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Em Portugal, Atendimento Clínico é

Obrigatório na Dispensação

Por Egle Leonardi

Portugal é um país relativamente pequeno, situado no extremo sudoeste da


Europa. Sua população gira em torno de quase 11 milhões de pessoas e seu
PIB per capita é de pouco mais de R$ 80 mil.

Depois de seguidos anos de retração, o PIB português passa por um


crescimento moderado. De acordo com dados do Instituto Nacional de
Estatística português, o PIB de Portugal teve um crescimento real de 2,8% no
primeiro trimestre de 2017 em relação ao mesmo período no ano anterior,
registrando assim a maior alta em 10 anos.

Já o valor do mercado farmacêutico em Portugal está avaliado em cerca R$


1.263 bilhão (2015), segundo o Centro de Estudos Superiores da Indústria
Farmacêutica (CESIF). O país dispõe de ótimas indústrias com excelentes
condições e motivadas para aumentar o volume e a qualidade de trabalho.

Existem cerca de 150 empresas


farmacêuticas correspondendo a mais de
oito mil postos diretos de trabalho naquele
país.

Foram os farmacêuticos do Instituto IdeHia (www.idehia.org), de Portugal, que


forneceram as informações sobre a legislação farmacêutica do país: a diretora
Científica da entidade, Ana Paula de Almeida; e o consultor do instituto, João
Campos. Acompanhe:

1 – Regulamentação do comércio farmacêutico

A atividade farmacêutica e o seu comércio são regulados pelo Ministério da


Saúde por meio de três órgãos de domínio público: INFARMED – Autoridade
Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I.P.; ASAE - Autoridade de
Segurança Alimentar e Económica; e DGAV (Direção-Geral de Veterinária).

A área de atuação de cada um destes órgãos encontra-se bem definida de


acordo com o tipo de produto farmacêutico, operando desde o desenvolvimento,
produção, distribuição, prescrição e dispensa até à utilização. Esses órgãos
colocam-se como interlocutores com as agências do medicamento e produtos
farmacêuticos dos outros Estados-membros da União Europeia, bem como com
a Agência Europeia do Medicamento e com a Comissão Europeia.

- INFARMED - organismo responsável pela avaliação, autorização, disciplina,


inspeção e controle de medicamentos de uso humano, incluindo os
medicamentos à base de plantas e os homeopáticos, e de produtos de saúde,
compreendendo os cosméticos e de higiene corporal, e ainda os dispositivos
médicos e dispositivos médicos para diagnóstico in vitro.

- ASAE - autoridade administrativa nacional especializada no âmbito da


segurança alimentar e da fiscalização econômica, sendo responsável pela
avaliação e comunicação dos riscos na cadeia alimentar e pela disciplina do
exercício das atividades econômicas nos setores alimentar e não alimentar. No
setor farmacêutico são responsáveis pelos suplementos alimentares e outros
gêneros alimentícios.

- DGAV - tem por missão a definição, execução e avaliação das políticas de


segurança alimentar, de proteção animal e de sanidade animal, de proteção
vegetal e fitossanidade. Dentro das suas competências, se destacam as suas
funções como a autoridade nacional do medicamento veterinário, outros
produtos farmacêuticos destinados ao uso animal e de fitofarmacêuticos.

2 - Perfil das lojas

As farmácias em Portugal têm o dever de exercer a sua atividade na área da


saúde e de interesse público, assegurando a continuidade dos serviços
prestados aos usuários. Portanto, apesar de elas serem consideradas espaços
de saúde de carácter privado, têm responsabilidades públicas bem definidas.
Assim, independentemente do seu carácter comercial necessário para seu
funcionamento, existe um elevado padrão de exigência no que diz respeito à
ética profissional, centrando o atendimento na saúde e bem-estar do paciente.

Nenhum medicamento, tanto os sujeitos à prescrição médica como os não


sujeitos à receita médica, pode estar ao alcance dos usuários. Apenas os
suplementos alimentares, cosméticos e outros produtos de higiene e alguns
dispositivos médicos é que podem estar ao seu alcance. Sempre que o produto
farmacêutico é classificado como medicamento, ele deverá estar inacessível ao
paciente, uma vez que o farmacêutico apenas poderá fazer a dispensa do
medicamento caso este entenda que o seu uso será racional e necessário.

3 - Prescrição de medicamentos

A farmácia clínica deve ser realizada em qualquer dispensa de medicamento,


sendo que durante o levantamento de uma receita médica deve-se promover a
chamada dispensa ativa. Assim, o farmacêutico tem o dever de averiguar a
necessidade, a segurança e o uso racional do medicamento para cada paciente.
Quando este estudo é feito de um modo contínuo e documentado, então, esse
atendimento é feito no âmbito de uma consulta farmacêutica. Essa consulta é
realizada num espaço apropriado e em ambiente de consultório, promovendo
um diálogo privado entre o farmacêutico e o doente.
Em Portugal, o farmacêutico não tem a capacidade legal de prescrição, sendo
legalmente considerada como um ato médico. No entanto, o farmacêutico deve
prestar um aconselhamento ativo na dispensa dos medicamentos que não
necessitam de receita médica (MNSRM – medicamentos não sujeitos a receita
médica). Este aconselhamento deve apenas ser realizado para sintomas
menores (duração inferior a sete dias), sendo que em situações de sintomas
maiores, ou na não resolução do sintoma menor após os sete dias, o paciente
deve ser encaminhado para o médico.

4 - Propriedade da farmácia

Ao contrário do que acontecia há alguns


anos, o proprietário da farmácia não tem de
ser farmacêutico. No entanto, o papel da
direção técnica da farmácia apenas pode
ser assumido por um farmacêutico. O
responsável máximo pela farmácia é o
diretor técnico, sendo que este assume ou
partilha qualquer atividade realizada pelos
funcionários da farmácia. Na ausência
deste, o farmacêutico substituto assume o
seu papel de responsabilidade.

O aconselhamento farmacêutico é esperado em qualquer dispensa de produtos


farmacêuticos, sendo que este está vinculado ao enquadramento legal da
atividade farmacêutica e ao estatuto estabelecido pela Ordem dos
Farmacêuticos. Do mesmo modo, o próprio espaço da farmácia é regulado,
existindo áreas de características bem definas (área de atendimento, laboratório,
cuidados farmacêuticos, sanitários, armazéns, entre outros), horários, licença de
abertura, entre outros aspetos legais. O não cumprimento dessas disposições
legais pode levar à aplicação de sanções pelo INFARMED.

5 - Presença do farmacêutico

A presença do farmacêutico é obrigatória em todas as horas de funcionamento


da farmácia. Qualquer dispensa de um medicamento, mesmo aquela realizada
pelo técnico de farmácia, é da responsabilidade do farmacêutico. Assim, a
presença do diretor técnico ou do seu representante, farmacêutico substituto, é
indispensável, tendo este a responsabilidade de assegurar o bom funcionamento
da farmácia e de promover o uso racional do medicamento.
6 - Remuneração do farmacêutico

Existe em vigor um Contrato Coletivo de Trabalho (CCT) acordado entre o


Sindicato Nacional dos Farmacêuticos (SNF) e a Associação Nacional das
Farmácias (ANF), em que há a categorização dos farmacêuticos, bem como a
tabela salarial aplicável com indicação das remunerações mínimas mensais.

Tabela Salarial mínima

Diretor técnico - R$ 7.300 (1.975,35€)

Farmacêutico Grau I - R$ 5.600 (1.521,26€)

Farmacêutico Grau II - R$ 5.200 (1.399,19€)

Farmacêutico Grau III – R$ 4.600 (1.258,33€)

Farmacêutico Grau IV - R$ 4.400 (1.183,20€)

Farmacêutico Grau V - R$ 3.700 (1.000€)

O acesso a cada categoria se dá após a verificação do exercício efetivo de


funções no grau anterior por um período de três anos.

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