SENHORES DO MEDO SEM FIM

CR ÉDITOS

ESCR ITO POR Alexandre Bezerril, Felipe Headley e Ismael Victor Rodrigues Alves
A RT ES: Felipe Headley

DI AGR A M AÇ ÃO: Marcos Filipe

World of Darkness, Vampire: The Masquerade, Vampire: The Dark Ages, Victorian Age: Vampire, Werewolf: The Apocalypse, Werewolf: The Wild
West, Mage: The Ascension, Mage: The Sorcerers Crusade, Wraith: The Oblivion, Wraith: The Great War, Changeling: The Dreaming, Hunter: The
Reckoning, Demon: The Fallen, Mummy: The Resurrection, Orpheus, Exalted, Chronicles of Darkness, Vampire:The Requiem, Werewolf: The Forsaken,

Um Livro de Referência para Mage: The Awakening, Changeling: The Lost, Hunter: The Vigil, Geist: The Sin Eaters, Demon: The Descent, Mummy: The Curse, Beast: The Primordial,
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São Paulo by Night Copyright© 2022 Paradox Interactive AB (publ). All rights reserved.
 SUMÁRIO Toreador
Gangrel
102
102
Ministério 103
Tremere, Tzimisce e Ventrue 103
Sangue Ralos e Caitiff 103
Visão dos Sectos e Organizações 104
Sumário 8 Fome e Predador 63 Personagens 105
Objetivo do Livro 11 Habilidades 63 Sophia Ibnat Farhat 106
Conselhos para jogos responsáveis 12 Disciplinas 63 Suleiman Ibn Abdulah 109
Tema e Clima 12 Antecedentes 64 Mubarak Praveen 110
O xadrez dos Anciãos 13 Exemplos de Anciãos 66 Maryam Hafsa 111
Reinado em Sangue 66 Doha by Night 112
O Ópio das Massas 68 Tema e Clima 112
O QUE FAZEMOS NAS Guerras seculares 71 Breve História de Doha 113
SOMBRAS 15 No olho do abismo 76 Geografia de Doha 115
Mártir de Caim 16 O Âmago do Planeta 78 Sugestões de Crônicas em Doha 115
Notas de reunião 21
O Chamado 28
A minha habitação 30 OÁSIS DE SANGUE A ILLUMINAE 117
Velhas mentiras para novas ASHIRRA 81 A Fundação da República 120
gerações 31 As Leis de Haqim 85 Iluminando a Noite - A Não Vida
Justificados pelo Medo 31 As Noites Atuais 86 de um Illuminae 121
Não sou como eles, mas posso Breve história da Ashirra 89
fingir 32 Organização e Cultura 92
Inconnu: A Incógnita 34 Organização 92 FICHAS DE
Cultura 94 CONHECIMENTO 126
Os Clãs na Ashirra 98 AGRADECIMENTOS E
EM NOME DO MEDO 37 Banu Haqim 98 REFERÊNCIAS 134
O Jogo com Anciãos 38 Salubri 99
O Medo Ancestral 38 Malkavianos 99
Mecânica do Temor 40 Ravnos 99
Disciplinas, antecedentes e Brujah 99
características de Anciãos 62 Nosferatu 100
Humanidade 62 Lasombra 101
Coterie 63 Hecata 102
Introdução SENHORES DO MEDO SEM FIM

“Se as portas da percepção fossem limpas, todas as coisas se mostrariam ao

Homem como elas são: Infinitas”.
−WILLIAM BLAKE - O CASAMENTO DO CÉU E DO INFERNO

Objetivo do Livro de Anciãos no mundo moderno, descrito no

O objetivo deste livro é apresentar soluções,
narrativas e mecânicas para que jogadores e
narradores de Vampiro - A Máscara possam
utilizar Vampiros anciãos em suas mesas da 5ª
edição do jogo.
Para tal, este suplemento está organizado
em cinco capítulos, incluindo, além desta
Introdução, considerações sobre o Chamado
e suas possíveis explicações, o estado atual
capítulo “O que fazemos nas sombras?”, a
introdução da mecânica do Temor, que substitui
a Humanidade dos Vampiros anciãos, no capítulo
“Em nome do medo”, exemplos de personagens
e poderes únicos de Anciãos , o atual estado da
Ashirra no capítulo intitulado “Oásis de Sangue -
A Ashirra”, e um novo secto criado formalmente
por Anciãos nas noites recentes, no capítulo
“Illuminae”.

10 11
Introdução
Conselhos para
jogos responsáveis
Não deixe de ler os conselhos para jogos
responsáveis no livro principal da quinta edição
de Vampiro a Máscara, antes de ler esse material
ou usá-lo em jogos, visto que ali se encontra
praticamente tudo para utilizar o material desta
obra, incluindo esse livro, de maneira saudável e
respeitosa.
Os temas tratados nesse livro podem
envolver violência, sexo, uso de drogas legais e
ilegais, e tópicos controversos como suicídio,
tortura e abuso. Logo, a obra é recomendada
exclusivamente para maiores de idade e leitores
maduros. Trate de tais tópicos com a devida
discrição, e pule qualquer seção que cause
desconforto em você ou nos envolvidos em
seus jogos. A sua saúde mental e a de seus
companheiros de jogo é primordial para garantir
momentos agradáveis de lazer e diversão.
Recomendamos sempre a realização de uma
sessão zero, para abordar quais temas causam
algum desconforto nos envolvidos, caso haja, e
deixar combinado não utilizá-los em jogo.
Sempre importante lembrar: nazismo,
fascismo, intolerância e ódio de qualquer espécie
e dirigido a qualquer grupo da sociedade não
têm lugar no RPG. A equipe autoral deste
material se posiciona absolutamente contrária a
essas visões que tanto prejudicam nosso mundo.
Se você compactua com tais valores nefastos,
procure ajuda profissional. Esse livro não é para
você.
Tome as rédeas do Mundo das Trevas, e
supere seu temor, se você conseguir…
Bom proveito, Senhoras e Senhores do Medo
Sem Fim!
12
Tema e Clima
O tema deste livro se baseia principalmente
nos sentimentos de medo e solidão; não apenas
o medo que os Anciãos inspiram nos cainitas
e humanos, mas em seu próprio e particular
medo, que envolve, principalmente, aquilo que
os reveste e os conduz. O medo de não ser mais
relevante no mundo atual, de não deixar um
legado de suas ações ou deixar um legado oposto
e destoante de suas visões, crenças e valores; o
medo de ser exterminado por seus pares ou até
mesmo por aqueles que o servem, e da solidão
que suas existências seculares lhes trazem.
Após ter vivenciado o desaparecimento de
seus entes queridos, de civilizações, costumes e
de muitas coisas que eles valorizaram ao longo
dos séculos, o fim é apenas sangue e morte.
Um Ancião contempla o mundo de uma
maneira única, tem objetivos e agendas muitas
vezes de difícil compreensão para aqueles ao seu
redor, e precisa ter os olhos no futuro distante,
ao mesmo tempo em que resiste contra sua besta,
a fraqueza alienígena que o assola há séculos,
um conflito do qual ele mesmo duvida que sairá
vencedor, ainda assim persiste com a resiliência
de uma criatura que muitos acreditam ser apenas
legendária. Conflito este contra seus próprios
impulsos sombrios, sua natureza e a própria
natureza do mundo.
Em relação ao clima do livro, este suplemento
aprofunda e potencializa o terror político de
Vampiro a Máscara e poderá acrescentar uma
camada ao horror pessoal experimentado pelos
Anciãos, adicionando perspectivas únicas,
numa escala épica para o Mundo das Trevas.
Este material poderá ajudar a criar um ou
vários intrincados perfeitos para fugir do que
é o padrão na 5ª edição de Vampiro a Máscara,
abrindo novas possibilidades de jogo.
SENHORES DO MEDO SEM FIM
O xadrez dos contra eles, os Anciãos irão colocar em prática
todos os seus planos para destruir estes inimigos,
Anciãos para prosseguir em continuidade à criação de um
mundo à sua própria imagem e semelhança? Ou
irão abraçar a transformação completa?
Governar os de sangue mais ralo, os perdidos, O seu personagem Ancião irá governar da
os confusos, os sem-clã, os sem uma identidade mais densa sombra, influenciar autoridades,
definida, sem qualquer sombra de noites futuras, sectos e grupos, e sussurrará através das novas
os mais carentes. Esta parece ser a tarefa mais estruturas de poder estabelecidas, sem atrair a
difícil para os Antigos, governar os mais jovens, atenção para si.
e especialmente estes que se aglomeram na Enquanto seus planos são desenvolvidos
penumbra das grandes cidades e se lançam e executados, seu Ancião precisará manter
sobre os Ancillae e Neófitos, crianças que se seu Temor sob controle, caso contrário
canibalizam e procuram respostas, respostas colocará séculos de planejamento a
que acabam em sangue e morte-final. Os perder, em poucas noites. ◼
Crepusculares que pedem socorro, não são nada
além do reflexo distorcido de seus senhores.
Eles mesmos não sabem o que fazem. Por
isto, enquanto suas veias estremecem e eles se
perguntam a que lugar pertencem, os Anciãos
planejam, deixando-os acreditar e flutuar na
onda desta “nova ordem”, enquanto os antigos
engendram um novo ciclo.
Uma nova história, contada sob uma nova
perspectiva. Há quem acredite que os Antigos,
de tão anacrônicos, já não podem mais pertencer
a este mundo, já não conseguem mais adaptar-se,
entretanto, estes estão fatalmente enganados.
A história deste mundo é cíclica, os Anciãos
aprenderam a engendrar planos, a escamotear
intenções profundas, a transferir suas vontades
e, principalmente, a esperar, deixar passar o
momento das novas gerações que questionam
o que está estabelecido. Esperar o momento
em que os mais jovens buscam destronar seus
regentes, o momento de incitar outros a segui-
los por “liberdade” e por um novo modelo de
“governo”, mesmo que não haja um novo modelo.
Me deixe saber, isto é realmente diferente de
tudo o que já foi feito antes? Nestes tempos de
Sangue-Ralos, em que as profecias testemunham
13
O que fazemos na noite SENHORES DO MEDO SEM FIM

“In my eyes, indisposed

In disguises no one knows
Hides the face, lies the snake
And the sun in my disgrace ”.
−BLACK HOLE SUN - SOUNDGARDEN

14 15

Mártir de Caim
Idlib, Noroeste da Síria.
Eu não sei quanto mais dor, miséria
e tragédia conseguirei aguentar.
Enquanto escrevo essas notas, estou no
limite do meu limite.
Por meses, senão anos, acordamos
ao som de rajadas de metralhadoras,
bombardeios e terremotos. Talvez o
último legado que poderia deixar para
Fatme, minha amada filha, e Iman,
minha querida esposa, serão essas
notas sobre tudo que se passou comigo.
Vocês não sabem o quanto sinto a falta
de vocês duas, os sorrisos em nosso
lar, mesmo as noites sem dormir com
Fatme no meu colo… A dor me destrói
o coração, mais que os tiros, mais que
as bombas, mais que ter visto nossos
animais morrerem de fome, dia após
dia, e, recentemente, noite após noite.
Após os últimos bombardeios, eu e
meus “companheiros de doença", como
tenho me referido àqueles que sofreram
os abusos do capitão foragido de nosso
exército, fomos enviados a uma missão
de investigar o local, onde apenas
eu sobrevivi. Nem mesmo o maldito
Ahmed, aquele que nos causou essa
doença que nos enfraquece no sol e nos
obriga a beber o sangue uns dos outros
e de animais, conseguiu sair vivo. Se é
que estamos vivos.
Ahmed nos disse que a missão seria
descer nos escombros de antigos túneis
“da resistência”, e atear fogo em tudo.
Equipamentos, artefatos antigos, não
interessava. Estávamos proibidos de
tirar qualquer coisa que fosse de lá,
viva, morta, valiosa ou até mesmo
sacra, e ele mesmo se certificaria disso,
indo conosco ao local.
Ahmed cuidou da parte burocrática
com o exército e a polícia local, e
iniciamos nossa descida dentro do lugar
mais profano que eu já vi em toda
minha vida. Eu tremo e posso sentir o
que seria, antigamente, algum tipo de
suor e calafrio ao me lembrar dessa
noite amaldiçoada. Como eu queria
nunca ter entrado naquele lugar.
A escuridão era absoluta apenas
alguns metros embaixo da terra. O
cheiro de putrefação aumentava cada
vez mais que andávamos por aqueles
túneis, que se pareciam com trincheiras
e abrigos mal construídos, recentes.
De fato o que sentíamos começou a
afligir os mais fracos de estômago,
principalmente alguns que não tinham
a nossa doença de sangue. Alguns
vomitaram e foram motivo de piada,
principalmente porque Ahmed e os
demais companheiros doentes estavam
suportando bem a situação. O cheiro
era só um presságio do que estava por
vir.
Em determinado momento, Ahmed
se cortou em um pedaço de escombro,
acidentalmente, encostando-se em
uma parede que parecia ser o ponto
final de nossa jornada inútil. Nenhum
corpo, apesar do evidente cheiro de
sangue velho e putrefação. Sequer
algum animal. A fundação da estrutura
de rocha se abriu, de forma abrupta,
revelando o que pareciam ser ruínas
antigas, mais antigas que o Islã.
Conheço pouquíssimo de história, por
não ter tido a oportunidade de concluir
meus estudos, mas aquilo com certeza
remetia a uma civilização antiga, não
sei se pré-histórica ou da era do bronze.
Nossos ancestrais milenares, pagãos.
Um dos saudáveis se recusou
a continuar seguindo jornada,
apenas para ser executado com um
tiro de pistola por Ahmed, devido à
insubordinação. Os demais, nada mais
responderam, conhecendo a crueldade
do capitão, e que ele seria capaz de
matar novamente. As denúncias contra
ele poderiam ser feitas depois, se é que
seriam ouvidas.
Neste momento, parecia que
estávamos, literalmente, entrando
em outro planeta. Um mundo isolado
do mundo da superfície. Símbolos
estranhos nas paredes, chamas apagadas
recentemente. Resquícios de sangue
fresco no chão, finalmente. Alguns
animais mortos de maneira grotesca
ao longo do caminho, aparentemente
torturados por um sádico ao ponto
de seus cadáveres estarem totalmente
desfigurados. Se ratos grandes, gatos ou
cães, era impossível identificar. Que tipo
de pessoas desgraçadas fariam isso? A
atmosfera do lugar, que já me enojou,
começou a me causar revolta e raiva.
Realmente essa seita ou esses terroristas
estrangeiros que estavam ali mereciam
morrer por tamanho desrespeito à
criação. Infiéis, vis.
Após mais de três horas caminhando
no escuro, sempre em direção a um poço
sem fundo, o abominável. Percebemos
que era o fim da linha ao pisar no chão
e perceber que estava encharcado de
sangue, como se fosse um poço artesiano,
mas de puro-sangue. Os doentes,
inclusive eu, foram tomados por uma
fome e um sentimento de agressividade
primitivo, bestial, e começaram a beber
do chão como animais. Os sadios foram
todos atacados por Ahmed, que bebeu
diretamente de suas gargantas como
uma hiena despedaçando carniça. Não
me lembro muito bem do que sucedeu,
mas até mesmo alguns dos doentes
sucumbiram.
 Dentre o esquadrão, eu e mais três,
incluindo Ahmed, nos controlamos
após esse episódio de possessão, com
nossas naturezas doentias saciadas.
O restante se perdeu ali, afogado em
sangue, vísceras, eu não sei descrever
o que era aquele templo profano
e diabólico. As próprias paredes
pareciam que tinham estômagos,
ouvidos, bocas, dentes, órgãos internos
e genitálias se retorcendo de forma
grotesca, como se todo o ambiente se
revoltasse e se torturasse.
Meus olhos não queriam acreditar
no que viam, mas nem nas piores
fomes que já tive, mesmo antes
de doente, nunca tive esse tipo de
alucinação. Minha mente se recusava
a crer no que eu mesmo presenciava,
como se eu estivesse dentro de um
pesadelo sem fim, querendo gritar, mas
sem voz, querendo correr, mas sem
forças. Aquele lugar queria devorar a
todos nós. Nunca mais sairíamos dali,
era tudo que conseguia pensar.
Foi quando eu olhei para o fundo
da sala, em uma longa parede com
colunas revestidas pelo mesmo
material nojento e viscoso de vísceras
e carne, que vi uma figura humanóide,
aparentemente sobrenatural, agarrada
a tudo aquilo, com seus braços e tronco
agarrados à estrutura de todo o lugar.
A figura aparentemente não sofria,
com braços e asas de carne presas ao
local, ambos com extensão muito além
do humano ou do animal. Apesar do
enorme medo e terror que sentia, de
alguma forma olhar para aquilo me
deu conforto. Não deveria dizer isso,
mas aquela visão era linda. Linda
como um anjo do inferno. Um djinn.
Não sei explicar, mas fiquei fascinado,
por quanto tempo, não sei. Bocas com
dentes cobriam seu corpo, suas pernas
pareciam um único membro, assim
como uma sereia ou uma serpente,
assexuado. Suas bocas não faziam
som algum, apenas deixavam escorrer
sangue e excrescências humanas, mas
parecia que eu ouvia a mais linda
sinfonia de minha vida. Um som sacro,
demoníaco, invadiu minha consciência,
por quanto tempo, não consigo me
lembrar.
Eu estava diante do Anjo de Caim.
Porque Caim, porque Anjo, eu não
sei dizer. Eu tenho que me lembrar…
A sinfonia marcou minha mente com
isso. Enquanto todos os membros do
esquadrão que estavam comigo eram
deformados, torturados e dilacerados
por aquele salão, me pedindo ajuda,
parecia que estavam há quilômetros de
distância de mim, enquanto a sinfonia
acariciava meus pensamentos e me
dava conforto, iluminação, algo similar
a orgasmos e um pouco de dor. Mas
nada me tocava, além do sangue no
chão que já havia encharcado minhas
botas e minhas pernas, à altura dos
joelhos. Todo o lugar parecia se
sintonizar comigo, enquanto o Anjo
preso à parede não demonstrava, em
seu rosto, qualquer expressão, ou
qualquer movimento, como se fosse
um lindo mármore humano e vivo.
Aos poucos seus longos cabelos e
feições finas, como os de uma mulher,
retornam à minha lembrança… Seus
lábios eram lascivos, sensuais, sua
pele era macia, mas gélida, mesmo à
distância, como o frio de uma noite no
deserto mais profundo e obscuro.
Eu não sei porque eu não morri
naquele momento, mas eu desejei
morrer. Eu desejei me fundir àquele
monstro por toda a eternidade. Iman,
me perdoe, Alá, me perdoe, mas eu
desejei. E como eu desejei. Mas o anjo
tinha uma mensagem pra mim: Eu Oriente Médio, e sigo sempre a estrela
vivo. E eu voltarei em breve. Eles não do sul, me alimentando como posso,
terão o meu sangue, eles não terão me escondendo como posso, para trazer
minha essência, nunca. Contemple a as novas do Anjo… e adorá-lo por toda
volta do Demônio cainita mais temido a eternidade, ou conseguir ajuda para
de todos os tempos. Contemple… uma destruí-lo. O que acontecerá comigo,
alma é apenas um punhado de argila, não sei mais. Mas seu nome precisa ser
para ser deformado entre meus dedos. dito, para que ouvidos ouçam. Anjo de
Contemple minha mais gloriosa obra, Caim. Eu preciso tirá-lo de dentro de
a semente do antediluviano, eu sou sua mim, ou me tornar parte dele de uma
mãe, eu sou seu pai, eu sou a Mártir. vez por todas.
Era demais pra mim. Eu desfaleci Me deixe!!! Chega!!! Eu não aguento
enquanto o anjo se misturava à mais!!! Fatme… Perdoe seu pai. Espero
estrutura da câmara, em uma dança que você nunca ouça esse nome! E
extasiante, excitante, sensual, macabra se o ouvir, não o procure! Fujam… E
e diabólica. Eram tantos movimentos, não voltem nunca mais. Acho que eu
tantas sensações, tanta dor e tortura… mesmo, nunca voltarei. Não voltarei
Minha mente… minha mente parece a ser como eu era antes. Não poderei
querer explodir de tanta dor ao tentar mais voltar...
reviver as sensações. Nunca mais Faiz Kamal Al Gazzah, 2021, supostamente
conseguirei sentir o que senti, todos Sangue Ralo. Nota interceptada por um
os nervos de meu corpo, minhas Ductus do Sabá durante batalha da Gehenna
memórias e pesadelos, as melhores e no Oriente Médio, localidade incerta.
os piores… Acordei faminto há muitos
quilômetros de distância, e sabia que
nunca mais poderia retornar à minha
terra natal. Assim que chegar a algum
lugar, irei fazer o upload desse texto
a algum computador. Um mau terrível
está diante do mundo, aparentemente
adormecido há séculos, milênios, antes
da existência humana. Seria o anjo, um
deus?
Eu só consigo pensar nisso. Quero
fugir aos confins do mundo, mas ao
mesmo tempo preciso sentir aquelas
brutais carícias novamente. Todas as
noites aparentam ser as últimas. E eu
queria que fossem. Desde aquela noite,
eu queria que fosse.
Eu vivo pelo medo. Nada mais me
mantém nesse mundo, além do terrível
assombro, do qual aparentemente
apenas eu sei, vagamente explicar.
Espero encontrar outros doentes no
Notas de reunião
A última reunião em Hunedoara pode ter sido considerada um
sucesso. A aliança com a Ashirra nos garantirá sobrevivência contra a
Segunda Inquisição por muito tempo, bem como utilizá-la como massa de
manobra contra qualquer um que atente contra os objetivos do Senado.
Que bom que chegamos a um acordo até mesmo com Alamut.
Não vou mais visitar o Oriente Médio com tanta frequência, não
vejo mais necessidade nisso. Os nossos que estão lá, agora estarão bem
protegidos, apesar da máscara de fragilidade e das peregrinações dos mais
jovens, convocados por alguns de nós.
Para ser sincero, minha grande preocupação não era nem tanto a
Inquisição, já sobrevivemos muitas vezes a esses insetos que picam e
incomodam. Me preocupa, de fato, um novo evento como 1999, cujo efeito
espiritual ainda consigo sentir. É de absoluta importância evitarmos um
novo antediluviano caminhando por aí com magos despejando bombas
nucleares em sua cabeça. Não deviam mais se preocupar conosco, deviam
fingir que não existimos.
As tumbas dos demais estão mapeadas, pelo que nos disseram. Houve
garantias, mas o assunto foi tratado com uma velocidade e relevância
inadequadas em nossa pauta, e sabe se lá quando poderemos nos reunir
novamente. Daqui a cinquenta ou cem anos, só a urgência dirá…
Eu tomo notas desses encontros para que minha memória não venha a
falhar, e para compilações que um dia serão relevantes àqueles que derem
continuidade ao meu legado.
Ravandra
Uma carta a meus descendentes
Um dos meus filhos me perguntou, algumas noites atrás: o que é ser um
ancião, ter seu conhecimento, uma não vida tão longa?
Uma pergunta que, por mais que tenha ouvindo várias vezes, nessa noite
específica, me marcou e inflamou meu sangue. Pois bem. O que é um ser
milenar?
Para começar, como imaginam, estamos longe de ser deuses. Somos como
vocês, mas com centenas de anos de idade. Um ancião acumula poder,
mas também acumula falhas, inimigos, dívidas. Alguns morrem, outros
acumulam juros imensuráveis. Quem aguenta esse peso? Nós aguentamos.
Ou quase isso.
Para sobreviver a séculos, vocês sabem o imenso esforço que é necessário.
Devemos resistir ao nosso temor, noite após noite. Para ser sincero, um
ancião não é nada sem sua equipe. Seus servos, suas crias, seu mito.
Vocês, neófitos, nos fazem viver. E nós damos motivos para vocês viverem
suas não-vidas.
Nós somos uma religião.
O Sabá quer nos matar. A Camarilla quer nos idolatrar como santos. O que
somos? Mais antigos que os dois. A Ashirra… Muitos deles estão entre
nós. E aquilo que os neófitos não compreendem, é uma ameaça.
Eu vi a história escrita nascer. Os primeiros sinais escritos. O
nascimento da civilização. Mas eu não me lembro tão bem assim...
Precisamos constantemente nos adaptar. Nosso sangue é espesso, fica
mais ralo, nos alimentamos muito, temos nossas fraquezas, nossos planos,
nossos filhos e filhas.
O que queremos? Como pensamos? Pelo menos, no final, que a humanidade
não nos abandone. Ou, melhor dizendo, nosso maior temor é que isso
aconteça…
As trilhas, as filosofias, as falhas. Temos falhas. Não somos deuses, não!
Temos apenas a experiência de civilizações e milhões de humanos.
Somos como estrelas. Muitas se apagaram, mas propagam seu brilho pelo
que parece ser uma eternidade. Já apagamos, mas a sociedade humana
e vampírica vivem sob o nosso brilho. Sob a certeza de que ainda
existimos, e se norteiam por nossa luz. Ó, pobres de vocês! Será que a luz
de nossa existência apagada na escuridão do vácuo durará para sempre?
Esperamos que sim. Nossa existência não é à toa. Não pode ser.
Além de nós, Lilith, Caim, a Velha, deuses... Tot, Aiwass, Nimrod, eles
caminham entre nós! Não temam o sangue. Busquem o velho caminho. E
se puder... a madrugada antes da revelação... final... fim dos tempos...
busquem
(Tinta interrompida, fragmentos ilegíveis, tentativa de tradução em
sânscrito incompleta).
 Sal e Lágrimas
Uma noite úmida e quente do verão de Lisboa, com certeza, daquelas onde os jovens de toda a
Europa se aglomeram entupindo o Bairro Alto e as Docas em busca de prazeres e diversão, e nós…
em busca da doce ressonância de seu sangue, em busca de sentir o que não sentimos mais há tantos e
tantos anos…
Saí rapidamente de meu abrigo, arrumando o cabelo, ou melhor, desarrumando-o casualmente,
e colocando um vestido verde-claro estampado por flores de verão. Era o mais próximo de uma
roupa casual e diurna no meu armário, após décadas sem ver a luz do sol. Para nós, do clã das rosas,
tudo tem um significado. E eu sei que Stella, com quem me encontraria, sabia captar isso muito
bem. As flores, o tom diurno, o tom de pele fingindo vivacidade e escondendo a palidez, truque sem
o qual nós nunca deixamos nossos abrigos. O clã Toreador vinha em paz ouvir o que tudo aquilo
significava…
Apanhei um táxi de meu pequeno apartamento, na Liberdade, até o Cairo, bar especializado
em vinhos finos e champagnes onde lisboetas descolados e de alta sociedade fingiam se misturar ao
povo do Bairro Alto. O local é um Elísio (embora os anarquistas não gostem de manter esse nome)
liderado por Ayisha, a Tremere da Casa Carna que quer ser enxergada cada vez mais como uma
Harpia anarquista (e que tentaria me matar por definir mais uma alcunha da Camarilla a ela).
Entre as paredes de pedra e luzes baixas, após as mesas de jantar e na área de dança,
centralizada por um DJ tocando um set de rock da década de 90, lá estava Stella, a ministra. Roupas
totalmente pretas, em couro, cabelos vermelhos tingidos, coturnos impecavelmente brilhantes, tanto
quanto sua pele amendoada, mesmo na parte mais escura do pequeno e apertado salão, por onde
tantas ressonâncias deliciosas se movimentavam, espalhando seus odores adocicados, em tons de
café, charutos, couro e mel…
Stella acenou pra mim, e, ao chegar, estranhamente me abraçou, com uma mão em minha
cintura e outra em minha nuca. Nunca me senti tão desconfortável em minha não-vida do que no
momento em que aquela víbora colocou suas mãos em mim, no escuro, daquela maneira.
- O que tenho a dizer não pode de forma alguma ser ouvido ou interpretado por leitura labial,
por isso finja que somos um casal. Vou precisar sussurrar tudo em seu ouvido, e você vai sorrir e
fingir estar gostando. Só não entre demais no personagem… disse Stella, com uma risada irônica e
um tanto macabra.
Sorri, e dei um beijo em seus lábios gelados, um beijo breve, como se estivesse reencontrando
uma namorada com a qual já estivesse há muitos anos. Um beijo afrontoso, como uma jogada
de xadrez, a dizer que se ela iria intimidar, também seria intimidada a fazer parte desse papel
desagradável, e teria que fazê-lo bem.
Enquanto o DJ tocava Losing My Religion, e o coro do Cairo engrossava as vozes ao som do
popular hit, Stella prosseguiu:
- Enfim, notícias graves. Sem me demorar muito, a Ashirra “is coming to town”. Eles vêm
firmes, depois do acordo deles com a Camarilla, e pretendem retomar dos anarquistas vários
territórios perdidos. Lisboa é a porta de entrada da Europa.
Eu sorri, mostrando um pouco as presas, e passei as mãos pelos cabelos, rosto e pescoço de
Stella, respondendo:
-Você sabe que meu senhor ainda está com a Camarilla, e nossa relação não é mais tão
horrorosa quanto no começo. Talvez isso possa ser bom pra mim, por que você está tão preocupada?
-Querida, continuou Stella, dando um pequeno beijo em meu pescoço, e segurando minha
cintura com um pouco mais de força. A Ashirra não é a Camarilla. A Ashirra é uma Camarilla
islâmica hardcore. Você sabe como eles cuidam dos seus domínios? É totalmente incompatível com
o movimento anarquista. Movimento do qual você também faz parte. É incompatível com a Casa
Carna, com o feminismo, com toda nossa ideologia.
-Você se daria bem até com o Sabá, Stella. Eles não veem vocês como ameaça, respondi,
sorrindo.
-Você não tem ideia do que está falando, Luísa. Convoque os Toreador abstratos. Nós vamos
precisar da ajuda até mesmo de pessoas da Lista Vermelha. Um ancião está vindo com eles pra cá.
Imagine a merda em que se transformará Lisboa. Algumas das crianças mais novas já estão falando
em deixar o domínio, com certo tom de pavor. Não podemos deixar esses rumores crescerem,
precisamos deles do nosso lado também.
Ao olhar nos olhos de Stella e sentir o tom de suas palavras, percebi que de fato ela estava a
falar sério. Era como se o som que saía de sua boca estivesse a se retorcer como uma bandeira ao
vento em um dia chuvoso. Um ancião. Com ele viria a Ashirra e sua mão de ferro, suas cimitarras e
leis retrógradas, e logo atrás o Sabá, a causar atos terroristas e a mesma violência que tivemos que
ocultar ao tomar o domínio para os anarquistas.
-A informação é confiável? Perguntei.
-Brasil. Mais confiável, impossível, respondeu Stella, em tom de chateação.
Provavelmente São Paulo, imaginei. Um dos domínios mais fortes da Camarilla, mas ainda
com presença anarquista bem-informada.
-Eu tenho comigo os abstratos e alguns ratos vermelhos que não gostariam de ter suas
liberdades suprimidas por esses xiitas. Vamos precisar organizar defesas sérias. Espero que essa
informação não tenha caído nas mãos do Sabá na Espanha.
-Não sei, disse Stella, em tom de preocupação. Espalhe a informação para os mais confiáveis.
Por enquanto, vamos deixar as diferenças de lado. Vamos precisar de cada membro dessa cidade
para reprimir um único ancião. Não temos ideia do que eles podem fazer.
-E é aqui que nós fingimos um desentendimento, e deixo-te à vontade para se alimentar de
quem quiseres. Consigo ouvir seu estômago roncando daqui, respondi, deixando abruptamente seus
braços e saindo da pista, em direção às ruas tortuosas do Bairro Alto.
De repente a rua parecia mais cinzenta, mais fria, destituída de vida. Os transeuntes se
assemelhavam a animais perdidos, emboscados. Poderia ser a minha besta querendo imprimir
preocupações demais em mim, além do necessário. Seria bom tomar um “drink” antes de me dirigir
para o Chiado, entre a podridão dos ratos… Meu Deus, como eu odiava aquele domínio… Claro, se a
Ashirra viesse pra cá, com um ancião, poderia ficar bem pior… bem pior… Jamais vou dividir meu
novo reinado com alguém da mesma época que eu. Logo agora que consegui me misturar tão bem
nessa nova e convulsa sociedade dos membros de hoje em dia.
Chegou a hora de colocar meus planos e engrenagens em ação. Basta de lágrimas em Portugal.
O Chamado
Desde os primórdios, com o surgimento das
primeiras civilizações, da escrita, da divisão em
tribos e cidades, o Oriente ganhou destaque
através de suas filosofias, ciências, grandes
tesouros, descobertas e matemática. Há quem
diga que aqueles que podiam viver por séculos
buscaram e obtiveram conhecimento ilimitado,
muito contribuíram para o desenvolvimento
das grandes cidades e o advento das escolas
filosóficas e de pensamento. Assim, o Oriente foi
o berço para o desenvolvimento de todo o resto
do mundo e de nossos primeiros ancestrais, o
berço das primeiras disputas e divisões, o berço
de nossos pais.
Está escrito que: “habitou Caim, na terra de
Nod, a oriente do Éden”. Quando a linha que
separava o mundo material e o espiritual era
tênue, e o Pai Sombrio transitava entre eles e em
sua própria maldição. Caim rejeitou o conselho
maior, vindo Daquele a quem deveria chamar
de Deus. Os escritos e profecias mais antigas
sussurram sobre o retorno do Pai Sombrio,
o mestre Maã, senhor do grande Segredo,
para o lugar onde a terra abriu a boca para
receber o sangue de Abel. Lá será o local de sua
reunião, e lá ocorrerá O Chamado de toda sua
descendência.
O que fazemos na noite
A minha habitação
Usando antigas disciplinas eles
acharam a estrada para Shal-ka-me,
Eles vieram afinal para aquele lugar
secreto,
Onde Caim se escondeu, entre as águas
que o mostram.
Caim os chamou abaixo, filhos gentis,
filhas gentis,
Por que vocês perturbam meu sono?
- O LIVRO DE NOD
A expressão "Sodoma e Gomorra"
se aplica, por extensão, às cinco
cidades-estado do vale de Sidim,
no mar Morto: Sodoma, Gomorra,
Admá, Zebolim e Bela. O vale
de Sidim (Vale dos Campos)
era descrito como um lugar
paradisíaco, e se confunde com as
terras para o qual o Pai Sombrio
foi, após a sua decepção com os
primeiros e a primeira cidade,
amaldiçoando-os.
Há uma área aproximadamente
circular no vale inferior do mar
Morto, atualmente submerso por
suas águas salgadas; a região é
chamada em hebraico de Shal-Ka-
me, uma pequena península na
margem oriental do mar salgado
que em árabe é chamada de El-
Lisan (A língua de Deus). Aqueles
que sofrem com, ou dizem atender
ao Chamado, parecem peregrinar
para esta localização. A grande
e paradisíaca cidade de Sodoma,
consumida pelo fogo pela inveja de
Deus, terá sua história contada nas
noites finais...
30
Velhas mentiras para novas
gerações
Eu escondi a minha face de Deus,
Esperando somente a sua decisão.
Gabriel levantou-se e confirmou:
Eu havia criado a minha própria prisão.
- LAMENTAÇÕES DE CAIM
A Máscara nunca esteve tão frágil, mas apenas os
mais antigos percebem, de fato, esta fragilidade, pois
já viram isso antes. A lembrança das fogueiras da
Primeira Inquisição ainda está acesa. A Camarilla
morde profundamente a jugular dos domínios
que lhes restam, embora não admita, atualmente
é apenas uma sombra daquilo que um dia chamou
de “sociedade dos membros”; uma imagem borrada
do que pensou representar. Mesmo assim não se
engane, a seita ainda conspira, promove e vende sua
falsa segurança, e desta vez apenas os "merecedores"
podem ficar sob o que resta de seu pavilhão.
Os Antigos sabem que muito está em jogo,
naquilo que chamam de as noites finais. Todas as
cartas parecem ter sido postas à mesa, ainda que
os Anarchs neguem veementemente e clamem a
descentralização do poder reivindicando uma nova
era. No entanto, o Movimento parece apenas mais
um fantoche diante do que os mais Antigos sabem e
conhecem: As Mentiras.
Com uma Camarilla sitiada, e os Anarchs,
Sangue-Ralos e sem clãs adentrando e tomando
cada vez mais domínios, os Anciãos parecem
mais uma vez se retirar do palco, não por medo,
desdém, ou qualquer sentimento mundano, mas
devido às profecias que falam do Oriente, apontam
para seu misticismo oculto, falam de uma guerra
e do despertar daqueles que lá habitam “desde o
princípio”.
Os mais jovens, os crédulos, dizem: “Há algo
nas sombras, desconhecido, que os convoca”; e
entre ranger de dentes, os Anciãos, permitem que
acreditem. É quase impossível, para não dizer raro,
31
SENHORES DO MEDO SEM FIM
um vampiro mais jovem, recém abraçado ou que nos
últimos cinquenta anos esteve ativo, encontrar um
Ancião na atualidade.
Este é o prenúncio de uma guerra e mais uma
vez, os Anciãos estão escondidos e distantes. Eles já
passaram por isso e aprenderam sua lição há muitos
séculos. Suas crianças, elas sim serão mortas nesta
grande onda de destruição chamada de Segunda
Inquisição. Não sobrará nenhum desta Geração para
falar sobre eles, e é neste momento que os antigos
ressurgirão para reclamar o que sempre foi deles, por
direito.
Ao contar uma história para Anciãos, a menos
que esta seja a vontade do Antigo, e que ele queira
revelar-se, os sangue-ralos, crianças da noite e alguns
neófitos, crerão que eles não passam de lendas
sussurradas para lhes amedrontar. Enquanto os
antigos se escondem em um sono profundo ou exílio
longínquo, os mais jovens se aproveitam de suas
lacunas para finalmente exercer alguma influência
em seus domínios, acreditando que são livres de seus
pesados grilhões.
No entanto, uma dúvida persiste no inconsciente
dos mais jovens… Será que esta é mesmo a verdade?
Será que eles são joguetes para os planos destes
mestres secretos? Muitos da Camarilla alegam
ouvir o apelo, o tal Chamado, mas o quanto disto
é verdade? O quanto disto é mais um estratagema
para garantir que haja mais fontes de alimentação e
vitae, já que o sangue dos mortais não é suficiente
para saciar os Anciãos?
Justificados pelo Medo
É difícil resistir à necessidade de sono ou de sangue.
Sahar Hannibal mencionou alguns dos nomes
que eu deveria ter registrado aqui; eles são aqueles
com quem eu me encontrei desde que ele me falou
sobre a história cíclica, e não de uma, mas de várias
Gehennas ou recomeços. A maioria dos Anciãos não
são velhos, mas os anciãos em Roma se tornaram
os Matusaléns de hoje. Nem todos sobreviveram
ao colapso do Império, e a maioria que sobreviveu
conheceu seu fim durante a Idade Média, caindo
pela Inquisição ou pelo Sabá. Os Antigos podem ser
O que fazemos na noite
um grande aborrecimento, com seus egos inchados
e sua recusa insistente em reconhecer que eles estão
sendo controlados por seus temores. Eles podem
fazer as ações mais contraditórias, sem sequer ter
qualquer razão para agir assim, justificando seus
medos e insistindo em dizer que agem por vontade
própria.
Os Anciãos ativos estão constantemente
calculando, planejando e agindo, mas os temores
deles os regem frequentemente e mais intensamente
do que já se viu na história. Construa um intenso
ódio dentro de um antigo e ela fará tudo ao seu
alcance para destruir o objeto de sua ira. Convença
um Ancião de que ele ama outro, e nada ficará entre
ele e o objeto de seu desejo. Frequentemente, se
um vampiro mais velho age sem argumentos, esteja
certo que as emoções suprimidas dele assumirão
o controle. Ah, sim, você quase pode ter pena dos
Anciãos quando você percebe como eles estão sendo
manipulados. Mas não, não tenha.
Há uma boa história contada pelos Gangrel,
sobre os mistérios e delícias da cidade conhecida
como Shal-ka-me, o domínio submerso. Onde ele
fica, eu não faço a mínima ideia. Eu acredito que
é um lugar no Oriente Médio, talvez próximo ao
Mediterrâneo, nos arredores de Jerusalém. Algumas
lendas citam que Caim está enterrado neste lugar.
Este poema tem sido um dos favoritos entre os
32
Anciãos, particularmente Ventrue e, ultimamente,
Tremere, que acham sua mensagem calmante.
Alguns dos mais atentos contam ter ouvido, nos
salões de Elísios, os Anciãos murmurarem esse
poema enquanto olhavam na direção do horizonte,
a oriente. Contudo, poucos são os registros e
evidências que levam a crer que a “peregrinação”
dos antigos encontra o seu destino final. Ou que ela
sequer existe.
Ao contar uma história sobre Anciãos que desejam
peregrinar para o oriente, você poderá usar como pano de
fundo a mecânica imersiva dos temores para “justificar”
essa jornada. Contar uma história sobre o translado do
esquife de um Ancião para o Oriente (ou de volta para
seu domínio), pode ser interessante para o grupo. Os mais
velhos fingem ouvir, ou verdadeiramente citam o poema
das lendas, outros dizem ter visões das profundezas de
Shal-ka-me, ou até mesmo do poço de sacrifícios original,
nas ruínas da cidade da Primeira Tribo. Qual seria a
verdade? Cabe à sua coterie desvendar.
Não sou como eles, mas
posso fingir
"Os velhotes têm um alvo nas costas. Toda
essa merda com a SI, jogada no ventilador, e se
espalhando por toda a parte, fez com que eles te
colocassem no colo e te contassem uma história
da carochinha, enquanto eles, de fato, são os que
foram ninar. E você, como toda criança iludida,
acreditou!"
"Não fode! Você acredita? Você acredita
mesmo? Então, numa bela noite, uma puta
velha qualquer sai de sua manicure, o salão
de beleza fodido que eles chamam de Elísio,
e te convida para assumir o posto do velhote
que supostamente desapareceu. E você aceita?
Fácil assim? Tudo faz sentido? Tudo faz sentido
porque você é burro, cara! Há mais Anciãos em
Chicago, parceiro, do que no Oriente Médio!
Qualquer idiota sabe disso".
A nossa espécie é especialista em criar
máscaras, e esta é uma nova, um novo embuste,
uma mentira criada para que os antigos
se escondam dos mais jovens, para que as
gerações mais jovens acreditem que, em vez de
governados, governam.
Ninguém no Mundo das Trevas sabe tudo
o que se passa, e a infinita variedade do mundo
sempre oferece um novo mistério, uma nova
peça de quebra-cabeças que não se encaixa em
nenhum padrão estabelecido. O Mundo das
Trevas está instável. Tudo se encontra em estado
de desequilíbrio, cada peça neste grande jogo:
a Camarilla, os Anarchs, o Sabá e até mesmo
33
SENHORES DO MEDO SEM FIM
a Segunda Inquisição, tudo pronto para ser
tombado para um lado ou para outro, dependendo
das ações dos personagens dos jogadores. Há
aqueles que entenderam como a intrincada teia
de maquinações antigas funciona. Estes velhos
cainitas são poucos, desacreditados, mas ainda
relevantes. Aqueles a quem conseguem convencer
antes que as presas dos mais jovens estejam em
seus pescoços, muitos vezes acabam se provando
os verdadeiros mestres secretos da não-vida dos
neófitos, com o poder de decidir o momento
exato da morte final daqueles a quem julgarem
descartáveis.
Você decide o quanto daquilo que foi escrito em
Senhores do Medo Sem Fim é real, e o quanto quer usar
em seu jogo. Você pode saltar de cabeça, transformando
seu jogo em uma história sobre as mentiras e verdades
a respeito do Chamado, ou criar uma nova trama,
com um grande plot twist em relação a este assunto
incompreendido. Uma maneira interessante de criar
narrativas sobre O Chamado é trazer luz e foco nos
personagens Anciãos, e em suas próprias experiências
a respeito dessa temática. O narrador é livre para
utilizar as ideias que julgar melhor acerca do complexo
relacionamento entre Anciãos e o Chamado; no fim das
contas, este é o seu próprio Mundo das Trevas.
O que fazemos na noite
Inconnu: A Incógnita
“Abandonamos a Cidade
Eterna porque seu coração há
muito atrofiou. Está morto - e
vocês, os Senhores de uma
cidade outrora gloriosa, se
escondem em suas sombras,
perdidos em um labirinto
de sua própria construção.
Quando os mais jovens de
nossa espécie olharem para
esses tempos, para aqueles que
estão mortos por várias eras,
eles verão suas realizações e
se perguntarão: O que deu
errado? Mas nunca saberão.
Por que se escondem? Eles não
saberão quem foi o responsável,
a quem louvar ou a quem
condenar. Seus feitos, os
grandes e vis, serão perdidos
para a posteridade, e tudo o
que eles saberão sobre vocês
será: Incógnito.”
— Último discurso de Miguel
aos cainitas de Roma na véspera
de sua partida.
O Inconnu é, numa
definição mais aproximada,
uma Coalizão extremamente
secreta de vampiros antigos. O
que se sabe sobre eles é incerto,
mas algumas das teorias
mais difundidas afirmam
que o grupo é composto por
Matusaléns que existem para
manipular a Camarilla, o Sabá
e outros da espécie. Outros
afirmam categoricamente
que os Inconnu são Antigos
que abandonaram a Jyhad
para perseguir a Golconda, e
desapareceram nessa busca.
Há ainda quem diga que eles
são apenas indivíduos com
nenhuma ordem e intenções
exclusivamente bestiais. Até
mesmo a idade da coalizão
é contestada, com alguns
acreditando que ela surgiu na
Roma antiga, e outros, durante
a Idade das Trevas.
A Idade das Trevas foi
inaugurada por monges,
aparentemente piedosos,
alegando um apocalipse
iminente, a Gehenna. A
coalizão ansiava pela glória dos
dias da República, e tentou
apoiar vários substitutos
potenciais, incluindo uma
dinastia mais iluminada,
em vão. Foi, ironicamente,
na Igreja Católica Romana
que encontraram refúgio.
E nas sombras das terras
papais, estes mortos-vivos
espreitavam e tramavam em
um ritmo frenético, muitas
vezes descobrindo que
suas manipulações haviam
permeado a psique dos
mortais que lhes cercavam.
"A Ordem", como se auto
intitularam, trabalhou secreta
e silenciosamente, tornando-se
mais uma seita interpartidária
do que qualquer outra coisa,
a princípio escamoteando
suas verdadeiras intenções
de desacreditar a “fé” e o
misticismo cainita. Foi por
causa desse comportamento
que outros mortos-vivos os
34
batizaram de Ignoti, que
significa desconhecido.
Entre a alteração do nome
de Ignoti para Inconnu,
cita-se a lenda dos doze
de Hunedoara, onde, nos
primórdios da criação do Clã
Tremere, em seus diversos
conflitos com Tzimisce e
outros vampiros que habitavam
essa região da Romênia,
especialmente próxima da
Capela de Ceoris, um grupo
de doze Anciãos desapareceu
por completo, ou foi destruído
pelos Tremere, que tentaram
encobrir o fato com suas
próprias maquinações políticas.
Esse grupo de Anciões, que
aparentemente também
buscavam a Golconda, mas
que supostamente acabaram
distorcendo tanto seus
caminhos que fizeram um
pacto com um poderoso
demônio, ficaram conhecidos
como “os Inconnu”, visto
que seu desaparecimento
ou destruição não deixou
quaisquer rastros, sendo um
mistério que perdura até as
noites atuais.
Ao contar uma história
sobre Anciãos Inconnu,
especule que existem alguns
grupos de Inconnu, sendo os
doze de Hunedoara apenas
um deles. Esses grupos, podem
ser os mesmos vampiros
simplesmente mudando de
lugar, em atendimento ou não
ao Chamado, dado o preço de
ouro que seu sangue vale nas
noites atuais, para aqueles que
desejam o poder por meio do
Amaranth.
Todavia há uma campanha
promulgada por outras seitas
que afirma que, dentro
do Inconnu, assumindo o
fato de que eles existem, a
porcentagem de diabolistas é
mais alta do que em qualquer
outro lugar.
O medo que resultou da
diablerie de Saulot do Clã
Salubri pelo recém-abraçado
Tremere, a diablerie do
antediluviano Lasombra, a
diablerie de Cappadocius por
sua descendência, os Giovanni,
a Revolta Anarquista, são atos
vistos como bárbaros e imorais,
mas alguns (talvez dentre os
Inconnu) até sustentam que a
diablerie é um passo adicional
para a iluminação vampírica.
O medo aterrorizante da
destruição completa do corpo
e da alma tornou-se uma
ameaça sempre presente à
imortalidade destes Anciãos,
pois a diablerie é a via
“rápida” para os mais jovens
ganharem poder instantâneo.
Estes agentes da “Coalizão”
expandiram a sua busca por
assuntos materiais e verdades
superiores para longe da
condição limitante vampírica,
um estado iluminado que se
confunde com um caminho
pouco conhecido pelos mortos-
vivos que pode ser a Golconda,
porém não sendo este o único.
Destruir membros dos
Inconnu é tratado com o mais
SENHORES DO MEDO SEM FIM
alto grau de severidade, e o Besta e seu Temor, o Inconnu
infrator deverá ser caçado fará um convite, levando-se
e destruído, onde quer que em consideração todos os atos
esteja. Aqueles que dizem passados do convidado. Nada
ter qualquer informação é vedado, mas tudo poderá
sobre a coalizão alegam que ser usado a favor ou contra
estes vampiros prometeram o convidado a fazer parte
seu apoio interminável da coalizão, no momento
à preservação da espécie em que ele se entregar à essa
vampírica, mas dentro da secular, ou até mesmo milenar,
própria Coalizão os mais rede de intrigas sombrias e
velhos não estão proibidos de macabras…◼
destruir vampiros em legítima
defesa, ou debruçar-se sobre
a própria espécie em seus
experimentos ocultos. Ao
longo da história, vampiros
de todos os clãs se cansaram
da Jyhad e abandonaram-na,
encontrando a iluminação na
proteção dos Inconnu. Esse
fato é apenas pouco conhecido,
dado a discrição dos Inconnu.
Nas noites modernas, uma
das facetas visíveis dos Inconnu
são os Monitores, que assistem
a eventos vampíricos enquanto
ainda evitam interferências
diretas. Há quem afirme que
os Monitores são os doze de
Hunedoara, mas tal fato é
contestado entre Anciãos.
Juntando-se à
Inconnu
Não é possível simplesmente
juntar-se às fileiras do Inconnu
perguntando por aí; quando o
vampiro se mostrar apático e
tiver expressado um verdadeiro
desejo de se eximir da Jyhad,
bem como demonstrado a
sabedoria e o poder supremo
sobre sua condição vampírica,
por meio do domínio sobre sua
35
Em Nome do Medo SENHORES DO MEDO SEM FIM

“A guerra estava perdida, há verdades que vivem; e verdades que morrem”

− LEONARD COHEN, NEVERMIND.

Cada noite que se passa no mundo das trevas
é uma pequena vitória conquistada para um
membro. Neófitos e Ancillae sobrevivem noite
após noite, passando por diversos problemas
triviais, em comparação com os mais antigos,
e ainda têm que lidar com aquilo que veste sua
casca humana, A Besta. Noite após noite, sua
humanidade é testada, então como um Ancião
faz para se manter minimamente capaz, após
séculos, a perda de seus pilares e companheiros
de coterie, como consegue se manter são? Esta é
a grande questão: como a mente suporta todas
estas mudanças, como superar a passagem do
tempo, os séculos? Enquanto os mais jovens
duvidam da existência dos anciãos, justificando
essa ausência através do Chamado, sem nem
mesmo conseguir explicar o que de fato é esse
evento místico. Contudo, a resposta para a
aparente ausência dos Anciãos na maioria das
cortes, círculos e baronatos de membros na
atualidade não é tão simples assim.

36 37
Em Nome do Medo
Aquilo que parece ser uma eternidade
para a vida de um mortal, para o Ancião é
inimaginavelmente pior; o peso da maldição
sobre seus ombros, a dificuldade em domar
sua Besta e conciliá-la com o caminho da
humanidade; substituí-la por filosofias e
convicções alternativas, é tentador mesmo
a Golconda, que muitas vezes se prova uma
alternativa inalcançável.
Quando todos os seus esforços se mostraram
infrutíferos e à medida que sua humanidade
escorrega por entre seus dedos, o Ancião aceita
que não é mais humano. Ele nunca mais poderá
retornar a esse estado, os valores, a moral, as
convicções humanistas não lhes servem mais.
Que condição deveriam assumir? Tornar-se um
monstro completamente bestial? Tornar-se um
demônio alienígena destituído de qualquer valor
que não seja a sede por sangue e poder?
Neste momento o Ancião se vê imerso na
escuridão primitiva, olhando para aquilo que
ele é, aceitando seus instintos, suas maiores
fraquezas e medos. Um Ancião teme os demais
anciãos. Teme a Segunda Inquisição como
qualquer outro vampiro. Teme os novos tempos,
teme os mais jovens e sua cobiça, tão grande
quanto as suas. Ele se apegará e permitirá que
este Temor o sustente através dos séculos,
enganando a si mesmo com a ideia de que
superou a Besta irracional e que tudo o que faz é
legítimo.
O Jogo com Anciãos
Em Senhores do Medo Sem Fim você brincará
com o mau, mas um tipo de mau mais antigo,
até mesmo para o jogador mais experiente. Seus
personagens terão de assumir o papel de Anciãos
e lidar com os seus temores nas noites modernas.
O sangue dos mortais não os sacia totalmente, os
antigos viram reinos e fundações ruírem, amores
e eventos chegarem ao fim. Testemunharam
38
monstros primitivos e cometeram crimes
terríveis, mas agora, tudo não passa de memórias.
Dentre tantas memórias, muitas já se perderam,
mas não seus métodos de sobrevivência e
manutenção de poder, pois o Ancião esteve em
risco a todo momento, e agora, mais ainda, esse
terror o assola fortemente, dado seu grande
status na sociedade vampírica.
O horror pessoal e terror político para um
jogo com Anciãos possui uma escala ainda
maior que aquele ao qual as crianças da noite
estão submetidas, e seu arsenal para sobreviver
nesse ambiente deve ser muito maior que o dos
últimos.
O Medo Ancestral
Após séculos de uma existência solitária e
envolto em trevas,o vampiro Ancião pode ter
degenerado o suficiente em sua própria descida
ao que um dia lhe fez humano, reconhecendo-se,
de fato, como um novo ser, uma nova criatura.
Uma profunda mudança o tranforma física e
mentalmente. Seu cadáver é transpassado em seu
peito, mas não por uma estaca de madeira. O que
era apenas ecos de sua Besta, sussurros, agora é a
sua própria voz, a voz do monstro, tangível, real e
nada poderá protegê-lo. Eviscerador é o medo de
não pertencer a lugar nenhum, a angústia de não
enxergar mais sentido em sua não-vida, como se
estivesse caindo em um profundo poço obscuro,
onde a única certeza é que este temor nunca mais
terá um fim.
O abismo entre o tempo de agora e aquele em
que caminhou debaixo do sol corrói sua mente,
pois a evolução humana é um rápido caminho
entre o nascimento e a morte. Para onde deve
levar sua trilha, se não à perdição eterna?
Como o paradoxo do Navio de Teseu, será
que o Ancião, hoje, é o mesmo vampiro abraçado
há séculos? Tudo mudou, seu domínio, os
demais vampiros, os humanos que vivem nas
noites atuais, seus hábitos. Deslocado de seu
ambiente, o Ancião tenta não ceder à loucura,
mantendo-se relevante e poderoso diante das
novas adversidades, e defendendo seus valores,
muitas vezes anacrônicos, para uma multidão
que começa a ser cada vez mais descrente de
seu poder e autoridade. A Besta começa a rugir
intensamente, e cada vez com maior frequência.
Vampiros antigos beiram a loucura e a
intensos frenesis, mergulhando num poço
de puro terror revivendo os piores males
que foram impostos a eles em sua imortal
existência, internalizando perspectivas
distorcidas sobre suas memórias confusas e
traumáticas, culminando, em alguns casos, numa
metamorfose profunda.
Esse momento de transição varia muito de
Ancião para Ancião, sendo que alguns procuram
reclusão e se afastam da sociedade dos membros,
outros engajam ainda mais no meio em que
estão, outros aderem ao sono conhecido como
Torpor. Quando o Ancião degenera, seu cinismo
e insensibilidade é o que melhor descrevem
o seu humor num dia bom, enquanto ele pisa
sem piedade em qualquer um ou em qualquer
coisa, pausando apenas para se entregar à um
novo hobby cruel. O Temor é a direção, a sua
bússola neste novo mundo, o mecanismo que o
mantém protegido de sucumbir definitivamente
à vontade da Besta; tal faceta é denominada, nos
círculos dos antigos, como o Medo Ancestral, ou
simplesmente, Temor.
Ao longo dos séculos os Anciãos emergiram
dos poços sombrios de suas próprias mentes
escuras, para se erguerem ainda mais temíveis.
Não há como retornar ao mesmo depois de
mergulhar em um terror psicológico de séculos
acumulados em seus ombros. Assim, os Anciãos
emergem com uma nova perspectiva sobre seu
papel nas noites modernas, moldada em seus
próprios medos e distorcidas o suficientes para
tornar ainda pior as noites daqueles a quem
consegue tocar.
39
SENHORES DO MEDO SEM FIM
Cada Temor traz conceitos para Convicções
e Pilares que servem de bússola para o jogador
ajustar seu personagem, além de que o Temor
substitui a mecânica de Humanidade, como
se pode ver na ficha para Anciãos. Cada
Temor possui especificidades que o definem e
distinguem dos demais, como:
■ Verbos: comportamentos e atitudes comuns
ao tipo de Temor que aquele vampiro cultiva.
■ Gatilhos: tipos de situações que agridem o
Temor do vampiro; quanto mais ele convive,
se envolve ou interage com o gatilho, mais ele
será tendencioso a ativar sua Crise; o gatilho
pode vir de um outro personagem e/ou situ-
ação; uma vez exposto ao gatilho, o vampiro
deverá agir contra eles, conforme ditado por
seus verbos.
■ Crise: o que acontece se ele for exposto ao
gatilho por tempo demais ou com muita
intensidade; o vampiro deve ter esses verbos
manifestados em suas ações até que o surto
passe, ou seja, sinta que “assumiu o controle”.
De forma geral, o surto é uma versão exagera-
da dos verbos sem preocupação com a auto-
preservação, até que ele se sinta novamente
no controle de seu Temor ou sucumba.
Por padrão, o Temor tem cinco níveis que
começam vazios (definidos como Trilha do
Temor), podendo sofrer Crises no caso da
concretização dos Gatilhos.
Quanto mais pontos de Temor o Ancião
ganha, mais ele se aproxima de se entregar à
sua besta interior, ou sucumbir ao Chamado,
deixando tudo e todos para trás, juntando-
se à Gehenna até a própria destruição, ou
até encontrar outro sentido para sua não
vida, o qual pode envolver agendas insanas e
alienígenas, que fogem à compreensão de todos.
Em Nome do Medo
Mecânica do Temor
Quando um Ancião substitui a sua Humanidade
por Temor, a sua perspectiva de mundo
muda, assim como seus horrores pessoais.
Apresentaremos como inserir a mecânica do
Temor em suas mesas de Vampiro a Máscara - 5ª
edição.
Independentemente de como sua rolagem
fracassou, sendo pelo não atingimento da
dificuldade requerida ou por uma falha bestial,
numa situação de Gatilho, o Temor do Ancião
virá à tona. As faces vazias nos dados de fome
representarão o Temor na cena, diante dessa
situação.
Seguem as instruções para interpretação do
Temor:
■ O personagem deve agir conforme a Crise
desencadeada pelo Gatilho, já que seu Temor
ditará suas ações.
■ As faces vazias da parada de dados de Fome
marcam a quantidade de pontos a ser regis-
trados na Trilha do Temor, caso a Crise não
seja interpretada.
■ O jogador que marcou toda a Trilha do
Temor tem automaticamente o seu nível de
Temor permanente aumentado para o nível
seguinte. Adicionalmente, quando toda a
Trilha do Temor for preenchida, o person-
agem imediatamente aumenta sua fome igual
ao nível de Temor permanente, e, caso sua
fome chegue a cinco pontos, ele deve rolar
para resistir ao Frenesi (Dificuldade: Quatro).
■ Caso o Personagem tenha seu Temor per-
manente no nível cinco, e acumule mais
cinco pontos na Trilha do Temor, ele estará
totalmente entregue a seus medos, perdendo
absolutamente o controle de si. Isso resultará
na perda permanente do personagem, que
deverá sucumbir ou ao Chamado, ou à Besta,
ambos de maneira irracional e sem qualquer
traço de humanidade ou lógica.
■ Quando, em uma rolagem de Gatilho, for ob-
tido um resultado de uma face com a caveira
40
no dado de fome, o personagem terá uma pe-
nalidade em sua parada de dados equivalente
ao seu nível de Temor permanente até o final
da sessão. Caso em outras rolagens se tenha
mais resultados de faces de caveira, aumenta-
se a penalidade em um na sua parada de
dados por resultado de caveira obtido, cumu-
lativamente, até o final da sessão.
■ A falha ou crítico bestial diante do Gatilho
são desestimulados, pois a crise provocada
pelo Temor deve prevalecer para estas situ-
ações.
■ Ao fim de cada sessão, a Trilha de Temor do
personagem será limpa. Esse ato representa
que os interlúdios entre as sessões podem
representar algumas noites, como ocorre com
os neófitos, ou, no caso de Anciãos, pode ser
até mesmo algumas décadas.
■ A cada cinquenta anos ininterruptos de Tor-
por, o Ancião consegue reduzir um ponto de
Temor permanente.
■ Outra maneira de se reduzir o Temor perma-
nente é a interação com seus pilares. Para o
ancião, o pilar é uma extensão sua, e de seu
temor. Quando o ancião se sente pressionado
por seu temor, e com grande dificuldade de
alterar sua realidade visando adequá-la a seus
objetivos, ele projeta seus desejos através de
seu pilar, criando situações para que este haja
- e triunfe - exatamente como ele faria.
■ O Pilar do Ancião, diferente do que ocorre
com os vampiros que se guiam pela humani-
dade, é tratado como uma de suas marionetes
favoritas dentro de seu grande diorama. Em-
bora o ancião tenha grande apreço por seus
pilares, ao ponto de, se um deles for morto ou
gravemente “danificado”, ele tenha uma crise
e aumente sua fome em magnitude igual ao
seu atual nível de temor, seu sentimento pelo
pilar é um sentimento de controle e sociopa-
tia - o pilar é sua ferramenta.
■ Se o Ancião conseguir direcionar seu pilar
conforme seus desejos, fazendo alcançar
os objetivos que o pilar considera serem
próprios, o Ancião recuperará até dois pontos
SENHORES DO MEDO SEM FIM
de Temor permanente (a
escolha entre um ou dois
pontos será do Narrador).
■ O Ancião deverá manipular
a situação das sombras, sem
ser descoberto por seu pilar.
Como exemplo, um Ancião
cujo Temor é Guerreiro
poderá fazer com que seu
pilar, um policial, assassine
um ou mais criminosos que
estão causando problemas a
ele (e consequentemente, ao
Ancião), sem deixar pistas
ou chance de retaliação.
Dessa maneira, em uma
escala bem menor que a do
Ancião, este estará manipu-
lando o mundo na direção
que deseja, acalmando seu
Temor.
No próximo tópico,
apresentaremos os tipos de
Temores possíveis de ser
utilizados por personagens
Anciãos, contendo todas
as características citadas
anteriormente de forma
definida. Caso o Narrador ou
os jogadores queiram criar
novos tipos de Temores, não
há nenhuma restrição, desde
que sejam definidas todas
as características do Temor
como Gatilhos, atuação em
crises através dos Verbos,
Antecedentes, Vantagens e
Desvantagens atreladas ao
Temor.
41
Em Nome do Medo SENHORES DO MEDO SEM FIM

"Ao tentar transcender, o

homem muitas vezes se perde
nas sombras da sua própria
natureza obscura; porém não
somos homens"
- adaptada de Friedrich Nietzsche.

A
imortalidade é uma longa jornada em que muitos
membros vivenciam emoções fortes ao longo das
incontáveis noites, alvos de intrigas de primogênitos, e
até caçadas de sangue. Já para outros, desde o momento
de sua criação, sua não não vida é estagnada, e nada de importante
acontece ao seu redor por séculos. A incapacidade de transformar
o mundo ao seu redor e perceber que sua não vida praticamente
não mudou, desde seu nascimento para as trevas, consome tais
anciãos em um ciclo de marasmo sem fim, uma prisão conceitual
que o faz ver em si mesmo uma existência vazia e sem propósito
nas noites vindouras. Essa apatia moral o faz entrar em um casulo
existencial, no qual quanto menos contato com o mundo melhor,
ainda que isso seja aterrorizante para um ser que sabe que viverá
eternamente.
O casulo psicológico de proteção do Ancião, ao longo
do tempo, causa uma metamorfose sem igual em que asas
transcendentais o guiarão de agora em diante para que nunca mais
a estagnação possa acometê-lo, e para que sempre haja espaço para
a renovação e a transcendência em sua jornada sombria.
Esse ancião teme a estagnação. Com o peso dos séculos sobre
seus ombros, tudo que ele mais teme é que sua evolução seja
impedida, e sua jornada em direção àquilo que ele imagina além da
condição vampírica se encerre, ou seja barrada por impedimentos
tecnológicos, espirituais ou sociais. Anciãos com esse tipo de temor
norteiam sua não vida pela necessidade de, noite após noite, se

42 43
Em Nome do Medo
VERBOS
Evoluir, ascender,
metamorfosear, desenvolver,
aprimorar.
GATILHOS
Planos que não avançam,
relações estagnadas, ser vítima
de um mesmo truque ou ataque
ou situação mais de uma vez.
Você tem uma penalidade
de 2 dados em situações que
envolvam alguns desses gatilhos.
CRISE
Violentar-se, arriscar-se, expor-
se ao perigo de forma impulsiva,
abraçar um desafio maior que
sua capacidade, e ir até o fim,
mesmo que seja absurdo e/ou
arriscado, tentativa desesperada
de mudar.
44
SENHORES DO MEDO SEM FIM
transformar em uma criatura superior, para temor, que provavelmente passará um bom alterar sua aparência, por meios naturais ou
poder subir um degrau a mais na escala evolutiva, tempo dedicado a atividades segregadas das vicissitude, sem sequer dar-se conta disso.
frente aos demais vampiros. Quer o ancião políticas de secto e clã. Caso o personagem seja Ver as pessoas ao seu redor e os ambientes se
acredite que o próximo passo seja simplesmente mais integrado a tais atividades, o antecedente transformarem também é um fator que aumenta
um conceito tão marcante quanto a liberdade, a Status será importante para dar-lhe respaldo sua produtividade e satisfação. Personagens
loucura ou o desejo, tudo que ele não pode fazer na prática e dedicação às suas atividades pouco dos clãs Tzimisce, Malkaviano e Toreador são
é se ocupar com atividades que o impeçam de usuais. perfeitos para interpretar esse tipo de ancião.
evoluir, bem como impeçam aqueles ao seu redor
de buscar a mesma evolução. Dicas de interpretação
A mesma evolução que o ancião busca para si,
ele precisará fazer em todo seu ambiente, seja ele
Esse ancião é sempre inquieto e detalhista.
Em suas interações sociais, ele sempre buscará
Personagens enquadrados ao Temor
Sascha Vykos, Douglas Netchurch, Azaneal,
uma comunidade isolada, um bairro, uma cidade modificar as sugestões e planos de ação que Yorak, Saulot, Andrei (Vampire the Masquerade
ou até mesmo um país. Sem o solo adequado, forem levados a ele. Em ocasiões de decisões - Bloodlines).
e sem os nutrientes suficientes, esse ancião de grupo, ele não deverá se contentar com
acredita que não conseguirá realizar em si mesmo decisões binárias; na verdade, essas o irritam
e naqueles com os quais se importa - de forma bastante, e ele tentará de alguma forma conciliar
positiva ou negativa - as mudanças profundas
e significativas que norteiam toda sua não vida
as duas opções ou sugerir uma
terceira alternativa. Seu
e razão de ser. A partir do momento em que guarda-roupas deve
o ambiente estiver modificado e adequado da ser extenso, e
maneira que o ancião enxerga como propício, ele ele sempre
deverá estar preparado para sua transformação buscará
definitiva: a transcendência absoluta.
Pilares sugeridos
Artistas em geral, especialmente os de
tatuagem e escarificações; cientistas inovadores
responsáveis por pesquisas de ponta, tanto nos
campos sociais quanto científicos; filósofos,
líderes espirituais e ocultistas com visões
inovadoras em seus respectivos campos de
atuação; chefes culinários, químicos produtores
de perfumes e drogas, bem como pesquisadores
de diferentes sabores, odores e sensações
transcendentes aos cinco sentidos humanos.
Vantagens e desvantagens sugeridas
A vantagem Lindo ou desvantagem Repulsivo as
vantagens biblioteca e/ou centro de cirurgia e/
ou laboratório no domínio; as desvantagens de
perseguidores e/ou suspeito.
Antecedentes sugeridos
Domínio, Recursos e Rebanho são os mais
importantes para um ancião com esse tipo de
45
Em Nome do Medo SENHORES DO MEDO SEM FIM

"No caos, revelo a minha

verdadeira natureza
bestial, desencadeando um
pandemônio de destruição."
- adaptada de Cormac McCarthy

P
assar pela não vida ao longo dos séculos é algo
extremamente complexo, sobreviver noite após noite
enfrentando todos os perigos que a sociedade dos
membros oferece. Mas, para alguns, parece que o caos
os escolheu a dedo para simplesmente fazer uma piada de sua
existência, transformando-a num compêndio de infortúnios e
mazelas, onde a única certeza é que a próxima noite será pior que
a última. Por muitas oportunidades, esse Ancião nunca esteve
no lugar certo ou na hora certa, fez muitas alianças onde saiu
perdendo, apostou em acontecimentos que não levaram a lugar
nenhum, e somou séculos de infortúnios e frustrações à sua longa
existência.
Como, após tudo isso, não temer simplesmente falar com algum
membro no Elísio e achar que tudo irá se desenrolar em uma
sucessão de eventos que acarretará em ainda mais ruína e desgraça
em sua não vida? Como não enlouquecer tendo enraizada em sua
mente, a certeza de que não existe ordem no universo, mas apenas
uma grande aleatoriedade operando a seu desfavor? Isso é o que
consome toda a razão desse ancião, fadado a tornar-se um agente
do caos.
O Caótico teme que a ordem do mundo o sufoque, ele deseja
intimamente causar desordem para permanecer relevante, manter-
se operanco o caos, em um fluxo perpétuo de destruição.
Sua predisposição a conflitos ideológicos, guerras, disputas,
disrupção e criação de facções são grandes fontes de incitação à sua
permanência na não vida, sempre manipulando os eventos pelos

46 47
Em Nome do Medo
VERBOS
Confundir, enganar, desorganizar,
desestruturar, sabotar.
GATILHOS
Sociedades imutáveis, valores
incorruptíveis, estruturas
facilmente mapeáveis, relações
estáveis, padrões inquestionáveis,
leis. Você tem uma penalidade
de 2 dados em situações que
envolvam alguns desses gatilhos.
CRISE
Sabotagem “aberta” às estruturas
de ordem, sem furtividade ou
elegância. Oposição direta à
estruturas de ordem ou seus
representantes; despersonalização
e confusão mental (a loucura
como forma de trazer o caos a si
mesmo)
48
SENHORES DO MEDO SEM FIM
bastidores como origem de inúmeras teorias da Esse tipo de ancião é muito bem utilizado em personagens Brujah, Ventrue, Banu Haqim,
conspiração. O que mais esse tipo de ancião teme Ministério e Malkavianos. Como agente do caos encarnado, você acredita que o mundo precisa
é ver seus esquemas e tramas revelados diante ser dinâmico e imprevisível para te trazer oportunidades de difundir seus ideais e conquistar seus
das luzes dos neófitos, bem como ser tachado objetivos. Ajudar e atrapalhar aqueles ao seu redor, às vezes sem motivo algum, serão atitudes
como um tradicionalista antiquado. tidas como normais, e testes para que você possa verificar quem tem condições de subsistir em
O mundo e a sociedade que esse ancião ambientes voláteis como aqueles que você passou por sua vida ou não vida, até chegar onde
vislumbra tem grandes oportunidades e eventos chegou. Por mais que você esteja envolto em diversos círculos sociais, você não se esquece que
para que aqueles com menores possibilidades, eles são parte de suas maquinações e são ferramentas para que o mundo possa ser moldado à sua
ou vistos como azarões, possam ascender a maneira. Jamais deixe aqueles com os quais você tem contato descobrirem quais são seus planos,
posições de relevância e poder; ideias tidas
como irracionais e altamente utópicas como
pois até mesmo você poderá mudar de rota várias vezes, em prol de semear o caos, a discórdia e
conflitos para que os mais aptos sejam os campeões - inclusive, é claro, você.
anarco-capitalismo, golpes de estado violentos, e
revoluções comportamentais incluindo quebra de
tabus são um ambiente extremamente propício, Personagens enquadrados ao Temor
e por vezes influenciados por esse anciãos, sejam Jeanette e Therese Voerman, Theo Bell, Salvador Garcia, Thomas
eles conservadores ou progressistas, desde que
choquem a sociedade e façam com que todos
Arturo, Adelaide Davis, Moloch, Tryphosa, Helena, Tyler
(Patricia de Bollingbroke).
queiram se posicionar.
Tais anciãos gostam de manipular mídias
e veículos de comunicação, discursos, revoltas
e espetáculos de entretenimento para fazer
com que seus ideais estejam sempre em voga
e em discussão, seja em termos de repúdio ou
veneração.
Pilares sugeridos
Políticos, líderes de guerrilhas e revolucionários
em geral, ativistas, cientistas e pesquisadores.
Vantagens e desvantagens sugeridas
Cadáver desconhecido, Carniçais, Vivendo no
limite (desvantagem), Status (como vantagem, ou
desvantagem desprezado).
Antecedentes sugeridos
Contatos e aliados, bem como inimigos e
adversários são fundamentais para desenhar
tramas ao redor do ancião que possui como
temor o arquétipo de caótico, visto que tal
personagem tenderá a estar envolvido sempre em
tramas sociais e políticas para concretizar seus
objetivos.
Dicas de interpretação
49
Em Nome do Medo SENHORES DO MEDO SEM FIM

"Se Deus existe, é indiferente à

miséria humana, observando
nossa tragédia com uma
indiferença cósmica. Não
somos diferentes dele."
- adaptada de Albert Camus

O
s mortais passam por muitos dilemas, e um deles é
o que acontece quando sua vida se esvai e o sopro
final acontece. Para muitos humanos, esse é o grande
segredo que os guia durante toda sua existência.
Ao longo da história, surgiram diversas religiões e crenças com
o objetivo de explicar e trazer um mínimo de conforto a esses
miseráveis seres finitos. Todavia, quando um mortal é abraçado e
apresentado a um novo mundo sobrenatural, como um imortal,
toda sua perspectiva espiritual cai por terra, exceto seu medo. O
medo de demônios, danação e sofrimento eterno é materializado
de maneira explícita, representado por sua Besta.
A partir de seu abraço, o Ancião passa incontáveis noites
buscando entender o que se tornou, desejando encontrar uma
força superior nesse universo que lhe traga alento ou salvação.
Conforme o tempo passa, esse cainita só encontra um abismo de
terror e depressão. Das profundezas da abominável escuridão em
que este ser se retraiu em algum momento ele encontra um brilho
distante, e em meio a essa contemplação ele finalmente entende
que jamais poderá encontrar a força superior que busca, pois ele
mesmo representa esse poder. Como antes ele não pôde ver isso?
Depois de tantos séculos, e com o sangue tão espesso, com tanto
conhecimento represado, ele é o único que pode transformar o
mundo e dar sentido à ele; e por isso, merece absoluta veneração
e respeito. A força que ele buscou para nortear sua não vida e não
encontrou, agora deverá ser provida a outrem por ele mesmo. Que
assim seja feita sua vontade, tanto na terra, quanto nos céus.

50 51
Em Nome do Medo
VERBOS
Imperar, inspirar, arrebanhar,
arrebatar, orientar, cobrar.
GATILHOS
Insubordinação ou desobediência,
questionamento de sua sabedoria,
eventos que não seguem sua
previsão, resistência às suas
vontades ou decretos, descrença
ou abandono de seus seguidores.
Você tem uma penalidade de 2
dados em situações que envolvam
alguns desses gatilhos.
CRISE
Punição, demonstrações gratuitas
e desproporcionais de poder,
autoflagelação e “purificação”,
excesso de confiança, arrogância.
52
SENHORES DO MEDO SEM FIM
Anciãos cujo temor se baseia no conceito de vampiro mais antigo da história é você mesmo.
divindade podem ser reconhecidos facilmente Pilares sugeridos E você não vai hesitar em provar para qualquer
como as criaturas lendárias, tirânicas e diabólicas Religiosos, líderes de cultos e seitas, profissionais vampiro tais fatos, por mais antigo que ele
das lendas vampíricas. “Existe um ancião em de marketing, artes visuais, escritores, jornalistas, também seja. Só pode haver um deus no mundo,
nosso domínio”; se essa frase é dita e os vampiros filósofos, historiadores, policiais e profissionais e esse deus é você. Personagens dos clãs Ventrue,
locais tremem de medo, provavelmente esse da área jurídica (juízes, promotores, advogados, Lasombra, Tremere, Ministério e Banu Haqim
ancião está associado ao conceito de divindade. delegados). são ideais para interpretar esse tipo de ancião.
Assim como muitos dos humanos associam
o conceito de um vampiro ao livro Drácula Vantagens e desvantagens sugeridas
de Bram Stoker ou ao filme Nosferatu de Tal tipo de personagem é mais livre na escolha Personagens enquadrados ao Temor
Murnau, boa parte dos vampiros, especialmente
os neófitos, acreditam que todos os anciãos
de tais características, tendo em visto que tudo
será justificado através de sua divindade, da
Dracon, Michael, Antonius, Mithras, Set, Troile,
Ur-Shulgi, Hardestadt.
seguem o Temor da divindade, provavelmente lenda de sua vida e não vida, e de todos os feitos
porque seus senhores ou eles próprios só tiveram “heróicos” que o construíram assim ao longo dos
contatos “memoráveis” com anciãos que possuem séculos.
tal temor e tomam suas ações em função dele.
Anciãos que temem não ser respeitados Antecedentes sugeridos
por seu poder quase divino fazem questão de Contatos e aliados, bem como inimigos e
aparecer na sociedade vampírica com suas presas adversários, Status (Odiado e Respeitado
e garras para fora, destroçando qualquer um que em sectos distintos), Domínio e Rebanho são
ousar desafiar seus comandos, ou mesmo que se essenciais para esse tipo de ancião.
recuse a venerá-lo propriamente. Embora muitos
desses anciãos integrem as fileiras da Camarilla, Dicas de interpretação
no Sabá e na Mão Negra também há grande Você é um deus na terra. Nada pode te
parte daqueles entre os que mais foram “bem- contrariar, ninguém pode cometer a blasfêmia
sucedidos” nos caminhos da trilha do Poder e de te desafiar. Vampiros acreditam até mesmo
da Voz Interior. A Trilha do Poder e da Voz que você, na terra, é o descendente mais próximo
Interior, mesmo em seus maiores níveis, costuma de Caim, ou que Caim sequer existiu, pois o
produzir consequências mais leves àqueles que
entram no caminho daqueles que a seguem do
que entre os que desafiam um ancião cujo Temor
é a divindade.
Tais anciãos buscam fazer de seus mundos,
suas comunidades, países ou cidades verdadeiros
templos a eles mesmos, como deuses de
sangue ocultos e extremamente poderosos e
controladores. Se a sociedade vampírica e dos
mortais associados a eles não tremer diante de
sua presença, esse ancião poderá se ver perdendo
o poder de moldar sua existência através do
medo, respeito, ou até mesmo pelo amor doentio,
e começará a ter sua psique atacada por sua
besta e/ou pelo chamado. Um mundo que não o
reconheça por sua divindade não é um mundo
em que esse ancião passará sua não vida.
53
Em Nome do Medo SENHORES DO MEDO SEM FIM

"A busca pelo conhecimento

muitas vezes revela verdades
cruéis e sombras que
preferiríamos ignorar."
- Philip K. Dick

E
m sua existência, este Ancião testemunhou a queda de
impérios, a perda de conhecimento e o esquecimento
de várias culturas importantes da história. Temendo
ser tragado na espiral do eterno oblívio, o Ancião
busca ser o próprio instrumento do conhecimento e da memória,
esforçando-se ao máximo para que seu nome e suas ações tenham
um sentido profundo e fiquem registradas por muitos, e durante
muitas eras. Este Ancião almeja ser o elo que resolve todos os
quebra-cabeças perdidos da história vampírica - linhagens, locais,
rituais e toda sorte de informação oculta.
Tal ancião busca obsessivamente, às vezes por séculos, a
descoberta de segredos sobre a história vampírica, a condição
vampírica, origem dos poderes do seu sangue, dos matusaléns,
outros seres sobrenaturais e linhagens tidas como extintas.
Seu grande temor e direcionador para sua não vida é o medo
de desaparecer do mundo com seus trabalhos inacabados ou sem
o devido reconhecimento, ou até mesmo sem descobrir a verdade
definitiva sobre seus objetos de análise e pesquisa.
Alguns anciãos tomados por outros temores acreditam
que há grupos de pesquisadores se reunindo regularmente na
Escandinávia, nos Países Baixos e até mesmo em locais inusitados
como a China, em encontros para discutir interesses comuns, os
quais perpassam interesses sectários e de clãs. O nome Illuminae
já surgiu em alguns momentos para se referir a tais anciãos ou aos
encontros que promovem.

54 55
Em Nome do Medo
VERBOS
Catalogar, explicar, descobrir,
transmitir, decifrar.
GATILHOS
mistérios insolúveis, mentes
ou situações imprevisíveis,
interrogações a cerca de um
tópico de estudo, percepção de
que “todos” estão seguindo uma
mentira da qual ele próprio
não sabe a verdade, percepção
de evidências de alguma
conspiração mas sem conseguir
se aprofundar. Você tem uma
penalidade de 2 dados em
situações que envolvam alguns
desses gatilhos.
CRISE
Paranoia, teoria de conspiração,
percepção de conexões onde
não existem, ocultação ou
extração de informações por
métodos excusos/brutais
(que podem envolver desde
tortura de mortais a queimar
a Monalisa original para
impedir o risco que “o sistema”
descubra algo que ele ainda
não descobriu sobre Da Vinci),
reconstruir (ou codificar) sua
obra para que outros possam
continuá-la
56
SENHORES DO MEDO SEM FIM
Em relação a seus ambientes, tais anciãos ordem. O foco da sua não vida é sua grande descoberta, seu
temem que o mundo adentre uma nova idade trabalho, sua Magnum Opus. Seus segredos são seus e de
das trevas se suas informações caírem em mãos mais ninguém, pois, caso sejam descobertos, poderão
erradas ou sejam destruídas, acreditando que o
planeta só irá evoluir depois que seus trabalhos
colocar todo seu esforço em xeque. Tal personagem é
muito resiliente para sobreviver em condições adversas,
forem descobertos, aceitos e entendidos e pode ser um bom membro de coterie, se os interesses
como consenso científico. Se for necessário da coterie coincidirem com os dele. Embora não
quebrar a máscara para modificar o consenso seja um personagem muito inclinado ao uso da
das sociedades humana e vampírica, eles não força, ele com certeza fará uso dela caso sua obra
hesitarão em fazê-lo, aceitando e lidando com as
consequências até a última instância.
seja ameaçada, protegendo com garras e presas
seus ideais, métodos, e, principalmente, sua
pesquisa, quase tão importante quanto sua
Pilares sugeridos própria existência.
Cientistas, historiadores, arqueólogos,
antropólogos, médicos, veterinários, jornalistas
investigativos, detetives. Personagens enquadrados ao
Temor
Antecedentes sugeridos Cuthbert Beckett, Tremere,
Recursos, Status, Domínio, Mawla (se o Goratrix, Zelios, Aristotle de
personagem não for de geração muito baixa). Laurent.
Vantagens e desvantagens sugeridas
Embora o personagem possa escolher diversas
dentre as que mais agradarem ao seu estilo
de jogo ou narrativa, é recomendado que o
personagem tenha pontuação relevante em
pelo menos algumas características dentre
inteligência, ocultismo, etiqueta, conhecimentos
acadêmicos, ciência e empatia com animais,
bem como sobrevivência e furtividade. Já as
habilidades políticas e sociais desse tipo de
personagem poderão ser uma desvantagem, visto
o tempo que ele despende obcecado em seus
temas particulares, e que muitas vezes pouco
importam ao resto da sociedade, até que se
tornem bombásticos.
Dicas de interpretação
Personagens dos clãs Gangrel, Nosferatu,
Hecata, Tremere, Tzimisce e Ravnos são bastante
adequados a esse tipo de ancião. Você passará
muito tempo viajando ou estudando relíquias,
artefatos e métodos científicos inovadores,
confiando em seus carniçais ou crianças para
manter seus afazeres mais mundanos em
57
Em Nome do Medo SENHORES DO MEDO SEM FIM

"Na guerra, eu me revelo, a

besta sedenta por sangue,
perdendo sua humanidade no
tumulto da destruição. Estou
em guerra."
- Adaptada de Erich Maria Remarque

E
sse ancião, ao longo de toda sua vida, pode ter
sido usado como bucha de canhão ou um simples
instrumento de guerra, descartável, nas mãos de outros
mais poderosos. O Ancião que teve sua existência e não
vida forjados na batalha não suporta viver em tempos pacíficos.
Isso o faz enxergar que na verdade a guerra nunca acabou, e
nunca irá. E toda guerra necessita de guerreiros em seus campos
sangrentos.
Moldado por inúmeras batalhas, não há adversário que esses
anciãos temam, como grandes grupos de mortais, outros vampiros,
e até mesmo Garou, magos, fadas e aparições. Cada novo desafio é
a chama que arde nos corações desses combatentes que sabem que
estão em uma guerra sem fim. Seus troféus de guerra os enchem
de orgulho, incitando um medo atroz em seus rivais e naqueles que
duvidaram de suas existências.
Aprimorar e diversificar suas perícias em eliminar as mais
diversas ameaças os mantêm ocupados, assim como suas bestas,
além de manter os impulsos do chamado sob perfeito controle,
enquanto continuarem sendo bem-sucedidos em suas batalhas.
Para alguns desses anciãos, ter seguido a Trilha de Caim foi um
passo importante em sua evolução enquanto guerreiro implacável,
buscando sempre entender os seus limites e ultrapassá-los,
podendo ter deixado marcas permanentes na maneira em que ele
passa sua não vida nos tempos atuais.

58 59
Em Nome do Medo
VERBOSerbos
Conquistar, oprimir, subjugar,
intimidar, destruir.
GATILHOS
ser desrespeitado (quanto maior
a ofensa, maior a proporção do
incômodo), sentir-se pressionado
ou oprimido e controlado por
algum outro personagem ou
estrutura social, burocracias
ou “cerimônias” sociais
desnecessárias, especialmente se
exigirem pompa ou respeito para
alguém inferior no sistema de
valores do vampiro.. Você tem
uma penalidade de 2 dados em
situações que envolvam alguns
desses gatilhos.
CRISE
Violentar, violar, brutalizar,
massacrar, torturar, fazer “um
exemplo” (mesmo que o alvo
constitua um aliado, o objetivo é
mostrar dominância)
60
SENHORES DO MEDO SEM FIM
Posições de destaque como justicares, guerrilha, sequestros, rituais de magia de sangue
xerifes, flagelos e serafins da mão negra mantêm e organização de tropas para ataques.
tais anciãos entretidos, enquanto fingem Após o fim de uma caçada, sempre haverá um
ser vampiros de gerações mais altas, até que detalhe a mais ou consequências que precisarão
membros de suas próprias coteries e superiores de soluções minuciosas. Você se preocupará com
comecem a suspeitar deles. Nesse momento, cada detalhe da execução do plano.
os guerreiros são forçados a se entregar ao
torpor, ou buscar batalhas diferentes em outros
domínios por alguns anos, dando uma breve Personagens enquadrados ao Temor
trégua a seus inimigos. Drácula, Ennoia, Absimilliard, Marelle, a
Não há um objetivo final para esses seres, pois Escultura de Lobos, Karsh, Jalan-Aajav, Baba
as intrigas entre os membros e a briga por poder Yaga, Lucita de Aragón, Fatima Al Faqadi.
é eterna e isso sempre irá alimentar seu desejo
pela batalha, pois a paz é apenas uma estratégia
para os mais fracos poderem se esconder do
confronto inevitável e suas fraquezas serem
desmascaradas, para assim verem que no final
apenas o mais forte guerreiro sobreviverá.
Pilares sugeridos
Caçadores, pescadores, apreciadores da natureza
em geral, xamãs, líderes comunitários de locais
isolados, militares e membros de esquadrões
especiais criminosos, como milícias e vigilantes,
ou até mesmo do lado da "lei".
Vantagens e desvantagens sugeridas
Predador óbvio, Sede de Matusalém, Iletrado,
Vivendo no limite, Folclórico.
Antecedentes sugeridos
Infâmia ou Fama, Influência, Cadáver
desconhecido, Zerado, Adversários, Inimigos,
Aliados. Habilidades físicas, de sobrevivência,
subterfúgio, intimidação e furtividade são
indispensáveis a esses personagens.
Dicas de interpretação
Esse tipo de personagem pode ser adequado a
todos os clãs, com destaque especial para os clãs
Gangrel, Tremere, Banu Haqim e Ravnos. Noite
após noite você se preocupará em organizar
listas de prioridade para eliminar ou reduzir
influências, metodologias como táticas de
61
Em Nome do Medo
Disciplinas,
antecedentes e
características
de Anciãos
Agora que você verá exemplos
de Coteries, Disciplinas e
Habilidades para jogo com
anciãos, exemplos e a direção
para o uso destas encontradas
nas edições anteriores de
Vampiro a Máscara.
Humanidade
Lembre-se que ao adotar o
Temor em vez de Humanidade
você empregará as regras a
seguir, não encontrando mais
a penalidade para interações
com os mortais, em razão dela,
como é sugerida neste livro.
Portanto, não se preocupe mais
em matar humanos para saciar
sua fome. Todavia, matanças
em continuidade e em um
pequeno espaço de tempo
poderão chamar a atenção da
Segunda Inquisição e de seus
inimigos, rapidamente…
Adicionalmente, ao
adquirir o Temor, você não
terá mais a penalidade de
quatro dados em rolagens
para interagir com humanos,
o que se aplica apenas a
vampiros com humanidade
baixa (e não anciãos, da forma
como é sugerido o jogo neste
suplemento).
62
Coterie
A formação de coteries com
anciãos possui um grande
elemento de desconfiança deles
com seus companheiros. Seu
próprio Temor, o medo da
diablerie e a grande quantidade
de inimigos acumulados ao
longo de séculos criam um
grande clima de paranoia entre
coteries com anciãos. Mas,
como nem mesmo um vampiro
antigo e poderoso consegue
resolver seus problemas
sozinho, esses grupos serão
formados ao longo do tempo,
envolvendo grande dose de
manipulação e cuidados de
todos os lados…
Fome e Predador
Embora o Ancião possa
escolher todos os tipos de
Predador, exceto os proibidos
para Ancillae, sua fome só
atinge zero se ele drenar um
vampiro até a morte-final.
O Ancião só irá adquirir a
desvantagem Diablerista,
no entanto, se ele cometer
o Amaranto. Os Anciãos
costumam se alimentar dos
Sangue Ralo para disfarçar
sua necessidade de sangue
vampírico, até mesmo
criando Rebanhos destes
para essa finalidade. Há
rumores que existe um tipo
de atendimento vip dentro
do Sistema Circulatório,
criado exclusivamente para o
atendimento de Anciãos.
Habilidades
Caso o personagem tenha
alguma habilidade acima do
nível 5, use o Antecedente
Maestria para representar esses
níveis a mais, até o limite de
pontos do antecedente.
Disciplinas
Todas as disciplinas acima
do nível 5 convencional serão
chamadas de “Nível 5 ancião”.
Todavia, você poderá utilizar
disciplinas nível 6, a partir
da 7ª geração, sendo uma
amálgama de nível 5 com outra
disciplina nível 1, tendo que
ter relação mecânica com a sua
disciplina principal e poder
utilizado. Na 6º geração, você
poderá usar uma disciplina
nível 7, sendo a mesma
disciplina nível 5 com uma
amálgama de nível 2, e assim
sucessivamente.
Para buscar inspiração
sobre o que seriam essas
disciplinas até o nível 9, além
de recomendarmos que os
jogadores sejam comedidos e
sempre combinem a compra
dessas disciplinas com seus
narradores, recomendamos
também que chequem os
poderes das antigas edições de
Vampiro a Máscara, como foi
feito nos casos dos personagens
deste suplemento que serão
citados como exemplos.
O Custo em experiência
para a aquisição das
disciplinas anciãs se dará da
63
SENHORES DO MEDO SEM FIM
seguinte forma: (Disciplina
+ Amálgama) x 5 se for uma
disciplina principal do clã, ou
(Disciplina + Amálgama) x 7 se
não for uma disciplina do clã.
Outros pontos importantes
acerca das disciplinas anciãs
são:
Toda utilização dessas
disciplinas exige checagem de
sangue;
■ Os poderes de edições ante-
riores que conferiam dados
adicionais para rolagem,
seus números de dados
podem ser convertidos em
número de sucessos au-
tomáticos;
■ Todos os testes que envol-
viam “Virtude” poderão ser
convertidos para “Força de
Vontade”;
■ Na conversão de números
em sucessos automáticos,
utilize sempre a metade do
número da edição antiga,
arredondado para baixo;
■ Na conversão de números
em Força de Vontade,
utilize sempre a metade do
número da edição antiga,
arredondada para cima.
Não recomendamos a
adaptação das disciplinas de
taumaturgia para o nível de
disciplina anciã, especialmente
se estiver fora da proposta
da Feitiçaria de Sangue,
sendo, neste último caso, mais
palatável a adaptação. Caso
queira utilizar a taumaturgia
na forma de rituais, isso
também facilita a adaptação
dessa antiga disciplina, mas
sempre converse com seu
Em Nome do Medo
narrador para saber se a adaptação que o jogador
quer fazer é viável ou não, em sua crônica.
Também não é recomendada a adaptação de
disciplinas fora do escopo da 5ª edição, a não ser
que haja uma explicação de contexto muito boa
para que isso ocorra.
Antecedentes
■ Servus (•). Um mortal que recebeu o jura-
mento rubro do ancião, prometendo servi-lo
por uma quantidade de anos acordada em
favor da realização do juramento, que pode
ser desde proteger sua família financeira-
mente por três gerações, até o abraço ao final
da prestação de serviços. Como carniçal de
um ancião, esse servo terá acesso a duas dis-
ciplinas de nível 1, as quais o ancião também
deverá ter.
■ Coterie (• a •••). O ancião terá uma coterie
de vampiros para servi-lo. Com um ponto,
você terá acesso a uma coterie de quatro vam-
piros de Sangue fraco, com dois pontos, os
vampiros serão neófitos, e, com três pontos,
os vampiros serão Ancillae.
■ Amantes (• a •••). Esse antecedente con-
cede a você de um a três vampiros neófitos
que estão ligados ao seu ancião por laço de
sangue, e que aceitaram a realização do laço
de sangue vislumbrando o cumprimento de
uma promessa de apoio ou atingimento de
seus objetivos individuais em geral.
■ Pupilo (••). Um vampiro preparado, ao
menos, por décadas pelo ancião para re-
alizar seus desígnios, devoto ao seu ancião,
e totalmente leal a ele. Esse vampiro poderá
substituir, a qualquer tempo, um pilar que o
ancião perca.
■ Status diferenciado (••). Com esse anteced-
ente, você poderá comprar qualquer cargo
que deseja no seu domínio, entre Justicar,
Arconte, Príncipe ou Barão, assumindo essas
posições em função da renúncia do atual
ocupante do cargo, por respeito à sua elevada
geração.
64
SENHORES DO MEDO SEM FIM
■ Pilar expandido (•• ou ••••). Com esse ante-
cedente, você poderá substituir seus pilares
por organizações inteiras, como uma gangue
criminosa de um bairro, a subsidiária local de
uma grande empresa, um pequeno culto de
mortais a você, ou uma determinada delega-
cia de polícia, dentre outros. Dessa forma, os
inimigos que quiserem infringir o Temor con-
tra seu Ancião precisarão tramar esquemas
muito bem organizados para destruir todas
as pessoas e bens significativos de seu pilar
expandido. O ancião poderá ter, no máximo,
dois pilares expandidos, às custas de não ter
nenhum pilar humano ou vampiro, mesmo
que seu pilar expandido seja apenas um.
■ Maestria (• a •••). Com esse antecedente, caso
você tenha alguma habilidade de nível 5, você
poderá adquirir maestria em tal habilidade,
o que te garantirá 1 a 3 sucessos automáticos
a mais da sua rolagem naquela habilidade.
Excepcionalmente durante as situações de ga-
tilho do Temor do Ancião, o personagem não
poderá se beneficiar dos sucessos automáticos
garantidos pelo antecedente Maestria.
Experiência inicial de um
Ancião
Por padrão, um vampiro Ancillae inicia seu
jogo com 35 pontos de experiência. Seu ancião
terá, a cada cem anos de atividade, ou seja,
não interrompidos pelo torpor, 50 pontos de
experiência. Em relação à potência de sangue,
ela poderá ser de 6 ou mais, sendo que tal
característica dependerá de sua geração e deverá
ser combinada com seu narrador.
65
Em Nome do Medo
Exemplos de
Anciãos
Reinado em Sangue
Oliwia Wiśniewska,
Tzimisce de 6ª geração (por diablerie).
“Bring your chains
Your lips of tragedy
And fall into my arms…”
-DEPECHE MODE – HALO
Oliwia nasceu em 1289, no vilarejo da região
centro-sul da Polônia denominado, até os dias
atuais, de Kielce. Fruto de uma região arcaica, e
de costumes tradicionais e simples, a família de
Oliwia sempre teve grande influência política
na região, a qual, desde seus tempos como
mortal até os tempos atuais, já integrou vários
impérios e nações antes da constituição da atual
Polônia, e era um importante polo comercial e de
mineração, atividades das quais a pequena cidade
tirava seu sustento humilde, mas suficiente.
Oliwia sempre foi uma criança um pouco
alheia a atividades sociais, e reprimida pelos
fortes costumes católicos da época, preferindo
passar seu tempo com animais, principalmente
os cavalos e cães de caça da propriedade da
família.
A timidez de Oliwia, por vezes, era
confundida com fraqueza. Em um ímpeto de
dar uma lição para a adolescente de 18 anos,
seu irmão degolou o cão de caça favorito de
Oliwia, com o qual ela muitas vezes até mesmo
dormia nos canis, deixando sua cabeça à vista
para o horror da irmã. Provavelmente, o ataque
brutal de seu irmão representava algum tipo de
vingança pela irmã não ter conseguido se casar
com nenhum nobre, aumentando assim a fortuna
da família e o prestígio que o irmão almejava.
66
Após fugir para o campo e passar dois dias na
floresta horrorizada com o tratamento que teve,
Oliwia voltou para casa na madrugada, e armada
de uma adaga esfaqueou silenciosamente os dois
irmãos, o pai e a mãe.
Ao se impor como senhora da propriedade
Wiśniewska, a primeira ordem que deu aos seus
criados foi que cozinhasse o coração do irmão
para que ela o comesse, na frente de todos, no
dia seguinte – um conselho que ela ouviu da
voz da própria floresta. Todos os empregados
que fugissem da propriedade após o banquete
seriam executados – e assim se iniciou o reinado
de sangue e terror imposto pela senhora
Wiśniewska, única herdeira de todas as terras e
propriedades. Para todos os de fora da família,
os empregados deveriam contar que a família
inteira foi assassinada por bandidos, e que Oliwia
havia sido violada naquela noite, mas mantida
viva – o que iria repelir todas as propostas
forçadas de casamento que ela porventura fosse
receber.
Mas tal história de violência e brutalidade
não ficaria sem ser contada em uma região tão
tradicional e contida, e um dos empregados
acabou por revelar que a “lenda” era verdade,
ao carniçal de um Tzimisce austríaco em uma
taverna. Tal Tzimisce era nada menos que um
voivode, o qual, interessado na brutalidade e
frieza de Oliwia, decidiu torná-la sua cria. E
assim ele o fez, após poucos dias de observação.
Nos tempos em que os ritos de criação dos
Tzimisce (tradicionalmente) não eram tão brutais
quanto os ritos do Sabá, o abraço fez com que a
personalidade já pragmática e sedenta por poder
de Oliwia se elevasse a potências inacreditáveis,
e em alguns meses depois de ter sido abraçada,
ela entrou em conluio com alguns carniçais e
crias infelizes de seu senhor, e o diablerizou,
tomando para si agora não apenas a propriedade
da família, mas um voivodato inteiro.
As promessas de Oliwia aos carniçais e crias
de seu antigo senhor não foram totalmente
mentiras, nem em vão. Oliwia repelia o caminho
que alguns de seu clã estavam trilhando,
67
SENHORES DO MEDO SEM FIM
rumo à rebeldia contra os anciões, anarquia
e experimentos bizarros de vicissitude. Em
seus domínios, Oliwia nunca admitiu tais
experimentos, e embora conhecesse a disciplina,
pelo poder de seu sangue, raramente a utilizava, e
nunca para criação de criaturas grotescas.
O reinado sangrento de Oliwia mantinha
seus carniçais e liderados na linha por meio do
horror real e psicológico. O respeito e admiração
que apenas um monarca verdadeiro conseguiria
imprimir em seus servos, apenas ao escutar seu
nome. Tal medo e admiração foram também
conquistados com inúmeras defesas bem-
sucedidas de seus domínios, incluindo contra
um grupo razoável de lobisomens da tribo dos
senhores das sombras e do recém-criado clã
dos Tremere. Após alguns conflitos contra esses
agentes, inclusive, Oliwia formou um pacto
sombrio para dividir os territórios das três
facções no sul da Polônia, por meio da destruição
(e diablerie) de um feiticeiro koldúnico que
“atrapalhava” os planos de ambas as facções que
eram suas inimigas.
Ao diablerizar o feiticeiro ancião, Oliwia
adquiriu poderes tão antigos e exuberantes que
seu nome viria a se tornar uma lenda secular em
sua região: A Dama do Rio. Mas, tais poderes
nunca veem sem um preço alto a pagar, e Oliwia
estaria, para sempre, aprisionada a seu território
pelo espírito antigo das terras com os quais
manteve o pacto do antigo feiticeiro, desde que
quisesse manter para si seus poderes.
De maneira discreta e afastada dos conflitos
entre anarquistas, Camarilla e Sabá, Oliwia
manteve seus domínios sob controle até a invasão
alemã da Polônia na segunda guerra mundial.
Apesar da cidade de Kielce ter sido um relevante
bastião de resistência, destruindo muitos
soldados nazistas, a espessura do sangue de
Oliwia, uma Tzimisce de sexta geração, e séculos
de defesa implacável de seu domínio pesaram
durante os conflitos, fazendo com que a Dama
do Rio entrasse em torpor durante uma noite de
bombardeios, fundindo-se com um rio da região,
para despertar apenas em 2010, com o sangue
Em Nome do Medo
mais ralo, e necessitando de vitae para retomar
seu antigo patamar de força.
Por sorte, seus servus aguardavam o momento
do retorno de sua lendária senhora, com todos os
preparativos definidos.
Ao vislumbrar o atual estado do mundo,
Oliwia aprofundou as certezas que tinha, e seu
objetivo de continuidade da não vida: além
da proteção de seu voivodato, como a última
voivode dos Tzimisce, ela pretende tornar a
sociedade vampírica em uma aristocracia, um
poder centralizado e uma referência a todos os
cainitas do mundo. Claro que, com o chamado
da grande maioria dos anciões para o Oriente,
seja ele real ou não, a mais preparada a se tornar
a aristocrata magna da sociedade vampírica
é ela mesma – Oliwia Wiśniewska; e ela não
descansará enquanto o mundo não reconhecer e
se curvar à sua autoridade. É findo o tempo de
defesa, e iniciados os anos de expansão do último
voivodato dos Tzimisce.
Ao aceitar o convite de uma visita à
Oliwia, os visitantes encontrarão uma corte
extremamente organizada e bem-preparada
em termos de defesa, um reino sofisticado e
disciplinado sob séculos de costumes e tarefas
metodicamente organizadas. A aristocrata
rejeita veementemente criaturas modificadas
por vicissitude, a não ser que apresentem maior
beleza em termos humanos, o que pode ser
tolerado, mas nunca alterações grotescas ou de
natureza desumana. Ela também possui algumas
restrições a clãs com uma tendência natural
a quebrar a máscara em sua cidade, como os
Nosferatu, e algumas linhagens de Hecata, mas
desde que se mantenham nas sombras, também
são tolerados. Aos que abusam das hospedagens
da Dama do Rio, sempre há lugar em seus
calabouços, para que sua vitae a alimente nas
noites em que ela mais precisar resistir ao torpor,
ou talvez ao chamado, como alguns especulam...
Oliwia possui as disciplinas de Proteanismo
5 ancião (Amálgama com Feitiçaria de Sangue
3), Animalismo 3, Auspícios 5, Feitiçaria do
68
sangue 5 anciã (koldunismo - amálgama como
proteanismo 4) e Dominação 3.
Disciplina de Ancião: Proteanismo 5 –
“Fundição com a Água”. Mistura seu corpo a
qualquer corpo d'água corrente, se movimenta
por toda a corrente de água ou desaparece e
aparece em outro lugar por até três noites. Pode
se transportar, inclusive, por meio de ventos
fortes ou chuvas.
Ritual de feitiçaria koldúnica nível 5: não só
permite o vampiro viajar na água ou no vento,
como também sentir, ver e ouvir o que acontece
em um raio da terra que ele está, desde que
conectado ao mesmo clima invocado.
Execução: Consagrar o solo com sua vitae
e uma oração ao Espírito ancestral da terra
durante o clima chuvoso, de neve ou tempestade
de areia. Precisa de três velas com a coloração
favorita do Espírito, cânticos específicos e
ancestrais, bem como um sacrifício favorito - no
caso de Oliwia e do Espírito de sua terra, são
homens virgens.
Temor: Divindade.
O Ópio das Massas
Alfred Scott
(Nome verdadeiro Halfradr Skal), Toreador de 6ª
geração.
“Opium, desire or will?
Inspiration bound from an elegant seed
Subversion, through smoke I foresee
Erotic motions of lesser gods in ectasy…”
-MOONSPELL – OPIUM
SENHORES DO MEDO SEM FIM
ntiga e de
Querido E., mensagem através de Lucille, minha carniçal mais a
Envio-lhe esta a, como você deve saber. de
maior confianç agda revelou algumas de suas visões noa acocunsráelho
Nossa velha MMinneapolis, e elas parecem ser de um cia
primogênitos em lua e suas
impressionante.imas de vitae escorriam de seus olhos - o claveã . da chave para
Enquanto lágrs - ela nos revelou que você em Oslo, é a ch ória A embros.
idiossincrasias segredos mais antigos e obscuros da hist de nodosssamra sofreu
revelar um do sabe, a documentação da história antigaos locais. Daçado o atual
Como você bem Áustria, no Reino Unido, e muitos outr étodo de transmissão de
duros golpes naedade, a tradição oral se faz o melhor m a.
estado da soci é aí que você entra na história de Magdlo de seu sono. Lucille
conhecimento, e contrar um de nossos tataravós e acordá- em seu domínio tem
Você precisa en es de como fazê-lo, e a caçada de sangueinho. Só assim ele
tem as instruçõm os anarquistas oferecidos ao nosso velh re-se por algumas noites
que acabar cospertar, e com mais alguns rituais. Prepa has saudações ao seu
conseguirá de o, meu bravo cavaleiro. Ah, e mande min Marrakech, onde nós
para sua missãs me pego lembrando das noites quentes des a morte de Mussolini.
príncipe, às veze sobre os cadáveres de fascistas logo apóonhos de Kerouac,
dois dançamosm, por Lucille, uma cópia do Livro dos S lgia daqueles nossos
Envio-te també r ele próprio. Sei que você tem muita nostacia brusca nos últimos
autografado po Frisco, e espero que perdoe minha ausêne consumido deveras,
tempos loucos emselho e os perigos da modernidade têm m
anos; o novo Connte. se rá m ui to be m -s ucedido
meu br a vo in fa i qu e vo cê
ar, e eu se tá muito perigosa, e há
Assim que nosstro aaga migo idoso acord A . A Europa es es nórdicos. Se nosso vovô cai
is sã o, -o a té os E U
em sua m vidade da Espada de Caim nos país e sem preço para nossa
rumores de atis, ou da SI, seria uma perda inestimável
nas mãos dele ara. ções pelo
preciosa Máscigo idoso balbuciar histórias de deuses nórdhiicstosóreiaexvipekdiing, será
Se o nosso am as na Rússia e outras peculiaridades daer serão delírios de um
oceano, batalh mar nota - às vezes nem tudo que ele disses a ninguém além de
interessante to demais. E, claro, não confie suas anotaçõ
velho que viveu Lucille. a curta temporae da
você mesmo ou , e espero que dessa vez você passe ao menoste um aqui. S
Te quero muito ades Gêmeas. Você sabe que é eternamen ebeemm-vprinesdo a s re correr.
co no sc o na s C id m, você sabe a qu a is ba nc os
precisar de refororçsaos senalvviaagegem,
De sua velha
H.L.
69
Em Nome do Medo
Três semanas depois de concluir com meus
deveres em Oslo, me lembro muito bem de uma
conversa que tive com Alfred, enquanto ele
estava de bom humor... Ele dizia:
- Então, Erlend, como você tem minha vitae
correndo em suas veias, te contarei um pouco de
minha história.
Somos da mesma região, embora os países
que vocês conhecem hoje, em minha época, ou
pelo menos quando fui abraçado, eram reinos
divididos entre muitos jarls.
Como poeta, descrevi feitos incríveis de
heróis e suas batalhas, muitos hoje já apagados
pelo tempo, enterrados na tundra e cantando
com as raízes em suas profundezas. Todos os que
cantei, enquanto mortal, estão em valhalla. Mas
eu não tive ainda essa sorte.
Pelos deuses, estou na terra agora não mais
para contar os feitos dos homens, mas dos
imortais, nós, os eternos, que não conhecemos a
morte. E enquanto eu pisar nessa terra, mesmo
que de tempos em tempos, pois minha idade
não me permite mais viver muitas e muitas
noites seguidas, a verdade sobre nossa bênção, ou
maldição, será descoberta.
Sim, eu me lembro, em meus tempos na
América onde tomei a alcunha de Alfred Scott,
e não mais Halfradr Skal, as guerras supérfluas
e infindáveis entre a Camarilla e o Sabá - os
anarquistas, toda essa sorte de bobagem política
inventada por alguns de minha idade, tentando
controlar os da sua idade, Erlend - e até mesmo
alguns mais velhos.
Pelo que você me diz, o Sabá está em
frangalhos, o que é uma pena, na verdade,
eles eram bem interessados e detinham alguns
segredos incríveis de nossa raça, embora
nunca fui afeito a seus rituais estranhos e toda
essa sede por autodestruição. A Camarilla e
aqueles que são mais proeminentes neste secto,
mundialmente, são negacionistas - para eles não
70
existem antediluvianos, mas e se eu te disser que
eu já conheci quem conheceu alguns deles?
Toda essa gente de Minneapolis vai entender,
meu caro, a verdade. A verdade vos libertará, é
uma frase da Bíblia, não é mesmo? E embora essa
religião que me persegue desde que eu era mortal
não me agrade nem um pouco, seus tratados são
bem inteligentes e dizem muitas verdades.
Eu encantei rainhas e reis, mortais e imortais,
por muitos anos e em muitas cortes fui conhecido
como a Rosa da Tundra, 6º filho na descendência
direta de Caim. Dentre os de nosso clã, eu vou te
contar um segredo, meu jovem. Meu sangue é tão
espesso e potente, que os charmes e encantos que
consigo lançar sobre as pessoas vão muito além
daqueles que você consegue; pode-se dizer que eu
envelheci com certa classe.
Você já teve uma multidão sendo regida por
suas palavras, com o poder de mandá-los imitar
cães e ser obedecido? Você já imaginou o que é
ter um verdadeiro festival de Woodstock olhando
pra você, cantando a capella ou narrando os
feitos dos antigos?
E minha querida Heather, sim, sua senhora.
Ela terá o lugar que merece em seu atual
domínio. Eu garanto pra você. Pois o que estão
escondendo dela é a verdade, a verdade da
história cainita, e essa verdade precisa novamente
ser dita na América. Se ela se tornar príncipe ou
tudo for para os ares, pouco me importa, Erlend.
Eu ando nessa terra para que cada fragmento
do livro de Nod possa ser encontrado, cada
lenda descrita e dissecada em detalhes, cada
ideologia de secto revelada em suas verdades e
suas mentiras - só assim cada membro poderá
escolher o que fazer de sua não vida, com plena
consciência. Ereshkigal, que saudade de seu leito
pálido como a lua sob a meia noite...
Erlend, eu preciso de mais um pouco da vitae
dos nossos amigos anarquistas, consegue ajudar
seu antepassado? Ou um dedo do seu - digo,
nosso - sangue... Prometo que tenho mais e mais
histórias incríveis para te contar, você não vai
querer que eu durma novamente...
Os olhos azuis de Halfradr no porão do
navio cargueiro que o levava, junto com dois
carniçais, dois anarquistas com estacas no peito
e o jovem Toreador Erlend brilhavam uma luz
tão intensa e fria quanto a aurora boreal dos
fiordes onde nascera no Século XII, e em uma
mistura de medo, assombro e admiração, todos
o obedeciam, em todos os seus pedidos, sem o
menor questionamento.
O que uma figura de tamanho poder,
presença e influência na sociedade cainita
poderia fazer quando chegasse à América,
após mais de oito décadas em torpor, poucos
poderiam imaginar...mas todos temiam.
-Eu sou Erlend Hagen, do clã Toreador.
Anotações no Mar Negro, 08 novembro de 2021,
cumprindo a "missão poeta", conferida a mim por
minha amada senhora, H. L.
Presença Anciã (Amálgama com Dominação
2): Hipnose em Massa. O vampiro tem em
seu poder, pelo tempo em que fizer qualquer
performance, seja discurso ou qualquer forma
de arte, toda a massa que o assistir, por qualquer
meio de comunicação com o qual seu público
tenha contato físico (microfone, visão, cheiros,
dentre outros). Nenhum mortal consegue resistir
a tornar sua atenção para o vampiro que estiver
utilizando essa disciplina, enquanto ele continuar
com sua performance, ou os mortais caírem de
fadiga. Vampiros e outros sobrenaturais podem
tentar resistir ao uso dessa disciplina realizando
uma rolagem de Determinação + Sagacidade na
dificuldade oito.
Quem estiver sob o poder da hipnose em
massa fará atos estranhos a si mesmo, sob a
influência do grupo e do interlocutor. Após
o fim da performance, todos participantes se
lembrarão do ato para sempre, com medo e
trauma ou grande paixão e nostalgia, amando ou
temendo o vampiro que causou o evento por pelo
menos 3 meses.
Temor: Caótico.
71
SENHORES DO MEDO SEM FIM
Guerras seculares
Akani “Adolfo de Paula”
Gangrel de 8ª geração.
“Armas de fogo, meu corpo não alcançarão.
Espadas, facas e lanças se quebrem
Sem o meu corpo tocar.
Cordas e correntes se arrebentem
Sem o meu corpo amarrar...”
-JORGE BEN JOR – JORGE DA CAPADÓCIA
Abraçado já há muitos anos na nação que hoje
conhecemos como Angola, Akani participou de
muitas batalhas e conflitos em seu continente
natal, envolvendo dinâmicas distintas dos sectos
do ocidente, embora por vezes influenciados por
tais sectos, e especialmente pela Ashirra.
Durante conflitos entre nações africanas,
Akani descobriu que um de seus pilares, e a
qual ele desejava abraçar alguns anos depois, foi
capturada e levada como escrava a Pernambuco,
no Brasil.
Utilizando-se de dominação e de suas
grandes habilidades de sobrevivência, o poderoso
vampiro deixou seus domínios e sua posição
de prestígio a cargo de seus servus, carniçais
e partiu em busca de seu último pilar em um
domínio holandês.
O vampiro estabeleceu-se bem na recém
conquistada região, no ano de 1640, no entanto,
cinco anos depois, durante os conflitos com
Portugal, ele entrou em torpor e não conseguiu
descobrir o paradeiro de seu pilar e amante.
Em 1780, o vampiro despertou de seu
torpor para descobrir que sua amante havia
desaparecido, provavelmente morta, o que teve
um efeito transformador grande em sua natureza
e na filosofia com a qual encarava a não vida.
Akani, que teve que assumir a alcunha
de Adolfo de Paula, tornou-se, de um antigo
guerreiro de renome, em um pacifista,
principalmente em favor de causas que
Em Nome do Medo
envolviam a libertação de seus irmãos africanos
em um novo território, ideais republicanos e
democratas, e muitas ideias libertárias que
seriam associadas com o movimento anarquista
vampírico, em parte.
Desde então, Akani desistiu de procurar
por seu antigo domínio em Angola (embora
parte dos seus servus o seguiram até o Brasil), e
começou uma verdadeira cruzada pelo Nordeste
do seu novo país, baseando-se principalmente
em Recife, para fortalecer a fuga de escravos
e a destruição de escravagistas. Akani não iria
descansar enquanto o seu atual território fosse
livre da escravidão, o que desafiou e muito sua
natureza pacifista, seu objetivo final de união e
harmonia, que incluía, inclusive, harmonia entre
vampiros e humanos, o passo final de seus planos.
Durante seus conflitos seculares, e
conseguindo influenciar o fim da escravidão,
a qual foi gradativamente saindo do papel
para entrar na realidade, Akani se envolveu
em inúmeras batalhas, mas não entrou mais
em torpor de maneira involuntária, e sua luta
continua, mais firme do que nunca.
Sobrevivendo com um verdadeiro
guerrilheiro, em territórios selvagens e
urbanos, ele desenvolveu um nível de Fortitude
sem precedentes ao longo dos séculos, cuja
denominação se tornou a armadura sagrada
(Fortitude 5 anciã, amálgama com proteanismo
2).
Quem já presenciou o ancião ativando tal
disciplina pôde vê-lo imune a todo tipo de
dano, exceto chamas extremas, por até sessenta
minutos em batalhas intensas, um feito que
permite com que o ancião sobreviva até mesmo
a ataques de Garou e outros inimigos físicos de
ferocidade ímpar.
Akani é muito associado ao movimento
anarquista, e já ajudou bastante esse secto
desde que teve contato com os vampiros do
novo mundo que seguem essa filosofia de não
vida. Todavia, os objetivos de Akani são muito
maiores, mais potentes e distintos da causa
anarquista, onde enxerga a política humana e
72
vampírica como um verdadeiro tabuleiro tribal,
movimentando-se pela vontade de anciões como
ele, há todo momento. Dessa forma, as alianças
que ele realiza e enxerga não se submetem apenas
à causa anarquista, mas a vários entes naturais
e sobrenaturais que ele entende que poderão
desenvolver sua visão de mundo secular e única.
Temor: Guerreiro.
O Palco é um grito
Grace O' Connor
(também conhecida como Laura Bianchi, Earl
Webster-Grey, e outras personalidades ocasionais).
Malkaviana de 7ª geração.
“The novel is more of a whisper, whereas the stage is a
shout”.
- ROBERT HOLMAN
Nascida em 1690, na então pequena vila de Dublin,
dominada pela coroa inglesa, Grace era a filha de
uma família simples, mas bem estabelecida, de
carpinteiros.
A paixão de Grace, desde criança, sempre foi
assistir e participar de espetáculos teatrais, muitas
vezes de trupes itinerantes e de rua, em uma vida
maçante e esmagada pelo catolicismo, estoicismo
e todos os pecados e proibições que eram forçados
sobre as meninas.
No teatro e nas apresentações que Grace
assistia, seus problemas iam embora, sua dor e
suas preocupações, subitamente, eram carregados
embora pelos risos das marionetes, pelo sorriso
da dançarina, e até mesmo pela preocupação do
nobre cavaleiro que precisava salvar sua donzela em
perigo.
Aos treze anos, e já com casamento marcado,
Grace fugiu com uma trupe de artistas italianos,
e aos dezoito ela era a famosa Laura Bianchi,
conhecida por comédias e dramas em toda a
Itália, Espanha e Portugal, mas apenas bem longe
de casa, onde sua reputação, e até mesmo de sua
família, foi destruída por sua fuga.
Com vinte e três anos, e ao descobrir por
uma carta de seu irmão mais novo, o único com
o qual manteve contato, que seus pais haviam
falecido, Grace informou à sua já famosa trupe
que precisava retornar para casa, mas para que não
temessem - pegaria a parte de sua herança que lhe
era devida, além de boa parte dos recursos que
angariara na estrada, e construiria seu próprio
teatro, dirigindo e escrevendo, pela primeira vez,
suas próprias peças (sob pseudônimo masculino,
para maior aceitação).
Após presenciar uma das noites de exibição
de uma peça cômica da nova estrela das noites da
Irlanda, é especulado pela sociedade cainita que
um primogênito inglês do clã Brujah começou a
viver na cidade em busca de abraçar o magnífico
e genial autor das obras, sem saber que o autor era
uma mulher. Segundo as mesmas especulações,
uma vampira malkaviana da mesma coterie
do futuro senhor de Grace se ofuscou entre os
membros secretos de sua companhia de teatro e
a abraçou antes do Brujah, para seu eterno ódio e
desprezo.
Não se sabe se a senhora de Grace tinha inveja,
paixão, ou quis pregar uma peça em seu colega de
coterie, ou mesmo se os motivos para conceder o
abraço àquela promissora estrela da dramaturgia
foram além daquilo que qualquer um que não tem
o sangue do clã da lua poderia imaginar.
Como a maioria daqueles de seu clã, a senhora
de Grace não deu muitas explicações aos motivos
pelo qual esfacelou a mente de sua criança, a
qual, após o abraço, começou a confundir sua
personalidade com a de seus personagens, colegas,
figuras históricas e até mesmo místicas.
Após as peças de Grace tornarem-se altamente
experimentais e confusas, o teatro entrou em
certo declínio, e ela deixou os novos espetáculos e
finanças de sua companhia, já estabelecida, para
carniçais de confiança e grande habilidade em
suas respectivas tarefas, seus servus.
73
SENHORES DO MEDO SEM FIM
Entre 1760 e 1840, não se sabe se Grace viajou
com sua senhora em missões pela Europa e
Oriente Médio, servindo à Camarilla, ou se ela
entrou em torpor por certo período. Todavia, ela
se tornou extremamente obcecada pelo estudo
de muitas personalidades da humanidade, dentre
as mais singulares, bem como da sociedade
vampírica, escrevendo e compilando mais de duas
dezenas de biografias jamais publicadas.
O conhecimento de Grace sobre
personalidades como Platão, Sócrates, Alexandre
o Grande, Cleópatra e Nero supera muitos
historiadores, e ela costuma sempre tentar
participar de altos círculos da sociedade humana,
até as noites atuais, buscando absorver para
si novas personalidades e comportamentos. O
problema, para Grace e para os poucos membros
que ela escolhe eventualmente em suas coteries,
é que por vezes ela própria não discerne sua
personalidade daquela em quem ela se inspira - de
cruéis líderes militares a monges budistas.
Ao longo de séculos de estudo de
personalidades e desenvolvimento de brilhantes
e experimentais espetáculos teatrais e musicais,
sob diversas alcunhas autorais e de coadjuvantes,
Grace desenvolveu um poder de Dominação que
raramente é encontrado fora do clã malkaviano,
especialmente por ser invocado através do sangue
daqueles que também possuem a disciplina de
ofuscação: A Efígie (Dominação 5 anciã).
Tal poder é raro, e mais raramente ainda visto
em uso fora do clã malkaviano, por exigir que seu
usuário também possua altos níveis de proficiência
na disciplina de Ofuscação (amálgama com
Ofuscação 4).
Similar ao poder tabula rasa, utilizado
majoritariamente pelo Sabá, e de onde
provavelmente a efígie advém, a Dominação
imposta por Grace sob suas vítimas pode ser tão
forte que, não só suas memórias são apagadas,
como sua personalidade e memórias podem
ser totalmente repostas pelas de outra pessoa,
desde que Grace conheça tal pessoa ou tenha
um conceito concreto do que ela é. A vítima
precisa tomar do sangue de Grace por duas
Em Nome do Medo
noites, em qualquer quantidade, podendo até
mesmo ser misturado em outras substâncias,
tendo efeito bem-sucedido desde que o vampiro
dominador medite por ao menos duas horas sobre
a personalidade e memórias que deseja impor à
vítima.
O poder da efígie funciona apenas com dois
seres ao mesmo tempo, e se Grace decide infringir
sua dominação, em tal nível, sob outro ser, um dos
dois, aleatoriamente, ou morrerá, se for humano,
ou não terá absoluta memória de nada que
representava, esquecendo-se até de sua natureza
vampírica completamente, além de entrar em
frenesi imediato, sem chance de resistir.
Utilizar tais poderes para que um vampiro
acredite piamente ser Che Guevara, Malcolm X
ou Galileu, em pleno Elísio, pode ser uma piada
de péssimo gosto para uma anciã, mas usar um
humano ou neófito como se fosse e pensasse como
ela mesma ou como um inimigo, para que cumpra
seus desígnios, pode ser altamente estratégico.
Após uma longa não vida se dedicando
ao entretenimento alheio e próprio, Grace
desenvolveu, como filosofia, a destruição da
identidade dos seres racionais, os humanos
e os próprios vampiros. Para Grace, tudo faz
mais sentido quando vivemos em um grande
e louco teatro, atuando no papel de diferentes
personalidades, noite após noite, seja ele um
dramático suicida, um romântico perdidamente
apaixonado, uma heroína salvando o mundo de
robôs gigantes ou um elefante que voa.
Afinal de contas, o que é a existência senão
um papel que lhe é sempre atribuído por alguém,
seja ele mesmo Deus, Caim, ou Lilith? Se ela é
a diretora de seus personagens, todos deveriam
também sê-lo, brilhar em seus maiores papéis em
um grande palco, e apagarem suas estrelas em um
espetáculo inesquecível para a eternidade... Ou,
pelo menos, é o que ela pensa nas noites atuais…
Temor: Caótico.
74
A Morte Sem Rosto
Sem rosto
Nosferatu de 6ª geração.
“I’m waiting for the night to fall
I know that it will save us all
When everything’s dark
Keeps us from the stark reality”.
- DEPECHE MODE – WAITING FOR THE NIGHT.
Informações de diversas fontes, incluindo-se
células de diversos grupos que integram a Segunda
Inquisição, ninguém nunca viu o rosto deste ancião
Nosferatu. Não se sabe quem o abraçou. Relatos
mais antigos remontam a Teerã, estimado abraço
no século XVI, e sexta geração. Provavelmente
em vida, foi um assassino, mercenário ou místico.
Gênero desconhecido, não se sabe se o ancião teve
ou mantém sexualidade masculina, feminina ou se
é ou foi mais de um desses ao longo da história. O
grau de suas deformidades, referentes à maldição de
seu clã, é desconhecido.
Desde 1950, possui atividades mapeadas de
maneira esparsa em domínios anarquistas, do Sabá
e Camarilla, principalmente na América do Sul e
Central. Sua última localização mapeada foi em
2009, em esgotos da Cidade do México. Há rumores
de que atualmente reside em Santiago, no Chile, ou
na zona rural deste país.
Os domínios do Sem Rosto sempre são abaixo
do nível do solo, geograficamente complexos,
labirínticos e atrelados a personalidade místicas
dos locais onde passa sua não vida, geralmente
divindades esquecidas e cultos de religiões mortas,
pela simbologia encontrada em paredes, e restos de
rituais ocultistas deixados para trás.
Sua filosofia, descrita pelos poucos Nosferatu
que o conheceram, e assim relatam, aparenta
ser uma versão extremista das tradições e da
manutenção da máscara, onde a raça vampírica
deve desaparecer completamente da memória e
da percepção humana, se tornando uma lenda
absurda e desacreditada. Qualquer quebra de
75
SENHORES DO MEDO SEM FIM
máscara deve ser passível de morte final, segundo
o ancião. Qualquer convivência com humanos que
não envolva dominação ou escravidão merece morte
final. A raça vampírica só prosperará enquanto
a humanidade não tiver nenhuma pista da sua
existência. Sem Rosto pode até mesmo trabalhar
com a Segunda Inquisição realizando denúncias
a vampiros que quebram a máscara, de neófitos
a príncipes. Enquanto os domínios em que ele
estiver não aparentarem ignorar completamente a
presença vampírica, ele não descansa, nem que sua
missão seja destruir todos os demais vampiros, ou
substituí-los por suas crias ou outros vampiros de
extrema discrição.
O ancião não parece ter respeito por eventos
sociais vampíricos, e abomina o Elysium, Palla
Grande e quaisquer reuniões sociais. O ancião
se comunica apenas por meio de terceiros, mas
vampiros do clã Nosferatu, se julgados confiáveis,
podem ter benefícios ao se associarem a Sem Rosto.
Disciplina: Geomancia das sombras (Ofuscação
Anciã 5, amálgama com Oblívio 2)
Ofusca um ambiente de até vinte e cinco metros
quadrados junto com o usuário, desde que o solo
seja consagrado aos espíritos mais adequados.
Ritual de três noites deve ser feito antes, e bem-
sucedido. O ambiente sob influência da geomancia
das sombras não pode ter qualquer iluminação
natural.
Uma vez ofuscado, nada no ambiente faz
barulho diferente do som ambiente, e a imagem
que os outros veem do ambiente é como se ele fosse
uma extensão dos demais ambientes, sem ele. Todos
os objetos e vampiros com manto das sombras
ativado, no ambiente, também desaparecem
enquanto estiverem ali.
Auspícios em nível alto ou feitiçaria de sangue
podem tentar revelar o ritual de ofuscação. Tocar
um objeto ofuscado ou encostar em alguém
no ambiente ofuscado, pode quebrar o ritual
temporariamente, por curto período (segundos).
Temor: Transcendente.
Em Nome do Medo
No olho do abismo
Jean Bouchard
Lasombra de 7ª geração.
“We knocked on the doors of hell’s darker chambers
Pushed to the limits, we dragged ourselves in”.
-JOY DIVISION – DECADES
Jean pertencia a uma família de pequenos
burgueses da província de Québec, em 1872. Como
o mais novo de quatro irmãos, dentre uma família
francófona e católica, seu respeito às tradições era
grande, assim como seu medo e veneração a Deus e
a seu pai, o provedor da família.
Tudo o que possuíam, como imigrantes
franceses de terceira geração, era proveniente do
comércio de peles e tecidos montado por Pierre
Bouchard, avô de Jean, alguns anos antes de seu
nascimento. Mas a vida confortável da família
mudaria, quando uma disputa em um bar, por
assuntos banais, matou seu pai em uma discussão,
quando Jean tinha 17 anos. Todos seus irmãos, em
busca de defender a honra do pai, morreram no
dia seguinte, em uma batalha sangrenta contra o
agressor de seu pai. O franzino Jean foi o último
filho homem sobrevivente, e ao qual restou a
terrível sina de assistir a mãe ser estuprada e morta
por três homens, em sua frente.
Após ter sido brutalmente espancado, Jean foi
deixado amarrado para morrer em uma floresta
próxima, nu e sem qualquer tipo de defesa, no já
intenso outono canadense.
Enquanto sangrava e alucinava de frio, fome
e dor, Jean abandonou e renunciou a todos os
seus costumes religiosos, renegando a Deus e
o amaldiçoando eternamente, em blasfêmias
profundas, por poucos já imaginadas. Nesse
momento Jean jurou vingança não só àqueles que
mataram sua família, mas ao próprio Deus e ao
mundo. Enquanto todos não sofressem, ele não
descansaria.
76
Durante os momentos em que Jean pensava
serem os últimos de sua vida, ele até mesmo pensou
em invocar o próprio demônio e fazer com ele
um pacto por vingança, para que destruísse tudo
que pudesse antes de morrer, mesmo que sua
vingança significasse a danação eterna. Mas Jean
não entendia nada de demônios nem de anjos, e
sucumbiu ao cansaço e à dor extrema.
Na manhã seguinte, Jean percebeu que não
era o fim. Estranhamente fortalecido e curado, ele
percebeu que alguém tinha deixado para ele até
mesmo roupas, alimentos e um bilhete para que
buscasse a capela católica mais próxima, à meia
noite daquele mesmo dia. E assim ele o fez.
Ao chegar na igreja, Jean encontrou não só um,
mas quatro de seus agressores, armados e prontos
para liquidá-lo de vez. Mas sua fúria e habilidade
foram tão grandes que ele conseguiu matar os
quatro em combate, ao tomar a arma de um deles,
quebrar a perna de outro e esfaquear os outros dois
nos olhos, em questão de minutos.
Ao deixar os quatro inimigos em condição de
quase morte, Jean matou também o padre da igreja,
e profanou seu altar, eviscerando todos os corpos
em cima do solo sagrado.
Extasiado com a resiliência de Jean, e com
o espetáculo macabro que ele forneceu, Marc
Gauthier, um Lasombra de sexta geração, e quem
o salvara na noite anterior, o abraçou como sua
criança.
Como parte do clã Lasombra, Jean aprendeu
que a verdadeira natureza de seu chamado na
floresta não era advinda de demônios, mas sim de
uma força entrópica de poder muito superior: o
oblívio. Quanto mais ele se aperfeiçoava nos estudos
do oblívio, ou do abismo, mais a morbidez e o
poder do outro lado do véu o chamavam, e mais
tempo ele passava nas terras das sombras, entre
espectros e aparições.
Ao se distanciar dos assuntos humanos e
vampíricos por séculos, até mesmo de seu senhor,
alegadamente destruído em conflitos envolvendo o
Sabá em Montreal, Jean compreendia cada vez mais
as aparições, e menos as terras da carne.
SENHORES DO MEDO SEM FIM
Eventualmente, após realizar mais de uma
centena de missões para seus companheiros
fantasmagóricos, Jean entrou em torpor nos anos de
1960, tomado fortemente pela mancha destrutiva
do oblívio, que consumiu por completo o resto de
sua humanidade.
Aparentemente, agora em uma Québec
moderna, Jean retornou do torpor por auxílio de
seus antigos servus e cultistas do oblívio, obcecados,
juntos, pela destruição do véu entre as terras da
carne e das sombras, mesmo que signifique a
destruição das terras da carne. O retorno de Jean
veio com a calma de séculos, a certeza de quem
teria uma eternidade pela frente, e a sabedoria de
um papa negro.
Por ter passado anos entre os dois lados do
véu, Jean desenvolveu um poder único e ancião do
oblívio, denominado de Mergulho na Tempestade
(Amálgama com Celeridade 3) que o permite entrar
dentro de qualquer corpo de sombras, carregando
apenas uma vela, e ressurgir de outras sombras em
qualquer local que tenha céu aberto, em um raio de
até cinco quilômetros. A precisão do local onde o
vampiro ressurgirá é cirúrgica, e o tempo nas terras
da carne que ele levará para isso, podendo ser de até
24 horas completas.
Alguns estudiosos relacionam o oblívio ancião
com o arcanos “Argos”, sendo pura especulação, e
uma ligação que guarda mais relação com a lógica
do que com as terras das sombras, local desprovido
de geografia e até mesmo leis da física - ou assim
nós o entendemos...
Apesar do mergulho na tempestade ser de
grande serventia, o oblívio sempre deixa suas
marcas. Caso esse poder seja usado mais que
uma vez por mês, o usuário poderá receber dano
agravado na noite seguinte, ou perder até dois
pontos de sua filosofia, humanidade ou trilha da
sabedoria, temporariamente, ficando com maior
risco de se perder para a besta ou o torpor.
Temor: Transcendente.
77
Em Nome do Medo
O Âmago do Planeta
Hiroshi Sato
Gangrel de 7ª geração
“Bloodshot eyes, metal skin
Serpent’s tongue, dagger claws
Dragon wings, crooked horns – K.I.N.G”.
-SATYRICON – K.I.N.G
Hiroshi, mais conhecido como Dr. Sato, viveu
uma infância normal entre agricultores de
Hokkaido, a ilha mais setentrional do Japão,
e em 1925, formou-se com distinção como
arqueólogo na Universidade de Sapporo, atual
Universidade Hokkaido.
Convocado por professores norte-americanos,
muitos doutores e pós-doutores, como ajudante
em suas expedições, Sato conseguiu refúgio
na comunidade internacional, especialmente
durante os anos da Segunda Guerra mundial –
ter participado da primeira guerra mundial não
deixou nele boas marcas, especialmente durante
invasões à costa chinesa, onde participou de
massacres desumanos, os quais sempre buscou
esquecer.
Naturalizado americano, Sato viveu em
Boston até os anos 1950, onde obteve seu PhD
em ciências naturais no MIT, aprimorando
grandemente seus conhecimentos sobre história
natural, ou seja, buscas e análises de espécies
extintas, seus hábitos e os motivos pelos quais
levaram a alterações em seus ambientes.
Em 1962, o Dr. Sato fazia uma de suas últimas
expedições antes de encerrar sua obra magna de
história natural, a qual seria sua última antes de
um longo período sabático de volta a Sapporo,
com sua família. Mas tal fato nunca aconteceria,
pois em Gana, onde estava residindo há 4 meses,
o cientista tornou-se grande amigo de um
colega local, que já havia residido na Alemanha,
segundo dizia, e tinha um mestrado em biologia.
Mentiras sobre mentiras de um Laibon – um
78
vampiro da linhagem africana
Akunanse, cujo clã parente é o
Gangrel, e que ficou fascinado
pelas histórias de vida,
pesquisa, descobertas e viagens
do Doutor.
Destruindo toda e
qualquer chance de retornar
à sua família, apenas pelo
prazer egoísta de tê-lo como
companheiro de não vida, seu
senhor o abraçou em uma noite
quente e abafada, levando-o
para junto de seu bando
para participar de rituais de
batalha, e posteriormente a
uma guerra para retomada do
antigo domínio de caça que o
bando havia perdido.
Após algumas noites
desnorteado, o Dr. Sato
concordou com os desígnios de
seu senhor, mas apenas se, caso
sua guerra fosse bem-sucedida,
ele fosse liberado para voltar ao
Japão. Seu senhor, não negou
o direito a Sato, que lutou por
mais de sessenta noites com
ferocidade, astúcia e estratégias
de um verdadeiro guerreiro,
retomando da memória todas
suas experiências cruéis na
China.
Antes de partir, o senhor de
Sato alertou-o sobre criaturas
similares a vampiros que
existiam no extremo oriente,
de seu intenso poder lendário e
de seu ódio por aquilo que eles
eram; rumores, no entanto, que
Sato preferiu ignorar, antes de
seguir viagem.
Durante a década de 60
e os anos atuais, pouco se
sabe sobre o Dr. Sato, apenas
SENHORES DO MEDO SEM FIM
que toda sua família se foi, e possível invocar duas criaturas
alguns netos e bisnetos visitam iguais, e algumas poderão ter
e honram seus restos mortais mais fraquezas que outras,
em Sapporo, local o qual, na a depender do nível de
verdade, é atualmente seu sucesso na rolagem do poder
domínio. (Dificuldade 3 em um teste de
Sato é um Gangrel de Ocultismo + Empatia Animal).
sangue muito potente, Atualmente, a agenda de
transferido para ele através do Sato parece ser a de estabelecer
abraço de seu senhor. Através melhor as bases de poder dos
do contato e imersão no solo vampiros no Japão, território
de sua terra natal, e provável que já pertenceu a outros
torpor, por um período sobrenaturais no passado, mas
desconhecido, ele desenvolveu que agora, após o advento
um poder de animalismo de vários acontecimentos
ancião nomeado pelos cainitas revolucionários como a semana
japoneses como “o contato dos pesadelos, começa a abrir
com o âmago do planeta”, ou suas veias para as presas dos
simplesmente “o âmago do vampiros, aparentemente de
planeta”. forma definitiva…
Através de seu Temor: Guerreiro. ◼
conhecimento misterioso e
arcano das espécies de animais
que já habitaram a terra,
há milênios, caso Sato use o
poder de fundir-se com a terra
durante uma noite inteira,
na noite seguinte ele poderá
emergir acompanhado de um
carniçal animal similar a um
vozhd, cuja descrição fica a
cargo do narrador, e cujos
atributos são equivalentes ao
desta criatura de vicissitude
(Animalismo ancião, amálgama
com Proteanismo 3).
A criatura e seu invocador
compartilham de um laço de
sangue, mas pela natureza
extinta e há muito esquecida
da criatura, ela só consegue
permanecer de pé durante
três noites, fundindo-se com
a terra após tal período, ou
se tornando cinzas. Nunca é
79
Oásis de Sangue - A Ashirra SENHORES DO MEDO SEM FIM

“Deus não impõe, a nenhuma alma, um fardo superior às suas

forças. Beneficiar-se-á com o bem quem o tiver feito, e sofrerá com o
mal quem o tiver cometido”.
- ALCORÃO, VERSO 286 DA SURAH AL-BAQARAH.

80 81
 s Le i s d e Ha qi m
A
.
en qu a n to es ti ve r n a Am éric a
d e Ha qi m
Gu a rd e a s Le is s e n em
cr ia n ça , n ã o se esqu eç a d el a
Kh a li d , m in h a ei te -a s a tod o te m po
,
of et a . Re sp
vra d o Pr
d o Corã o, a Pa la tr a d iç ã o n o te rrit
ório.
it os d a n os sa
ve rá m u
pois ta m bé m h a

is el e irá
re o m a is ve lh o d en tre vós, po
n ça: Hon
A Le i d a Li d era to eu esti ve r a u se
n te .
a C a sa en qu a n
com a n d a r m in h
s d e Ca im ,
e os m or ta is d os d esce n d en te
o: Gu a rd
A Le i d a Prot eç ã ra em tod a s a s coisa s.
sp ei to e h on
e os tra te com re
is o
N ã o d es tr u a os d o Sa n gu e, po
iç ã o:
A Le i d a Destru som en te a o m a is
ve lh o.
o m a is ve lh o, e
a pe n a s a
ju lga m en to ca be in h a
n e à qu el a s d o Sa n gu e, pois m
a: Nã o en ga
A Le i d a Pa la vr
n a ve rd a d e.
Ca sa é fu n d a d a
e os
u e a qu el es d o Sa n gu e d e Ca im
en to: Ju lg
A Le i d o Ju lga m .
n a , se a ss im el es m erec erem
pu

Só Alá é Gra n d e.

bro d e 2018.
Ra sh id . Ba gd á , Ira qu e, Se te m
hA l-
Mu ll a h Aa li ya
Oásis de Sangue - A Ashirra
As Noites Atuais
Nas noites atuais, com a perda de parte das
fileiras do clã Banu Haqim - um dos mais, se
não o mais poderoso integrante do secto - a
Ashirra se vê cada vez mais forçada a fazer
alianças não usuais, como a concretizada através
do Casamento Rubro com a Camarilla. Os
antigos sultões do Oriente Médio, antes isolados
no conforto de seus abrigos luxuosos, entre
reis, príncipes e barões bilionários do petróleo
agora encontram-se em uma situação bem mais
delicada do que a que estavam acostumados por
muitos séculos, principalmente com o advento da
Segunda Inquisição e da globalização.
Não é à toa que bandos do Sabá se
direcionam como carniceiros famintos aos
domínios da Ashirra; por séculos e milênios,
anciãos habitam o Oriente Médio, e não
apenas em torpor, mas também em atividade,
realizando suas maquinações sob a proteção
da Lei da Liderança de Haqim: “Honrai o mais
velho dentre vós, pois ele irá governar minha
Casa enquanto eu estiver ausente”. Tal lei, assim
como outros ensinamentos da Lei de Haqim e do
Corão são defendidos com rigor máximo pelos
membros leais à Ashirra, mas não sem erros, o
que levou o Sabá e a SI ao território, em busca
da destruição dos seres milenares e seculares que
habitam os domínios do oriente próximo.
Cercados por muitas direções e fileiras, e
ainda abalados pela traição de parte dos Banu
Haqim, os anciãos da Ashirra têm sido afetados
por seus medos de forma relevante, apesar de
saber que, sem eles, todo o secto poderá ruir, e
com isso, milhares de anos de rituais de magia de
sangue, tomos místicos, história vampírica e toda
a cultura e religião daqueles que são os únicos
considerados puros por Alá.
Com tantas variáveis em jogo, a Ashirra
não tem escolha a não ser intensificar seu
intercâmbio cultural com os vampiros ocidentais,
e também do extremo oriente, que integram a
Camarilla. Os riscos são claros, pois a Camarilla,
86
além de ser quase que totalmente formada por
impuros, antes da aliança com a Ashirra, possui
sob sua proteção, anciãos e vampiros jovens que
são tão astutos politicamente e tão perigosos
quanto os próprios vampiros da Ashirra,
seguindo uma agenda de interesses egoísta e
distante das práticas do Islã. Até que ponto o
casamento rubro poderá resistir, para não se
tornar um divórcio violento e brutal? É essa a
pergunta que todos os integrantes da Ashirra
buscam responder, noite após noite.
O ambiente da Ashirra, nas noites atuais,
não é menos tomado por paranoia do que a
não-vida de todos os vampiros do mundo.
Adicionalmente, qualquer vampiro da Ashirra
ainda precisa provar a seus companheiros, e a si
mesmo, que ele permanece puro aos princípios
de sua fé, principalmente por consumir apenas
sangue Halal, o que significa, segundo a Sharia,
as leis do Corão, “permitido”.
O consumo de sangue pelos vampiros da
Ashirra deve ser realizado através do corte da
garganta da vítima com uma lâmina, em uma
morte rápida, sem destruir a coluna da vítima.
Para o consumo de sangue que não resulte
na morte da vítima, é proibido (Haram), o
consumo de vítimas que contenham substâncias
entorpecentes em seu organismo, como álcool
e outras drogas, bem como, devendo sempre
realizado de forma posterior a uma prece a Alá,
a Bismillah - em nome de Deus, O mais gracioso,
O mais misericordioso. Não é permitido se
alimentar de vítimas ou animais que não
tenham seu sangue extraído por um membro
muçulmano, nem de vítimas que tenham sido
espancadas ou atacadas de forma incisiva a ponto
de ficarem inconscientes.
Tais regras são praticadas há milênios pelos
integrantes da Ashirra, mas com o advento de
celulares e da internet, tem sido cada vez mais
desafiador se manter puro diante da Sharia. No
entanto, os vampiros da Ashirra não abrem mão
de seus métodos - Alá é Grande, e sua vontade
deve ser cumprida, assim como a Palavra do
Profeta. Dentre os poucos fiéis, a única maneira
de manter o secto vivo é mantendo suas práticas
sagradas vivas e respeitadas. A opção contrária
é perder, para sempre, o direito a adentrar o
paraíso após a não-vida, e ser execrado dentre
os mais velhos, o que significa a perda total
de alianças em um cenário já extremamente
conturbado.
Uma das práticas sagradas da Ashirra que
merece destaque é a purificação durante o
Ramadã, no qual os cainitas são incentivados
a ter uma alimentação módica, mantendo suas
bestas sob controle por meio do sacrifício.
Durante esse período do ano, que dura entre
março a abril, muitos anciãos entram em torpor,
e os neófitos são controlados de perto por seus
senhores para evitar acidentes. É comum que os
cainitas se comuniquem com os mortais apenas
por meio de seus carniçais, mantendo maior
isolamento em seus domínios e união entre
si, saindo apenas para rezar e quando creem
que suas bestas estão sob controle suficiente
para isso. Claramente, durante o Ramadã,
a tensão aumenta na sociedade da Ashirra
consideravelmente, e diversas reviravoltas
ocorrem sob o pano de fundo desse período
sagrado. Felizmente, para os cainitas, os efeitos
do Lamento durante o período do Ramadã são
atenuados, até mesmo para estrangeiros.
Mas nem tudo é dor e dificuldade
para os membros da Ashirra.
Protegidos por países e
leis ainda relativamente
fechados para as
87
SENHORES DO MEDO SEM FIM
economias globalizadas, o Oriente Médio ainda é
um dos poucos locais nos quais vampiros podem
se locomover com certa facilidade, dentro da
estrutura de poder de mortais super poderosos e
bilionários, com fortunas e arsenais que enchem
de medo e inveja os corações de muitos líderes
ocidentais, públicos e privados. O mundo árabe
possui muitos métodos próprios de comunicação,
costumes totalmente excludentes aos ocidentais,
e segredos escondidos, por séculos, dos olhos
do resto do mundo. Esse ambiente é muito
frutífero para a proliferação de vampiros e para
a manutenção de suas não-vidas em certa paz
e quietude, a qual, no entanto, é cada vez mais
ameaçada pelo resto do mundo, que insiste em
interferir nos domínios da Ashirra.
Culturalmente, a Ashirra tem grandes
desafios a vencer, e as guerras internas do
secto não se restringem ao abandono de parte
dos Banu Haqim. Vampiros mais jovens cada
vez mais se utilizam de seu conhecimento do
Corão e da Shariah para questionar costumes
que entendem como
ultrapassados,
como, por
Oásis de Sangue - A Ashirra
exemplo, a proibição de abraçar
mulheres para suas fileiras, e
diversas discussões sensíveis
no âmbito da interpretação
do Corão, como as correntes
sunitas e xiitas.
Como a Ashirra é composta,
em diferentes regiões, por
muito mais clãs que os Banu
Haqim, e é longe de ser “uma
organização de assassinos
das montanhas”, as Halaqas,
ou congregações da Ashirra,
debatem por longas noites
assuntos de interesse do secto,
nem sempre chegando a um
consenso. As disputas internas
da Ashirra, portanto, também
são fonte de tensão dentro do
secto, embora seus membros
evitem ao máximo transparecer
esses aspectos, mantendo,
diante de estrangeiros e
infiéis, o aspecto de calmos
filósofos e teólogos, debatendo
pacificamente temas que “não
interessam aos forasteiros”.
Todavia, muitos rancores já
foram formados em Halaqas,
especialmente entre anciãos,
cuja memória perpassa os
séculos, e cuja lealdade de seus
súditos e crianças deve ser nada
menos que absoluta.
As noites dentro da Ashirra
são peculiares, de fato, e todas
as tensões que convulsionam
o ambiente do Oriente Médio,
tanto internas quanto externas,
manipuladas por anciãos com
distintos interesses, tendem a
tornar tais noites cada vez mais
memoráveis e inesquecíveis
dentro deste novo capítulo na
história vampírica…
88
Breve história da Ashirra
Um ponto comum do início da história da
Ashirra, com o qual muitos qadi e mullahs
concordam, é a conversão de Suleiman ibn
Abdullah ao islamismo, quando a religião sequer
tinha nome.
Como o próprio Suleiman, supostamente,
ainda caminha sobre as ruas de Damasco, Meca,
Medina e outras cidades sagradas, dificilmente
os relatos sobre seu encontro com o Profeta são
denominados como lenda, e no máximo como
fatos mais antigos e obscuros, dos quais neófitos
pouco conhecem detalhes, mas todos têm como
verdade.
Ao confrontar Maomé e sua caravana durante
uma noite no deserto, Suleiman o teve totalmente
dominado, segurando seu pescoço em suas
mãos e desdenhou da fé do Profeta, até que este,
aparentemente sem qualquer chance de defesa,
subjugou Suleiman sem esforços, através da fé
verdadeira, e o converteu ao islamismo, dizendo
a ele que até mesmo criaturas amaldiçoadas como
Suleiman têm uma chance de salvação, tamanha é
a misericórdia de Alá, o único Deus verdadeiro.
Suleiman se tornou um grande disseminador
da palavra do Profeta, e conseguiu, de maneira
esparsa, angariar cainitas de diversos clãs à sua
causa, especialmente aqueles que buscavam ou
acreditavam na Golconda, pois a Palavra do
Profeta corroborou suas crenças e sua busca, além
do sentimento de fervor e medo que o Lamento
começou ao causar nas cidades sagradas após o
encontro do Profeta com o Anjo Gabriel, o qual
podia ser fisicamente sentido pelos vampiros.
No entanto, nos anos 600 depois de Cristo,
a sociedade mortal era caótica e absorta
entre batalhas, disputas por poder e muito
derramamento de sangue. As tribos e sociedades
do Oriente Médio não eram diferentes, e eram,
na verdade, muito impactadas pelo cenário de
violência e constantes contendas, mesmo durante
a época de Maomé, que chegou a pegar em sua
espada pela defesa de suas causas sagradas e contra
89
SENHORES DO MEDO SEM FIM
os inimigos de Deus muitas vezes. Maomé era um
dos poucos que, em posição de poder, se utilizada
de tolerância, justiça, misericórdia e acolhimento
aos inimigos vencidos, práticas que, antes dele,
eram pouco usuais na região.
Após a morte do Profeta e o estabelecimento
de diferentes dinastias e grupos dentro do
nascente império islâmico, muitos cainitas
ficaram interessados em se mudar para os
novos centros urbanos do império, com olhares
cobiçosos sobre suas riquezas, poderio bélico e
mortais determinados e capacitados a causar uma
revolução no mundo, nos aspectos intelectuais,
militares, artísticos e culturais. Com os cainitas,
veio a corrupção, e a utilização da religião como
uma fachada para domínio da sociedade – algo
no qual os Lasombra são naturalmente mestres,
e Suleiman, embora fosse um devoto, não era
diferente, e também continha em si as fraquezas
de seu clã e da besta.
Junto com Suleiman, Tarique Al-Hajji, um
Nosferatu versado na feitiçaria de sangue, e Khalid
ibn Sahl, outro Nosferatu com visões mais radicais
sobre o islã que Suleiman, formaram os pilares da
Ashirra durante os anos de expansão do império
islâmico, após a morte do Profeta, e, enquanto
o império se expandia, logo chamaram atenção
dos clãs Banu Haqim, já originários da região,
Ministério, embora como competidores que viram
seu domínio no Egito ameaçado pela Ashirra,
Toreador, Ventrue, e, especialmente, Brujah, que
abraçaram a causa de maneira incondicional,
como muitos costumam fazer quando aderem a
filosofias que os agradam e interessam.
Observando as contendas internas das castas
do clã Banu Haqim, contendas estas até hoje
existentes, mas sob a ótica de distintas fés, tanto
Suleiman quanto Khalid se viram inclinados a
estudar uma melhor organização do secto, à sua
própria maneira, e ambos se consultaram com
Tarique, o primeiro imã, para criar preceitos, ritos
e princípios análogos ao islã para uma organização
Oásis de Sangue - A Ashirra
vampírica. Com o tempo e pela influência de Tarique
principalmente, ambas as facções iniciais da Ashirra,
que tinham o mesmo nome mas eram fundadas em
domínios distintos, acabaram aderindo às mesmas
práticas, e após a entrada em torpor desses anciãos,
acabaram se unindo em interesses alinhados,
especialmente durante o advento das Cruzadas e da
invasão de seus territórios por cainitas europeus.
As Cruzadas foram eventos traumáticos na não
vida dos membros da já consolidada Ashirra, entre
o reinado de Saladino, a conquista da Península
Ibérica e conflitos seculares contra o Império
Bizantino. Durante séculos, pouco se sabe da
história do secto, especialmente entre os neófitos
e aqueles que tiveram contato com a organização
pelo lado de fora, que foram poucos.
Durante um longo período que compreende
o fim da Idade das Trevas, o renascimento e
beira a revolução industrial, muito ódio religioso,
preconceitos, conflitos bélicos e colonialismo
marcaram a divisão entre o mundo islâmico e o
Ocidente, tendo como foco o Império Otomano
e a região da Índia e suas adjacências. Anciãos se
submeteram ao torpor e ao temor, entregando
suas riquezas e domínios às suas crianças e tudo
que se sucedeu de conflitos e tramas vampíricas
são emaranhados de conflitos, golpes, traições
e alianças de ocasião que até hoje reverberam
na sociedade vampírica atual, não apenas da
Ashirra, mas de todo o mundo.
Com a transição energética entre o carvão
e o vapor para o petróleo, na era moderna, o
mundo árabe ganhou poderes imensuráveis,
econômicos e militares, além de um alcance
gigantesco, assim como no início do islã, e com
isso, os olhares daqueles membros da sociedade
vampírica que não pertenciam à Ashirra se
voltaram novamente ao Oriente, assim como
os olhares de seus inimigos e outros seres
sobrenaturais, culminando na semana dos
pesadelos em Bangladesh, e na quase extinção
do clã Ravnos.
Os efeitos místicos da semana dos
pesadelos são muitos, mas, dentre um dos
mais importantes para a Ashirra, cita-se
90
SENHORES DO MEDO SEM FIM
o fortalecimento do Lamento nos locais
sagrados do islã, como se o ritual de Tarique
para enfraquecê-lo começasse a se dissipar,
causando grande consternação entre os cainitas
da Ashirra. Agora, poucos são os que sobrevivem
à peregrinação obrigatória para rezar junto
à Caaba, e a seita, além de seus objetivos de
expansão do islã e de sua filosofia, também tem
que se voltar para a própria história e buscar
solucionar tal questão, além de compreendê-la.
De forma muito enigmática, o Lamento não
mais afeta com grande intensidade os vampiros
estrangeiros no Oriente Médio, mas apenas os
vampiros originários dessa região e aqueles com
fé no islã que vêm para peregrinar, sendo que os
estrangeiros parecem afetados por um fenômeno
denominado de Chamado, o qual também é
incompreendido pela Ashirra, que vê nele apenas um
mistério.
O Chamado dos estrangeiros, aos olhos da
Ashirra, parece ter sido uma invenção do Sabá para
destruir seus venerados anciãos, apesar de que muitos
membros dos aliados da Camarilla parecem também
ser atraídos por esse fenômeno, alguns de forma
genuína, e outros se utilizando do contexto, até mesmo
anarquistas.
Se o Chamado e o Lamento têm alguma conexão,
é algo que todos da Ashirra têm se debruçado para
entender, de anciãos, sultões, imãs, mullahs, qadis e
neófitos até os pouco afortunados Sangue fracos que têm
surgido na região, apesar das grandes restrições ao abraço
que os membros do secto têm.
No momento, a história da Ashirra tem um passado
glorioso, mas sangrento, e uma estrada muito tortuosa já
trilhada. Vislumbrando o surgimento de deuses de sangue
como Ur Shulgi, que desafiam o islã e o próprio Deus
verdadeiro, a invasão de poderosos vampiros do Ocidente
e até mesmo do Extremo Oriente em peregrinações
com interesses próprios, e uma enorme oportunidade de
expansão que poderá culminar, finalmente, em um único
mundo crente sob seus preceitos, a Ashirra ainda tem um
futuro bastante agitado nos próximos anos, e seus anciãos
despertam do torpor um após o outro, em busca de soluções,
proteção e influência nessas novas noites que os cobrem, sob
a luz da lua crescente.
91
Oásis de Sangue - A Ashirra
Organização e
Cultura
Organização
Os clãs mais presentes na Ashirra, por serem os
descendentes dos fundadores da irmandade, são
os Banu Haqim, Lasombra, Nosferatu e Brujah.
No entanto, muitos outros clãs se juntaram às
suas fileiras ao longo dos anos, dada a expansão
do islã e consequente expansão da Ashirra ao
longo dos séculos, aumentando a complexidade
administrativa e hierárquica do secto.
No entanto, a Ashirra não tem tantas posições
e divisões políticas como a Camarilla e o
Sabá, sendo sua forma de administração mais
simplificada, de forma similar ao funcionamento
da não-vida dentro do Movimento Anarquista.
Algumas posições de destaque na hierarquia do
secto, e que são comuns em todos os domínios da
Ashirra, são:
92
■ Sultão e Imã – Enquanto o líder político do
domínio é o Sultão, o líder religioso é o Imã,
podendo ou não governar em conjunto com o
sultão. Existem domínios com a presença dos
dois, e domínios com a presença de apenas
um dos dois, bem como domínios em que
há as duas figuras, mas apenas uma governa,
subordinando o outro a uma posição admin-
istrativa (como se fosse um Senescal, na figura
da Camarilla).
■ Mullah – Estudiosos do Corão e da Sharia,
esses cainitas são geralmente associados ao
Imã, servindo-o em diversos assuntos e com
organizações hierárquicas, se existirem, vari-
ando de domínio a domínio.
■ Qadi – Juristas das leis islâmicas, geralmente
os qadi têm grande número de Banu Haqim
entre eles, e suas atividades estão associadas
ao Sultão, assim como os Mullah são servi-
dores mais ligados ao Imã. Da mesma forma, a
hierarquia e organização entre os Qadi de um
sultanato variam grandemente de domínio a
domínio.
■ Muezzin – Os muezzin, além de sua obrig-
ação de convocar os cainitas para suas preces
noturnas, possuem um papel relevante nos
domínios da Ashirra, como escutas, vigias e
observadores. Geralmente pertencentes aos
clãs Nosferatu, Malkaviano e Lasombra, esses
cainitas observam a cidade pelo alto de suas
torres e do teto de mesquitas, alertando os
guerreiros e soldados contra visitas inespera-
das.
■ Mujahidin – O grosso das forças da Ashirra,
combatentes dentro e fora dos domínios, cujo
objetivo é defender os princípios do secto em
seu conflito. Todos, até mesmo mercenários,
podem ser considerados mujahidin, quando
pegam em armas e são confiáveis o bastante
para direcioná-las aos inimigos. Todavia, não
é pelo fato de que qualquer guerreiro possa
ser considerado um mujahidin, que todos são
iguais. Muitos guerreiros são guardas pes-
soais dos sultões, imãs, e anciãos da Ashirra,
executando funções análogas às de um jus-
ticar, flagelo ou xerife da Camarilla em seus
domínios. Apesar da hierarquia, o islã pre-
coniza a humildade, e o dever, para tais caini-
93
SENHORES DO MEDO SEM FIM
tas, é mais importante que um nome bonito
dentro do seu secto, motivo pelo qual todos
são considerados mujahidin, não obstante o
tamanho de seus desafios noturnos.
Outros cargos subalternos a sultões e
imãs podem surgir em domínios distintos da
Ashirra, sendo peculiares a esses, ou até mesmo
adaptando posições da Camarilla aos costumes
islâmicos, agora que os sectos possuem grande
intercâmbio de informações. Formalmente,
posições como senescal, justicar, harpia, xerife e
flagelo não existem de forma institucionalizada
na Ashirra, como existem na Camarilla, mas
elas certamente podem ser instituídas de forma
temporária ou definitiva por sultões, imãs ou
anciãos conselheiros do domínio que tenham
aprendido essa tecnologia social com seus aliados
da Camarilla. Os nomes que serão denominados
a tais posições serão de livre escolha dos
narradores, sendo recomendado que incorporem
a nomenclatura e cultura islâmica em seus
conceitos.
Oásis de Sangue - A Ashirra
Cultura
A cultura da Ashirra foi formada ao longo de sua
história, em conjunto com o desenvolvimento
do islamismo e sua disseminação ao redor do
mundo. Assim como todas as culturas das nações
e credos do mundo, essa cultura tem uma base
sólida, mas está sempre em mudança, evolução
e transformação, tomando diferentes rumos,
a depender dos domínios e governantes sob os
quais a cultura se prolifera.
Acerca da cultura da Ashirra, é inegável que
seus pilares estejam grandemente associados
aos pilares do islã, a sharia, e aos preceitos do
Corão. Tais pilares nunca foram questionados
pelos fundadores da Ashirra, e não costumam ser
pelos atuais membros do secto, embora surjam
discordâncias em outros pontos, durante as
assembleias do clã, chamadas halaqas.
Os princípios a seguir descritos constituem-
se pilares da Ashirra observados em todos os
domínios:
■ A entrada na Ashirra, cuja tradução literal
é “Irmandade”, é chamada de O Segundo
Abraço. O islamismo crê que todos possuem
o livre arbítrio, incluindo os Djinn, ao con-
trário do cristianismo que entende que seres
sobrenaturais são todos infernais. Se os djinn
podem aceitar o islã, os vampiros também
podem, e este ato é seu segundo abraço, onde
confessam sua fé no Único Deus e deci-
dem, por vontade espontânea, se tornarem
muçulmanos. Na Ashirra, todos são aceitos
igualmente como irmãos e irmãs, independ-
entemente de sua origem, gênero, sexuali-
dade, etnia ou quaisquer outros fatores, pois
o secto, assim como o islã, prega a união dos
filhos do único Deus sob uma só bandeira,
cujo objetivo é submeter o mundo (vampírico
e mortal) à verdade de suas crenças, salvando-
os da maldição eterna. Tal inclusividade
foi, e permanece sendo, desde os tempos
da fundação do islã e da Ashirra, um dos
maiores fatores do sucesso de sua dissemi-
94
nação, sendo comum mulheres na posição de
Sultão e Imã desde os primórdios da Ashirra,
em distintos territórios, algo bem destoante
da Camarilla e do Sabá na Idade das Trevas.
■ Os vampiros da Ashirra são denominados,
entre eles mesmos, como cainitas, e não
membros, como na Camarilla. Não se sabe a
origem dessa nomenclatura análoga ao Sabá,
mas suspeita-se que é influência de um dos
membros mais importantes da fundação
da Ashirra, Suleiman ibn Abdullah, do clã
das sombras. Muitos membros da Camarilla
torcem o nariz quando são chamados de
cainitas por seus recentes aliados da Ashirra,
embora já estejam se aculturando a não ficar
ofendidos. Já os membros da Ashirra não se
importam em serem chamados de membros,
entendendo a terminologia como mero cos-
tume estrangeiro.
■ Tudo o que é necessário para ser aceito na
Ashirra é uma confissão de fé diante de dois
ou mais irmãos. Se a aceitação for contro-
versa, ela será decidida por um conselho de
anciãos locais, os quais poderão julgar que o
proponente precisará renunciar a seus bens
materiais ou restaurar algo para a Ashirra
(relíquia sagrada, Mesquita, algum mem-
bro capturado, dentre outros). No limite,
se o pedido de entrada de algum membro à
Ashirra for considerado ofensivo, de maneira
debochada ou com intenções espúrias, os an-
ciãos imediatamente convocaram uma caçada
de sangue contra o proponente, e quem o ma-
tar consegue grande expiação diante de Alá,
além de ter o direito de realizar o amaranth
contra o caçado.
■ Segundo as leis da Ashirra, nenhum mortal
pode ser abraçado contra sua vontade. Antes
de ser abraçado, o mortal precisa refletir por
três noites se realmente quer receber essa
maldição. Todos os proponentes mortais que
saberão acerca do abraço devem, de antemão,
ser aprovados por todos os líderes locais.
■ A Ashirra incentiva a prática de caridade
entre os mortais, e até mesmo entre outros
SENHORES DO MEDO SEM FIM
cainitas, como preconizado
no islã, sendo uma prática
do bom muçulmano, além
de uma excelente forma de
manter a Besta sob con-
trole.
■ A comunidade vampírica
de um domínio da Ashirra
é denominada umma, e
todos aqueles que estejam
nela, incluindo estrangei-
ros, deverão se esforçar
para o bem coletivo.
■ As mesquitas da comuni-
dade são, sempre, consid-
eradas elísios, embora possa
haver outros, especialmente
em domínios maiores e
mais populosos, como Bei-
rute, Doha, Dubai, Istam-
bul, Damasco, Meca, Riad,
Teerã, Jerusalém e Medina.
■ A Ashirra, desde sua
fundação, prega a não
interferência nos conflitos
islâmicos mortais, podendo
punir seus agentes com a
morte final por interferir
em tais questões (se desc-
obertos...).
■ Não há perdão para aqueles
que renunciam a fé. Todo
membro da Ashirra que
decide sair da organização,
será caçado pelos demais,
até a morte final, sendo
preferível e incentivado seu
amaranth.
■ Nenhum cainita estrangei-
ro pode se alimentar de
muçulmanos em territórios
da Ashirra sem a permissão
dos líderes locais. Tais in-
cidentes poderão sujeitar o
transgressor à morte final,
95
Oásis de Sangue - A Ashirra
ou exílio definitivo de qualquer território da
Ashirra, sendo inscrito na lista dos infiéis.
■ A maioria da Ashirra segue a doutrina
islâmica xiita, tendo se alinhado a esse grupo
desde que ele surgiu, embora de forma sutil,
pelas ações de Suleiman ibn Abdullah. Atual-
mente, com a difusão da Ashirra em muitas
regiões, e sendo os xiitas minoria, muitos
membros da Ashirra também são sunitas,
em função da cultura de suas vidas mortais.
Todavia, os anciãos costumam repreender
aqueles que atuam de forma abertamente
contrária aos princípios mais tradicionalistas,
sejam eles quais são em seus domínios.
■ Na Ashirra, assim como no islã, você deve
obedecer a seus pais sempre, a não ser que
eles te ordenem cometer um pecado contra
Alá. Nesse único caso, é melhor obedecer à
lei de Deus do que respeitar seus pais. Os
anciãos, na Ashirra, merecem respeito, vener-
ação e cuidado dos demais membros. Mais do
que na Camarilla, onde os anciãos governam
por seu poder e alianças, a Ashirra protege
seus anciãos como uma questão de fé e sobre-
vivência do próprio secto, bem como expi-
ação diante de Alá. Suspeita-se que seja por
esse motivo que o Oriente Médio concentra
o maior número de anciãos do mundo, pois
eles poucas vezes são encontrados quando
não desejam. Anciãos tomados por temores e
por suas bestas, e que percam suas faculdades
mentais, são motivo de grande vergonha para
a Ashirra, mas acabam exterminados de
maneira sutil e secreta, sendo vedado (oficial-
mente...) o diablerie contra os antigos.
■ É recomendado que os cainitas rezem duas
vezes por noite, orientados à Meca, sendo
uma reza próxima da aurora, e uma logo após
o crepúsculo. É comum ouvir os muezins
convocando os fiéis para as preces durante as
noites nos domínios da Ashirra, e muitos dos
que convocam as preces à noite são cainitas,
geralmente dos clãs Toreador, Lasombra,
Nosferatu ou Malkaviano. A celeridade e
ofuscação são importantes para se locomover
96
dentro e fora de suas torres, especialmente
em tempos mais atribulados.
■ É recomendado que os cainitas da Ashirra
realizem ao menos uma peregrinação à Meca
durante sua não vida, realizando as sete voltas
em torno da Caaba, se conseguirem enfrentar
os efeitos dolorosos do Lamento que assola a
região. Caso o cainita da Ashirra não consiga
concluir sua peregrinação, deverá enfrentar o
Lamento ao máximo possível, demonstrando,
em seu retorno, quais foram as marcas de sua
batalha – geralmente queimaduras que cor-
roem o corpo do vampiro de dentro para fora.
■ O Jejum e a alimentação módica, especial-
mente durante o Ramadã (entre março e
abril) são incentivados como prática de
purificação perante Alá. Os anciãos, devido
à sua grande dificuldade com a prática, são
incentivados a entrar em torpor, como um
sacrifício de renunciar a seu poder, influência
e bens materiais, por um período, entregando
suas posses nas mãos de Alá, O Misericor-
dioso. Claramente, essa prática potencial-
mente produz efeitos devastadores em locais
com muitos cainitas, motivo pelo qual os
membros da Ashirra costumam ficar reclusos
enquanto realizam seus rituais de purificação,
resolvendo seus assuntos através de carniçais,
sempre que possível, ou postergando-os, bem
como monitorando intensamente os neófitos
e suas atividades, para que a Máscara não seja
quebrada.
■ Assim como a Camarilla, a Ashirra é muito
rigorosa no que tange à preservação da Más-
cara. Os mullahs doutrinam seus membros a
nunca revelarem suas naturezas reais a mor-
tais, a não ser àqueles autorizados a receber o
abraço, visto que cabe somente à Deus fazer
revelações acerca dos sobrenaturais para os
mortais, os quais devem ter sua existência
preservada e focada na veneração de Alá, para
a qual foram criados.
■ Conforme também preconiza o islã, todo
cainita pode ter servos e carniçais, porém ja-
mais, sob hipótese alguma, um cainita poderá
97
SENHORES DO MEDO SEM FIM
abusar física ou mentalmente daqueles que o
servem, devendo conceder a estes um trata-
mento justo, como um bom muçulmano.
■ O Lamento, conforme lendas cainitas da
fundação da Ashirra, surgiu quando o Profeta
teve o Alcorão revelado a si pelo anjo Gabriel,
dando início à sua jornada para espalhar a
verdade sobre o único Deus em sua terra.
O Lamento, nos tempos longevos em que o
Profeta caminhava sobre a terra (anos 600
depois de Cristo), se concentrava fortemente
ao redor da Caaba, em Meca, mas o Nosferatu
Tarique Al Hajj, em conjunto com magos
mortais, conseguiu reduzir esses efeitos, que
envolvem a perturbação do sono dos cainitas
ao longo do dia, através de vozes e barulhos
ensurdecedores, e sensação de fogo em sua
pele, causando queimaduras reais, quanto
mais se aproximam da direção que não
devem. Muitos estudiosos do islã, os mullah,
comparam o efeito do Lamento ao efeito da
Fé Verdadeira. Atualmente, o Lamento pode
ser sentido em Meca, Medina, Jerusalém,
e, em outras intensidades, por locais não
mapeados. Os vampiros mais resistentes ao
Lamento são os Nosferatu, os Lasombra,
Banu Haqim e Brujah, embora outros já ten-
ham conseguido completar suas peregrinações
com poucos danos.
Para saber mais sobre o Lamento e suas
origens, consulte o suplemento Veil of Night (O
Véu da Noite), da linha de Vampiro - A Idade
das Trevas.
Muitos outros tópicos culturais da Ashirra
poderão ser incorporados aos seus personagens
ou às suas crônicas, ao estudar sobre culturais
locais em países cuja religião majoritária seja
o islamismo. Todavia, é sempre importante
lembrar da importância de ser respeitoso com
as culturas e a fé das pessoas, pesquisando o
máximo possível sobre as tradições que você
deseja incorporar em seu jogo, e sempre pedindo
consentimento aos jogadores e demais envolvidos
em seus jogos. ◼
Oásis de Sangue - A Ashirra
Os Clãs na Ashirra
Existe a possibilidade de que todo ou qualquer
clã faça parte da Ashirra, pois, assim como
preconiza o islã, todos aqueles que aceitarem o
único Deus e a Palavra do Profeta terão direito
ao paraíso e a fazer parte de sua comunidade, a
umma. Todavia, por toda a história do secto e da
região, bem como o próprio desenvolvimento dos
clãs e linhagens na história do Mundo das Trevas,
algumas casas (Ba’yts) são mais numerosas dentre
a Ashirra do que outras, e o secto possui relações
de amizade e inimizade interconectadas com
muitos outros agentes do Mundo das Trevas.
Neste livro, não utilizaremos os nomes dos
clãs em sua forma conhecida pela Ashirra, mas
se os jogadores e narradores quiserem utilizar os
nomes adaptados dos clãs, apresentamos abaixo
uma tabela que ajudará as mesas a tratarem uma
crônica da Ashirra com maior nível de imersão,
sendo também instrumento válido para consulta
dos jogadores e narradores, caso queiram usar
essas terminologias em momentos pontuais.
A denominação das terminologias árabes da
tabela abaixo tem como origem o suplemento
Veil of Night, de Vampiro - Idade das Trevas.
■ Banu Haqim: Banu Haqim
■ Brujah: Bay't Mushakis ou Mushakisin
■ Caitiff: Alsaealiq
■ Hecata: Qabilat A l-Mawt
■ Ministério: Walid Set
■ Gangrel: Wah'Sheen
■ Lasombra: Qabilat Al-Khayal
■ Malkavianos: Bay't Majnoon ou Majanin
■ Nosferatu: Bay' Mutasharid ou Mutasharidin
■ Ravnos: Bay't Mujrim ou Mujirimin
■ Salubri: Al-Amin
■ Sangue Ralo: Sangue Novo
■ Toreador: Ray'een Al-Fen
■ Ventrue: El Hijazi
■ Tremere: n/a
■ Tzimisce: n/a
98
Em relação aos nomes dos clãs na Ashirra, as
opções apresentadas na tabela ao lado são suas
formas primordiais e mais tradicionalmente
utilizadas, especialmente dentre anciãos,
sultões, imãs e pessoas de autoridade no secto.
Todavia, com a evolução da linguagem ao longo
de séculos, existem algumas alternativas aos
nomes apresentados, sendo que a denominação
“Bay’t” ou “Casa” muitas vezes não é utilizada
por muitos neófitos. O clã Toreador também
pode ser conhecido, de maneira alternativa,
como Tumuhaan, assim como os Gangrel são
chamados de Zayyat, e os Lasombra de Layla. Em
algumas ocasiões, também há relatos de Ravnos
se denominando como Hazarat Mujrim, e de
Banu Haqim se denominando simplesmente como
“ibn Haqim” ou “ibnat/ bint Haqim”, sendo a
segunda forma o feminino, ou “filha de Haqim”,
ao contrário da primeira, que significa “filho de
Haqim”.
A cultura islâmica e da Ashirra evoluem com
alguma velocidade, embora a popularização de
termos entre os vampiros do secto tome mais
tempo que entre os mortais e suas novas formas
de comunicação. Todavia, entender alguns
novos termos dos cainitas pode trazer vantagem
àqueles mais antigos que queiram se comunicar
com os mais novos, e muitas vantagens para
os estrangeiros, que saberão se identificar nos
diversos círculos cainitas que poderão encontrar
no Oriente Médio e em domínios da Ashirra ao
redor do mundo.
Banu Haqim
O clã mais numeroso da Ashirra. Muitos são
guerreiros, muitos sultões. Possuem normalmente
posição de proeminência nos domínios da
Ashirra, por seu grande número. Rivalizam
principalmente com os Ventrue e os Tremere, por
rixas seculares desde a criação dos Tremere, ao
que fizeram aos Salubri, e as Cruzadas. Divididos
entre os seguidores do islã (leais à Ashirra),
Haqim e Ur Shulgi. A divisão do clã, antes
entre castas, é agora entre fés, causa de intrigas
e divisão na Ashirra, e é o maior problema do
secto, sendo que alguns nem mesmo reconhecem
a aliança com a Camarilla (embora estes sejam
minoria). Os Banu Haqim dissidentes são caçados
em domínios da Ashirra, a não ser que o domínio
seja de dissidentes, como infelizmente se tornou
Alamut, que caiu para o deus de sangue Ur Shulgi
e seus asseclas. A perpétua guerra civil do clã
alimenta a sede de sangue dos Banu Haqim, e é
incentivada e controlada pelos anciãos no que
parece ser uma guerra interminável, que cujo
fim é o próprio conflito que mantém neófitos
sempre agindo sob o controle dos mais velhos,
direcionando sua sede de sangue uns contra os
outros enquanto novas guerrilhas surgem noite
após noite.
Malkavianos
O antediluviano do clã fez um pacto com um
Djinn antigo e poderoso, sendo que tal Djinn
ganhou acesso breve e fragmentado ao mundo
físico, assim como os malkavianos obtiveram o
mesmo tipo de acesso frágil ao mundo espiritual,
e aos mistérios do passado, futuro e presente. Eles
são proeminentes especialmente em Jerusalém,
há séculos, e aqueles que servem à Ashirra e ao
islã acreditam que terão a salvação, pois o Corão
prega que todos que servem ao único Deus e são
bons muçulmanos verão o paraíso. No entanto,
aqueles que se dizem profetas são hereges, pois
Maomé foi o último profeta. Malkavianos são
bons conselheiros e assessores, e alguns ascendem
ao status de imã. É comum que malkavianos
tenham tais posições de destaque em domínios
da Ashirra, embora raramente liderem domínios
sozinhos, apesar de sua relevante influência.
É possível encontrar imãs malkavianos que
dominem sem um sultão, embora esses casos
sejam exceções.
Ravnos
Com origens na Índia, Paquistão, Bangladesh e,
antigamente, Alexandria (Egito), esse clã foi quase
99
SENHORES DO MEDO SEM FIM
totalmente extinto na semana dos pesadelos.
Sempre foram comerciantes e viajantes, e aqueles
pouquíssimos que sobreviveram mantêm esse
papel. Alguns muçulmanos mais espiritualizados
são mensageiros da religião no mundo todo,
e valorizados por sua fé. No Oriente Médio,
eles sofrem os efeitos do antigo Lamento de
forma muito latente, e é quase impossível sua
peregrinação a locais como Meca e Medina, por
motivos misteriosos. Eles costumam ser utilizados
como agentes da Ashirra fora de seus domínios, e
são hábeis negociadores.
Brujah
Os Brujah da Ashirra são filósofos e teólogos
apaixonados por suas convicções, dispostos a
encontrar o paraíso pelas palavras do profeta.
Mais do que qualquer outro clã, esses vampiros
acreditam que a utopia de Cartago foi apenas um
lampejo do que será o paraíso, onde finalmente
humanos e vampiros conviverão em harmonia,
sob as leis de Deus. A conquista da Terra Santa,
sob Saladino, não teria sido possível sem a
presença de fiéis Brujah entre as fileiras do islã,
assim eles contam a seus neófitos. Lado a lado
com os Banu Haqim, os Brujah vão à Jyhad sem
medo, e sem se esconder como os assassinos. Esses
guerreiros não temem morrer por seus ideais,
embora, dentro da Ashirra, eles sejam muitos,
todos sacrossantos, inflamados e apocalípticos.
Um Brujah da Ashirra é um dos exemplos
mais enfáticos e energizados de seu clã. Não
espere ofender sua fé ou seus ideais sem uma
resposta dobrada, triplicada ou quadruplicada.
Tais cainitas não costumam guardar locais
sagrados profissionalmente, mas entradas de
domínios e locais estratégicos mais distantes, por
seu grande potencial de estrago.
Os Banu Haqim e Lasombra costumam
proteger mesquitas e relíquias sagradas mais
sensíveis, entretanto, a linha de frente da
Ashirra pertence normalmente aos Brujah, os
quais se ofendem se não tomarem tal posição,
ou diretamente, ou por meio de suas crianças
Oásis de Sangue - A Ashirra
(anciãos geralmente têm discussões cruciais em
andamento, não podendo se arriscar em qualquer
frente de batalha).
Nosferatu
Os Nosferatu sempre foram o coração e as tripas
da Ashirra. Ao serem abraçados, regozijam-se
em sua maldição, em agradecimento à Alá pela
expiação de seus pecados enquanto mortais, e por
ser mais um desafio e prova de que merecem o
paraíso se permanecerem fiéis enquanto imortais.
Um dos poucos clãs que possui membros
sobreviventes ao Lamento e que completaram
a peregrinação à Caaba enquanto cainitas -
denominados Hajj, em homenagem a Tarique
Al-Hajji, o primeiro Matusalém a conseguir tal
fato - os Nosferatu são um dos clãs mais sagrados,
respeitados e orgulhosos da Ashirra.
Embora as cicatrizes e distorções de seus
corpos sejam realmente horrendas, e muitos
morrerem dolorosamente ao enfrentar o
Lamento, especialmente os de gerações altas,
todos Nosferatu da Ashirra devem se provar em
peregrinações por locais sagrados, e os segredos
e artefatos que obtêm nessas missões são ímpares
entre os vampiros. Não espere que um Nosferatu
da Ashirra revele tudo o que sabe e que tem a
qualquer um, mas tenha certeza que seu valor, só
pelo fato de estar de pé, é muito maior que o de
um Nosferatu de qualquer outro lugar do mundo.
Dentre o conhecimento comum extraído na
Ashirra, sabe-se que alguns membros desse Bay't
conseguem criar carniçais animais ao espalhar seu
sangue na água, possuem fortitude tão alta como
um Gangrel ou Ventrue, conhecem segredos de
feitiçaria de sangue mais avançados que Banu
Haqim, Tremere, e até mesmo koldunitas, e
possuem, raramente (o quanto, ninguém sabe), fé
verdadeira, associada ao islã, capaz de destroçar
cainitas e outros sobrenaturais com poucas
palavras, gestos ou olhares.
Por tais proezas, segredos e peculiaridades,
um Nosferatu da Ashirra tem pouquíssimo
contato direto com mortais, costuma rezar nas
100
mesquitas ofuscado, mas sempre busca negócios
e informações com os demais cainitas. Se tiver
a oportunidade de fazer contato com um
Mutasharidin nos tempos atuais, não a desperdice
de jeito nenhum.
Os Nicktuku
Os Nicktuku são descendentes diretos de
Absimilliard, o antediluviano Nosferatu,
ou seja, uma suposta linhagem lendária de
4ª geração, criados pelo antediluviano para
destruir sua geração mais prolífica, que são os
próprios Nosferatu. Os Nicktuku geralmente são
estranhamente simétricos e belos, de uma beleza
tão profunda que causa estranheza, assim como
os aspectos grotescos dos Nosferatu, e geralmente
foram abraçados no auge do desenvolvimento de
suas belezas, cuja idade é o fim da adolescência e
início da idade adulta.
Esses cainitas são raríssimos no mundo todo,
tendo seus últimos registros formais encontrados,
na Europa, apenas durante a Idade das Trevas.
Todavia, existem Nosferatu com um medo
abissal dos Nicktuku no Oriente Médio, e as
lendas nessa região são bem mais vivas do que os
bichos papões antigos e pitorescos pintados pelo
clã com base em relatos de seus antepassados,
em outras partes do mundo. Alguns Nosferatu,
em segredo, relatam terem sido perseguidos,
caçados, e terem tido seu sangue tomado à força
por alguns “Ray’een Al-Fen” falsos. Os Nicktuku,
supostamente, assim como os Toreador, possuem
os presentes da celeridade e auspícios, além da
beleza que é tão cativante quanto macabra e
sombria.
Em um lugar onde alguns Nosferatu possuem
a fé verdadeira, existem aqueles que também
somente se alimentam de seu sangue, e existem
para, simplesmente, eliminá-los, e mais nada.
Relatos ainda mais macabros dizem respeito
a um culto, dentro dos próprios Nosferatu,
denominado de “Os Ressequidos”, que idolatram,
por medo e intimidação, os próprios Nicktuku
e Abssimiliard, apenas com o objetivo de ser
SENHORES DO MEDO SEM FIM
eliminados por último, e cumprir os chamado
sagrado do lendário caçador, para limpar o
mundo da impureza e pecado que constitui-se
do vampirismo. Algumas máscaras associadas
a esse culto já foram encontradas nos arredores
de Doha, Dubai, Damasco e Beirute. Se o culto
está realmente ligado à lenda dos Nickutuku,
se eles são Toreadores ou estrangeiros tentando
causar medo na região, ou se tudo é verdade, é
um debate inflamado entre o clã dos escondidos
no Oriente Médio. Uma boa conversa pode surgir
ao mencionar esse assunto macabro e sombrio,
podendo também, no entanto, resultar num corte
de relações se você for um estrangeiro.
Lasombra
Os Lasombra da Ashirra são muito bem
estabelecidos no secto, sendo, junto com os Banu
Haqim, o clã que mais possui membros nomeados
sultões de domínios. Apesar de os Amici Noctis
serem compostos, em sua maioria, por vampiros
oriundos de regiões cristãs, os Qabilat Al Khayal
também possuem influência significativa no
círculo interno de anciãos do clã.
Nem todos os Lasombra da Ashirra residem
em palacetes luxuosos e escondidos da luz; muitos
também se dedicam ao comércio ao longo dos
mares e rios do Oriente Médio, expandindo
a influência econômica da Ashirra e do islã
em todas as regiões que conseguem acessar,
reportando informações valiosas aos demais
Lasombra que residem em grandes domínios.
Salubri
Antigos caçadores de demônios no Oriente
Médio, e aliados dos Banu Haqim por milênios.
Embora também uma linhagem rara no Oriente,
são mais abundantes nessa região, e tomam
vantagem de sua aliança com os Banu Haqim e
do ódio que os Tremere sofrem nos domínios da
Ashirra. É bem mais fácil ver um Salubri do que
um Tremere em domínios da Ashirra.
101
Oásis de Sangue - A Ashirra
Hecata
As práticas de necromancia eram comuns
no Oriente Médio pré islamismo, mas após
a instituição do islã, tais práticas são muito
malvistas. Tal fato, no entanto, nunca impediu
atividades de alguns necromantes na região,
mesmo que de origem cristã, pois os segredos,
bens e serviços que o clã comercializa são
de bom valor à Ashirra. Antigamente,
Capadócios costumavam ser bem aceitos em
territórios grandes da Ashirra, como médicos,
pesquisadores, e até mesmo como forma de
proteção a espíritos incompreendidos. Por esse
motivo, os Hecata das linhagens Giovanni ainda
não são bem recebidos nos domínios da Ashirra,
e vistos com grande desconfiança, não apenas
por suas origens majoritariamente europeias,
mas por todo seu passado obtuso. Todavia,
negócios são negócios, e a Ashirra está precisando
expandir sua influência mais do que nunca.
Toreador
Muitas belas obras de arte, adornos de
mesquitas, tapeçarias e obras literárias, poéticas
e teatrais do mundo árabe atraem os Toreador, e
muitos de outras partes do mundo, ao vivenciar
a experiência da não vida na Ashirra, acabam se
convertendo ao islã. Com muitos outros Bay’ts
dedicados à guerra e à defesa dos domínios, os
Toreador costumam ter bastante tempo livre
para se dedicar às artes e ao desenvolvimento da
cultura da Ashirra em seus domínios.
Antigamente menos numerosos, os Toreador
atualmente têm crescido em domínios mais
pacíficos e permissivos em relação à Sharia. No
entanto, é comum que alguns Ray'een Al Fen
acabem exagerando um pouco em suas festas
privadas e aparições públicas, especialmente
neófitos, causando consternação e conflitos com
os Banu Haqim e Lasombra mais devotos. Por
um favor a mais, uma conquista à Ashirra ou a
realização de decorações religiosas ou criação de
102
obras que exaltem o Profeta, esses degenerados
costumam se redimir frente à umma, mesmo que
temporariamente. Não é à toa que a produção de
arte sacra na cultura islâmica continua a ser uma
das mais prolíficas do mundo...
Volgirre
Em territórios da Ashirra, existem rumores
acerca do ressurgimento da linhagem Volgirre,
rumores esses associados também àqueles
dos Nicktuku. Não é de se estranhar que essa
linhagem e seus atos tenebrosos, associados ao
Sabá, sejam fonte de boatos no Oriente Médio.
Até que ponto as lendas são reais, muitos
territórios divergem, com alguns agindo como se
fosse uma certeza, e outros tratando os “Volgirre”
como conto de fadas…
Gangrel
Os Wah'Sheen sempre formaram alianças de
ocasião com a Ashirra nos territórios do Oriente
Médio, mas raros são os membros desse clã que se
converteram ao islã. Suas tradições são ligadas ou
aos espíritos da terra, os Djinns, ou a nenhuma
espiritualidade, focando apenas na sobrevivência
noite após noite.
As alianças do clã com a Ashirra envolvem,
geralmente, missões logísticas relacionadas a
transporte de bens, outros cainitas e pessoas,
bem como reconhecimento e espionagem.
Tais vampiros conhecem seus territórios como
ninguém, e são um dos poucos clãs não islâmicos
a contar com o respeito da Ashirra, mesmo
apesar de seus modos diretos e rudes para fazer
negócios.
Apenas os Ravnos superam os Gangrel em
termos de mobilidade, sendo também muito
raro encontrar um membro dos Wah'Sheen que
permanece em um mesmo domínio por muito
tempo.
Ministério
O Ministério é um dos maiores algozes da
Ashirra, por meio de seus constantes conflitos
com os Banu Haqim no Egito, e especialmente
na cidade do Cairo. Ainda conhecidos como
Walid Set no Oriente Médio, bem como
Serpentes, tais vampiros são muito presentes na
região, mas geralmente seus domínios sofrem
tensões e vivem sob um ritmo de apreensão. Os
Ministros do Oriente Médio geralmente possuem
atividades relacionadas ao tráfico de sangue, e
oferecem seus recursos, serviços e informações
a todos aqueles que puderem pagar; no entanto
as exigências dosMministros podem ser bem
complexas de se cumprir, e ficar em dívida com
um setita pode ser bem pior que a morte final.
Tremere, Tzimisce e
Ventrue
Tais clãs são raridade entre a Ashirra, e a região
do Oriente Médio. Enquanto alguns poucos
Ventrue, de linhagens do império romano
e bizantino, prestam serviços ao secto, e já
chegaram até mesmo ao sultanato, sob olhos
atentos dos Banu Haqim, Lasombra e Nosferatu,
os Tremere são totalmente ostracizados e
geralmente caçados pela Ashirra, o que tem
mudado apenas com a recente aliança junto à
Camarilla. Pela quantidade de desafetos entre
a Ashirra e os Tremere, atualmente os últimos
são recebidos apenas por cortesia, e sob severa
vigilância, e até os próprios consideram que
a relação risco e retorno de ir até o Oriente
Próximo não compensa tanto.
Já os Tzimisce nunca tiveram muito interesse
na região, extremamente focados em seus
próprios territórios. Suas práticas profanas
costumam chocar e horrorizar os cainitas
islâmicos, e os conflitos medievais contra os
muçulmanos nas terras dos voivodes produziram
muito rancor e ódio entre o clã e a Ashirra.
103
SENHORES DO MEDO SEM FIM
Dificilmente um Tzimisce é aceito na Ashirra
e se converte ao islã, mas com as mudanças
políticas recentes entre as organizações dos
cainitas, frentes de discussão voltaram a ser
abertas, em um diálogo bem menos agressivo do
que com os Tremere.
Com o advento de famílias islâmicas e
de cainitas ultra bilionários em países como
Emirados Árabes, Catar e Arábia Saudita, alguns
cainitas da Ashirra têm frequentado países como
a Croácia, Grécia e o Leste Europeu, em busca
de ressonâncias, prazeres e entretenimentos que
apenas os dragões podem providenciar, longe dos
olhos devotos... E tais favores têm sido cobrados
pelos Tzimisce, o que abriu entre a Ashirra e os
demônios uma rede de relacionamento secreta e
exclusiva entre as elites de ambas as partes.
Sangue Ralos e Caitiff
Apesar de serem muito numerosos,
especialmente na região da Índia, Bangladesh e
Paquistão, esses vampiros não possuem qualquer
reconhecimento na Ashirra, salvo raríssimas
exceções de Caitiffs (Alsaealiq), que conseguem
prosperar acima de todas as adversidades,
alcançando posições de proeminência - a exceção
confirma a regra. Na Ashirra, esses vampiros
são tratados exatamente como ansar (carniçais),
fazendo trabalhos de pouca importância e
sem direito de saber quase nada sobre a cena
maior da sociedade cainita; é requerido uma
contribuição muito grandiosa e colossal ao secto
ou ao islã para que um Caitiff ou sangue ralo
receba o tratamento acima de um pária ou de um
estrangeiro, mesmo que esteja em sua terra natal.
Oásis de Sangue - A Ashirra
Visão dos Sectos e Organizações
A Camarilla é um aliado de ocasião. A Ashirra
precisa mais deles do que eles precisam da
Camarilla, e eles sabem disso. A simpatia da
Ashirra pela Camarilla faz parecer que muitos
Ashirra poderiam se adaptar ao modo de vida
ocidental, mais do que o contrário, pela atual
situação no Oriente Médio. No entanto, admitir
isso é uma sentença de morte final para os
membros da Ashirra, e essas relações de amizade
e companheirismo são tratadas de forma sutil e
como “estratégicas” para os membros da Ashirra.
Viagens ao Ocidente têm se tornado frequentes, e
cada vez mais duradouras. Todavia, especialmente
para os vampiros de baixa geração, sua fonte de
poder, riquezas e carniçais está em sua terra natal,
e essa transição, se tiverem interesse, levará séculos
para acontecer. Muitos da Camarilla, mais jovens,
também vêem os antigos da Ashirra como ameaças
diretas aos seus domínios, por mais que sejam
forçados a recebê-los como amigos.
O Sabá é um inimigo selvagem e mortal da
Ashirra, muito antes do Casamento Rubro. Sua
ideologia fanática de superioridade e crueldade
contra os mortais, bem como seu desrespeito ao islã
e aos mais velhos, é uma afronta direta a tudo que
a Ashirra acredita. São brutos, animais, vermes que
devem ser exterminados como pragas, o quanto
antes melhor. Não existe qualquer relação oficial
entre os dois sectos, nenhum diálogo oficial. Ter
parte entre os dois sectos é uma sentença de morte
por qualquer uma das partes, dada a força que seus
membros conferem às suas crenças e ideologias.
A renúncia dos Lasombra à identidade de clã,
nos anos mais recentes, bem como a transferência
dos Amici Nocti para a Camarilla, foi a gota
d’água para o rompimento de qualquer relação
entre os cainitas desse clã, que pertenciam aos
dois sectos, Ashirra e Sabá. A relação nunca foi de
muito respeito, sempre foi permeada por muita
desconfiança e por uma cordialidade apenas
formal, quando assuntos envolviam interesses
mútuos, ou seja, rara e esparsamente.
104
Os únicos que mantêm algum nível de
relacionamento com membros do Sabá, de
maneira muito reclusa, oculta e extra-oficial, são
os Nosferatu. Embora não se orgulhem do fato,
e o neguem veementemente, alguns, mantêm
relacionamento distante com os cainitas mais
monstruosos de seu clã, quando estes estão em seus
momentos de sanidade, e em eventuais interesses
mútuos, geralmente de troca de informações sobre
domínios ocidentais e cainitas proeminentes.
O Movimento Anarquista é tratado como
um inimigo no Oriente Médio, em domínios da
Ashirra. Com toda a turbulência da Segunda
Inquisição, do Chamado no Ocidente, e do
ressurgimento do Lamento em maior intensidade
no Oriente Médio, esses dissidentes têm ganhado
força, rebelando-se contra os ensinamentos xiitas
e da Ashirra, especialmente em relação ao respeito
e defesa dos mais velhos. Todavia, a Ashirra tem
algum nível de tolerância contra esses dissidentes,
por serem, em sua maioria, neófitos, oferecendo a
eles alguma chance de redenção antes da caçada de
sangue. Vampiros mais antigos enviam agentes às
células rebeldes, até mesmo buscando entender os
motivos de sua rebelião, para melhorar suas técnicas
de domínio e gestão. Quando tudo mais falha, tais
células são destruídas. Mas, assim como a Camarilla
(acredita que) faz, é melhor mantê-los ativos e sob
controle, dando-lhes pequenas vitórias aqui e ali, e
manipulados no grande jogo, do que deixá-los tão
revoltados ao ponto de se tornarem parte do Sabá.
Os Illuminae, para a Ashirra, são muito
próximos dos Mullah em vários domínios. O
império islâmico, durante muitos séculos, foi a
fronteira mais avançada do pensamento científico,
e muitos na Ashirra creem que assim ele deve
continuar. Desde que os cientistas respeitem a fé
e as tradições, eles são bem-vindos para conduzir
seus estudos, com ética e seriedade, dentro dos
domínios do secto. Suas assembleias são respeitadas,
desde que suas decisões não infrinjam as leis da
Ashirra. Com permissão de um sultão ou imã,
SENHORES DO MEDO SEM FIM
alguns domínios da Ashirra já tiveram visitantes
illuminae entre si, sendo eles, até o momento, muito
respeitosos, e nunca tomando morada permanente
Personagens
na região. Seus recursos são generosos por artefatos, Existe a possibilidade de que todo ou qualquer
e, especialmente, literatura antiga e rara, algo que clã faça parte da Ashirra, pois, assim como
a Ashirra valoriza e necessita no momento. Não há preconiza o islã, todos aqueles que aceitarem o
registros oficiais de conflito entre esses dois sectos, único Deus e a Palavra do Profeta terão direito
visto a relação comercial interessante para ambas as ao paraíso e a fazer parte de sua comunidade, a
partes, que tem se formado nos anos mais recentes. umma. Todavia, por toda a história do secto e da
Todavia, a Ashirra sequer reconhece os illuminae região, bem como o próprio desenvolvimento dos
como um secto, tal qual a Camarilla ou o Sabá, e clãs e linhagens na história do Mundo das Trevas,
mais como uma associação de interesses comuns algumas casas (Ba’yts) são mais numerosas dentre
entre cainitas antigos e seus asseclas. Em breve, a Ashirra do que outras, e o secto possui relações
provavelmente, esse entendimento irá mudar. de amizade e inimizade interconectadas com
Com relação a Segunda Inquisição, a Ashirra muitos outros agentes do Mundo das Trevas.
assistiu, até o momento, aos ataques em Viena e Neste livro, não utilizaremos os nomes dos
Londres, praticamente incólume, estruturalmente clãs em sua forma conhecida pela Ashirra, mas
falando. O direcionamento das diversas facções se os jogadores e narradores quiserem utilizar os
da Segunda Inquisição a alvos na Europa e nomes adaptados dos clãs, apresentamos abaixo
Américas tem feito com que o Oriente Médio e a uma tabela que ajudará as mesas a tratarem uma
Ásia sejam até relativamente seguros, pelo menos crônica da Ashirra com maior nível de imersão,
dessa importante ameaça. O enorme arsenal sendo também instrumento válido para consulta
financeiro que as organizações controladas pela dos jogadores e narradores, caso queiram usar
Ashirra possui, através de bilionários dos mercados essas terminologias em momentos pontuais. A
de petróleo, armas, diamantes e instituições denominação das terminologias árabes da tabela
financeiras, tem conseguido conseguido conter abaixo tem como origem o suplemento Veil of
os esforços de operações mais consistentes na Night, de Vampiro - Idade das Trevas.
região. Em contrapartida, operações de guerras
e guerrilhas, principalmente com apoio de
organizações como a OTAN e países estrangeiros,
costumam trazer agentes da Segunda Inquisição aos
domínios da Ashirra, mesmo que em missões de
espionagem e com baixo orçamento, vetado desde a
saída de seus países de origem.
Até que ponto a Ashirra vai conseguir conter
o avanço destes agentes letais sobre seu território,
no qual a presença vampírica, inclusive de cainitas
estrangeiros, tem crescido? Parece ser questão de
tempo até que um ataque da Segunda Inquisição
ocorra em território da Ashirra, em maior escala.
Mas com certeza os cainitas da Ashirra estarão
muito mais bem preparados para se defender do
que os europeus estiveram, na década anterior.
105
Oásis de Sangue - A Ashirra
Sophia Ibnat Farhat
Sultão de Doha
Sophia é uma Ray'een Al Fen de 6a geração, cujo nome
original é Sophoniba, tendo sido Sultão de Tunis durante
a Idade das Trevas, e cujas origens do abraço remontam
provavelmente a Cartago.
Conhecida, anteriormente, por ser uma Sultão
beligerante e bastante enfática na defesa do islã, ela entrou
em diversos conflitos e seu domínio foi perdido durante
a era vitoriana, tendo entrado em torpor durante esse
período, mas não antes de conseguir, com sucesso, realizar
sua peregrinação à Caaba, o que lhe conferiu grande
prestígio e reputação. Ela não teria conseguido resistir
ao Lamento se não fosse pela ajuda de alguns Nosferatu
em sua jornada, e ela confere prestígio a esse clã em seu
domínio.
Despertando do torpor na segunda década do
século XX, Sophoniba alterou sua identidade levemente
para Sophia ibnat Farhat, e às vezes é conhecida apenas
como bint (a filha). Decidindo alterar seus métodos
radicalmente, ela estabeleceu-se em Doha como uma
das poucas cainitas do local, e ali decidiu iniciar uma
saga de expansão de sua influência, valorização artística
e espiritual da cidade, e crescimento de sua população,
missões nas quais ela foi extremamente bem-sucedida.
Com o desenvolvimento do Qatar e de Doha,
especialmente na seara comercial, bem como atração
de estrangeiros, cada vez mais, como visitantes ao país,
a influência de Sophia cresceu exponencialmente e
de forma muito rápida numa Ashirra fragmentada, e
atualmente ela possui emissários, mullahs, qadirs e espiões
espalhados em grandes centros islâmicos modernos,
como Dubai, Istambul, Riad, Cairo e Marrakech.
A presença de Sophia em alguns dos centros
islâmicos mais vibrantes é inegável, seu apoio entre
mulheres e estrangeiros que se mudam aos locais é
imenso, e atualmente seu poder político é rivalizado
apenas pelo de Suleiman ibn Abdullah, que também
despertou do torpor e, vendo o crescimento político
da Toreador, se estabeleceu em Doha como o Imã do
domínio. Sophia, claramente, capitalizou politicamente
a mudança de Suleiman para Doha, fazendo do domínio
o mais proeminente da Ashirra. Todavia, nos bastidores,
106
SENHORES DO MEDO SEM FIM
facções já se montam ao redor desses dois imensos centros Sophia, no mundo islâmico, parece já ter angariado
de gravidade, e Sophia não está disposta a ceder sua o apoio dos Banu Haqim oriundos das linhagens dos
influência ao Lasombra, por mais importante que ele vizirs e feiticeiros, embora Suleiman mantenha apoio
seja. incondicional entre os guerreiros, visto seus polos de
A personalidade de Sophia permanece beligerante, influência em Bagdá, Teerã, Damasco, Medina e Meca.
embora seu disfarce de relações públicas seja perfeito. O grande temor de Sophia é se ver, novamente,
Sophia é o rosto da Ashirra para os estrangeiros, estagnada, em uma Ashirra estagnada, que não evolui
recebendo todos em seus chás, no início da noite, com e fica presa a tradições e operações inadequadas, o que
muito luxo e ostentação, bonecas de sangue adornadas poderá agora resultar não só na perda de seu domínio,
e atenciosas, e muitos carniçais, dentre os mais belos, como já ocorreu, mas na perda de toda a organização
à disposição. No entanto, ela mantém algum desprezo vampírica na qual ela adquiriu grande status e poder.
pelos Brujah, desde os tempos em que foi Sultão de Tunis. Atualmente, o oásis de sangue da Ashirra ferve
Sophia mantém domínios em iates, escritórios de lentamente com as disputas de influência entre os dois
luxo e shopping centers voltados aos bilionários. Sua cainitas mais proeminentes do secto, e que têm como
beleza é estonteante, e o simples fato dela revelar seu rosto missão não deixar a organização ruir.
através da burca costuma chamar grande atenção em
seus arredores, como se ela fosse uma celebridade global,
sendo também o fato dela andar com seguranças e carros
de luxo blindados reforçar essa percepção.
Aos poucos que viram seu corpo por completo,
também podem relatar uma beleza física escultural,
digna de lendas, como Helena e Cleópatra, apesar dela
carregar pequenas marcas e cicatrizes da resistência
ao Lamento. Sua beleza representa várias mulheres do
mundo islâmico, tendo até mesmo feições asiáticas, sendo
quase como um monumento a toda beleza das mulheres
fiéis.
Seus principais aliados em Doha são Mubarak
Praveen, um Qadir Banu Haqim, e Arshad Al Nasr, um
Mullah Malkaviano, mas os muitos Qadir e Mullahs
do domínio agora estão se dividindo, sendo alguns já
fiéis a Suleiman, embora toda fidelidade seja velada,
e oficialmente os cainitas servem apenas ao domínio,
representado pela Sultão e pelo Imã, cada um em suas
atribuições.
Os objetivos em conjunto de Suleiman e Sophia
são bem atingidos e muito efetivos, embora eles sempre
proponham métodos diferentes. Suleiman conseguiu
fazer com que Tegyrius fosse o representante dos Banu
Haqim no casamento rubro, enquanto Sophia propôs
que Fatima Al Faqadi se casasse com François Villon,
príncipe de Paris, sendo voto vencido. Atualmente,
ambos planejam a retomada de Alamut, com muito
interesse em capitalizar essa vitória política para si
próprios.
107
Oásis de Sangue - A Ashirra SENHORES DO MEDO SEM FIM

sangue em poder de Sophia, que é o principal elo

Suleiman Ibn Abdulah entre o sistema circulatório ocidental e a Ashirra,
além de controlar redes de prostituição e grandes
Imã de Doha corporações logísticas e de engenharia.
Pouco há ainda a se dizer sobre o fundador e Suleiman, atualmente, também tem grande
símbolo da Ashirra, Suleiman ibn Abdullah, o fervor em retomar Alamut, e os Banu Haqim se
mais importante Qabilat Al Khayal do secto, regozijam com seu despertar e apoio à Jyhad mais
o homem que conheceu o Profeta e ouviu suas importante de sua Casa na era moderna.
palavras diretamente dele. O grande temor de Suleiman é que o
Após ter conseguido, não sem oposição e reconhecimento da Divindade de Alá seja
conflitos internos, a enorme expansão da Ashirra enfraquecida, e, com isso, toda sua existência seja
e do Islã, Suleiman entrou em torpor por um em vão.
período longo, mas manteve sua grande influência Com muito o que fazer e muitas frentes para
em Damasco, ao nomear o sultão da cidade como solucionar, o despertar desse cainita lendário parece
uma de suas crias, bem como em todos os domínios bastante promissor e ocupado, caso ele consiga
proeminentes e mais tradicionalistas da Ashirra, resistir a seus temores sombrios...
especialmente os locais santos de Meca, Medina e
Jerusalém.
Durante a segunda metade do século XX,
Suleiman avistou o enorme potencial, e as
revoluções culturais conduzidas por Sophia ibnat
Farhat, Sultão de Doha, e decidiu que precisava se
mudar ao domínio para observar a Ray'een Al Fen
de perto. Pensando que Sophia era uma neófita,
Suleiman, com grande surpresa, descobriu que sua
geração era mais baixa até que sua própria, sem
sequer ter feito diablerie, e que ela na verdade era
uma Sultão pouco proeminente de Tunis, séculos
atrás. Mas o peso dos anos, e provavelmente o
Temor, fortaleceram e muito a cainita, e agora ela é
um poder a ser reconhecido por ele.
Retomando favores e todo seu status, influência
e respeito, Suleiman trabalha junto com Sophia
pelo bem da Ashirra, mas deseja mantê-la sob
controle, pois seu maior Temor é um mundo cuja fé
no Profeta e no Deus verdadeiro seja enfraquecido,
causando a danação definitiva aos cainitas.
No mundo moderno, Suleiman é tido, na pior
da hipóteses, como retrógrado, e um tradicionalista
ferrenho, embora hajam muitos na Ashirra que
concordem, em gênero e grau, com sua atuação mais
robusta e autoritária. A corte de qadirs e mullahs
de Doha, especialmente para manter as aparências,
costuma endossá-lo, nem que parcialmente, embora
sejam muitas e muitas vezes seduzidos pelo ouro e

108 109
Oásis de Sangue - A Ashirra
Mubarak Praveen
Qadir de Doha
Mubarak é um Banu Haqim de 10ª geração,
nascido e criado em Doha, nos anos setenta,
quando a cidade não era tão moderna e
desenvolvida quanto nos tempos atuais, mas já
passava por transformações. Filho primogênito
de uma família de classe média, cujo pai era
comerciante, e todos devotos ao islã, Mubarak
acabou interferindo nos negócios da Sultão,
conseguindo um lucro extraordinário ao comprar
algumas terras para desenvolvimento imobiliário,
o que, com o tempo, fez com que ela cogitasse
seu abraço, mas o concedeu a um Banu Haqim
proeminente no domínio, que fez com que sua
morte parecesse um acidente de carro em um
local ermo.
Mubarak sempre foi um hábil negociador, mas
com um grande senso de ética e justiça, o que o fez
um bom candidato a um dos Qadir do domínio,
especializado na solução de disputas e tratados
comerciais.
Protegido de Sophia, Mubarak tem achado
cada vez mais dificuldade em defender os atos de
seus subordinados e conciliar tais defesas com seu
próprio senso de justiça, mas hábil com é, ele tem
conseguido ser uma das vozes da Sultão em Doha,
e até mesmo já foi enviado a outros domínios para
resolver conflitos em seu nome (embora de forma
velada). Mubarak costuma advogar contrariamente
a Sophia, e conceder penas duras a seus associados,
apenas em casos muito óbvios e complicados. O
senso de justiça do Banu Haqim, assim como da
Ashirra, pode não ser uma balança tão justa em
todas as causas, e as influências dos poderosos
possuem grande peso na defesa de seus interesses.
Tal fato, todavia, não é considerado “nada demais”,
pois se a justiça dos mortais também funciona da
mesma forma, que há de se dizer da justiça cainita?
Desde que blasfêmias não sejam cometidas contra
Alá ou contra as Leis de Haqim, e o domínio do
secto continue a avançar, tudo tem ido bem…
embora melhor para alguns do que para outros.
110
SENHORES DO MEDO SEM FIM
Maryam Hafsa
Mullah de Doha
Refugiada do Irã e antiga cientista, Maryam foi
abraçada pelo clã malkaviano de Doha durante
os anos 80, como uma cainita de 10ª geração.
Seus conhecimentos científicos e seu método
brilhante, antigamente aplicado à biologia,
campo no qual era doutora, atualmente são
aplicados à interpretação do Corão e aos textos
sagrados da Ashirra, os quais usa para tomar
decisões estratégicas, tendo voz importante no
domínio, especialmente quando evoca visões de
anjos e até mesmo djinss, do passado e do futuro,
tendo assertividade em parte não desprezível de
suas profecias.
Reclusa durante boa parte de suas atividades
noturnas, Maryam costuma se alimentar de seus
estudantes de biologia, alguns estrangeiros, e sair
apenas para fazer suas duas rezas obrigatórias,
em templos que ela costuma alternar. Pouco
afeiçoada às riquezas materiais e vícios oferecidos
pela Sultão, Maryam é uma partidária de
Suleiman desde que ele retornou à cidade, e
suas visões e falas, se turvas ou não, geralmente
costumam favorecer sua posição dentre os
mullahs. Suleiman nunca a coagiu a agir de tal
maneira, interpretando que sua grande fé e
propósito de fato são um exemplo de liderança
para a malkaviana, no entanto mais de um
cainita na cidade sabe que ele a protege como um
ativo estratégico, esteja ela sabendo disso ou não.
Ter uma mulher agindo de maneira
contrária às suas posições certamente é algo
que não agrada à Sultão Sophia, mas ela age
respeitosamente com sua colega de Ashirra,
pensando e planejando em um dia coagi-la.
Afinal, todos têm um preço, mais cedo ou mais
tarde, e o apoio de Maryam dentre os mullah
da cidade poderá conceder maioria à Sophia em
muitas tomadas de decisão relevantes.
111
Oásis de Sangue - A Ashirra
Doha by Night
Nesse tópico será apresentado um pequeno
tutorial de como retratar a cidade de Doha para
uma crônica, utilizando-se dos personagens já
descritos e suas relações entre si. É encorajado
que você jogue o cenário utilizando personagens
de uma coterie de anciãos, mas todo tipo de
coterie poderá se encaixar no cenário. Caso opte
por jogar com neófitos, criar mais anciãos que
defendam um lado (Sophia x Suleiman) ou uma
agenda própria poderá fazer com que sua crônica
fique ainda mais interessante, e bastante épica
dentro da perspectiva do objetivo de Senhores
do Medo Sem Fim.
A seguir serão apresentados tópicos com
objetivo de guiar os principais aspectos de
Doha by Night, sendo que o Narrador poderá
preencher os detalhes
da forma como achar
mais conveniente
ao objetivo de sua
crônica.
112
Tema e Clima
O principal tema de Doha é o conflito entre
a modernização e as tradições, relacionado à
cultura islâmica de seus cidadãos, bem como
à nova onda de estrangeiros atraídos para a
cidade, por suas riquezas e atmosfera diferente
do Ocidente, ou mesmo pelo Chamado, e
possibilidade de descanso do Lamento e das
peregrinações aos locais sagrados da Ashirra e do
islã.
O Clima da cidade é um clima de mistérios,
conflitos velados, história ancestral, riqueza,
luxúria, pecado e punição, tudo permeado por
uma grande hipocrisia e conveniência àqueles
estabelecidos no status quo de Doha. Conflitos
violentos são desencorajados, mas muitas vezes
acontecem nas sombras da cidade, em suas
águas, dentro de iates luxuosos, e no deserto que
circunda o domínio, longe dos olhos de todos.
Breve História de Doha
Por muitos anos, mesmo durante os séculos de
ouro do islã, a história de Doha foi uma história
de migração, comércio e formação de rotas
estratégicas no entreposto, para alimentar o
mínimo da fome dos cainitas da região. Poucos
Nosferatu, que dominavam a região na época,
se lembram dos detalhes dos primeiros anos da
cidade, mas aqueles que sabem, por si próprios
ou pelo que foi passado por seu Senhores, contêm
informações ímpares sobre a história do domínio,
bem como sobre relíquias e cainitas antigos que
ali habitaram (ou ainda habitam).
Tudo mudou com a chegada de Sophoniba
de Túnis, durante a era vitoriana, que decidiu
estabelecer o local não como rota, mas como
fonte de alimentação da Ashirra. Um oásis de
sangue, uma parada obrigatória e interessante
entre o Oriente Médio e o Ocidente.
Com ela, veio o desenvolvimento econômico e
o fortalecimento dos mortais, lento, mas bem-
feito, e ao longo de séculos.
113
SENHORES DO MEDO SEM FIM
A cidade não é o que é hoje por rapidez e
precipitação. Roma não foi feita em um dia e
Doha não foi feita em um século.
Com o advento do sistema circulatório,
que ela ajudou a estabelecer no Oriente, o
desenvolvimento cainita explodiu a ponto de
Suleiman despertar do torpor. A promessa do
domínio agora é mudar o centro de gravidade
global dos vampiros, vencendo seus inimigos
internos, externos, e o Sabá: uma missão em
estado avançado.
O casamento rubro não é uma salvação para
a Ashirra, mas para a Camarilla também. A
Camarilla precisa de refúgios longe da Europa
e América, agora mais do que nunca. Onde a SI
avança, o Sabá morre e os anciãos renascem. Uma
nova sociedade vampírica está para ressurgir,
e Doha tem a estrutura perfeita para dar um
camarote adequado àqueles que merecem ver
esse parto.
Oásis de Sangue - A Ashirra
Geografia de Doha
A distribuição de poder dentro de Doha não é
tão clara como em um domínio da Camarilla,
do Sabá ou dos Anarquistas. Todos são parte da
Ashirra, e ter domínios próprios e bem-definidos
por fronteiras não passaria a impressão correta
aos aliados da Camarilla, podendo acarretar em
uma imagem de desunião e conflitos internos, os
quais existem, mas não podem ser expostos aos
estrangeiros.
É notório, no entanto, que a região da Baía
de Doha, especialmente a Ilha das Pérolas
(Pearl Island) é um domínio proeminente dos
apoiadores de Sophia. Conforme o raio de
distância se afasta dessa região onde se abrigam
luxuosos iates e transportes marítimos, muitos
utilizados por Sophia, sua área de influência
diminui, exatamente onde a área de influência
dos Lasombra e de Suleiman cresce em poder
e rede de informações. O Forte Al-Koot é um
ponto de apoio importante de Suleiman, assim
como mesquitas ao seu redor, não sendo nunca as
mesmas onde o grupo de apoio de Sophia realiza
suas rezas noturnas.
Nos arredores da cidade, é muito comum
encontrar os Wah’Sheen (Gangrel), escondendo-
se em cavernas, veículos e caravanas, também
de forma associada a alguns Nosferatu. A
lealdade desses grupos varia ao sabor do tempo
e da conveniência, bem como das recompensas
oferecidas.
Dentro da cidade, e fora de áreas muito
óbvias como as citadas, as influências e alianças
mudam noite após noite, com base no senso de
dever de cada cainita em relação à Ashirra, seu
Sultão e seu Imã…
114
SENHORES DO MEDO SEM FIM
Sugestões de Crônicas em
Doha
Alguns pontos interessantes podem ser tratados
dentro do cenário de Doha, de forma a englobar o
Lore da Ashirra e dos Senhores do Medo sem Fim
na 5ª edição de Vampiro a Máscara. São eles:
O despertar de um novo ancião do Torpor (ou
uma coterie de anciãos) em uma cidade próxima,
podendo alterar drasticamente o tênue equilíbrio
do território;
Uma tentativa de invasão do Sabá ao novo
domínio proeminente da Ashirra, principalmente
com o objetivo de caçar Sophia e/ou Suleiman;
Conflitos políticos e de interesse com a
Camarilla, que poderão escalar para situações fora
do controle;
Conflitos com anarquistas recém-estabelecidos
na região, com objetivo de desestabilizar a ordem
e o status quo;
Conflitos internos da Ashirra cuja temática é
o tradicionalismo x modernidade e progressismo,
onde os jogadores precisarão tomar decisões que
impactarão o equilíbrio de poder do domínio;
Uma onda de anciãos antigos visitando a
cidade e buscando se estabelecer ali de forma
temporária, ou mesmo permanente, cumprindo
os desígnios aquilo que eles denominam como O
Chamado, e impactando O Lamento nos locais
santos do Oriente Médio, de formas misteriosas.
Estabelecimento dos Illuminae em Doha, em
conjunto com seus conflitos e similaridades de
visão de mundo com a Ashirra. Seria esse novo
secto, especialmente seus componentes de Sangue
Ralo, compatível com a Ashirra na atualidade?
Lendas sobre um Nicktuku ou Volgirre
nos arredores de Doha ganham força com o
desaparecimento de um proeminente Nosferatu
do domínio. Seria essa lenda real, ou apenas uma
tentativa de um dos dois líderes de subverter o
poder do domínio a seu favor, a partir do medo
que os cainitas têm dessas criaturas lendárias,
incompreensíveis e antigas?
115
Illuminae SENHORES DO MEDO SEM FIM

Capítulo Seis:
Illuminae

“"Para iludir minha desgraça, estudo."”.

−AUGUSTO DOS ANJOS

116 117
Illuminae
Neste capítulo final de Senhores do Medo sem
Fim, apresentaremos a proposta de um novo
secto, alheio às ideias da Camarilla, Sabá e
Anarquistas: Os Illuminae. O objetivo deste
capítulo é introduzir o histórico, objetivos e
conceito principal desse novo e recém fundado
secto, para que narradores, se quiserem, possam
incorporá-lo às suas mesas trazendo um elemento
surpresa e completamente novo, totalmente
plausível dentro do lore e status quo atual de
Vampiro a Máscara.
Também será completamente possível
jogar como um personagem Illuminae, desde
Ancião até Sangue Fraco, pois dentre os
Homo Sanguinis, como se denominam, todos
podem possuir posições de protagonismo na
implementação de sua ambiciosa agenda. Dessa
maneira, está propositadamente omisso quem
foram os fundadores da Illuminae, quem são seus
membros atuais e onde existe ou não presença
Illuminae, o que pode ser em qualquer local do
Mundo das Trevas, além da Escandinávia, Países
Baixos e China, onde sugerimos que eles possuem
atividades já bem estabelecidas. Se essa atividade
chega a causar disrupção nesses domínios, ou
é simplesmente algo como uma organização
secreta, caberá ao narrador decidir, da maneira
que achar melhor.
Não será necessário alterar qualquer aspecto
mecânico de Vampiro a Máscara para iniciar um
jogo com este secto, de forma imediata. Caso
você queira utilizar Anciãos em sua mesa com
a temática da Illuminae - o que é totalmente
opcional - as únicas adaptações necessárias
nesse sentido serão as mecânicas para jogos com
Anciãos, já descritas neste suplemento.
As primeiras noites
Após os eventos ocorridos na convenção de
Thorns, os quais se alastraram pela sociedade
cainita como fogo, muitos se viram chocados
diante da enorme polarização surgida, da quebra
do que passou a ser chamado de Máscara, da
violência desmedida e do desrespeito a opiniões
diferentes, dividindo aqueles que deveriam
na verdade se unir para controlar os rumos da
118
SENHORES DO MEDO SEM FIM
humanidade. A partir daquele momento, não
havia mais volta. Como resposta aos eventos
de Thorns, muitos, especialmente Anciãos, se
isolaram, sendo denominados de Autarkis, e
passaram a se dedicar, reclusos, às suas próprias
agendas, especialmente defendendo seus
rebanhos e domínios. Pode-se citar, entre tais
vampiros, os Inconnu, os quais não se sabe se
tiveram envolvimento nos eventos subsequentes.
Com a fogueira da Primeira Inquisição já fria,
e domínios mais ou menos bem estabelecidos
entre Camarilla e Sabá, Anciãos, alguns já
transformados por seus Temores, começaram a
tramar novos rumos para a sociedade vampírica,
em silêncio e isolamento, principalmente
inspirados pelos ideais que viram na
transformação da sociedade francesa através do
iluminismo. De forma coincidente ou não, cartas
foram trocadas, domínios alterados, e muitos
saíram de seu torpor físico e social para discutir
o destino da sociedade vampírica, de maneira
pacífica e sob diversos pactos de não agressão, e
até mesmo cooperação.
Um grupo secreto, à maneira dos Inconnu e
do Círculo Interno da Camarilla foi criado, com
sua própria simbologia e locais de encontro: Os
Illuminae. Atribui-se a fundação oficial desse
grupo de pensadores ao século XVIII, na cidade
de Helsinque, enquanto a Finlândia ainda era
um ducado da Rússia (mas distante das situações
medonhas que assolavam o coração desse
território).
Com o tempo, por pura medida de precaução,
os encontros Illuminae também eram realizados
em Amsterdã, uma cidade maior, mais rica, e
onde os vampiros que passaram a se denominar
homo sanguinis podiam se reunir com maior
discrição.
A semente estava lançada. Os primeiros
Illuminae, de Anciãos a crianças da noite,
na época, juraram principalmente rejeitar o
feudalismo da Camarilla, que já viam com os
dias contados, bem como o misticismo fanático
do Sabá e a danosa rebeldia do Movimento
Anarquista, em prol de um sistema mais
119
Illuminae
avançado de governo - tanto para a humanidade,
quanto entre eles mesmos. Desde então, os
Illuminae souberam que o futuro da sociedade
vampírica dependeria da destruição dos demais
sectos, junto com seus tolos ideais de máscara,
tradições, trilhas de sabedoria, antediluvianos
e uma falsa sensação de liberdade. Um por um
os falsos ídolos deverão cair, para dar lugar à
ciência, à razão, e à iluminação verdadeira. Não
seria uma tarefa fácil, mas eles tinham séculos
diante de si para realizá-la, utilizando-se dos
mais diversos e engenhosos métodos.
A Fundação da República
Depois de muitos séculos debatendo, tramando
e desenvolvendo metodologias, o advento da
Segunda Inquisição fez com que de fato os
Illuminae colocassem seus planos em prática,
fundando em 2008 a República Illuminae em
Helsinque. Antes da fundação, com a difusão de
suas ideias a alguns ilustres vampiros, anciãos
de todos os sectos, incluindo a Ashirra, foram
convidados a participar da fundação da república
e entender os ideais dos illuminae. Muitos que
já estavam inclinados aos ideais assinaram a
carta de fundação da república, outros ficaram
e observaram, voltando a seus territórios,
e alguns definitivamente aderiram à causa.
Também houve, dentre os que retornaram a seus
domínios, alguns vampiros, de todas as gerações,
dispostos a fundar células Illuminae nas mais
diversas geografias, iniciando a partir de suas
coteries e por dentro de seus sectos.
Dentre os anciãos que participaram da
fundação da república, todos deixaram pistas
como se tivessem sucumbido ao chamado, para
acompanhar as atividades em paz, pelo tempo
que fosse preciso. Esse fato fez com que mais
teorias ainda sobre esse estranho fenômeno
fossem difundidas entre os cainitas, seja para
reforçar sua ideia ou refutá-la. Dentre os
fundadores, não foi falado palavra a respeito
do tema, quando parte deles retornou a seus
domínios.
120
Anciãos de diversos temores encontraram
motivos interessantes e adequados para se juntar
à Illuminae, desde divindades querendo poder
supremo, através de uma futura presidência
(embora não haja planos oficiais para tal),
caóticos querendo desestabilizar a sociedade
vampírica, guerreiros em busca de novas batalhas
e transcendentais, que acharam a ideia da
illuminae genial, vendo nela grande espaço para
modificação de seus ambientes. No entanto, os
Anciãos que mais abraçaram os ideais Illuminae
foram os Pesquisadores, sendo a maior parte de
seus fundadores. Esses Anciãos já estavam, há
tempos, conduzindo experimentos com Sangue
Ralo e Caitiffs que seriam conhecidos, a partir
de então, como a alquimia de sangue.
Os Sangue Ralo e Caitiff, especialmente
aqueles dos países nórdicos, ficaram encantados
com a ideia da República Illuminae, e aderiram
em massa ao novo secto, ambiciosos por ter um
papel e uma voz entre vampiros poderosos e
antigos - o que foi um fato consumado. O que
eles não esperavam, é que os próprios Illuminae
anciãos desenvolveram a alquimia de sangue e
a espalharam sutilmente entre as fileiras dos
Sangue Fracos, que seguem desenvolvendo
essa ciência sob a observação dos anciãos, nas
sombras. Até então, ninguém sabe dizer até onde
essa nova “ciência” irá se desenvolver, e para quais
fins.
Iluminando a Noite - A Não
Vida de um Illuminae
O Leviatã
Durante as discussões das noites que culminaram na
Fundação, em Helsinque, representantes de todos os
clãs, até mesmo Caitiffs e Sangue Ralos, bem como
todas as gerações, foram ouvidos, tendo suas ideias
refutadas ou aceitas, mas chegando a importantes
consensos, baseados em suas experiências individuais
como homo sanguinis de muitos domínios distintos.
Um dos principais consensos estabelecidos
foi que leis poderiam variar entre os diversos
domínios Illuminae, pela vontade de seus
membros e pelos ritos políticos e legislativos
devidos, mas que sempre deveria vigorar um
contrato social dando poder uma instituição
que visa o bem de todos, porém poderosa o
suficiente para garantir o enforcement, ou
seja, o cumprimento da lei. Essa instituição foi
denominada de Leviatã.
Acerca do contrato social, foi definido ainda
que todo o contrato republicano dos Illuminae
deverá ter três cláusulas pétreas, sendo elas
os direitos à Vida, Liberdade e Propriedade
(também definidos como Pilares contratuais).
Dessa maneira, todos aqueles que violassem
a Vida de um membro, o privassem de suas
liberdades (desde que não atentem contra a
República) ou danificarem ou se apropriarem da
propriedade alheia (incluindo carniçais), seriam
punidos, as vítimas ouvidas pelo Leviatã, e um
ambiente seguro criado, de forma muito distinta
dos domínios de outros sectos (pelo menos em
teoria…).
Já o Leviatã de uma república é constituído
por Representantes, que são a voz de sua coalizão
(que pode ou não envolver vários clãs), com
poder suficiente para debater os anseios de
quem representam; os Legisladores, vampiros
mais jovens que estão a frente do seu tempo para
poder interpretar os anseios das coalizões, e
121
SENHORES DO MEDO SEM FIM
assim definir leis adequadas para os Illuminae; e
os Juízes, Anciãos fortes e maduros o suficiente
para julgar e executar as leis, sendo seus maiores
protetores, e garantindo que o egoísmo bestial
que ainda reside nos homo sanguinis não coloque
tudo a perder através de atos irracionais.
Para o devido funcionamento das instituições
do Leviatã, alguns requisitos são exigidos dentre
aqueles que aceitam os seus cargos fundamentais:
Representantes - Um membro de uma
coalizão que aceita o dever de servi-la deverá se
submeter a um Acordo (Laço de Sangue) com
seus membros, para assim ter a confiança que as
demandas serão levadas de maneira honesta às
audiências da República.
Legisladores - Deverão ser vampiros muitos
jovens ou Sangue-Ralos, e preferencialmente que
já tenham sido Representantes. Tal exigência se
dá em função da necessidade de inovação das
leis e costumes da República, para sua própria
sobrevivência, em contraste aos demais sectos,
onde geralmente os vampiros mais velhos
definem as leis e modo de vida de todos. Alega-se
que essa definição foi bastante influenciada por
Anciãos de Temor Transcendente e Caótico, mas
não se pode afirmar esse fato com clareza.
Juízes - São escolhidos entre os Anciãos, que
voluntariamente se submetem ao Acordo com os
Representantes. A escolha desse cargo entre os
Anciãos se dá justamente por serem estes os mais
capazes de fazer valer a lei, mantendo-se ativo
um duro, mas necessário enforcement.
Todos os cargos da Illuminae são escolhidos
em assembleias, com quórum mínimo variável
de domínio para domínio, bem como quórum
mínimo variável por cargo, o qual é estabelecido
no Contrato Social.
Em Amsterdã, uma reunião Illuminae não
é instalada com menos de dez membros, sendo
pelo menos um de cada cargo. Já em Helsinque,
qualquer número de membros que compareça
nas datas anuais, estabelecidas em calendário, e
enviadas a todos os republicanos, poderá tomar
decisões em nome da cidade, respeitando-se a
maioria simples. Em algumas cidades chinesas
Illuminae SENHORES DO MEDO SEM FIM

como Shanghai e Beijing, está sendo trabalhado o resistir a ideias novas. Aceitar que apenas uma
voto qualificado para alguns membros, obtido de lousa vazia tem o poder para fazer nascer novas
maneira rotativa e em assuntos específicos. perspectivas será crucial para a evolução desse
novo ser.
A Magnum Opus Procura - Para começar o segundo passo,
Outro conjunto de documentos relevante para o vampiro tem de ter em mente que agora
os Illuminae é a Magnum Opus, ou Obra Prima, ele não detém conhecimento algum além do
definindo os passos e conceitos relevantes para fato científico sacramentado. Dessa forma, o
que um homo sanguinis tenha uma existência homo sanguinis deverá buscar novas fontes de
aprimorada, racional e pacífica. conhecimento, desde bibliotecas antigas até a
A Magnum Opus, um conjunto de princípios wikipédia, desde que validadas cientificamente.
socialmente aceitos pelos republicanos, foi lida Isso irá trazer novas perspectivas, não somente
e aprimorada na Fundação, embora atualmente para o que ele busca, mas também para toda
já circulem, em diversos domínios, versões com sua existência, descobrindo que seus antigos
alguns princípios acessórios, em adição aos passos conhecimentos eram apenas uma mínima fração
definitivos para evolução do homo sanguinis, que da totalidade. Sua mente agora é um livro em
são: branco em suas mãos, e agora é preciso preenchê-
Desapego - Esse é o primeiro passo, pelo qual lo com todo seu novo saber.
qualquer homo sanguinis que deseje alcançar a Miscelânea - Após ter buscado novos conceitos
Magnum Opus deve começar. Nesse momento, e testado novas possibilidades sem se prender
ele deve desconsiderar tudo que aprendeu, ideias ao que sabia inicialmente, o terceiro passo é o
formadas, experiências consolidadas e o que quer momento de resgate ao seu conhecimento prévio,
que seja e que possa de alguma forma fazê-lo cruzando-o com seu novo saber, resultando em
incontáveis possibilidades
novas jamais imaginadas
ou exploradas por qualquer
mente humana ou vampírica
- essa agora é a não vida de
um homo sanguinis. A partir
do conhecimento científico
baseado na dúvida, e depois
nos fatos, o homo sanguinis
poderá de fato demonstrar seu
conhecimento, refutando ou
aceitando de maneira categórica
tudo que ele viu, presenciou e já
fez no passado.
Resultante - O quarto
e último passo da Magnum
Opus é colocar em prática
todo o conhecimento do
homo sanguinis, a serviço da
República e daqueles que ainda
não atingiram a iluminação.
Agora, você é a obra prima do
mundo, um novo ser racional,
imortal e com autocontrole,
bem como pleno domínio
sobre suas faculdades e sobre
as faculdades das criaturas
irracionais.
Ao longo das descrições
da Magnum Opus, também
é bastante citada a definição
de Besta como Síndrome de
Hyde, bem como a definição
de vários comportamentos
vampíricos danosos e sugestões
científicas para seus respectivos
tratamentos e supressões,
mesmo que temporárias.
Doenças mentais, físicas,
sentimentos de loucura, perda
e solidão, aliás, são temas
muito comuns aos membros
que aderem à Illuminae e
iniciam seu caminho visando
se transformar em um homo
sanguinis pleno, ou seja, uma
Obra Prima. Não é incomum
que muitos sucumbam à
“Síndrome de Hyde” seguindo
alguns dos passos definidos
pelos membros fundadores.
Para impedir fatalidades
entre o secto, especialmente
entre os de Sangue Ralo e
Neófitos, é estabelecido entre
os Illuminae o conceito de
mentoria, ou seja, um homo
sanguinis de maior grau
dentro do secto local sempre
terá que ser visitado para
conversas e atualizações. A
frequência das visitas deve ser
maior, quanto menor o grau
de desenvolvimento do homo
sanguinis na Illuminae, mas
as visitas aos mentores nunca
terminam. Caso algo suspeito
aconteça com o aprendiz, ou ele
não cumpra regularmente suas
visitas de cortesia ao mentor,
juízes poderão ser acionados
para investigar e agir, pelo bem
da República.
É fato que todos os mentores
passaram por todos os processos
da Magnum Opus? Isso jamais
pode ser afirmado pelos
republicanos da Illuminae,
mas perguntar a um membro
importante da república em
que estágio ele está pode ser
considerado uma grande ofensa,
e um questionamento a seu
status social. Se algum vampiro
que não conhece os Illuminae
comparasse seus métodos aos
de busca pela Golconda, isso
também seria muito ofensivo.
Mas esse vampiro estaria, de

122 123
Illuminae
todo, errado? Cientificamente, bem… é uma
questão complicada.
Na rede de mentores e aprendizes da
Illuminae, muitas tramas e segredos são
escondidos, muitas quedas de comportamento,
reputações e favores ocorrem, à revelia da vida
política do Leviatã, em uma relação quase que
entre médico e paciente. E é nessas relações que
paira a sombra sobre os Illuminae, de onde surgem
muitos temas tratados em assembleias e reuniões
oficiais de membros…
Ainda que oficialmente, entre os homo
sanguinis, há grande margem para interpretações
e execuções de seus princípios, como a
Magnum Opus, o Contrato Social e o devido
funcionamento do Leviatã. Por essa razão, todo
domínio Illuminae é segregado entre distintas
coalizões. Serão apresentadas, no tópico seguinte,
as principais e mais frequentes coalizões em
domínios do secto.
Coalizões dos Illuminae
Scriberia - Os Scriberia, ou escribas, como
popularmente são conhecidos, são uma coalizão
unida em busca de desvendar os mistérios da
história do homo sanguinis. Como a “maldição” de
fato se iniciou, artefatos de civilizações antigas que
remetem às lendas vampíricas, interpretações sobre
sua natureza e de outros seres ainda não explicados
pela ciência são de grande interesse desse grupo.
Dentre os Illuminae, essa pode ser interpretada
como a coalizão mais culta e academicamente
apurada no que tange às ciências sociais,
especialmente história, sociologia e arqueologia.
Por trás dos verdadeiros interesses dos escribas
está o estabelecimento de direitos de propriedade
através de linhagens e descendências antigas - um
conceito que eles resistem a abandonar, embora
os Illuminae não se reconheçam por clãs ou
gerações - bem como defender uma agenda com
base histórica que favoreça seus membros a tomar
posse de domínios, objetos e outros direitos, bem
como maior status dentro do secto. O direito à
propriedade através da herança é uma grande
agenda desse grupo, a qual elas invocam dentro
124
e fora do secto, sempre de maneira muito bem
fundamentada.
Em Helsinque, é muito comum ver vampiros
dos clãs Toreador, Ventrue e Tremere dentre os
Scriberia, embora em Amsterdã esse grupo seja
praticamente subdividido entre os Tremere e o
Ministério. Já na China, dentre o menor número de
homo sanguinis ali estabelecido, muitos Nosferatu
estão contabilizados como parte dessa coalizão.
Bellumas - Todo grupo precisa de vampiros,
diga-se, homo sanguinis, precisa de um braço
militar, desde tempos imemoriais; especialmente
aqueles que possuem anciãos entre suas fileiras.
Os Illuminae não são uma exceção, e para esse
propósito existe sua coalizão de elite militar. Não
é difícil imaginar que quem mais impulsiona a
agenda dessa coalizão são os anciãos que possuem
como Temor o aspecto do Guerreiro, sempre
buscando justificar ataques premeditados a
possíveis inimigos que tentarão diableriza-los,
bandos do Sabá, Justicares e outras ameaças
“iminentes”. Em momentos de crise de um ou
mais membros dos Illuminae, os Bellumas são
ouvidos com atenção, seus conselhos levados em
consideração, e aos poucos eles conseguem exercitar
seu arsenal de estratégias e ampliar sua influência
dentro do secto. Os Bellumas não são nem de longe
a coalizão mais influente dentre os racionalistas
homo sanguinis, mas todos precisam deles, e
poucos ousam desconsiderar sua ajuda, pois ela
será necessária, mais cedo ou mais tarde, e sem eles,
séculos de pesquisas e pensamentos revolucionários
podem ser colocados em risco.
As modalidades de homo sanguinis mais
presentes dentre essa facção, como não poderia
deixar de ser, são os Brujah, Banu Haqim e Gangrel.
Em menores números, também é possível encontrar
alguns Ravnos, Hecata e Lasombra conspirando
por guerras e maiores territórios, em nome da
República Illuminae.
Anathomus - O respaldo que os Scriberia têm
dentro da Illuminae em relação às ciências sociais,
os Anathomus, ou anatomistas, têm em relação
às ciências naturais. Brilhantes médicos, biólogos,
químicos e físicos, essa coalizão tem como objetivo
principal investigar a origem do
fenômeno homo sanguinis, sendo
os responsáveis pela criação
da alquimia de sangue através
de um olhar para o futuro de
sua raça. Até onde a ciência do
sangue, como eles a chamam,
irá levar o novo homo sanguinis,
agora já adaptado até mesmo
à luz do sol, e conseguindo
subsistir sem a ingestão de
sangue com tanta regularidade
como seus antepassados?
Dentre os Illuminae, o
conceito de ética científica é
bem mais flexível do que os
humanos promulgam ser os seus.
Experimentos com humanos,
animais e os próprios homo
sanguinis são autorizados em
nome da ciência, da iluminação
e do avanço do grupo sobre
seus inimigos primitivos, e as
defesas dessa coalizão costumam
argumentar muito bem que os
fins justificam os meios.
Essa coalizão atrai muitos
daqueles que anteriormente se
denominavam membros do clã
Tzimisce, e há rumores de que
eles conseguiram convencer um
brilhante cientista malkaviano
e ancião da Camarilla, Doutor
Douglas Netchurch, para suas
fileiras. Se isso for verdade,
o jogo pode realmente estar
virando a favor dessa coalizão, e
dos Illuminae como um todo.
Além dos Tzimisce, muitos
malkavianos e Toreador, além de
Hecata, são adeptos da coalizão
Anathomus.
SENHORES DO MEDO SEM FIM
Os Illuminae em jogo
Todas as coalizões, princípios, contratos e ideais apresentados neste
suplemento podem livremente ser adaptados a mesas, inclusive, como já
citado, o grau de poder e importância dos Illuminae nos anos recentes,
e quem são esses vampiros denominados como Homo Sanguinis.
O mais importante em relação à utilização dos Illuminae é se ater
ao pensamento de que eles são vampiros adeptos do racionalismo,
inspirados pelos iluministas e pela ciência criada a partir da catalogação
dos fatos em enciclopédia, e dos ideais da fundação da república
francesa, na época em que esse país conseguiu de maneira bem sucedida
destruir sua tirânica monarquia, influenciando e mudando para sempre
os rumos da humanidade em todas as áreas de pensamento.
Tudo que os narradores puderem acrescentar em relação aos
Illuminae, seguindo esses preceitos básicos, poderá servir como
grande fator de surpresa aos jogadores, especialmente levando-se
em consideração que esse secto não possui agendas em comum
com nenhum outro, o que não necessariamente o faz hostil. Eles
não acreditam em Caim, nem nos antediluvianos, nem na Máscara,
Príncipes ou qualquer outro conceito já estabelecido em Vampiro a
Máscara, que não convenha com suas agendas e motivações.
Importante levar em consideração que os Illuminae não são
heróis, pois como todos os outros sectos, são compostos por
vampiros (por mais que rejeitem essa nomenclatura), e estão
sempre em disputa entre si por status, poder, prazeres e favores. O
mesmo se pode dizer entre a Illuminae e os demais sectos.
A corrupção dentro do próprio secto é totalmente plausível,
assim como ocorreu na fundação de todas as repúblicas, e ocorre
atualmente dentro de todos os três tradicionais três poderes
- Legislativo, Judiciário e Executivo. Embora os Illuminae não
tenham um presidente, primeiro ministro, rei, príncipe ou barão, é
notável que sempre a voz de uns se faz ouvir mais que a de outros.
Por quais motivos? Caberá ao narrador arquitetar, e os jogadores
que quiserem incluir tramas Illuminae em suas mesas, desvendar e
desmascarar… ◼
125
 FICHAS DE CONHECIMENTO FICHAS DE CONHECIMENTO

Nahum ben Enosh, o Sábio (Apenas personagens com Auspícios e membros da Ashirra)

N
ahum ben Enosh é
um antediluviano
lendário, e cria de
Saulot, ou seja, muito
próximo da linhagem de Caim.
Conhecido por sua cultura de busca
do conhecimento, ele peregrinou
por todo o mundo, adquirindo,
supostamente, informações muito
valiosas por anjos, demônios,
espíritos, magos e toda sorte de seres
sobrenaturais, mas alguns desmentem
esse mito por acreditar que tudo que
Todavia, é inegável que seu
conhecimento e sua inteligência sobre
o oculto eram páreo apenas por suas
habilidades de negociação e realização
de alianças, tendo sido parte crucial
na unificação do clã Banu Haqim em
suas noites iniciais.
Por uma aliança com o mais velho do
clã Banu Haqim, forjada há muitos
séculos, seu corpo em torpor está
protegido em Jerusalém por Qawiyaa
El-Ghadube, a Dama de Ferro,
mas seu espírito e sua mente ainda

Fichas de
ele via e dizia eram meras visões de
sua mente já distorcida e doente, nos
últimos anos em que foi visto.
O rumor: Você entrou em
contato com uma força sobrenatural
vagam pelo mundo, respondendo
àqueles que tiverem a sorte e o poder
suficiente de invocá-lo.
Conhecimentos
O caçado: Você ganhou conhecimentos sobre o bem e o mau,
notoriedade em sua busca pelo Salubri como transpor o véu da realidade e

Conhecimento
durante suas atividades noturnas,
provavelmente em algum local ermo
e isolado. Mas quem seria, e qual
seu propósito? Uma vez por sessão,
você ganha dois dados a mais para
rolagens que incluem percepção
ou manipulação, para auxiliá-lo na
busca pelos conhecimentos ocultos e
obscuros.
O propósito: Ao entender um
pouco mais sobre o espírito com o
qual você entrou em contato, você
compreende que tudo tem um
propósito, a vida, a morte, o bem e o
mal, são todas forças que interagem
entre si por um propósito maior. Tal
conhecimento te purifica, e acalma
sua besta, te dando a habilidade de
remover uma mácula na Humanidade,
uma vez por história, sem a necessidade
de se utilizar de pilares.
mais antigo da qual a existência é
conhecida, e em seu abrigo, você recebe
a visita de um Arconte da Camarilla,
que te oferece três pontos de recursos
permanentes na ficha, caso você conte
a ele tudo que sabe. Se você aceitar essa
oferta, será amaldiçoado e perseguido
pela Camarilla para sempre, bem como
por demônios poderosos que irão
te atormentar uma vez por história.
Caso você recuse a oferta do Arconte,
e mantenha-se fiel aos segredos de
Nahum ben Enosh, ganhará a falha de
Adversários – Camarilla (2 pontos),
mas uma vez por história poderá
invocar o espírito do antediluviano
para fazer com que você e sua coterie
escapem de qualquer ameaça que
pareça sem saída.
Os olhos da verdade:
Você vê, com seus próprios olhos, o
antediluviano Nahum ben Enosh,
em seus sonhos, a te revelar os
qual a verdadeira natureza do mundo,
bem como possíveis caminhos para
a Golconda. Ao despertar, você terá
acesso ao poder de amálgama Obeah,
seja por um ponto adicional de
Auspícios ou ganhando um ponto de
Fortitude.
Proteção sagrada:
Após ter sido visitado pelo espírito
de Nahum ben Enosh por mais de
uma vez em seus sonhos, você poderá
solicitar ao Narrador, uma vez por
história, que ele te dê uma dica apurada
sobre algum perigo que se aproxima
de você ou sua coterie, e poderá ficar,
uma vez por história, imune ao ataque
de qualquer sobrenatural, por meio de
disciplinas ou equivalentes. Todavia,
ao usar essa proteção, o espírito de
Nahum ben Enosh irá desaparecer
misteriosamente, em busca de iluminar
outros seres no mundo.

126 127
 FICHAS DE CONHECIMENTO FICHAS DE CONHECIMENTO

A Trilha do Paraíso (Apenas personagens membros da Ashirra)

A Sociedade Sanguinis
A C
salvação e o arrependimento foram a nem suplícios, e eternamente ao lado de Alá e seu omo membro da enormes desafios, que poderão
resposta que o Profeta Maomé buscou Profeta. Basta aceitar e trilhar, noite após noite, a Illuminae, a noite levar séculos para superar, ser
ao longo da sua vida, para que a paz trilha do paraíso, em estrita observância às leis de reserva para você e membro de uma seita secreta e
pudesse se assentar sobre ele. Tal Deus. sua coterie um novo cheia de personalidades de alto
caminho também foi compreendido por Suleiman mistério, e uma nova trajetória poder aquisitivo e intelectual
ibn Abdullah, e ele irá ensiná-lo de bom grado a definida pelos métodos da também tem suas vantagens.
qualquer um que estiver disposto a se arrepender de Magnum Opus. Apesar dos
seus pecados, perante o único Deus, e aceitar o islã.
Alguns acreditam que os cainitas da Ashirra Conhecimentos
trilham uma estrada mais árdua em suas não-vidas,
Sociedade Sanguinis: A maldição divina. Não deve haver entre os membros mais jovens da seita
mas eles são os únicos que sabem que esse mundo
Ilumminae reconhece você como um espaço nos dias atuais para explicações mais proeminente na região, cidade,
está condenado, e que por mais poderosos que eles
membro assíduo em suas fileiras e ou justificativas exclusivamente local. Agora é impossível fazer objeção
sejam, Alá todo poderoso já revelou que tudo um
com grande potencial para extrapolar sobrenaturais para o Homo Sanguinis. à sua narrativa e à narrativa comprada
dia irá perecer.
o pensamento da seita. Uma vez Mesmo que não tenham todas as por seus aliados, de que o homo
Os prazeres desse mundo não são comparáveis
por história, a coalizão à sua escolha respostas, a seita tem as perguntas sanguinis é uma "nova espécie", de que
ao paraíso, onde a verdadeira imortalidade será
adotará seus métodos como parte de certas e procura assiduamente por o parlamento e o Leviatã são melhores
atingida, longe do fogo do inferno, sem dores
sua agenda, e você poderá contar com respostas. Os seres erroneamente ferramentas para governar. Esta é
recursos, vantagens ou antecedentes de denominados de vampiros são uma equivalente a Influência (5), Aliados
Conhecimentos nível um da seita para promover seus espécie contemporânea aos primeiros (5) e Lacaios (3), que farão o que
próprios planos. homo sapiens e que em algum estiver ao alcance deles para substotuit
Arrependimento: A dor do que você fez, mas simplesmente não para ataques físicos. Se quem está
As coisas fracas: A Ilumminae momento na história harmonizaram- o modelo de governo vigente pela
pecado te fere grandemente, e saberão para onde você foi. te atacando for um mortal, ele
nunca foi diretamente mencionada se. Levar ao conhecimento de todos República Illuminae
você pode senti-la engolindo seu Que o fogo seja frio: Alá, o simplesmente largará suas armas ou
por qualquer outra seita, sequer para que essa harmonia é algo plausível, Estase Mortuária:
coração. Mas Alá, o todo poderoso todo poderoso, controla a natureza baixará seus punhos, desistindo do
os outros teve papel relevante na é uma missão mais do que urgente. Você teve acesso a Encyclopaedia
e misericordioso, possui uma e suas forças, protegendo seus conflito e indo embora.
tapeçaria da história dos membros, Entre as fileira da Illuminae você é haemovoria do Ancião Trimmegian, e
misericórdia muito maior que escolhidos de todo o mal, se assim Abençoado: Por sua
mas a seita foi escolhida para reconhecimdo como um Luminar encontrou respostas hipoteticamente
os seus pecados. Uma vez por eles crerem. Uma vez por história, grande fé e arrependimento, desde
confundir os fortes. Afinal uma ideia é (status 5) e pode contar com aliados científicas para o Abraço, a natureza
história, após se arrepender, você sob ameaça de fogo, você poderá que você tenha Humanidade 8 ou
altamente contagiosa, e, se enraizada, é (nível 3) e influência (nível 2) dentro da Besta e Disciplinas. Tudo o que
poderá remover uma mácula de sua caminhar pelas chamas ileso, se maior, Alá te concederá (uma vez
impossível de ser erradicada. Quando da seita. Suas palavras são fortes você defende sobre a condição do
humanidade. você suplicar em voz alta à Alá, por por história) um dia inteiro em que
for aceito no Movimento Anarquista, o suficiente para dobrar algumas homo sanguinis foi validado, atraindo
Protegido por Alá: Alá, proteção. você andará sob o Sol, sem sofrer vontades sem o uso de disciplinas.
Camarilla ou Sabá, suas ideias podem o interesse de Sangue Ralos, Caitiffs,
o todo poderoso, protege seus Sob os olhos de Deus: O nenhum dano, embora você não
provocar conflitos ideológicos entre Reescrevendo a história: Crianças da Noite e até Anciãos,
escolhidos, e você pode sentir seu islã ensina a paz e harmonia entre poderá se alimentar nem fazer uso
os membros da seita, dividindo-os A modernidade trouxe consigo a era que buscam respostas melhores para
poder e sua influência ao seu redor. todas as criaturas de Deus, e você de qualquer disciplina. Durante esse
entre aqueles que se aliarão (ganhe da informação, a razão esclarecida, o a estase do sangue. Adicione a seus
Uma vez por história, se você for é um agente da fé. Uma vez por dia, você poderá contemplar, mais
o nível de aliados na seita igual ao ceticismo, o conhecimento científico, antecedentes o equivalente a um
perseguido por sua fé, você poderá história, se você for atacado por uma vez, a maravilha da criação,
seu nível na ficha de conhecimento) o crescimento e a luta pelas causas grupo Mawali (4), recebendo apoio
andar através de seus perseguidores, algum cainita, sem tê-lo atacado e estudar tudo o que você quiser.
e conhecerão a Ilumminae, e aqueles sociais. Como membro da Illuminae político ou encobrimento. Em comum
que não poderão feri-lo, embora ou ofendido, ele sofrerá dor em seu Após a duração do efeito, você ficará
que o perseguirão. no último século, para além dos acordo com o jogador defina se estas
você também não poderá feri-los, corpo, que reduzirá sua potência três noites em torpor, despertando
Desmascarar: O Propósito estudos acadêmicos, você enraizou e atividades atraem ou não a atencão
e ao passar por eles, eles saberão o de sangue pela metade, bem como com dois pontos de fome.
central da Ilumminae é desvincular destilou, através do sangue e do uso de da S.I.
a perda de três dados que usaria disciplinas, ideias bem fundamentadas
a origem dos Vampiros de uma

128 129
 AGRADECIMENTOS E REFERÊNCIAS
A toda a comunidade mundial, e especialmente brasileira de Vampiro a Máscara, que fomenta o hobby
desde seus primórdios, principalmente os maravilhosos criadores de conteúdo desta grande #vamily!
A todos aqueles que tiveram a gentileza de revisar esse material, ou dar dicas de grande relevância para
sua execução, como o grande Ro Amadeu, do canal Segredos de Narrador; Tati Malkaviangel (MalkTalk),
Felipe Daen (Canal Narrador de RPG) e Ugo Leão (A Era dos Deuses Vivos).
Um agradecimento especial novamente a Felipe Daen, pela consultoria psicológica no desenvolvimento
dos Temores e Gatilhos.
A todas as inspirações que nos ajudaram a criar esse conteúdo, especialmente de autores brasileiros
como Chrystian Rissoli, criadores de conteúdo como os já citados, e às excelentes compilações de lore
também realizadas pelo canal Lore by Night.
Um abraço especial para Eid Mohammed Alnasafi, que gentilmente nos cedeu seu tempo e
entendimento acerca do Oriente Médio, criando as fichas de conhecimento da Ashirra contidas neste
suplemento. Um sincero agradecimento a ele e a toda comunidade do Mundo das Trevas no Kuwait!
Mansur Peixoto da página História Islâmica, também responsável pela consultoria acerca das
informações da Ashirra neste suplemento.
E principalmente a você, nosso leitor, que nos apoia sempre com sua contribuição para manter nossa
comunidade muito longe do torpor!
Tomem as rédeas do Mundo das Trevas, Senhores e Senhoras do Medo sem Fim!
Referências Bibliográficas
Veil of Night (Vampire the Dark Ages), Lair of the Hidden, Anciões: O Guia dos Antigos, Guias da
Camarilla e do Sabá (3ª edição), Gehenna, Tempo do Sangue Fraco, Fragmentos de Erciyes, Livro de Nod, e
os livros oficiais de Vampiro a Máscara - 5ª Edição. ◼