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SIMULAÇÃO E ANÁLISE PARAMÉTRICA DE UMA

UNIDADE DE GÁS NATURAL

P. P. da S. QUIRINO1, B. B. QUARESMA1, A. B. dos SANTOS2, D. C. da L.


BARROS 1, R. de A. KALID1 e E. F. M. SALAS3
1
Departamento de Engenharia Química, Universidade Federal da Bahia, Brasil
2
Departamento de Engenharia e Arquitetura, Universidade Salvador, Bahia, Brasil
3
Automind - Automação Industrial Ltda., Salvador – Bahia, Brasil

RESUMO – Este trabalho propõe investigar uma unidade industrial de processamento de


gás natural com o uso do simulador comercial UniSim® Design. Utilizando recursos
desse software, são preditas as condições de formação de hidratos, como também é
realizada uma análise paramétrica, de modo a serem observadas as relações de causa e
efeito existentes entre as variáveis do processo. A partir do conhecimento dessas relações,
podem ser identificadas condições operacionais que resultem, dentre outros aspectos, em
menores impactos ambientais e melhoria da eficiência da planta. A escolha da equação
de estado utilizada na simulação é respaldada numa revisão bibliográfica dos principais
modelos termodinâmicos aplicáveis aos processos de desidratação de gás natural. Os
modelos Peng-Robinson (PR) e Soave-Redlich-Kwong (SRK) foram utilizados e
comparados entre si, e ficou constatado que o mais apropriado para representar a planta
em estudo foi o PR. Os resultados obtidos indicam um favorecimento da remoção de água
quando se têm as seguintes condições: altas pressões, temperaturas reduzidas de absorção
e maiores concentrações de TEG no solvente. Foi visto também que esta última variável
praticamente não sofre influência da vazão de gás de stripping. Verificou-se ainda que o
aumento na vazão de TEG implica a elevação das emissões atmosféricas.
Palavras-chave: gás natural, desidratação, hidratos, análise paramétrica.

1. INTRODUÇÃO
Explorado juntamente com petróleo, o gás natural produzido contém quantidades
significativas de contaminantes, como o dióxido de carbono, o nitrogênio, o sulfeto de
hidrogênio e a água. A remoção desses contaminantes é fundamental para que ele possa
ser adequadamente transportado e enviado para a comercialização, de acordo com as
normas estabelecidas pela Agência Nacional de Petróleo – ANP.
Nesse sentido, muitos estudos vêm sendo desenvolvidos e relatados na literatura
sobre o tratamento e processamento do gás natural, a fim de se garantir sua especificação,
bem como obter condições operacionais mais satisfatórias que resultem em processos
mais eficientes (BAHADORI e VUTHALURU, 2009; JAĆIMOVIĆ et al., 2011; FARAG et al.,
2011; NETUSIL e DITL, 2011; RAHIMPOUR et al., 2013; CARNELLI et al. 2013).
Algumas plantas de processamento de gás natural são projetadas no intuito de não
apenas reduzir os teores de gases ácidos (CO2 e H2S) e de umidade, como também extrair
e separar hidrocarbonetos mais pesados, que podem ter um valor agregado maior, se
vendidos separadamente. A problemática dos gases ácidos refere-se à sua natureza
corrosiva, o que pode ocasionar o comprometimento de dutos e equipamentos. Embora a
remoção desses contaminantes faça parte de uma das etapas do tratamento do gás natural,
ela não será abordada aqui, visto que o escopo deste trabalho é investigar apenas a unidade
de desidratação. Esta é planejada para remover a água presente no gás, evitando-se a
condensação da água livre em instalações de transporte e processamento, o que

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favoreceria o aparecimento de processos corrosivos. Além disso, a existência de água
provoca a formação dos chamados hidratos, compostos sólidos cujo acúmulo em
tubulações e equipamentos de processo pode acarretar sérios prejuízos operacionais, tais
como bloqueio parcial ou completo das linhas de fluxo de gás, sujeira, entupimento em
trocadores de calor, ferrugem, entre outros.
Dentre os principais processos utilizados para a desidratação do gás natural
podem-se citar a absorção com solventes líquidos a base de glicóis, a permeação gasosa
por meio de membranas poliméricas densas e a adsorção em meios sólidos como sílica-
gel, alumina ativada ou peneiras moleculares (PANTOJA, 2009). O primeiro processo,
absorção com o uso de glicol, é o mais comumente empregado na indústria de gás natural,
devido à alta higroscopia, excelente estabilidade térmica e química, baixas pressões de
vapor e fácil disponibilidade deste tipo de solvente (COELHO et al., 2007). É dada
preferência, em especial, ao trietilenoglicol (TEG), uma vez que este reúne características
que o tornam mais atraente frente aos demais, a exemplo de seu alto ponto de ebulição e
elevada temperatura de decomposição.
O estudo dos processos que envolvem a desidratação do gás natural, no entanto,
não é trivial, visto que uma modificação em determinada condição operacional pode vir
a comprometer todo o processo, fazendo-se necessário o entendimento mais aprofundado
da planta em questão. Uma vez adquirido esse conhecimento, engenheiros e operadores
podem tomar decisões com maior grau de segurança. Ferramentas de simulação vêm se
mostrando vantajosas neste aspecto, pois intentam representar, em um modelo
manipulável, as respostas que seriam obtidas no processo real. Nos simuladores
comerciais, é possível simular diferentes condições operacionais e com isso podem ser
visualizadas de forma mais clara as relações de causa e efeito existentes entre as variáveis.
Entendendo melhor essas relações, diversas oportunidades de melhoria poderão ser
identificadas.
Nesse contexto, o presente trabalho propõe investigar um processo de
desidratação de gás natural, através da realização de uma análise de sensibilidade
paramétrica das principais variáveis envolvidas no processo. De forma indireta, deseja-se
verificar a possibilidade de modificações nas condições de operação, que resultem em
uma maior eficiência da planta, o que poderia contribuir para uma redução nos custos de
funcionamento da mesma. Para isso, o sistema de desidratação de gás foi simulado no
estado estacionário com o auxílio do simulador comercial UniSim® Design, sendo
analisados os seguintes casos de estudo, quais sejam: variação da pressão e da temperatura
de absorção; variação da temperatura do solvente a ser regenerado na coluna
regeneradora; variação da vazão do gás de stripping e variação da vazão e da composição
de TEG na entrada da coluna absorvedora.
O trabalho é estruturado da seguinte forma: inicialmente é feito um breve
descritivo do processo em estudo. Em seguida, é apresentada a metodologia utilizada para
o desenvolvimento da simulação estática, sendo realizada uma pesquisa na literatura
sobre modelos termodinâmicos aplicados em processos de desidratação de gás natural, de
modo a fundamentar a escolha por determinada equação de estado. Posteriormente é
verificada a possibilidade de formação de hidratos e por fim, são discutidos os resultados
e as conclusões pertinentes à análise paramétrica realizada.

2. DESCRIÇÃO DO PROCESSO
A unidade industrial de processamento de gás natural de que trata este artigo
consiste de algumas seções, dentre as quais se podem citar:
i) seção de recebimento de condensado, composta por vasos separadores
trifásicos, cuja função principal é separar a água, o condensado e o gás. A água é

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encaminhada para tanques de armazenamento para posterior tratamento e descarte, o
condensado é direcionado para a coluna estabilizadora e o gás segue para os compressores
de reciclo, que comprimem o gás para a seção de desidratação;
ii) seção de desidratação, onde a água presente no gás natural é removida por meio
da passagem deste através de uma coluna absorvedora, utilizando o trietilenoglicol (TEG)
como solvente;
iii) seção de regeneração do solvente, constituída por um vaso separador, uma
coluna de regeneração e uma coluna de estripagem a gás. Almeja-se, nesta parte do
processo, atingir uma concentração de glicol de aproximadamente 99,5%. No entanto,
esta concentração não pode ser atingida pela adição exclusiva de calor, uma vez que
poderá haver degradação da solução, caso a temperatura da coluna regeneradora exceda
204 oC. De modo a minimizar este problema, o glicol, proveniente da coluna
regeneradora, é enviado para a coluna de estripagem, onde entra em contato com gases
secos e é purificado, para que seja então obtida a concentração de TEG requerida;
iv) seção de redução de temperatura, onde estão presentes um conjunto de
trocadores de calor, uma válvula e um vaso de flash. Nesta seção, o gás sofre uma
diminuição de temperatura gerando condensado, que segue para a coluna de estabilização.
O gás efluente desta seção está pronto para venda;
v) seção de estabilização de condensado, na qual se tem uma coluna de destilação,
cuja função é gerar gasolina. Os gases de topo desta coluna são comprimidos e reciclados
para a seção de desidratação;
vi) seção de compressão de gás, composta de um compressor centrífugo de dois
estágios, cuja função é comprimir os gases e enviá-los como carga de reciclo para a seção
de desidratação;
vii) seção de recebimento do gás e condensado (Slug Catcher), constituída de
tubulações, ou mais comumente denominados de tubulões, de alta capacidade, capazes
de absorver grandes quantidades de gás e condensado provenientes do poço, e dosá-los
em quantidades menores, conforme a dimensão da planta de processamento.
Estas seções podem ser melhor visualizadas através da Figura 1, onde é ilustrada
a modelagem de todo processo.

Figura 1- Fluxograma esquemático da unidade de processamento de gás natural.

É importante salientar, no entanto, que apesar da planta em análise contemplar as


seções apresentadas acima, neste artigo será dada ênfase apenas nas seções de
desidratação do gás natural (ii) e regeneração do solvente (iii), conforme se pode observar
na Figura 2.

Figura 2 - Seção de desidratação do gás natural e regeneração do solvente.

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3. METODOLOGIA
De modo a atingir o objetivo proposto, inicialmente foi realizada uma busca por
informações sobre a planta em estudo. Foram consultados dados históricos de operação,
especificações de equipamento, composição das diversas correntes existentes e
recomendações de operação. Além disso, foram utilizados livros especializados, como
também foram consultadas pessoas com maior domínio no assunto, a fim de melhor
compreender o processo e verificar possíveis inconsistências no mesmo. Em um segundo
momento, foram confrontados diferentes pacotes termodinâmicos, de modo a selecionar
um modelo mais representativo do processo, ou seja, aquele mais condizente com a
realidade da planta. Uma vez desenvolvida e validada a simulação estática, foram
aplicados modelos de predição de hidratos presente no UniSim®, a fim de verificar a
possível formação de hidratos nas correntes de gás de alimentação e de gás de venda. Tais
modelos fazem uso de propriedades geradas a partir de equações de estado para calcular
as condições de equilíbrio e possuem, segundo a HYPROTECH (1998b), um maior grau
de confiabilidade do que aquele que se pode esperar de expressões empíricas ou
diagramas. Finalmente, foram efetuados e discutidos alguns estudos de caso, visando
identificar sistemas ou variáveis que tenham um efeito mais significativo na margem
operacional, na redução do impacto ambiental e na segurança do processo.

4. MODELO TERMODINÂMICO

Para avaliar o processo de desidratação em estudo, é de grande auxílio a realização


de simulações do processo em condições especificadas de temperatura, pressão e
composição do gás, o que por sua vez, exige a escolha de uma modelagem termodinâmica
apropriada para este tipo de sistema, constituído predominantemente por metano, água e
trietilenoglicol (TEG).
As equações de Soave-Redlich-Kwong (SRK) e Peng-Robinson (PR) são,
atualmente, as duas equações de estado mais amplamente difundidas e utilizadas na
indústria. Isso se deve ao fato de que ambas aliam uma estrutura matemática
relativamente simples a uma boa capacidade preditiva para misturas constituídas por
compostos de caráter apolar ou fracamente polar (CHVIDCHENKO, 2008). Esta última
característica fez com que estas duas equações tenham se tornado as preferidas para a
modelagem de processos na indústria de petróleo e gás, principalmente na descrição da
fase orgânica das misturas.
Poderia ser questionada a limitação dessas equações na descrição de misturas que
apresentam maior polaridade, como é o caso, por exemplo, do sistema estudado neste
artigo. No entanto, a experiência acumulada até o presente, com o uso dessas equações,
vem mostrando que, de maneira geral, ambas apresentam um desempenho satisfatório,
apesar da presença de componentes polares como a água e o TEG. Para comprovar isso,
foi realizada uma pesquisa da literatura e inúmeras aplicações das equações de SRK e PR

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em processos de desidratação de gás natural foram encontradas, dentre as quais se podem
citar DARWISH et al. (2004), COELHO et al. (2007), DARWISH e HILAL (2008), KARIMI e
ABDI (2009), ERDMANN et al. (2011), SATYRO et al. (2011), MACHADO et al. (2012), entre
outras.
Um trabalho acerca deste assunto é visto em Chvidchenko (2008), onde é
realizado um estudo comparativo do desempenho das equações de estado cúbicas Soave-
Redlich-Kwong, Peng-Robinson e CPA (Cubic Plus Association), na descrição de
sistemas CH4-CO2-H2S, TEG-CO2-H2O e dos binários H2O-CH4 e CH4-TEG. A escolha
dos sistemas foi feita na tentativa de aliar o seu interesse para a indústria de
processamento de gás natural à disponibilidade de dados experimentais na literatura. Foi
monstrado que o uso de um modelo consideravelmente mais complexo não forneceu
resultados substancialmente superiores ou diferentes dos obtidos com as equações de
estado cúbicas convencionais. Por essa razão, o autor recomenda iniciar a modelagem de
misturas de hidrocarbonetos com componentes polares com a aplicação dos tradicionais
pacotes termodinâmicos, SRK ou PR, verificando se estes conseguem representar
adequadamente o sistema. Isso é importante, uma vez que modelos de maior
complexidade requerem uma série de cuidados e etapas preliminares em sua
implementação, além de envolver um maior dispêndio de tempo computacional na
resolução de equilíbrio de fases.
É necessário salientar, no entanto, que a escolha por determinada equação de
estado para a modelagem de um sistema, em detrimento de outra, irá depender da natureza
química dos compostos presentes, bem como das condições operacionais empregadas,
como temperaturas e pressões.
Tendo em vista o exposto acima, neste trabalho, as duas equações de estado
cúbicas (SRK e PR) foram utilizadas e comparados os seus desempenhos, de modo a
selecionar aquela que melhor represente o processo em análise. Para isso, foram
calculados os desvios relativos percentuais médios entre os dados simulados e os medidos
das principais correntes do processo, quais sejam: as correntes de gás para venda, de gás
seco que sai da coluna absorvedora e de gases para atmosfera. Os desvios obtidos com a
utilização dos modelos Soave-Redlich-Kwong e Peng-Robinson foram iguais a 12,4% e
6,9%, respectivamente. Com base nesses resultados, a equação de estado cúbica de PR
foi selecionada para a simulação da planta em discussão.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nesta parte do trabalho é mostrado o estudo realizado para predição da formação
de hidratos, como também são apresentados e discutidos os resultados referentes à análise
paramétrica realizada para as seções de desidratação e regeneração.

5.1. Formação de Hidratos


Para se avaliar uma possível formação de hidratos, foram escolhidas duas
correntes para análise: a de gás de alimentação e a de gás para venda, nas condições
mostradas pela Tabela 1.

Tabela 1 – Condições operacionais das correntes em estudo.

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Condições Gás de alimentação Gás para venda
Temperatura / [oC] 27,0 22,9
Pressão/ [kPa] 4024,0 3661,1
Vazão de TEG / [kg/h] 188154, 4 10483,5

Nessas condições, não há formação de hidratos nas correntes avaliadas. Como se


pode observar na Figura 3, para que ocorra a formação de hidratos na corrente de gás, a
uma pressão de 4024,0 kPa, é necessária uma temperatura de 10,1 oC. Já a corrente de
gás de venda, a uma pressão de 3661,1 kPa, somente começa a formar hidratos ao ser
atingida uma temperatura de -12,4 oC. Além disso, verifica-se na corrente de gás de venda
que, para a condições atuais de temperatura (22,9 oC), seria necessária uma pressão de
259960,3 kPa para a ocorrência deste problema.

Figura 3 – Resultados para a formação de hidratos.


Gás de alimentação
Gás para venda

5.2. Análise Paramétrica


Na seção de desidratação propriamente dita, constituída pela coluna de absorção,
as variáveis que se pretende estudar são a pressão e a temperatura de absorção, a vazão e
a composição de solvente. Já na seção de regeneração, serão analisadas a temperatura de
regeneração e a vazão de gás de stripping.
A pressão da absorção está diretamente relacionada com a pressão do gás de
alimentação, de modo que para alterar a primeira, é preciso mudar a segunda. Assim, foi
realizado um estudo do efeito da variação da pressão do gás de entrada (P_ent),
consequentemente da absorção, na composição de água (Y_H2O) e na temperatura do gás
de venda (T). Conforme é ilustrado na Figura 3(a), à medida que se aumenta a pressão,
maior é a taxa de absorção da água ao longo da coluna, reduzindo-se, assim, o conteúdo
de água no gás seco e, por sua vez, no gás de venda. Um efeito semelhante ocorre com a
temperatura do gás de venda, visto que um incremento na pressão provoca aumento da
eficiência da absorção o que, por seu caráter endotérmico, reduz a temperatura do gás
seco e, consequentemente, do gás no processo.

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Além da pressão, a temperatura de absorção é uma variável importante que pode
afetar o processo de desidratação. Esta, assim como a pressão, está atrelada à condição
do gás de entrada. Por este motivo, para a sua investigação, foi exigida a mesma
metodologia da variável estudada anteriormente. O resultado pode ser visto na Figura
3(b), onde se observa que à medida que se aumenta a temperatura de absorção (T_ent), é
elevada a quantidade de água no gás seco (F_H2O). Isto ocorre porque quanto maior a
temperatura da absorção menor é a eficiência da coluna, razão pela qual é preferível
manter temperaturas mais baixas, tanto do gás de alimentação quanto do TEG. No
entanto, a depender do processo, não é economicamente favorável ajustar a temperatura
num patamar muito baixo, pois o TEG, após a absorção, passará por um processo de
regeneração para retornar à sua composição na alimentação da coluna. Este processo é
favorecido à proporção que se têm temperaturas mais altas, como pode ser observado na
Figura 3(c), onde T_reg e Y_TEG_conc são a temperatura da corrente de TEG a ser
regenerado e a composição do TEG após a coluna regeneradora, respectivamente.
Portanto, caso a coluna absorvedora seja operada a uma temperatura demasiadamente
reduzida, far-se-á necessário um aumento na demanda térmica dos trocadores de calor da
regeneração, o que pode resultar em um aumento dos custos operacionais.

Figura 3 – Análise das variáveis: pressão de entrada (a), temperatura de entrada (b) e
temperatura de regeneração(c).

Como já discutido, para alcançar uma composição mássica de 99,5%, o TEG, após
sair da coluna regeneradora, precisa passar ainda por uma coluna de stripping. O gás de
stripping, neste caso, é o gás natural que, ao entrar em contato com a corrente de TEG na
coluna, arrasta parte da água remanescente desta e, juntamente com o aquecedor de fundo,
aumentam a concentração do glicol. Conhecendo-se o princípio da coluna de stripping,
foi feito um estudo de como a vazão do gás influencia na composição da corrente
regenerada e o resultado é apresentado na Figura 4 (d). Nesta, não é observada variação
significativa na composição de TEG (Y_TEG_reg) com o aumento da vazão do gás de
stripping (F_stripping). Um efeito mais pronunciado pode ser visualizado a partir da
vazão igual a 90 kg/h. A composição é estável em uma grande faixa de vazões, de modo
que variações desta não teriam grandes implicações no processo. No entanto, é importante
manter uma vazão relativamente baixa, pois esta é relacionada diretamente com as
emissões atmosféricas geradas pela planta. Este é um dos grandes problemas dos
processos de desidratação que se vem tentando minimizar, devido aos danos causados ao
meio ambiente.
Considerando-se a problemática das emissões atmosféricas, outra variável
relevante a ser estudada é a vazão de circulação de TEG. O metano e o octano foram
utilizados para exemplificar a absorção de compostos orgânicos por este solvente. Estes
compostos são parte aproveitada no processo e parte liberados para a atmosfera, na coluna
de regeneração. Como pode ser visto na Figura 4(e), ocorre maior emissão de orgânicos,
à proporção que a vazão de solvente é elevada.

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Por fim, desejou-se analisar como a variação da composição da corrente de TEG
pode afetar o conteúdo de água do gás de venda. O resultado deste estudo é ilustrado na
Figura 4(f). Nesta, se pode notar que o aumento da concentração de TEG reduz a
quantidade de água no gás de venda. Isso ocorre devido ao fato de que, quanto mais
concentrado a corrente de TEG, maior a absorção na coluna e, consequentemente, menor
o conteúdo de água no gás.

Figura 4 – Análise das variáveis: vazão de stripping (d), vazão de TEG (e) e
composição de TEG (f).

6. CONCLUSÕES
Conhecer como e quanto uma mudança em determinada variável pode afetar a
saída do processo torna-se indispensável para uma boa eficiência de produção. Uma das
formas de obter maiores informações a respeito do processo é através de simulações, que
possibilitam um conhecimento mais aprofundado do sistema e das variáveis que o
influenciam. Pensando nisso, o presente trabalho propôs investigar um processo de
desidratação de gás natural, através da predição da formação de hidratos e da realização
de uma análise paramétrica das principais variáveis envolvidas no processo. Para isso,
uma unidade industrial de gás foi modelada e simulada no estado estacionário com o
auxílio do software UniSim® Design. Os resultados demonstram um efeito negativo no
conteúdo de água e na temperatura do gás de venda ao serem elevadas a pressão de
absorção e a composição de trietilenoglicol (TEG). O aumento da temperatura de
absorção contribuiu de modo positivo no teor de água do gás de venda. Este efeito
também foi verificado ao se variar a temperatura da alimentação da coluna de regeneração
na composição da corrente de saída desta coluna. A vazão do gás de stripping
praticamente não exerceu influência sobre a composição de TEG. Foi verificado ainda
que o aumento na vazão de TEG implica a elevação das emissões atmosféricas. Em
trabalho futuro será apresentada a influência da incerteza dos parâmetros do modelo na
avaliação do processo, sua eficiência e confiabilidade.
7. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico), à FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos); à empresa
AUTOMIND (Automação Industrial), pelo suporte financeiro concedido para realização
deste trabalho; e a Honeywell pela cessão do software UniSim® Design.

8. REFERÊNCIAS

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