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1/30/24, 6:23 PM Oriente Médio: quais as principais alianças entre países envolvidos nos conflitos - BBC News Brasil

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Quais as principais alianças de


poder entre países envolvidos
nos conflitos do Oriente Médio

REUTERS

Na política internacional, a dinastia Al Thani do Qatar segue uma estratégia clara para se estabelecer
como ator importante de mediação em conflitos regionais

José Carlos Cueto


Da BBC News Mundo
@josecarloscueto

29 janeiro 2024

https://www.bbc.com/portuguese/articles/c3g0wy0qr9xo 1/12
1/30/24, 6:23 PM Oriente Médio: quais as principais alianças entre países envolvidos nos conflitos - BBC News Brasil

A guerra entre Israel e o Hamas deu início a um dos tempos mais turbulentos da história
recente do Oriente Médio.

Além do conflito, a região foi abalada nas últimas semanas por confrontos entre Israel e
Hezbollah no Líbano; ataques entre forças ocidentais e rebeldes houthi no Iêmen; operações
do Irã contra alvos no Iraque, na Síria e no Paquistão; e ataques de outras milícias pró-Irã
contra alvos dos EUA, de Israel e dos seus aliados.

Essas múltiplas fontes de violência alimentam o receio de uma guerra maior no Oriente
Médio e afetam as tradicionais alianças de poder regionais.

Existe uma rivalidade entre o Estado de Israel e o mundo árabe. Mas há também uma divisão
religiosa entre os xiitas — tradicionalmente representados pelo Irã — e os sunitas — cuja
potência maior é a Arábia Saudita.

Essas duas rivalidades são duas constantes no quebra-cabeça no Oriente Médio.

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O que está por trás da genialidade em crianças

Especialistas consultados pela BBC News Mundo (serviço de notícias em espanhol da BBC)
dizem que a região tem sido afetada menos por questões de diferenças de fé e mais por
alianças políticas e militares temporárias.

Irã e grupos armados não-estatais

GETTY IMAGES

Irã e Arábia Saudita são as duas grandes potências atuais do mundo muçulmano

O Irã despertou preocupação na comunidade internacional quando, em apenas três dias, de


15 a 17 de janeiro, atacou alvos em três países diferentes: Iraque, Síria e Paquistão.

Embora as ações do Irã tenham sido contra alvos específicos, como uma suposta base de
inteligência israelense no Iraque e grupos islâmicos rivais no caso da Síria e do Paquistão, os
especialistas atribuíram os ataques ao interesse iraniano em mostrar força em tempos
turbulentos.

Teerã repete que não quer se envolver em um grande conflito, embora nas últimas semanas o
seu chamado "eixo de resistência" tenha sido bastante ativo.

O eixo é formado por grupos armados como o Hezbollah no Líbano; milícias xiitas no Iraque,
Afeganistão e Paquistão; o Hamas e outros grupos militantes nos territórios palestinos e os
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rebeldes houthi no Iêmen.

O serviço persa da BBC descreve a ideologia


como "notoriamente antiamericana e anti-
Israel".

Todos, em maior ou menor grau, atacaram


alvos israelenses ou aliados desde o início da
guerra em Gaza, em outubro.

Haizam Amirah-Fernández, especialista em


Oriente Médio do Elcano Royal Institute, um
think tank baseado na Espanha, disse à BBC
Mundo que "as alianças do Irã com o seu 'eixo
de resistência' são das mais estáveis e
duradouras da região". BBC Lê

"As alianças entre o Irã e estes grupos são um Podcast traz áudios com reportagens
selecionadas.
produto da revolução iraniana de 1979 e
funcionam como uma forma de exportar o seu Episódios
modelo e promover seus propósitos políticos",
diz Lina Khatib, diretora do SOAS Middle East
Institute, com sede em Londres.

Segundo especialistas, estes grupos surgiram do descontentamento com a realidade política


dos seus países — e o Irã aproveita esse sentimento para expandir a sua influência regional.

Em artigo publicado em 2020 pela BBC, Kayvan Hosseini, jornalista do serviço da BBC em
persa, afirmou que todos estes grupos recebem "apoio logístico, econômico e ideológico” do
Irã.

Michael Kugelman, diretor de Sul da Ásia no Wilson Center, diz que não se pode ignorar o
papel do sectarismo religioso devido à "proximidade do Irã com os grupos xiitas e dos
sauditas com os sunitas".

Mas, ao mesmo tempo, ele destaca que as rivalidades têm muito mais a ver com uma briga
por poder do que com diferenças religiosas.

Isso explicaria, por exemplo, o apoio iraniano ao Hamas como contrapeso a Israel, apesar de
este grupo militar provir do ramo sunita do Islã.

Ou explicaria, ainda, que dentro dos mesmos grupos há lados diferentes dependendo do
conflito. O Hamas e o Hezbollah apoiaram diferentes frentes na guerra síria, mas ambos
estão unidos no seu objetivo de acabar com Israel.

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Quanto ao "isolamento" do Irã na região — uma referência à falta de alianças com atores
estatais, com exceção do regime de Bashar al Assad na Síria —, os especialistas atribuem a
dois fatores principais.

Primeiro, "porque o modelo de exportação da revolução islâmica foi visto como uma ameaça
pelas dinastias petrolíferas do Golfo e de outros países da região e, segundo, porque o Irã se
considera no direito de ser um ator hegemônico regional ao longo da história, com seu país,
seus recursos, população e herança do império persa", diz Amirah-Fernández.

"E isso vai contra ambições de outros países, especialmente da Arábia Saudita", diz o analista.

O bloco de países árabes liderado pela Arábia


Saudita
A Arábia Saudita realizou muitas ações nos últimos anos para se estabelecer como líder no
mundo árabe.

Há algumas décadas, o centro do mundo árabe estava concentrado no Egito, país que tinha
maior peso demográfico, político e cultural na região.

Mas o poder migrou para os países do Golfo e para a Península Arábica, onde a exploração de
recursos energéticos gerou riqueza abundante que, pouco a pouco, virou influência política.

Primeiro, alguns países pequenos — como os Emirados Árabes Unidos ou o Catar — se


destacaram. Mas em seguida, especialmente com a ascensão de facto ao poder do príncipe
herdeiro Mohammed bin Salman em 2017, "a Arábia Saudita mudou em grande escala dentro
do país e globalmente".

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A transformação da Arábia Saudita acelerou com as ambições de Mohammed bin Salman

"A sua ascensão também foi reforçada pela sua rica economia de hidrocarbonetos e pelo
apoio prestado pelos Estados Unidos durante a presidência de Donald Trump como medida
de pressão contra o Irã", afirma o analista Amirah-Fernández.

Especialistas concordam que a Arábia Saudita é o líder de facto da Liga Árabe, uma
organização regional de 22 países.

"Em geral, embora cada país tenha as suas ambições, até o Egito e a Jordânia se posicionam e
seguem as orientações estabelecidas pelos sauditas", afirma Khatib.

Durante cerca de 40 anos, a Arábia Saudita e o Irã mantiveram uma rivalidade aberta que
alguns especialistas chegaram a descrever como "a nova Guerra Fria no Oriente Médio". Nos
últimos anos, esta situação foi agravada por "guerras por procuração" em vários lugares da
região.

No Iêmen, a Arábia Saudita tem apoiado as forças governamentais na sua guerra contra os
rebeldes houthi desde 2015.

O Irã, acusado pelos seus rivais de apoiar os houthis, negou que envie armas a este grupo,
responsável por orquestrar ataques de mísseis e drones contra cidades e infraestruturas
sauditas.

A Arábia Saudita também acusa o Irã de interferir no Líbano e no Iraque, onde milícias xiitas
acumularam vasta influência política e militar. Além disso, alguns destes grupos foram
responsabilizados por ataques a instalações sauditas.

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Em março de 2023, as relações entre a Arábia Saudita e o Irã entraram em uma nova era ao
restabelecerem os laços diplomáticos e acordos de segurança, comerciais, econômicos e de
investimento em uma negociação mediada pela China.

Isso seria mais um exemplo, como alertam os especialistas consultados pela BBC, da
constante fluidez e complexidade das relações de poder no Oriente Médio.

Catar como mediador

EPA

O ministro das Relações Exteriores do Irã, Hossein Amir-Abdoulahian, reuniu-se com o líder do Hamas,
Ismail Haniyeh, no Catar, no final de dezembro

Khatib e Amirah-Fernández concordam que o Catar faz parte do lado do bloco liderado pelos
sauditas, embora também destaquem o seu papel mediador que o torna um caso peculiar
nos equilíbrios de poder regionais.

Atualmente, os negociadores do Catar desempenham um papel singular como mediadores


entre Israel e o Hamas.

E, durante anos, este país bilionário do Golfo esteve envolvido na reaproximação de países
como Israel ou Irã e grupos políticos muito diferentes daqueles apoiados pelo resto dos seus

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vizinhos — na sua maioria, grupos islâmicos como o próprio Hamas ou a Irmandade


Muçulmana, estes últimos antigos rivais dos sauditas.

Estas abordagens nem sempre foram bem recebidas pelos seus vizinhos.

"Em 2017, o Catar sofreu um embargo de Arábia Saudita, Bahrein, Egito, Emirados Árabes
Unidos, Iêmen e Líbia porque começou a ser visto como uma ameaça devido às suas
ambições políticas", lembra Khatib.

O Catar é um país muito rico, mas pequeno, o que o coloca em uma situação vulnerável que o
leva — como apontou o cientista político Mehran Kamrava no seu livro Qatar: Small State,
Big Politics (Catar: Estado pequeno, grande política, em tradução livre) — a procurar alianças
múltiplas e variadas como forma de preservar a sua segurança e "melhorar a sua estatura e
posição diplomática".

O embargo ao Catar foi eliminado em 2021 e as suas relações com os seus vizinhos,
especialmente a Arábia Saudita, parecem estar em uma boa fase.

É claro, reitera Khatib, que o Catar ainda quer "se estabelecer como um país mais mediador e
conciliador dentro da sua estratégia geopolítica".

Como fica Israel?


Amirah-Fernández define o caso israelense como um exemplo "atípico" de suas alianças na
região. Khatib diz que o país "age de forma independente, sem pertencer a nenhuma aliança
de países".

Israel mantém uma guerra longa e não declarada contra o Irã e outras milícias. As
hostilidades de baixa intensidade se repetem, mas não atingem o ponto de um conflito total
e aberto.

Israel também tem uma relação difícil com seus vizinhos árabes.

Israel — juntamente com Turquia e Irã — é um dos únicos países não árabes no Oriente
Médio, e seu reconhecimento como Estado é limitado na região.

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A guerra de Israel em Gaza aumentou a rejeição do Estado judeu entre os países árabes

De todas as nações árabes, apenas o Egito desde 1979, a Jordânia desde 1994 e os Emirados
Árabes Unidos, Bahrein, Marrocos e Sudão desde 2020 reconhecem o Estado israelense.

Segundo Amirah-Fernández, isso se deve principalmente ao fato de que "Israel continua


sendo visto como ocupante e agressor diante da maioria absoluta das populações árabe-
muçulmanas devido ao seu conflito com os palestinos, aprofundado pela guerra atual em
Gaza".

Pouco antes do início da guerra contra o Hamas, em 7 de outubro de 2023, Israel estava em
negociações para normalizar as relações com a Arábia Saudita, o que teria sido um grande
avanço para o país.

No entanto, dias depois do ataque, foi noticiado que as autoridades sauditas pediram aos
Estados Unidos que paralisassem as negociações.

Os especialistas consultados pela BBC News Mundo consideram difícil que Israel abandone
essa condição "atípica" nas suas alianças e relações se não houver uma solução clara para o
seu conflito com os palestinos.

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