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ILMO.

SENHOR DIRETOR DO DEPARTAMENTO ESTADUAL DE TRÂNSITO DE MINAS


GERAIS - DETRAN/ MG.

Processo Administrativo nº: xxxx

RENACH nº: xxxxx

AIT nº: xxxxx

Eu, xxxxxxxxxxxxxx, brasileiro, casado, engenheiro civil, inscrito no RG


sob o nº xxxxxxxxxxxxx, inscrito no CPF sob o nº xxxxxxxxxxxx, domiciliado à Rua
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, proprietário do veículo xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx; venho perante
V.S.ª apresentar

DEFESA PRÉVIA

requerendo o cancelamento e consequente anulação de suposta infração de


trânsito que teria cometido.

Conforme o Auto de Infração de Trânsito nº xxxxxxxxxxxxxxx, desse órgão e que


segue uma cópia, (documento anexo) lavrado pelo Agente, o Soldado xxxxxxxxxxxxx,
cadastro xxxxxxxxxxxxxxxx, cujo enquadramento da infração foi pelo artigo 165 do CTB.
Acontece, Senhor Diretor, que de acordo com a Lei 9.503/97 que instituiu o Código
de Trânsito Brasileiro (CTB), alterada pela Lei 9.602/98, e dentro das competências do
Contran, estabelecidas no seu artigo 12, especificamente o inciso I, invoco a resolução
001/98 que transcrita a parte interessada diz:

"ANEXO I DA RESOLUÇÃO Nº 001/98

Padrão de blocos de informações mínimas a ser utilizado para


confecção de modelo de auto de infração

BLOCO 1 – IDENTIFICAÇÃO DA AUTUAÇÃO

CAMPO 1 – “CÓDIGO DO ÓRGÃO AUTUADOR”

CAMPO 2 – “IDENTIFICAÇÃO DO AUTO DE INFRAÇÃO”

BLOCO 2 – IDENTIFICAÇÃO DO VEÍCULO

CAMPO 1 – “UF”

CAMPO 2 – “PLACA”

CAMPO 3 – “MUNICÍPIO”

BLOCO 3 – IDENTIFICAÇÃO DO CONDUTOR

CAMPO 1 – “NOME”

CAMPO 2 – “Nº DO REGISTRO DA CNH OU DA PERMISSÃO PARA


DIRIGIR”

CAMPO 3 – “UF”

CAMPO 4 – CPF”
BLOCO 4 - IDENTIFICAÇÃO DO INFRATOR

CAMPO 1 – “NOME”

CAMPO 2 – “CPF OU CGC”

BLOCO 5 – IDENTIFICAÇÃO DO LOCAL DE COMETIMENTO DE


INFRAÇÕES

CAMPO 1 – “LOCAL DA INFRAÇÃO”

CAMPO 2 – “DATA”

CAMPO 3 – “HORA”

CAMPO 4 – “CÓDIGO DO MUNICÍPIO”

BLOCO 6 – TIPIFICAÇÃO DA INFRAÇÃO

CAMPO 1 – “CÓDIGO DA INFRAÇÃO”

CAMPO 2 – “EQUIPAMENTO/INSTRUMENTO DE AFERIÇÃO UTILIZADO”

CAMPO 3 – “MEDIÇÃO REALIZADA”

CAMPO 4 – “LIMITE PERMITIDO”." (grifei)

Os pontos que acima grifei da resolução 001/98 - considerados mínimos para a


lavratura de todo e qualquer auto de infração – não foram respeitados no Auto de Infração
de Trânsito nº B157611067.

Veja o exemplo do “BLOCO 2”, onde o veículo obrigatoriamente deveria ser


identificado com a Unidade Federativa (campo 1), Placa (campo 2) e o seu Município
(campo 3). Observe que dos requisitos mínimos, somente o “campo 2”, referente ao número
da placa foi atendido.
A situação é ainda pior se, pela simples análise do auto de infração mencionado,
perceber que sequer o “BLOCO 4” referente a IDENTIFICAÇÃO DO INFRATOR, faz parte
do documento.

Ora, a citada resolução deixa claramente quais são as informações mínimas


que um auto de infração deve constar, e dentre eles os caracterizados em cada um dos
campos ali elencados, especialmente nos “BLOCO 3” e “BLOCO 4”; por haver uma distância
conceitual e hermenêutica enorme entre o condutor e o infrator.

Esse modelo de “formulário padronizado” fere a presunção de inocência –


princípio constitucionalmente previsto - porque desrespeita a orientação da
Resolução 001/98 do CONTRAN, na medida em que suprime o “BLOCO 4” e equipara a
figura do condutor imediatamente ao infrator, não conferindo a oportunidade de
identificação de figuras distintas.

Não restam dúvidas acerca dos vícios na confecção do formulário pela ausência de
identificação obrigatória exigida pela Resolução 001/98 do CONTRAN que por si só,
ensejam a anulação da penalidade.

Não obstante, há outro vício que merece destaque: a cópia do auto de infração está
repleta de RASURAS efetuadas pelo próprio agente responsável pela autuação.

É de se observar no “BLOCO 3” referente a IDENTIFICAÇÃO DO CONDUTOR,


rasuras diversas espalhadas por TODOS OS CAMPOS: são diversos dados, números
e nomes de pessoas que desconheço e que se confundem com meus dados pessoais.

São tamanhas essas rasuras que elas ultrapassam o “BLOCO 2”, “BLOCO 4”,
“BLOCO 5” e inclusive até no “BLOCO DA DESCRIÇÃO DA INFRAÇÕES” HÁ DIVERSAS
ASSINATURAS DE PESSOAS ESTRANHAS, SOBRE AS QUAIS NADA POSSO
INFORMAR!
Essas rasuras chegam ao cumulo de inviabilizar a identificação do número do
modelo do equipamento utilizado para realizar meu teste de alcoolemia, fato esse que
interfere diretamente no exercício do meu direito de ampla defesa.

Ora, essas rasuras foram produzidas pela negligência do reaproveitamento de


“papel carbono”; de uso comum, conhecido com o fim de emitir várias cópias de um mesmo
documento no ato de seu preenchimento.

Ocorre que uma vez utilizado, esse papel NÃO DEVE SER REAPROVEITADO
porque está sujeito a reproduzir no próximo documento as informações que já foram ali
marcadas e assim, sucessivamente.

O policial militar responsável pela autuação foi negligente ao reutilizar um “papel


carbono” que maculou meu auto de infração, produzindo-lhe várias rasuras, que incluem
assinaturas de terceiros e impossibilidade de determinação da numeração do equipamento
utilizado no teste.

Ora, se o meu auto de infração já continha todas essas assinaturas, números e


rasuras, que garantias terei que esse policial não continuou realizando outras autuações
com esse mesmo “papel carbonado” e que a minha assinatura não foi reproduzida de forma
indevida em outros autos de infração?

De acordo com o artigo 281 do CTB temos:

“Art. 281. A autoridade de trânsito, na esfera da competência estabelecida


neste Código e dentro de sua circunscrição, julgará a consistência do auto
de infração e aplicará a penalidade cabível.

Parágrafo único. O auto de infração será arquivado e seu registro julgado


insubsistente:

I - se considerado inconsistente ou irregular” (grifei)


Da análise deste artigo, a penalidade só poderá ser aplicada se o Auto de Infração
for consistente, o que o Auto de Infração xxxxxxxxxxxxxxxxxx não o é, pois o agente da
autuação produziu um documento repleto de rasuras por causa de sua conduta negligente,
tornando-o dessa forma inconsistente e irregular, e, partindo da premissa de que o auto de
infração é o documento legal e inicial para se aplicar as penalidades previstas no CTB,
fazendo-se necessário a lisura de seu preenchimento com as corretas informações, para
que não deixem qualquer tipo de dúvida e que o conteúdo de suas informações sejam
verdadeiras, a fim de que não sejam cometidas injustiças.

Caso sejam superadas as questões acima demonstradas, ainda sim não há que se
falar em imediato cumprimento de penalidade.

A exemplo disso, o Desembargador Arnaldo Rizzardo, em sua obra Comentários ao


Código de Trânsito Brasileiro, diz assim:

"Não cabe a apreensão enquanto ocorre o processo. Unicamente após o


julgamento é que se aplica a suspensão, apreendendo-se a habilitação, na
linha da jurisprudência, pronunciada pelo Tribunal Regional da 4ª Região: "A
lei prevê, em caso de embriaguez, a apreensão da CNH, pela autoridade de
trânsito, como medida administrativa. Tal medida não substitui, porém, o
necessário procedimento administrativo, com vistas à imposição da
penalidade de suspensão do direito de dirigir. Nesse procedimento, é
necessário que se assegure, antes que tenha efeito a penalidade, o
necessário direito de defesa, não sendo legítima a manutenção da CNH
apreendida até o julgamento da consistência do auto de infração e enquanto
perdurar o procedimento administrativo, pois tal procedimento configura a
imposição da própria penalidade, sem o devido processo legal". (grifei).

O Juiz Carlos Alberto M. S. M. Violante em sua obra Multas de Trânsito coaduna na


mesma linha de pensamento, acima, conforme se vê:

"Somente após decisão definitiva da autoridade impondo a penalidade, da


qual não caiba nenhum recurso administrativo, é que pode ser executada a
suspensão do direito de dirigir, cujo prazo inicia a partir da apreensão da
Carteira de Habilitação. Essa apreensão jamais poderá ocorrer antes da
decisão definitiva impondo a penalidade". (grifei).

Além disso, o artigo 265 do CTB prevê que:


“Art. 265. As penalidades de suspensão do direito de dirigir e de cassação
do documento de habilitação serão aplicadas por decisão fundamentada da
autoridade de trânsito competente, em processo administrativo, assegurado
ao infrator amplo direito de defesa”.

Ademais, o entendimento do Egrégio Tribunal de Justiça segue a mesma linha de


raciocínio dos doutrinadores:

"DUPLO GRAU DE JURISDICAO. MANDADO DE SEGURANCA.


ILEGITIMIDADE PASSIVA. PENALIDADE DE APREENSAO E
SUSPENSAO DA CNH. DEVIDO PROCESSO LEGAL. 1 - A AUTORIDADE
QUE ACOLHE AS MULTAS APONTADAS POR DIVERSOS ORGAOS
AUTUADORES, VINCULANDO AS MESMAS A APLICACAO DA
SUSPENSAO DE HABILITACOES, ASSUME A LEGALIDADE DOS ATOS
PRATICADOS, BEM COMO A POSICAO DE AUTORIDADE COATORA,
QUE ESTARIA CARACTERIZADA DO MESMO MODO, COM A
ESPONTANEA INTEGRACAO DA RELACAO PROCESSUAL E A OFERTA
DE AMPLA DEFESA DO ATO PRATICADO. 2 - TENDO A AUTORIDADE
COATORA APLICADO A PENALIDADE DE APREENSAO DA CARTEIRA
DE MOTORISTA DOS IMPETRANTES, BEM COMO A SUSPENSAO EM
DIRIGIR, ENQUANTO PENDENTE DECISAO JUDICIAL A RESPEITO DA
EFETIVA OCORRENCIA DAS INFRACOES APONTADAS,
MATERIALIZADA SE ENCONTRA A ILEGALIDADE DO ATO, O QUE
AUTORIZA A CONCESSAO DA SEGURANCA PLEITEADA. REMESSA
CONHECIDA E IMPROVIDA." (grifei).

E ainda:

"DUPLO GRAU DE JURISDICAO E APELACAO CIVEL. MANDADO DE


SEGURANCA PARCIALMENTE CONCEDIDO. SUSPENSAO DE CNH.
INFRACAO DE TRANSITO. NULIDADE DOS AUTOS DE INFRACOES
POR AUSENCIA DE OPORTUNIDADE DE DEFESA. ACAO ANULATORIA
PENDENTE. DESNECESSIDADE. 1 - A PRATICA DE INFRACAO DE
TRANSITO DETECTADA POR SINALIZACAO ELETRONICA AUTORIZA A
NOTIFICACAO DO CONDUTOR PARA SE DEFENDER NO PRAZO
LEGAL, MAS A APLICACAO DE PENALIDADE SO PODE SER FEITA EM
SEGUNDA OPORTUNIDADE, QUANDO REJEITADA A DEFESA
APRESENTADA NA PRIMEIRA. 2 - ANTES DE 19/09/03, DATA EM QUE
O CONTRAN BAIXOU A RESOLUCAO N. 149, DETERMINANDO A
EXPEDICAO DE DUAS NOTIFICACOES PARA O SUPOSTO INFRATOR,
A PRIMEIRA COMUNICANDO DA INFRACAO E A SEGUNDA APLICANDO
A PENALIDADE, ERAM NULOS TODOS OS AUTOS DE INFRACOES,
RESSALVADOS APENAS OS CASOS DE AUTUACOES EM
FLAGRANTE,CUJO ATO REPRESENTA A PROPRIA NOTIFICACAO. 3 -
NULOS OS AUTOS DE INFRACOES, NULOS SAO SEUS EFEITOS,
INCLUSIVE AS PONTUACOES ANOTADAS NOS DOSSIES DOS
CONDUTORES. 4 - A NULIDADE DAS PONTUACOES E CAUSA
SUFICIENTE PARA VICIAR, POR ILEGALIDADE, A NOTIFICACAO
ENCAMINHADA POR AGENTES DA AUTORIDADE IMPETRADA
COMUNICANDO AOS IMPETRANTES ACERCA DA SUSPENSAO DE
SUAS CNH. 5 - APELACAO CONHECIDA E PROVIDA. 6 - SEGURANCA
CONCEDIDA EM RELACAO AOS IMPETRANTES AOS QUAIS FOI
NEGADA EM PRIMEIRO GRAU. 7 - REMESSA OBRIGATORIA
CONHECIDA E DESPROVIDA EM RELACAO AOS IMPETRANTES AOS
QUAIS A SEGURANCA FOI CONCEDIDA EM PRIMEIRO GRAU.
REMESSA E APELO CONHECIDOS. DESPROVIDA A REMESSA E
PROVIDO O APELO, A UNANIMIDADE DE VOTOS." (grifei).

DOS PEDIDOS

Diante dos fatos e do Direito supra expostos, venho requer:

a) Pedido de efeito suspensivo da aplicação da pena, como se requer a medida;

b) Que seja acolhida a preliminar de nulidade de vicio de formação do auto de


infração, declarando-o nulo de pleno direito; com fundamento no inciso I,
Parágrafo Único do Art.281do CTB c/c Anexo I da Resolução Nº 001/98 do
CONTRAN;

c) o cancelamento do Auto de Infração nº xxxxxxxxxxxxxx e, consequente, a não


aplicação da penalidade específica, assim como a não atribuição de pontos
perdidos, referentes à infração, em meu nº de registro.

Termos em que,

Peço deferimento.

Belo Horizonte, xxxxxxxxxxxxxxxxx

Nome e CPF

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