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FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DA

EDUCAÇÃO - MÓDULO III


SUMÁRIO (MÓDULO III)

3.1 EDUCAÇÃO TRANSFORMADORA E FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO ............. 03

3.2 SÉCULOS XVIII E XIX – O SÉCULO DAS LUZES E O IDEAL LIBERAL DA


EDUCAÇÃO ........................................................................................................... 05

3.3 SÉCULOS XX E XIX – A EDUCAÇÃO PARA A DEMOCRACIA...................... 07

3.4 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO PROGRESSISTA NO BRASIL .................. 13

REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 18
FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO À FILOSOFIA E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

3.1 SÉCULO XVII – IDADE MODERNA E PEDAGOGIA REALISTA

Contexto Histórico

Intensifica-se o comércio, a colonização assume características empresarias, e a


Europa é inundada pelas riquezas extraídas da América. Aliança entre reis e
burgueses (absolutismo monárquico). Os artesões de produção doméstica perdem
espaço para os capitalistas e, reúnem-se em galpões onde nascem as futuras
fábricas.

 Surgem as sementes do liberalismo clássico, enquanto expressão ideológica dos


interesses burguesia, que terá um impacto direto na reflexão sobre a educação;

 Preocupação com o sujeito do conhecimento e com os procedimentos


(metodológicos) da razão na investigação da verdade.

O PENSAMENTO MODERNO

Descartes, pai da filosofia Moderna, inicia a derrocada final do Escolástica, mediante


o recurso da “dúvida metódica”. Diz ele, se duvido, penso. Penso, logo existo
(argumento do cogito). Trata-se, aqui, da crença na autonomia do pensamento, a
idéia de que a razão, bem dirigida, é suficiente para encontrar a verdade, dispensando
a autoridade livresca e os dogmas.

 Bacon, pai da Ciência Moderna, desenvolve a concepção empirista do


conhecimento, afirmando que nada está no espírito que não tenha passado
primeiro pelos sentidos. Ele privilegia, assim, a experiência no processo de
conhecimento (indutivismo).

A CRISE DA CONSCIÊNCIA EUROPÉIA

O interesse pelo conhecimento e pelo método, na verdade, foi iniciado por Galileu
Galilei que fez coincidir a experimentação com a matemática, a ciência com a

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técnica. Ao opor à ciência contemplativa um saber ativo, o homem deseja “saber para
transformar”, provocando uma intensa “revolução espiritual”.

 Configura-se também o processo de formação da família nuclear, típica da


sociedade burguesa.

O REALISMO NA EDUCAÇÃO

Nesse contexto, os educadores passaram a se interessar pelos métodos, a fim de


tornar a educação mais agradável e ao mesmo tempo eficaz na vida prática. Ser
realista (do latim res, coisa) significa privilegiar a experiência, as coisas do mundo e
a atenção aos problemas da época. Prefere-se o rigor das ciências da natureza e
busca-se superar a tendência literária e estética do renascimento humanista.

 A língua materna se sobrepõe ao latim, apesar de persistir o ideal enciclopédico;

 A Pedagogia Moderna está em busca de uma Nova Didática.

Comenius: “ensinar tudo a todos”

Se há um método para conhecer corretamente, deve haver um também para ensinar


de forma mais rápida e segura. Esse é o objetivo de toda a vida de Amós Comenius,
o maior pedagogo do século XVII, cujo principal livro chama-se “Didática Magna”.
Para ele, o ponto de partida do ensino é sempre o conhecimento, indo do simples
para o complexo, do concreto ao abstrato. O ensino deve ser feito pela ação, pois só
fazendo, aprendemos a fazer. As escolas são espécies de oficinas da humanidade.

 Uma “febre” da época é a criação de “manuais” que detalhem o procedimento do


mestre, segundo gradação das dificuldades e num ritmo adequado à capacidade
de assimilação dos alunos;

 Outras influências do período: Jonh Locke e Fénelon.

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3.2 SÉCULOS XVIII E XIX – O SÉCULO DAS LUZES E O IDEAL LIBERAL DA
EDUCAÇÃO

Contexto Histórico

Transformações radicais abalam a Europa. A burguesia, secundária na estrutura


social aristocrática, assume a centralidade da cena histórica. Enriquecida pelos
resultados da Revolução Comercial encontra-se, no entanto, sufocada com a carga
de impostos e a falta de legitimidade social (status) de sua posição: os nobres
levavam uma vida parasitária na corte, com isenção de impostos e os benefícios de
serem julgados por leis próprias. Explodem as revoluções burguesas: 1) A Revolução
Gloriosa (1688) que destrona a dinastia dos Stuarts; 2) Revolução Francesa (1789)
que depõe os Bourbons e defendo os princípios de igualdade, liberdade e
fraternidade.

 A máquina a vapor marca o inicio da Revolução Industrial, mecanizando a


indústria e alterando radicalmente as relações sociais.

IDEIAS E IDEAIS ILUMINISTAS

O Século das Luzes (Ilustração ou Aufklãrung) institui o poder da Razão humana de


interpretar e reorganizar o mundo. Um período rico em reflexões pedagógicas,
sobretudo na pedagogia política: tornar a escola leiga e função do Estado. O ensino
(esclarecimento) torna-se um veículo importante das luzes da razão no combate às
superstições e ao obscurantismo religioso (enciclopedismo).

 Na economia: o liberalismo;

 Na política: o despotismo esclarecido;

 Na moral: naturalização do comportamento humano.

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O NATURALISMO DE ROUSSEAU

Natural de Genebra (Suíça), Rousseau provocou um revolução copernicana na


educação, centralizando os interesses pedagógicos no aluno e não mais no
professor. Mais que isso: ele ressalta a especialidade da criança, que não deve ser
encarada como um adulto em miniatura. Seu pensamento pedagógico não se separa
de seu pensamento político. Para Rousseau, o homem em estado de natureza é bom,
mas se corrompe na sociedade que destrói sua liberdade. Por isso, a educação deve
ser afastada do artificialismo das convenções sociais. Ele recusa ainda o
intelectualismo, insistindo em uma educação inicialmente “negativa”.

 O “Emílio” é relato romanceado da educação de um jovem, acompanhado por


um professor ideal e afastado da sociedade contemporânea.

KANT E A PEDAGOGIA IDEALISTA

No contexto histórico do Iluminismo, não faz mais sentido atrelar a educação à


religião, desencadeando-se uma crítica feroz à Companhia de Jesus, denunciada
como a representação da escolástica dogmática decadente. A escola deveria ser
leiga (não religiosa) e livre (independente dos privilégios de classe); deveria ser
nacionalista (ênfase nas línguas vernáculas); e deveria ter uma orientação prática
(ciências técnicas e ofícios).

 Kant redefine, com o seu “Sapere Aude”, toda relação pedagógica, reforçando a
atividade do aluno, que deve aprender a “pensar por si mesmo”.

ILUMINISMO E EDUCAÇÃO

Se há um método para conhecer corretamente, deve haver um também para ensinar


de forma mais rápida e segura. Esse é o objetivo de toda a vida de Amós Comenius,
o maior pedagogo do século XVII, cujo principal livro chama-se “Didática Magna”.

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Para ele, o ponto de partida do ensino é sempre o conhecido, indo do simples para o
complexo, do concreto ao abstrato. O ensino deve ser feito pela ação, pois só
fazendo, aprendemos a fazer. As escolas são espécies de oficinas da humanidade.

 A Companhia de Jesus foi extinta, pelo Papa Clemente IV, em 1773,


desestabilizando os sistemas escolares do mundo inteiro.

3.3 SÉCULOS XX E XIX – A EDUCAÇÃO PARA A DEMOCRACIA

Contexto Histórico

O capitalismo monopolista acentua as desigualdades, concentrado a renda e


aumentando as disparidades sociais. Os choques entre as potencias culminam no
conflito armado da 1º Guerra Mundial (1914-1918). Outro fato abala o mundo: a
Revolução Russa de 1917 instaura o primeiro governo socialista inspirado no
marxismo. O capital americano penetra, no pós-guerra, na Europa. Daí o impacto
mundial da crise gerada pela quebra da Bolsa de Nova Iorque em 1929, segunda de
falências, retração de mercado e desemprego em massa.

Nos dias atuais, não estamos diante de uma simples encruzilhada, que pede desvios
de percurso ou pequenas mudanças de rota, como acontece em situações de crise.
Estamos agora diante de um “labirinto”. O momento exige, portanto, invenção, com
ousadia da imaginação para criar o novo. É preciso detectar com urgência os
sintomas do mundo que emerge, o que não é fácil, pois estamos mergulhado nele, e
nem sempre temos clareza para compreender os principais sinais da mudança.

 A gravidade da situação impõe modificação no modo de acumulação capitalista.


Emerge o Estado de Bem-Estar Social que implanta medidas de controle da
economia, estimula a produção e tenta garantir a distribuição de bens e serviços
sociais.

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O PÓS-GUERRA (1939-1945)

 Após a Segunda Guerra, os EUA assumem definitivamente uma posição


hegemônica na economia mundial (americanismo e fordismo);

 No outro pólo, a antiga URSS expande sua zona de influência, desencadeando a


corrida armamentista (Guerra Fria);

 Outro acontecimento importante é a gradativa descolonização da África e da Ásia,


o que faz com o imperialismo assuma uma outra postura (empresas multinacionais
e laços de dependência);

 Em 1945 é a criada a ONU;

 O choque do petróleo em 1973 e 1979 fez ressurgir, nos países de economia


capitalista, o neoliberalismo (Hayeck e Friedman) que pretende retirar do Estado
as funções assistencialistas assumidas na década de 30;

 A sociedade contemporânea é um show permanente: espetáculos virtuais


simulam o real com formas hiper-reais, convertendo os cidadãos em espectadores
silenciosos.

TEORIAS DO MUNDO CONTEMPORÂNEO

O desenvolvimento da sociedade capitalista marcou a organização de uma filo- sofia


da coletividade, mas também da angústia do particular. Ao mesmo tempo se
estabeleceu dois campos de debate entre os pensadores, a questão da subjetividade
e da objetividade.

Parte considerável dessa dualidade, objetividade e subjetividade cresceu como um


reflexo da sociedade industrial. As relações sociais passaram a envolver meios diversos,
tanto na produção de bens como no transporte, na comunica- ção, até mesmo na
intimidade. Nossa vida passa a ficar repleta de produtos que são fruto da produção
industrial. O que antes era uma arte de todos nós, agora se adquire na prateleira de
mercado, oferecido para todos. Contudo, ficamos mais íntimos de “certas” coisas do
que íntimos de “certas” pessoas.

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No século 19, destaca-se o papel da ciência, e seu avanço
torna-se ne- cessário. O crescimento da nova ordem
econômica — o capitalismo— traz consigo o processo de
industrialização, para o qual a ciência de- veria dar
respostas e soluções práticas no campo da técnica. Há,
então, um impulso muito grande para o desenvolvimento da
ciência, enquan- to um sustentáculo da nova ordem
econômica e social, e dos problemas colocados por ela
(BOCK, 2002, p. 46).

Esse processo de desenvolvimento da sociedade industrial abalou a sociedade


europeia do século XIX. Ela viu a população urbana se multiplicar e o
desenvolvimento da produção industrial que atingiu diversos objetos. A classe
operária se multiplicou e ocupou as periferias das grandes cidades da Europa.
Cidades que não estavam preparadas para receber uma população imensa,
resultado do êxodo rural.

Não demorou para que os problemas sociais se multiplicassem. Violência urbana


associada a assaltos, homicídios, suicídios. Também surgiram as epide- mias. A
fome foi outra questão a ser resolvida nas grandes cidades, em especial naquelas
em que se multiplicaram os desempregados e também a quantidade de indigentes
nas ruas.Se por um lado as cidades industriais multiplicam sua população periférica,
em determinados espaços, se observava o progresso material.

A construção de edifícios modernos, maquinaria, meios de transporte e comunicação.


Até mesmo as obras literárias, até então restritas a um número limitado de indi-
víduos pelo seu custo, passaram a se multiplicar com a industrialização, assim como
os periódicos. As teorias percorriam um número imenso de indivíduos, desde que
fossem alfabetizados. A noção de alfabetização não significa interpre- tar o mundo,
mas saber reconhecer os caracteres a fim de poder ler e estar com aptidão para o
mundo do trabalho nas indústrias.

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Podemos considerar também até que ponto a educação poderia garantir uma
melhora nas competências humanas, atendendo ao processo de industrialização em
andamento e até os dias atuais. O analfabetismo, por exemplo, não impe- diria a
capacidade de um ser humano conseguir o ingresso dentro do “mundo do trabalho”.
Mesmo em nossos dias, a educação que as instituições de ensino propõem não
corresponde de forma eficiente às necessidades da produção de forma integral.
Talvez nas qualificações específicas e vinculadas diretamente à atividade produtiva.
A modernização das formas de produção e o uso constante da ciência e da tecnologia
foram percebidos na produção industrial partindo do aprimora- mento da máquina a
vapor. O que assistimos no constante desenvolvimento da indústria é o que foi
inaugurado no século XVIII. O grau de complexidade da cadeia produtiva tem
delegado a mão de obra braçal à periferia da produção de bens. Por isso, quando
temos a necessidade do aprimoramento do trabalhador em nossos dias, vive-se uma
adequação específica de atividades. A educação, de uma forma geral, tem se tornado
desconexa da necessidade de produção ime- diata, mas fundamental para
entendermos a complexidade da organização social em que vivemos.
Hoje vemos uma relação contraditória entre o progresso material, os avanços da
tecnologia e da ciência e o aprimoramento humano. Contudo, na mesma proporção,
se propagou a miséria. As cidades passaram a ser o campo onde esta contradição
ficou visual, cotidiana e se avizinhou.
As manifestações das classes populares, em especial dos trabalhadores, se
multiplicaram por toda a Europa e também pelos Estados Unidos, enfim, onde
houvesse chegado a industrialização. Diversas teorias passaram a se dedicar à
compreensão desse industrial, sua vida coletiva e sua angústia pessoal. Mais uma
vez, dando continuidade à busca da filosofia: “onde repousa a felicidade do homem,
independente de seu tempo”. Os movimentos revolucionários do Século XVIII
inspiraram os intelectuais europeus, desde os defensores do liberalismo, como vimos
na unidade anterior, até os que desenvolveram suas teses durante e após a I Revolução
Industrial (1750 a 1830), a Independência dos Estados Unidos (1776) e a Revolução
Francesa (1789 a 1815). Podemos considerar que nenhum pensador ficou isento

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de se posicionar diante dos movimentos que transformaram política e economica-
mente o mundo, em especial a Europa.
Alguns desenvolveram o elogio e o aprimoramento das teses liberais, promo- veram sua
“veia” nacionalista e exaltaram o papel do Estado como instrumento de garantia dos
interesses coletivos e individuais. Outros desenvolveram a opo- sição, a crítica, a
busca de se contrapor à sociedade industrial capitalista que consideravam um
ambiente de destruição das qualidades humanas.

O desenvolvimento de uma sociedade industrial complexa passou a movi- mentar o


meio intelectual para entender os elementos que compunham as relações econômicas
cada vez mais destacadas na vida do ser humano cada vez mais urbano. A cadeia
de produção ganhava conotações de complexidade com uma quantidade cada vez
maior de pessoas envolvidas na produção de bens e servi- ços. A concentração dessa
população nas cidades colocava em xeque as funções do estado, a organização política.
O liberalismo parecia idealista demais para resolver os problemas que a sociedade
industrial apresentava.

Os conflitos entre os pragmáticos, que veremos a seguir, e os resistentes do


romantismo tomaram o palco dos debates intelectuais, principalmente na primeira metade
do século XIX. Só para ilustrar esse debate, podemos citar o pensamento de Arthur
Schopenhauer (1788 a 1860). O crítico das teses de Hegel conside- rava que o amor
não era a felicidade, mas uma condição que expunha a pessoa à dor. vida deveria ser
compreendida pela capacidade de dar sentido aos ele- mentos que a cercam e não na
materialidade que ela expressa. Schopenhauer foi autor da obra “O mundo como
vontade e representação” (1818), desenvolveu uma escrita de uma metafísica ética
e ateia chamada de pessimismo filosófico, e que influenciou as bases
psicanalíticas de Freud.

O conhecimento, por isso, tem caminhado para ser a mola


propulsora da economia mundial e cujo valor de produtos e
serviços depende cada vez mais da parcela do conhecimento a
eles incorporados (LOPES, 2002, p. 11).

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O PARADIGMA DA MODERNIDADE

Essas mudanças provocam não apenas “conflitos de gerações”, mas


inconsurabilidade de maneiras de pensar, sentir e agir.

Nó da questão: os elementos da emancipação (razão, ciência, técnica, escolarização)


se tornaram as principais forças da regulação opressiva extrema. A razão
instrumental, ao visar à dominação da natureza para fins utilitários e lucrativos,
introduziu um irracionalidade no modo de vida contemporâneo.

Os fins humanos da existência foram esquecidos ou secundarizados pelo mundo


despoetizado, desencantado.

O PARADIGMA EMERGENTE

Educação no século XX: Psicologismo x Sociologismo – Teorias: Pragmatismo


(escolanovismo dos métodos e do trabalho); Neomarxismos (Gramsci, Teoria Crítica,
Críticos-reprodutivistas); Construtivismo (Plaget, Vygotsky).

Parâmetros da educação atual: perplexidade e desorientação.

Os educadores padecem de um “pânico moral” face aos desvios cada vez mais como
“alienígenas”, isto é, seres de um outro mundo (não humanos): monstros, cyborgs e
clones – os novos fantasmas da Educação.

DESAFIOS DA EDUCAÇÃO

O surgimento de um novo homem depende da construção de novas formas de


conhecimento e poder, de uma subjetividade autônoma; exige, portanto
intencionalidade e recusa do espontaneísmo da/na ação.

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3.4 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO PROGRESSISTA NO BRASIL

A Educação Progressista considera o indivíduo como ser que constrói a sua própria
história. Sua metodologia consiste no desenvolvimento de atividades de ensino que
consideram o aluno como o centro do processo ensino-aprendizagem. Os
interesses, temas e problemas do cotidiano do aluno passam a fazer parte do
conteúdo ensinado. O conteúdo deve ir além da definição, classificação e descrição;
o professor deve explicitar a realidade social, de modo a demonstrar noções e
preconceitos que dificultam a autonomia intelectual.
O grande anseio da educação progressista no Brasil é transformar o aluno no
protagonista de sua própria formação, para que ele aprenda a questionar tudo
aquilo que lhe é oferecido, inclusive os conteúdos e conceitos ensinados nas
escolas. Os alunos também devem estar sempre atentos às questões sociais, já
que elas são essenciais para causar uma mudança profunda na educação. Para
isso, é fundamental que a escola seja vista como o local de acesso a cultura e
produção intelectual. De acordo com a educação progressista o indivíduo é o
construtor de sua própria história (LOURENÇO; MORI, 2014).

1. A Pedagogia Libertadora

A Pedagogia Libertadora, também conhecida como a Pedagogia de Paulo Freira,


expressa a ideia de humanização do professor como guia do processo educativo;
seu objetivo é suscitar a consciência crítica com relação à vida social, as
desigualdades e competitividade em todas as classes sociais, principalmente na
classe de baixa renda (FREIRE, 1992).
O pensamento de Freire (1992) está fundamentado no anseio de formar uma
sociedade mais justa e igualitária, a partir da formação plena dos estudantes. Sua
pedagogia enfatiza a necessidade de uma reflexão profunda sobre a prática
educativa; para ele, a falta de reflexão faz da teoria apenas um discurso vago e a
prática, por sua vez, torna-se uma mera reprodução alienada. Assim, é essencial
que a teoria seja adequada à prática diária do professor; além disso, a prática crítica
e a valorização das emoções devem estar lado a lado.

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Lourenço e Mori (2014) explicam que, para Freire, a “missão” do professor é ensinar
seu aluno a “pensar certo”. E “pensar certo” significa ter “(...) disponibilidade ao
risco, a aceitação do novo e a utilização de um critério para a recusa do velho.”
(FREIRE, apud. Lourenço e Mori, 2014). Isso inclui também a rejeição de qualquer
forma de discriminação. Esse exercício do pensamento crítico formará alunos
capazes de pensar o mundo em que vivem, distinguindo o que é bom do que é ruim,
sempre considerando a sociedade como um todo, sem didtinção.
Refletir e discutir sobre a vida social é uma maneira de interferir
positivamente no mundo, tomando um posicionamento decisivo com relação à
realidade, baseado no passado e no presente. O homem não deve somente
aprender a se colocar no lugar do outro, mas precisa começar a refletir sobre todas
as mazelas da sociedade. A partir deste comportamento, além de entender o
vínculo que rege determinando ambiente, ele será capaz de ver além das
aparências e buscar a igualdade entre os homens (LOURENÇO; MORI, 2014).
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3. A Pedagogia Libertária

Na ideologia e fundamentos anarquistas a educação ocupa um lugar estratégico.


De acordo com tal ideologia, é por meio da educação que se dará a transformação
da ordem capitalista e a fundação de uma nova ordem social. Os maiores
pensadores anarquistas mostram em suas obras a grande preocupação em formar
homens livres e conscientes, capazes de revolucionar a sociedade.
A Pedagogia Libertária surge dessa reflexão crítica acerca da formação dos alunos
e acerca das faces do poder presentes no processo educacional, bem como os
ambientes propícios a proliferação da ideologia autoritária. O repúdio a toda e
qualquer forma de tirania, a receptividade ou não dos processos educacionais
diretos, fazem parte dos seus conceitos centrais. A luta contra o autoritarismo,
contra a obediência extremamente severa e contra as relações opressivas são o
seio da Pedagogia Libertária. Os libertários questionam todas as relações de
opressão, expressão das relações de dominação que envolvem todas as esferas
sociais: família, escola, trabalho, religião, etc.

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Essa pedagogia teve origem nas idéias e discussões de trabalhadores
imigrantes (italianos, espanhóis, portugueses, etc.). Seu projeto está fundado na
autogestão, presente na Associação Internacional dos Trabalhadores. ara educar
conforme os preceitos dessa pedagogia, o educador libertário baseia sua práxis nos
seguintes princípios: (SILVA, 2004, p. 3)
1. LIBERDADE: Entendida como meio e fim, a liberdade é intrínseca à
prática libertária. Não se trata da liberdade em abstrato ou no sentido liberal, mas
da Liberdade construída socialmente e conquistada nas lutas sociais.
2. ANTIAUTORITARISMO: Essencial à prática pedagógica libertária. A
ideia chave subjacente a este conceito é que não é possível combater o
autoritarismo e a opressão presentes no Estado, família, escola, etc., sem que,
concomitantemente, se formem homens livres; e, não se formem homens livres
através de métodos autoritários e de controle.
3. EDUCAÇÃO INTEGRAL: Os educadores libertários não recusam a
ciência e o saber especializado, mas advogam que, antes, o processo educativo se
concentre na formação plena (dimensões física, intelectual e moral), que não
separe o saber do saber fazer, isto é, que não se fundamente na divisão entre ação
e pensamento (trabalho braçal e intelectual).
4. AUTOGESTÃO: A Pedagogia Libertária enfatiza que os recursos no
processo educacional devem ser controlados e administrados pelos diretamente
envolvidos e pela comunidade. Isto significa superar a dicotomia
Estado/Sociedade e colocar a educação sob controle da sociedade/comunidade.
5. AUTONOMIA DO INDIVÍDUO: O processo educativo pedagógico
centra-se no educando, com pleno respeito aos estágios do seu desenvolvimento
e o estímulo para que ele tome o próprio destino em suas mãos. O educando não é
tratado como objeto (meio), mas enquanto sujeito e fim em si mesmo.
6. EXEMPLO: A educação libertária pressupõe a busca da coerência
entre o falar e o fazer (discurso e ação); os exemplos educam e falam mais do que
as palavras; portanto, o educador deve estar sempre aberto a aprender, a se
educar, a reconhecer os erros e dar o bom exemplo, a ser coerente em relação aos
meios e fins, a teoria e a prática; trata-se de, para além de assumir o pensamento
anarquista, ter atitude, uma ética e um modo de ser anarquistas.

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7. CRÍTICA: O educador libertário é um educador crítico: dos conteúdos,
dos programas e instituições oficiais, da sociedade e todas as esferas de
reprodução de formas de expressão e, inclusive, de si mesmo.
8. COMPROMISSO E RESPONSABILIDADE SOCIAL: A Pedagogia
Libertária é profundamente engajada, no sentido da crítica às estruturas de
dominação e da formação de homens e mulheres capazes de aturarem como
críticos e sujeitos ativos pela transformação das suas vidas e do meio social. Nessa
perspectiva, não há lugar para a neutralidade da educação e do educador.
Uma consequência lógica dessa maneira de conceber o processo educativo é o
compromisso com os oprimidos, os deserdados.
9. SOLIDARIEDADE: Uma educação fundada em critérios solidários, de
ajuda mútua, que recusa tanto os prêmios quanto os castigos e, portanto, os
processos classificatórios (exames, notas, etc.) e as relações de ensino-
aprendizagem fundadas em critérios competitivos.

4. A Pedagogia crítica-social

Pedagogia Crítica-social está baseada na responsabilidade com os dilemas sociais;


entre suas ações está o estudo das instituições escolares no seu contexto histórico,
social e político, avaliação do processo de aprendizagem, por meio de reflexões
acerca das desigualdades sociais e suas consequências dentro do processo de
ensino.

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REFERÊNCIAS

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