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Legislação Necessária - CP, CRP, a Lei do Mandado de Detenção Europeu (Lei 65/2003, de 23

de agosto), a Lei da Cooperação Judiciária (Lei 144/99, de 31 de agosto), Lei de Combate ao


Terrorismo (Lei 52/2003 de 22 de agosto), sendo que também pode vir a ser necessária a Lei
Penal Relativa às Violações do Direito Internacional Humanitário (Lei 31/2004, de 22 de julho),
Lei 33/77 de 28 de maio (quanto ao espaço marítimo) e DL 254/2003 (quanto às aeronaves) e
embarcações portuguesas que estarão mencionadas posteriormente.

Há 2 tipos de questões​:
➔ De competência - as perguntas envolvem saber se os tribunais portugueses são
competentes e, se forem, saber se a lei portuguesa é aplicável (normalmente, a resposta é
sim, salvo os limites do ​art. 6º, CP​);
➔ De cooperação - as perguntas ou respeitam à entrega de pessoas entre EM da UE (regime
do ​mandado​) ou à extradição de pessoas fora da UE (regime da extradição da LCJ).

1.
2. Cenário de Resposta de ​Competência
➔ 1º - determinação do locus delicti (​7º, CP​) - ​princípio da ubiquidade (qualquer
ponto de conexão faz com que se determine o ​locus delicti​);
● O ponto de conexão tanto pode corresponder ao ​ato (ex.: dar um estalo em
alguém), ou ao ​resultado (ex.: lesão do direito à integridade física) - ​art.
7º/1, CP​;
● Art. 7º/2, CP - basta a mera tentativa (ex.: se A dispara contra B, não é
preciso que B morra - homicídio na forma tentada).
➔ 2º​ - depois de se determinar o​ locus delicti​, há ​duas hipóteses​:
● Facto praticado em Portugal - saber se foi praticado em território
nacional ​[4º, a), CP - ​pode fazer-se remissão para o ​art. 5º/1 e 2, CRP​].
❏ Quanto ao ​espaço marítimo​ - art.​ 1º/1, lei 33/77​;
❏ Quanto às​ aeronaves​ - ​DL 254/2003​.
❏ Art. 4º, b), CP - se não é aplicado o ​princípio da territorialidade​,
verifica-se se há lugar à aplicação do ​princípio do pavilhão (se a
embarcação é portuguesa, foi praticado em Portugal);
● Facto não praticado em Portugal - verificar se estamos perante alguma
das hipóteses do​ art. 5º/1, CP​ (verificar alíneas por ordem).
❏ Art. 5º/1, a), CP - ​princípio da defesa dos interesses nacionais
(conexão entre o poder punitivo e a defesa de bens jurídicos
essenciais à preservação de certas condições da organização e
segurança da sociedade, sempre que ocorram lesões de bens
exteriores ao território português, mas que coloquem em perigo as
ditas situações);
❏ Art. 5º/1, b), CP - requisitos cumulativos de nacionalidade ​ativa e
passiva (agente e vítima têm de ser portugueses) e o agente tem de
viver habitualmente em Portugal, sendo que, quando se aplica este
artigo, não há lugar à aplicação do ​art. 6º/2, CP (a conexão ao
território português é tão forte que não vale a pena ponderar outro
regime, mesmo que seja mais favorável);
❏ Art. 5º/1, c), CP - ​princípio da universalidade (necessidade de
cooperação do Estado português na proteção penas de bens da
humanidade de valor universal);
❏ Art. 5º/1, d), CP - ​princípio da universalidade [lei penal
portuguesa também se aplica a crimes graves, praticados fora do
território português, contra menores, tendo as mesmas condições
de punibilidade da ​al. c)​];
❏ Art. 5º/1, e), CP - ​princípio da nacionalidade - a sua diferença
para a ​al. b)​, é que aqui exige-se ou a nacionalidade ativa ou a
passiva, não tendo de se verificar as duas. No entanto, também se
exige a verificação dos 3 incisos cumulativamente, sendo que,
quanto ao ​3º inciso​, há um crime que exige extradição e Portugal
recusa-se a fazê-lo. Não obstante, esta alínea aplica-se também aos
factos praticados por estrangeiros contra estrangeiros - remissão
para o ​art. 33º/1, 2 e 3, CRP​;
❏ Se se aplica alguma das alíneas do art. 5º/1, CP​, há que verificar
a aplicação do ​art. 6º, CP​, que não se aplica a casos em que o
crime foi praticado em território nacional;
❖ Art. 6º/1, CP - impõe que, por maioria de razão, onde o
agente não possa ser julgado no estrangeiro ou, em que
fosse julgado mas não pudesse ser condenado, ​não deve ser
submetido à aplicabilidade da lei penal portuguesa​;
❖ Art. 6º/2, CP - questão da lei penal estrangeira mais
favorável, tendo limites constantes do ​nº 3​.
❏ Art. 5º/1, g), CP - estende o princípio da nacionalidade às pessoas
coletivas em território português, articulando-se com o art. 11º,
CP​;
❏ Art. 8º, LCT - crimes de ​terrorismo (aplica-se a lei portuguesa,
sem restrição, aos crimes de organização terrorista e terrorismo e,
também quando o agente seja encontrado em Portugal e não possa
ser extraditado/entregue em execução de mandado de detenção
europeu);
❖ Art. 8º/1, a), LCT​ - remete para o ​art. 5º/1, a), CP​.
❏ LVDIH​ - crimes de violação de Direito Internacional.

3. Cenários de Resposta Quando Está em Causa ​Cooperação Judiciária

Mandado de Detenção Europeu​ (Lei 65/2003, de 23 de agosto)


➔ 1º - referir o motivo que leva à aplicação do mandado (estão em causa EM da UE) - ​art.
1º/1, LMDE​;
➔ 2º - o mandado de detenção europeu baseia-se no ​princípio do reconhecimento mútuo de
sentenças​ - ​art. 1º/2, LMDE​;
➔ 3º - estabelecer qual o EM de ​emissão (quem emite o pedido de entrega) e de ​execução
(quem entrega alguém);
➔ 4º - verificar se o mandado é para efeitos de ​procedimento criminal (para julgar alguém)
ou para efeitos de ​execução da pena (cumprimento da pena), sendo que tal apenas se
aplica ao EM de emissão - ​art. 2º/1, LMDE​;
● Procedimento Criminal (art. 2º/1, 1ª parte, LMDE​) - o mandado só pode ser
emitido para um crime cuja pena tenha duração máxima não inferior a ​12 meses​;
● Cumprimento da Pena (​art. 2º/1, 2ª parte, LMDE​) - o cumprimento dessa pena
tem de ser numa pena não inferior a ​4 meses;
➔ 5º​ - assim, estão verificados os requisitos para o EM de emissão;
➔ 6º​ - agora, há que verificar se a ​dupla incriminação​ é ​dispensável​ ou ​exigível;​
● Dispensável (​art. 2º/2, LMDE​) - os 2 requisitos têm de ser cumulativos, sendo
que têm de constar do elenco e a punição, no EM de emissão, tem de ser com uma
pena/medida de segurança de duração máxima não inferior a ​3 anos​;
● Exigível (​art. 2º/3, CP​) - bastando que 1 desses requisitos não se verifique, há
dupla incriminação, sendo que, no EM de execução, a conduta também tem de ser
punida, fora o EM de emissão ter de ter crime lá;
❏ Se se exigir dupla incriminação e ela não existir (em Portugal infração não
é punível) há motivo de ​recusa obrigatória e uma violação do ​art. 2º/3,
LMDE​ [remissão para o ​art. 11º, f), LMDE​];
➔ 7º - verificando-se a dupla incriminação, analisa-se a exigibilidade do princípio da
especialidade,​ para que o EM não se aproveite dessas situações, havendo exceções (​art.
7º, LMDE​);
➔ 8º - verificar se há ​motivos de recusa obrigatória ou facultativa - ​arts. 11º, 12º e 13º,
LMDE​;
● Art. 33º, CRP​ - cooperação judiciária
❏ nº 3​ - nacionalidade;
❏ nº 4​ - prisão perpétua;
❏ nº 5​ - ressalva-se a UE;
❏ nº 6​ - casos exagerados (ex.: pena de morte)
● Penas de caráter perpétuo/indefinido [​art. 13º, a), LMDE​] - Portugal pode
entregar a pessoa desde que o EM da emissão ofereça certas garantias. Fora da
UE são ainda precisas garantias de direito internacional;
● Quando estiver em causa a entrega de um cidadão português​, ou se pede o
português para ​procedimento criminal [​art. 13º/1, b), LMDE​], ou o mandado é
para ​cumprimento de pena [​art. 12º/1, g), LMDE - sublinhar palavra
“cumprimento”)
● Quanto à nacionalidade, há que ver o momento em que uma pessoa é
nacional - para ​competência dos tribunais portugueses o momento relevante é o
momento da prática do facto​. Nos ​casos de cooperação​, o momento relevante é o
momento da decisão de cooperação​ -​ art. 32º/6, LCJ​;
● Arts. 12º/1, g) e 13º/1, b), LMDE​ - remissão para o ​art. 32º/6, LCJ​.

Extradição​ (Lei 144/99, de 31 de agosto):


➔ 1º​ -​ art. 1º/1, a) e 2, art. 3º, LCJ​;
➔ 2º - saber se Portugal é o EM ​requerente (pede a extradição - extradição ativa ​- ​arts.
69º-72º, LCJ​) ou ​requerido (pedem a Portugal a extradição de alguém - ​extradição
passiva​ -​ arts. 31º-43º, LCJ​);
➔ 3º - verificar se a extradição é emitida para ​procedimento criminal ou ​cumprimento da
pena​ - ​31º/1 e 2​ (situações em que Portugal é o EM requerido);
➔ 4º - ​princípio da reciprocidade (​art. 4º, LCJ​) - não impede a cooperação se várias razões
de política criminal aconselharem, mesmo que não se verifique (prevenção geral ou
especial e proteção dos cidadãos portugueses (dentro da UE isto não se aplica);
● Art. 4º/3, LCJ​ - casos em que pode haver extradição sem reciprocidade.
➔ 5º ​- ​princípio da ​dupla incriminação (é sempre obrigatória - ​art. 31º/2, LCJ ​- conduta
tem de ser punida tanto no EM requerente, como no EM requerido);
➔ 6º​ - ​princípio da especialidade​ (​art. 16º, LCJ​);
● Exceções​ - ​arts. 16º/4 e 17º, LCJ​.
➔ 7º​ - se estiver tudo preenchido, verifica-se se há ​motivo de recusa​;
● Art. 6º, LCJ ​- motivos de ​recusa obrigatória (é todo o artigo, mas vamos
analisar as alíneas e números mais importantes):
❏ Art. 6º/1, e), LCJ [remissão para ​os arts. 6º/2 , a), LCJ e 5 , 33º/6, CRP​]
- não podemos extraditar para ​pena de morte,​ sendo que, a única forma de
extraditarmos é se oEstado requerente fizer uma alteração no direito
interno, ficando os tribunais vinculados juridicamente a não aplicar a pena
de morte (garantia de direito interno);
❏ Art. 6º/1, f), LCJ [​remissão para ​os arts. 6º/2, b) e c), LCJ e 33º/4, CRP​]
- aqui, MFP propõe uma redução teleológica do art. 6º/2, b), LCJ porque
só podemos extraditar para países com pena de prisão perpétua sem ferir a
CRP, se exigirmos garantia de direito internacional (necessidade e
proporcionalidade de que dependem os limites/restrições) - tal não fere os
limites materiais de revisão [​art. 288º, d), CRP​];
❏ Art. 6º/4, 1ª parte, LCJ - quando não está verificada a reciprocidade
(remissão para o​ art. 4º, LCJ)​;
❏ Art. 7º, LCJ - natureza dos crimes ​[remissão do art. 7º/1, a), LCJ​, ​para
33º/6, CRP​];
❏ Art. 32º/1, a), LCJ - remissão para os ​arts. 32º/5, LCJ e 7º, CP (quando
os crimes são em Portugal);
❏ Arts. 32º/1, b), LCJ + 32º/2 e 3, LCJ - quando estão em causa cidadãos
nacionais, sendo que o ​nº 2 é uma ​exceção​, onde a extradição de nacionais
só é possível se estiverem cumpridos os requisitos do ​art. 32º/2, LCJ
(com remissão para o ​art. 33º/3, CRP​) e ​nº 3 ​(extradição para efeitos de
procedimento criminal​, em que o EM requerente deve garantir que
devolve o português para cumprir pena em Portugal);
❏ Art. 8º, LCJ​ - remissão para o​ art. 29º/5, CRP​.
● Motivos de​ ​recusa facultativa​ - ​10º​ (infrações de pouca importância); ​18º
➔ Aqui tem de se ponderar se a pessoa deve ser entregue ou extraditada, ou
não, à luz de várias considerações, como os fins das penas;
➔ Art. 10º, LCJ​ - refere infrações de pouca importância;
➔ Art. 18º, LCJ​ - outros critérios relativos à política criminal;
➔ Art. 32º/2, LCJ - cidadãos nacionais em que, quando é possível
extradição, esta não é obrigatória, nos termos de convenção internacional,
quanto a certos crimes, como o de terrorismo ou criminalidade organizada.

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