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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO – UNICAP

ESCOLA DE CIENCIAS JURÍDICAS

DIREITOS HUMANOS

AVALIAÇÃO 1° GQ

Profa. VALDENIA BRITO MONTEIRO

Aluno. DAVI LINDEMBERG SILVA

DIREITOS HUMANOS

(1°) Questão:

Joaquín Herrera Flores concebe os direitos humanos como uma


convenção cultural que utilizamos para introduzir uma tensão entre os
direitos reconhecidos e as práticas sociais que buscam tanto seu
reconhecimento positivado, como outra forma de reconhecimento ou
procedimento que garanta algo que é, ao mesmo tempo, exterior e interior
a tais normas. Discorra a concepção contemporânea dos direitos
humanos a partir do autor Joaquín Herrera Flores (peso 4,0). Mínimo de 2
páginas.

Nascido em 1957, Joaquín Herrera Flores faleceu em 2009 no hospital


de Triana, na Espanha, sua cidade natal. Ele foi um pensador espanhol
envolvido na análise crítica dos Direitos Humanos, buscando desenvolver uma
nova perspectiva interpretativa e metodológica sobre esse assunto. Herrera
Flores completou seu doutoramento em Direito pela Universidade Pablo de
Olavide, em Sevilha, e estabeleceu o Programa de Mestrado e Doutoramento
em Direitos Humanos, Interculturalidade e Desenvolvimento na UNIA-UPO,
colaborando para a formação de estudiosos em toda a Europa, África e
América Latina.
No decorrer da crise econômica de 2008, Joaquín Herrera Flores expôs
sua teoria crítica em benefício da dignidade humana em sua obra "La
reinvención de los derechos humanos". Neste texto, ele aborda uma clara
contradição entre a predominância da lógica de mercado, que frequentemente
prioriza interesses econômicos em detrimento das causas sociais, e os
princípios fundamentais sobre direitos humanos e dignidade que ele propõe. A
publicação deste livro no mesmo ano da crise econômica destaca a relevância
e urgência das reflexões de Herrera Flores, que busca repensar e redefinir os
fundamentos dos direitos humanos diante dos desafios contemporâneos,
especialmente aqueles relacionados à crescente influência do mercado sobre
questões sociais e éticas.
Nesse contexto, o autor desenvolveu a teoria contemporânea dos
direitos humanos, afastando-se da abordagem tradicional. Segundo a visão de
Herrera Flores, os direitos humanos representam a expressão predominante e
ocidental da luta pela dignidade humana. Para ele, dignidade não se limita ao
acesso aos bens, mas refere-se a um acesso igualitário que não seja
determinado por privilégios hierárquicos. O cerne dos direitos humanos não se
restringe ao direito de ter direitos, como na visão tradicional, mas sim abrange
um conjunto de batalhas pela dignidade, cujos resultados podem ser garantidos
por meio de normas legais, políticas públicas e uma economia sensível às
demandas de dignidade.
No livro "La reinvención de los derechos humanos" de Herrera, fica claro
que ele distingue o aspecto real dos Direitos Humanos do fundamento que os
justifica, abordando o "o que", o "por quê" e o "para quê" desses direitos.
Herrera crítica, nesse contexto, a visão convencional de que os Direitos
Humanos podem ser simplificadamente determinados como privilégios
inerentes à nossa humanidade, em uma análise formal e desconectada de uma
avaliação mais aprofundada da realidade social. Na visão do autor, essa
perspectiva limitada compromete a compreensão efetiva dos Direitos
Humanos, pois não explora os benefícios que tais direitos devem asseverar, as
circunstâncias materiais indispensáveis para reivindicá-los e o papel das lutas
sociais na sua criação e consolidação.
Nesse sentido, o livro de Herrera estabelece uma nova perspectiva
sobre os Direitos Humanos, para que sejam vistos como resultados precários
de lutas sociais, iniciadas diante da dificuldade encontrada no alcance a
determinados bens vitais. Aqui fica evidente a alteração de entendimento
presente no texto. Os Direitos Humanos não são facultados pela ordem
internacional ou mesmo pelos Estados; são conquistados por aqueles que,
estão dispostos a atingir determinado bem jurídico, encontram obstáculos
aparentemente insuperáveis no momento de fazê-lo.
Estas complicações ou barreiras, segundo Herrera Flores, podem advir
de enfoques heterogêneos, como questões sociais (posição social), culturais,
territoriais, étnicas, orientação sexual, e assim por diante. Ademais, é
elementar relacionar a criação de Direitos Humanos com o conceito de
"dignidade humana", expressado por Herrera como sendo o acesso equânime
e não hierarquizado aos bens materiais e imateriais.

(2°) Questão:

“Os conflitos armados são também responsáveis pela destruição do


tecido social de uma região ou país. Afetam a circulação de pessoas,
alimentos, bens e também dos serviços públicos como escolas,
universidades e hospitais. Aliada à destruição de edifícios residenciais,
colocam em espera, sem rumo, a vida das populações apanhadas no
meio das partes em conflito e que são empurradas para circunstâncias
que os tornam refugiados e migrantes” (Amnistia Internacional). Quais os
principais desafios e perspectivas para implementação dos direitos
humanos? (peso 4,0). 2 páginas.

Na perspectiva de Joaquín Herrera Flores, a eficácia da implementação


dos direitos humanos está intrinsecamente ligada à valorização da dignidade
humana, especialmente em um contexto contemporâneo moldado
predominantemente pelo modo de produção capitalista. Em sua obra "A
(re)invenção dos direitos humanos", Flores explora as complexidades e
desafios decorrentes de uma ordem global caracterizada pela diversidade,
pluralidade e interdependência.
A ética dos direitos humanos, conforme defendida por Flores, exige o
reconhecimento de cada indivíduo como digno de igual consideração e
respeito, dotado do direito fundamental de desenvolver suas potencialidades
humanas de maneira livre e autônoma. Essa abordagem vai além da simples
proteção legal, buscando catalisar uma transformação social que coloque a
dignidade como princípio central.
Por outro lado, Flores critica firmemente a racionalidade capitalista
hegemônica, que promove uma ideologia baseada no individualismo, na
competitividade e na exploração em busca de lucro e crescimento econômico.
Essa perspectiva muitas vezes atende às necessidades e aos direitos humanos
básicos em prol do progresso econômico, comprometendo assim a dignidade
humana e minando os princípios éticos fundamentais.
Para desafiar essa lógica dominante, Flores propõe uma abordagem
alternativa que rejeita a exploração e enfatiza a necessidade de uma nova
racionalidade baseada na solidariedade, na justiça social e no respeito à
dignidade de todos os seres humanos. Ele argumenta que os direitos humanos
devem transcender as normas escritas e se tornar um guia ético para
transformar as estruturas sociais e econômicas em direção a uma sociedade
mais inclusiva e igualitária.
Ao manter a dignidade humana como um valor central, Flores desafia a
noção de que o crescimento econômico deve ser alcançado a qualquer custo,
enfatizando a importância de focar políticas e práticas econômicas com valores
éticos e direitos humanos universais. Ele defende uma mudança fundamental
na maneira como concebemos e praticamos a economia, colocando as
pessoas e seu bem-estar no centro de todas as decisões e políticas.
Essa abordagem crítica de Flores em relação ao capitalismo
hegemônico destacou a necessidade urgente de transição para modelos
econômicos mais sustentáveis e inclusivos, onde os direitos humanos sejam
um princípio orientador concreto em todos os níveis da sociedade.
Em última análise, a consolidação dos direitos humanos como guia para
uma nova racionalidade crítica requer uma transformação profunda em nossas
estruturas e paradigmas sociais. É essencial um compromisso global para
superar os desafios pela lógica capitalista e criar um mundo onde a dignidade
humana seja verdadeiramente valorizada e protegida em todas as suas
dimensões. Este é o desafio crucial e urgente que Joaquín Herrera Flores nos
convoca a enfrentar em busca de um futuro mais justo, sustentável e
respeitoso para todos.

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