembrava suas
características humanas. O pêlo seria semelhante à cor do cabelo
humano, os olhos permaneciam com a mesma tonalidade.
Mas esse espécime era completamente diferente.
Pelo branco e olhos roxos...
O que isso significava?
Eu li algo sobre isso antes, mas não conseguia me lembrar o que era.
Eu fiquei muito impressionado com a beleza dela.
— Isso é inútil. Não tem nada de bom nesta cidade para mim. Talvez eu
deva arrumar minhas coisas e ir embora.
Essa era a voz de Aurora, tocando em minha cabeça. Era a loba
Aurora?
Ela estava planejando ir embora?
— Eu poderia ir para a aldeia onde minha mãe cresceu, no leste. Sempre
sonhei em ir para lá um dia.
Era Aurora. Por que sua loba assumiu essa forma?
Mas eu não podia pensar nisso agora.
Ela estava realmente cogitando deixar a aldeia.
Seria o melhor para nós dois, especialmente para mim, mas...
Por que me irritou tanto ela querer ir embora?
Inconscientemente, dei um passo em sua direção, pisando em um
galho, que estalou, alertando-a da minha presença.
Ela se levantou, em guarda e pronta para receber o atacante.
Eu não tinha escolha. Avancei de onde estava escondido e rosnei para
ela, mostrando minha superioridade.
Eu queria tanto marcá-la agora.
— Merda. — Foi tudo que a ouvi dizer — e meu lobo reagiu com outro
rosnado.
Aurora

Com cautela, observei o lobo se aproximar. Ele rosnou, e isso foi o


suficiente para eu me encolher de medo. Sua aura exalava autoridade.
— Então você está planejando fugir da vila, Senhorita Craton? — ouvi
uma voz lá no fundo da minha cabeça.
Foi quando o vento trouxe seu cheiro e reconheci o lobo.
Era o alfa Wolfgang...
Baixei a cabeça da minha loba até meu focinho tocar o chão.
— Eu te fiz uma pergunta, Senhorita Craton, — ele falou novamente na
minha cabeça.
Deve ser uma conexão mental. Ouvi meu pai e os outros falarem
sobre isso.
Levantei minha cabeça para olhar para ele.
— É seu plano deixar a aldeia, Senhorita Craton? — perguntou
novamente.
— Hum... sim, senhor. Mas como você...? — comecei a dizer, mas ele me
interrompeu, falando mais uma vez em minha mente.
— Na forma de lobo, somos capazes de ouvir os pensamentos de qualquer
lobo da matilha a qual pertencemos. Você não é exceção.
Engasguei com a revelação repentina. Claro, eles podiam ler a mente
um do outro, mas apenas se estivessem próximos.
Há quanto tempo ele estava aqui me ouvindo, então? Eu teria que ser
mais cuidadosa.
— Então, Senhorita Craton. Você planejou deixar a aldeia porque eu não
quero te aceitar? ele perguntou, ameaçador. Então, se aproximou e
começou a me circundar.
— Já que você me rejeitou, senhor, não tenho por que estar nesta aldeia,
— respondi, olhando para o chão.
Afinal, eu não tinha parceiro e nem família viva no vilarejo. Meus pais
estão mortos e não tenho irmãos.
Montana me criou e cuidou de mim, mas eu não sou nada mais do
que a filha de seu falecido marido. Ela não teve escolha a não ser cuidar
de mim até que eu pudesse me defender.
Mas, agora, eu era legalmente uma adulta. Eu poderia ir embora e
cuidar de mim mesma.
— Você sabia que para deixar esta matilha você precisa de uma licença
que só o alfa pode conceder? Caso contrário, será marcada como uma
renegada, disse ele. Seus olhos azuis encararam os meus profundamente.
— E adivinha? Não estou com vontade de lhe dar essa licença. Então, a
menos que você queira ser marcada como uma renegada e vagar por aí sem a
proteção de um bando, você nunca irá deixar este lugar, — ele continuou.
Eu fiquei lá ouvindo, atordoada.
— Co-com licença, senhor? , — falei, ainda tentando digerir suas
palavras.
— Você está proibida de deixar esta vila, Senhorita Craton. Se você fizer
isso, vou marcá-la como uma renegada. Está claro? disse ele. Então me deu
as costas e começou a se afastar.
— Por quê?! — gritei na minha mente, impedindo-o de ir mais longe.
— Por que você está fazendo isso comigo? Você já me rejeitou, me
condenando a ficar sozinha, sem um parceiro, pelo resto da minha vida. Por
que você está me proibindo de ir embora?
Tentei me manter firme, para não ser intimidada por sua aura.
— Rejeitei você? Quando eu fiz isso? — ele perguntou, Virando-se para
me encarar.
— N-na minha casa, quando você disse que eu era... inútil.. nessa última
parte, baixei a cabeça, envergonhada.
— Eu disse que você era inútil para mim, Senhorita Craton... ele voltou
para onde eu estava. — Mas eu nunca tive a oportunidade de rejeitá-la
apropriadamente.
Ficamos em silêncio, um de frente para o outro.
Ele estava certo. Ele nunca disse realmente as palavras.
Eu sabia o que viria a seguir. Ele não hesitaria desta vez.
Ainda com a cabeça baixa, fechei os olhos bem fechados, tentando
evitar que as lágrimas caíssem, e esperei.
— No entanto, não vou rejeitá-la ainda.
Levantei a cabeça e olhei para ele, perplexa.
— O quê? — Eu perguntei, o choque estampado no meu rosto.
— Não vou rejeitá-la ainda, Senhorita Craton. Tenho outros planos para
você. Mas você não dirá a ninguém na aldeia que somos parceiros. Como eu
disse antes, se fizer isso, vou negar. E vou marcar você e para quem quer que
você diga, como renegados.
Com isso, ele me deu as costas mais uma vez.
— Volte para casa. É tarde demais para uma simples loba ômega como
você estar aqui sozinha, — disse ele. E desapareceu nos arbustos, me
deixando lá, atordoada e magoada.
O que ele queria comigo?
Capítulo 8
Aurora

Voltei para casa me sentindo completamente derrotada. Eu podia sentir a


exaustão tomando conta do meu corpo.
Achei que é isso que acontece quando você se transforma em lobo
pela primeira vez sem ter comido uma refeição decente nas últimas 48
horas.
Agora que parei para pensar nisso, perdi dois dias seguidos chorando
sem parar, tudo por causa da minha suposta alma gêmea.
Entrei pela porta e quase caí para trás quando alguém correu na
minha direção e me esmagou num abraço. Era minha madrasta,
Montana.
— Onde você estava?! Levantei da cama, fui dar uma olhada no seu
quarto e você não estava lá! — ela exclamou. — Liguei para a casa de
Emma, mas você também não estava lá!
— Sinto muito, Montana. Eu... minha loba precisava correr, — eu
disse, tentando acalmá-la um pouco.
— Sua loba? Você finalmente a conheceu? Ah, minha Deusa, Rory! —
ela gritou de alegria. — Qual é o nome dela? Como ela é? Quando vamos
dar um passeio juntas?
Ela me bombardeou de perguntas, mas senti minhas últimas forças
me abandonarem.
— Vou responder todas as suas perguntas amanhã, tá? Agora eu
realmente preciso me deitar, — eu disse.
— Claro, claro! As primeiras transformações são sempre muito
cansativas. Você deve estar exausta. Venha, deixe-me ajudar você a ir para
a cama.
Ela jogou um dos meus braços sobre o ombro dela e me ajudou a
subir as escadas.
— Obrigada, Montana, — eu disse, antes de me entregar à escuridão
do quarto.
Eu me senti naquela bela clareira que encontrei essa noite.
Eu estava em minha forma humana.
O lugar era tranquilo e sereno. Era dia e o sol estava brilhando sobre o
lago. A grama selvagem que crescia ao redor da água balançava com a
brisa de verão.
De repente, uma nuvem escura cobriu o céu, e o lugar tornou-se
sombrio.
O lago parecia cada vez mais tenebroso à medida que as ondas
inquietantes perturbavam suas águas antes pacíficas e a doce brisa de
verão se transformava em um vento forte e sibilante.
A grama verde desbotou e secou, deixando uma horrenda trilha de
solo seco e rachado ao meu redor.
Então, o som de folhas secas farfalhando e galhos caídos se partindo
chamou minha atenção, deixando-me em estado de alerta.
Olhei à minha volta com medo e tentei chamar minha loba, mas não
tive resposta.
De dentro dos poucos arbustos cujas folhas secas ainda estavam
intactas saiu um enorme lobo preto com olhos azuis brilhantes. Suas
presas estavam à mostra e ele rosnava para mim.
O lobo se aproximou cada vez mais, até que finalmente avançou em
mim, cravando suas presas afiadas no meu pescoço.
Acordei com Montana me cutucando suavemente.
Eu estava ofegante e suando enquanto olhava para minha madrasta
confusa e com medo.
Foi só um pesadelo.
— O que foi? Sei que prometi ir correr com você, mas não está um
pouco cedo demais? — resmunguei.
Eu me sentei na cama, olhando para o meu despertador na mesinha
de cabeceira, mas, quando me virei para Montana, percebi sua expressão
sombria. Imediatamente, soube que tinha algo errado.
— O que aconteceu? — perguntei.
— Você... você tem uma visita, querida, — ela disse, e senti o medo e a
tristeza em sua voz.
— Quem está...? — comecei a perguntar, mas ela me interrompeu.
— Apresse-se e desça apresentável, meu amor, — disse Montana.
Então ela se levantou, me deixando totalmente confusa.
Seria o alfa de novo, querendo me atormentar?
No fim das contas, eu estava certa.
A pessoa que me esperava, sentada na nossa sala, era a criada-chefe do
líder. Ela estava conversando alegremente com a minha madrasta, que
tinha uma expressão sombria.
O que eu fiz agora?
— Senhora Kala? — chamei, e as duas se viraram para mim.
A senhora idosa me deu um sorriso radiante.
— Rory! É sempre bom ver você, querida. — Ela se aproximou de mim
e me abraçou com força..
— Você já arrumou suas coisas? — ela perguntou.
Minha confusão aumentou.
— Arrumar minhas coisas? Para quê? — perguntei.
— Para vir embora comigo, querida! Sua madrasta não te contou?
Olhei para Montana, cujo rosto ficava mais e mais sombrio.
— Ir embora? O que você quer dizer com 'ir embora'? Para onde? —
perguntei, me sentindo frustrada.
— Para a casa do líder, querida. O alfa ordenou que você se mudasse
imediatamente como uma das criadas.
A Senhora Kala anunciou aquilo como se fosse a melhor notícia do
mundo.
— O quê?! — gritei. Eu me esquivei das garras da senhora mais velha
e corri para Montana.
— Do que ela está falando? — perguntei à minha madrasta. Lágrimas
escorriam pelo rosto dela.
Mesmo na casa dos quarenta anos, sendo uma loba, ela ainda tinha
uma aparência jovem.
Seus olhos castanhos, que tinham algumas rugas aqui e ali, agora
choravam para valer e ela me abraçou com força.
— Ah, Rory. Eu também não entendi nada, mas é uma ordem direta
do alfa. Não temos escolha a não ser obedecer, ou nós duas podemos ser
punidas. — Ela acariciou minha cabeça enquanto falava.
— Mas eu não quero morar lá. Esta é a minha casa! — argumentei.
— É sua casa, e sempre será, querida. Tenho certeza que você poderá
vir me visitar de vez em quando, mas no momento não temos outra
opção. O alfa deu a ordem.
— Isso não é justo! — gritei.
— Sinto muito, Rory, mas é como sua madrasta disse. Essa é uma
ordem direta do alfa. Você deve vir comigo imediatamente. Podemos
agendar visitas para sua madrasta nos fins de semana, assim que você se
acomodar., — a Senhora Kala disse, tentando me persuadir.
Eu me virei para olhar para a única figura familiar que me restava.
— Eu não quero te deixar sozinha, — falei para ela. E era verdade.
Embora Montana e eu nem sempre concordássemos, foi ela quem me
criou e cuidou de mim depois que o meu pai morreu.
— Eu vou ficar bem, querida. Tenho certeza que o alfa vai permitir
que a gente se encontre.
Eu duvidava muito disso.
— Sinto muito, querida. Mas devemos nos apressar, — a Senhora Kala
nos interrompeu.
Eu a ignorei e continuei olhando para minha madrasta.
— Vai ficar tudo bem, Rory, — disse Montana. — Vá em frente e
arrume suas coisas. Não queremos deixar o alfa irritado.
Eu pensei sobre isso. Deixar aquele homem irritado.
Que diferença faria? Ele estava sempre irritado.
Mesmo assim, balancei a cabeça e subi para o meu quarto para
empacotar minhas coisas, recolhendo tudo que eu iria precisar, antes de
deixar o lugar que sempre chamei de casa.
Assim que terminei de arrumar minhas coisas, desci e peguei parte da
conversa entre a Senhora Kala e a Montana.
— Ele a acusou de roubo ontem! Por que ele a quer lá como criada? —
minha madrasta perguntou.
— Eu realmente não sei, Senhora Craton. Eu me perguntei a mesma
coisa quando o pedido chegou esta manhã, mas a ordem de um alfa é
final. Nós apenas temos que acatá-la, por mais bizarra que pareça, — a
Senhora Kala respondeu.
Limpei minha garganta ruidosamente e as mulheres voltaram sua
atenção para mim.
— Estou pronta..., — eu disse.
— Perfeito. Não temos tempo a perder. Vamos indo, — disse a
Senhora Kala. Ela se levantou e se dirigiu à porta.
Fui atrás dela, parei e me virei para encarar minha madrasta pela
última vez.
— Vai ficar tudo bem, Rory. Lembre-se, esta sempre será sua casa, —
disse Montana, tentando parecer encorajadora.
Corri e a abracei o mais forte que pude, e ela me abraçou de volta com
a mesma intensidade.
— Vou sentir falta de implicar com você, — eu disse a ela. As lágrimas
correram incontrolavelmente pelo meu rosto, molhando seus ombros.
Ela deu uma risada leve.
— Eu vou sentir falta de tentar acordá-la de manhã, — disse ela. — Se
cuide, querida.
Nós nos separamos e eu segui a chefe das empregadas, mas não antes
de olhar para minha casa uma última vez.
Capítulo 9
Wolfgang

Agora tenho certeza de que perdi a cabeça de vez.


Por que diabos eu fiz isso?
Ontem à noite, depois que encontrei Aurora, não apenas a proibi de
deixar a aldeia, mas também voltei para casa e ordenei a Remus que
dissesse à Senhora Kala para ir buscar Aurora Craton imediatamente e
trazê-la para minha casa como uma nova criada.
Eu podia ver a confusão no rosto do meu gama enquanto eu dava a
ordem. Eu também estava confuso, mas simplesmente não podia arriscar
deixá-la lá fora, sem supervisão.
Não depois de ouvir seus pensamentos sobre abandonar a aldeia.
Mas por que fiquei tão zangado quando descobri que ela estava
pensando em ir embora?
Por que ainda me importei? Eu não a queria como minha parceira,
então por que fiquei tão furioso?
— Porque você a ama, seu idiota. — Cronnos respondeu, mas eu o
bloqueei.
— Tem certeza, senhor? Estamos falando sobre a mesma criada que
você pensou que tinha roubado aquele uniforme na outra noite, não é?
— Remus perguntou, como se estivesse inseguro sobre a minha sanidade
mental.
— Sim, — respondi, mantendo meus olhos nos arquivos que
continham todas as informações de Aurora.
Tudo. Do aniversário dela aos certificados do ensino médio. E todos
eles gritaram uma coisa.
Essa garota era uma Maria-qualquer, mais genérica impossível.
— E você a quer de volta aqui na casa da matilha, como uma criada?
— Remus me pressionou, ainda não convencido.
— Eu gaguejei? Faça a Senhora Kala trazê-la aqui logo cedo. E
acomode-a no quarto ao lado do meu. — Olhei para Remus, também sem
acreditar nas minhas próprias palavras.
— Senhor? Mas se o senhor está trazendo ela aqui como uma criada, o
lugar apropriado para ela seria nos aposentos dos criados, no primeiro
andar, — Remus disse, incrédulo.
— Eu sei onde são os aposentos dos criados, mas preciso ficar de olho
naquela garota. Então você a colocará ao lado do meu quarto, está claro?
— gritei, socando a mesa, minha paciência já estava acabando.
— Ficar de olho, senhor? — perguntou Remus. Percebi que minha
explosão deve ter disparado um alarme na cabeça do meu observador
gama.
— Não temos certeza se ela é realmente uma ladra ou não. Sua
madrasta disse que ela estava perturbada com algo naquela noite. Então,
eu gostaria de dar a ela o benefício da dúvida, contratando-a como
criada.
Eu falei com uma voz sem emoção, tentando encobrir qualquer sinal
que demonstrasse um interesse em Aurora.
— Por que não designar um guerreiro para vigiá-la, então, senhor?
Trazê-la para a casa a deixaria com o caminho livre para todos os bens
valiosos que possuímos. — Remus comentou
Fiquei com ainda mais raiva por ele acreditar que Aurora poderia ser
de fato uma ladra.
— E de quem é a culpa? — Cronnos rosnou na minha cabeça.
— Não. Eu serei o único cuidando dela, — falei entre dentes. —
Agora, vá e notifique a Senhora Kala. Eu quero a garota aqui antes do
meio-dia. Ela ficará no quarto ao lado do meu e será a minha criada.
Entendido?
Meu tom não deixou espaço para mais perguntas.
— Sim, senhor, — Remus respondeu. E saiu imediatamente.
Sentei-me novamente e comecei a mexer nos papéis, parando naquele
que mencionava sua madrasta, que, por acaso, era uma caçadora do
bando. Uma das nossas melhores, para ser mais preciso.
Então encontrei aquele que detalhava a morte do pai dela.
Ele e meu pai morreram no mesmo dia.
Nós dois perdemos, no mesmo dia, o único membro da família que
nos restava, com a diferença que eu já era adolescente na época.
Ela tinha apenas sete anos...
Peguei a foto dela no arquivo e olhei para aqueles grandes olhos
acinzentados.
— O que você está fazendo comigo, Aurora Craton? — murmurei em
voz alta.
Aurora

— Pronto, querida, aqui estamos. Sua nova casa, — disse a Senhora Kala
enquanto caminhávamos pelo enorme corredor que levava às escadas.
Encontramos o beta e o gama no fim dos degraus.
— Ela finalmente está aqui! — gritou o loiro. Ele se aproximou e
pegou minha mala.
— Bem-vinda, Aurora. Estou ansioso para conhecer a garota que
chamou a atenção de nosso alfa, — ele disse, estendendo sua mão livre.
— Hum, oi, beta Maximus. — Tentei fazer uma reverência, mas fui
interrompida no meio da descida.
— Não precisa ser tão formal comigo. Você pode me chamar de Max.
— Ele me deu uma piscadela, mas foi empurrado pelo gama.
— Já se apresentou o bastante, Max. A garota deve estar assustada o
suficiente sem o seu flerte. Senhorita Craton, sou o gama Remus
Bowman. Bem-vinda à casa do líder.
Ele empurrou os óculos enquanto falava, um cacoete.
— O-obrigada, gama Bowman, — respondi, curvando minha cabeça.
— O alfa requisitou você como criada pessoal. Seu quarto é o vizinho
ao dele, — ele disse.
— Hã? — Eu fiquei boquiaberta, mas ele ignorou meu choque e
continuou falando.
— Você ficará encarregada de levar suas refeições e também de
entregar sua roupa lavada todas as manhãs, entendido?
Remus ergueu uma sobrancelha e me olhou com cautela.
— Hum, sim. Mas por quê? — perguntei. Olhei para a Senhora Kala.
— Pe...pensei que eu seria apenas uma criada comum.
— Não, minha querida, foi uma ordem específica do alfa designar
você como sua criada pessoal, — a Senhora Kala disse, sorrindo
docemente.
— Mas por que eu? — perguntei, ainda pasma.
— Porque eu mandei. Por isso. — ecoou uma voz grave sobre as
nossas cabeças. Os calafrios percorreram minha espinha.
Todos nós olhamos para o topo das escadas para ver o alfa, cujos
olhos azuis gelados olharam diretamente para mim.
Nós quatro curvamos nossas cabeças quando vimos nosso líder.
— Alfa Wolfgang, — dissemos em uníssono, enquanto ele descia as
escadas.
— Muito bem. Venha. — Ele se virou e me conduziu escada acima,
para longe de todos os outros.
Caminhamos pelo corredor e entramos à direita, parando diante de
uma enorme porta dupla de mogno.
Wolfgang pegou uma chave e abriu-a, depois entrou. Nervosamente,
eu o segui.
A sala era sofisticada e elegante, com paredes pintadas de azul-escuro.
A parede à esquerda tinha uma enorme biblioteca cheia de livros que iam
até o teto.
Do lado oposto, estava um sofá de couro em forma de L com uma
linda mesa de chá na frente dele. Havia ainda uma enorme janela com
belas cortinas aveludadas.
Com vista para a janela, estava uma grande mesa com um
computador Apple ao lado de uma pilha de papéis, canetas e outras
coisas.
Tinha uma cadeira de couro atrás dela e duas menores de madeira na
frente, para convidados.
As paredes estavam repletas de retratos, nos quais reconheci nossos
alfas anteriores.
Este deve ser o escritório dele.
Alfa Wolfgang contornou a grande mesa e se sentou. Fiquei parada na
frente dele, sem saber se deveria sentar ou não. Decidi ficar em pé.
— Espero que ainda hoje você esteja devidamente instalada. Seus
deveres começam amanhã. Eu bebo minha primeira xícara de café às seis
da manhã em ponto. Minhas roupas devem estar prontas às sete, e o café
da manhã deve ser servido às oito e meia no meu quarto.
Ele me olhou com sua costumeira expressão estóica.
— Enquanto faço minha refeição, você vai arrumar minha cama e
recolher minha roupa suja. Bebo outra xícara de café às onze e espero o
almoço pronto à uma da tarde. O almoço é sempre servido na sala de
jantar do alfa. Kala vai te mostrar onde fica.
Fiquei lá, na frente dele, ouvindo suas ordens e fazendo o possível
para memorizá-las.
— Depois do almoço, estarei patrulhando, então você terá as tardes
livres para fazer o que quiser, com exceção de deixar a mansão. O jantar é
servido na sala de jantar às sete horas em ponto. Está tudo claro?
Fiz que sim com a cabeça.
— Prefiro palavras em vez de sinais corporais, entendeu, Senhorita
Craton?
— S-Sim, senhor, — chiei.
— Muito bem. Seu quarto é aquele ao lado do meu. Vá se acomodar.
Com isso, ele voltou sua atenção para os papéis que estavam sobre sua
mesa.
Fiquei lá, incapaz de me mover um centímetro. Havia algo que eu
precisava perguntar, mas não sabia como. Ele percebeu minha confusão.
— Teve alguma coisa que você não entendeu? — ele perguntou,
exasperado.
— N-não senhor. Eu... eu queria perguntar sobre a Montana. Minha
madrasta. — eu disse.
— O que tem ela? — ele perguntou, sem se preocupar em olhar para
mim.
— Terei permissão para visitá-la?
Ele largou o papel que estava lendo e olhou para mim por um minuto
antes de voltar sua atenção de novo para o trabalho.
— Você pode vê-la aos domingos. Esse será o seu dia de folga, — disse
ele. — Você pode ir agora. Eu também tenho trabalho para terminar.
Eu tomei isso como minha deixa para sair.
— Sim senhor.
Capítulo 10
Aurora

Fui encontrar a Senhora Kala nas dependências dos criados e ela me


acompanhou até o quarto andar da mansão.
— Aqui, apenas o quarto do alfa está ocupado. O beta, o gama e os
anciãos moram no terceiro andar, — ela disse.
— O segundo andar é apenas para convidados e escritórios, — ela
continuou. — E você já conheceu o primeiro andar.
Eu a segui, tentando me lembrar de cada virada que demos.
— Aqui estamos nós, querida. Este é o seu quarto, — disse, de pé
diante de uma porta.
— O quarto do alfa fica no fim do corredor. — Ela apontou para uma
porta solitária.
— Aqui estão suas chaves. O beta Barone já deixou sua bagagem lá. Vá
se acomodar. Daqui a pouco chamo você para o almoço, — disse a
Senhora Kala gentilmente.
— Hum, eu realmente não estou com fome. Vou apenas arrumar
minhas coisas e me deitar um pouco, — respondi.
— Tem certeza, querida? Você também não tomou café da manhã... —
ela disse, preocupada.
— Sim, senhora. — Sorri para assegurá-la de que eu estava bem.
— Muito bem. Sei que você está exausta com tudo isso, então vou
deixá-la descansar. Mas volto para te procurar para o jantar, certo?
Eu suspeitava que não adiantaria discutir com ela sobre o jantar,
então só suspirei e afirmei com a cabeça.
— Arrume seu quarto do jeito que preferir. Venho dar uma olhada em
você mais tarde, querida, — disse a Senhora Kala.
— Obrigada, Senhora Kala.
A mulher idosa saiu, me deixando sozinha no enorme aposento, que
era decorado com tinta pastel e enfeites brancos.
No centro, havia uma cama queen size com lençóis brancos simples.
Numa das paredes havia uma pequena lareira acesa para manter o
ambiente aquecido.
Ao lado da cama, estava uma adorável cadeira branca onde eu podia
me imaginar lendo. E, bem atrás da cadeira, tinha uma porta de vidro
com cortinas grossas que levava à varanda.
Na parede oposta à cama, tinha uma enorme TV instalada entre duas
portas, pendurada acima da chaminé.
A primeira porta se abria para um espaçoso banheiro, que tinha uma
bela banheira de mármore e um chuveiro ao lado dela.
A parede tinha um espelho enorme, e a bancada era longa o suficiente
para acomodar quatro pessoas.
A segunda porta devia ser um closet. Cada lado da parede tinha tantos
cabides e gavetas que certamente eu jamais conseguiria usar todos.
Fui até a porta de vidro e a abri, saindo para a enorme varanda.
Eu não pude deixar de suspirar de alegria enquanto admirava o lindo
jardim de rosas que ficava abaixo. Seu aroma imediatamente entrou no
quarto.
Talvez não seja tão ruim morar aqui, pensei comigo mesma.
— Claro que não! Estaremos mais próximas do nosso parceiro! — Rhea,
que tinha ficado em silêncio todo esse tempo, de repente gritou na
minha cabeça, me fazendo pular de susto.
— Sim, vamos estar mais próximas. Mas como sua escrava particular, —
retruquei.
— Não importa. Com o tempo, ele vai perceber que pertencemos um ao
outro. — insistiu Rhea.
Revirei meus olhos.
— Mas e se ele não me quiser? — perguntei enquanto voltava para o
quarto.
— Ele vai te querer! Eu sei disso! — disse Rhea, cheia de determinação.
— Sim, claro. Olhe para nós! Ele literalmente nos transformou em suas
escravas. Ah, Deusa, por favor, me dê forças para suportar o que ainda está
por vir.
Eu estava lutando para controlar minha cabeça, que continuava
imaginando toda e qualquer tortura possível que Wolfgang podia ter
reservado para mim.
Passei o resto da tarde desfazendo as malas e guardando minhas
coisas. Algumas horas depois, alguém bateu na porta.
— Sim? — falei de dentro do armário.
A porta se abriu e uma pequena ruiva apareceu.
— Posso entrar?
Eu a reconheci: era Aspen, a parceira do gama Remus.
— Claro, — sorri para ela.
O gama Bowen e a Aspen eram um daqueles casais de sorte que a
Deusa havia conectado.
Já ouvi dizer que, antes de encontrar sua parceira, o gama era um
workaholic todo certinho e tenso.
Até que um dia, alguns anos atrás, durante uma patrulha com o alfa,
ele sentiu um cheiro que o imobilizou.
Remus revirou o vilarejo em busca daquele perfume, até que
encontrou, nos arredores da aldeia uma loba solitária, desconfiada e
assustada. Aspen era uma nômade, feita ór ã pela guerra. Ela vagou de
aldeia em aldeia, em busca de refúgio, até chegar à Montanha Branca.
Assim que ela colocou os pés em nosso território, a conexão entre eles
se manifestou.
E, desde então, eles são inseparáveis.
— Vim checar se você precisa de ajuda para se instalar, mas estou
vendo que você já está bem.
Ela sorriu e se sentou na minha cama.
— Sim, eu não trouxe muita coisa por enquanto, — eu disse. Fechei a
porta do armário e fui me sentar ao lado dela.
Ela estendeu a mão.
— Você é Aurora, certo? É um prazer conhecer você. Meu nome é
Aspen.
Era uma mulher linda, de um jeito muito singular. Ela era alguns
centímetros mais alta do que eu, com pele negra e olhos verdes
brilhantes. Seu cabelo afro estava modelado em um penteado alto,
encaracolado e vermelho, que ela adornou com uma bandana verde,
combinando com seus olhos.
Apesar de meu corpo pequeno, ela era voluptuosa, o que fez eu me
lembrar dos meus seios minúsculos. Eu apertei a mão dela, oferecendo
meu melhor sorriso.
— O prazer é meu, Aspen.
— Então, você é a criada pessoal do alfa, hein? Eu posso ver porque
ele te designou. Você é belíssima! — ela gritou, me olhando de um jeito
que me deixou ainda mais sem-graça.
— Hum... obrigada? Mas não acho que eu esteja aqui porque ele gosta
de mim. Vim para cá apenas para trabalhar. — Peguei um travesseiro e o
abracei com força enquanto falava.
— Ah, por favor. Eu conheço o Alfa há três anos e nunca o vi pedir
uma criada. Agora, de repente, ele se interessou por você.
Corei quando ela me olhou bem nos olhos.
— Viu só? Nosso parceiro está interessado em nós. É por isso que ele nos
trouxe aqui para a mansão. Ele tem medo de que a gente vá embora a voz de
Rhea ecoou na minha cabeça.
— Sinceramente, duvido, — eu disse às duas, lembrando-me das
palavras do alfa na noite anterior, quando nos encontramos na floresta.
Rhea revirou os olhos e se deitou. Aspen apenas encolheu os ombros.
— Bom, ache o que quiser. Sei do que estou falando. Quer dizer, o
cara te colocou no quarto ao lado dele.
Aspen deu uma risadinha.
— Eu não ficaria surpresa se, em pouco tempo, você estiver dormindo
na cama dele. É o que eu esperaria, pelo menos.
Corei com a ideia de dormir nos braços fortes de Wolfgang.
— Não acho que seria apropriado.
— Claro que não. Mas, vai, estamos falando do Alfa Wolfgang Fortier
Gagliardi.
Ela levantou os braços, exasperada. — Quer dizer, ele não é o Remus,
mas é o homem mais desejado da aldeia e obviamente está de olho em
você, Aurora.
Ela colocou as mãos na cintura e me deu uma piscadela.
— Bom, tenho que ir. Remus e eu vamos encontrar o alfa da Lua Azul
e seu bando na fronteira.
Ela se levantou e foi em direção à porta.
— Os Wilhelm estão vindo de novo? — perguntei.
O bando da Lua Azul era um de nossos aliados mais fortes.
Desde que Alfa Wolfgang assumiu o comando da nossa matilha, ele
tem o dever de conquistar o maior número possível de aliados, para,
assim, conseguir acabar com a guerra com os renegados.
— Sim, — ela suspirou. — Ou seja, temos que aturar Tallulah e suas
manias. Até mais. — Ela se despediu e saiu do quarto.
Tallulah Wilhelm. Filha do alfa da matilha da Lua Azul, Colt Wilhelm.
Ela era o epítome da elegância, com sua linda pele bronzeada e longos
cabelos louros e luminosos. Como seu pai, ela exalava poder.
Os dois bandos trabalhavam juntos para acabar com a guerra contra
os renegados.
Renegados geralmente não trabalham juntos.
Quer dizer, isso depois da batalha entre o grande Alfa Gudolf, pai de
Wolfgang, e o líder dos renegados Jacques Roulette, que secretamente
conseguiu reunir um bando de renegados de todo o continente.
Eles dominaram os guerreiros da nossa matilha, matando meu pai,
que era o gama naquela época. Alfa Gudolf conseguiu matar Jacques, mas
Klaus, o filho de Jacques, derrotou nosso alfa.
Wolfgang estava no campo de batalha naquele dia.
As histórias contam que no momento em que Alfa Gudolf fechou os
olhos pela última vez, seus poderes de alfa foram transferidos para
Wolfgang — que tinha apenas 17 anos na época fazendo com que ele
reivindicasse seu lugar como líder do bando.
Conta-se até hoje que que não havia lobo mais poderoso do que
Wolfgang: ele corria pelo campo de batalha, mordendo e quebrando
pescoços.
Os renegados foram forçados a recuar e nossa matilha venceu
naquele dia. Mas foi uma vitória agridoce.
Depois da batalha, os renegados continuaram se agrupando e
tentando emboscar nosso bando.
Mas, graças a Wolfgang, que imediatamente juntou aliados, nos
tornamos uma das maiores fortalezas do continente norte.
— Aurora, vamos dar uma corrida. Preciso esticar as pernas, — A voz de
Rhea ressoou na minha cabeça, interrompendo meus pensamentos.
Eu sorri com a sugestão.
— Claro. Correr um pouco me faria bem, vai me ajudar a relaxar.
Saí pela porta e desci as escadas até o primeiro andar.
Eu estava prestes a ir para a área da cozinha, para procurar a porta dos
fundos mais próxima, quando ouvi vozes vindo do saguão.
— Achei que você estivesse no encontro com meu gama e com seu
pai, Tallulah.
Era a voz de Wolfgang. Eu não conseguia me mexer. Fiquei colada no
batente da porta que separa a antessala do salão.
Espiei pelo canto e vi a loba loira e meu parceiro, conversando
sozinhos.
— Eu queria tanto te ver que vim antes deles. Aquela ruivinha tentou
me impedir, mas eu não dou a mínima para o que uma nômade como ela
tem a dizer, — Tallulah respondeu, indiferente.
Ela era claramente a filha de um alfa, porque a forte aura de Wolfgang
não a afetava.
— Além disso, você me prometeu na noite da festa que me levaria
para dar uma volta pela floresta. Achei que poderíamos fazer isso agora,
— ela disse, flertando com ele.
Observei enquanto as mãos dela deslizavam pelo peito de Wolfgang, e
meu estômago se revirou de nojo.
Wolfgang afastou as mãos dela.
— Não me lembro de ter feito tal promessa, mas se você está com
tanta vontade de correr, posso nomear um guerreiro para ser seu
guardião, — ele disse, começando a se afastar.
— Mas eu quero ir com você, — ela fez um beicinho.
— Eu não tenho tempo para brincar. Agora, se você me dá licença,
tenho algumas coisas a fazer antes de encontrar seu pai.
E, então, Wolf desapareceu por outra porta, deixando a loba loira
fumegando.
Senti uma inquietação na boca do estômago.
Por que tenho a sensação de que ela pode ser um problema?
Capítulo 11
Aurora

Entrei na cozinha, ainda pensando no recente encontro entre Wolfgang e


Tallulah.
Eles pareciam muito íntimos um do outro.
Encontrei a Senhora Kala ocupada dando ordens aos cozinheiros, que
corriam de um lado para o outro, preparando o jantar.
— Ah, Rory. Como você está se sentindo até agora? Gostou do seu
quarto?... — perguntou a velha senhora, erguendo os olhos do tablet que
tinha nas mãos, no qual controlava a lista de tarefas do dia.
— Sim, senhora. Está tudo bem. — respondi.
— Venha aqui. Deixa eu apresentar você. — ela disse, me escoltando
para dentro da cozinha. — Você já conhece alguns dos funcionários da
cozinha. Aqui está o chef principal, Beau Mullins.
Beau era um homem grande e musculoso, com pele morena e grossos
dreadlocks. À primeira vista, ele parece intimidador, mas seus olhos eram
gentis e afetuosos.
— Ali está seu sous chef, Tony Gibbons.
Ela apontou com a cabeça para um homem de estatura média com
cabelos ruivos e olhos verdes, que estava ocupado amassando pão em
uma das bancadas.
Ele me deu um breve sorriso antes de voltar ao trabalho.
— Ali estão Lily, Corey e Luca, — ela apontou para um trio que estava
ocupado cortando vegetais perto dos fornos.
— E, claro, nosso doce filhote, Isaiah, filho de Beau, — ela apontou
para um garoto bonito, com pele dourada e olhos castanhos brilhantes,
que parecia ter treze ou quatorze anos.
Ele estava lavando pratos.
— Ele está aprendendo o básico para poder assumir a cozinha assim
que seu pai decidir se aposentar, — explicou a Senhora Kala.
— Ei, pessoal, a Aurora se juntou a nós como criada particular do alfa.
Espero que todos vocês a recebam bem e a façam se sentir em casa. —
disse a Senhora Kala, falando alto e dando tapinhas em meu ombro para
chamar a atenção deles.
Eu odiava ser o centro das atenções.
— Sério? — alguém sussurrou.
— Criada pessoal? Nunca ouvi falar disso — comentou outro. Tudo o
que consegui fazer foi brincar com a barra da minha camisa, evitando o
olhar de todos.
— Ah, querida, quase esqueci. Está com fome? Você não comeu nada
mesmo no café da manhã e nem no almoço? Beau, você se importaria de
preparar algo rápido para ela?
O chef acenou com a cabeça e sorriu, então se virou para pegar algo
na geladeira.
— Não precisa, Beau. Mas obrigada, — eu disse, antes que ele
começasse a preparar alguma coisa.
Eu me virei para a Senhora Kala.
— Hum, na verdade, eu estava tentando encontrar a porta dos
fundos? Minha loba está me pentelhando para ir correr.
— Ah, claro, querida. Saia por aquela porta e vire à esquerda. Mas não
vá muito longe. Lembre-se de que as fronteiras não são muito seguras. —
disse ela, sorrindo.
Todos retomaram o que estavam fazendo.
Segui as instruções da Senhora Kala e cheguei em um belo jardim de
rosas. O perfume era incrível.
— É tão lindo aqui, Aurora! — Rhea exclamou na minha cabeça.
— Sim. É, — pensei, enquanto olhava em volta procurando um lugar
para tirar minhas roupas escondida, para ninguém me ver nua.
Sendo um lobo, você deveria se acostumar com pessoas te vendo sem
roupa o tempo todo. É normal, já que temos que ficar nus para nos
transformar.
Mas eu ainda não estava pronta para isso.
Caminhei pelo quintal até chegar à margem da floresta. Dei uma
olhada rápida para trás e corri para o maior carvalho que encontrei.
Tirei e dobrei minhas roupas com cuidado, depois as guardei em uma
pequena toca de esquilo, cobrindo-as com uma camada de folhas secas.
Eu me preparei mentalmente para a dor excruciante que senti da
última vez, mas desta vez foi suportável. Mais cedo do que eu imaginava,
estava na minha forma de loba.
— Muito bom, Aurora! Você está começando a pegar o jeito. — Rhea me
elogiou.
Não consegui evitar o sorriso de lobo que se formou no meu rosto.
Corremos pela floresta, cruzando as árvores e pulando poças,
curtindo o vento nos meus pelos. Era uma sensação de liberdade. Como
se nada de errado pudesse acontecer. Passamos a hora seguinte correndo,
até nos darmos conta da fome.
Eu olhei para cima, através dos galhos das árvores, e vi que o céu já
ganhava tons de laranja e roxo, anunciando o cair da noite.
Decidi voltar para a casa da matilha.
— É melhor voltarmos, Rhea, — eu disse à minha loba. Ela murmurou
em concordância.
Assim que voltei e coloquei minhas roupas de volta, voltei pelo jardim
de rosas.
Parei um pouco para admirá-las. Quem quer que estivesse cuidando
delas sabia o que estava fazendo porque todas pareciam belas e vívidas.
Eu agachei perto de um dos arbustos para cheirar uma rosa e suspirei de
alegria. Fiz uma nota mental para perguntar à Senhora Kala ou à Aspen
se eu poderia recolher algumas para colocar no meu quarto.
— É um jardim de tirar o fôlego, hein?
Uma voz me arrancou dos meus devaneios. Dei um pulo, surpresa, ao
ver Beta Barone descendo as escadas da mansão.
Eu rapidamente curvei minha cabeça em sinal de respeito.
— Já não te disse que não precisa de toda essa formalidade? — ele riu.
— O que você está fazendo aqui sozinha?
— Ah, eu vim correr e parei para admirar as rosas. Elas são lindas, —
eu disse, sorrindo para as flores.
— Elas são mesmo. Este era o jardim da mãe do alfa Wolfgang. Ele
cuida dele desde que ela morreu, — ele comentou.
Arregalei os olhos, surpresa. Quem imaginaria que um cara cruel e
rabugento como ele tinha um lado doce?
Então me lembrei de quando o vi discutindo com Alfa Gudolf
enquanto eu esperava pelo papai, naquele dia da reunião.
— Eu não fazia ideia, — sorri, olhando para as rosas mais uma vez.
— E aí? O que você está achando da mansão até agora? Gostou do seu
quarto? — ele perguntou.
— Hum, claro. É muito grande, principalmente porque eu não trouxe
muita coisa, mas é legal, — respondi.
— Pois é, bom, todos nós ficamos surpresos quando Wolfie disse que
traria você para ser a criada particular dele, mas agora entendi o motivo,
— ele disse, me dando um sorriso enviesado.
— Hã? Que motivo? — perguntei, na expectativa de eu mesma
encontrar uma resposta para essa mudança tão repentina.
— Ah, porque você é uma super gata, — ele disse, piscando para mim.
Senti meu rosto corar. Eu sabia que o beta era um mulherengo
incorrigível, mas não pude deixar de me sentir lisonjeada.
Sempre fui a pária da escola; os meninos certamente não davam em
cima de mim..
Essa foi a primeira vez, na verdade.
— Você já tem 18, certo? O cara que virar seu parceiro vai ser um
mega sortudo. — disse ele.
Eu ri, nervosa.
— Ah, sim. Esta sou eu. A sorte em pessoa, pensei.
Capítulo 12
Wolfgang

Eu me sentei para começar a reunião com o alfa Wilhelm para


decidirmos como iríamos posicionar nossos guerreiros, mas eu não
conseguia me concentrar.
Minha cabeça estava em Aurora, mas principalmente em sua
transformação.
Por que ela se transformou daquela forma?
Passei a manhã inteira e a maior parte da tarde com o nariz enfiado
nos livros. Revirei metade da extensa biblioteca de meu pai, mas não
consegui encontrar nada sobre esse fenômeno.
Mas tenho certeza que já li algo sobre isso quando era mais jovem.
Quando eu estava me preparando para assumir o papel de futuro alfa.
Aquele pelo branco e aqueles olhos...
— Alfa Wolfgang?
Fui tirado dos meus pensamentos por Remus, que estava olhando
para mim.
— Hã? O quê? — Olhei ao redor da mesa, me esforçando para lembrar
do que estávamos conversando.
— Alfa Gagliardi, você está se sentindo bem? Você parece estar
bastante distraído, — comentou o beta Wilhelm.
— Perdoe-me. Continue, — eu disse e mais uma vez tentei tirar da
cabeça a loba ômega, que estava ocupando todos os meus minutos
acordados.

Felizmente, uma hora e meia depois, a reunião acabou.


Desci as escadas para comer alguma coisa.
— Devíamos convidar nossa parceira para comer conosco. — disse
Cronnos na minha cabeça.
Eu rosnei para ele.
— Não vai rolar, — respondi e continuei andando pelo corredor até a
sala de jantar.
— Você tem que me ouvir. Eu quero minha parceira do meu lado. Você
não vai estragar isso. Agora vá procurá-la. Você que a trouxe para este lugar
onde ela não conhece ninguém além da Senhora Kala.
Suas orelhas levantaram.
— Ela deve estar bastante ansiosa. Este é o momento perfeito para você
corrigir seu comportamento infantil e compensá-la pelo que a faz passar.
Seu saco de pulgas velho.
Tentei ignorar sua falação ininterrupta.
Foi quando algo, ou melhor dizendo alguém, chamou minha atenção.
Aurora estava no jardim de rosas da minha mãe.
Eu parei e fiquei lá — como um cachorrinho apaixonado, olhando de
longe para o seu grande amor, com medo de ser rejeitado.
Como se ela pudesse me rejeitar.
Eu a encarei, observando enquanto ela se assustava com alguma coisa.
Ela se levantou e eu a vi abaixar a cabeça.
Foi quando Max apareceu, caminhando em sua direção.
A raiva explodiu dentro de mim. Por que diabos os dois estavam lá
fora, sozinhos, a esta hora?
Saí bem a tempo de pegar a última parte da conversa.
—... Você é uma super gata, — ouvi meu beta dizer à minha parceira.
Minha raiva cresceu.
— Você já tem 18, certo? O cara que virar seu parceiro vai ser um
mega sortudo. — Max continuou.
Senti uma pontada repentina no peito e a culpa se apoderou de mim.
Eu subestimei essa garota achando que ela estava totalmente na
minha?
— SIM! — Cronnos gritou na minha cabeça.
Minha raiva não parava de aumentar
Claro que não. Ela era uma loba ômega. Eu viraria piada se a
apresentasse como a futura Luna da nossa matilha.
Eu estava prestes a sair dali quando ouvi Aurora falar.
— Você acha que o alfa Wolfgang se importaria se eu pegasse algumas
dessas rosas para colocar no meu quarto? — ela perguntou
inocentemente.
Max encolheu os ombros.
— Acho melhor não. Ele ama este lugar mais do que qualquer coisa
no mundo.
Ele fez uma pausa.
— Mas aposto que se você pedisse a ele pessoalmente, ele diria que
sim.
Ela se virou para olhar para o jardim e suspirou.
— Acho melhor não. Vou admirá-las de longe mesmo.
Ela parecia exausta.
Voltei para dentro antes que eles percebessem que eu estava lá fora,
espionando.
Eu não queria que meu beta ficasse ainda mais desconfiado.
Aparentemente, Max e Remus acham que eu tenho algum interesse
secreto nessa garota.
Se bem que eles não estavam exatamente errados.
Aurora era minha parceira. Eu não consegui rejeitá-la.
E quando descobri que ela planejava deixar a aldeia, tive que fazer
algo para mantê-la perto de mim.
Eu não suportava pensar nela lá fora, sozinha, exposta a todos os
perigos.
Entrei na sala de jantar e me sentei à mesa.
— Alfa Wolfgang! Por um momento, pensei que você não viria jantar.
— disse a Senhora Kala. Estavam me esperando para servir o jantar, como
sempre.
— A reunião demorou mais do que o esperado, — eu disse. — A
Senhorita Craton se acomodou adequadamente?
Fiquei curioso em saber por que Aurora estava nos jardins, quando
pensei que ela estaria trancada em seu quarto, ainda atordoada.
— Eu mostrei a mansão a ela e a apresentei para o resto da equipe. Ela
disse que gostou do quarto, mas achou muito grande para ela.
Ela estalou a língua.
— Pobre criança. Deve estar se sentindo um peixe fora d’água. Nem
comeu nada o dia todo. Ela desceu há algumas horas pedindo para ir lá
para fora correr e ainda não voltou.
Meu estômago embrulhou e, de repente, perdi o apetite.
— Como assim ela não comeu o dia todo? — perguntei.
Minha raiva voltou.
— Bom, quando fui buscá-la essa manhã, ela tinha acabado de se
levantar. E com todo o choque e a despedida, além do fato de você ter me
pedido para trazê-la o quanto antes, ela não teve tempo de tomar café da
manhã.
Ela franziu o cenho.
— E, depois que eu a levei para o quarto, ela disse que não estava com
fome, então não insisti para ela almoçar. Pobrezinha. Ela deve estar
exausta com tudo isso.
— Viu só? Exatamente o que eu te disse. Ela precisa ser consolada, seu
idiota, — o velho saco de pulgas resmungou na minha cabeça.
Eu me levantei da mesa, meu apetite tinha ido embora totalmente.
— Senhora Kala, vá procurar a Senhorita Craton, por favor, e
certifique-se de que ela coma alguma coisa. Não vou deixá-la desmaiar
durante o serviço amanhã, logo no primeiro dia.
E saí da sala de jantar.
Então parei, lembrando da cena em que ela perguntava a Max se
achava que poderia pegar algumas rosas da minha mãe.
— E peça para alguém pegar algumas rosas do jardim e colocá-las no
quarto da Senhorita Craton.
Saí da sala e me dirigi para o meu escritório, mas não antes de
perceber a surpresa estampada no rosto da minha criada-chefe e, em
seguida, um discreto sorriso.
Ótimo. Agora, não só Max e Remus vão ficar pensando que estou
interessado na Aurora, mas como provavelmente a Sra. Kala também, pensei
comigo mesmo.
Capítulo 13
Aurora

Eu tinha acabado de colocar os pés na mansão, com o beta Barone,


quando a Senhora Kala veio correndo na minha direção.
— Finalmente! Eu estava esperando por você. Vamos. Sua comida já
deve ter esfriado.
Ela segurou meu braço para me levar para a sala de jantar, mas antes
se curvou para o beta.
— Por favor, nos desculpe, beta Max, mas eu tenho que levar Aurora
para jantar, ou então terei problemas.
— Sem problemas, Senhora Kala. Vejo você por aí, Rors. — disse ele.
Ele me deu outra piscada antes de sair.
— Você não precisava fazer meu prato, Senhora Kala. Eu poderia ter
feito isso, — eu disse.
— Oh, acredite em mim, eu tinha que fazer. O alfa não ficou feliz
quando descobriu que você não comeu o dia todo. Ele deixou bem claro
que eu deveria garantir que você comesse alguma coisa. — Suas palavras
me pegaram de surpresa.
— Você viu? Ele está preocupado com a gente, — Rhea comemorou.
— Ele não ficou feliz? — repeti a Senhora Kala, para ter certeza de que
tinha ouvido certo.
Eu me sentei na mesa da sala de jantar.
— Sim. Ele disse que não queria que você desmaiasse amanhã, logo
no primeiro dia de trabalho.
Ela colocou um prato de comida com um cheiro delicioso na minha
frente, mas meu apetite tinha ido embora.
— Eu sabia. Era bom demais para ser verdade. Ele não está nem aí para
mim... — eu disse para Rhea.
Comecei a comer, mesmo sem fome, e forcei a comida goela abaixo
para não irritar o alfa e nem arrumar um problema para a sua criada-
chefe.
Quando terminei, pedi licença e fui direto para o meu quarto, pronta
para acabar com este dia.
Ao entrar, dei de cara com uma criada, que colocava um belo buquê
de rosas em um vaso de vidro.
— Ah, me perdoe pela intromissão. A Senhora Kala disse que o alfa
ordenou que essas flores fossem colocadas aqui. — Ela sorriu,
estendendo o vaso para mim.
— O alfa? Você deve estar no quarto errado, — eu disse, perplexa.
Sem entender, peguei o vaso com aquelas lindas rosas das mãos dela.
— Não. Quarto de Aurora Craton. Aquele ao lado do quarto do alfa,
no quarto andar.
Seu sorriso brilhante fez minhas bochechas esquentarem e senti meu
rosto corar.
— Obrigada, — eu disse, ainda em choque.
— De nada. A propósito, sou Faye. A gente vai se encontrar bastante.
A Senhora Kala também enviou seu uniforme. Eu o guardei no seu
armário.
Ela estendeu a mão e eu a apertei.
Sorri de volta para ela.
— Estou ansiosa para trabalhar com você, Faye.
Ela saiu do quarto e eu fiquei lá admirando as rosas. Coloquei o vaso
na minha mesa de cabeceira, bem ao lado da minha cama.
Eu me deitei, admirando sua beleza, mesmo enquanto meus olhos
pesavam de exaustão.
— Talvez ele goste de nós, — pensei para Rhea antes de adormecer.

Eu estava novamente na clareira. O lugar estava ressecado e devastado.


Eu estava deitada em alguma coisa. Algo molhado.
Levantei minhas mãos para ver um líquido vermelho escorrendo pela
palma da minha mão. Eu estava deitada sobre o meu próprio sangue.
Um rosnado chamou minha atenção. Eu olhei e vi o lobo preto com
olhos azuis. Ele ficou de frente para mim, suas presas à mostra.
Mas ele não se mexeu. Era como se algo o tivesse assustado.
Olhei em seus olhos, apenas para perceber que ele não estava olhando
para mim, mas para algo atrás de mim.
Eu me virei e vi uma luz brilhando sobre o lago claro e tranquilo.
— Não se preocupe, jovem. As coisas vão mudar para melhor...
Uma voz suave ecoou ao nosso redor, fazendo com que o lobo negro
baixasse a cabeça e choramingasse.
Bip! Bip!
Bip! Bip!
Meu alarme disparou, me acordando desse sonho bizarro. Mesmo
acordada, tive uma sensação de que tudo ficaria bem.
Corri para o banheiro e tomei um banho rápido, então fui até o
enorme armário e coloquei meu uniforme.
Uma camisa de botões branca com mangas compridas, um colete
preto e uma saia preta que chegava até o meio da minha coxa.
Meias e sapatos pretos acompanhavam o traje. E uma gravata
borboleta para finalizar. Decidi prender meu cabelo em um rabo de
cavalo.
Quando terminei, eram cinco e meia da manhã, dando-me tempo
suficiente para ir para a cozinha, pegar o café do alfa e levar para ele antes
das seis.
Quando desci para a cozinha, fui cumprimentada pelo sous chef,
Tony, que já estava ocupado cortando legumes.
— Bom dia, Tony, — eu disse a ele.
— Bom dia, Aurora. Você gostou da sua primeira noite na mansão? —
ele perguntou enquanto eu ia cruzava a cozinha até a máquina de café.
— Até agora, tudo bem, — respondi com sinceridade.
Fora aquele sonho estranho, eu tive mesmo uma boa noite de sono.
Especialmente depois que o Wolfgang me enviou aquelas rosas.
Comecei a preparar seu café como ele instruiu. Preto, sem açúcar.
— Certifique-se de que o café esteja bem quente. Ele gosta assim. —
disse Tony. Segui seu conselho.
Faltavam cinco para as seis quando cheguei no quarto dele, com o
café na mão. Bati timidamente na porta.
— Entre, — ouvi a voz suave e aveludada do outro lado.
Abri a porta e encontrei Wolfgang casualmente sentado atrás da sua
mesa, mexendo em alguns papéis.
Eu segurei um suspiro quando percebi que ele estava sem camisa,
expondo seu incrível abdômen definido. Rapidamente curvei minha
cabeça e estendi a xícara para ele.
— AH, MINHA DEUSA! AURORA, SE VOCÊ NÃO PULAR NELE
AGORA, PULO EU! — minha loba gritou na minha cabeça. Ela estava
quase dando piruetas.
Eu imediatamente a bloqueei.
— Seu café, senhor, — consegui guinchar.
— Deixe na mesa. Agora, arrume a cama e leve a roupa suja para a
lavanderia. E não se esqueça de trazer a roupa limpa de volta. — disse ele
de uma só vez.
Ele nem mesmo me deu uma olhada de lado.
Eu balancei a cabeça e me virei, olhando para o quarto de Wolfgang.
Era da mesma cor de seu escritório lá embaixo. Paredes azuis com
detalhes em ouro.
Sua cama era uma enorme king-size adornada por um grande dossel,
com cortinas de veludo penduradas ao redor.
Também havia uma biblioteca, com muitos livros. Então ele gostava
de ler. Assim como eu. Havia uma lareira com uma enorme TV
pendurada sobre ela, e duas portas de cada lado, que presumi serem do
armário e do banheiro.
Enquanto me dirigia para sua cama para arrumá-la, lembrei-me das
rosas.
— Hum... obrigada, senhor, — eu disse a ele.
— Por quê? — Ele finalmente ergueu o olhar para mim.
— Pelas rosas. Elas são lindas, — eu disse com um sorriso, lembrando
das flores que adornavam minha mesa de cabeceira.
— Eu não mandei nenhuma rosa para você. Deve ter sido a Senhora
Kala, — ele respondeu antes de enfiar a cabeça mais uma vez na pilha de
papéis.
Fiquei mais magoada do que gostaria de admitir com suas palavras.
Por um momento, realmente pensei que ele se importava comigo, que
tinha enviado aquelas rosas para mim.
Eu devia ter desconfiado.
Capítulo 14
Aurora

Na semana passada, eu comecei a trabalhar na casa da matilha, como


criada particular do alfa Wolfgang.
Dizer que fiquei feliz com isso seria mentira.
Quando cheguei aqui, no fundo, eu tinha esperança de que o alfa
tivesse me convocado porque ele realmente me queria como sua parceira.
Que talvez tudo fosse um teste para eu provar o meu valor a ele.
Mas não foi assim. Ele fez isso para me humilhar. Para provar seu
poder sobre mim, uma loba ômega inútil.
Ao longo da semana, tentei o meu melhor para cumprir minhas
obrigações, mas ele sempre dava um jeito de achar defeitos no meu
trabalho.
Outro dia, quando eu trouxe seu café, ele disse que estava sem gosto,
embora eu tenha certeza de que o fiz exatamente da mesma maneira de
sempre.
Ontem, ele ficou com raiva de mim por deixar suas roupas lavadas na
cama, e não colocá-las no armário.
— E aí, como vai a nova vida na mansão?
Eu estava conversando por vídeo com Emma enquanto desenhava.
Como o alfa saía todas as tardes para patrulhar, eu tinha esse tempo livre
para fazer o que quisesse.
Desde que eu não saísse do local.
— Está tudo bem, — respondi casualmente, não querendo entrar em
detalhes.
— Tudo bem? Ouvi dizer que você foi designada para ser a criada
particular do alfa. Como é trabalhar para o Sr. Alto, Moreno e Gato? —
Ela levantou as sobrancelhas e eu ri.
— Não tenho muito o que contar. Eu preparo seu café e suas
refeições. Arrumo sua cama de manhã. Levo suas roupas para lavar e as
trago de volta, — eu disse, rolando na minha cama.
— Vamos! Isso não pode ser tudo! Você está pelo menos jogando um
charme para ele, né? — Ela jogou as mãos para o alto.
— Por que eu faria isso? — perguntei a ela, incapaz de conter minha
risada.
— Hã, oi? Porque ele é um GATO! — ela respondeu.
— Ele é meu chefe, Em. Seria inapropriado.
— Inapropriado o caramba. Se fosse eu, estaria em cima daquele
homem como se ele fosse feito de chocolate.
Eu ri de novo.
A Emma era só alguns meses mais velha do que eu, mas ela era muito
mais direta.
Eu fiquei imaginando como ela lidaria com essa situação, se fosse a
parceira de Wolfgang.
Fiquei deprimida só de pensar nisso. Claro, ele teria aceitado a Emm
imediatamente.
Ela era muito mais bonita do que eu e mais alta também.
Ela tinha sido a capitã do time de líderes de torcida na escola, e a
melhor aluna de todas as classes.
Enquanto eu era... bom, eu não era ninguém.
No colégio, eu era muito tímida, quase não tinha amigos. Nenhum
amigo, na verdade.
Eu sempre fui a garota solitária, aquela que ninguém queria no grupo
do projeto, aquela que era sempre escolhida por último na aula de
educação física.
Sempre sofri bullying das outras crianças na escola. Ou, pelo menos,
até que Emma fosse transferida para nossa escola, depois de se mudar do
Wisconsin para o Alasca com o pai.
A matilha dela foi atacada e eles foram forçados a se mudar. O alfa
Wolfgang permitiu que eles se refugiassem em nossa aldeia. Nós duas
estávamos no primeiro ano.
Nem preciso dizer que Emma foi automaticamente aceita no clube
dos — descolados. — Sua personalidade vibrante cativou todo mundo.
Todos queriam conhecê-la, fazer amizade com a nova garota. Até eu,
mas nem ousei tentar.
Decidi ficar longe.
Até um dia, durante um recreio.
Eu estava sentada no meu lugar favorito no pátio da escola,
desenhando, quando algumas garotas do segundo ano começaram a me
assediar.
Quando eu estava à beira das lágrimas, Emma veio em meu socorro.
Ela enfrentou as meninas mais velhas e ameaçou-as, caso tocassem um
dedo em mim.
Elas se encolheram de medo e me deixaram em paz. Eu a agradeci
apressadamente, peguei minhas coisas e fugi o mais rápido que pude.
Mas, nos dias seguintes, ela começou a vir atrás de mim, a falar
comigo. No começo, pensei que fosse algum tipo de brincadeira, mas ela
era muito insistente.
Acabamos nos tornando grandes amigas.
— Ei, Rory. Você está bem? — Emma perguntou, me tirando do
devaneio.
— Hã? Sim, claro. Por quê? — eu disse, sorrindo.
— Você parece meio desligada ultimamente. E você tá com umas
olheiras enormes. Tem certeza de que está tudo bem?
Curiosa e observadora como sempre.
— Juro que estou bem. Só cansada. Esqueceu que eu tenho que
acordar às cinco da manhã todos os dias? Só no domingo que não.
Amanhã será meu primeiro dia de folga e irei visitar Montana.
— Ok, se você está dizendo... Será que eles não me contratariam
como criada? Assim a gente poderia passar um tempo juntas! — Ela
bateu palmas, pulando em sua cadeira.
— E quanto à faculdade? Você conseguiu entrar na universidade dos
seus sonhos e vai deixá-la de lado só para trabalhar comigo na casa da
matilha? — perguntei a ela, erguendo uma sobrancelha.
Emma foi aceita em uma universidade da Ivy League e partiria em
algumas semanas.
Eu deveria estar começando um ano sabático, tirar um tempo para
viajar pelo país antes de entrar na faculdade.
Mas isso foi antes de toda essa loucura de — parceiro.
Agora aqui estava eu, trancada em uma mansão graças ao meu assim
chamado parceiro.
— Sim. Eu deveria estar fazendo as malas, inclusive. — Ela revirou os
olhos. — Tem certeza de que você vai ficar bem? Me avisa se eles
estiverem abusando de você.
Ela me lançou um olhar cúmplice.
— Aviso, Em. Eu prometo. — Cruzei meu coração com uma mão.
— Emma, você poderia levar isso para o seu pai, por favor? Ah! Oi,
Rory. Como você está?
A Senhora Johnson, mãe da Emma, apareceu na tela.
— Desculpe interromper o papo de vocês, mas preciso que Emma leve
isso para o pai dela.
— Oi, Senhora Johnson. Tudo bem. Eu também tenho que ir. —
Acenei para ela.
— A gente se fala amanhã? — Emma perguntou, de volta à telinha.
— Sim, claro. Vou estar livre por volta das nove. Amo você.
— Te amo mais, boo. — Ela soprou um beijo antes que a ligação fosse
interrompida, me deixando sozinha com meus pensamentos.
Pensei na noite em que encontrei o Wolfgang no lago, e me lembrei
dos seus olhos azuis frios encarando os meus, enquanto ele me proibia de
deixar o bando.
Eu me levantei da cama e fui até a varanda para tomar um pouco de
ar fresco. Eu precisava dar um tempo daqueles pensamentos deprimentes
que estavam girando na minha cabeça.
Eu estava na varanda, admirando o lindo jardim de rosas, quando vi
Wolfgang.
Ele estava cuidando das flores, um sorriso ameaçando se abrir no seu
belo rosto.
— Ele é tão bonito! — Rhea murmurou na minha mente.
Ele era, mas também era frio e cruel.
Eu fiquei lá, olhando para ele enquanto ele puxava algumas ervas
daninhas em volta das rosas e regava as flores.
Hoje foi um daqueles raros dias em que o sol estava brilhando. Eu
podia ver gotas de suor escorrendo pelo seu rosto perfeito.
— Aí está você!
A voz de alguém chamou nossa atenção. Era Tallulah.
O alfa Wilhelm e seu bando haviam deixado a vila depois da reunião,
mas ela ficou.
Aspen vinha ao meu quarto todas as noites reclamar sobre como ela
era incrivelmente desagradável. Eu tive que concordar.
Tallulah assumiu, por conta própria a responsabilidade de garantir
que eu atendesse corretamente todas as necessidades do seu — Wolfie-
poo.
Ou seja, ela estava monitorando cada movimento meu, como se fosse
minha chefe.
No meu primeiro dia como criada particular de Wolfgang, fui levar
seu café das onze horas, e ela estava lá também.
Ficou de olho em mim o tempo todo.
Eu observei os dois conversando e enquanto ele estava cuidando das
rosas. Ele não parecia prestar muita atenção nela.
Ainda assim, fiquei com inveja da beleza e da autoconfiança de
Tallulah, quando eu mesma nem sequer conseguia olhar nos olhos do
meu próprio parceiro.
De repente, ela olhou para cima e, me pegou os observando.
Eu a vi sorrir maliciosamente enquanto acariciava o peito de
Wolfgang sedutoramente. Em seguida, jogou os braços em volta do
pescoço dele e sussurrou algo em seu ouvido.
Eu não conseguia escutar o que eles estavam falando, mas podia
adivinhar.
— Eu não posso aguentar isso! Vamos arrancar a cabeça daquela vadia e
mostrar quem manda aqui! — Rhea rosnou dentro da minha mente,
pronta para atacar.
Eu tive que brigar com ela para que ela não assumisse o controle e me
transformasse.
Continuei olhando para aquela cena.
Foi a isso que Wolfgang me condenou. Vê-lo com outra ou com quem
ele quisesse.
Eu realmente não gosto dessa garota.
Não pude evitar as lágrimas que escorreram pelo meu rosto, então
voltei para o meu quarto para me acabar de chorar mais uma vez.
Capítulo 15
Wolfgang

Hoje foi o primeiro dia de folga da Aurora. Eu tinha concordado em


deixá-la ir para casa, passar o dia com a madrasta, desde que estivesse de
volta às sete.
Eu estava no meu escritório, examinando alguns papéis sobre o
hospital da nossa matilha, quando escutei uma leve batida na porta.
Eu reconheceria aquela batida em qualquer lugar. Era ela.
Aurora.
— Entre, — respondi, então voltei minha atenção para o meu
trabalho. Senti seus passos leves quando ela parou na frente da minha
mesa.
Esperei que ela falasse algo, mas ela continuou quieta, então
finalmente ergui a cabeça e encontrei aqueles lindos olhos acinzentados
nos quais eu sempre me perdia.
Ela estava vestida de forma simples, com jeans, tênis, uma camiseta
preta de alguma banda de punk rock e um suéter xadrez vermelho.
Sua jaqueta estava pressionada com força contra o peito. Seu perfume
celestial estava me deixando louco.
— O que você está esperando, seu idiota?
Faça o que tem que fazer! Reivindique nossa parceira — Cronnos exigiu
dentro da minha cabeça.
Eu voltei à realidade.
— Sim? — perguntei, quebrando o silêncio.
— Estou saindo agora, senhor. — disse ela suavemente. Sua cabeça
estava baixa, os olhos fixos no chão.
— Ela estava chorando. Seus olhos estão inchados. — disse Cronnos.
Ele estava certo. Ela estava chorando. Foi por causa de ontem?
Enquanto eu estava no jardim da minha mãe, tirando as ervas, senti
alguém me observando e o aroma característico de marshmallows e
baunilha.
Eu soube imediatamente que era ela quem estava parada na varanda,
me observando.
Eu lutei contra a vontade de me virar e olhar para ela, tive que manter
a calma e continuar meu trabalho.
Não nego que uma parte minha adorou o fato de ela estar olhando
para mim.
Mas, naquele momento, Tallulah apareceu. Como de costume, ela
começou a flertar comigo, passando as mãos no meu peito.
Ela continuou por alguns minutos, até que eu finalmente a afastasse
de mim. Quando me virei para entrar, olhei para a varanda, mas a Aurora
já não estava mais lá.
No jantar, quando entrei na sala, ela já estava lá, colocando minha
comida na mesa.
Ela evitou meus olhos, mas eu sabia que tinha algo errado.
— Ah, estou morrendo de fome! O que vamos jantar esta noite,
Wolfie? — disse Tallulah, sentado-se ao meu lado.
— Hum, criada? Onde está minha comida? — ela rosnou para Aurora.
Fervi de raiva por dentro.
Aurora olhou para mim antes de voltar sua atenção para Tallulah.
— Vou trazê-la imediatamente, senhora, — ela disse e correu para a
cozinha...
— Posso ir, senhor?
A voz de Aurora me trouxe de volta ao presente.
Não. Eu não quero que você saia do meu lado.
— Pode.
— Não a deixe sair sozinha. E se ela for perambular perto da fronteira de
novo? — Rosnou Cronnos.
Ele estava certo.
— Não saia por aí sozinha. Principalmente na direção do lago. Não
quero receber um relatório de incidente por causa do seu descuido, —
acrescentei, esperando que ela entendesse o aviso.
— Sim, senhor. — Ela se virou e saiu do meu escritório.
Fiquei me sentindo inquieto pelo resto do dia, pensando em Aurora e
em seu paradeiro.
Será que ela foi direto para casa ou para outro lugar?
Será que ela conheceu alguém?
Seus arquivos não diziam nada sobre namorados e nem qualquer
relacionamento anterior.
Mas e se ela tivesse alguém?
Ao meio-dia, eu não aguentava mais.
Por sorte, Max entrou e me chamou para ir com ele até a cidade.
Provavelmente era para flertar com alguma garota aleatória que ele
conheceu, mas decidi ir mesmo assim.
Era uma desculpa para ver se a Aurora estava andando por aí. E se ela
estava mesmo sozinha ou com alguém.
— Então Rory tirou seu primeiro dia de folga, hein? — Max comentou
enquanto caminhávamos pelo shopping.
— Rory? — perguntei, erguendo uma sobrancelha.
— Aurora... sua criada?
Embora fosse um apelido óbvio, não consegui não me irritar pelo fato
de Max, ou qualquer outro cara, ter um apelido para ela.
— Eu não saio por aí socializando com meus criados, Max, —
respondi, sério.
— Ah, vai! Você colocou a menina no quarto ao lado do seu e vem
com essa? Conta outra, — ele disparou.
— Eu a coloquei no quarto ao lado do meu por motivo de segurança.
Só.
— E para mantê-la o mais perto possível, porque ela é nossa parceira há
muito aguardada e não queremos que ela vá embora, — Cronnos
acrescentou na minha cabeça.
— Besteira. — disse Max novamente. — Se a Aurora não fosse esse
anjo de pessoa, eu diria que você e ela têm uma coisa secreta rolando. Até
Remus e Aspen acham a mesma coisa. E a Senhora Kala também, ela me
contou sobre as rosas.
Revirei meus olhos.
— Ache o que você quiser, mas não tenho tempo para tolices como
casos amorosos, muito menos para uma ômega como ela. Se eu pudesse
escolher minha Luna, seria alguém que valesse a pena, como a Tallulah.
Eu me virei para encará-lo, odiando ter que me explicar sobre a
presença da Aurora na mansão.
Principalmente para alguém como Max, que não conseguia ficar com
a mesma garota por mais de um dia.
— Que seja, cara. — Max deu de ombros, finalmente desistindo.
Virei num corredor e trombei com uma figura pequena.
O cheiro inebriante que vinha dela me fez congelar na mesma hora.
— Ei, Rory! Não te vimos aí... Você está bem? — Max perguntou.
Eu olhei para baixo e vi seus olhos cinzas cheios d'água. Merda. Será
que ela me ouviu?
— Rory? Você está bem?
Uma garota mais alta veio para o lado dela. Eu a reconheci como a
amiga que veio em seu auxílio no dia em que a acusei de roubo.
Aurora baixou rapidamente a cabeça e assentiu enquanto enxugava os
olhos.
— Estou bem, Em. Com licença, alfa... beta...
Ela se virou e saiu, sua amiga logo atrás dela.
Fiquei ali congelado, observando sua pequena figura desaparecer por
uma das saídas. O meu braço, onde ela tinha esbarrado, ainda formigava.
Deu liga.
Droga, controle-se, Wolfgang, eu me repreendi.
Max deu um tapinha no meu ombro, me tirando do transe.
— Eu acho que você precisa ir procurá-la e se desculpar, cara, — ele
disse, com um olhar severo.
— Pedir desculpa por quê? — devolvi, com indiferença.
— Por partir o coração da nossa parceira de novo, e de novo e de novo,
seu idiota Cronnos me xingou.
— Não sei. Você diz que vocês dois não têm nada, mas ela parecia
bem magoada antes de fugir. Se você realmente não sente nada pela
garota, é melhor deixar isso claro, Wolfie. Não a faça sofrer.
Com isso, Max foi embora, me deixando sozinho com meus
pensamentos.
Capítulo 16
Aurora

Corri para fora do shopping o mais rápido que minhas pernas


conseguiram. Eu precisava ficar longe de Wolfgang e de suas palavras
dolorosas.
Até esqueci que Emma estava comigo, até que ela me alcançou.
Corremos pela rua, minhas pernas inconscientemente me levando a
um parque onde eu costumava brincar com meu pai.
Aproximei-me do balanço e me sentei, com a cabeça quase no chão.
Assim como minha autoestima.
Emma se sentou no balanço ao lado.
— Não chore... Tenho certeza que ele não quis dizer isso. — disse Rhea,
tentando me animar.
— Você vai me explicar o que aconteceu lá? — Emma perguntou.
Fiz que não com a cabeça.
— Estou perdendo alguma coisa aqui? Desde aquela festa, você está
agindo de forma estranha. O que está acontecendo entre você e o alfa
Wolfgang? — ela pressionou.
Eu estava prestes a balançar minha cabeça novamente, mas ela se
levantou do balanço e ficou na minha frente, com as mãos nos quadris.
— Não ouse dizer 'nada'. Eu sei que tem alguma coisa acontecendo.
Você está fora do ar, Rory, e estou começando a ficar preocupada.
Eu podia ver a angústia nos olhos da minha amiga e senti um impulso
de contar tudo a ela, mas mordi meu lábio.
Eu não a colocaria em perigo. Não podia fazer isso com ela.
— Você..., — ela começou a falar, mas parou.
Comecei a entrar em pânico. Será que ela tinha adivinhado?
— Você tá a fim do alfa, Aurora? — ela completou.
Soltei um suspiro que nem sabia que estava segurando, sentindo meu
corpo relaxar.
— Eu... — esfreguei meus braços, o frio da noite já dando as caras.
Eu poderia contar a ela uma meia-verdade, certo?
— Tô. — Cobri meu rosto de vergonha.
Essa foi a primeira vez que disse realmente que gostava dele. Claro, eu
já tinha pensado nisso, mas dizer em voz alta foi uma confirmação.
Emma me puxou para fora do balanço e me abraçou com força.
— Aiii, Rors. Você deveria ter me contado. — Ela me soltou do abraço,
mas continuou com as mãos nos meus ombros. — Ele também tá a fim
de você?
Eu abaixei minha cabeça, envergonhada.
— Não. E nunca vai ficar. Eu só tenho que lidar com isso e bola pra
frente. — Eu podia sentir uma nova leva de lágrimas se formando nos
cantos dos meus olhos.
— Não! Não desista! — Rhea gritou na minha cabeça.
— Não! Não desista ainda, Rory! — Emma fez coro às palavras da
minha loba. — Quer dizer, talvez ele não seja seu parceiro, mas não joga a
toalha ainda, — ela continuou. — Quem sabe o que pode acontecer?
Talvez ele esteja muito ocupado gerenciando a matilha e não te notou
ainda, mas e se vocês se curtirem?
Ela me deu um sorriso encorajador.
— Duvido muito disso. — Sorri de volta. — Eu preciso ir embora.
Comecei a caminhar.
— Eu te ligo hoje à noite, tá? E não se preocupa! — Emma gritou para
mim.
Voltei para a mansão, minha cabeça baixa, reprisando as palavras de
Wolfgang na minha cabeça.
Tenho certeza de que Tallulah seria uma parceira perfeita para ele.
Diferente de mim, uma ninguém. Cumprimentei os guardas que estavam
na porta, planejando ir direto para o meu quarto e me trancar pelo resto
da noite.
Mas encontrei Aspen no caminho. Ela me impediu.
— Ei, Rory. Como foi seu dia de folga? — ela perguntou.
— Foi ótimo, — menti.
Definitivamente, não tinha sido como eu esperava. Depois da noite
agitada do dia anterior, eu me levantei naquela manhã com a esperança
de passar o dia com Montana, assistindo filmes, conversando ou até
mesmo correndo em nossas formas de lobas.
Mas quando cheguei em casa, ela já estava indo embora. Eles haviam
ligado para ela no último minuto para inspecionar alguma área.
Felizmente, Emma apareceu e decidimos ir ver um filme e caminhar
pelo shopping. Há muito tempo não fazíamos coisas simples assim.
Mas é claro que eu tive que esbarrar nele. O que ele estava fazendo no
shopping?
— Eu não tenho tempo para tolices como casos amorosos, muito menos
para uma ômega como ela. Se eu pudesse escolher minha Luna, seria alguém
que valesse a pena, como a Tallulah.
Suas palavras ecoavam na minha cabeça repetidamente.
— Max me contou que eles te encontraram. Lamento muito que você
teve que ouvir essas coisas tão dolorosas. Tem certeza que você está bem?
— Aspen perguntou novamente, o cenho franzido.
— Claro. Por que eu não estaria? — Eu sorri, tentando convencê-la de
que estava tudo bem. A última coisa de que precisava era de mais gente
sentindo pena de mim. — Vou para o meu quarto agora, estou muito
cansada.
— Hum, claro. Boa noite, Rory. — Eu poderia dizer que ela estava
hesitante em me deixar sozinha.
— Boa noite, Aspen. Vejo você amanhã, — eu disse, antes de subir as
escadas.
Quando cheguei ao quarto andar, estava acabada. Não à toa, já que
não tinha dormido nada na noite anterior.
Eu não estava com fome, então decidi tomar um banho e encerrar o
dia. Com sorte, eu conseguiria descansar um pouco esta noite.
— Senhorita Craton?
Ah, não... Eu conhecia aquela voz.
Por que ele está aqui? Ele não deveria estar em seu escritório?
Eu me virei e encarei Wolfgang, que estava parado ao pé da escada.
Ele tinha me seguido?
Eu nem tinha percebido. Devo estar realmente cansada.
— Você precisa de algo, senhor? — perguntei a ele, minha cabeça
baixa. Eu não conseguia olhar nos olhos dele.
— Você está atrasada. — Sua voz era firme e acusatória. Olhei para o
relógio e vi que eram sete e quarenta.
Merda.
— Me desculpe, senhor. Perdi a noção do tempo e não percebi que era
tão tarde. Não vai acontecer de novo. — Curvei minha cabeça.
Senti ele se aproximando de mim com seus passos pesados.
— Não vai mesmo. — disse ele ao passar direto por mim. — Você será
punida. Pelas próximas duas semanas, você está proibida de deixar a
mansão, mesmo em seu dia de folga.
— O quê? — Minha voz se elevou e finalmente levantei minha cabeça
para olhá-lo nos olhos.
Seu rosto estava desprovido de emoção, como sempre.
— Você me ouviu, Senhorita Craton. Você não deve deixar a mansão
nas próximas duas semanas.
— Mas... mas esse é o único dia que posso ver minha madrasta. Você
não pode fazer isso! — gritei com ele. Eu podia sentir minha raiva
aumentando.
— Sim, eu posso. Você deve aprender a seguir ordens. Eu sou o alfa
aqui. Se eu disser para pular, você pergunta a que altura. Se eu disser que
você não pode ir, você não sai deste lugar até eu mandar, entendeu?
Embora seu rosto estivesse estoico como sempre, sua voz estava
carregada de autoridade.
Mas eu não ia tolerar isso. Ele não poderia fazer isso comigo.
— Não! — devolvi.
— Como é? — Pela primeira vez, vi emoção em seu rosto. Ele foi pego
de surpresa.
— Eu disse não! Basta você me manter trancada aqui, cumprindo
todas as suas ordens e vendo você flertando com a Tallulah. Mas você
não vai me tirar o único dia que tenho para ver a única família que me
resta.
— Flertando? Quando eu flertei com a Tallulah? — Ele cruzou os
braços sobre seu enorme peito.
— O tempo todo! Ela está sempre lá com as mãos em você, e eu só
posso sentar e assistir. Isso está me enlouquecendo! Se você não tem
nenhum interesse em mim, por favor, apenas me rejeite e me deixe
seguir minha vida!
Eu estava sem fôlego quando terminei. Ainda bem que estávamos no
quarto andar, porque qualquer pessoa poderia ter ouvido tudo o que eu
disse.
Fui surpreendida por um toque quente — era sua mão acariciando
meu rosto. Seus dedos enxugaram as lágrimas que eu nem percebi que
tinham caído.
Ele se aproximou. Recuei, mas me vi pressionada contra a porta do
meu quarto.
Eu podia sentir seu hálito mentolado na minha pele. Seus olhos azuis
bebê brilharam enquanto ele olhava para os meus.
Sem aviso, ele fechou o último espaço que tinha entre nós. Então seus
lábios estavam nos meus.
O choque foi rapidamente substituído pelo desejo quando me inclinei
para beijá-lo de volta, a paixão vencendo a sanidade.
Eu podia sentir faíscas da nossa pele se tocando.
Esse era o chamado. Era assim que era.
Mas tão repentinamente quanto começou, parou. Wolfgang recuou
alguns centímetros. Seus olhos fixos nos meus.
— Eu sou o alfa aqui, Aurora. Eu decido quando vou rejeitá-la. E se eu
quiser desfilar por aí com a Tallulah na sua frente, eu vou. Você não faz
nada a menos que eu diga para você fazer.
A expressão estóica voltou mais para o seu rosto.
— Você terá dois dias de folga por semana a partir de agora. Da
próxima vez, volte na hora certa.
Ele passou por mim e se fechou em seu quarto.
De alguma forma, consegui me recompor, entrei em meu quarto e
fechei a porta.
Foi então que tudo o que aconteceu nos últimos oito dias me atingiu
como um saco de tijolos.
Não consegui controlar os soluços que escaparam da minha boca
enquanto deslizava até a porta e embalava a cabeça nos joelhos.
— Não chore. Por favor. Tudo ficará bem. Não chore. — Rhea tentou me
acalmar, mas eu a ignorei e continuei chorando e chorando, me
perguntando por que eu estava destinada a isso.
O que eu fiz de errado em minha vida passada para a Deusa da Lua
estar me punindo dessa maneira?
Chorei sem parar até adormecer no chão ao lado da porta.
Por que isso está acontecendo comigo...
Capítulo 17
Wolfgang

O que diabos há de errado comigo?


Eu beijei a Aurora. Eu beijei a Aurora, porra!
No momento em que vi aqueles olhos acinzentados me encarando
com raiva, não consegui me conter.
Eu a beijei.
E tive que lutar contra o desejo de morder seu pescoço, marcando-a
ali mesmo.
Reivindicando-a como minha.
Droga! Eu não posso me permitir perder o controle para o chamado.
Eu tenho que me controlar.
Enquanto eu resmungava inquieto sobre o erro que cometi ao beijar
Aurora, Cronnos, por outro lado, estava praticamente dançando de
alegria.
— Fica quieto, seu saco de pulgas velho. Não consigo me concentrar no
que estou lendo aqui rosnei para ele.
Ele me ignorou completamente e continuou dançando.
Procurei em todos os meus livros qualquer informação sobre
transformações incomuns.
Eu não iria sossegar até descobrir o que estava por trás daquela
transformação tão peculiar da Aurora.
Minha mesa estava abarrotada de livros de todos os tamanhos e cores,
mas eu não tinha encontrado nada ainda.
Descansei a testa na mesa, exausto. De repente, um título em letras
douradas chamou minha atenção.
Descendentes da Lua
Abri o livro e li a introdução.
Os lobisomens são uma criação da Deusa da Lua, a quem eles adoram
como o ser supremo, mas também existem aquelas que são suas descendentes
diretas.
Filhas da Deusa da Lua, que vagam pela Terra entre nós.
Elas são superiores a todos os lobos, já que o sangue real corre em suas
veias.
Cuidado com o poder das filhas da Deusa da Lua, pois não há criatura
mais forte no mundo do que elas.
— Filhas da deusa... Vagando pela Terra entre nós… — murmurei.
Virei o livro para ver quem era o autor, mas não havia nenhum nome.
A impressão do livro datava de 1700.
— Cronnos, você sabe alguma coisa sobre as descendentes da Deusa da
Lua? — perguntei ao saco de pulgas.
Ele parou de dançar, parecendo pensativo.
— Na verdade, não. Nunca ouvi nada parecido, — respondeu ele.
Folheei as páginas até chegar a uma que dizia:
A verdadeira forma das descendentes da Lua.
Abaixo estava o desenho de um lobo com pelo branco como a neve e
olhos brilhando como ametistas.
Pulei da cadeira, eu estava em choque. Esta era a imagem exata da
loba da Aurora.
Encarei a foto, olhando para cada detalhe dela. Essa definitivamente
era a forma da loba dela, mas o que isso significava...?
Não. Isso era impossível. Eu li a introdução mais uma vez.
Cuidado com o poder das filhas da Deusa da Lua, pois não há criatura
mais forte no mundo do que elas.
Uma imagem dos olhos dóceis da Aurora brilhou em minha mente.
Não, ela não poderia ser descendente da Deusa da Lua. Eu não sentia
nenhuma aura ameaçadora nela.
Ela não.
— Mas e se ela for? — Cronnos perguntou na minha cabeça. — E se ela
for filha da Deusa da Lua? Você estaria rejeitando a realeza todo esse tempo.
Zombei dele.
— Ah, claro. Como se ela fosse mesmo da realeza.
Eu li seus arquivos várias vezes, a ponto de saber todos os detalhes
sobre ela de cor — e ser da realeza estava fora de questão.
Claro, seu pai foi o último gama, e famoso por seu talento estratégico,
mas era só isso.
Sua mãe era uma dona de casa de um vilarejo ao norte, sem
habilidades, assim como a filha.
Fechei o livro e deixei-o pra lá.
— Isso definitivamente não é o que eu estava procurando. Aurora não se
parece em nada com a descrição do livro. Ela não tem nenhum poder ou
habilidade especial. É por isso que não posso chamá-la de minha Luna.
Seu rosto veio na minha cabeça e me lembrei daqueles olhos
acinzentados se afogando em lágrimas.
Suas sobrancelhas se juntaram de tanta raiva. Me acusando de flertar
com Tallulah.
Como se eu desse qualquer moral para aquela deslumbrada que pensa
que é alfa.
Mas Tallulah tinha mais qualidades para oferecer como Luna do que
Aurora. Ela era filha do alfa de uma das matilhas mais fortes da região.
Ela sabia ser uma líder.
Um pensamento passou pela minha cabeça. Não custa tentar.
Ela pode até me distrair da Aurora.
Então, finalmente conseguirei rejeitá-la.
Aurora

No dia seguinte, eu estava um desastre. Cada centímetro do meu corpo doía,


graças à minha insensata decisão de dormir no chão.
Por sorte, eu já tinha programado o alarme no meu celular, então pelo
menos acordei a tempo de me preparar para o trabalho.
Argh. Como vou conseguir olhar para ele?
Minha cabeça voltou na noite de ontem. Levei a mão à minha boca
quando me lembrei do beijo.
Wolfgang me beijou.
Por que ele fez isso? Era outra forma de me atormentar?
Eu verifiquei meu telefone e estremeci quando vi que tinha quinze
ligações perdidas e mais de uma dúzia de mensagens de texto da Emma.
Revirei os olhos, preparando-me para o sermão que ela me daria mais
tarde.
Mas eu teria que ligar para ela à noite, durante meu intervalo. Eu não
precisava de ninguém me bombardeando com perguntas agora.
Tomei um banho rápido e vesti meu uniforme. Encarei a garota no
espelho, mas não a reconheci.
Eu estava com uma olheira enorme e meus olhos estavam vermelhos
de tanto que eu chorara.
— Wolfgang idiota, — murmurei para mim mesma antes de sair do
meu quarto e descer para pegar o café da manhã dele.
— Bom dia, Rory, — o pessoal da cozinha me cumprimentou quando
entrei. Todos estavam ocupados.
— Bom dia, gente. — Acenei para eles, indo ligar a máquina de café.
— Sentimos sua falta ontem. Como foi seu dia de folga? — uma das
criadas perguntou, mexendo no mingau que preparava no fogão.
— Foi tudo bem. Eu me encontrei com uma amiga e vimos um filme,
— respondi, despejando o café quente na caneca.
— Vejo vocês daqui a pouco, — eu disse a eles e subi as escadas rumo
ao quarto andar.
Parei hesitante diante da porta. Eu não queria entrar. Eu não queria
vê-lo.
— Vamos. Vai ficar tudo bem. Talvez ele até dê outro beijo na gente, —
Rhea tentou me animar.
Minha loba estava otimista.
Suspirei, tentando reunir alguma confiança. Bati na porta.
— Entre.
Abri a porta e o vi parado na porta da varanda, ignorando minha
presença completamente.
— Seu café, senhor, — eu disse timidamente, esperando que ele pelo
menos notasse minha presença, mas ele apenas acenou com a mão, me
dispensando.
— Pode deixá-lo na mesa.
Fiz o que ele pediu e caminhei até sua mesa, deixando a caneca lá.
Tinha um monte de livro sobre o tampo, mas um em particular chamou
minha atenção.
Descendentes da Lua
— Vou ter companhia para o café da manhã, então diga ao chef para
mandar outro prato. Por favor, arrume o quarto até lá, — ele disse,
distraindo minha atenção do livro.
— Companhia, senhor? — perguntei, curiosa para saber quem ele
havia convidado para o café da manhã em seu quarto.
— Sim. Tallulah Wilhelm se juntará a mim. Estarei no ginásio
treinando até lá. Garanta que tudo esteja pronto quando eu terminar.
Ele pegou a xícara de café e desapareceu porta afora.
Ele... ele vai tomar café da manhã com Tallulah?
A dor explodiu no meu peito. Ele estava fazendo isso de propósito,
para me atormentar ainda mais.
Ele estava fazendo isso porque eu deixei escapar que fiquei com
ciúme de ver os dois juntos.
Eu parei no meio de seu quarto, chocada.
Isso poderia ficar pior?
Capítulo 18
Aurora

Retiro o que disse. As coisas definitivamente pioraram.


Uma semana se passou desde o repentino café da manhã de Wolfgang
e Tallulah; agora eles passam todos os minutos juntos.
— Tenho certeza de que não há nada entre os dois, Aurora. Wolfgang
ama a gente, não aquela loba arrogante — Rhea tentou me tranquilizar em
minha mente, mas eu não caía mais nessa.
Esse foi o jeito que ele achou de me torturar. Ele sabia o quanto me
incomodava vê-los juntos.
Por que eu tive que deixar escapar isso?!
Para piorar, Emma foi embora alguns dias atrás para a faculdade e
ainda por cima fiquei sem a minha melhor amiga.
Na nossa última conversa, ela me deu uma bronca por deixá-la
preocupada, depois me encheu de dicas de como seduzir o Wolfgang.
Como se isso fosse funcionar.
— Aurora! — Eu me virei e vi Aspen e Remus vindo na minha direção.
— Ah, oi, Aspen. — Acenei para ela antes de me curvar para o gama
Remus.
— Para onde você está indo? — a ruiva perguntou, curiosa como
sempre.
— Eu estava indo para o quintal. Minha loba precisa esticar um pouco
as pernas.
— O alfa Wolfgang sabe que você está prestes a deixar a mansão? — o
gama Remus perguntou.
— Hum... bem, não…. — comecei, mas Aspen me interrompeu.
— Ah, vamos, Remus. Não é como se ela estivesse saindo da área. Ela
vai estar bem aqui no quintal. — Aspen disse, piscando para mim.
— O alfa deixou claro que ela não deveria deixar a mansão. — Remus
rebateu.
— Ela também é gente. Não pode ser mantida aqui só para agradá-lo.
E se eu for com ela? — Aspen insistiu.
Fiquei surpresa com o quanto eles se sentiam confortáveis um na
presença do outro. Eu me perguntei se eu e Wolfgang conseguiríamos ser
assim um dia.
— A resposta é não. Os renegados andam tentando invadir a nossa
aldeia, — Remus parecia estar ficando nervoso.
— É apenas a floresta do quintal! — Aspen também estava ficando
chateada.
— Gente, gente. Tudo bem. Não quero criar problemas para ninguém.
A Rhea pode esperar, não é urgente. Tenho certeza de que ela aguenta
mais uma semana.
Remus de repente se virou para mim com uma expressão de surpresa
no rosto.
— O que você disse? — ele perguntou.
— Hum, que tudo bem se eu não sair agora? — respondi a ele, sem
saber se havia dito que não devia.
— Não. Qual é o nome da sua loba?
— Ah, Rhea, — respondi, ainda sem saber o que isso tinha a ver com
querer sair para correr.
Ele ficou ali, pensativo, o polegar pressionado contra o queixo.
— Remus? O que foi? — Aspen perguntou, também sem entender.
— Nada. Só acho estranho que o nome do lobo da Senhorita Craton
seja Rhea, e o nome do lobo do alfa Wolfgang seja Cronnos.
Sua voz estava distante, como se ele estivesse montando um quebra-
cabeça em sua mente.
— E...? — Aspen expressou a pergunta que também estava na minha
cabeça.
— Na mitologia grega, Rhea e Cronnos são os Titãs que criaram o
mundo. Eles são os pais dos deuses Zeus, Hades e Poseidon. Eles eram
marido e mulher. — Remus explicou.
Meus olhos se arregalaram de surpresa.
— Você quer dizer que Aurora e Wolfgang são…. — Aspen perguntou,
animada.
— É apenas uma teoria, mas é sabido que os lobos só podem acasalar
com outro cujo nome de lobo se conecte com o deles na mitologia grega.
Devo ter parecido confusa, porque ele continuou.
— Por exemplo, o nome da loba da Aspen é Penelope, e o nome do
meu lobo é Odisseu.
Ele olhou para mim.
— Senhorita Craton, você fez 18 anos há pouco tempo, certo? Você já
encontrou seu parceiro?
Eu vi que ele e Aspen estavam juntando as peças.
Ah, não. Se eles descobrirem que eu sou a parceira do Wolfgang, ele
certamente irá bani-los — Não, senhor. Ainda não.
Ah, minha Deusa, acabei de mentir para o gama.
— Tem certeza? Você nunca sentiu nada? — perguntou Aspen.
— Não, sinto muito. Mas, hum, é melhor eu voltar para o meu quarto,
antes que o alfa Wolfgang me puna. A gente se vê, Aspen. Tchau, gama
Remus.
Curvei minha cabeça rápido e entrei na mansão. Quis evitar novas
perguntas.
— Mas essa é a prova, Aurora. Você e Wolfgang são mesmo parceiros.
Cronnos. Que nome bonito e sexy, Rhea continuou puxando o saco deles e
eu fiquei me lembrando das coisas que o gama Remus disse.
Isso realmente prova que Wolfgang e eu fomos feitos um para o
outro.
Mas por que ele se esforçava tanto para me afastar?
Chorei sem parar até adormecer no chão ao lado da porta.
Por que isso está acontecendo comigo...
Capítulo 19
Wolfgang

Eu estava no meu escritório com Remus e Max, organizando os


preparativos para o encontro alfa, que será daqui um mês.
Eu esperava conseguir, no evento, mais camaradas e alianças para a
guerra contra os renegados que se aproximava.
Nós descobrimos que o líder do exército de renegado era ninguém
menos que Klaus, o filho do renegado que matou minha mãe e meu pai.
Desde que nos confrontamos pela primeira vez no campo de batalha,
sete anos atrás, ele vem reunindo mais e mais renegados.
E, ultimamente, eles têm sido vistos rondando as fronteiras da nossa
aldeia. Essa conferência é fundamental — se quisermos estar prontos
para enfrentar esses malditos mais uma vez.
— Sabe que encontrei a Senhorita Craton ontem, indo para a floresta
do quintal? Ela disse que sua loba precisava correr um pouco. — Remus
comentou.
Fui arrancado dos meus pensamentos.
— O quê? Por que você não me informou imediatamente? — rosnei
para o meu gama.
— Relaxa, alfa. Eu não permiti que ela fosse. — ele continuou.
— Bom. A floresta está muito perigosa. — Eu relaxei. O que tinha de
errado com aquela garota? Era como se ela estivesse atrás do perigo.
— Ela podia ter me pedido para acompanhá-la, se ela precisava sair
para correr. — Max interrompeu. — Eu ficaria mais do que feliz de fazer
isso.
— Ela nem deveria estar no quintal. — rebati.
Para ser honesto, a ideia de ele estar sozinho na floresta com a minha
parceira me incomodava.
— Então agora ela é nossa parceira, né? Cronnos comentou, rindo.
— O quê? Ela é uma espécie de prisioneira agora? Por que você está
sendo tão duro com a garota, Wolfie? — Max perguntou.
— Ele diz que ela está sob vigilância pelo incidente da festa. Mas acho
que tem mais coisa aí. — disse Remus.
Ele deixou de lado os arquivos que estava olhando e tirou os óculos
para enxugá-los.
— O que você quer dizer? — Max perguntou.
Eu já pressentia o rumo dessa conversa. Eu podia sentir meu corpo
ficar tenso.
— Eu ando observando a garota. — disse Remus, — e não sinto
nenhum tipo de má intenção dela. Não acho que ela seja uma ladra.
Aconselho que você retire esse aviso que colocou sobre ela, antes que ela
se prejudique.
— Então Rory está aqui por causa de algum mal-entendido? Muito
sutil, Wolfie. — Max disse.
Ele ergueu a sobrancelha.
— Por que você não joga limpo e confessa logo que sente algo por ela.
E tudo bem, cara, ela é uma gatinha.
— Vocês dois esqueceram que eu estou namorando a Tallulah? —
disparei para eles.
— Ah, claro. E é apenas uma grande coincidência que você começar a
namorar aquela mina doida logo depois de eu falar o quanto você tá
dando na cara com essa história de tratamento especial para a Rory.
Ele sorriu.
— Vai, cara, assume. A gente já sacou. Você gosta dela. O que tem de
errado nisso? — Max questionou.
— Eu não gosto daquela menina. E eu já te disse, mesmo se eu tivesse
a intenção de me comprometer com uma loba, procuraria alguém mais
adequada para nomear como minha Luna. E foi por isso que comecei a
namorar a Tallulah.
Eu levantei minha sobrancelha.
— Eu diria que me dei conta disso graças a você, Max.
— Que seja, cara. — Max finalmente desistiu, revirando os olhos. —
Para minha sorte, Rory ainda não encontrou seu parceiro. Talvez ela tope
sair comigo, então.
Eu podia sentir meu sangue ferver ao pensar em Aurora namorando
qualquer outro cara.
— Pois é. Essa é a parte mais estranha. Nem o alfa Wolfgang e nem a
Senhorita Craton encontraram seus parceiros ainda, mas seus lobos
compartilham nomes de equivalência perfeita. — disse Remus, pensativo.
Pude ver as orelhas de Cronnos se animarem ao ouvir essa nova
informação sobre a nossa parceira.
— O que você quer dizer com isso? — perguntei a ele, mas não
querendo ouvir a resposta.
— Você não sabia que o nome da loba da Senhorita Craton é Rhea? —
ele perguntou.
Uma espécie de corrente elétrica percorreu o meu corpo. Nunca senti
nada parecido antes.
— O quê? Você tá brincando, né? Quem te contou isso? — Max
perguntou, empolgado.
— A Senhorita Craton por acaso mencionou o nome da sua loba na
conversa ontem. Não posso negar que fiquei bastante surpreso com essa
coincidência. — disse ele.
Ele me olhou por cima dos óculos.
— E, no entanto, parece estranho que ela ainda não tenha sentido o
chamado de um parceiro, especificamente o seu, alfa Wolfgang.
— Por que ela sentiria qualquer tipo de chamado vindo de mim? É
uma coincidência, sim, a gente compartilhar nomes equivalentes, mas
aquela loba ômega e eu não temos nenhuma outra conexão.
Eu olhei para eles.
— E eu aconselho vocês a deixar esse assunto pra lá antes que eu
tranque os dois na masmorra por me encherem o saco.
Levantei e saí do escritório.
Era muita coisa para digerir.
O nome da loba de Aurora era Rhea.
Deusa da Lua, isso é algum tipo de punição? Por que você insiste em me
combinar com aquela loba ômega?
Enquanto eu caminhava pelo corredor rumo às escadas, o doce e já
familiar cheiro de uma certa loba prendeu minha atenção.
As cenas daquela noite em que nos beijamos invadiram minha cabeça.
Meu corpo ansiava pelo toque dela.
Se controla, Wolfgang, eu me censurei, balançando a cabeça. Não posso
deixar esse desejo tomar conta de mim.
Se esse chamado tivesse acontecido em circunstâncias diferentes... se
eu tivesse aceitado a Aurora naquele momento, eu já a teria marcado,
completando nosso vínculo.
E aí, com as minhas presas profundamente marcadas em sua pele,
nenhum outro lobo ousaria chegar perto dela.
Mas aqui estava eu, incapaz de aceitá-la ou de rejeitá-la.
Seu doce aroma encheu o ar, me atraindo instintivamente em sua
direção.
Aurora não estava sozinha. Ela estava na companhia de outro lobo
macho.
Marchei ao longo do corredor e desci as escadas em direção à
cozinha. Lá encontrei minha parceira, sentada no balcão, enquanto o
sous chef chupava seu dedo indicador.
Eles estavam sozinhos.
Não pude evitar o rosnado que escapou da minha boca quando
agarrei o cozinheiro pelo colarinho e o joguei de lado.
— Tony! — ouvi minha parceira gritar atrás de mim.
Eu me virei para ela. Ela pulou do balcão e correu na direção dele.
Isso me irritou ainda mais.
— Que porra vocês dois estavam fazendo? — rosnei enquanto a
observava ajudar o cozinheiro a se levantar.
— Alfa Wolfgang, o que você quer dizer com isso? Aurora estava me
ajudando com o jantar e me pediu para provar o molho. Eu não estava...
— Tony, o cozinheiro, disse.
— O que está acontecendo aqui? — A Senhora Kala entrou correndo
com Beau e algumas criadas. — Ah, minha Deusa, Tony! Você está bem?
O que aconteceu?
Olhei para o cara e me virei para encarar minha criada-chefe. Eu
precisava esclarecer isso antes que eles interpretassem as coisas mal.
— Nada, Senhora Kala. Foi apenas um mal-entendido. — Olhei para o
jovem cozinheiro, desafiando-o a dizer algo diferente, mas ele foi mais
esperto e apenas acenou com a cabeça em concordância.
— Foi apenas um acidente, Senhora Kala. Vou para a enfermaria. —
disse ele, se afastando.
— Vou com você. — Aurora começou a caminhar ao lado dele, mas eu
a impedi.
— Não. Você vem comigo.
— Ele foi atingido na cabeça. Eu só quero garantir que ele está bem,
— ela respondeu de volta.
A raiva ferveu dentro de mim de novo.
— A Senhora Kala pode ir com ele. Você vem comigo. — ordenei,
encerrando a discussão.
— Está tudo bem, Rory. Eu vou ficar bem, — o cozinheiro disse a ela.
A Senhora Kala segurou seu braço e os dois saíram da cozinha.
Comecei a sair pela outra porta, quando percebi a hesitação de
Aurora em me seguir.
— Quando você tiver um tempinho aí, Senhorita Craton, — eu
rosnei.
Caminhei pela passagem para os fundos, com Aurora logo atrás de
mim. Eu podia sentir que ela estava ansiosa. Ela não queria ficar perto de
mim.
— Puxa, por que será? — Cronnos perguntou, sarcástico.
Assim que me garanti que não havia ninguém por perto, me virei e
agarrei Aurora pelos braços, prendendo-a na parede.
— Que porra você estava fazendo sozinha com aquele homem? —
rosnei para ela.
— A Senhora Kala me pediu para ajudar Tony a preparar o jantar,
porque Beau tinha uma reunião na escola do filho dele. Os outros
estavam de folga.
Pude ver o medo em seus olhos.
— Droga. Você está a assustando! — Cronnos rosnou na minha cabeça.
Soltei seus braços, mas a mantive presa entre meu corpo e a parede.
Eu estaria mentindo se dissesse que não gosto da sensação do corpo
dela perto do meu.
Eu teria a chance de sentir isso de novo se eu a rejeitasse e escolhesse
outra como minha parceira?
— Alfa Wolfgang, por favor, não castigue o Tony. Fui eu que pedi a ele
para provar o molho. Eu não pensei...
Minha raiva rugiu. Aqui estamos nós, nossas bocas a centímetros uma
da outra, eu lutando contra meu instinto carnal e ela preocupada com o
cozinheiro.
— Você e aquele cozinheiro não vão mais trabalhar juntos. Eu vou me
garantir disso. — rosnei para ela.
— O quê? Como assim... — ela começou a perguntar, mas eu a
interrompi.
— Vou transferi-lo para outro lugar. Ele não trabalha mais na mansão.
— eu disse a ela.
Seus olhos se arregalaram.
— Você não pode fazer isso. Tony não tem nada a ver c...
Eu a cortei de novo.
— Eu não me importo. Vocês dois nunca mais vão trabalhar no
mesmo lugar. Essa é a minha decisão final.
Eu vi seus olhos umedecerem de lágrimas. Então ela me empurrou.
Eu não saí do lugar, claro, mas o gesto me surpreendeu bastante.
— O que você pensa que está fazendo? — perguntei a ela.
— Tentando fugir de você! — Ela me fuzilou com o olhar, seu rosto se
contorcendo numa careta de raiva.
— Ah, é mesmo? — perguntei, sarcástico, pressionando meu corpo
com mais força contra o dela. — Não parece que está funcionando.
— Te odeio! Eu odeio ser sua parceira! Te odeio! — ela rosnou para
mim. Suas bochechas estavam encharcadas de lágrimas.
Naquele momento, não consegui mais me controlar. Eu a beijei.
No começo, ela lutou contra mim, mantendo os lábios bem fechados,
mas eu não a soltei.
Ela resistiu por mais alguns segundos, então eu a senti se render,
permitindo que minha língua explorasse cada centímetro de sua boca.
Caramba. Por que ela tem esse gosto tão bom?
Ela estava me deixando louco. Eu queria mais. Peguei seus braços e os
envolvi em volta do meu pescoço e acariciei seu corpo esguio da cintura
até os quadris.
Seus dedos agarraram meus cabelos. Eu podia sentir minha ereção e,
involuntariamente, pressionei meu corpo com mais força contra o dela.
Eu a senti gemer em minha boca quando ela sentiu meu pau duro, me
excitando ainda mais.
Eu queria essa menina e a queria agora.
Caramba, Wolfgang. Se controla, gritei para mim mesmo na minha
cabeça, mas meu corpo não registrou o comando.
Eu não conseguia parar de beijá-la. Eu precisava de mais.
De repente, ouvi alguém vindo pelo corredor. Eu rapidamente a soltei
e me distanciei dela.
Nós dois estávamos sem fôlego.
— Não quero ver você perto daquele cozinheiro de novo. Entendido?
— eu disse a ela e saí, rumo ao meu escritório, no segundo andar.
Aproveitei o trajeto para tentar me recompor. Eu não queria que meu
beta e meu gama percebessem nada.
Remus e Max me olharam com desconfiança quando entrei, mas
ignorei os dois e foquei na tela do meu computador.
— Alguém andou se divertindo, hein? — Max deu uma risadinha.
Remus balançou a cabeça para os lados.
— De que diabos você está falando? — perguntei, irritado com suas
tiradinhas infantis.
— Ah, não sei. Quando você saiu daqui há um tempo, seu cabelo não
estava desse jeito.
— Dê uma olhada no espelho, alfa. — Remus completou, parecendo
entediado.
Desliguei a tela do computador e me vi no reflexo, meu cabelo estava
uma bagunça.
Isso deve ter acontecido quando Aurora passou as mãos nele. Droga.
Só de lembrar da sensação meu pau ficou duro de novo.
Aurora, você vai acabar comigo.
— Vocês dois estão dispensados, — eu disse a eles, tentando me
concentrar no trabalho.
— Oba! — Max gritou. Ele praticamente saiu correndo do escritório.
Remus estava bem atrás dele, mas, antes de sair, ele parou e se virou para
mim.
— Alfa Wolfgang, recomendo fortemente que você retire a
advertência do registro da Senhorita Craton. A garota parece inofensiva
para mim. Eu não gostaria que nada de mal acontecesse a ela.
Sem esperar resposta, ele saiu do escritório.
— Seu gama está certo. Nós dois sabemos que ela não é uma ladra. —
disse Cronnos..
— Vou lidar com isso depois, assim que eu a rejeitar. — respondi, ligando
novamente o computador para checar meus e-mails.
— Não deixe a garota ser prejudicada por causa do seu egoísmo. — ele
rosnou.
Eu o ignorei enquanto lia a mensagem sobre a minha reserva de hotel
para o próximo encontro do Alfa.
Houve uma batida na porta.
— Entre.
Tallulah entrou, vestindo jeans justos e um top curto que revelava um
generoso decote.
— O que você quer? — perguntei, sem me preocupar em olhar para
ela de novo.
— Senti sua falta o dia todo, então vim te ver. Mas parece que você
ainda está ocupado. — Ela se aproximou e se sentou na minha mesa, bem
na minha frente.
— Na verdade, estou, Tallulah, — eu disse, sem muito interesse no
que ela tinha a dizer.
— Ah, baby. Quando você vai começar a me chamar de baby ou
querida ou amor... Quando você fala só meu nome assim, parece que tô
levando uma bronca Ela fez um beicinho com os lábios grossos revestidos
de batom rosa. Eu apenas olhei para ela, então olhei de volta para o meu
computador.
Ela pulou da mesa e deu a volta para ficar bem atrás de mim.
Começou a massagear meus ombros.
— Você está tão tenso, baby. Por que você não dá um tempo e relaxa
um pouquinho? — Ela mordiscou minha orelha e beijou meu pescoço
enquanto falava.
Imaginei que era a Aurora no lugar dela.
Puxei Tallulah para o meu colo. Eu a beijei e ela respondeu
avidamente, uma mão envolvendo meu pescoço e a outra massageando
meu cabelo.
Eu me flagrei comparando a Tallulah com a Aurora e definitivamente
não era a mesma coisa.
Então, alguém entrou e engasgou de horror.
Olhei para a porta e senti meu rosto empalidecer quando vi Aurora
ali, com a dor estampada nos seus olhos acinzentados.
— Oi? Você não sabe bater? — Tallulah a repreendeu. — Estamos
meio que ocupados aqui.
— Me desculpem. — Ela rapidamente baixou a cabeça e saiu correndo
da sala.
Droga!
Eu empurrei Tallulah e corri atrás de Aurora, mas ela não estava em
lugar nenhum.
Para onde diabos ela foi?
Subi para o quarto dela, nada.
Por que ela foi até o escritório?
Chamei Max com a mente e perguntei se ele tinha visto Aurora em
algum lugar.
Para minha surpresa, ele me disse que ela estava com Aspen no jardim
das rosas.
— Ela parecia angustiada. Você fez algo para ela? — Max me perguntou
por telepatia.
Sim. Eu a fiz ver algo que ela não deveria.
— Não. Não deixe a Aspen sair do lado dela. Diga-lhe que ela está
dispensada das suas funções pelo resto do dia eu disse ao meu beta, subindo
as escadas de volta.
— Claro, Wolfie. Vou falar com ela.
Voltei para o meu escritório e encontrei Tallulah sentada
confortavelmente na minha cadeira.
— Achei que você tivesse ido embora, — eu disse a ela.
— Eu estava esperando por você, baby, — ela ronronou, jogando seu
cabelo loiro para trás.
— Deixa eu reformular isso melhor. Eu gostaria que você tivesse ido
embora.
— Por quê? — ela se levantou, indignada.
— Quero ficar sozinho. Agora saia, — rosnei para ela.
Ela recuou, claramente intimidada pela minha aura.
— Ok. Mas só porque você pediu tão gentilmente.
Ela saiu furiosa do escritório, me deixando sozinho com meus
pensamentos.
— Você é um enorme imbecil, sabia disso, garoto? Quanto tempo mais
você vai levar para entender o mal que está fazendo à nossa parceira?
Cronnos rosnou.
— Agora não, pulguento.
Eu o bloqueei. Realmente não estava a fim de ouvir seu discursinho
agora.
— Fique à vontade, idiota. — disse ele, seco, e se retirou.
Capítulo 20
Aurora

Eu queria falar com Wolfgang para convencê-lo a não transferir Tony


para outra estação.
Ele não fez nada de errado e eu não conseguia entender por que
Wolfgang tinha ficado tão nervoso.
Não que ele se importasse comigo ou algo assim..
— Mas ele se importa. Nosso parceiro se preocupa com a gente. Aquilo lá
foi um ataque de ciúme. — disse Rhea.
Será? Wolfgang estava com ciúme?
Mas por que ele estaria? Não é como se ele sentisse algo por mim,
além de desprezo.
Ou sentia?
Então me lembrei do nosso beijo. Ele estava interessado em mim
mesmo. Eu senti seu membro duro contra minha perna.
Será que eu deixei ele excitado?
Lógico. Nosso parceiro pode não admitir, mas ele sente algo pela gente. —
Rhea comemorou.
— Vai atrás dele. Quem sabe ele não termina o que começou e marca logo
a gente? — ela riu.
Fiquei vermelha. Minha loba era uma cadela no cio.
No fim, decidi ir ao seu escritório. Encontrei Max e Remus no
caminho.
Quando perguntei se eles tinham visto o Wolfgang, Max disse que ele
estava no escritório e que seria melhor eu ir vê-lo, quem sabe assim o
humor dele não melhorava?
Ele e o gama Remus ficaram me olhando de canto de olho, mas eu me
despedi dele e fui para o escritório do alfa.
Quando cheguei, ia bater, mas a porta já estava entreaberta. Dei um
leve empurrão e entrei.
Gelei por dentro quando vi meu parceiro com a língua no fundo da
garganta de Tallulah, que estava no colo dele.
Engasguei de susto e os dois se deram conta da minha presença.
— Oi? Você não sabe bater? Estamos meio que ocupados aqui —
Tallulah disse, olhando para mim.
Eu gritei um pedido de desculpas, me virei e corri o mais rápido que
pude, com lágrimas nos olhos.
Estava no corredor, indo em direção às escadas que levavam para o
meu quarto, quando encontrei Aspen. Ela franziu as sobrancelhas ao me
ver e me segurou.
— Rory, o que aconteceu? — ela perguntou.
Tentei limpar as lágrimas dos meus olhos.
— Eu-ele-eu... — tentei explicar, mas me desfiz em lágrimas. Eu devia
estar um desastre completo.
— Venha comigo. — Ela me puxou com ela e descemos as escadas.
Fomos para o quintal, onde Remus e Max estavam conversando.
Assim que me viram, os dois pareceram preocupados.
— O que houve? — Max perguntou, vindo até mim, mas eu não
conseguia parar de chorar.
A imagem do meu parceiro com aquela loba estava marcada a ferro na
minha cabeça, e cada vez que eu pensava sobre isso, doía mais e mais.
— O que aconteceu com ela, Aspen? — Remus perguntou para sua
parceira.
Ela deu de ombros.
— Não sei. Eu a encontrei assim. Vocês poderiam deixar a gente um
pouco? Acho que as meninas precisam de um tempo sozinhas.
Eles concordaram com relutância e nos deixaram sozinhas no jardim
das rosas.
Aspen sentou-se comigo, em silêncio, esperando que eu parasse de
chorar. Acho que ficamos lá sentadas por pelo menos uma hora.
Eu estava grata por ela ter me levado lá para fora. Eu precisava de um
pouco de ar fresco, me sentia sufocando.
— Pronta para falar sobre isso? — Aspen perguntou, colocando a mão
sobre a minha.
Eu apenas balancei minha cabeça. Eu não podia contar para ela. Não
queria que ela, nem ninguém, tivesse problemas com Wolfgang. Esse
desgraçado.
— Eu sei que tem a ver com o alfa Wolfgang, — ela disse.
Eu levantei meus olhos e ela sorriu para mim gentilmente.
— Como...? — perguntei.
— Eu vejo você olhando para ele. Não é tão difícil perceber. E,
acredite em mim, é mútuo, ele sempre está de olho em você também. —
ela disse, tentando me tranquilizar.
— Duvido muito, — murmurei, olhando para os meus pés.
— É verdade. Até o Remus acha a mesma coisa. Agora mais do que
nunca, descobrimos que os lobos de vocês têm nomes equivalentes.
Ela cruzou os braços.
— O que não entendo é: por que nenhum de vocês sentiu o chamado
ainda?
— Eu não acho que eu e o alfa Wolfgang fomos feitos um para o
outro. Ele é o alfa afinal, e eu sou apenas uma ômega. — eu disse a ela.
A dor explodiu no peito enquanto eu repetia as palavras dele.
Wolfgang estava certo, no fim das contas; eu não tinha nada a oferecer a
ele.
— Ah, pára com isso. Claro que você tem muito a oferecer. Você é a
pessoa mais gentil e atenciosa que já conheci. Você seria uma grande
Luna para o nosso bando. Não essa sacana, a Tallulah. Ela só quer ter
mais poder.
— Não importa. Ele a escolheu. E eles estão juntos. Não há nada que
eu possa fazer... — suspirei, derrotada. — Eu só queria que esta semana
acabasse logo. Não consigo ficar perto deles.
Max voltou.
— Ei. Falei com o Wolfgang. Ele está procurando a Aurora.
Eu fiquei tensa quando ouvi o nome do meu parceiro.
— Ele disse que você pode tirar o resto do dia de folga, — avisou.
Suspirei de alívio. — Obrigada. Vou para o meu quarto. Vejo vocês
depois. — Eu me levantei e subi para o quarto, na esperança de não topar
com Wolfgang.
Mas, mais uma vez, não dei sorte: encontrei alguém ainda pior.
Tallulah.
Tentei voltar na direção de onde vim, esperando que ela não tivesse
me notado.
— Você! Ei, criada! Quero falar com você, — ela gritou.
Eu parei no meio do caminho e me virei para encará-la.
— Sim, senhora? — perguntei e baixei a cabeça. Eu não queria que ela
percebesse que eu estava chorando.
— Você é a criada particular do Wolfgang, não é? — ela perguntou, se
aproximando de mim.
— Sim, senhora.
— Bom, então vamos esclarecer uma coisa. Você é a criada dele e nada
mais. Então não faz sentido você sair correndo e chorando só porque viu
a gente se beijando. Afinal de contas, ele está comigo.
Ela zombou de mim.
— Eu não tô nem aí pra sua paixãozinha infantil, só te aconselho a se
afastar. Ele é MEU.
Eu recuei com o seu rosnado. Ela era mesmo a filha de um alfa.
— Desculpe, mas não faço ideia do que você está falando. Sou apenas
criada dele. Só isso. — respondi, tentando encerrar a conversa.
Eu só queria me trancar no meu quarto.
— É melhor que continue assim, — ela rosnou e foi embora, me
deixando num estado de tensão total e Rhea pronta para atacá-la.
Subi correndo para o meu quarto e tranquei a porta. Eu me joguei na
cama, enterrei a cara no travesseiro e chorei até não poder mais.
Mais tarde, naquela noite, eu estava sentada na cama, zapeando os
canais da TV, sem me interessar em nada, quando meu celular toca.
Peguei o aparelho e vi que era Montana; meu humor melhorou
imediatamente.
— Ei, Rory. Como está minha garotinha? — ela disse.
— Ei, Montana. Estou bem. Na verdade, tirei o dia de folga, então
estou procurando algo interessante para assistir, mas não consigo
encontrar nada.
Tentei falar com a minha melhor voz.
— E você? Como estão as coisas?
— Ah, você sabe. Trabalhando. O alfa Wolfgang me fez patrulhar
muito nas últimas semanas. Aparentemente, avistaram alguns renegados
perto da fronteira, mas não consegui farejar nenhum deles.
— Ah, não. Isso significa que a gente não vai se ver neste fim de
semana? — Meu humor despencou.
— O quê? Claro que vamos. Garanti que estarei de folga no domingo
para poder passar o dia todo com você.
Sua voz ficou animada.
— E aí, me conta, o que você vai querer fazer? Caçar? Passear no
shopping?
Eu ri do seu entusiasmo.
— Que tal passarmos o dia em casa vendo filme?
Eu não queria arriscar sair e encontrar o alfa novamente.
— Ótima ideia. O que você quiser fazer. O importante é
conseguirmos ficar juntas. Parece que faz um tempão que eles te levaram
para essa mansão, e não tivemos mais a chance de nos encontrar.
Suspirei.
— Sim, tenho a mesma sensação.
Montana e eu temos um tipo especial de vínculo. Ela foi o mais
próximo de uma mãe que eu tive, desde os meus oito anos.
Naquela época, ela era uma nômade que buscou refúgio com a nossa
matilha.
Alfa Gudolf viu potencial em suas habilidades de buscadora e nomeou
meu pai como seu guardião até que ela se provasse confiável o bastante
para se tornar parte do bando.
Eventualmente, eles se apaixonaram.
Meu pai me disse que ela nunca poderia substituir minha mãe, afinal,
o vínculo de parceria é inquebrável, mas ele não podia negar os
sentimentos especiais que Montana despertou nele.
No início, eu não confiava nela. Afinal, cresci assistindo filmes nos
quais as madrastas eram bruxas malvadas.
Mas ela não era nada parecida com as vilãs das histórias infantis.
Montana era super legal e uma pessoa boa de ter por perto. A gente se
conectou muito.
E, depois que papai morreu, ficamos ainda mais próximas. Éramos
nossa própria pequena família e eu a amava de todo o coração, mesmo
que a gente discordasse de vez em quando.
Eu perdi meus pais, mas tive sorte, porque a Deusa da Lua me
abençoou com essa pessoa tão especial que era a Montana.
Eu era muito grata por isso. Nós só tínhamos uma à outra.
Capítulo 21
Wolfgang

Já se passaram alguns dias desde que Aurora entrou no escritório e me


viu beijando Tallulah. Ela estava mais distante do que nunca.
Falei com a Senhora Kala e decidi não mandar o sous chef embora,
com a condição de que ele e Aurora não ficassem mais sozinhos no
mesmo lugar.
Aurora não se atreveu a me dizer uma palavra sobre isso. Ela vinha
todas as manhãs me trazer café, fazer a cama e depois saía o mais rápido
que podia para lavar a roupa.
Ela então trazia o café da manhã e minha roupa limpa de volta. Mais
uma vez, passava o mínimo de tempo possível perto de mim antes de
desaparecer pela porta.
Às onze, ela vinha com outra xícara de café e a colocava na minha
mesa antes de pedir licença e sair sem sequer me dar uma segunda
olhada.
Ao meio-dia, ela e a Senhora Kala arrumavam a mesa para eu e a
Tallulah almoçarmos, e a Senhora Kala a dispensava logo em seguida.
Ela passava a tarde toda em seu quarto, então eu não a via de novo até
o jantar.
Eu não pude deixar de olhar de lado para ela. Percebi como ela
parecia frágil. Ela tinha olheiras e parecia ter perdido peso. Será que ela
estava comendo direito?
— Hum, criada, o que é isso? — Tallulah chamou Aurora,
interrompendo meus pensamentos.
— Com licença, Senhorita Wilhelm. Essa é a especialidade do chef do
dia. Pato assado com batata gratinada — Aurora respondeu.
— Você está louca? Sou intolerante à lactose. Não posso comer queijo.
Tire isso daqui imediatamente.
Aurora correu para o lado dela da mesa e pegou o prato de volta. Eu
olhei com cara feia para Tallulah.
— Que foi? Eu não posso comer isso, amor. Queijo me deixa inchada.
— Ela fez um beicinho.
— Aurora é a minha criada. Ela só recebe ordens minhas — rosnei
enquanto Aurora colocava um novo prato de comida na frente dela, as
batatas substituídas por salada.
— Sinto muito, baby. Não vai mais acontecer de novo, — ela disse
com sua voz mais açucarada.
Terminei meu almoço e estava a caminho do meu quarto quando as
vozes de Max e Remus explodiram na minha cabeça.
— Alfa! Alfa!
Fiquei imediatamente em estado de alerta ao perceber a urgência na
voz deles.
— O que aconteceu?
— Houve uma brecha na fronteira sul. — disse Remus.
— Os renegados nos atacaram! — Max adicionou.
Todos os pelos do meu corpo se arrepiaram.
Saí pela porta e corri pela floresta. Eu me transformei no meu lobo,
sem me importar com a roupa, que se desfez em tiras.
Cheguei à fronteira sul e encontrei diversos guerreiros da minha
matilha caídos no chão. Max e Remus estavam lutando contra dois
bandidos.
Eu ataquei um e rasguei seu pescoço em dois, corri atrás do outro e
mordi suas costas, incapacitando-o.
— Como diabos esses renegados todos entraram aqui? — rosnei para o
meu gama.
— Não sabemos, senhor. Eles passaram pelos buscadores e emboscaram os
guerreiros, — respondeu ele, cravando suas presas no pescoço de um
renegado.
— Como isso é possível? Passar pelo buscador, que tem seu olfato super
potente... Isso é impossível, a não ser que...
Foi quando o cheiro me atingiu.
Aroma nullis. Os renegados têm uma bruxa. E ela criou uma poção
que anula o cheiro e a borrifou o bando.
— Remus! Leve os sobreviventes para o curandeiro imediatamente! Max e
eu conseguimos dar conta desses renegados que restaram.
— Sim, senhor. — Ele correu para ajudar os feridos enquanto eu e o
meu beta acabamos com os renegados restantes.
— Bom, pelo menos esses caras foram fáceis de se livrar, — Max brincou
enquanto eu quebrava o pescoço do último renegado.
— Muito fácil para o meu gosto. Quase pareceu uma missão suicida.
Todos esses renegados eram de baixa patente. Não há guerreiros aqui. —
comentei.
— Mas eles pediram a ajuda de uma bruxa. Você acha que...
— Alfa! Eu preciso de você aqui. Agora! Remus me chamou.
Corri até onde ele estava, já em sua forma humana. Ele estava
olhando para um dos feridos.
— Esta buscadora. Ela está gravemente ferida, alfa. O curandeiro não
pode fazer mais nada por ela. — disse Remus.
Eu gelei quando reconheci a pessoa ofegante aos meus pés.
Era Montana Craton, a madrasta de Aurora.
Rapidamente mudei para minha forma humana, grato por Remus me
estender um par de calças e uma camisa.
— Ela não vai aguentar muito, senhor. Não tenho equipamento
suficiente para tratá-la aqui. Montana precisa ser levada de volta ao
hospital, mas temo que não vá resistir. — disse o curandeiro.
Não havia tempo a perder. Eu a peguei e corri com ela pela floresta
até o hospital.
— A-alfa... — a Senhora Craton murmurou entre sua respiração
irregular.
— Não desperdice energia. Estamos quase no hospital. Resista.
— Cuide da minha Rory... — foi tudo o que ela disse antes de fechar
os olhos e cair inerte em meus braços.
Aurora
— Senhorita Craton. Você está sendo convocada para o escritório do alfa.
— um dos guardas me avisou.
Eu estava sentada no quintal, lendo.
— Hum, está bem. — Fechei meu livro e entrei na casa, me sentindo
nervosa só de pensar em ter que encará-lo de novo. Eu fiz tudo que pude
para evitar ficar sozinha com ele por muito tempo.
Talvez ele só quisesse uma xícara de café antes de dormir, embora isso
fosse raro a esta hora.
Fui até o escritório no segundo andar e bati na porta. Ela se abriu e
Max também estava lá, com uma expressão sombria no rosto.
Isso é estranho, pensei comigo mesmo.
— Entre, — ele disse. Sua voz estava séria.
Entrei. O gama Bowman estava parado na frente da mesa de
Wolfgang.
— Sente-se, Senhorita Craton, — ele sinalizou a cadeira em frente ao
alfa, que estava sentado atrás de sua mesa de costas para mim, olhando
pela janela.
Senti um forte cheiro de ferro que penetrou no meu nariz.
— Senhorita Craton — Wolfgang falou, sem se virar.
— Hum, eu fiz algo errado? — perguntei e, logo depois, estremeci por
ter sido tão direta com o homem que havia declarado seu desprezo por
mim repetidas vezes.
Mas ele não pareceu incomodado.
— Não, Senhorita Craton. Você não fez nada de errado. — Gama
Bowman tirou os óculos e os enxugou.
— Houve uma violação de segurança perto da zona sul da aldeia.
Fomos surpreendidos por um ataque conduzido pelos renegados. —
Wolfgang finalmente se virou para mim.
Foi quando vi o sangue seco em sua camisa. Isso explicava o cheiro de
ferro. Mas o sangue não parecia ser dele.
— O grupo da patrulha estava defendendo aquele setor no momento.
Tivemos muitas baixas. — disse ele, sem expressão. — Eu sinto muito.
Sua madrasta, Montana Perlett Craton, morreu.
Levei um momento para digerir suas palavras. Cobri minha boca,
sufocando um grito.
— Não... — consegui dizer. Senti as lágrimas escorrerem.
— Rory, sinto muito... — Max disse, colocando a mão no meu ombro.
— Não... isso está errado! Por que ela estava na linha da fronteira sul?
Ela está sempre no oeste! — gritei, empurrando a mão de Max para
longe.
— Eu ordenei que ela ajudasse o grupo da linha sul na patrulha hoje.
— disse Wolfgang.
Eu olhei para ele, completamente em choque.
— O quê?! Por quê?! — gritei, perdendo o controle.
Isso não pode estar acontecendo. Montana não pode estar morta!
— Isso não é da sua conta, Senhorita Craton. Eu sou o alfa aqui! — ele
falou com autoridade, se levantando da cadeira e me cobrindo com sua
sombra.
Eu não respondi. Apenas olhei para os meus pés. Meu corpo tremia
descontrolado.
Montana era a minha única família. Agora ela se foi e eu fiquei
sozinha.
— Fizemos tudo o que podíamos. O alfa Wolfgang a trouxe para o
hospital o mais rápido que pôde, mas ela já tinha perdido muito sangue...
— Max disse. — Eu sinto muito mesmo.
Levantei a cabeça e olhei para o alfa.
— Eu também sinto muito. Eu nem consegui me despedir dela.
Todas as minhas forças me deixaram e eu desabei no chão.
— Eu nunca pude me despedir.
Capítulo 22
Wolfgang

Fiquei atordoado, sem conseguir me mexer.


Quando Aurora me olhou com raiva, jurei que vi, por um instante,
seus olhos ficarem roxos. A sala foi repentinamente inundada por uma
força avassaladora, como eu nunca senti antes.
— Vou levá-la para o quarto dela. — disse Max.
Concordei.
— Avise, por telepatia, a Aspen e a Senhora Kala. Eles saberão como
confortá-la.
— Sim, senhor. — Max segurou o braço de Aurora e ajudou-a a se
levantar. — Vamos, Rory.
Eles saíram do meu escritório e eu desabei na minha cadeira. O que
diabos tinha acontecido?
— Alfa Wolfgang...?
Eu esqueci que meu gama ainda estava na sala comigo. Eu virei para
encará-lo e fiquei surpreso ao ver a expressão de choque no seu rosto.
— Você... Você sentiu isso? A aura da Senhorita Craton aumentou
incrivelmente. Ainda estou tenso com a energia dela. E os olhos dela...
Ele tirou os óculos e os enxugou com as mãos trêmulas.
— Eu nunca vi nenhum lobo com o olho dessa cor.
Olhei para o espaço agora vazio onde Aurora havia estado poucos
momentos atrás.
— A transformação dela é fora do normal, — eu disse ao meu gama,
lembrando da loba de pelos brancos e olhos roxos que encontrei naquela
noite no lago.
— Como assim? Você já viu a Aurora se transformar?
Fiz que sim com a cabeça.
— Seu pelo reluzente é branco como a neve e seus olhos são como
ametistas. Estive investigando o significado disso, mas até agora só
encontrei um livro que falava bobagens sobre...
— As Descendentes da Lua. — Meu gama terminou a frase. — Eu li
alguma coisa sobre isso, mas seria possível? — Remus andou de um lado
para o outro.
— Para, Remus. Você não pode acreditar em um conto de fadas sobre
as filhas da Deusa da Lua. É impossível.
Eu me levantei e fui até o frigobar para me servir um copo de uísque.
Mesmo que meus sentidos de lobo não me permitissem absorver os
efeitos do álcool, eu precisava do seu sabor forte agora.
— Até hoje eu também achava que era besteira, mas depois do que
acabei de presenciar, não tenho como duvidar. O que sabemos sobre seus
antecessores? — meu gama perguntou, recusando o copo que ofereci a
ele.
Matei o meu em um gole.
— O pai dela foi o último gama, Rodrick Craton... — comecei, mas ele
me cortou.
— Sim. Eu sei. Eu quis dizer do lado da mãe. O que sabemos sobre
ela?
— Não há muitas informações sobre ela. — Voltei para a minha mesa,
abri uma das gavetas, tirei os arquivos de Aurora Craton e os entreguei
para o meu gama.
Ele pegou os papéis e analisou um por um, então olhou para mim.
— Alfa, me diz uma coisa. Era por isso você queria mantê-la por
perto?
Fui pego de surpresa.
— Isso, e também porque ela é a nossa parceira. — Cronnos disse,
sarcástico.
— Sim, — respondi. Não era uma mentira, tecnicamente, mas ele não
precisava saber sobre a parte da parceira.
Ele olhou mais uma vez para os papéis, como se estivesse refletindo
sobre algo, então acenou com a cabeça.
— Muito bem. Vou ver o que mais consigo descobrir sobre a mãe dela
e aviso você. Agora, vá tomar um banho e descanse um pouco, alfa. —
disse Remus.
Ele saiu do escritório. Esvaziei outro copo de uísque antes de encerrar
a noite, então subi para o meu quarto.
No caminho para lá, encontrei a Senhora Kala, que estava saindo do
quarto de Aurora.
— Como ela está? — perguntei.
— Ela adormeceu, pobre criança. Ela não tem mais ninguém agora. A
menos que ela encontre seu parceiro. Tenho medo que a vida dessa
criança vire um desastre. — A Senhora Kala olhou tristemente para a
porta fechada.
— Aspen e Max estão lá com ela. Eles disseram que vão fazer
companhia a ela durante a noite. Agradeça aos dois por serem tão bons
com aquela criança.
Eu fiquei lá, olhando para a porta do quarto de Aurora.
A Senhora Kala estava certa. Aurora foi deixada sozinha. Tudo graças
a essa batalha sem fim.
— Ela está de folga pelos próximos três dias. Por favor, diga a ela. —
Comecei a caminhar para o meu quarto quando a velha senhora falou
comigo novamente.
— Alfa Wolfgang, se eu puder perguntar... quais são suas intenções
em relação a Rory? Ela é uma criança doce e não merece mais sofrimento
do que ela já passou.
Eu a encarei, me perguntando a mesma coisa.
Quais eram minhas intenções? Eu não a queria como minha parceira,
mas também não conseguia rejeitá-la, então qual era o meu plano?
Como o alfa, eu deveria marcá-la e reivindicá-la como a minha Luna.
Se eu continuasse assim, ficaria fraco, o que tornaria a minha matilha
vulnerável também.
— Eu não tenho nenhuma intenção com ela. — eu finalmente disse.
Passei pela Senhora Kala e fui para o meu quarto.
— Se o senhor está dizendo. — ela respondeu antes de caminhar pelo
corredor.
Olhei mais uma vez para a porta de Aurora e não pude deixar de
imaginá-la encolhida na cama, com o rosto manchado de lágrimas.
Eu a imaginei enrolada em meus braços enquanto eu a consolava.
Descartei o pensamento e entrei no meu quarto, jogando a camisa
suja no chão.
Tomei um banho e me joguei na cama. Eu esperava cair no sono
rápido... para poder esquecer os acontecimentos do dia.
Eu não tinha percebido o quanto estava exausto até ser acordado por
uma batida leve na porta. Olhei para o relógio na mesinha de cabeceira e
percebi que já eram seis da manhã.
Normalmente, eu levantava às quatro e meia para o meu treino
matinal e estava pronto às seis quando Aurora trazia meu café.
A batida me tirou dos meus sonhos e gritei para quem quer que fosse
que entrasse.
Aurora entrou com a costumeira xícara de café nas mãos. Seus olhos
pareciam vazios e esgotados.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei a ela.
— Eu... eu trouxe o seu café, senhor. — ela respondeu, sem fazer
contato visual.
— Quero dizer, o que você está fazendo no trabalho hoje? A Senhora
Kala não te informou que eu dei a você alguns dias de folga?
— Eu decidi trabalhar, senhor. Isso vai ajudar a manter minha mente
ocupada. — disse ela, ao pé da minha cama.
Eu sabia o que ela queria dizer. Quando meu pai morreu, eu me
afoguei no trabalho para não pensar na dor da perda.
Suspirei, tentando tirar aqueles pensamentos deprimentes da minha
cabeça.
— Ok. Você pode levar a roupa. Não se preocupe com a cama.
Ela assentiu e foi para o banheiro.
Alguns momentos depois, ela voltou com as minhas roupas sujas, mas
parou no meio do caminho quando viu a camisa manchada de sangue
caída no chão.
A dor cruzou seu rosto enquanto ela olhava para a roupa.
Pulei da cama e rapidamente tirei a camisa da mão dela.
— Eu sinto muito. Eu não queria que você visse isso de novo. — eu
disse a ela com sinceridade.
— Você... você realmente a carregou até o hospital? — ela perguntou,
finalmente me olhando nos olhos.
— Fiz o que pude. Sinto muito, não foi o suficiente.
Ela balançou a cabeça enquanto as lágrimas ameaçavam cair de seus
lindos olhos acinzentados.
— Obrigada... — ela sussurrou antes de se virar e sair do quarto.
Não pude evitar a sensação de calor no meu peito.
Por que ela faz eu me sentir assim? Foi um simples agradecimento.
Ainda assim, foi o suficiente para eu ficar alegre o resto do dia. Pelo
menos fui capaz de ajudar minha parceira de alguma forma.
Isso estava ficando fora de controle. Eu tinha que fazer algo, e
rapidamente, antes de me submeter completamente ao chamado para o
acasalamento. Eu ainda não acreditava nas Descendentes da Lua e com
certeza não achava que Aurora pudesse oferecer muita coisa a este
bando.
Eu pensei que humilhá-la ajudaria meu ódio por ela aumentar e então
eu conseguiria rejeitá-la logo.
Mas, cada vez que eu me aproximava daqueles inocentes olhos
acinzentados, eu perdia totalmente o controle.
Eu tinha que fazer algo e rápido.
Capítulo 23
Aurora

Um mês se passou após a morte de Montana.


Eu a sepultei ao lado do meu pai e da minha mãe. Era o certo a se
fazer; Montana foi uma segunda mãe para mim.
Depois que agradeci ao Alfa Wolfgang por tentar ajudar Montana no
dia da invasão, achei que ele seria um pouco menos arrogante e mandão,
mas é claro que eu estava errada.
Ele e Tallulah se mostravam cada vez mais como um casal para a
matilha. E, toda vez que eu interagia com algum lobo macho, ele me
proibia de falar com ele novamente.
Claro, todos temiam o alfa, então me evitavam como se eu fosse uma
praga.
Os únicos corajosos o suficiente para continuar falando comigo eram
o beta Max e a Aspen, se bem que até o gama Remus andava se
aproximando mais.
Passávamos a maior parte das tardes assistindo a filmes ou
conversando no jardim. Eles eram legais e me ajudavam a me distrair da
minha constante tristeza.
Mesmo assim, quando a noite chegava e eu estava sozinha na cama,
não conseguia evitar as lágrimas.
Eu ainda não entendia por que Alfa Wolfgang me mantinha por
perto. Por que ele não me rejeitou? Por que ele estava me torturando
daquele jeito? Se ele não gostava de mim, por que me manter por perto?
Isso era algum tipo de jogo para ele? Devia ser.
— Rory! Terra para Rory! — a voz de Emma me trouxe de volta à
realidade. Eu estava no quarto, fazendo uma videochamada com a minha
melhor amiga.
— Desculpa, o que você estava dizendo?
— Eu estava falando sobre esse cara fofo na minha aula de física, mas
parece que minha vida não é tão importante quanto a sua. — Pude ouvir
o aborrecimento em sua voz.
— Sinto muito, Em, — eu disse, não querendo que minha amiga
ficasse com raiva de mim.
— Tem certeza que você está bem? Eu sei que deve estar muito difícil
para você, depois do que aconteceu com Mont...
— Eu não quero falar sobre isso, — eu a interrompi.
— Claro, entendo. E como vão as coisas com o alfa? Você já confessou
seu amor por ele? — ela perguntou, erguendo as sobrancelhas.
— Eu também não quero falar sobre isso. — eu disse.
— O que aconteceu? — ela perguntou.
— Ele encontrou a parceira dele. — eu menti, esperando que ela
deixasse para lá.
— Ah, Rory! Eu sinto muito. — Ela parecia genuinamente triste. —
Mas, ei, pelo menos foi só uma paixonite. Você ainda vai encontrar seu
parceiro. — ela continuou, tentando me animar.
— Duvido.
— Você não pode continuar se rebaixando assim. Você pode não
enxergar o seu valor, mas eu enxergo e, acredite em mim, você está
destinada a fazer grandes coisas.
Ela me lançou um olhar que deixava claro que não havia espaço para
discussão.
Eu gostaria de ser tão determinada quanto ela. Talvez meu parceiro
me aceitasse se eu fosse mais parecida com Emma.
— Eu sei que parece que a Deusa da Lua te amaldiçoou com a má
sorte, mas acredite em mim quando digo que a grandeza virá no final
dessa provação. Então poderei dizer: eu avisei.
Seu rosto se suavizou um pouco.
— Eu tenho que ir. Preciso estudar para uma prova amanhã. Eu te
ligo amanhã à noite, tá?
— Certo. Boa sorte amanhã. — eu disse, embora soubesse que ela não
precisaria.. Emma sempre foi uma aluna nota A.
— Obrigada, Rors. Amo você, boo. — disse ela antes de desligar.
Decidi tomar um banho frio para ajudar meu corpo a relaxar e ir para
a cama cedo.
Por alguma razão, meu corpo estava muito dolorido ultimamente, e
eu sentia estranhas ondas de calor.
Sem mencionar que os constantes passos de Rhea para frente e para
trás em minha mente estavam me dando dor de cabeça.
— Rhea, você poderia parar com isso? — resmunguei. Mas ela me
ignorou e continuou andando.
— O que deu em você ultimamente? — perguntei a ela.
— Não sei. Tenho me sentido agitada. Também não sei por quê... — ela
respondeu, mantendo o constante vaivém.
Eu gostaria que Montana estivesse aqui, para eu poder perguntar a ela
o que era aquilo.
Montana...
Meu coração afundou com a ideia de nunca mais vê-la novamente.
Uma batida na porta me distraiu do meu humor deprimido.
— Sim? — eu disse, imaginando quem poderia estar batendo na
minha porta a essa hora. Olhei para o relógio, já passava das onze da
noite.
Quando ninguém respondeu, abri a porta e vi meu parceiro ali
parado, com a gravata afrouxada em volta do pescoço e o paletó em uma
das mãos.
— Alfa Wolfgang, você precisa de algo? — perguntei.
Ele não respondeu, apenas olhou para mim com os olhos
semicerrados. Eu poderia jurar que eles estavam um tom mais escuro do
que o azul bebê de sempre.
— Hum... Alfa? — perguntei timidamente.
Seus olhos se voltaram para os meus lábios. Por alguma razão, essa
ação simples me causou uma dor repentina na parte inferior do
estômago, e o calor que eu estava sentindo aumentou.
Wolfgang respirou fundo enquanto me encarava.
Rhea estava gritando e correndo em minha mente, quase como se ela
tivesse enlouquecido.
Wolfgang deu um passo em minha direção e eu recuei. A expressão
em seus olhos era de um predador, pronto para atacar sua presa.
Mesmo sabendo que deveria estar com medo, não pude evitar o
desejo que tomou conta de mim.
Wolfgang rosnou e deu mais um passo para perto, mas então recuou
como se tivesse percebido que algo estava errado.
Sem uma palavra, ele se virou e marchou para o quarto dele, batendo
a porta.
Fiquei ali sem me mexer por um momento e fechei a porta do meu
quarto. Rhea ainda estava correndo de um lado para o outro na minha
cabeça, de forma desagradável.
Meu corpo doía ainda mais do que antes. Eu pressionei minhas costas
contra a porta enquanto tentava estabilizar as batidas do meu coração.
— Rhea, por favor... fale comigo. O que foi isso? — perguntei para a
minha loba.
Ela finalmente parou de andar, mas ainda estava ofegante, agitada.
— Esse foi o chamado do nosso vínculo de acasalamento. Foi seu primeiro
cio. — disse ela, e senti um arrepio na espinha.
— Cio? Eu estou no cio?! gritei em minha mente, o pânico tomando
conta de mim.
— Sim. E só vai piorar, a menos que você acasale com Wolfgang. Caso
contrário, você irá atrair lobos sem parceiras para nós — ela disse, com um
gemido.
O que eu ia fazer agora? Não só nunca seria marcada pelo Wolfgang,
mas, se ele não me rejeitasse, eu seria forçada a fugir dos lobos solteiros.
— Está tudo bem, tenho certeza de que Wolfgang não vai deixar isso
acontecer com a gente. — Rhea tentou me confortar.
Mas tudo o que eu conseguia sentir era medo do que seria de mim no
futuro.
Quando um lobo macho e uma loba fêmea sentiam o chamado, eles
tinham que se unir. E, para fazer isso, eles teriam que marcar um ao
outro.
Dessa forma, nenhum outro lobo poderia se acasalar com eles.
Mas, é claro, esse nunca seria o meu caso.
Capítulo 24
Wolfgang

Depois da morte de Montana Craton, fiz o possível para me manter longe


de Aurora.
Para minha matilha, eu estava oficialmente com Tallulah, embora
Max e Remus não achassem boa ideia.
Como se eu precisasse da permissão deles.
Max e Aspen criaram um laço com a minha parceira como se fossem
amigos de longa data, e até Remus se tomou mais próximo dela.
Claro, ele também estava investigando essa teoria de que ela podia ser
descendente da Deusa da Lua, mas eu sabia que ele se identificava com
ela também.
Aurora, de alguma forma, tinha esse poder, de ter sempre pessoas ao
redor dela e de fazer amizade com facilidade.
Tive de ordenar à Senhora Kala que mantivesse certos caras longe
dela, para garantir que ela não iria interagir com eles.
Ela era, afinal, uma loba não acasalada, e, assim que entrasse no cio,
seria alvo de todos os lobos solteiros da nossa matilha.
— Ela estaria segura se nós a marcássemos. — disse Cronnos.
— Eu não vou marcá-la. Coloque na sua cabeça que eu não vou aceitá-la
como minha parceira — rosnei para o meu lobo.
Ele apenas bufou aborrecido antes de desaparecer no meu
subconsciente.
Mas ele estava certo. Se eu não a rejeitasse ou a marcasse antes do seu
cio, ela estaria em perigo.
Eu estava sentado no meu escritório tarde da noite quando uma
batida me distraiu da tela do meu computador e dos meus pensamentos
sobre a Aurora.
— Entre.
A porta se abriu e entraram os três anciãos: Leto, Aldo e Radolf.
— Alfa Wolfgang. — Eles se curvaram diante de mim.
— A que devo a honra? — perguntei. Achei estranho os três irem ao
meu escritório a esta hora.
— Alfa Wolfgang, chegamos ao terrível entendimento de que você
ainda não encontrou uma parceira. — o ancião Leto, o mais velho dos
três, falou primeiro.
— Como alfa, é imperativo que você assegure a linhagem do clã
Fortier Gagliardi. Portanto, sugerimos que você comece a procurar por
uma fêmea adequada e a proclame como a futura Luna o mais rápido
possível.
— Eu não preciso procurar ninguém para nomear como Luna do
bando. No momento, minha principal preocupação é me livrar do
exército de renegados que está nos ameaçando.
— Além disso, você já encontrou sua parceira, só é muito idiota para
admitir isso, — Cronnos bufou na minha cabeça.
— O exército de renegados é a razão pela qual é tão importante que
você nomeie uma Luna para o bando. Devemos garantir a descendência,
caso você não volte. — disse o ancião Radolf.
— E quem disse que eu não voltarei? — Eu finalmente levantei meu
olhar e encontrei os três pares de olhos.
— Não sabemos o que pode acontecer! Se você partir sem garantir
uma prole para a matilha, estará colocando toda a aldeia em perigo, — o
ancião Aldo falou dessa vez.
— Eu voltarei. Vou destruir o líder do exército renegado voltar e
continuar governando meu bando. — eu disse a eles, garantindo que
minha autoridade transparecesse na minha voz.
— Não iremos permitir que nosso exército saia da aldeia para lutar
contra os renegados sem que essa situação esteja resolvida. — disse o
ancião Leto. Olhei para ele.
Eu sabia que ele estava falando sério.
Eu era o alfa, mas como os anciões foram governantes no passado,
eles tomavam a decisão final quando se tratava de confrontos ou guerras
com outras matilhas.
Se eles decidissem que enviar guerreiros para caçar e matar os
renegados não era a melhor escolha, eu não poderia fazer nada a
respeito.
— Ok. Vou procurar uma pretendente adequada e proclamá-la a
futura Luna da matilha da Lua de Sangue, — eu disse a eles, irritado por
estar sendo forçado a isso.
Eles pareceram satisfeitos, pois baixaram a cabeça e saíram da minha
sala logo em seguida. Um suspiro de exasperação saiu da minha boca.
Eu estava estressado e esgotado com toda essa bobagem de parceira.
Naquela noite, quando eu estava indo para o meu quarto, perto do
quarto dela, senti seu perfume celestial.
Meu corpo reagiu imediatamente e senti meus músculos se
contraírem.
Com um uivo, Cronnos surgiu de repente em minha mente.
Abanando o rabo sem parar, ele corria para cima e para baixo.
— Parceira! Parceira! Parceira! Parceira! Parceira! — ele gritou na minha
cabeça.
— Merda... Isso não pode estar acontecendo agora!
Tentei ignorar o cheiro dela e a forçar meus pés a continuar
caminhando para o meu quarto.
Lá eu poderia tomar um banho frio e tentar mantê-la fora da minha
cabeça.
Mas eu não conseguia me mexer. Eu estava preso lá, na frente da
porta do quarto dela.
Seu perfume me arrebatou; e eu perdi o controle. Cronnos lutou para
me dominar.
Minha mão levantou inconscientemente e eu bati em sua porta.
— Sim? — Eu a ouvi chamar de dentro do quarto, mas não respondi.
Alguns segundos depois, a porta se abriu. Lá estava ela, linda.
Seus longos cabelos castanhos estavam presos em uma trança caída
para o lado. Ela usava uma simples camisola com uma meia-calça preta
que abraçava cada curva do seu corpo.
— Al-alfa Wolfgang. Você precisa de algo? — ela perguntou.
Não ousei responder, não confiava na minha voz.
— A-Alfa? — ela perguntou novamente.
Meus olhos correram por seus lábios rosados enquanto ela colocava a
língua para fora e passava sobre eles. Esse simples movimento me excitou
ainda mais.
Eu podia sentir o calor que seu corpo emanava — o que significava
que ela estava mesmo entrando no cio.
Ela se contorceu sob o meu olhar e senti seu calor aumentar. Eu
respirei rapidamente. Eu estava perdendo todo o controle. Cronnos
estava ganhando domínio.
Ele forçou meu corpo a dar um passo em sua direção, mas ela recuou.
Eu dei outro passo na direção dela, mas consegui ser capaz de recuperar
o controle do meu corpo.
Eu me afastei dela e corri para o meu quarto, batendo a porta atrás de
mim.
Corri para o banheiro e liguei o chuveiro. Fiquei sob a água fria,
tentando controlar meu desejo.
— Que porra foi essa? — gritei com meu lobo.
Eu o observei também tentando se recuperar. Ele estava ofegante.
Finalmente, ergueu o olhar para mim.
Com um grunhido, fugiu e saiu de vista. De volta ao meu
subconsciente.
Isso estava ficando fora de controle. Por pouco não marquei Aurora.
Capítulo 25
Aurora

Eu estava a caminho do escritório de alfa Wolfgang para entregar seu


café das onze horas. Eu estava prestes a bater na porta quando ouvi
vozes.
— Tem certeza, senhor? — Era a voz do gama Bowman.
— Você não precisa se apressar para escolher sua Luna. Pode esperar
até que finalmente encontre sua parceira, senhor.
Escolher uma Luna? O alfa finalmente se deu conta de que
deveríamos ficar juntos?
Eu sabia que não deveria bisbilhotar, mas olhei ao redor para ver se
tinha alguém vindo, então encostei meu ouvido na porta, fazendo o
possível para esconder minha aura.
— Pelo contrário, gama Bowman. Está na hora de o alfa escolher sua
Luna, já que ele ainda não encontrou sua parceira.
Essa foi a voz de um dos anciãos.
— Ele precisa apresentar uma Luna para a matilha, a fim de garantir a
continuação da linhagem Fortier Gagliardi.
— Ele tem até os trinta anos, ancião Aldo. Tenho certeza que o bando
vai compreender, já que ele ainda não encontrou sua parceira. — disse
Remus.
— Estamos em guerra! Não há tempo para esperar! — rebateu o
ancião Leto.
— Chega! — A voz de Wolfgang ecoou pela porta, silenciando todos
os outros. — Minha decisão é final, Bowman. Vou me casar com Tallulah
Wilhelm e anunciá-la como a nova Luna do bando.
Eu cambaleei para trás, perdendo o equilíbrio e batendo com a caneca
de café no seu próprio pires.
O escritório ficou em silêncio. Um momento depois, a porta se abriu
e os gelados olhos azuis de Wolfgang fixaram-se nos meus.
— Você... — ele começou, mas eu o interrompi antes que ele dissesse
qualquer outra coisa, empurrando a caneca e o pires na direção dele.
— Seu café, senhor, — eu disse, evitando contato visual.
— Você está atrasada. — Ele tirou o café da minha mão com um
grunhido, então tomou um gole.
— Está frio. Faça outro. — Ele empurrou a caneca de volta para mim,
espirrando café na minha blusa.
— A-agora mesmo, senhor. — murmurei e saí.
Eu me afastei rapidamente, tentando chegar o mais longe que pude
antes de as lágrimas começarem a cair. Virei num corredor, desabei no
chão e comecei a chorar.
— Não chore, Aurora. — disse Rhea, tentando me confortar.
— Ele vai se casar com Tallulah. Ele vai anunciá-la ao bando como sua
Luna. Ele nunca vai nos reconhecer como sua verdadeira parceira.
Enterrei minha cabeça em meus joelhos, quando senti alguém se
aproximar e ajoelhar ao meu lado.
— Rory... você está bem?
Eu olhei para cima e vi o rosto preocupado de Max. Ele me pegou
pelas mãos e me ajudou a ficar de pé.
— O que aconteceu? — ele perguntou, olhando para as manchas de
café na minha camisa.
— Eu... o café de alfa Wolfgang estava frio, então ele me pediu para
trazer uma nova xícara. — eu disse, desviando o olhar.
— Ele jogou a xícara em você? — ele perguntou.
— O quê? Não, eu... tropecei e derrubei o café em mim mesma. —
menti. Não queria fazer com que o alfa parecesse um cara ruim para os
seus amigos.
— Não minta para mim. Ele jogou em você, não foi? — Max
perguntou, com raiva.
— S-Sim, senhor. Mas foi um acidente. — eu disse. Não conseguia
olhar Max nos olhos. Não consegui convencê-lo.
Max segurou minha mão com força, a outra mão sob meu queixo,
para levantá-lo.
— Escute, Rory. Você não tem que aturar nada disso.
Ele olhou nos meus olhos.
— Mesmo que ele seja nosso alfa, você não precisa ser tratada dessa
maneira.
— Eu sei disso, mas não tenho escolha...
— Sim, você tem! Você pode renunciar a ele quando quiser! Saia da
casa do líder e construa sua própria vida! — ele estava quase gritando.
Eu me encolhi e olhei para baixo.
— Olha... — ele disse, mais calmo. — Eu sei que você sente algo pelo
Wolfgang.
Olhei para ele em choque.
— Você sabe?
Ele deu uma risadinha.
— Claro. Você não é muito boa em esconder isso.
Eu olhei para baixo novamente, envergonhada, mas ele ergueu minha
cabeça mais uma vez, me forçando a olhar em seus olhos.
— É uma pena que seus sentimentos não estejam em outro lugar. —
disse ele, sorrindo levemente.
— Em outro lugar? — perguntei, sem entender.
— Olha. Você deve saber que é muito bonita. E, um dia, vai encontrar
seu parceiro. Uma pessoa que vai valorizar você, sempre.
Seu sorriso se alargou.
— Pelo menos eu valorizaria, se fosse seu parceiro.
Ele riu.
— Basta olhar em volta. Dê a chance de outra pessoa te amar do jeito
que você merece. E pare de se preocupar com Wolfgang. Ele não vale
isso.
— Ah, é mesmo? — ecoou pelo corredor uma voz profunda e
aveludada.
Calafrios percorreram todo o meu corpo. Max e eu nos viramos e
vimos o Alfa Wolfgang olhando para nós, para as mãos do Max
segurando as minhas.
Afastei minhas mãos rapidamente.
— Pensei que eu tivesse te pedido outra xícara de café, criada. — o
alfa rosnou. — Eu esperava que você a trouxesse imediatamente, e não
estivesse aqui, de papo com o meu beta.
— Sinto muito, alfa. — guinchei, nervosa, enquanto torcia a barra da
saia do meu uniforme. — Vou trazer imediatamente, senhor.
Comecei a andar em direção à escada, mas ele segurou meu braço
com firmeza.
Faíscas surgiram onde suas mãos me apertavam.
— Não se preocupe. Eu não quero mais café. Venha para o meu
quarto. Preciso que minha roupa suja seja recolhida e lavada.
Ele me arrastou com ele, dando longos passos em direção à escada.
Estremeci de dor.
— Você não precisa puxar a Aurora assim! Você está a machucando.
— Max gritou.
O alfa parou em seu caminho.
— Você, beta Barone. Da próxima vez que for flertar com as criadas,
certifique-se de que isso não aconteça enquanto elas estiverem
trabalhando e sob as MINHAS ordens! — ele rosnou.
Wolfgang continuou me puxando junto com ele. Apressei o passo
para conseguir acompanhá-lo.
Subimos até o quarto andar. Ele soltou meu braço, me permitindo
andar no meu próprio ritmo enquanto ele vinha atrás de mim.
Mas, assim que cheguei ao meu quarto, ele abriu a porta e me levou
para dentro.
Eu cambaleei e tropecei, com os pés desajeitados. Fui me sentar e ouvi
um clique quando ele trancou a porta.
Eu olhei para cima, ele estava me encarando. Senti um frio na
espinha, pensando no que ele poderia fazer comigo.
Ele deu um passo em minha direção, depois outro. Eu me afastei dele
pela cama, com medo, até que senti minhas costas baterem no encosto.
— Levante-se, — ele rosnou.
Hesitei, depois obedeci. Eu estava diante do alfa, tremendo de medo.
Não ousei olhá-lo nos olhos, então encarei o chão, como se o carpete
fosse a coisa mais interessante do mundo.
— O que você estava fazendo com o meu beta? — ele finalmente
disse. Sua voz estava calma, mas ainda me deu calafrios.
— Não sei o que você quer dizer com isso, senhor. — respondi, ainda
incapaz de olhar para ele.
— Não se faça de boba, Aurora. — ele ferveu. — Você estava flertando
com ele.
Eu olhei para ele, confusa.
— Oi? Senhor, eu nunca...
Ele ergueu a mão para me silenciar.
— Pare de fingir. Eu sei o que você está fazendo. — Ele olhou para
mim.
— Você estava flertando com ele, não estava? Assim como faz com os
outros machos que andam pela mansão. Só que, dessa vez, você mirou
mais alto. Você pensou que ganhar a atenção de um beta me deixaria
com ciúme.
— Não, senhor. Você está enganado, eu...
— Deixe eu te dizer uma coisa, Aurora. — ele rosnou. — Eu sou
territorialista. E não gosto que outras pessoas toquem no que é meu.
Seus olhos azuis gelados estavam fervendo de raiva.
— Posso não ter te aceitado, mas também não te rejeitei. Você ainda é
minha parceira.
Ele se virou para sair.
— Eu não quero ver o beta, nem qualquer outro homem, tocar em
você, ou mesmo chegar perto de você, nunca mais. Entendido?
— Isso é injusto, alfa... — murmurei, sentindo as lágrimas rolarem
pelo meu rosto.
— Ah, é? — ele disse, Virando-se no meio do caminho para olhar para
mim com um sorriso malicioso.
— É! Você me diz que eu não posso ver ou falar com outros homens,
mas anda na minha frente com Tallulah. Você não me deixa ir embora,
mas faz da minha vida um inferno!
Lágrimas escorreram pelo meu rosto.
— Por que você me trata desse jeito?
Ele ficou lá, apenas olhando para mim sem responder.
— Bom, eu não vou te escutar desta vez! Vou fazer o que o beta
sugeriu e aceitar o amor de outra pessoa, alguém que esteja disposto a
me amar de volta!
Minha raiva assumiu o controle do medo.
— Então é isso? — Ele deu um passo em minha direção, tentando me
intimidar, mas eu mantive minha postura.
— Sim, — respondi, desafiando-o.
— Muito bem. Você me deixou sem escolha.
Com isso, ele me agarrou e me beijou vorazmente.
Fui pega de surpresa.
Lutei dentro do seu abraço, mas era inútil.
Desisti. Era como se meu corpo estivesse implorando por isso.
Ele parou de me beijar e respirei ofegante quando ele arrastou os
lábios pelo meu pescoço, mordiscando cada centímetro dele.
Ele agarrou minha camisa e a abriu, fazendo seus botões voarem.
Ele continuou beijando meu pescoço e desceu para a clavícula. Ao
mesmo tempo, com habilidade, abriu meu sutiã, expondo meus seios.
Estremeci quando ele colocou um na boca, brincando com o outro
com a mão.
Eu gemi, enterrando minhas mãos em seu cabelo sedoso. Ele me
beijou de novo, com mais insistência, depois me empurrou para trás, me
fazendo cair na cama.
Wolfgang puxou sua camisa pela cabeça, revelando o peitoral firme e
o abdômen marcado.
Ele rastejou sobre mim na cama, então colou sua boca na minha de
novo, mordendo e puxando meus lábios..
Senti sua língua tocar meu lábio, implorando uma permissão para
entrar na minha boca. Eu obedeci.
Sua língua explorou cada centímetro da minha boca, enquanto suas
mãos acariciavam meus mamilos duros.
Ele se levantou e se ajoelhou entre minhas pernas. Ele desabotoou o
botão lateral da minha saia e puxou-a, me deixando só de meia-calça, que
ele arrancou, junto com a minha calcinha.
Eu engasguei e tentei me cobrir, mas ele agarrou minhas mãos e as
segurou sobre minha cabeça, se inclinando para sussurrar no meu
ouvido.
— Não... — ele rosnou, rouco. Então ele me beijou mais uma vez.
Senti sua mão começar a explorar entre as minhas pernas e gemi na
boca dele, e ele gemeu também.
Wolfgang continuou me torturando e me penetrou com um dedo.
Quase engasguei com a pressão repentina que senti entre as minhas
pernas.
— Ah, minha Deusa..., — eu gemia enquanto ele me tocava
Segurei seus ombros largos, tentando ficar firme. Olhei em seus olhos
e vi que eles estavam um tom mais escuro.
Eles estavam semicerrados de desejo; sua deliciosa boca se abriu
enquanto ele respirava pesadamente.
Consegui libertar uma das minhas mãos do seu aperto e a estendi
para agarrar seu pau duro.
Ele ficou tenso enquanto eu massageava sua ereção, ainda sobre o
tecido da calça.
Nós dois estávamos ofegantes. Engasguei quando ele enfiou o
segundo dedo, acelerando os movimentos.
A pressão ficou mais intensa e, de repente, senti uma explosão dentro
de mim.
Arqueei minhas costas, agarrando as dele enquanto seus dedos
entravam e saiam de mim.
A sensação de euforia demorou um pouco para se dissipar.
Deitei na cama, tentando recuperar o fôlego. Então eu o ouvi
desafivelando o cinto e abrindo o zíper das calças.
— Não tô mais aguentando. — disse. Ele desenrolou um preservativo
sobre seu pau e se ajoelhou entre as minhas pernas.
Ele forçou sua ereção dentro de mim, me fazendo estremecer com
uma dor repentina. Agarrei seus ombros, fincando minhas unhas em sua
carne.
Ele estava imóvel entre as minhas pernas, olhando para mim.
— Vou começar a me mover agora.
Balancei a cabeça e me preparei para mais dor. Ele começou a se
movimentar devagar.
Senti primeiro uma dor aguda, mas a cada estocada a dor era
substituída por prazer.
Eu gemia mais alto, sentindo aquela pressão crescer dentro de mim
mais uma vez.
Wolfgang continuou se movimentando, beijando e mordendo meu
pescoço.
Eu não conseguia mais pensar direito. Eu estava em êxtase. Podia
sentir nossos corpos se fundindo.
Senti a explosão mais uma vez dentro de mim e gritei.
Então senti uma dor aguda no pescoço, bem onde Wolfgang estava
me beijando.
Nós dois ficamos ali, ofegantes, tentando recuperar o fôlego. A cabeça
de Wolfgang descansou em meu peito. Deitei na cama, olhando para o
teto.
Eu ainda podia sentir aquela sensação de ferroada na lateral do
pescoço. Toquei nele e senti algo molhado.
Levantei minha mão e vi sangue nos meus dedos.
Wolfgang saiu de cima de mim e se levantou da cama. Ele pegou as
calças e as colocou, em seguida, agarrou a camisa e os sapatos do chão.
Eu olhei para o sangue. A sensação de felicidade que senti momentos
atrás foi substituída por uma imensa tristeza quando percebi o que tinha
acontecido.
— Agora, se você tentar dormir com outro homem, ele saberá que
você me pertence quando virem essa marca. — disse Wolfgang, saindo do
meu quarto.
Enrolei o cobertor sobre meu corpo, então me levantei e entrei no
banheiro.
Inspecionei meu pescoço no espelho. Vi a cicatriz de lua crescente
que agora o adornava.
Eu era dele. Sua propriedade. Ele tinha me marcado.
Agora eu não seria nada mais do que um pedaço de carne.
E, para ele, eu seria algo para ele usar e largar, sempre que quisesse.
Capítulo 26
Aurora

Na manhã seguinte, Wolfgang e os anciãos conduziram uma reunião


com todos os membros da matilha.
— Estamos felizes em anunciar aos membros do bando que nosso
alfa, Wolfgang Fortier Gagliardi, finalmente escolheu uma parceira. —
disse um dos anciãos ao microfone.
Ele estava se dirigindo a toda a comunidade, que o ouvia com
atenção.
— Temos o prazer de apresentar sua futura Luna da matilha da Lua
de Sangue, Tallulah Wilhelm.
Todos gritaram e aplaudiram quando Tallulah subiu ao palco e ficou
ao lado de Wolfgang. Ela segurou a mão dele, arregalando os olhos.
Assisti a tudo por trás da multidão. Eu não queria estar lá, mas era
obrigatório.
Eu podia sentir meu coração partir mais um pouco mais a cada
segundo, enquanto eu observava o espetáculo acontecer.
Esse era o meu destino. Assistir meu parceiro construir sua vida com
outra pessoa.
Encarei Wolfgang e nossos olhos se encontraram por um breve
segundo antes de eu virar a cabeça.
Alguém tocou meu ombro: era o Max, o gama Bowman estava ao lado
dele.
Aspen também estava com eles. Os três tinham uma expressão
sombria.
— Você está bem, Rory? — Max perguntou. Eu dei a ele um pequeno
sorriso e acenei com a cabeça.
— A cerimônia de acasalamento será realizada em três semanas,
depois que o nosso alfa retornar do encontro dos líderes, — o ancião
anunciou. — Vamos dar ao novo casal uma grande salva de palmas!
Todos aplaudiram e gritaram.
— Ela tem mesmo que estar aqui? — Aspen perguntou a Remus.
Ele olhou para o palco e depois para mim. Ele me deu um breve
sorriso e balançou a cabeça.
— Você pode ir para o seu quarto, Aurora.
Baixei a cabeça e agradeci antes de sair correndo. Eu não aguentava
mais ficar ali.
Wolfgang

Fiquei lá na frente, diante do bando, enquanto os anciãos anunciavam


meu noivado com Tallulah.
Ela ficou me agarrando irritantemente. Não pude deixar de me sentir
culpado quando vi os olhos tristes de Aurora. Eles pareciam inchados.
Será que ela tinha passado a noite toda chorando, depois que eu saí
de seu quarto?
Eu deveria ter lutado mais contra os meus instintos. Eu não queria
machucá-la.
Não tinha a intenção de marcá-la.
Max e Remus se aproximaram dela. Um rosnado baixo escapou da
minha garganta quando vi Max colocar a mão em seu ombro.
Ela olhou para ele quando ele disse algo, então sorriu e acenou com a
cabeça.
Cerrei minha mandíbula.
— Há algo errado, baby? — Tallulah perguntou.
— Não, — eu disse, com os dentes cerrados.
— Você é um idiota de merda, sabia disso? — Cronnos resmungou na
minha cabeça.
— Wolfgang! Até que enfim! Eu estava me perguntando quando você
finalmente pediria a mão da minha filha em casamento. — disse o alfa
Colt Wilhelm, da matilha da Lua Azul.
Ele me deu um tapinha nas costas.
— Quando você vai para o encontro?
— Amanhã. Tenho outro assunto para resolver antes de ir a Ambler
para a reunião, — respondi.
Remus conseguiu descobrir que a mãe de Aurora viera de um vilarejo
a apenas alguns quilômetros de onde a reunião aconteceria.
Eu precisava ir até lá para ver se conseguia descobrir algo sobre ela.
Eu tinha que provar que a teoria do meu gama, sobre a Aurora ser
descendente da Deusa da Lua, estava errada.
— Sempre colocando o trabalho antes de tudo. Espero que você não
comece a colocar minha filha em segundo lugar também. — disse Alfa
Wilhelm, batendo nas minhas costas novamente.
— Para com isso papai, Wolfgang nunca faria isso, certo, baby? —
Tallulah perguntou, agarrando meu braço de novo.
— Mmm, — murmurei, mal a ouvindo.
Olhei para a multidão, em busca de cabelos castanhos e olhos
acinzentados, mas ela não estava à vista.
— Ela não está aqui, alfa. — disse Remus, que veio para o meu lado.
— Hum? Quem não está aqui? — perguntou Tallulah. Olhei para
Remus.
— A senhorita Craton. Percebi que o alfa Wolfgang estava olhando
para a multidão, imaginei que estivesse procurando por ela. Afinal, ela é
sua criada particular, — Remus respondeu com indiferença.
Ele tirou os óculos e os limpou, e pude ver que ele estava se
divertindo com aquilo.
Tanto meu beta quanto meu gama achavam que eu tinha me
apaixonado por Aurora, e que por isso a mantive por perto.
Se eles soubessem que ela era a minha parceira, nunca mais me
deixariam em paz.
— Ela não deveria estar aqui? A presença de todos era obrigatória.
Isso não exige punição? — Tallulah disse, colocando a mão na cintura.
— Ela parecia esgotada, então eu a deixei ir. Não há necessidade de
punição. — disse Remus, erguendo uma sobrancelha.
— Muito bem. Já que ela tinha sua permissão, — Tallulah disse,
parecendo irritada. Ela se voltou para a multidão que queria
cumprimentá-la.
— Para onde ela foi? — perguntei para o Remus.
— Eu a mandei para o quarto dela, senhor. Acho que ela precisa ficar
sozinha por um tempo. — disse Remus, olhando para mim.
Assim que consegui passar despercebido, saí do saguão principal,
subindo as escadas quatro degraus de cada vez até chegar ao quarto
andar.
Fui direto para a porta do quarto dela e bati. Ouvi barulho lá dentro.
Ela estava sozinha?
Bati novamente e a porta se abriu, revelando meu beta Max. Por um
momento, a raiva explodiu dentro de mim — pensei que ele estivesse
sozinho com Aurora.
Então vi Aspen sentada na cama com ela.
— E aí, cara? O que você está fazendo aqui? — Max me perguntou
casualmente.
— Como assim o que estou fazendo aqui? É minha casa, não é? —
rebati.
— Claro. Mas achei que você ainda estaria lá embaixo, comemorando
seu noivado com Tallulah. — Ele se apoiou no batente da porta.
— Preciso falar com a Senhorita Craton por um momento. — eu
disse, olhando nos olhos dela. Ela ficou visivelmente tensa.
— Hum, claro. Entre. — disse Max, dando um passo para o lado.
— Sozinho. — acrescentei.
Houve um silêncio constrangedor antes de Aspen limpar a garganta e
se levantar.
— Vou ver o que Remus está fazendo. Max, você pode me ajudar a
procurá-lo?
Ela segurou Max pelo braço e arrastou-o para fora da sala, fechando a
porta.
Aurora se levantou da cama, brincando com a barra da camisola, os
olhos fixos no chão.
— Auro...
— Parabéns pelo seu noivado, senhor. Desejo a vocês dois uma vida
inteira de felicidade. — ela disse, curvando a cabeça.
Fiquei surpreso por um momento.
— Obrigado.
Nós dois ficamos em silêncio novamente. Eu mantive meus olhos
nela.
Mesmo sendo um raro dia ensolarado, ela usava um suéter de gola
alta, certamente para esconder a marca que fiz nela.
— Você precisa de algo, senhor? — ela perguntou, quebrando o
silêncio entre nós.
Neste momento, houve uma batida na porta. Tallulah entrou.
— Ah, aqui está você, baby. Eu estava te procurando.
Ela olhou para Aurora.
— Hum, seu nome é Aurora, certo? A Senhora Kala disse que precisa
de você na cozinha, para ajudar a preparar o banquete para a nossa festa
de noivado esta noite.
Ela se agarrou ao meu braço novamente.
— Sim, senhora. Irei agora... — respondeu, se curvando.
— Parabéns novamente pelo seu noivado. — disse ela antes de sair do
quarto.
Droga.
Capítulo 27
Aurora

Duas semanas depois, Alfa Wolfgang partiu para o encontro do alfa.


Achei que ficaria livre de suas constantes ordens, mas sua noiva era
ainda pior.
Certa manhã, enquanto eu arrumava a cama, ela se aproximou de
mim.
— Aurora, certo? — ela perguntou, encostando-se no batente da
porta.
Por que ela sempre fica com esse jogo de fingir que não sabe meu nome?
— Sim, senhora. Você precisa de alguma coisa? — perguntei, sem
olhar para ela enquanto puxava o lençol sobre o colchão.
— Na verdade, sim. — disse ela. Ela cruzou os braços sobre o peito
avantajado. — Eu quero que você fique longe do meu parceiro.
— Hum, você quer dizer o alfa Wolfgang, senhora? — perguntei.
— Claro! De quem mais eu estaria falando, sua idiota? — Ela revirou
os olhos.
— Eu não entendo o que você quer dizer sobre ficar longe dele,
senhora. — eu disse. Ela estava falando como se eu estivesse me jogando
em Wolfgang, e não sendo mantida como refém por ele.
— Pode parar com o teatrinho, menina. Já entendi seu plano e sei o
que você está aprontando. — Ela se aproximou de mim e me cutucou no
peito. — Eu sei que você tá a fim dele.
O choque cruzou meu rosto, mas disfarcei.
— Eu não sei do que você está falando, Senhorita Wilhelm. Eu sou a
criada dele. Nada além disso.
Dei a ela um breve sorriso, então comecei a pegar os lençóis sujos e a
roupa suja.
Comecei a me encaminhar para a porta, mas ela me agarrou pelo
braço e me girou para encará-la.
— Olha aqui, sua vadia. Fica longe dele, ou então... — ela gritou.
Então me empurrou, jogou o cabelo para trás e saiu do quarto.
— Quem ela pensa que é? Vamos arrancar a cabeça dela com uma
mordida! — Rhea gritou na minha cabeça.
Suspirei.
Ótimo. Agora eu tinha que lidar com Tallulah também, tudo graças a
Wolfgang e sua recusa em me deixar ir embora da aldeia.
Naquela noite, na hora do jantar, fui surpreendida por um convite da
própria futura Luna. Ela me pediu para que eu me juntasse a ela, ao gama
e aos anciãos no grande salão de jantar.
Eu gostaria de me desculpar por minha explosão esta manhã. Eu passei
um pouco do ponto do ciúme. Entendo que você é a criada do alfa, e nada
mais do que isso.
Por favor, junte-se a nós para jantar no grande salão às sete em ponto.
Atenciosamente,
Luna Tallulah Wilhelm.
Eu não queria ir, mas a Senhora Kala disse que ficaria mal se eu
recusasse um convite da futura Luna.
Então, naquela noite, sentei-me no grande salão de jantar com
Tallulah, Remus, Aspen e os anciãos, me sentindo completamente
deslocada.
— Então, senhorita... — um dos anciãos me disse.
— Aurora, senhor, — respondi, dando a ele um sorriso fraco.
— Aurora. Quantos anos você tem, criança? ele perguntou.
— Recentemente fiz dezoito anos, senhor. — respondi. Eu odiava ser
o centro das atenções.
— Você já encontrou seu parceiro? — Tallulah perguntou.
— Não, senhora. Ainda não. — menti.
Não pude contar a verdade nem para os anciãos. Wolfgang havia me
avisado sobre o que aconteceria se eu falasse que éramos parceiros.
— Haverá tempo para isso. Qual é a sua função aqui na matilha? Você
é uma guerreira? Uma buscadora? — perguntou o ancião Leto.
— Hum, não senhor, — eu disse.
— Ela é uma criada aqui na casa da matilha, ancião Leto. — Tallulah
explicou.
— Uma criada? Por que ela está jantando conosco esta noite? — o
ancião Aldo exclamou.
— Eu a convidei, senhor. Como prova do meu apreço por todo o seu
trabalho árduo. — Tallulah me deu um sorriso que não alcançou seus
olhos.
— Se me permite dizer, senhor. — o gama Bowman interveio. — A
senhorita Craton não é uma simples criada. Ela é a criada particular do
alfa.
— Criada particular do alfa? Agora que você mencionou, acho que já a
vi por aí. Mas espere. Você disse 'Craton'? Como o último gama, Rodrick
Craton? — perguntou o ancião Radolf.
— Sim, — Remus respondeu.
— Que honra conhecer a filha do falecido gama Craton! — disse o
ancião Radolf.
Todos eles começaram a falar sobre meu pai e o falecido alfa. Olhei
furtivamente para Tallulah e vi que ela estava furiosa.
Depois do jantar, eu estava ajudando a Senhora Kala a limpar a mesa
e lavar a louça quando, de repente, comecei a me sentir mal.
— Você imaginaria que a Luna seria pelo menos diligente na cozinha
ao usá-la. Ela sujou tudo aqui. — disse a velha senhora.
Ela olhou para mim.
— Você está bem, minha filha?
— Hum? Sim, estou bem, — assegurei a ela.
— Tem certeza, querida? Você está um pouco pálida. Deixa que eu
termino aqui. Vai para a cama.
— Estou bem, Senhora Kala. Ainda há muitos pratos para limpar e
sobras para descartar.
Mas ela não permitiu.
— Não, não, não! Vá. Eu termino aqui. Descanse um pouco.
— Tudo bem. Boa noite, Senhora Kala, — eu disse a ela e fui para o
meu quarto.
— Graças a Deusa, a Senhora Kala nos deixou sair mais cedo, hein, Rhea?
Que tal corrermos um pouco antes de dormir? — perguntei à minha loba.
— Hum, não me sinto muito bem. Talvez amanhã.
Ela parecia fraca.
— Você está bem? — perguntei.
— Não sei. Estou me sentindo mal desde o jantar.
— Eu também. Talvez a gente esteja apenas cansada. Vamos descansar
esta noite e amanhã a gente vê como vai ser, ok? eu disse.
Uma boa ideia Rhea respondeu. Com um sorriso fraco, ela se deitou,
se enrolando como uma bola.
Alguns dias depois do jantar, eu ainda não estava me sentindo bem e
Tallullah estava sendo mais exigente do que nunca.
Era como se algo estivesse drenando minhas forças.
Minha loba esteve ausente recentemente também. Tentei entrar em
contato com ela, mas ela não estava à vista.
Imaginei que o anúncio do noivado de Wolfgang e Tallulah também
tivesse afetado a Rhea. Ela não parecia animada na noite do jantar.
— Sabe, você não tem que aturar isso. Você é a criada do alfa. Não
dela. — disse Aspen.
Ela estava me ajudando com os pratos que eu tinha acabado de trazer
do quarto de Wolfgang e Tallulah.
— Está tudo bem. Eu não ligo. — eu disse. E eu também não iria ficar
aqui por muito mais tempo, de qualquer maneira.
Decidi escapar da aldeia esta noite. Eu correria para o norte e iria para
a aldeia em que minha mãe cresceu.
Algo me dizia que eu devia ir para lá.
— Mas ela não te dá um minuto para descansar. Ela dá ordens o dia
todo, para um trabalho que nem mesmo o alfa pediria para você fazer.
Ela estava certa. Wolfgang tinha apenas ordenado que eu pegasse suas
refeições e sua roupa lavada, e que arrumasse sua cama pela manhã.
Tallulah, por outro lado, me fez polir todos os talheres, limpar os
banheiros e aspirar todos os tapetes da casa. E esse foi só o começo.
— Por que você é tão legal? — Aspen perguntou, sentando em um
banquinho enquanto eu lavava os pratos.
— Hum, não sei? — Eu ri enquanto colocava os pratos no escorredor
de pratos e enxugava o suor da minha testa.
Tenho me sentido extremamente quente ultimamente e suado muito.
Eu esperava que Aspen não percebesse.
— Bom, acho que você devia dar um basta nisso! As pessoas se
aproveitam porque você é boa demais para dizer não. — Ela bateu com a
mão na bancada.
— Ah, vamos lá. Você está exagerando, — eu disse, mergulhando
minhas mãos na espuma.
— Aurora! O banheiro está entupido de novo! Eu preciso que você
resolva isso! — A voz de Tallulah ecoou pelo interfone da cozinha.
Sequei minhas mãos rapidamente em uma toalha antes de responder:
— Estou a caminho, senhora.
— Desisto! — Aspen jogou as mãos para o alto, levantou-se e saiu da
cozinha. — Vejo você mais tarde. Vou ver o que Remus está fazendo
Ela suspirou.
— Ele tem estado muito ocupado desde que o alfa e o beta foram para
o encontro. Quase nunca temos tempo um para o outro.
— Ok. Tchau, — eu disse.
Terminei de lavar a louça e fui para o banheiro. Lá, ouvi alguém bater
na porta.
— Senhorita Aurora Craton? — alguém chamou.
— Sim? — Eu me levantei e tirei minhas luvas.
— Você está sendo convocada ao gabinete dos anciãos para responder
a uma acusação de roubo.
Reconheci a voz de um dos guardas da casa.
— O quê? — perguntei, confusa.
— Por favor, me siga, senhorita, — ele disse.
Obedeci, sem entender nada. Descemos para o segundo andar e
entramos no escritório dos anciãos, onde os três anciãos, Remus e
Tallulah estavam.
— Sente-se, por favor. — disse um dos anciãos.
Fiz o que me foi dito, mas não pude deixar de me sentir ansiosa. O
que estava acontecendo?
— Você reconhece essa prataria, Senhorita Craton? — perguntou o
ancião Aldo, mostrando-me algumas colheres, uma faca e um garfo.
— Sim, fazem parte dos talheres da casa, senhores, — respondi.
— Recentemente, você recebeu a tarefa de poli-los, não foi? — ele
perguntou.
— Sim, senhor.
— E você se importa em explicar por que os encontramos escondidos
em seu armário? — ele perguntou.
Fiquei chocada.
— O quê?!
— As criadas perceberam que faltavam alguns talheres e fomos
informados de que a última pessoa a tocá-los foi você.
Seus olhos se estreitaram.
— Quando inspecionamos seu quarto, os encontramos escondidos
em seu armário, junto com uma sacola cheia de roupas. Você estava
planejando viajar em breve? — o ancião Leto perguntou.
— Sinto muito, senhor, mas deve estar havendo algum engano...
— Você já não tem um registro de roubo? — o ancião Aldo me
interrompeu.
— Isso já foi investigado, senhor. O assunto foi esclarecido por mim e
pelo Alfa. — rebateu o gama Remus.
— Mas ela não foi deixada com uma advertência, Remus? —
perguntou Tallulah.
— ... Sim, ela era... — Remus disse, olhando para ela. — Mas tenho
certeza de que deve haver alguma explicação. A senhorita Craton tem
trabalhado aqui nos últimos oito meses e, até agora, não tivemos
nenhuma reclamação.
— Esta é a segunda vez que ela está sendo acusada de roubo, gama
Bowman. — Tallulah disse, cruzando os braços. — Quem sabe quantas
vezes ela já não fez isso?
— Estou de acordo. Sinto muito, Senhorita Craton, mas nós a
declaramos culpada desta acusação. Você será punida severamente. —
disse o ancião Leto.
— O quê? Não! — Eu me levantei, mas fui agarrada pelo braço pelo
guarda que havia me escoltado.
— Roubo não é tolerado neste bando, Senhorita Craton. Você será
açoitada trinta vezes e, em seguida, colocado em um porão na masmorra
por um mês. Leve-a embora!
O guarda me arrastou para fora do escritório.
Olhei ao redor das pessoas na sala, implorando que me permitissem
explicar. Meus olhos pousaram em Tallulah, que tinha um sorriso
sinistro no rosto.
Ela fez isso comigo. Ela me disse que faria qualquer coisa para me
tirar do caminho, e ela fez isso.
— Não, espere! Eu não fiz nada! — Tentei lutar, mas estava fraca
demais para resistir ao guarda.
Passei por várias outras criadas, todas cochichando e fofocando sobre
o que havia acontecido.
— Rory? Rory! O que está acontecendo aqui? — Ouvi a voz de Aspen
enquanto ela tentava correr atrás de nós, mas o gama Remus a segurou.
— Por que eles estão levando Aurora? Faça alguma coisa! — ela disse a
Remus, mas ele abaixou a cabeça e não disse nada.
Claro que ele não faria nada. Eu não era nada para eles.
Apenas uma garota simples que o alfa forçou a trabalhar como criada.
Fui arrastada para as masmorras, onde fui forçado a ficar de joelhos.
Minhas mãos estavam presas a uma parede por correntes de prata.
O guarda que me trouxe para baixo rasgou a parte de trás da minha
camisa, expondo a pele.
Os três anciãos e Tallulah apareceram.
— Comece a punição. Trinta chicotadas. — disse o ancião Leto.
— Por favor... eu não roubei nada! — implorei.
Então eu gritei com uma ferroada repentina nas minhas costas.
— Um, — contou o ancião Leto.
Comecei a soluçar com a dor latejante nas minhas costas. Por que eles
estavam fazendo isso comigo?
Outra chibatada me atingiu.
— Dois, — contou o ancião Radolf.
Provavelmente, meus gritos puderam ser ouvidos no quarto andar,
mas ninguém veio me buscar. Ninguém se importou com o que estava
acontecendo comigo.
Outra chicotada queimou minhas costas.
— Três.
Isso durou o que pareceu uma hora, antes que as chicotadas
finalmente acabassem.
Em algum momento, perdi todas as forças. Caí mole contra a parede,
minha visão embaçada pelas lágrimas.
— Leve-a para uma das masmorras e tranque-a lá. Ela vai ficar lá por
um mês. — disse um dos anciãos.
Senti minhas mãos sendo liberadas, então alguém me puxou pelo
braço, forçando-me a ficar de pé.
Minha blusa estava solta ao meu redor. Eu a agarrei com força para
que todos não me vissem nua.
O guarda me empurrou para o porão, jogou um cobertor fino sobre
mim e trancou a porta.
Tentei me sentar e olhei em volta.
Era um quarto com paredes de pedra, com uma pequena cama para
dormir em um canto e um banheiro no outro.
Não havia janelas. Nenhum raio de luz entrava no local. Apenas uma
lâmpada fraca iluminava um pouco o corredor.
O lugar cheirava à morte.
Deitei na cama, esperando que meus poderes de lobo fossem ativadas
e curassem os machucados nas minhas costas.
Eu não conseguia parar de chorar.
Por que eu tive que passar por tudo isso?
Deusa da Lua, que pecado eu cometi no passado que devo pagar tão
duramente?
Capítulo 28
Wolfgang

Max e eu estávamos no vilarejo da Montanha Branca no encontro dos


alfas.
Meu objetivo principal era ganhar aliados para conseguir vencer os
renegados, mas Remus tinha descoberto que não muito longe dali ficava
o vilarejo de onde a mãe da Aurora tinha vindo.
Saí alguns dias antes de Max para poder passar lá primeiro. Assim que
cheguei, eu me encontrei com um dos anciãos daquela matilha.
Ele disse que se lembrava dela. Ela tinha sido uma loba singular sob
vários aspectos.
Ela apareceu lá quando tinha apenas três anos de idade, era uma
estranha para o bando. Com ela estava sua guardiã, uma bruxa.
A mulher disse que elas estavam fugindo de caçadores.
Os pais da menina tinham morrido e, antes, a confiaram a esta
mulher, cujo nome era Eleanora. Eleanora explicou que ela era a bruxa da
matilha, e que eles vieram das cidades do oeste. Antes de serem atacados
e forçados a partir.
Quando a matilha do alfa perguntou sobre o nome do seu bando, ela
disse que era a matilha da Lua Prateada.
— Mas não podia ser. — ele me disse. — Era impossível.
Esse bando tinha desaparecido anos atrás.
Eleanora manteve a matilha escondida, a fim de manter sua espécie
segura.
— Sua espécie? O que ela quis dizer com isso? Lobisomens? —
perguntei.
— Ela não especificou. — respondeu ele. — Mas tive a sensação de
que ela não estava falando apenas sobre a nossa espécie. Acho que era
sobre algo muito maior e mais especial.
— Eu preciso saber mais. — eu disse.
Max e eu estávamos a caminho do hotel após o último dia do
encontro com os alfas.
— Correu tudo bem, não foi? — comentou Max quando estávamos
indo para os nossos quartos.
— Hum, — murmurei, sem realmente ouvir.
Na verdade, sim, tinha dado tudo certo. Ganhamos novos aliados para
a próxima batalha contra os renegados.
Mas já fazia horas que eu estava sentindo uma coceira incômoda nas
costas. Um sentimento persistente do qual eu não conseguia me livrar.
— Algo não está certo. Eu posso sentir isso... — Cronnos disse na minha
cabeça.
Ele estava me deixando nervoso.
— Cala a boca, saco de pulga, — eu estava irritado com essa coceira,
que senti a noite toda. Eu não precisava dele também me perturbando.
Quando entramos no quarto, fui direto para o closet e joguei lá
minha jaqueta e minha camisa.
— Ei, Wolfie! Há cerca de vinte chamadas perdidas e um monte de
mensagens de texto de Remus no meu telefone, — Max gritou.
Ele riu.
— Parece que ele chegou no seu limite como alfa.
Achei estranho Remus nos ligar, sendo que ele foi deixado no
comando do bando. Devia ser algo urgente.
Peguei uma camisa limpa e caminhei até a sala, onde Max estava
lendo as mensagens em seu telefone.
— O que ele quer? — perguntei ao meu beta. Ele tinha uma expressão
sombria no rosto, alertando-me de que algo estava muito errado em casa.
— É Rory... — ele respondeu.
Um calafrio percorreu minha espinha. O olhar de Max ainda estava
fixo em seu telefone.
— Ela foi acusada de roubo e enviada para as masmorras.
— O quê?! Por quem?! — gritei.
— Por sua parceira, Tallulah Wilhelm, — Max disse, a raiva ardendo
nos olhos dele.
— Remus disse que tentou defendê-la, mas não pôde fazer nada por
causa da advertência que ela já tinha recebido, o incidente com o
uniforme. — Ele olhou para mim. — Por sua causa! Se você não ama
aquela garota, por que não pode simplesmente deixá-la em paz? Ela é
jovem e, em breve, provavelmente encontrará o parceiro dela. O que você
vai fazer quando essa hora chegar?
Eu me virei e dei um soco na parede.
Por que eu coloquei essa merda de advertência no registro dela?
— Wolfgang! O que... o que são essas marcas nas suas costas? — Max
perguntou.
Eu me virei para encará-lo.
— Do que você está falando?
Mas, ainda enquanto falava, instintivamente levantei minha mão e
cocei o local que ele mencionou.
— Você tem marcas vermelhas nas costas inteiras. — disse Max.
— O quê? — Tentei olhar por cima do ombro. Mas não consegui ver
direito.
— Não importa, — eu disse. — Deve ser uma reação alérgica ou algo
assim. Ligue para Remus. Faça-os soltar Aurora imediatamente.
Vesti uma camisa, irritado com Max olhando para as marcas nas
minhas costas.
— Ele já tentou, senhor, mas eles não a deixarão sair até que o próprio
alfa assine sua liberação. Temos que sair imediatamente! Vamos levar
pelo menos cinco dias para voltar à aldeia, — Max chorou.
— Desça e faça nosso checkout. Vou pegar nossas coisas e te encontro
no saguão em quinze minutos, — eu disse.
Max já estava com meio corpo para fora da porta quando terminei de
falar.
Liguei para o número de Remus. Ele respondeu quase imediatamente.
— Remus, o que diabos aconteceu? rosnei no telefone. Enquanto
falava, comecei a pegar as roupas e jogá-las na minha mala.
— Wilhelm acusou Aurora de roubar alguns talheres. Eu te avisei
sobre essa advertência, Wolfgang! Você deveria ter a removido há muito
tempo...
— QUAL foi o veredicto, Bowman! — eu o cortei.
Ele ficou em silêncio.
— Remus!
— Trinta chicotadas nas costas e masmorra por um mês, senhor, —
respondeu Bowman.
Parei de fazer as malas e fiquei totalmente paralisado.
— Porra!
Joguei o telefone na parede do outro lado da sala, observando
enquanto ele se despedaçava.
Enfiei as roupas que sobraram na mala e fechei-a, depois corri para o
saguão.
Lá eu encontrei Max na recepção, fazendo nosso checkout.
Enfiei a bagagem na mão do mensageiro.
— Mande-os para a casa do alfa na vila da Montanha Branca, —
ordenei ao homem de terno vermelho.
— Sim, senhor! — disse ele em pânico.
— O que você... — Max perguntou.
— Nós iremos mais rápido em nossas formas de lobo. Vamos! — eu
disse, saindo do hotel.
Corremos para a floresta e nos transformamos em nossos lobos.
Então corremos o mais rápido que pudemos.
Não tínhamos tempo a perder. Aurora precisava de mim.
— Eu não consigo sentir o lobo de Aurora, garoto. Tem algo errado! —
Cronnos gritou, me deixando mais nervoso.

Demoramos dois dias e meio para chegar à nossa aldeia. A gente se


transformou na fronteira e vestimos algumas roupas que geralmente
deixamos num buraco de uma árvore.
Corremos descalços o resto do caminho até a casa da matilha.
— Vá direto para as masmorras e tire Aurora de lá! — pedi ao Max.
Ele nem hesitou e disparou em direção à escada que levava às
masmorras.
Eu voei pela escadaria e invadi o escritório dos anciãos. Os três
pareceram surpresos ao me ver ali, ofegante.
— Al-alfa Wolfgang! Não esperávamos você de volta tão cedo... — o
ancião Radolf gaguejou, mas eu o interrompi.
— Liberem Aurora Craton imediatamente!
Eles me olharam em choque.
— Senhor, encontramos evidências de que ela estava roubando da
casa, ela.... — disse o ancião Leto.
— Eu não dou a mínima para a acusação que vocês estão fazendo!
Vocês ao menos conduziram uma investigação adequada? — perguntei.
— Não, senhor... Mas...
— Liberte-a das masmorras imediatamente! — rosnei.
Eles se entreolharam por um momento, então o ancião Leto pegou o
telefone.
— Solte a prisioneira Craton até que novas investigações sejam feitas.
— disse ele.
Suas sobrancelhas se juntaram.
— O quê? Por quem?! — ele perguntou, parecendo confuso e
preocupado.
— Está bem. — disse ele antes de desligar.
— Ela já foi retirada pelo beta Barone e levada para o hospital. Parece
que ela está com uma febre alta. — disse o idoso.
Não esperei que dissessem mais nada e saí do escritório.
Momentos depois, eu estava no primeiro andar, quase fora da porta,
quando uma voz irritante me chamou.
— Baby?
Eu me virei e vi Tallulah.
— Eu não sabia que você estava de volta, amor. Quando você chegou?
— ela perguntou.
— Acabei de voltar, — respondi, irritado.
— E você não estava pensando em me contar? — ela fez beicinho.
— Eu estava com pressa — respondi, cada vez mais exasperado.
— Dá para ver. — Ela me olhou da cabeça aos pés, provavelmente se
perguntando por que eu estava descalço e sem camisa.
Ela se aproximou de mim e colocou a mão no meu peito.
— Para onde você está indo agora? Você não vai trocar de roupa?
Relaxe um pouco, amor, — ela ronronou em meu ouvido.
O que só me irritou mais.
— Talvez eu possa te ajudar a... relaxar..., — ela disse, sedutora. Sua
mão deslizou pelo meu peito, mas eu a brequei antes que ela pudesse ir
mais longe.
— Não, Tallulah. Eu preciso sair agora, mas quando eu voltar, nós
precisamos conversar.
— Conversar sobre o quê...? — ela começou a perguntar, mas foi
interrompida quando um dos anciãos entrou na sala.
— Alfa Wolfgang, pensei que você estivesse indo para o hospital,
senhor. — disse o ancião Aldo.
— Hospital? Por quê? — Tallulah perguntou.
— Quero ver um vídeo do local e as evidências quando eu voltar.
Entendido? — falei para o ancião Aldo, ignorando a pergunta de Tallulah.
— Sim, senhor. — O idoso fez uma reverência e saiu para a sala dos
guardas.
Eu estava prestes a abrir a porta da frente novamente quando a voz
insuportável de Tallulah me parou mais uma vez.
— O que está acontecendo? Por que você está indo para o hospital e
por que precisa de filmagens e evidências? — Tallulah perguntou,
nervosa.
Revirei os olhos e me virei para encará-la.
— Estou indo ver Aurora, — eu disse com um grunhido.
— No hospital?! Ela não estava presa nas masmorras por roubar a casa
da matilha? — Tallulah questionou.
— Eu ordenei sua libertação até que possamos encontrar mais
evidências de que ela realmente cometeu o roubo, — eu disse.
— Evidência? De qual evidência você precisa? Encontramos os objetos
roubados no quarto dela! Essa menina é uma ladra! — Tallulah gritou,
jogando as mãos para o alto.
— Eu decido se ela é uma ladra ou não! Posso ter nomeado você
minha parceira, mas eu sou o alfa aqui! — eu disse.
Saí antes de perder a pouca paciência que me restava e fazer algo de
que pudesse me arrepender.
Aurora precisava de mim agora.
Capítulo 29
Wolfgang

Corri para o hospital o mais rápido que pude e, lá, marchei para a sala de
emergência.
Encontrei Remus e Aspen sentados na sala.
— Onde ela está? — perguntei.
— Ela está bem, alfa. Eles deram a ela algo para a febre e estão
tratando as feridas em suas costas, — respondeu Aspen.
— Tratando as feridas? Elas já não deveriam estar cicatrizadas? —
Nossos poderes de lobo deveriam ter curado aquelas feridas no mesmo
dia em que foram feitas.
— Estavam todas intactas e, na verdade, infectadas. É por isso que ela
estava com essa febre tão alta. — disse Remus.
Meu estômago começou a se agitar.
Como isso foi possível? Por quê suas feridas ainda estavam abertas,
depois de quase uma semana?
— O beta Barone encontrou Aurora semiconsciente e alucinando, —
acrescentou Aspen.
Eu estava ficando ainda mais ansioso.
— Eu ainda não consigo senti-la. Eu não consigo sentir sua loba, —
Cronnos disse, atormentado.
— O médico disse alguma coisa sobre ela não ter se curado? —
perguntei, tentando manter uma expressão fria. Mas, no fundo, eu queria
gritar.
— Não senhor. Eles fizeram exames de sangue e alguns outros
exames. Estamos aguardando os resultados. Mas agora ela está estável. —
disse Remus.
— O beta Barone está no quarto, esperando a Aurora acordar. — ele
completou.
Deveria ser eu lá com ela. Segurando suas mãos, esperando que ela
acordasse.
— Você gostaria de vê-la? — Aspen perguntou, como se soubesse o
que estava em minha mente.
— Sim! — Cronnos gritou na minha mente.
— Não, vou ver se eles examinaram o vídeo. Mas me avise se houver
alguma novidade. — eu disse.
Cronnos rosnou.
— Remus, venha comigo. — continuei.
Remus se levantou e beijou sua parceira na testa.
— Qualquer novidade, me avisa.
— Com certeza. — A ruiva sorriu de volta.
Eu não pude deixar de sentir inveja do meu gama e da sua parceira.
Por que eu não podia ser assim com a Aurora?
— Porque você é o maior idiota do planeta, só por isso! — gritou meu
lobo na minha cabeça.
— Remus, vamos embora. Precisamos investigar essa acusação.
Poucos minutos depois, estávamos de volta à casa da matilha.
Eu tinha que chegar ao fundo dessa acusação. Eu sabia que Aurora
não era uma ladra.
Mas quem a teria incriminado?
E por que suas feridas ainda estavam abertas? Elas deveriam ter se
curado há muito tempo. O que havia de errado com seus poderes de
lobo?
Eu precisava encontrar essas respostas para poder voltar ao hospital e
ficar ao lado dela.
— Você quer ficar ao lado da Aurora? Então, vamos! — Cronnos gritou
na minha cabeça, abanando o rabo, esperançoso.
— Ainda não. Primeiro, preciso descobrir quem a incriminou. Depois,
preciso falar com Tallulah. Eu não posso mais manter essa farsa com ela. Não
é certo para nenhuma delas.
— Até que enfim você recobrou o juízo. Tudo bem, vamos farejar quem
aprontou para a nossa parceira e voltar correndo para ela. — Cronnos
concordou.
Aguente mais um pouco, Aurora, implorei.
Aurora

Acordei em uma cama confortável. A última coisa que consegui lembrar


foi de congelar quase até a morte em um chão frio, tentando me cobrir
com um pequeno pedaço de cobertor surrado.
Rhea não estava à vista. Era como se ela tivesse desaparecido.
Depois da surra, passei cinco dias trancada na masmorra. Eles me
deram uma camisa velha para vestir e um cobertor rasgado para eu me
cobrir.
Minhas feridas não cicatrizavam e meu corpo estava cada vez mais
fraco.
Ficava alternando entre a consciência e a inconsciência. Meu corpo
estava extremamente quente, mas, por dentro eu estava congelando.
A última coisa que me lembrei foi Max abrindo a porta da masmorra e
me levantando.
— Olá, como você está se sentindo? — ele perguntou quando viu que
meus olhos estavam abertos.
— Estou bem..., — respondi. Minhas costas ainda doíam, mas não
estava tão ruim quanto antes, e eu não sentia mais os arrepios.
— Como você...? — comecei a perguntar, mas a porta se abriu e uma
pequena ruiva correu na minha direção e se atirou em mim.
Eu escondi um estremecimento.
— Aspen! — Max a repreendeu, arrancando-a de mim.
— Ops! Me desculpe por isso. — Ela sorriu, sem graça.
— Está tudo bem, — eu ri. — Quando você voltou, Max? — perguntei,
lembrando que ele tinha viajado com o alfa.
— Acabamos de voltar esta manhã. O gama Bowman nos ligou
contando o que havia acontecido. O alfa Wolfgang e eu corremos para cá
o mais rápido que conseguimos. — disse Max.
Borboletas explodiram no meu estômago.
— O alfa veio também? — perguntei para eles.
— Como você acha que conseguiu sair de lá? — Aspen disse,
parecendo zangada.
— Depois que Remus nos contou o que estava acontecendo,
corremos todo o caminho de volta em nossas formas de lobo. — Max
disse.
— Ele e Remus estão examinando o vídeo neste minuto, para ver se
conseguem encontrar alguma evidência de que você não roubou nada. —
acrescentou.
— Mas e se eles não conseguirem encontrar nenhuma evidência?! Eu
não roubei nada! — Comecei a entrar em pânico, com medo de acabar
naquela masmorra novamente.
— Está tudo bem, Rory. O alfa Wolfgang sabe que você é inocente. Ele
não permitirá que eles te levem de volta ao porão até que tudo seja
esclarecido. — disse Aspen.
— Ele acredita em mim? — perguntei, descrente.
— Sim. — Ela deu um tapinha no meu ombro.
Eu olhei para minhas mãos, girando os lençóis em meus dedos. O
calor ardeu em minhas bochechas.
Wolfgang realmente se importava comigo. Ele correu todo o caminho
de volta aqui só para fazer eles me soltarem.
Aspen, Max e eu conversamos por alguns minutos. Então o telefone
de Max tocou.
— Olá? Sim, ela está acordada. Ok. Estou a caminho. — Ele desligou.
— Desculpe, Rors. Aspen e eu precisamos voltar para casa. Wolfgang
precisa que ela testemunhe e eu preciso estar lá como testemunha. Você
ficará bem sozinha um pouco? — ele perguntou.
— Sim — bocejei, ainda me sentindo fraca. — Vou tirar uma soneca.
— Eu já podia sentir meus olhos ficando pesados.
Aspen me beijou na testa.
— Descanse um pouco, minha querida. — disse ela, já saindo.
— Estaremos de volta em breve, Rors, — Max acenou para mim e
também saiu.
Eu me deitei e apaguei imediatamente.
Capítulo 30
Aurora

Acordei e vi Tallulah perto do pé da minha cama.


— Você finalmente acordou. — ela disse.
Eu olhei em volta. Eu estava em um quarto branco e limpo. Devia ser
o hospital.
A última coisa que eu conseguia lembrar era de Max correndo até
mim enquanto eu desmaiava.
Tallulah me acusou de roubar os talheres e eu recebi trinta
chibatadas.
Por ser uma loba, eu deveria ter me recuperado rapidamente das
chicotadas, mas algo estava errado.
Então Max me trouxe aqui e saiu com Aspen para se encontrar com o
alfa e o gama.
— Por que você está aqui, Tallulah? Duvido que seja para saber se
estou me recuperando adequadamente. — eu disse.
Eu ainda me sentia fraca. Por que eu estava me curando tão
lentamente?
Eu também não conseguia falar com a minha loba também.
— Eu vou avisá-la uma última vez. — ela cuspiu venenosamente. —
Deixe o bando. Não incomode mais o alfa Wolfgang. Não está claro que
ele me ama, e não a você?
Meu peito doeu. Ela estava certa. Ele a amava, não a mim.
Mesmo que eu fosse sua parceira por direito, ele me ignorou e
proclamou Tallulah como sua Luna. Ele ainda ameaçou me marcar como
uma renegada se eu contasse a alguém que eu era sua parceira.
— Eu não estou nem aí para ele. Por mim, ele é todo seu. — eu disse,
baixando os olhos.
Não conseguia suportar olhar para aquela garota. De repente,
ouvimos uma verdadeira comoção do lado de fora. Algo me disse para
tomar cuidado.
Saí da cama e tentei mais uma vez entrar em contato com a minha
loba, mas não consegui.
A porta se abriu, revelando um grupo de renegados.
Tallulah e eu nos preparamos para nos defender.
— Aí está você. — disse o maior deles com um sorriso sinistro.
Do lado de fora da porta, pude ver as enfermeiras encolhidas em um
canto. Guardas e guerreiros da nossa matilha estavam inconscientes no
chão.
Eu torcia para que eles estivessem inconscientes, e não mortos.
— O que você quer? — gritei, fervendo de raiva.
— Estamos aqui para levar a Luna como refém. — disse o homem
com indiferença. — Agora, venha conosco sem arrumar confusão e
nenhum dano será causado.
Ele deu um passo à frente para agarrar Tallulah. Ela recuou com
medo.
— Por que eu faria isso? — ela perguntou, o medo estampado em seu
rosto.
— Porque você é a Luna, minha querida. E, como tal, você irá se
sacrificar, pelo bem-estar do seu bando. — ele disse, mais uma vez com
seu sorriso assustador. Eu vi Tallulah se afastar, tremendo. Onde estava
sua bravura agora?
O renegado estava certo. A Luna deve colocar sua matilha em
primeiro lugar.
Eu dei um passo e fiquei na frente de Tallulah.
— Não é dela que você está atrás. É de mim, — eu disse, tentando
reunir toda a minha coragem.
O líder dos renegados começou a rir como se eu tivesse contado uma
ótima piada.
— O que você está fazendo, Aurora? Você vai nos matar! — Tallulah
sussurrou atrás de mim.
— Você? Por que iríamos querer levar você? — ele disse entre risos. —
Você é inútil para nós.
É
— É aí que você se engana. Eu sou a verdadeira parceira de alfa
Wolfgang, e a Luna legítima deste bando.
— E por que acreditaríamos nisso? — o velhaco perguntou, ainda não
convencido.
Puxei a gola da minha camisa para baixo, revelando a marca que
Wolfgang me deixou na noite em que estivemos juntos.
— Isso é prova suficiente? — perguntei.
Os bandidos ficaram lá, chocados. Ouvi Tallulah engasgar atrás de
mim.
— Essas são as marcas das presas do Wolfgang. Quando...? — ela
começou.
— Não importa, — eu disse. — Você estava certa. Mesmo que eu seja a
parceira dele, ele escolheu você.
Eu dei a ela um sorriso fraco, então voltei minha atenção para os
renegados.
— Se eu concordar em ir, você me garante que não irá prejudicar a
matilha? — perguntei, encarando o líder dos renegados.
— Bom, tem menos graça sem você lutar, mas farei o que prometi.
Não vou prejudicar ninguém desde que venha conosco. — disse ele.
Ele voltou sua atenção para Tallulah.
— E você dará ao alfa esta mensagem: capturamos sua Luna. Faça o
que estamos ordenando e ela retoenará ilesa a você. Se você nos
desobedecer, ela será apenas a primeira de muitas mortes.
— Pegue a garota. Vamos embora, — ele ordenou a um de seus
homens. O capanga se aproximou de mim e agarrou meu braço com
força. Eu chorei de dor.
Eu me virei para Tallulah e dei a ela um sorriso fraco.
— Vai ficar tudo bem, — eu disse, tentando tranquilizá-la. Mas,
principalmente, eu estava tentando me convencer de que tudo ia ficar
bem.
Tentei novamente entrar em contato com a minha loba, mas ela
ainda não estava à vista.
Saí da sala com os renegados, sem saber o que me esperava.
Deusa da Lua. Me dê força.
Capítulo 31
Wolfgang

Assim que voltei para a mansão, encontrei o ancião Leto.


— O pessoal da segurança terminou de examinar o vídeo? —
perguntei a ele.
— Não, senhor. Mas temos outro problema. Acabou de chegar um
relatório; há registros de movimento de renegados para os nossos lados.
— Eles não tentaram entrar aqui, mas, ainda assim, é suspeito. — ele
continuou.
Ótimo. Não só eu tinha que investigar as acusações contra a Aurora,
mas agora ainda precisava lidar com os renegados.

Eu estava sentado em uma reunião sobre os renegados que foram vistos


perambulando pelo bando, mas minha cabeça estava em Aurora e nas
evidências de que ela tinha sido falsamente acusada que meu beta iria
trazer.
Continuei me lembrando das palavras de Max.
— Se você não ama aquela garota, por que não pode simplesmente deixá-
la em paz? Ela é jovem e tenho certeza de que logo irá encontrar o parceiro
dela. O que você irá fazer quando essa hora chegar?
Mas ela já tinha encontrado seu parceiro: era eu.
Ela era uma plebeia, uma loba ômega, uma simples criada, enquanto
eu descendia de uma longa linhagem de líderes.
Exceto que havia a possibilidade de que ela realmente fosse da
realeza.
Mas isso estava apenas em um livro. Eu não tinha nenhuma prova real
ainda.
Ela não tinha força nem outras qualidades para oferecer ao bando
como Luna — não como Tallulah, que era filha de um alfa do alto
escalão.
Ainda assim, ela era minha parceira. A Deusa da Lua a concedeu a
mim, e tudo o que fiz foi afastá-la.
De repente, meu gama veio correndo.
— Alfa Wolfgang! Os renegados atacaram o hospital da matilha. Eles
levaram um dos nossos com eles!
O quê? Como eles conseguiram violar nossa segurança?
— Onde está a Luna? Devemos manter Tallulah segura! — um dos
anciãos gritou.
Todos começaram a fazer perguntas e falar uns sobre os outros.
— Quietos! — rosnei. Todos ficaram em silêncio.
— Quem eles levaram? — perguntei a Remus.
— Tallulah... — ele começou. Mas antes que pudesse continuar, todos
começaram a gritar novamente.
— Max, prepare um comboio. — eu ordenei. — Nós partiremos
imediatamente. Remus, entre em contato com o bando da Lua Azul e
peça ajuda. Não sabemos quantos renegados estão lá.
Remus tentou falar, mas a porta se abriu novamente, revelando
Tallulah.
— Você não precisa se preocupar, alfa Wolfgang. Sua Luna está
segura. — ela disse.
Todos os anciãos deixaram escapar um suspiro de alívio quando ela
entrou na sala.
— Se a Luna está aqui, quem eles fizeram refém? — Max perguntou a
Remus, que ficou em silêncio.
— Aurora. — Tallulah respondeu.
Eu fiquei lá, paralisado.
Por que eles a levaram?
— Ela mentiu para os renegados e os fez acreditarem que ela era a
Luna. Eles a levaram em vez de mim... — Tallulah continuou.
— Como ela conseguiu isso? — Max perguntou.
— Ela tirou alguns truques da manga. — disse ela, olhando-me nos
olhos.
— Os renegados disseram alguma coisa? — um dos anciãos
perguntou.
— Sim. Eles disseram que se todas as suas ordens fossem atendidas,
eles a devolveriam ilesa. Caso contrário, ela será a primeira de muitas
mortes. — Tallulah concluiu.
Senti meu rosto empalidecer. Aurora estava em perigo. Ela se
sacrificou pelo bando.
— Precisamos trazê-la de volta. — disse Max. Não houve resposta.
Todos os anciãos se entreolharam. — Ela se sacrificou para proteger a
matilha e a Luna Tallulah, devemos fazer algo para salvá-la. — Max
insistiu.
Eu ainda estava em choque. Eu não conseguia parar de pensar nela.
— Beta Max, o que aquela jovem criada fez foi muito heroico, e
seremos eternamente gratos, mas... ela nada mais é do que uma criada.
Ela não tem valor para nós. — disse um dos anciãos.
Isso me tirou do meu transe.
— O quê?! — rosnei.
— Alfa Wolfgang, você, entre todas as pessoas, deveria saber disso.
Não podemos arriscar nossos guerreiros por causa de uma mera criada.
— disse outro ancião.
— Se não o fizermos, eles vão matá-la, e com certeza vai começar uma
guerra! — disse Remus.
— Não necessariamente, — respondeu o ancião. — Nós podemos
deixar que acreditem que ela é nossa Luna. Depois de matá-la, eles
saberão que somos fortes demais para negociar.
— Eu concordo com os anciãos. O que Aurora fez foi corajoso e serei
eternamente grata a ela, mas não podemos arriscar mais vidas por ela. —
Tallulah disse, sua voz cheia de falsa piedade.
— Algum de vocês está se ouvindo? Vocês estão dispostos a sacrificar
uma jovem assim? E você, Wolfgang? Vai ficar sentado aí sem fazer nada?
— Max bateu com o punho na mesa.
— Não, — eu disse. — Vamos resgatá-la.
— O quê?! — Tallulah perguntou incrédula.
— Alfa, isso é ridículo! — um ancião gritou.
— Não permitiremos que nossos guerreiros entrem em território
renegado por causa de uma simples criada! — outro disse.
— Wolfgang, baby Ouça os anciãos. Eles estão certos. Ela não
significa nada para o nosso bando. Assim que a matarem, eles saberão
que somos fortes. — disse Tallulah.
Ela agarrou minha mão.
— Ela é apenas uma criada inútil, baby.
A raiva cresceu dentro de mim.
— Não, ela não é. — eu rebati, puxando minhas mãos das dela.
— Wolfgang, o que você está fazendo? — Tallulah perguntou.
— Aurora é a minha verdadeira parceira. Foi por isso que ela foi
levada. Ela deve ter mostrado a eles a marca que eu deixei nela antes de
partir para o encontro dos alfas. — eu disse.
Todos os anciãos me encararam em choque. Os olhos de Tallulah se
arregalaram enquanto ela processava o que eu acabara de dizer.
— Como assim ela é sua parceira? Desde quando? — Max perguntou.
— Eu descobri na noite da minha festa de aniversário. Na noite em
que ela foi designada para a casa da matilha, — eu disse a ele.
Tallulah se aproximou de mim e me deu um tapa na cara.
— Seu idiota! Eu vou fazer meu pai quebrar todos os laços com você e
com esse bando de merda! — Ela saiu correndo do escritório com
lágrimas escorrendo pelo rosto.
Eu mereci isso. Eu nunca deveria ter feito Tallulah acreditar que eu
queria casar com ela, quando na verdade eu sempre amei a Aurora.
Eu amava Aurora e agora ela precisava da minha ajuda.
— Então você encontrou sua parceira e manteve isso em segredo todo
esse tempo? De mim? Seu melhor amigo? — Max gritou.
— E a Aurora? Ela sabe? — perguntou Remus.
— Sim. — respondi, — mas eu a proibi de contar para qualquer
pessoa.
— É por isso que você não a deixou ir embora, mesmo jurando que ela
te dava nojo? — Max perguntou.
Eu não tinha nenhuma resposta para dar a ele.
Olhei para baixo. Não consegui encarar meu amigo.
Ele estava certo. Eu não quis aceitar Aurora como minha Luna por
causa do seu status social, mas também não consegui rejeitá-la.
É por isso que ameacei transformá-la em uma ladra se ela contasse a
alguém ou se ela deixasse o bando.
— Você é realmente incrível, Wolfgang, — ele cuspiu. Ele voltou sua
atenção para os anciãos. — Então, o que vai ser? Vocês ainda estão
dispostos a sacrificar a garota? Vocês ouviram seu alfa claramente. A
menina é a Luna legítima.
Eles se entreolharam e concordaram em enviar um grupo de busca
para salvar Aurora.
Só espero que não seja tarde demais.
Capítulo 32
Aurora

Passaram-se três dias desde que fui levada ao covil dos renegados.
Depois que me tiraram do hospital, os bandidos me vendaram e me
levaram para o esconderijo deles.
Suspeitei que fosse em algum lugar perto da fronteira da aldeia,
porque levamos apenas um dia e meio de caminhada para chegar lá.
Quando chegamos, fui carregada para uma masmorra velha e deixada
lá.
Desde então, eu só tinha visto um dos renegados, uma vez por dia,
quando ele me trazia minha refeição.
Descobri que o nome do líder era Klaus. Seu pai era Jacques Roulette.
O bandido que tentou destronar o falecido Alfa Adalwolf, mas, no
fim, morreu nas mãos do próprio.
Eu estava tentando falar com a minha loba, mas era como se Rhea
tivesse desaparecido.
Se eu pudesse alcançá-la, ela contataria Wolfgang e o resto da
matilha, e eu relataria meu paradeiro, para que eles pudessem me salvar.
Eu me perguntei se Wolfgang enviaria alguém para me resgatar.
Eles não me abandonariam, certo?
Mas já se passaram três dias e eu ainda não tinha ouvido nenhuma
notícia deles. Os renegados não receberam nenhuma carta respondendo
às suas demandas.
Eu ouvi passos e o tilintar de chaves. A porta se abriu, revelando
Klaus.
— Já se passaram três dias, pequena, e ainda nenhuma resposta de seu
alfa ou do seu bando. — ele rosnou. — Espero que você não esteja
mentindo para mim para proteger a verdadeira Luna.
Ele se ajoelhou diante de mim, tirando uma adaga da cintura. Ele
apontou para o meu rosto.
Estava a apenas alguns centímetros da minha bochecha. Eu podia
sentir minha pele queimar. A lâmina devia ser feita de prata.
— Você se esqueceu da marca no meu pescoço? Eu sou a verdadeira
Luna. — eu disse.
Ele levantou meu queixo com os dedos.
— Qualquer homem poderia marcar você se quisesse. A questão é que
eu não acho que você marcou seu companheiro.
Ele se aproximou.
— Se eu quisesse, poderia remover essa marca e fazer o que me desse
vontade com você. — Um sorriso sinistro surgiu em seu rosto.
Eu vi a luxúria nos seus olhos nojentos.
Tentei afastá-lo, mas ainda estava muito fraca.
Por que minha força foi drenada? Onde estava Rhea?
— Agora que dei uma olhada em você, você não é feia, pequenininha,
mocinha. — disse ele.
Ele mordiscou minha orelha, me segurando com uma mão enquanto
a outra se movia entre minhas coxas.
O pânico tomou conta de mim. Senti as lágrimas escorrendo pelo
meu rosto.
— Por favor, não... — implorei. — Se você me tocar, o alfa Wolfgang
vai saber por causa do nosso vínculo. E você prometeu que não iria me
machucar.
— Ah.. Estou contando com que o alfa descubra, — ele disse,
sorrindo.
Wolfgang

— Por que estamos demorando tanto? Devíamos ter enviado as tropas há


muito tempo! — gritei para o meu gama.
— Ainda não recebemos uma resposta do bando da Lua Azul. Sem
nossos aliados, podemos estar em desvantagem. — Remus respondeu.
— Ainda não sabemos quantos renegados estão naquele covil, —
acrescentou Max, aumentando minha frustração.
Já tinham se passado dias e ainda não tínhamos começado a operação
de resgate para salvar Aurora.
— O bando da Lua Azul não vai nos ajudar. Eu rompi com a filha do
alfa. — eu rosnei. — Precisamos nos mover agora!
De repente, uma dor intensa percorreu meu corpo. Começou no meu
peito, depois se espalhou.
— Argh! — Eu agarrei meu peito, me dobrando de dor.
— Alfa? O que aconteceu? — Remus disse, vindo até mim.
— Eu-eu não... Argh! — A dor no meu peito aumentou. Meus joelhos
cederam e eu caí no chão.
Então eu vi. EU...
Vi. O velhaco.
Ele estava pairando sobre mim.
Mas não... Não fui eu.
Foi Aurora. Eu podia ouvir seus gritos.
'Nããão! Por favor! Pare! '
Ele estava indo para cima dela. Fazendo mal a ela. Eu podia sentir
tudo o que ele fazia com ela através da nossa conexão de acasalamento.
— Wolfgang, o que é...? — Max começou a perguntar, ajoelhando-se
ao meu lado.
— F-faça parar! Por favor! — Eu agarrei minha cabeça. Foi
angustiante. Lágrimas escorreram dos meus olhos.
A última coisa que lembrei antes de desmaiar foi de ouvir a voz
suplicante de Aurora.
— Wolfgang...
Capítulo 33
Aurora

Passaram-se horas antes que Klaus ficasse totalmente satisfeito e me


deixasse sozinha.
Sendo um lobo, sua energia era muito superior à de um humano.
— Vamos ver se você é realmente a Luna daquele alfa, — ele disse,
rindo, e saiu da masmorra.
Eu me enrolei no colchão no chão onde ele me deixou e chorei.
Eles nunca viriam atrás de mim. Wolfgang não iria me salvar.
Eu não era nada além de uma criada com o azar de ter sido unida com
Wolfgang pela Deusa da Lua.
— Isso não é verdade, Aurora. Cronnos me ama. E Wolfgang ama você. —
a voz de Rhea ecoou fraca na minha cabeça..
— Rhea? Por onde você andou? perguntei a ela.
— Sinto muito. Eu estava enfraquecida. Alguém nos envenenou. Você está
bem?
Eu podia sentir a fraqueza em sua voz. Ela ainda não havia se
recuperado totalmente.
Mas quando fui envenenada?
— Já estive melhor, — respondi a ela.
— Tenho tentado entrar em contato com o lobo de Wolfgang, mas não
consigo alcançá-lo. A dose de veneno que nos deram era muito forte.
Eu podia vê-la agora. Ela estava mole e exausta. Seu pelo parecia sujo
e havia perdido todo o brilho.
— Não se preocupe em tentar alcançá-los, Rhea. Tenho certeza de que
Wolfgang está aliviado por se livrar de mim. — Novas lágrimas ameaçaram
se soltar.
— Não, ele está tão preocupado com você quanto Cronnos. — disse ela.
— Eu posso sentir isso.
Ela se aproximou de mim tentando me tranquilizar.
— Não! — Eu rebati. — Ele nunca se importou e nunca se importará. Eu
tenho que sair daqui por conta própria, Rhea. Eu preciso escapar.
Wolfgang

Abri meus olhos e me vi deitado na minha cama.


— Como eu...? — murmurei.
Então tudo voltou. Todas aquelas memórias horríveis, tudo que eu
tinha visto através da conexão do acasalamento.
Segurei minha cabeça em agonia, relembrando a dor que senti minha
parceira passar.
— Aurora... — resmunguei.
A porta se abriu e meu gama entrou.
— Você finalmente acordou, — Remus comentou.
— Há quanto tempo estou inconsciente?
— Há cerca de três horas.
— O quê?! — Pulei da cama, mas perdi o equilíbrio, me sentindo
nauseado. Remus me agarrou a tempo e me levou de volta para a cama.
— Uau, senhor, vá com calma. — disse ele. — Já enviamos as tropas.
Beta Max está os liderando.
— Max foi com eles? — perguntei.
— Sim. Ele achou que Aurora deveria ver um rosto familiar, depois de
tudo o que ela passou.
Tentei me levantar novamente.
— Eu deveria ir também. Ela é minha parceira.
Mas Remus me segurou.
— Você não está em condições, senhor. Você apenas atrapalharia o
resgate. Qualquer tortura que eles fizeram à Luna foi muito forte,
considerando a dor que você sentiu.
— Aurora precisa de mim, Remus, saia do meu caminho! — ordenei,
mas ele não se mexeu.
— Max e o resto das tropas trarão a Luna de volta em segurança. —
disse ele. — Além disso, recebi o relatório médico dela. Parece que a Luna
foi envenenada com wolfsbane1.
Ele me entregou os arquivos que estava segurando.
— Wolfsbane? Mas como? — perguntei.
— Não temos certeza, senhor. Beta Max a levou para o hospital
depois que a encontrou inconsciente, com febre alta, na masmorra. As
chicotadas ainda estavam intactas.
— Quem fez a acusação contra ela? — perguntei, já sabendo a
resposta.
— Tallulah Wilhelm, senhor.
Amassei os papéis em uma bola e joguei. Aurora estava passando por
tudo isso por minha causa.
— Isso é tudo minha culpa. Se eu a tivesse aceitado no momento em
que nos conhecemos, isso não teria acontecido. Ela estaria segura, aqui
comigo.
— Perdoe-me por me intrometer, senhor, mas... por que você não a
rejeitou quando descobriu que ela era sua parceira, se você não a queria?
— perguntou Remus.
Essa era a pergunta que eu temia.
— Eu simplesmente... não conseguia. Eu tentei dizer a mim mesmo
para fazer isso, mas toda vez que eu a via ou sentia seu cheiro... —
Balancei minha cabeça. — Eu não conseguia deixá-la ir.
Remus ficou em silêncio, então disse: — Vamos torcer para que Max e
a tropa consigam salvá-la, senhor.
Eu esperava que eles a trouxessem para casa, mas ela se recuperaria
emocionalmente, depois de tudo o que passou?
Orei para a Deusa da Lua, pedindo a chance de ajudá-la a se curar.
Como seu parceiro, eu ficaria ao lado dela e a ajudaria a se recuperar
de toda a dor e sofrimento que a fiz passar.
Aurora
Sentei-me no colchão úmido e imundo, pensando em uma maneira de
escapar.
Mais um dia e não havia sinal do bando.
Não havia escolha. Eu tinha que escapar.
Eu não podia ficar aqui sentada esperando aquele maldito me tocar
novamente.
Se pelo menos eu tivesse uma arma.
Um capanga entrou com uma bandeja de comida e jogou-a no chão
na minha frente.
— Aí está, Luna. Você precisa recuperar suas forças depois de todo o
trabalho que Mestre Klaus te deu.
Ele deu uma risadinha.
— Recomendo que você coma. Ele vem te visitar novamente em
breve.
Ele me trancou de novo.
Baixei os olhos para a bandeja e vi que me serviram purê de batata e
bife.
Peguei o bife, arrancando ansiosamente pedaços de carne ao redor do
osso.
Um pouco depois, a porta se abriu novamente e Klaus entrou com
aquele sorriso nojento.
Fiquei parada no canto da masmorra com as mãos cruzadas nas
costas.
— Estou perdendo a paciência com a sua matilha, pequena. Eles não
enviaram nenhum mensageiro para negociar. Parece que aquele alfa não
dá a mínima para você, hein?
Ele inclinou a cabeça para o lado. Ele estava com a adaga na mão. Eu
não respondi.
— Mas não se preocupe. Passei a gostar de você, então não vou te
matar. — Ele se aproximou de mim.
— Tenho certeza que meus rapazes ficarão satisfeitos em colocar esse
seu doce corpo em uso. Afinal, eles são todos renegados sem uma
parceira. Eles precisam tirar o atraso.
Ele me puxou pelo queixo enquanto trazia seu rosto para o meu,
nossos narizes a centímetros um do outro.
— Que tal? Quer se tornar nosso brinquedo pessoal? — Ele me
observou. Sua respiração nojenta soprava meu rosto.
Ele traçou a adaga ao longo do lado da minha bochecha, e eu senti a
prata queimar minha pele.
— Eu prefiro ser jogada em um poço de lava ardente do que ser
tocada por você de novo. — rosnei.
Peguei o osso da carne que eu tinha escondido nas costas e enfiei na
garganta dele.
O sangue espirrou no meu rosto e nas minhas mãos.
Capítulo 34
Aurora

Klaus cambaleou para longe, segurando o pescoço.


— Sua vadia! — ele gorgolejou enquanto o sangue jorrava de sua
boca.
Assisti com horror quando ele puxou o osso do pescoço e cobriu o
ferimento, tentando conter o sangue que jorrou dele.
— Eu vou te matar! — ele gritou. Ele saltou para frente e pegou meu
cabelo com força. — Me solta! — gritei, empurrando seu peito e lutando
para me soltar.
Ele me deu um soco no estômago, tirando todo o meu fôlego. Eu me
curvei de dor, mas ele não parou.
Ele me puxou pelos cabelos, virando-me o rosto para ele.
— Vou mandar você de volta para sua matilha em pedaços.
Sua boca se alongou e ele mostrou suas presas.
— Eu vou te despedaçar! E aí eu vou acabar com esse seu bando.
Ele tentou me morder no pescoço e rasgar minha garganta, mas eu
me afastei e seus dentes se afundaram no meu ombro.
— Rhea! Eu preciso de você! Me ajude a me transformar! — chamei
minha loba, mas ela estava muito fraca.
Observei enquanto ela tentava direcionar seu poder para mim, mas
não conseguia.
O melhor que ela conseguiu fazer foi fazer minhas unhas crescerem
em garras. Eu arranhei os olhos de Klaus, cegando-o parcialmente.
— Sua desgraçada! Eu vou te rasgar em mil pedaços, porra! — ele
rosnou, cambaleando para trás.
Aproveitei a oportunidade e corri em direção à porta, mas ele segurou
meu ombro mordido e me jogou contra a parede.
Eu gemi de dor, mas me virei, a tempo de vê-lo investindo contra
mim. Consegui me esquivar do impacto me jogando para o lado.
Ele bateu na parede e eu a vi quebrar. Ele havia quase se transformado
inteiramente no lobo dele.
Sua boca havia virado em um longo focinho. Suas pernas estavam
desajeitadamente dobradas, como as patas traseiras de um cachorro. Suas
mãos eram como garras e seus olhos...
Eles brilharam em um vermelho mortal quando ele se concentrou em
mim. Sua presa.
— Eu vou te matar! — ele rosnou, sua voz grave e ainda mais
ameaçadora.
Eu cambaleei, segurando meu ombro sangrando.
O wolfsbane ainda deve estar em meu sistema. A ferida não estava
sarando.
Se eu não tomasse cuidado, um dos seus golpes poderia ser fatal.
Eu tinha que pensar em uma maneira de matá-lo se quisesse escapar.
Olhei ao redor da sala e localizei sua adaga de prata. Deve ter caído
quando o ataquei.
Se eu conseguir acertá-lo, é melhor que seja um golpe fatal.
— Rhea. Sei que você está fraca, mas preciso de você mais do que nunca.
Por favor, me empreste sua força! — chamei minha loba.
Ela parecia mais pálida do que antes. Era como se estivesse morrendo.
Klaus soltou um uivo de gelar o sangue e avançou contra mim mais
uma vez.
— Rhea, por favor! Eu preciso de você!
Ela se forçou a se levantar, mancando até mim. Ela estendeu a pata e
eu estendi a mão para pegá-la.
— Isso é tudo o que tenho, — ela disse e caiu no chão.
Senti a força de Rhea percorrer meu corpo. Usei-a para aumentar
minha velocidade, esquivando-me quando Klaus golpeou suas garras em
mim. Passei correndo por ele em direção à adaga.
Ele se virou e investiu com as garras em mim mais uma vez, mas
consegui desviar e o chutei no estômago.
Ele cambaleou para trás novamente, segurando sua barriga, e se
lançou contra mim novamente.
Peguei a adaga de prata e a balancei.
Mas era tarde demais. Ele estava em cima de mim, mordendo minha
caixa torácica.
— Aaaahhh! — Eu gritei de dor. Suas poderosas presas cravaram
profundamente em minha carne, rompendo minhas costelas e
perfurando meu pulmão.
Eu lutei para me libertar, mas ele não se mexeu.
Então peguei a adaga em minha mão e a levantei o mais alto que
pude.
Eu o acertei mais uma vez na garganta, bem onde o machuquei com o
osso. O cabo quebrou.
A adaga de prata não permitiria que suas feridas sarassem. Não dessa
vez.
Ele me soltou, cambaleando para trás enquanto tentava tirar a faca do
ferimento, mas a prata queimou suas mãos e seu pescoço.
Eu assisti enquanto ele se transformava de volta em sua forma
humana.
Ele tossiu sangue ao cair de joelhos, depois caiu de barriga para baixo.
Tinha acabado...
Eu o matei.
Eu estava livre.
'Rhea! Rhea, nós conseguimos. Eu vou nos tirar daqui, e então vou
ajudá-la a se recuperar... — eu disse à minha loba. Ela ainda estava
deitada lá, sem resposta.
Tentei caminhar até a porta, mas de repente perdi todas as minhas
forças e caí no chão.
Eu agarrei minhas costelas, tossindo sangue.
Cada respiração me dava a sensação de estar debaixo d'água. Meu
pulmão estava se enchendo de sangue.
Eu estava morrendo. Eu morreria aqui, sozinha, neste calabouço
esquecido pela Deusa.
Arrastei-me até a porta, mas não consegui abri-la. Eu não tinha mais
forças.
— Não, não, não! — Tentei reunir um último pedaço de força, mas
tudo se foi.
Eu ia morrer aqui.
Lágrimas escorriam dos meus olhos mais uma vez.
— Rhea, sinto muito. Não consegui nos salvar...
Capítulo 35
Aurora

Deitei no chão ao lado da porta da masmorra. Meus olhos ficaram


pesados quando olhei para a maçaneta.
Eu podia sentir minha vida escapando do meu corpo.
Ouvi vozes do outro lado da porta e tentei bater palmas, mas meus
braços estavam pesados como chumbo.
— So-socorro, — tentei gritar, mas minha voz era pouco mais que um
sussurro.
A porta se abriu e senti alguém se ajoelhar ao meu lado. Minha visão
estava embaçada. Não consegui ver quem era.
— Aurora! — Reconheci a voz. Era o Max.
— Aurora, aguente! Aguente firme! — ele me disse.
— Médico! Alguém chame um médico aqui! Nós a encontramos!
Ouvi mais passos se aproximando, mas não consegui identificar de
quem eram.
— Ela está gravemente ferida, beta. Não sei se vai sobreviver. — disse
alguém.
Meus olhos estavam fechando. Eu não conseguia mais mantê-los
abertos.
— Aurora! Abra seus olhos! — ouvi Max gritando comigo, mas não
consegui abri-los.
Eu só queria dormir. Meu corpo doía todo e eu me sentia exausta.
Eu só queria descansar...
— Aurora! Aurora!
Silêncio e escuridão me envolveram. E, então, não senti mais dor.
Eu estava em paz.
Wolfgang
Corri para o hospital assim que o relatório chegou.
A tropa a encontrou, gravemente ferida e inconsciente, e a trouxe de
volta.
Eu tinha visto tudo. A luta com o líder dos renegados. Ele a mordeu e
quebrou suas costelas, perfurando seus pulmões.
— Eu não posso senti-la. Eu não consigo sentir Rhea! — Cronnos gritou
na minha cabeça, me deixando ainda mais ansioso.
Corri o mais rápido que pude para a sala de emergência, desesperado
para vê-la.
— Onde ela está?! Onde está Aurora?! — gritei para a enfermeira na
recepção, mas ouvi a resposta de outro lugar.
— Ela está bem, Wolfgang. Chegamos a tempo. — Max disse atrás de
mim.
Eu o agarrei pelo colarinho.
— Onde ela está?!
— Ela está na UTI. Ela tinha wolfsbane em seu sistema, então os
ferimentos que ela sofreu foram muito graves. Ela está estável e se
recuperando, mas está em coma. Os médicos não sabem quando ela vai
acordar.
— Espere, eu posso sentir! Eu posso sentir minha parceira! Ela está
voltando para nós! — Cronnos gritou na minha cabeça.
— Eu preciso vê-la. Agora!
Mas ele não se mexeu.
— Não até que você prometa que vai rejeitá-la assim que a vir, — Max
respondeu, empurrando minhas mãos para longe dele.
— O que você disse? — rosnei para ele.
— Rejeite-a e deixe-a em paz, Wolfgang.
— Ela é a minha parceira!
— E olhe toda a dor que você a fez passar! Ela não merecia! — ele
gritou de volta. — Ela quase foi morta por aquele maldito! Você falhou
em protegê-la!
Ele olhou para mim.
— Rejeite-a ou não se preocupe em procurá-la novamente... alfa.
Ele se virou e foi embora.
Aurora

Sentei-me em uma bela campina. A brisa de verão soprou no meu cabelo.


Na minha frente estava um lago enorme, brilhando sob a lua
brilhante. Eu reconheci o lago. Foi o que eu achei quando me transformei
pela primeira vez.
O que eu via em meus sonhos.
Isso foi um sonho?
— Você está acordada, minha jovem, — uma voz doce gritou para
mim do outro lado do lago.
Uma linda mulher com pele de porcelana e longos cabelos prateados
flutuava sobre a água.
Seus olhos eram amarelos; ela parecia brilhar com a lua. Eu a tinha
visto em meus sonhos muitas vezes.
— Q-quem é você? — perguntei quando ela se aproximou.
— Eu sou a Deusa da Lua, minha filha, — ela respondeu, sentando-se
graciosamente ao meu lado. O robe de seda que ela usava se espalhava
lindamente ao seu redor.
— A Deusa... da Lua?
Ela acenou com a cabeça, sorrindo com doçura.
— Isso significa que estou... morta? — perguntei a ela.
— Você está aqui... mas você ainda está lá também, minha filha, — ela
respondeu misteriosamente.
— O que isso significa?
— Significa que você está morta, mas ainda está viva.
Eu inclinei minha cabeça para o lado.
— Desculpe, mas não estou entendendo.
Ela riu e estendeu a mão sobre o lago.
— A Aurora que estava presa naquela masmorra morreu por causa de
seus ferimentos.
Eu estremeci. Uma imagem brilhou na superfície do lago. Era eu,
deitada imóvel no chão da masmorra.
— Mas, na noite em que você acasalou com seu parceiro, a noite em
que Wolfgang te marcou, ele tomou um pedaço de sua alma para si.
A imagem na água mudou para Wolfgang, segurando o próprio peito
em agonia.
— Como isso é possível? — perguntei, olhando para as imagens
diante de mim.
— Quando os lobos encontram seus parceiros, e o macho marca a
fêmea, eles tomam parte da alma do outro dentro deles.
Ela sorriu.
— É por isso que, quando um lobo toca seu parceiro, eles podem
sentir tudo o que eles sentem. Esse é o poder do vínculo.
— Wolfgang sentiu tudo o que Klaus fez comigo? — perguntei a ela.
— Sim, Aurora. Ele sofreu tanto quanto você. — disse ela. — Ele e
Cronnos sentiram a dor que você sentiu e sofreram ainda mais quando
perderam a conexão com vocês duas.
— Rhea está morta também? — perguntei, temendo a resposta.
— Ela também morreu, minha querida. O tempo de vida dela já havia
sido encurtado por sua exposição ao veneno. Quando ela deu a você sua
última gota de força, ela também deu a própria vida.
Lágrimas rolaram pelo meu rosto.
— Ela se sacrificou por mim?
— Sim, minha querida...
Eu chorei, lembrando do corpo mole da minha loba. Estávamos
juntas há tão pouco tempo, mas ela tinha se tornado minha melhor
amiga.
— Sinto muito, Rhea... fui muito descuidada, — chorei. — Eu faria
qualquer coisa para ter você de volta.
— Você deseja ver sua loba novamente, minha criança? — a Deusa da
Lua me perguntou.
Mais uma vez, ela estendeu a mão para mim.
— Sim... — Dei minha mão para ela.
A Deusa da Lua sorriu. Naquele momento, uma luz cegante brilhou
no horizonte. Eu ouvi um uivo.
Então eu a vi. A pele tão branca quanto a neve brilhava ao luar
enquanto ela corria em nossa direção sobre a água. Seus olhos roxos
estavam brilhantes como sempre.
— Rhea? Rhea! — Corri para a água, meus braços abertos quando ela
veio para o meu abraço.
Nós duas caímos de volta no lago, mas eu não me importei em me
molhar. Minha loba estava em meus braços, forte, saudável e feliz.
— Achei que eu tinha perdido você! — chorei.
Ela saltou para cima e para baixo em meus braços, seu rabo
balançando vigorosamente. Seu pelo de aparência desbotada se foi. Agora
ele brilhava forte.
— Estou tão feliz em ver você! — ela gritou de alegria, lambendo meu
rosto.
— Agora, minha filha, você está pronta para ir? — a Deusa da Lua me
perguntou, caminhando até nós. Seus pés não tocavam a água.
— Ir? Para onde? — perguntei.
Olhei para Rhea, que inclinou a cabeça para o lado.
— Isso depende de você, minha filha, e do que você decidir. — disse
ela. — Você vem comigo ou vai voltar para casa?
Olhei para Rhea, que respondeu com um largo sorriso, a língua
pendurada na boca aberta.
— Eu a seguirei para onde quer que você decida ir, Aurora, — ela
disse. Ela foi envolvida por uma luz roxa brilhante que voou direto para o
meu peito.
Eu me virei para a Deusa da Lua e dei a ela um sorriso.
— Estou pronta.
Ela sorriu para mim e estendeu a mão, tocando minha testa. Eu caí de
volta na água, afundando nela.
Lutei para nadar de volta à superfície, mas não consegui. Eu observei
a Deusa da Lua pairar sobre o lago enquanto eu descia mais fundo nele,
até que eu estava coberta pela escuridão.
Acordei com o som de um bipe. Tentei abrir os olhos, mas pareciam
pesados.
De onde vinha aquele bipe? Tentei abrir os olhos novamente e fui
momentaneamente cegada por uma luz forte.
Pisquei enquanto meus olhos se ajustavam.
Olhei em volta e vi que estava, mais uma vez, em um quarto de
hospital. Máquinas ao meu redor eram a fonte do bipe.
Havia algo sobre meu nariz e boca. Eu arrastei. Era uma máscara de
respiração.
— Aurora!
Eu me virei para a porta para ver Max correndo para a minha cama.
— Você está acordada! Como você está se sentindo? Estávamos
preocupados com a possibilidade de você nunca mais recobrar a
consciência. — disse ele.
— Eu também pensei que nunca mais acordaria. — eu disse, sorrindo.
— Como você está se sentindo? — ele perguntou.
— Como se um caminhão enorme tivesse passado por cima de mim.
— tentei brincar.
— Como vim parar aqui? — perguntei.
Max hesitou por um momento antes de responder.
— Emboscamos os bandidos e encontramos você na masmorra
sangrando até a morte. Você lutou contra o líder dos renegados?
Eu fiz que sim. Eu ainda podia sentir suas presas cavando
profundamente entre minhas costelas.
— E-ele...? — ele parou, mas eu sabia o que ele estava tentando
perguntar.
Eu olhei para as minhas mãos e balancei a cabeça novamente.
Estremeci com as memórias de seu corpo nojento tocando o meu.
Eu não tinha percebido que tinha começado a chorar até que senti as
lágrimas pingarem na minha mão.
— Você está bem? Alguma coisa dói? Devo chamar um médico? —
Max perguntou, pirando.
— Não... está tudo bem. — eu lhe assegurei. — Só estou esgotada com
tudo o que aconteceu.
Ele agarrou minha mão e a apertou com força.
— Tudo vai ficar bem, Aurora. Você está segura agora.
Eu sorri de volta para ele.
Ele estava certo. Acabou. Eu tinha escapado das garras da morte.
Eu ainda estava viva.
Capítulo 36
Wolfgang

Eu me sentei na sala de espera, pensando nas palavras de Max.


— Olhe para toda a dor que você a fez passar! Ela não merecia! Ela quase
foi morta por aquele maldito! Você falhou em protegê-la!
— Ou você a rejeita ou não se preocupe em procurá-la nunca mais.
Max estava certo. Como seu parceiro, eu deveria ter jurado protegê-
la, mas virei as costas para ela. Eu a afastei, e agora ela...
Abaixei minha cabeça, segurando meu cabelo. Como eu poderia ser
um alfa quando não conseguia nem cuidar da minha alma gêmea?
E foi tudo por causa do meu ego.
— Alfa Wolfgang, você está aqui.
Levantei a cabeça e vi os anciãos caminhando na minha direção.
— Há algo errado, ancião Radol ? — perguntei, ficando em pé.
— De forma alguma. Estamos aqui para dar as boas-vindas à Luna.
Ouvimos dizer que ela acordou. Como ela está? — ele perguntou.
— E-eu ainda não a vi. — respondi, olhando para os meus pés.
— Como assim você não a viu? Ela é sua parceira. A Luna. Você não
pode deixá-la sozinha, ela precisa de você para se recuperar
adequadamente. — o ancião Leto me repreendeu.
— Pelo que ouvi, é um milagre ela ter voltado viva para nós. Eles
disseram que suas feridas foram muito profundas, sem mencionar que
ela tinha wolfsbane em seu sistema, — o ancião Radolf comentou.
— Ela provou ser a Luna certa para a matilha, enfrentando aquele
renegado sozinha. Que garota forte e corajosa. — ele continuou.
Sorri com os elogios deles. Aurora foi realmente forte e corajosa por
ter passado por tudo isso sozinha.
Ela realmente era a guardiã perfeita para a matilha.
Mas minha arrogância não me deixou ver além da criada que eu me
recusei a aceitar como minha parceira.
— Bem, não vai adiantar muito ficarmos aqui. Devemos ver a Luna
imediatamente. Precisamos começar os preparativos para sua
apresentação ao bando. — disse o ancião Radolf.
Ele começou a passar por mim em direção ao quarto de Aurora, mas
eu o impedi.
Eu tinha me esquecido disso. Sendo a parceira do alfa, ela tinha que
ser oficialmente apresentada como a Luna de nossa matilha.
— Deixe-me contar a ela primeiro, — eu disse. — Então vocês três
podem entrar.
Eu temia entrar em seu quarto, mas queria muito vê-la.
Então me enchi de coragem e marchei para dentro.
Aurora

— Max, você não tem que fazer isso. Sou perfeitamente capaz de cortar
minhas próprias maçãs. — disse ao beta, que estava cortando
desajeitadamente o pobre e inocente pedaço de fruta.
— Você é a paciente e está doente. Eu posso lidar com isso. — disse
ele, continuando a massacrar a maçã.
Ouvimos uma batida na porta. Max deixou escapar um suspiro de
frustração.
Rhea ergueu a cabeça no meu subconsciente, uma orelha erguida no
ar. Ela fungou, então deu um pulo, animada.
— Cronnos! Cronnos está aqui! — ela pulou de empolgação.
Max entregou as fatias de maçã para mim e se dirigiu para a porta.
Quando ele abriu, Wolfgang estava do outro lado.
— O que você quer, alfa? — Max rosnou para ele. Fiquei surpresa com
a hostilidade em sua voz.
— Posso ter uma palavra com a Aurora? — ele disse a Max com uma
voz calma, mas autoritária.
— O que quer que você tenha a dizer a ela, pode falar comigo aqui,
porque não vou me mexer daqui. — Max rosnou.
— Eu sou seu alfa, beta Barone, e estou lhe dando uma ordem direta.
— Wolfgang comandou.
— Pareceu mais como um pedido para mim, alfa. Eu não vou sair do
lado dela. — Max rebateu.
Os dois ficaram de pé, olhando um para o outro. Por um momento,
pensei que eles fossem começar uma briga, mas então houve uma
segunda batida na porta, distraindo os dois.
A porta se abriu novamente e os três anciãos entraram na sala.
— Lá está ela! Senhora Aurora! Bem-vinda ao lar, — me disse um dos
anciãos.
— Senhora? — devolvi, confusa.
— Claro. Afinal, esse é o seu título legítimo. Como você está se
sentindo? — ele me perguntou.
— Estou me recuperando aos poucos, mas bem. O que você quer
dizer com 'título legítimo'? — perguntei aos anciãos, ainda sem entender
a mudança repentina de comportamento deles em relação a mim.
Quando eu trabalhava na casa do líder, eles não teriam me dado nem
um olhar de lado.
E agora eles estavam me chamando de "senhora"? Olhei para
Wolfgang, que ficou parado em silêncio, sem ousar me olhar nos olhos.
— Sim, Senhora Aurora. Como a Luna da nossa matilha, você será
tratada como tal de agora em diante.
Olhei para Wolfgang mais uma vez.
— Por que você está me chamando de Luna do bando? Não é esse o
título de Tallulah? Eu não sou nada além de uma criada, senhor. — eu
respondi, tentando descobrir se isso era algum tipo de piada de mau
gosto.
— Não, minha querida criança. Você é a Luna legítima. Alfa Wolfgang
nos disse que você é sua verdadeira parceira, e que você foi marcada.. —
disse o ancião Leto.
Eu me virei para encarar Wolfgang; eu estava surpresa.
— Ma-Mas eu pensei que... — parei de falar quando o choque me
consumiu.
— Você viu! Ele se importa com você! — Rhea gritou, animada.
Ele se importava comigo. Ele disse aos anciãos que eu era sua
parceira.
— Ele foi forçado a isso. — Max retrucou. — Se ele não tivesse falado
a verdade, os anciãos não teriam autorizado a operação para resgatar
você.
Isso me tirou do meu torpor.
— Eles estavam dispostos a sacrificar você, uma criada, pelo bem de
Tallulah, que eles pensaram ser a verdadeira Luna. E foi tudo graças ao
Wolfgang ali... — Max zombou.
— Beta Barone, você está passando dos limites! — um dos anciãos
gritou.
A raiva brilhou nos olhos de Wolfgang. Em um movimento rápido, ele
agarrou Max pelo colarinho e o jogou contra a parede.
— Seu desgraçado! Você não tinha o direito de dizer isso a ela! — ele
rosnou.
— Este é um comportamento insubordinado! — ancião Radolf gritou.
— Você será rebaixado de sua posição! — o ancião Leto acrescentou.
— Esperem! — gritei. Todos voltaram a atenção para mim.
Saí da cama e fiquei de frente para todos eles.
— Então... vocês nunca tiveram a intenção de me salvar? — perguntei
aos cinco homens que estavam na minha frente.
Wolfgang largou Max e tentou se aproximar de mim, mas eu recuei.
— Não! Não me toque! — Lágrimas caíram pelo meu rosto, mas
tentei manter minhas emoções sob controle. Eu não queria que eles me
vissem chorar.
— Todos vocês estavam prontos para me deixar nas mãos de... de... —
As palavras ficaram presas na minha boca quando mais uma vez me
lembrei da sensação nauseante do toque de Klaus.
Abaixei minha cabeça quando a compreensão surgiu.
— Eu estava certa desde o início. É por isso que eu mesma tive que
me salvar. — Minha voz era quase um sussurro. — Nenhum de vocês ia
fazer isso. — falei, com os dentes cerrados.
— Aurora — um dos anciãos começou a falar, mas eu não permiti.
— Não! Você não tem ideia do que eu tive que passar! Você não tem
ideia do medo que eu senti!
Engasguei com um soluço.
— E agora... todos vocês estão aqui, me elogiando e me chamando de
sua Luna, quando há quatro dias eu nem existia para vocês!
Agora eu tinha certeza de que todo o hospital estava ciente da cena
acontecendo, mas não me importei.
Todos eles ficaram em silêncio, me observando chorar. Eu tentei
desesperadamente enxugar as lágrimas que escorriam pelo meu rosto,
mas elas continuaram vindo.
— Aurora... — Wolfgang finalmente quebrou o silêncio, caminhando
até mim.
Eu levantei minha cabeça para vê-lo estender sua mão para mim, mas
eu balancei minha cabeça.
— Rejeite-me! — rosnei para ele.
— Não! Aurora, o que você está fazendo?! — Rhea gritou em minha
mente, mas eu a ignorei.
— Rejeite-me agora e me marque como uma renegada. Eu não me
importo mais. — continuei.
— Aurora, não! — Max gritou, mas não dei ouvidos.
— Prefiro ser uma loba sem matilha do que me tornar sua Luna. — eu
rosnei.
Continua no Livro 2…
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1
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