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Breve resenha histórica da Escola Secundária de Xai - Xai ( 1967-2010 )

Preâmbulo:
Com vista a criar referências histórico-culturais e transmitir um legado histórico melhor
organizado sobre esta instituição de ensino, tomamos a destemida iniciativa de produzir
uma pequena monografia sintética sobre os momentos mais clarividentes do percurso
histórico da escola.
É neste contexto que procuramos explorar todo um manancial bibliográfico, oral e
arqueológico com o intuito de trazer lume grande parte dos momentos marcantes da vida
da escola secundaria de Xai-Xai.
Temos que reconhecer que a presente instituição de ensino que em tempos coloniais fora
reconhecida como Colégio Nossa Senhora do Rosário pertença das irmãs da ordem
dominicana de Portugal, surge em resposta a uma pressão externa que Portugal sofria no
sentido de mais rapidamente correr para a descolonização na década de 60, foi ai, então
que Portugal na qualidade de um gestor deficitário de um vasto império colonial vai
empreender reformas urgentes no sentido de ludibriar a comunidade internacional sobre o
tratamento que se dava aos cidadãos indígenas das colónias. Estas reformas cingiram-se
mais nas áreas sociais que pudessem ter um impacto rápido sobre a comunidade indígena
e mudar a visão da comunidade internacional sobre a situação colonial portuguesa em
particular em Moçambique.
É sobre esta esteira sociocultural e política em que se vai assentar a nossa abordagem.
1- Breve contextualização Temática
É fundamental referir que o colégio Liceu Nossa Senhora do Rosário, foi uma instituição
de ensino, no período colonial, enquadra nas reformas profundas do ensino na colónias
portuguesas concebidas pelo regime colonial Fascista do Dr. António de Oliveira Salazar,
então presidente do conselho de Ministros da Nação Portuguesa.
Segundo o historiador moçambicano David Heges que apresentou um estudo profundo
sobre a estrutura do ensino colonial em Moçambique, em 1940, o estado colonial
Português rubricou com a Santa Sé, entidade máxima da Igreja Católica Apostólica
Romana a primeira concordada missionária que foi mais tarde complementada pelo
acordo missionário no mesmo ano que acima de tudo previa a transferência total do
ensino dos indígenas de Moçambique para as mão da igreja católica, com uma clara
missão de produzir uma estratégia bem concebida de colonização mental pela via
religiosa para garantir o sucesso de uma cada vez maior exploração dos indígenas das
colónias do império colonial português.
Foi neste âmbito que, a Igreja católica, se assume como patrona do ensino para os
indígenas e dai surge a famosa designação de ensino missionário ou, escolas das missões
católicas para os pretos.
O colégio liceu Nossa Senhora do Rosário, não fugiu a regra, foi implementado nos
princípios da década 70 em pleno Município de João Belo, para absorver uma cada vez
enchente avalanche de cidadãos indígenas que apesar de um controle cerrado das
migrações `campo-cidade´ continuava a afluir João Belo idos de Manjacaze, Chibuto,
caniçado e outras vilas. Segundo Heges era necessário educar estes negros não para se
tornarem intelectuais mas sim para poderem servir como forca braçal para os interesses
mais nobres do regime de Salazar.
As escolas missionarias, segundo o historiador Carlos Serra deviam responder a uma
situação muito concreta e a objectivos também concretos, que se circunscreviam
basicamente em transformar os indígenas em instrumentos de produção de matéria prima
barata para alimentar a crescente maquina industrial emergente em Portugal e fortificar os
alicerces políticos do regime.
Este tipo de escolas missionarias situavam com mais frequência no meio rural, onde o
grosso da população era indígena.
2- A Fundação do Colégio Liceu Nossa Senhora do Rosário:
Em resposta ao pedido formulado pela congregação da Santa Catarina do Sena, da ordem
terceira do São Domingos em Portugal Irmãs Dominicanas Portuguesas, o Ministério das
colónias, respondeu favoravelmente a necessidade da instituição de um colégio que viria
a se designar Colégio Liceu Nossa Senhora do Rosário a situar algures no Município de
Gaza, precisamente em João Belo.
Este colégio, havia de funcionar sem quaisquer subsídio do estado colonial, e, haveria de
se orientar pelo currículo vigente sobre o ensino missionário para os indígenas na colónia
de Moçambique.
O Alvará, foi concedido aos 11-08-1965, ao abrigo do decreto nº 2: 490 de 1-07-1916,
para erguer a escola e um centro de internato no terreno, talhão nº 5 do parcelamento
Tavene ( Hospital).
É preciso salientar que houve momentos de indecisão sobre o espaço que se achava ideal
para colocação da escola, pois numa primeira etapa, se pensou na praia de Sepúlveda ou
actual praia de Xai-Xai, mas depois a ideia se desertou devido a distancia que se separava
a praia de Sepúlveda da cidade de João Belo, aliado aos problemas de transporte.
E definitivamente, o colégio foi construído na parcela do talhão sita em Tavene
(hospital).
Todos processos burocráticos inerentes a regularização do terreno e do projecto de
construção foram financeiramente assumidos pela ordem das Irmãs Dominicanas.

3- A entrada em funcionamento do colégio Liceu Nossa Senhora do Rosário:

O colégio Liceu Nossa Senhora do Rosário, começa a funcionar em instalações situadas


na cidade baixa, no actual edifício em que funcionam os serviços do cartório notarial, em
regime provisório, aguardando o fim das obras do Liceu e do internato que já haviam se
iniciado no ano de 1966.
Este colégio tinha uma direcção chefiada por uma irmã, superiora da ordem Dominicana
em João Belo, arrancou com cerca de seis docentes formados e um universo de 63
meninas e meninos, distribuídos em duas turmas.
Para alem de disciplinas cientificas, leccionava-se outras como moral, mariologia, artes e
oficio, etc.
Era obrigatório que os meninos que ingressassem para o colégio fossem católicos
apostólicos romanos para não desvirtuarem aquilo que eram os fundamentos do regime e
não por em causa a estratégia colonial.

4- O pleno funcionamento do Colégio nas instalações próprias:

As obras de construção do colégio Liceu Nossa senhora de Rosário e do respectivo


internato só viriam a terminar quatro anos mais tarde, pois as obras tiveram algumas
paragens por vários motivos.
O colégio, reassumiu as suas funções, como um liceu virado para o ensino do primeiro ao
quinto ano, o que correspondia actual 8ª a 12ª classe, só na Universidade de Lourenço
Marques.
Podiam integrar no liceu todos meninos portugueses e assimilados, cristãos católicos.
A escola funciona ultimamente ligada ao centro de internato que situa-se junto a escola,
servia basicamente para acolher crianças que viviam em pontos muito distantes de João
Belo, o internato regido por regras muito rígidas, de origem crista, como segundo o
regime colonial, uma forma de criar um homem puramente português.
A escola funciona com um universo de 11 salas de aulas, a secretaria, uma sala de
professores, gabinete do director, um ginásio e sala de cultura, haviam também duas salas
especiais, uma dedicada a actividades laborais e ofícios e a outra era um laboratório de
Biologia e Química, faziam parte também um campo aberto de jogos e grande numero de
vedação.
Em 1969-1970 o colégio dispunha de cerca de 35 funcionários dentre docentes, corpo
administrativo e pessoal de apoio.
5- Os momentos de incertezas face ao advento da Independência 1974-75
Os últimos anos da década 60 e os primeiros da década 70 foram muito défices para o
regime colonial português nas suas colónias devido ao avanço impectuoso das lutas
armadas de libertação ou simplesmente a descolonização.
A colónia de Moçambique, não foi a excepção, muito menos o sistema de ensino colonial
que sempre constituiu um pilar fundamental do sistema de exploração colonial.
Nestes tempos, face a ameaça do avanço da FRELIMO, a quem os portugueses
chamavam por terras, e lambem a pressão internacional para Portugal acelerar o passo em
direcção a descolonização, fizeram com que o regime colonial pusesse em marcha um
grande programa de reformas a todos níveis para reduzir essa pressão. Estas reformas,
segundo Carlos Serra, integram-se numa filosofia conhecida nos meandros coloniais
como “Política de Portas Abertas” esta filosofia visava abrir o império colonial
português ao mundo externo, atraindo enormes investimentos de capitais não portugueses
para suas colónias.
Portugal, a luz da mesma filosofia, ergueu muitas infra-estruturas sociais, aboliu o
estatuto de indígenas, aboliu a discriminação no ensino, como forma de enganar a opinião
pública internacional a respeito da situação colonial em Moçambique, procurando ganhar
tempo nas suas colónias.
É nesta conjuntura, que o colégio Nossa Senhora do Rosário, teve que rever muitos dos
seus mecanismos de funcionamento, tais como, a obrigatoriedade de se ser católico, ou
assimilado para ingressar na instituição, o regime de internamento os curricula e
materiais leccionados e até a própria filosofia de ensino.
Consideramos este período de incertezas, por que com as reformas quase bruscas que se
operavam em todo o regime colonial, as várias instituições sociais ficaram fragilizadas e
vulneráveis face a situação de então, sendo permeáveis, a possíveis movimentos
subversivos anti- coloniais.
É preciso perceber que, em algum momento, as estruturas gestoras do ensino colonial em
Moçambique, tendo se apercebido da crise, que precedeu o de 25 de Abril em Portugal,
trataram de desencorajar e desistimular, a continuação de quadros qualificados nas
instituições de ensino, o que desmoralizou sobre maneira o decurso activo das actividades
pedagógicas.
O ensino para os indígenas, a cargo das missões católicas, foi banalizado e ridicularizado
de forma propositada para prejudicar todo um processo de formação de base de alguma
parte da população indígena.
As características essenciais do ensino colonial, neste período foram postas em causa,
pelas reformas do regime liderado na altura por Marcelo Caetano, pois, de um sistema
colonial concebido eminentemente para formar um sociedade negra que fornecesse
serviços básicos ao regime, com as reformas tornou-se um sistema de integração dos
indígenas com um olhar para a comunidade internacional bastante preocupada com a
demora de Portugal em descolonizar a África Portuguesa.

6- O rumo do colégio liceu Nossa Senhora do Rosário após Independência.


Após a proclamação da independência nacional, a 25 de Junho de 1975, grande parte das
infra- estruturas pertencentes ao regime colonial, tiveram a sorte de serem nacionalizadas
a partir do dia 24 de Julho; este colégio não fugiu a regra, quer a Escola em sim, como o
internato passaram para as mãos do Estado da Jovem República Popular de Moçambique
como grandes conquistas da revolução Moçambicana.
É preciso, acreditar que o novo estado moçambicano, Marxista, Lenenisca, emergia da
guerra de libertação como um simples movimento popular que agregava a todos os
moçambicanos numa causa única que é a libertação do homem e da terra contra o regime
colonial fascista de António de Oliveira Salazar; e que não dispunham de alguma infra-
estrutura própria; daí que a necessidade de infra-estrutura surge como uma das principais
exigências de então, para o plano de funcionamento do Estado.
Após, as nacionalizações dos estabelecimentos do ensino, foi necessário, manter a
máquina de ensino a funcionar, introduzindo os novos programas de ensino usados
durante a luta armada nas zonas libertadas, era um programa de ensino orientado a
formação do homem novo, preparado para combater a burguesia capitalista, o
imperialismo e todos os vícios maléficos herdados do regime colonial.
Quanto ao colégio, foi transformado numa escola secundária, que leccionava de 7ª a 9ª
classes do antigo Sistema Nacional de Educação, e recebia alunos provenientes não só da
cidade de Xai-Xai, mas sim de vários distritos com direito ao internamento, nas
instalações onde se fixaram as irmãs hoje.
A nova Escola Secundária de Xai-Xai, foi se desenvolvendo e se afirmando como um
estabelecimento de ensino de referência, caracterizado pelo trabalho abnegado de toda a
comunidade escolar.
Em termos de infra –estruturas, devido a cada vez maior demanda estudantil, ao nível
secundário, foram construídas mais salas de aulas com material convencional, mas, é
preciso realçar que estas salas eram precárias e vulneráveis a todo o tipo de intempéries
pelo que foram apelidadas de “Soweto”.
Mesmo assim, a Escola, sempre funcionou com salas anexas em Escolas vizinhas como a
Escola Primária Eduardo Mondlane e EP1 de Tavene.

7- A reabilitação profunda da Escola e a sua nova cara 2007-2008


Temos que ter a ousadia de reconhecer plenamente que o nível de degradação a que
estava votada a nossa Escola era extremamente desolador, apresentava infiltrações em
quase toda a estrutura do tecto, as casas de banho tinham a tubagem obstruída, as janelas
com vidros partidos, o que não permitia um discurso harmonioso no PEA nas melhores
condições.
Após várias tentativas fracassadas de aquisição de fundos, uma luz apareceu no fundo do
túnel através de um estudo profundo realizado por técnicos do Ministério da Educação
ligados a áreas de projectos e a comunidade escolar, por forma a conceber-se um projecto
ideal daquilo que seria a futura Escola Secundária de Xai-Xai.
É preciso destacar o papel fundamental do conselho da Escola no desenho daquilo que se
pretendia que fosse a nova Escola em função das necessidades numéricas e do nível da
Escola, neste conselho da Escola uma das figuras fundamentais foi a pessoa do director,
Dr. Fanuel Albino Chana, que não só participou activamente dos calorosos debates sobre
o projecto ideal da Escola, mas teria revolucionado toda uma forma de pensar e de ser da
escola Secundária de Xai-Xai. Com Chana, a Escola Secundária tornou –se um centro de
rigor, qualidade, respeito e dedicação pela causa do saber científico.
Depois de concebido p projecto da reabilitação de raiz da Escola, iniciou-se com a fase de
madeira da reabilitação e ampliação em 2007, foi necessário transferir –se toda a infra –
estrutura social da Escola, para a actual EP1 de Tavene, onde se funcionava em salas
improvisadas em losalite e cobertura de chapas de zinco; É preciso reparar que ali
também as condições eram precárias.
A reabilitação da Escola foi fundamentalmente no sentido de ampliá-la, acoplando a
antiga estrutura um novo edifício de um piso com mais dez salas de aulas e emprestando
a escola um número novo e moderno estilo arquitecto.
Terminada a fase de reabilitação e equipamento da Escola, esta apresenta uma nova cara,
mais salas de aulas, laboratórios, casas de banho, biblioteca, sala de informática bem
equipada e campos de jogos ampliados.
Foi neste contexto que se introduziu o segundo ciclo do ensino secundário geral, dando
uma nova dimensão intelectual a Escola.

8- Apreciação final
O presente trabalho, de produção duma resenha histórica sobre o percurso da Escola
Secundária de Xai-Xai, desde a década de 60, não é um produto já acabado nem
plasmado de grande perfeição, ele pode estar sujeito a todo o tipo de críticas
cientificamente fundamentadas para melhorar a sua qualidade.
Compreendemos que foi uma atitude ousada da nossa parte, mas necessária, pois,
precisávamos de ter referencias sobre um breve historial da nossa bela Escola.
Dificuldades na elaboração deste trabalho não faltaram quer em material bibliográfico
quer em aspectos técnicos mas tudo foi superado pela vontade de trabalhar em prol de
uma Escola Nova.
9- Referências Bibliográficas

CASTRO, Francisco de Melo. Discrição dos rios de Sena e a situação educacional


nacional de Moçambique. Imprensa Nacional. 1961.
COSTA, António Noriega. A penetração e o impacto do capital mercantil português em
Moçambique. Maputo. Cadernos Tempo. 1982.
HEDGES David W. Trade and politics in southern Mozambique ande Zuenland
mineteenth centuries. Londres. 1978.
HEDGES David W. O papel do ensino colonial em Moçambique . UEM. 1986.
XAVIER Inácio Caetano. Notícias dos Domingos Portugueses. Porto Editora. 1966
Cadernos Tempo – UEM- 1984
Cadernos Tempo – UEM – 1986
Documentos orais.
10- ANEXOS

Índice

Breve resenha histórica da Escola Secundária de Xai - Xai ( 1967-2010 )------------------ 1


0- Preâmbulo -----------------------------------------------------------------------------------------1
1- Breve contextualização Temática --------------------------------------------------------------2
2- A Fundação do Colégio Liceu Nossa Senhora do Rosário ---------------------------------3
3- A entrada em funcionamento do colégio Liceu Nossa Senhora do Rosário ------------- 5
4- O pleno funcionamento do Colégio nas instalações próprias ------------------------------7
5- Os momentos de incertezas face ao advento da Independência 1974-75 ---------------- 8
6- O rumo do colégio liceu Nossa Senhora do Rosário após Independência ---------------9
7- A reabilitação profunda da Escola e a sua nova cara 2007-2008 -------------------------9
8- Apreciação final ---------------------------------------------------------------------------------9
9- Referências Bibliográficas ---------------------------------------------------------------------9
10- ANEXOS
História da
Escola
Secundária de
XaiXai

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