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Resenha Elaborada Por Alberto Ussete, 4⁰ ano, Ciência Política - Laboral

Livro Autonomia e Parceria: Estados e Industrialização no Brasil


Capítulo Estados e Transformação Industrial
Autor Peter Evans
Ano 1979
Referência Eavns, Peter. Autonomia e Parceria: Estados e Industrialização no Brasil ,
1979.

Apresentação do autor da obra: Peter Evans é um sociólogo e cientista político americano, professor emérito
da Universidade da Califórnia, em Berkeley. Ele é conhecido por suas pesquisas sobre desenvolvimento
econômico, relações internacionais e políticas públicas. Um dos trabalhos mais conhecidos de Evans é o livro
“Autonomia e Parceria: Estados e Industrialização no Brasil”, publicado em 1979, no qual ele analisa a relação
entre o Estado e o setor privado na industrialização brasileira. Nessa obra, ele argumenta que o Estado brasileiro
desempenhou um papel fundamental na criação de um ambiente propício ao desenvolvimento da indústria
nacional, ao mesmo tempo em que estabeleceu parcerias com empresas privadas..

Síntese da Obra: Uma forma popular de se ver o Estado é através da comparação com Estados do Terceiro
Mundo, que são de pouca valia. No entanto, o poder do Estado sobre as vidas particulares pode atingir proporções
desconcertantes. Por isso, até que sejam descobertas outras maneiras menos hierarquizadas de evitar uma
sociedade “hobbesiana”, o Estado permanecerá no centro das soluções dos problemas da vida coletiva. Afinal,
sem o Estado, o mercado, a outra instituição-chave da sociedade moderna, não funciona.

As tentativas de desmantelar o Estado ou enfraquecê-lo podem ter consequências penosas. Isso é válido desde o
país mais pobre do Terceiro Mundo ao mais avançado exemplo de bem-estar social capitalista. O ponto em
comum na história do século XX é a influência cada vez maior do Estado como instituição e ator social.
Entretanto, nenhum desses Estados dá o que necessitamos.

Por isso, fazer uma análise sobre o que torna alguns Estados mais eficazes do que outros é fundamental. Isso pode
ter mais utilidade a longo prazo, mesmo que dê menos satisfação imediata. Para estabelecer alguns limites, a
análise do Estado deve focalizar apenas uma das funções do Estado, a de fomentar o crescimento industrial. Além
disso, a discussão empírica deve ser ainda mais específica: o desenvolvimento da indústria local de tecnologias
da informação (TI).

O foco principal da análise deve ser em um grupo particular de Estados: o dos “países recentemente
industrializados”. O objetivo fundamental é compreender as estruturas e o papel do Estado, as relações entre o
Estado e a sociedade, e como os Estados contribuem para o desenvolvimento. Segundo a definição de Weber, os
Estados são “associações compulsórias que reivindicam controle sobre os territórios e sobre as pessoas que neles
vivem”.
Para elaborar uma análise consistente, é necessário destacar os diferentes papéis que o Estado representa. Guerrear
e assegurar a ordem interna são as funções clássicas. No entanto, espera-se também que o Estado fomente a
transformação econômica e garanta níveis mínimos de bem-estar social. Os “realistas” da ciência política nos
dizem que os Estados, como entidades soberanas num mundo anárquico, devem se preocupar acima de tudo com
a questão da sobrevivência militar. Como Gilpin argumenta sucintamente: “O Estado-nação moderno é acima de
tudo uma máquina de fazer guerra, função esta que é produto das exigências de sobrevivência dos cidadãos numa
situação de anarquia internacional”.

As análises históricas esclarecem que a função de fazer guerra, mais do que nenhuma outra, levou à construção
do Estado moderno. A defesa do território nacional é também a função que permite ao Estado se colocar mais
facilmente como o agente universal dos interesses da sociedade. A defesa nacional é uma justificativa para o
monopólio do Estado sobre a violência; evitar o caos interno hobbesiano é outra.

As nações modernas devem ajustar suas aspirações e atividades econômicas de acordo com a divisão global do
trabalho, pois o lugar de cada país na produção para os mercados globais tem profundas implicações na política
interna e no bem-estar de seus cidadãos. A divisão internacional de trabalho pode ser vista tanto como uma base
para a melhoria do bem-estar, quanto como uma hierarquia entre nações. Argumentos a favor da melhoria do
bem-estar são fundamentados na teoria das vantagens comparativas, a qual afirma que todos os países prosperarão
se cada um se concentrar no que puder fazer melhor. As atividades econômicas mais recompensadoras são aquelas
mais compatíveis com a disponibilidade de recursos naturais e com os dons naturais de cada país. Tentar produzir
o que outros países oferecem mais eficientemente só diminuirá o bem-estar de todos.

Embora a teoria das vantagens comparativas defenda que cada país deve se concentrar no que faz melhor, a
questão do posicionamento na divisão internacional de trabalho não é apenas uma consequência, mas também
uma causa do desenvolvimento dos países. Nesse sentido, uma economia global interdependente é um progresso
em relação ao sistema de autarquia, mesmo para aqueles que ocupam nichos menos desejáveis.

Desenvolvimentos recentes nas teorias de comércio internacional sugerem que as taxas de lucro podem diferir
sistemática e persistentemente entre diferentes setores. Dessa forma, preencher um nicho particular na divisão
internacional de trabalho tem implicações tanto dinâmicas quanto estáticas. A conspiração multidimensional de
uma era pode se tornar o setor retardatário de outra. Partindo desta perspectiva, “desenvolvimento” não é mais
apenas uma trajetória local de transformação, mas também definido pela relação entre a capacidade produtiva
local e uma reordenação global de setores industriais. Os países que preenchem os nichos setoriais mais dinâmicos
e lucrativos são considerados “desenvolvidos”.

Aceitar um desenvolvimento nacional inserido numa economia global, na qual algumas posições são mais
dinâmicas e recompensadoras do que outras, nos obriga a levantar uma outra questão: as posições na divisão
internacional de trabalho são estruturalmente determinadas ou há espaço para promover mudanças? Em outras
palavras, os países podem deliberadamente mudar sua posição na divisão internacional de trabalho? A
interpretação tradicional, derivada da teoria das vantagens comparativas, está inexoravelmente do lado da
estrutura. Não importa se tais setores são privilegiados ou estão em desvantagem na economia global, os países
devem fazer o que fazem de melhor. Agir de forma contrária seria autodestrutivo. A divisão internacional de
trabalho se apresenta como um imperativo estrutural.

Os Estados predadores conseguem, às custas da sociedade, refrear deliberadamente o processo de


desenvolvimento, mesmo em sua dimensão mais estreita de acumulação de capital. Os Estados
desenvolvimentistas, por vez, não apenas direcionam a transformação industrial, mas também, como pode ser
argumentado de forma plausível, são em grande parte responsáveis pelo desenvolvimento.

O importante é estabelecer uma conexão entre o impacto do desenvolvimento as características estruturais do


Estado sua organização interna e sua relação com a sociedade. Felizmente, existem diferenças estruturais bem
definidas entre os Estados predadores e os desenvolvimentista. A organização interna dos Estados
desenvolvimentistas assemelha-se mais burocracia weberiana. Recrutamento por mérito, altamente seletivo, e
compensações ao longo de carreiras de longo prazo criam uma situação de compromisso e um sentido de
coerência corporativa.

Um Estado inteiramente autônomo não teria a capacitação suficiente, nem habilidade necessária, para
implementar seus objetivos de forma descentra lizada e privada. Em contrapartida, quando redes muito densas de
interesse não encontram um Estado com estrutura interna robusta, este se torna inca paz de resolver os problemas
de “ação coletiva” e de transcender os interesses individuais de suas contrapartes privadas. Somente quando há
uma combinação entre a incorporação de interesses coletivos e a autonomia um Estado pode ser chamado de
desenvolvimentista. São imprescindíveis tanto autonomia quanto parceria. Esta combinação aparentemente
contraditória entre coerência corporativa e conexão social, que chamo de “autonomia e parceria”, fornece a base
estrutural para uma intervenção favorável do Estado na transformação industrial.

No final dos anos 1960, esses países eram considerados excluídos do setor líder da indústria mundial, mas
conseguiram se tornar produtores de tecnologia da informação. Nos anos 1980, ocorreram mudanças na indústria,
com uma nova ênfase na conexão com a economia global, e uma renovação do relacionamento entre o capital
local e o transnacional. Essa mudança teve implicações contraditórias nas relações entre o Estado e os parceiros
industriais que ajudou a criar, e tornou mais difícil sustentar a velha aliança entre capital local e Estado. As novas
alianças tendiam a tornar as empresas locais meras subsidiárias “de fato”. O texto também menciona a perspectiva
neo-utilitarista, prevalecente nos anos 1980, que acreditava que o envolvimento do Estado na economia levaria à
estagnação econômica.

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