Você está na página 1de 88

INTRODUÇÃO

A demanda por ética é crescente nas sociedades contemporâneas


bem como as preocupações com o meio ambiente. Desastres ambientais
associados à atuação de grandes corporações, decréscimo da confiança na
imparcialidade do sistema judiciário, arbitrariedades cometidas em nome
da segurança pública, favorecimento ilícito, acesso desigual a políticas e
serviços públicos, bem como a recursos naturais, discriminação,
preconceito, violações de direitos são alguns dos fenômenos que
contribuem para que organizações sejam pressionadas a incorporar
valores éticos e práticas ambientalmente corretas na sua atuação.
Desse modo, ética e sustentabilidade são questões tratadas a
todo o tempo nas organizações. Cabe aos gestores, verdadeiros
responsáveis pela atuação das empresas, estar preparados para
promover as mudanças necessárias para fazer face às novas demandas
postas às organizações pela sociedade.
O curso Ética e Sustentabilidade proporciona conhecimento sobre
os tópicos da ética, da responsabilidade social e da sustentabilidade, com
os seus conceitos e as suas técnicas, além de buscar sensibilizar gestores
sobre novas possibilidades no mundo dos negócios. Em outras palavras,
o curso tem como objetivo apresentar as noções de ética, responsabilidade
social e sustentabilidade no seu escopo mais amplo, privilegiando a sua
aplicação ao universo empresarial. Para tal, iremos:
 identificar conceitos fundamentais nas áreas de ética e
sustentabilidade;
 relacionar conceitos fundamentais a modelos de gestão ética e
 relacionar conceitos fundamentais a modelos e práticas
socioambientalmente responsáveis.
SUMÁRIO
MÓDULO I – ÉTICA, MORAL E VALORES .............................................................................................. 7

CAMPO DA ÉTICA ............................................................................................................................... 7


Ética e moral ............................................................................................................................... 7
Ética e direito .............................................................................................................................. 9
Ética e política ...........................................................................................................................10
Ética e religião ..........................................................................................................................12
FUNDAMENTAÇÃO DA ÉTICA: DA GRÉCIA À MODERNIDADE ....................................................13
Ética na filosofia da Grécia antiga..........................................................................................13
Ética e modernidade ...............................................................................................................14
Deontologia Kantiana ..............................................................................................................15
Utilitarismo inglês ....................................................................................................................18
Modelos de gestão ética .........................................................................................................19
PÓS-MODERNIDADE, ÉTICA E ORGANIZAÇÕES ...........................................................................21
Desafios éticos na pós-modernidade ...................................................................................21
Ética e poder nas organizações: o papel do líder ................................................................24
Ausência de ética e abuso de poder .....................................................................................25
Abuso de poder ..................................................................................................................25
Assédio moral .....................................................................................................................26
Assédio sexual ....................................................................................................................27
MORAL, ÉTICA E ORGANIZAÇÕES .................................................................................................. 29
Moral nas organizações brasileiras .......................................................................................29
Código de conduta...................................................................................................................31
Comitê de ética ........................................................................................................................32

MÓDULO II – RESPONSABILIDADE SOCIAL E GOVERNANÇA .......................................................... 33

RESPONSABILIDADE SOCIAL E CIDADANIA ..................................................................................33


Fundamentos da responsabilidade social empresarial......................................................33
Cidadania corporativa .............................................................................................................37
MODELOS E PRÁTICAS SOCIALMENTE RESPONSÁVEIS...............................................................39
Balanço social ...........................................................................................................................39
Relato de sustentabilidade e Indicadores GRI .....................................................................41
Normas da responsabilidade social ......................................................................................44
Fair trade (comércio justo) ......................................................................................................45
Associações representativas de entidades do terceiro setor ............................................46
Relatórios de agências reguladoras ......................................................................................46
GOVERNANÇA CORPORATIVA ........................................................................................................ 46
Governança corporativa .........................................................................................................46
Gestão da reputação ...............................................................................................................49
Desenvolvimento moral da organização ..............................................................................51
Expectativas da alta administração..................................................................................52
Fatores individuais .............................................................................................................53
Fatores ambientais .............................................................................................................53
Processos organizacionais ................................................................................................53
Desenvolvimento moral organizacional ..........................................................................54

MÓDULO III – SUSTENTABILIDADE COMO VANTAGEM COMPETITIVA .......................................... 57

MEIO AMBIENTE E ORGANIZAÇÕES ..............................................................................................57


Fundamentos e conceitos da sustentabilidade ...................................................................57
Princípios da sustentabilidade aplicados ao mundo corporativo .....................................60
Triple bottom line ......................................................................................................................61
Mensuração de serviços ambientais .....................................................................................63
PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS ................................................................................................................64
Estágios para a sustentabilidade corporativa ......................................................................64
Primeiro estágio..................................................................................................................65
Segundo estágio .................................................................................................................66
Terceiro estágio ..................................................................................................................67
Quarto estágio ....................................................................................................................67
Quinto estágio.....................................................................................................................68
Sexto estágio .......................................................................................................................68
Ponderações sobre a sustentabilidade corporativa ...........................................................69
GESTÃO SUSTENTÁVEL COMO FILOSOFIA DE BONS NEGÓCIOS ..............................................70
Retorno intangível e gestão do risco corporativo ...............................................................70
Modelos de avaliação de sustentabilidade ..........................................................................73

CONCLUSÃO......................................................................................................................................... 77

BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................................... 79

PROFESSOR-AUTOR ............................................................................................................................. 85
MÓDULO I – ÉTICA, MORAL E VALORES

Neste primeiro módulo, será introduzida a temática da ética, bem como as suas distinções em
relação à moral, ao direito, à política e à religião, bem como a trajetória desse conceito no ocidente – da
Grécia antiga à modernidade. Em seguida, o mundo contemporâneo é analisado com ênfase na sua
condição pós-moderna e nos seus desafios éticos. Nesse contexto, apresenta-se a possibilidade de
construção de uma liderança afinada com tais desafios, associando a prática da ética a resultados
empresariais e sedimentando a perspectiva de construir relações de confiança entre empresas, parceiros,
colaboradores e clientes. Por fim, analisa-se a moralidade presente nas organizações brasileiras.

Campo da ética
Ética e moral
Apesar de o senso comum atribuir o mesmo significado aos termos “ética” e “moral”, esse
curso opera com a distinção entre tais conceitos. Para enriquecer a compreensão da diferença entre
ética e moral, realiza-se uma breve revisão histórica sobre a pluralidade de significados associados
aos termos em pauta.
De uma maneira geral, a tradição filosófica compreende a ética como uma reflexão sobre regras
e valores morais. Essa reflexão filosófica teve início na Grécia clássica, período singular da história da
humanidade, no qual surgiram as primeiras teorizações sobre a natureza e as relações humanas. Nesse
sentido, Ernst Tugendhat discorre sobre a pluralidade de significados atribuídos à moral e à ética:

Realmente, os termos “ética” e “moral” não são particularmente


apropriados para nos orientarmos. Cabe aqui uma observação sobre sua
origem, antes de tudo curiosa. Aristóteles tinha designado suas
investigações teórico-morais – então denominadas como “éticas” – como
investigações “sobre o ethos”, “sobre as propriedades do caráter”, porque
a apresentação das propriedades do caráter, boas e más (das assim
chamadas virtudes e vícios) era uma parte integrante essencial destas
investigações. Essa procedência do termo “ética”, portanto, não dá conta
daquilo que entendemos por “ética”. No latim o termo grego éthicos foi
traduzido por moralis. Mores significa: usos e costumes. Isto, novamente,
não restitui as nossas compreensões de ética e de moral. Ocorre aí, além
disso um problema de tradução. Pois na ética aristotélica não apenas
ocorre o termo ethos (com 'e' longo), que significa propriedade de caráter,
mas também o termo ethos (com 'e' curto) que significa costume, e é para
esse segundo termo que serve a tradução latina. (TUGENDHAT, 1997,
trad. Mod., p. 35-36).

Na filosofia grega, foi Sócrates (470-399 a.C.) quem iniciou a reflexão sobre as normas morais
estabelecidas em um determinado contexto cultural.
Dirigindo-se aos atenienses, Sócrates lhes perguntava qual o sentido dos costumes
estabelecidos (ethos com eta: os valores éticos ou morais da coletividade, transmitidos de geração a
geração), mas também indagava quais as disposições de caráter (ethos com epsilon: características
pessoais, sentimentos, atitudes, condutas individuais) que levavam alguém a respeitar ou a
transgredir os valores da cidade, e por quê (CHAUÍ, 1994, p. 340).
Desse modo, da Grécia antiga aos tempos atuais, em termos filosóficos, a ética pode ser
compreendida como uma atividade reflexiva a respeito das práticas morais, com o objetivo de
estabelecer os melhores valores para nortear a conduta humana. Transpondo essa abordagem para
o contexto empresarial, a reflexão ética se faz presente na medida em que o gestor precisa justificar
as suas decisões perante os seus colaboradores, clientes, parceiros e diante da sociedade como um
todo. O gestor deve ter clareza a respeito dos critérios a partir dos quais as suas decisões são tomadas
e ser capaz de evidenciar tais princípios, fundamentando eticamente as suas deliberações e
assumindo a responsabilidade pelas suas consequências.

O gestor deve ter clareza sobre os critérios nos quais se


baseiam suas decisões e deve ser capaz de demonstrar isso.

Desse modo, a ética, como uma área da filosofia de caráter normativo e com pretensão à
universalidade, quando aplicada ao meio empresarial, é direcionada, especificamente, para fornecer
uma base de fundamentação teórica que confira legitimidade a esse ramo da atividade humana. A
ética empresarial seria a fundamentação teórica para o sistema prescritivo e normativo vigente nessa
coletividade específica – o meio empresarial, que engloba os princípios pelos quais os indivíduos

8
desta coletividade devem agir de determinadas maneiras diante das situações que correntemente se
lhes apresentam. Atualmente, há sentidos ainda mais específicos para a ética aplicada, que se
configuram, concretamente, em códigos de ética próprios da empresa X ou da empresa Y. Também
nesses casos, são sistemas normativos, porque visam regular a conduta humana apresentando
fundamentos pelos quais tais regras devem ser seguidas, e com pretensão à universalidade, pois se
aplicam a todos os indivíduos pertencentes àquelas coletividades – as empresas X ou Y.
De forma simplificada, e a partir do exemplo acima sobre os códigos de ética de empresas
específicas, a moral se refere ao conjunto de regras propriamente dito, que deve ser seguido pelos
indivíduos da empresa, enquanto a ética é o fundamento dessas regras – o conjunto de princípios
pelos quais as normas devem ser observadas, a sua justificativa.

Ética e direito
É comum a confusão entre a “ética” e o “direito” como áreas de conhecimento e atuação, já
que ambas tratam da normatização da conduta humana e pretendem contribuir para a ordem social.
No entanto, a área da ética é muito mais ampla do que a do direito. Um indivíduo pode cumprir
todas as leis e, ainda assim, agir de forma antiética.
Enquanto a legislação estabelece o que não pode ser feito, qualificando tais ações como crimes,
delitos ou contravenções, e prevê punições efetivas para os indivíduos que agem contrariando as leis,
a ética se dedica a pensar o que deve ser feito. De fato, é ético cumprir as leis, mas o cumprimento
das leis é apenas uma parte do conjunto de todos os comportamentos e atitudes regulados pela esfera
da ética. Por exemplo, a mentira, o desrespeito e a intriga são comportamentos antiéticos em
diferentes contextos, embora a sua prática não seja passível de punição legal muitas vezes.
Desse modo, na esfera do direito, é possível afirmar que determinadas ações são qualificadas
como contrárias às leis e que os indivíduos que as praticam podem sofrer uma sanção externa – uma
punição estabelecida e aplicada pelo Estado, por meio das suas diferentes instituições, que visa
impedir a prática de novas transgressões.
No entanto, o que impediria uma atitude moralmente condenável, quando invisível aos olhos da
lei? A ação de alguma sanção interna, produzida pela consciência do próprio agente, poderia evitar tal
conduta, ou seja, a ética se refere à consciência moral dos agentes. Nesse sentido, o campo moral é bem
mais amplo do que o campo jurídico, já que engloba um sem-número de aspectos subjetivos e reflexivos.
A ideia de “sanção interna” não é de fácil definição. É possível imaginar outras formas de
sanções externas para além da punição legal, como a simples reprovação exercida por meio de
olhares ou reprimendas verbais, a circulação de rumores e maledicências ou até medidas de exclusão
daquele indivíduo considerado “antiético” por determinado grupo, sem que nada disso passe pelo
âmbito jurídico. No entanto, quando são consideradas essas outras formas de pressão, pode-se supor
que é a consciência moral do sujeito transgressor que faz com ele seja sensível a tais formas de
pressão, de modo a permitir que elas influenciem o seu comportamento – em suma, que esse tipo

9
de coerção está indissociavelmente ligado ao plano interno, subjetivo. No campo jurídico, quer a
consciência do sujeito gere nele culpa, quer não, ele será alvo da punição prescrita, que pode até ser
atenuada pela confissão de culpa e pela verificação de arrependimento notório, mas que continuará
a ser aplicada nos termos da lei.
Por exemplo, um gestor que percebe uma oportunidade de executar um “crime perfeito”,
realizar uma ação transgressora que ninguém poderá perceber ou provar – como cometer ou deixar
de reportar um dano ambiental ou um assédio moral – só poderia ser impedido por uma sanção
interna, uma forma de autocensura que influencia a sua conduta.
A reflexão sobre a distinção entre ética e direito também permite considerar a ética como
condição de possibilidade para o aprimoramento das leis, nas quais se fundamenta o campo do
direito. Em uma sociedade democrática, pretende-se que as leis estejam em sintonia com a
atualidade da reflexão ética da sociedade. Nos casos em que isso não acontece, a defesa de princípios
éticos fomenta lutas sociais – como a mobilização de diferentes setores da sociedade ou campanhas
públicas – para a modificação destas leis.

Cabe observar que a criação de novas leis nem sempre tem


uma motivação ética. Frequentemente, legisla-se a partir de
interesses econômicos, tráfico de influência ou motivos
particulares. Por outro lado, leis recentes eticamente
fundamentadas têm contribuído para o aprimoramento da
organização social. É o caso da chamada “lei Maria da Penha”,
que tem contribuído para o combate ao feminicídio.

Ética e política
A origem do termo “política” está inquestionavelmente ligada ao termo grego, polis, que significa
“cidade”. Segundo Norberto Bobbio, “política” significa “tudo o que se refere à cidade e,
consequentemente, o que é urbano, civil, público e até mesmo sociável e social” (Bobbio, 2004, p. 954).
Na atualidade, o termo adquire múltiplos significados, alguns deles pejorativos. Por isso, é
preciso resgatar o sentido positivo do termo, na medida em que todo gestor faz política, uma vez
que precisa gerenciar diferentes interesses em uma coletividade. Ao mesmo tempo, pode-se falar da
“política da empresa”, da “política do sindicato” ou de política em sala de aula.
Em um sentido restrito, a política está associada ao Estado e ao direito. Em um sentido mais
amplo, a política se refere à gestão, tanto em esferas muito amplas, como a política internacional,
quanto em esferas mais reduzidas, como a política de uma empresa. De todo modo, a conotação
do termo “política” é clara, dizendo respeito à administração da pluralidade, da diferença.

10
A relação da política com a moral ou com a ética não é de fácil definição, como esclarece
Norberto Bobbio:

A política e a moral estendem-se pelo mesmo domínio comum, o da ação


ou da práxis humana. Pensa-se que se distinguem entre si em virtude de
um princípio ou critério diverso de justificação e avaliação das respectivas
ações, e que, em consequência disso, o que é obrigatório em moral não se
pode dizer que o seja em política, e o que é lícito em política não se pode
dizer que o seja em moral; pode haver ações morais que sejam impolíticas
(ou apolíticas) e ações políticas que são imorais (ou amorais). A descoberta
da distinção que é atribuída, injustificada ou justificadamente, a Maquiavel
(daí o nome de maquiavelismo dado a toda teoria política que sustenta e
defende a separação entre política e moral), é geralmente apresentada como
problema da autonomia da política. (BOBBIO, 2004, p. 960-961)

Além da alusão a Maquiavel e à dissociação entre uma moral de cunho, à época, fortemente
religioso, e o exercício soberano da política pelo Príncipe, podemos pensar em Platão e na sua
elevação da política acima dos planos da moral e do direito. O muito falado rei-filósofo da
República estava, claramente, na sua pretensa sabedoria, acima de qualquer conjunto de leis ou
costumes vigentes na polis ateniense. Esse sentido ideal, quase divino dado por Platão ao exercício
do poder público era, por sua vez, muito distinto do sentido plural, mais atento aos costumes e às
leis vigentes, verificado na democracia ateniense do seu tempo.
Por outro lado, para que haja um bom gerenciamento, é fundamental que haja ética, ou seja, que
a tomada de decisões seja orientada pela busca de objetivos coletivos, social e ambientalmente justos. A
não articulação entre política e ética leva à armadilha maquiavélica, na qual “os fins justificam os meios”.

Não há boa gestão sem ética. A tomada de decisões deve


ser orientada pela busca de objetivos social e
ambientalmente justos.

Desse modo, para uma gestão eticamente orientada, é necessário estabelecer princípios e
valores que se situem fora da esfera da negociação. Em um paradigma democrático, fazer política
com ética significa que nem tudo é negociável. O limite entre o que pode ser negociado e aquilo
que é considerado inegociável deve ser estabelecido por meio de uma análise ética contínua.

11
Ética e religião
Em um contexto societário de proliferação de múltiplas formas de religiosidade e de ateísmo,
e ao mesmo tempo de crescimento da intolerância religiosa, faz-se necessário estabelecer,
claramente, a distinção entre religião e ética. Nesse sentido, observa Tugendhat:

(...) na discussão destas questões, remontamos explícita ou implicitamente


a tradições religiosas. Isso, porém, é ainda possível para nós? A dificuldade
não é a de que as questões que podem ser resolvidas com normas fundadas
na religião envelheceram, mas sim a de que se deve pôr em dúvida a
possibilidade de ainda fundamentar, sobretudo, religiosamente, as normas
morais. Uma tal fundamentação pressupõe que se é crente. Seria, ademais,
intelectualmente desonesto manter-se ligado a respostas religiosas para as
questões morais apenas porque elas permitem soluções simples, pois isto
não corresponderia nem à seriedade das questões, nem à seriedade exigida
pela crença religiosa. (TUGENDHAT, 1997, p. 13, trad. mod.)

Uma fundamentação da boa conduta baseada apenas na religião coloca a dificuldade de se


aplicar somente aos adeptos de determinada religião. Como vivemos em um Estado laico e, ao
mesmo tempo, defensor do respeito integral à liberdade religiosa, é essencial que a reflexão ética
não seja aprisionada aos limites de uma só crença. Pelo contrário, os fundamentos para uma boa
conduta devem ser racionalmente elaborados e passíveis de serem compartilhados por toda a
coletividade, independentemente das crenças religiosas de cada um. Trata-se, enfim, da necessidade
ética de preservar um âmbito de discussão que permita refletir sobre, e mesmo mediar, conflitos
entre morais religiosas diversas.
No ambiente corporativo, os princípios éticos que regem as condutas individuais não podem
depender da fé de cada um, uma vez que, como foi exposto, a ética tem uma pretensão à
universalidade. Isso não significa que os valores religiosos devam ser rejeitados – muitas vezes, os
valores advindos das religiões concordam com aqueles que se pretende fazer vigorar em uma
organização. Desse modo, é tarefa da ética garantir o respeito à diversidade religiosa e, para tanto,
garantir que cada colaborador possa trabalhar em um ambiente laico, em que possa ser avaliado
somente pelo que faz, e não pelo que acredita.

12
Fundamentação da ética: da Grécia à Modernidade

Ética na filosofia da Grécia antiga


A reflexão filosófica ocidental sobre a ética teve início na Grécia antiga, com Sócrates, tendo
sido posteriormente desenvolvida por Platão e Aristóteles. De Sócrates, o principal legado é a defesa
da adoção de uma atitude filosófica perante da vida, ou seja, da capacidade de estranhar o que parece
comum e ordinário. A célebre frase “só sei que nada sei” remete à necessidade de uma postura
constante de crítica e questionamento em relação à realidade e enfatiza a importância do “espanto”
(thauma) diante do que parece comum, do que é aceito sem exame.
A partir da proposta de Sócrates, Platão (428-348 a.C.) se distancia da postura baseada no
questionamento puro e associa o conhecimento da verdade à prática do bem, elaborando uma forma
de intelectualismo ético. Na abordagem platônica, as ações não virtuosas são praticadas somente
pelos ignorantes, porque desconhecem a ideia de bem. Desse modo, o problema ético se torna um
problema de educação. Por meio da razão, um indivíduo pode-se libertar das suas ilusões e crenças,
e alcançar a contemplação do bem, que é absoluto e universal. É do conhecimento puro que
decorrem as ações virtuosas, voltadas para a coletividade. E é somente o conhecimento puro que
legitima o exercício do poder, como demonstra, idealmente, a figura do “rei-filósofo” de A república.

A ideia platônica do “rei-filósofo” soa bastante atual, na medida


em que ecoam, nas sociedades contemporâneas, demandas
por gestores com qualificação e competência para o exercício
das suas funções, afastando práticas consideradas nocivas à
coletividade, como o nepotismo e o clientelismo.

Afastando-se do idealismo de Platão, o seu discípulo Aristóteles se debruça sobre a realidade


humana concreta. Como explicam Macêdo e colaboradores:

Aristóteles (384-322 a.C.), por sua vez, nos apresenta uma distinção
entre saber teorético e saber prático (práxis). O primeiro se refere àquilo
que existe ou acontece independentemente de nós (como a natureza),
enquanto o segundo se aplica àquilo que se refere diretamente às nossas
ações (como a ética). Para o filósofo, a ética não pode ser uma ciência
ideal ou exata, mas sim algo que se aprende com a prática de vida, nos
oferecendo a possibilidade de cultivar uma sabedoria aplicada
(phronesis). Ao longo do curso de aprendizado na vida, é fundamental
que o ato deliberativo seja orientado pela prudência, buscando o meio-
termo, a ponderação, tendo em vista o que é bom para si e para os
outros. Isso significa que, em última análise, nossas ações devem ter

13
como fim último a felicidade (eudaimonia), mas deve-se ressaltar que a
felicidade que se busca é a felicidade da polis, ou seja, o que se busca é
aquilo que contemporaneamente chamamos de bem-estar social
(MACÊDO et al, 2015, p. 20).

Cabe observar o surgimento, na filosofia grega clássica, de valores fundamentais da sociedade


moderna, como a busca pelo bem-estar coletivo, o aprendizado pela experiência e a prudência. O
processo de tomada de decisão em gestão, por exemplo, torna-se eticamente frágil se despojado de
tais valores.

Ética e modernidade
Após um interregno de cerca de mil anos do período medieval – durante o qual prevaleceu
uma moral cristã baseada no Novo Testamento e na exegese da igreja, e coube à filosofia o papel
subalterno de confirmar os dogmas religiosos –, o período do Renascimento, nos séculos XV e
XVI, pode ser caracterizado, do ponto de vista da filosofia, como um retorno do ocidente à
confiança grega na razão. Com a diferença, em relação aos gregos, de que a razão moderna se
comprometeu com a sistematicidade e desenvolveu intenso apreço pelo método, sendo esse quase
um sinônimo do espírito moderno.
O filósofo contemporâneo Jürgen Habermas afirma que a modernidade pode ser
compreendida como um projeto baseado em uma ampla confiança na Razão humana, na
possibilidade de emancipação da humanidade pelo progresso e acesso à verdade. Para tanto, foram
elaborados grandes sistemas especulativos, como um esforço da Razão para sistematizar a
totalidade da realidade ou do mundo.
Desse modo, a humanidade deveria assumir o seu papel na história por meio de um amplo e
contínuo desenvolvimento da racionalidade, como condição para um futuro próspero. Em síntese, a
tarefa do pensamento moderno era conquistar a autonomia e a liberdade crítica que poderiam permitir
novas conquistas, o que criaria condições para a melhoria da vida humana. Segundo Habermas:

Neste quadro se inserem conceitos dinâmicos que no séc. XVIII surgem a


par da expressão “tempos modernos” ou “novos tempos” ou que ganham
então seu novo significado, válido até nossos dias: revolução, progresso,
emancipação, desenvolvimento, crise, espírito da época, etc.
(HABERMAS, 1998, p. 18).

Nesse sentido, nos chamados tempos modernos, articulavam-se uma gama de conceitos
constituintes de um “modo de pensar e agir modernos”. Nesse contexto, o desenvolvimento foi
concebido como um processo essencialmente linear, que envolve a racionalização de todos os setores

14
da vida humana e a fundamentação da ética se dá na esfera do sujeito racional e autônomo. David
Harvey, comentando Habermas, afirma:

Embora o termo “moderno” tenha uma história bem mais antiga, o que
Habermas chama de projeto da modernidade entrou em foco durante o século
XVIII. Esse projeto equivalia a um extraordinário esforço intelectual dos
pensadores iluministas “para desenvolver a ciência objetiva, a moralidade e a
lei universais e a arte autônoma nos termos da própria lógica interna destas”.
A ideia era usar o acúmulo de conhecimento gerado por muitas pessoas
trabalhando livre e criativamente em busca da emancipação humana e do
enriquecimento da vida diária. O domínio científico da natureza prometia
liberdade da escassez, da necessidade e da arbitrariedade das calamidades
naturais. O desenvolvimento de formas racionais de organização social e de
modos racionais de pensamento prometia a libertação das irracionalidades do
mito, da religião, da superstição, liberação do uso arbitrário do poder, bem
como do lado sombrio da nossa própria natureza humana. Somente por meio
de tal projeto poderiam as qualidades universais, eternas e imutáveis de toda a
humanidade ser reveladas (HARVEY, 1992, p. 23).

Portanto, cabe à ciência, no projeto da modernidade, o papel de ser a reveladora de verdades


e leis, potencialmente contribuindo para nortear a vida humana. Além disso, a aplicação da
racionalidade na organização social humana prometia o fim de estados teocráticos, de perseguições
sociais produzidas pela superstição ou pelo preconceito, de abusos de poder por parte dos
governantes, e assim por diante. O advento da racionalidade proporcionaria a edificação de uma
sociedade estável, democrática, igualitária.
No entanto, a despeito do que se projetava, o que parece ter ocorrido foi um avanço da
racionalidade nas esferas das ciências naturais ou exatas. Quanto à aplicação da racionalidade no plano
da organização social humana, o projeto moderno se deparou com dificuldades de maior
complexidade. No campo da ética, a dependência em relação a soluções racionais para os grandes
problemas metafísicos concernentes à definição universal do Bem, da Justiça, da natureza humana e
de questões correlatas, as coisas não se desenvolveram de forma tão harmoniosa, a ponto de Immanuel
Kant (1724-1804) – uma das principais referências para a formulação de uma ética moderna em bases
distintas da tradição grega – diagnosticar nesse campo um “teatro de infindáveis disputas”.

Deontologia Kantiana
Kant buscou contornar o “teatro de infindáveis disputas” que caracteriza a reflexão sobre a
ética na modernidade propondo uma nova forma de fundamentação ética.

15
Embora acompanhasse a distinção aristotélica entre saber teórico e saber prático, concebidas
por ele como Razão pura teórica (Crítica da Razão Pura, 1781) e Razão pura prática
(Fundamentação da Metafísica dos Costumes, 1785 e Crítica da Razão Prática, de 1788), Kant propôs
uma ética que se afastava das concepções gregas de “ação pautada no conhecimento do Bem”
(Platão), “ação virtuosa em conformidade com a natureza racional” ou “ação voltada para a
felicidade coletiva” (Aristóteles).
Para Kant, a ação ética é aquela realizada estritamente por Dever – um dever, em última
análise, de preservar a capacidade de escolha que nos define como homens e nos diferencia dos
animais. Desse modo, o dever é uma lei geral que nos é oferecida pela nossa própria razão, de modo
autônomo, independentemente de qualquer contexto histórico, religioso ou cultural.
A razão prática é a liberdade como instauração de normas e fins éticos. Se a razão prática tem
o poder para criar normas e fins morais, tem também o poder para impô-los a si mesma. Essa
imposição que a razão prática faz a si mesma daquilo que ela própria criou é o dever. Com isso,
longe de ser uma imposição externa feita à nossa vontade e à nossa consciência, o dever é a expressão
da lei moral em nós, manifestação mais alta da humanidade em nós. Obedecê-lo é obedecer a si
mesmo. Por dever, damos a nós mesmos os valores, os fins e as leis de nossa ação moral e, por isso,
somos autônomos (CHAUÍ, 1994, p. 345).
Para Kant, todo homem traz, em si, a capacidade de distinguir o bem do mal, ainda que,
frequentemente, faça mau uso dessa capacidade. Nesse sentido, cabe à filosofia, o papel de fortalecer
essa capacidade racional-moral, que luta, de um lado, com desejos a ela contrários, originados da
sociedade ou da natureza animal presente no homem, desejos que se beneficiam, por outro lado, da
falta de clareza humana em relação ao que seja, em última instância e em termos universais, o Bem,
a Virtude, a Felicidade, a Justiça.
A lei fundamental da razão pura prática, tal como formulada por Kant em Fundamentação da
metafísica dos costumes, é a seguinte: “Age segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo
querer que ela se torne uma lei universal” (KANT, 1984, p. 129).
Trata-se de uma ética formal, já que é estabelecida uma lei geral que atua como parâmetro
para a legitimação de qualquer conduta que se pretenda adequada. Não há regras específicas (aja
desse modo ou daquele) ou conteúdos fixos, mas um princípio geral de orientação, de aplicação
universal. Uma ação ética é, no fim, aquela que pode ser realizada por todos sem contradição formal.
Entre os exemplos que Kant oferece para a aplicação de sua ética, o mais conhecido é o caso
da mentira. Como explicam Macêdo e colaboradores:

Se todos nós mentíssemos, se tivéssemos tal atitude como regra e


princípio de nossas vidas, a própria mentira destruiria a si mesma, pois o
mentiroso só mente – e encontra vantagem nisso – porque a maioria se
orienta pelo princípio da veracidade. Além disso, o mentiroso desrespeita
seu interlocutor, tomando-o como meio para obter seus objetivos
(MACÊDO et al, 2015, p. 22).

16
Nesse sentido, também uma outra formulação do imperativo categórico kantiano pode ser
acionada, na sua relação com a anterior: “age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua
pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente, como fim e nunca
simplesmente como meio” (KANT, 1974, p. 67). Desse modo, depreende-se que tanto o princípio
de universalização da ação quanto o princípio de dignidade da pessoa humana surgem como
critérios para determinar se uma ação é ética.

Explorando um pouco mais os desdobramentos da aplicação do imperativo categórico de Kant,


pode-se imaginar que ninguém, estando obrigado ou inclinado a cumprir a sua palavra à
sociedade para fugir do caos, muito provavelmente imergiria em um excesso legal e burocrático,
com papéis, contratos, advogados e ameaças de punição por toda parte. Isso não soa familiar?

É possível perceber que a intenção de Kant era, sobretudo, a de preservar a liberdade de


escolha. Desse modo, na abordagem kantiana, a sociedade ideal é aquela em que cada indivíduo age
como se fosse ele mesmo responsável pelo direito de todos, uma sociedade com menos necessidade
de normas e coação jurídica. Nessa sociedade, lidaríamos, perpetuamente, com a possibilidade de
agir de forma imoral, mas não o faríamos por questões de consciência moral.

A partir da ética de Kant, é possível pensar questões recorrentes do ambiente corporativo.


Empresas que não investem na autonomia dos seus funcionários têm de trabalhar com
padrões de coação muito rígidos no sentido de garantir a ordem interna, tais como
mecanismos de controle do tempo de trabalho e da produtividade individuais. Tais mecanismos
geram desconforto entre os colaboradores, transmitindo-lhes a mensagem de que a empresa
os considera pouco dignos de confiança. Além disso, há uma perda em flexibilidade e um
engessamento do trabalho em equipe. Por outro lado, é necessário desenvolver um esforço
contínuo e duradouro em prol do esclarecimento ético, que faça com que a desejável
autonomia não se transforme em exercício imprudente da liberdade.

Kant diferencia a ação praticada em conformidade com o dever, a ação praticada propriamente por
dever e a ação praticada contrariamente ao dever. Macêdo e colaboradores explicam:

O agir por dever se aplica àqueles que agem estritamente por obediência
ao princípio ético descrito; o segundo modo se refere àqueles que agem de
acordo com o dever, mas apenas por conveniência ou porque os resultados
mostram-se oportunamente favoráveis; e o terceiro modo é aquele em que
os indivíduos agem de modo estritamente egoísta, segundo seus interesses,
em prejuízo da humanidade. Isso significa que atos como mentir, roubar,
descriminar pessoalmente ou culturalmente, flexibilizar regras, modificar

17
formas de negociação por interesses de ocasião e outros – que não estão de
acordo com o imperativo categórico – são eticamente reprováveis em
qualquer contexto (MACÊDO et al, 2015, p. 23).

Por fim, Kant é autor de uma das mais importantes considerações éticas acerca do uso positivo
do livre-arbítrio, tendo em vista a perspectiva do esclarecimento (Aufklärung), conhecida como “uso
público e uso privado da razão” (KANT, 1974).
Para Kant, todo cidadão tem não somente o direito como também o dever de fazer “uso
público” da sua razão, ou seja, tem o compromisso social e humanitário de refletir, criticamente,
sobre a sociedade em que vive, trazendo sugestões e propostas sempre que necessário, visando ao
aperfeiçoamento da organização da qual faz parte. No entanto, nesse mesmo sentido, deve saber
distinguir esse uso público de um uso privado. Na medida em que exerça um cargo ou função a ele
confiado, o cidadão deve restringir o uso da sua liberdade e saber respeitar as diretrizes e normas
previamente estabelecidas, ao mesmo tempo em que deve realizar constante reflexão sobre tais
diretrizes e normas, tornando pública essa reflexão sempre que julgar contribuir a reformulação dos
procedimentos que julgue eticamente inadequados.

Utilitarismo inglês
Outro importante grupo de teorias éticas, sobretudo em função da sua ampla influência no
mundo corporativo contemporâneo, é o utilitarismo. Elaborado por Jeremy Bentham (1748-1832)
e John Stuart Mill (1806-1873), o utilitarismo tem, no princípio da utilidade, o critério de avaliação
dos atos humanos. De acordo com Bentham (1979, p. 4), “o princípio aprova ou desaprova
qualquer ação, segundo a tendência que tem de aumentar ou diminuir a felicidade da pessoa cujo
interesse está em jogo”, com base no pressuposto de que a felicidade individual está diretamente
relacionada ao bem-estar coletivo. Nas palavras de Mill, o utilitarismo:

Considera que uma ação é correta na medida em que tende a promover a


felicidade, e errada quando tende a gerar o oposto da felicidade. Por
felicidade entende-se o prazer e a ausência de dor; por infelicidade, dor, ou
privação do prazer. [...] O fim último, com referência ao qual todas as
coisas são desejáveis (seja quando consideramos o nosso próprio bem ou o
de outras pessoas), traduz-se em uma existência livre, o tanto quanto
possível, de dor e o mais rica possível em prazeres, tanto em relação à
quantidade como à qualidade (MILL, 2000, p. 187).

Desse modo, em uma abordagem utilitarista, a ação dotada de “maior valor ético” é aquela
que maximiza a felicidade e minimiza o sofrimento, ou seja, a ação que beneficia ao máximo o
maior número de pessoas. Desse modo, “útil” é o que contribui para o bem-estar da coletividade.

18
Trata-se de um critério consequencialista, que recorre a uma análise dos resultados prováveis de cada
ação tendo em vista certa definição de felicidade ligada ao bem comum.
Nesse sentido, a ética utilitarista se diferencia da deontologia kantiana, já que a utilidade de
cada ação é avaliada dentro do seu contexto, não havendo diretrizes a priori, como no caso do
imperativo categórico de Kant. Por outro lado, tanto o utilitarismo inglês quanto a deontologia
kantiana têm, como pressuposta, a capacidade humana de analisar, racionalmente, as consequências
de cada decisão. Desse modo, ambas as abordagens se situam dentro do paradigma moderno, que
enaltece a razão como característica distintiva da espécie humana em relação aos animais.

Modelos de gestão ética


A deontologia kantiana e o utilitarismo inglês dão origem a dois modelos de gestão ética
diferentes. Srour (2003) compara esses modelos com base na distinção estabelecida pelo sociólogo
Max Weber entre ética da convicção e ética da responsabilidade. Nas palavras de Weber:

[...] toda atividade orientada pela ética pode subordinar-se a duas máximas
totalmente diferentes e irredutivelmente opostas. Ela pode orientar-se pela
ética da responsabilidade ou pela ética da convicção. Isso não quer dizer que
a ética da convicção seja idêntica à ausência de responsabilidade e a ética da
responsabilidade à ausência de convicção. Não se trata evidentemente disso.
Todavia, há uma oposição abissal entre a atitude de quem age segundo as
máximas da ética da convicção [...] e a atitude de quem age segundo a ética
da responsabilidade, que diz: “Devemos responder pelas consequências
previsíveis de nossos atos” (WEBER, 1959, p. 152).

Desse modo, em A política como vocação, Weber define a ética da convicção como
principialista, ou seja, baseada em princípios essenciais, estabelecidos a priori, sejam eles conceitos
metafísicos, o imperativo categórico de Kant ou o paradigma dos direitos humanos. São princípios
e regras estabelecidos de forma absoluta e incondicional. Na ética da responsabilidade, ao contrário,
a melhor atitude deve ser escolhida levando em conta o contexto de cada ação e os seus prováveis
resultados, de modo a promover a maximização do bem-estar coletivo. Trata-se de uma ética
consequencialista, que enfatiza que devemos planejar nossos atos e responder pelas suas
consequências. Na leitura de Srour:

Em vez de aplicar ordenamentos previamente estabelecidos, os agentes


realizam análises situacionais: avaliam os efeitos previsíveis que uma
ação produz; planejam obter resultados positivos para a coletividade
(SROUR, 2003, p. 110).

19
No ambiente organizacional, cada um desses modelos oferece vantagens e desafios, que devem
analisados pelos gestores.
A ética da convicção oferece maior garantia quanto ao respeito, por parte das organizações, a
valores fundamentais para o bem-estar coletivo, como os direitos humanos e a justiça
socioambiental. Além disso, esse modelo de gestão ética também pode contribuir para a
manutenção da ordem e do andamento dos processos, bem como do respeito à hierarquia, por meio
do estabelecimento de critérios para padronizar condutas. Ademais, abre espaço para a otimização
de procedimentos, por meio do exercício da razão pública, incentivando uma postura crítica e
propositiva de cada um dos colaboradores. Por outro lado, esse modelo apresenta pouca
flexibilidade para lidar com situações extraordinárias e exceções, já que toma os valores éticos como
princípios essenciais que não se dobram a contextos específicos ou demandas circunstanciais.
Por sua vez, o modelo baseado na ética da responsabilidade oferece maior flexibilidade e um
maior potencial de análise do contexto, apontando para a escolha, em cada caso, da melhor atitude
a ser tomada de modo a considerar os interesses de todos os envolvidos e de toda a sociedade. São
valorizadas a flexibilidade, a agilidade e a otimização dos resultados. Por outro lado, há maior risco
de perda de princípios éticos e de credibilidade, uma vez que decisões podem ser tomadas de modo
precipitado e sem considerar todos os aspectos envolvidos em um contexto mais amplo. Por
exemplo, nas situações em que os interesses de uma corporação podem ser considerados, em alguma
medida, contrários ao bem-estar coletivo – como no caso de barganhas quanto à compensação a
populações atingidas por desastres industriais –, o modelo utilitarista parece fraco na garantia de
direitos fundamentais para a boa convivência em sociedade.
No ambiente corporativo em geral, o mais frequente é que haja uma composição desses dois
modelos de gestão ética. No entanto, cabe ressaltar que não é possível misturá-los, pois são baseados
em critérios antagônicos. Desse modo, faz-se necessária a análise de ambos os modelos e a decisão
por aplicar um deles, de acordo com o perfil da organização ou de seus setores específicos, evitando
a oscilação irrefletida entre um modelo e outro.
Determinadas áreas, que dependem de grande rigor normativo e fidelidade a princípios –
como segurança do trabalho, controle de qualidade de produtos ou serviço, contabilidade fiscal,
etc. – devem ser submetidas à ética da convicção. De acordo com o perfil da empresa, e com a devida
cautela, o modelo da ética da responsabilidade pode ser aplicado a setores como marketing, gestão de
pessoas, estratégia, e assim por diante.
As características e as vantagens e desvantagens de cada um dos modelos de gestão ética se
encontram sistematizadas no Quadro 1, a seguir:

20
Quadro 1 – Ética da convicção e ética da responsabilidade

ética da convicção ética da responsabilidade

deontologia kantiana utilitarismo inglês

obediência autônoma a princípios éticos e análise de circunstâncias, riscos, custos e


ideais morais benefícios sociais

Decidir é: Decidir é:
a) seguir normas baseadas em princípios a) elaborar previsões a respeito do resultado
éticos estabelecidos e das ações e
b) pensar sobre as normas e propor b) responder pelas consequências profissionais
criticamente. e sociais de cada ação.

Vantagens: Vantagens:
 garantia de respeito a valores
 adaptabilidade a contextos específicos;
fundamentais;
 controle, segurança, manutenção do
 agilidade, flexibilidade, foco nos resultados e
processo e da hierarquia, e
 autonomia dos colaboradores para refletir
 maior calculabilidade dos riscos.
e tomar decisões eticamente embasadas.

Desvantagens: Desvantagens:
 dificuldade de lidar com exceções e
 perda de princípios éticos e de credibilidade, e
emergências, e
 tendência a proliferação de mecanismos
de controle do tempo e do desempenho,  tendência a perda de controle e imprudência.
gerando desconforto entre colaboradores.

Fonte: adaptado de Macêdo et al (2015).

Pós-modernidade, ética e organizações


Desafios éticos na pós-modernidade
As expectativas de justiça e prosperidade universal que marcaram o período do renascimento
e o início da modernidade foram, gradativamente, dando lugar a uma série de temores e
desconfianças, boa parte delas ligadas aos poderes que o homem disponibilizou, para si mesmo,
com o progresso da ciência.
A partir de meados do século XX, em contraponto a um exagerado otimismo que,
incialmente, marcou o projeto da modernidade, disseminou-se, amplamente, uma sensação de

21
descrença. O tempo passou e os resultados esperados não foram obtidos, pois as perspectivas de
progresso e prosperidade universais não se verificaram. O modelo do conhecimento científico
moderno e a sua legitimidade passaram a ser postos em questão. A expectativa de que a
fundamentação do conhecimento e da ética modernos contribuíssem para a construção de uma
sociedade justa, democrática e solidária foi interrompida por eventos que marcaram,
profundamente, a cultura ocidental contemporânea. O principal deles foi a catástrofe da Segunda
Guerra Mundial e a insuportável lembrança de acontecimentos como a fábrica de cadáveres de
Auschwitz, promovida pela Alemanha nazista, e os holocaustos instantâneos de Hiroshima e
Nagasaki, capitaneados pelos Estados Unidos da América.

No final da década de 1930, um administrador era responsável pelo seguinte procedimento:


identificação de certos “produtos”, armazenamento e distribuição para um destino final. Era
fundamental garantir que tais “produtos” chegassem ao seu destino no menor tempo possível,
com o menor custo, maximizando resultados. Diante desse cenário, muitas soluções foram
encontradas para otimizar a eficiência do processo.

Esse gestor se chamava Adolf Eichmann e era responsável pela operação dos trens que, na
Alemanha nazista, conduziam judeus e minorias indesejadas aos campos de concentração e de
extermínio. Ele foi capturado na América do Sul depois da guerra e, em um incidente
internacional, levado a Jerusalém para julgamento. A pensadora Hannah Arendt, comissionada
pela revista New Yorker para cobrir o julgamento, registrou-o no livro Eichmann em Jerusalém.
Declarou-se espantada diante do fato de que Eichmann alegava inocência; afirmava não ter
feito nada de ilegal, pois apenas obedecia ordens e as cumpria da forma mais eficiente possível;
apenas desejava progredir como oficial. Indagado sobre o seu conhecimento do destino dos
passageiros, repetia: “Minha função era apenas transportá-los; o que acontecia depois não era
assunto de minha responsabilidade (...)”.

Depois da segunda Guerra Mundial, tornou-se cada vez mais evidente, a partir de exemplos
como o caso de Eichmann, que o fato de se ter conhecimento técnico, gerencial, administrativo,
não garante, de modo algum, que se aja com ética em prol do bem comum – o que,
necessariamente, faz retomar a importância da ética na contemporaneidade.

Acontecimentos funestos como esses impulsionaram reposicionamentos com relação ao


projeto civilizacional moderno. A crise da modernidade trouxe, no seu bojo, o questionamento de
conceitos fundamentais essenciais do pensamento moderno, tais como verdade, razão,
universalidade, progresso, entre outros, o que levou muitos filósofos e sociólogos a conceber os
tempos atuais como “pós-modernidade”. Para o sociólogo Bauman, a pós-modernidade:

não é mais (nem menos) que a mente moderna a examinar-se longa, atenta e
sobriamente, a examinar sua condição e suas obras passadas, sem gostar muito
do que vê e percebendo a necessidade de mudança. A pós-modernidade é a

22
modernidade que atinge a maioridade, a modernidade olhando-se à distância
e não de dentro, fazendo um inventário completo de ganhos e perdas,
psicanalizando-se, descobrindo as intenções que jamais explicitara,
descobrindo que elas são mutuamente incongruentes e se cancelam. A pós-
modernidade é a modernidade chegando a um acordo com a sua própria
impossibilidade, uma modernidade que se automonitora, que
conscientemente descarta o que outrora fazia inconscientemente (BAUMAN,
1999, p. 288).

Outro sociólogo, Giddens (1991, pp. 56-57), prefere a noção de “modernidade tardia” ou
“modernidade radicalizada”, já que não percebe a transição corrente na contemporaneidade como
uma mudança epistemológica ou uma decomposição da epistemologia e da ética, mas sim como
transformações possíveis para além das instituições da modernidade (GIDDENS, 1991, p. 163). Já
Habermas prefere pensar a modernidade como um “projeto inacabado”, sugerindo que deveríamos
“aprender com os desacertos que acompanham o projeto” (HABERMAS, 1992, p. 118).
Perguntas contundentes, que outrora pareceram soluções, caminhos que se entrecruzam,
misturam-se ou desaparecem, respostas em suspensão, desorientação, ansiedade, enfim, a percepção
de toda essa pressão revela um pouco do modo como experimentamos o advento da crise da
modernidade e, com ela, do niilismo. Em termos sociais, o niilismo é a vivência angustiante da perda
de sentido da vida humana, acompanhada de incerteza a respeito dos caminhos a serem seguidos.
Com relação à ética, especificamente, as questões colocadas pelo niilismo podem ser
relacionadas com a radical dificuldade em fundamentar valores, ou qualquer tipo de diretrizes éticas,
em um contexto de profundo relativismo moral e esvaziamento normativo.
No ambiente organizacional, essa dificuldade se revela no desafio de estabelecer princípios
éticos para profissionais que se sentem descrentes em relação a quaisquer valores morais e movidos
apenas por interesses materiais ou individuais. Um dos desafios éticos que se colocam para os
gestores na sociedade contemporânea se refere à relação entre informação e conhecimento. Trata-
se de uma sociedade altamente tecnológica, caracterizada pela dinamização dos processos de
comunicação e informação – uma espécie de sociedade da informação, em alguma medida
dominada pela necessidade de acolher e replicar informação. Nesse cenário, cabe a todos nós, mas
ainda mais fortemente aos gestores, o desfio de construir a capacidade de analisar, criticamente, o
turbilhão de informações recebidas, avaliando a sua veracidade, pertinência e atualidade, em vez de
replicá-las automaticamente. Ou seja, é tarefa ética de cada gestor pensar, criticamente, sobre cada
informação que recebe, transformando-a em conhecimento – um saber fundamentado e justificado.

Cabe ao gestor pensar criticamente sobre cada informação


recebida, transformando-a em conhecimento.

23
Se nos abstemos de cumprir essa tarefa ética, instala-se a dúvida e a desconfiança de estarmos
sendo influenciados por interesses os mais diversos. Para lidar com esses desafios, é importante
aprofundar a compreensão sobre as relações de poder nas quais estamos inseridos, bem como o
papel ético exigido do líder.

Ética e poder nas organizações: o papel do líder


A reflexão dobre o papel de um líder nas organizações contemporâneas pode ser bastante
enriquecida pela experiência filosófica da Grécia antiga. A novidade que surgiu naquele período foi
a possibilidade de o exercício do poder ser legitimado pela democracia, pela a vontade do povo, em
lugar de ser legitimado de forma apenas militar ou religiosa. Em vez de um líder imposto, pela força
ou pelo credo, o líder poderia ser eleito pela maioria dos cidadãos.
No entanto, o modelo democrático também apresentava dificuldades próprias. Em meio ao
amplo debate público, surgiram os sofistas – grandes mestres da retórica e da oratória que convenciam
o povo a votar conforme os seus interesses ou os interesses daqueles que os financiavam. Nesse contexto,
Sócrates questiona a premissa de que basta ser bem aceito pela maioria para ser o melhor líder. Na visão
de Sócrates, uma boa liderança precisa ter virtudes práticas e interagir com os seus liderados de modo a
fomentar o seu desenvolvimento – o que é muito mais do que apenas convencê-los.
Desse modo, é possível distinguir quatro modelos de liderança que ocorrem na sociedade
contemporânea: (a) militar, líder que se impõe pela força ou pela ameaça; (b) religioso, líder que se
apresenta como salvador, capaz de resolver todos os problemas; (c) sofista, gestor que argumenta
com a sua equipe em busca de convencê-la das suas próprias ideias; (d) socrático, líder que apresenta
virtudes e estimula o desenvolvimento de seus liderados, as suas habilidades e competências.
É nítida a contribuição do modelo socrático para pensar o papel das lideranças nas organizações
contemporâneas. Primeiramente, a postura sempre aberta à inovação e ao diálogo, apesar de todo o
conhecimento e a experiência acumulados, pode inspirar-se na máxima “só sei que nada sei”. Além
disso, um bom líder pratica a maiêutica, o que significa ser uma espécie de “parteiro de ideias”, sempre
estimulando a ação criativa e o aprimoramento das habilidades de cada um dos colaboradores.
Farah (2004) aponta o papel decisivo das lideranças no sentido de criar, manter ou modificar
a cultura organizacional. Nesse contexto, a construção de um ambiente de trabalho pautado pela
ética depende do exemplo e do legado de líderes éticos.
A adoção de um modelo ético de gestão depende ainda das relações de poder vigentes em
todas as organizações. De acordo com Foucault (1995, p. 245), não há sociedade ou organizações
sem relações de poder. No entanto, por mais que haja sempre relações de poder, persiste a
possibilidade do exercício da liberdade. O desafio da expressão da liberdade é, por excelência, o
desafio ético – ou seja, mesmo em contextos tensos ou complexos, sempre é possível fazer escolhas
eticamente orientadas. Cada atitude do líder também é um exercício de poder que, no mínimo,

24
influencia outros colaboradores. Desse modo, uma das principais características de um líder ético é
a coerência entre as suas palavras e as suas ações.
Grosso (2005) propõe refletir sobre o que denomina “brechas de valores”, situações que
acometem os líderes frequentemente. De acordo com ele, tratam-se de inúmeros equívocos que são
cometidos no cotidiano, na esfera da ética prática, chamada pelo autor de “moral cotidiana”. Segundo
Grosso (2005), há quatro dimensões nas quais o comportamento humano se expressa e que podem
gerar contradições entre o comportamento esperado de uma liderança e as suas efetivas ações. São
elas: (a) o que o líder pensa – os valores solidificados na sua consciência –; (b) o que diz – a forma
como esses valores são transmitidos aos demais de modo a influenciar sua razão –; (c) o que faz –
como os valores do líder são traduzidos em ações –; (d) o que demonstra, por meio da linguagem não
verbal, que pode transcender as ações e alterar o seu significado.
Em outras palavras, ainda que se saiba como agir e o que dizer, também é necessário levar em
conta a forma de expressão, o contexto, a reação do interlocutor, escolhendo a forma e o local
adequados para a comunicação.
Atualmente, um líder precisa justificar as suas ações diante de outros colaboradores, da
empresa e da sociedade como um todo. Para tanto, precisa saber porque faz o que faz. Desse modo,
é essencial conhecer a fundamentação ética das suas escolhas, como foi apresentado nas seções
anteriores. A capacidade de refletir criticamente diante de conflitos e dilemas éticos é condição
básica para o exercício de funções estratégicas. Aqueles que não possuem essa capacidade costumam
permanecer em funções que apenas reproduzem padrões previamente estabelecidos.

Um líder deve conhecer os fundamentos éticos das suas


escolhas.

Desse modo, é possível inferir que os líderes são atores morais, que traduzem, demonstram e
fomentar a cultura ética corporativa, incorporando-a à cultura organizacional.

Ausência de ética e abuso de poder


Quando uma organização carece de líderes éticos, acontecem os abusos de poder, que
serão abordados a seguir.

Abuso de poder
Para Robbins, Judge e Sobral (2010, p. 406), a chave do poder está na dependência. Os
autores formulam o seguinte postulado geral: “Quanto maior a dependência de B em relação a A,
maior o poder de A sobre B”. Se A controla algo que B deseja, B é dependente de A. Ao mesmo
tempo, quanto mais alternativas B possui para substituir o algo desejado, menos B é dependente de

25
A. Se B não possui nenhuma alternativa para substituir o algo desejado, B é totalmente dependente
de A e é passível de sofrer abuso de poder por parte de A.
Para Wagner III e Hollenbeck (2009), o abuso de poder só ocorre quando o exercício do
poder não está orientado para promover o máximo de bem para a maior quantidade de pessoas,
quando a equidade não é praticada e ocorre desrespeito aos direitos e liberdades individuais.

Assédio moral
O assédio moral é uma forma de abuso de poder. No contexto organizacional, pode ser
cometido tanto por líderes quanto por pares, ou ainda por subordinados em relação ao seu superior.
Hirigoyen oferece a seguinte definição de assédio moral:

Toda e qualquer conduta abusiva, manifestando-se, sobretudo, por


comportamentos, palavras, atos, gestos, escritos, que possam trazer dano à
personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma
pessoa, pôr em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho
(HIRIGOYEN, 2001, p. 65).

Fiorelli, Fiorelli e Medalhas Jr (2007, p. 42) apresentam uma definição de assédio moral que
leva em conta a continuidade no tempo do comportamento abusivo. Dessa forma, um descontrole
emocional eventual, que pode ser objeto de um pedido de desculpas, não pode ser classificado como
assédio moral. Os autores destacam alguns aspectos importantes para a identificação desse
fenômeno, conforme apresentado no Quadro 2 a seguir:

Quadro 2 – Características do assédio moral

Comportamento que excede os limites dos


conduta abusiva
valores e das regras de um grupo social.

A prática é materializada por meio de ações de


visibilidade
assediador.

O assediador deve agir com o objetivo de atingir


intenção
a pessoa-alvo.

Elemento importante para afastar a


repetição do comportamento por longo tempo
possiblidade de ofensa isolada.

Fonte: adaptado de MACÊDO et al., 2015.

26
Entre as várias formas possíveis de assédio moral, Hirigoyen (2001) destaca:
 Deformação da linguagem – comunicação com voz neutra, monocórdica, desagradável,
tom de voz que sugere ameaças veladas ou censuras não verbalizadas.
 Recusa à comunicação direta – conflito não explícito, no qual o agressor fere a dignidade
da vítima de forma vaga e sem revelar os motivos. Por exemplo, acusa um colaborador de
incompetência sem apresentar fatos e dados.
 Desqualificação – trata-se de negar as qualidades de uma pessoa, dirigir-lhe palavras
ofensivas ou atribui-lhe algum apelido pejorativo.
 Isolamento e deterioração do ambiente de trabalho – semear a discórdia, insuflando as
pessoas umas contra as outras.
 Afronta à competência – desrespeitar a formação e o talento profissional dos
colaboradores, atribuindo-lhes tarefas irrelevantes, inadequadas à sua qualificação ou,
até mesmo, humilhantes.
 Indução ao erro – levar uma pessoa a cometer uma falha, confundindo-a com informações
irrelevantes ou inadequadas, criando oportunidades ou pretextos para que seja alvo de
críticas ou rebaixamentos.
 Assédio sexual – é uma modalidade de assédio moral que, por conta das suas
especificidades, será melhor detalhada a seguir.

Assédio sexual
Trata-se de “constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual,
prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício
de emprego, cargo ou função”, conforme definido no Brasil pela Lei n. 10.224, do ano de 2001.
Apesar de definido em lei, não há consenso sobre o conjunto de comportamentos que
poderiam ser classificados como assédio sexual. Robbins, Judge e Sobral (2010, p. 410) definem
assédio sexual como “qualquer atividade indesejada de caráter sexual que afeta o emprego da pessoa
e cria um ambiente de trabalho hostil”. Moreira (2002, p. 143), por sua vez, explica que o “assédio
sexual pode se caracterizar, principalmente, por ações, gestos, palavras e atitudes”, e exemplifica:
 enviar ou tornar acessível, à vítima, carta, bilhete, e-mail ou outro meio escrito, contendo
um convite ou insinuação de relacionamento sexual;
 tocar o corpo da vítima de forma não profissional;
 mostrar partes íntimas do próprio corpo para a vítima;
 conduzir, guardar ou mostrar material pornográfico no ambiente de trabalho;
 convites para eventos sociais e encontros íntimos;
 elogios ao corpo da vítima;
 declarações de sentimentos;
 piadas e brincadeiras inapropriadas sobre o sexo oposto, sobre a vítima ou tema de
natureza íntima

27
Moreira (2002) também aponta duas situações que provam a existência de assédio sexual.
Uma delas é a troca de favores entre o assediador e a vítima, quando há tolerância porque a vítima
recebe ou acredita receber algum tipo de vantagem profissional. A outra é uma situação hostil,
quando o assédio não é tolerado e a vítima passa ser submetida a agressões verbais e humilhações
por parte do autor, frequentemente um superior hierárquico. No entanto, convém lembrar, como
aponta Lippman (2005), que o assédio sexual pode partir tanto de um superior quanto de um
colega, de ambos os sexos, e pode ser caracterizado por apenas uma ação, desde que fundamentado
em provas. Conforme explicam Macêdo e colaboradores:

O crucial é que não se trata de uma simples cantada, pois caso a vítima
não ceda, ela será alvo de comportamentos característicos de abuso de
poder. Por exemplo, ameaças de demissão, transferência de local de
trabalho, perda de promoção ou outras oportunidades profissionais,
isolamento do grupo, exclusão de informações importantes para o
trabalho. Daí o assédio sexual malsucedido transformar-se em assédio
moral, pela repetição de comportamentos que ferem a dignidade humana
(MACÊDO et al, 2015, p. 42).

Por ser tipificado como crime no Código de Processo Penal brasileiro mas também por ser
um grave desvio ético, o assédio sexual pode causar sérios danos à reputação da organização, e
ainda levar o assediador e o seu superior imediato a responderem, judicialmente, pelos seus atos
ou pelas suas omissões.
Robbins (2010) relaciona um conjunto de ações que contribuem para que uma organização
se proteja contra os assédios moral e sexual:
 estabelecer, claramente, o significado de assédio moral e de assédio sexual, e informar todos
os trabalhadores;
 comunicar aos empregados que a prática de atos dessa natureza pode resultar em demissão
e processo criminal;
 estabelecer e transmitir, aos empregados, a forma pela qual podem prestar queixa;
 garantir, publicamente, que a pessoa que formaliza uma queixa estará a salvo de retaliações;
 notificar, imediatamente, as áreas jurídica e de recursos humanos, tão logo recebida
uma queixa;
 realizar esforços para que um inquérito disciplinar seja aberto e os responsáveis sejam
devidamente punidos;
 implementar treinamentos para que os empregados compreendam o significado do assédio
sexual, os seus impactos negativos nas pessoas e no ambiente de trabalho, e as suas
consequências disciplinares.

28
Moral, ética e organizações
Moral nas organizações brasileiras
De acordo com determinadas correntes do pensamento social brasileiro, tanto a formação do
Estado brasileiro quanto a moral da sociedade brasileira foram construídos com base nos valores do
patrimonialismo ibero-americano. De acordo com Raymundo Faoro (1977), pode-se apresentar,
sinteticamente, as características da moral patrimonialista brasileira assim:
 Autoritarismo dos dirigentes, percebidos como os “donos do poder”, em um tipo de
relações hierárquicas nas quais há uma grande distância entre aqueles que mandam e
aqueles que obedecem.
 Políticas públicas, em vez de serem elaboradas e implementadas com vistas à promoção do
bem-estar coletivo, tornam-se um negócio. Trata-se de controlar a sociedade em prol da
manutenção do poder e da garantia de vantagens privadas, em lugar de buscar a melhoria
de resultados sistêmicos em benefício da coletividade.
 Práticas de nepotismo e clientelismo são cotidianas entre os chefes, pois a solidariedade
social só ocorre entre os detentores do poder.
 Premissa de que o sucesso da organização depende apenas dos seus dirigentes, enquanto
os dirigidos devem ser rigorosamente vigiados e controlados.
 Os dissidentes são excluídos por meio da prática do clientelismo (troca de apoio por
proteção) e cooptação (atrair pessoas para as suas metas).
 Com vistas a garantir parcela do poder organizacional para interesses de particulares,
são criadas corporações: uniões de pessoas com alta interdependência e baixa
consciência de objetivos coletivos.
 A importância de um indivíduo varia segundo o grau de relacionamento que desenvolve
com os dirigentes.
 A aplicação de regras segue interesses particulares e corporativos dos dirigentes.
 A liderança é exercida com base na cooptação, no clientelismo, no nepotismo e no
banimento dos “inimigos” da empresa.
 A moral do jeitinho implica a prática de corrupção em todos os níveis do empreendimento.

Com base nessa abordagem, a moral patrimonialista da sociedade brasileira comporta, por
um lado, a moral da integridade e, por outro, a moral do oportunismo. Na leitura de Srour (2008,
p. 92), a moral da integridade é o “sistema de normas morais que corresponde ao imaginário oficial
brasileiro e que configura o comportamento decente e virtuoso”. Trata-se da moral ensinada em
escolas e igrejas, embutida nos códigos legais e orientadora da mídia mais responsável. Apologética
da virtude e da inteireza, enumera as qualidades que moldam as pessoas de bem.
Em contraponto, a assim chamada moral do oportunismo corresponde ao imaginário oficioso
brasileiro e apresenta em conjunto de traços, tais como: uma pessoa tem de ser “esperta”; o

29
“jeitinho” é uma prática válida para garantir interesses de particulares, colocados acima dos
interesses coletivos; as práticas são dissimuladas e informais, desfrutando da cumplicidade dos mais
íntimos; não vigoram escrúpulos quando se trata de garantir vantagens ou saciar caprichos; práticas
como suborno, engodo e calote são aceitáveis.
No ambiente organizacional, ocorre duplicidade moral semelhante àquela que ocorre na
sociedade brasileira. À moral da integridade e à moral do oportunismo que ocorrem em nível
societário, correspondem a moral da parceria e a moral da parcialidade no interior das organizações.
A moral da parceria é o referencial a ser perseguido, deve orientar o desenvolvimento das práticas
morais nas organizações. As características desses dois tipos de moral organizacional são sintetizadas
no quadro a seguir, adaptadas de Srour (2008, pp. 106-120):

Quadro 3 – Moral da parcialidade versus moral da parceria

moral da parcialidade

Lealdade para os "de dentro" e esperteza para os "de fora".

Suposição de que "um pouco" de desonestidade "faz as coisas acontecerem".

Suborno como um lubrificante do mundo dos negócios.

Políticos generalizados e rotulados como "inúteis que desconhecem os riscos", "parasitas que
nunca colocaram a mão na massa" ou pessoas que "não entendem de negócios".

Suspeita-se de irregularidades nos negócios alheios, mas elas são legitimadas no próprio negócio.

Crença de que todos têm um preço.

Crença de que não se sobrevive sem sonegar impostos.

moral da parceria

Interesses de médio e longo prazo – sustentabilidade. Identifica impactos de decisões da


organização sobre os seus públicos de interesse.

Negócios como acordos que beneficiam todas as partes, tidas como parceiras.

Relações de cooperação e de confiança mútua.

Rejeição de fraudes, "jeitinho" e corrupção.

Adoção de procedimentos adequados para certificação de produtos, serviços e profissionais;


obtenção de selos de qualidade e conservação do meio ambiente.

Valorização da diversidade na gestão de pessoas e formação contínua dos colaboradores.

Parcerias com concorrentes para desenvolvimento de tecnologias.

Fonte: adaptado de MACÊDO et al, 2015.

30
Código de conduta
A necessidade de delimitar a esfera de ação e orientar as formas de atuação dos seus
colaboradores tem levado as organizações da sociedade brasileira contemporânea a reunir
documentos sobre a sua ética interna sob a forma de um código. No meio empresarial, é possível
identificar alguns tipos de códigos morais: código moral, código de conduta, código de ética e
código de conduta ética.
O código moral de uma coletividade pode ter, por origem, a religião ou os valores individuais
da liderança. Nesse caso, é obrigatória a adesão de todos para que façam parte da coletividade, de
modo que diferenças individuais não são respeitadas. Desse modo, entende-se não se tratar de uma
titulação adequada para as organizações.
Já o código de conduta se baseia nas experiências vividas por um grupo social ao longo do
tempo. Contém regras que resolvem problemas morais no curto prazo, mas pode apresentar
desdobramentos negativos a longo prazo. Nada garante que tal código tenha passado pelo crivo da
análise ética. Nesse caso, práticas como a sonegação de impostos regular ao longo dos anos podem
resultar em problemas com fiscalização e dívidas no futuro. Desse modo, tal titulação tampouco é
recomendável para o mundo dos negócios.
No caso do código de ética, é possível dispor de regras éticas orientadoras para o
comportamento: honestidade, igualdade, justiça, etc. No entanto, esse modelo ainda não dá conta
de especificidades axiológicas e comportamentais de diferentes grupos, o que pode se constituir em
dificuldades na medida em que não são consideradas as demanda da ambiência no estabelecimento
dos valores de uma coletividade. Trata-se de uma titulação inadequada para organizações.
Finalmente, o título código de conduta ética constitui um código de conduta que é fruto de
numa reflexão ética, estabelecendo regras a partir de princípios eticamente fundamentados e em
diálogo com as demandas do contexto específico. Nesse caso, a prática de qualquer comportamento
indicado no código vai gerar o bem para a coletividade nos horizontes de curto, médio e longo
prazos. Como explicam Macêdo e colaboradores:

Um aspecto essencial a destacar é que a reflexão tem como referência os


valores éticos universais e as condutas consolidadas historicamente pela
coletividade. Então, as regras estabelecidas como éticas são elaboradas
considerando as condutas específicas daquela comunidade, o respeito pelas
diferenças pessoais e a adesão livre. Portanto, entendemos que a
denominação “código de conduta ética” seja a mais adequada para as
organizações (MACÊDO et al, 2015, p. 45).

Atualmente, os códigos de ética dizem respeito também às ações em relação aos stakeholders,
ou seja, Estado, acionistas, clientes, colaboradores, parceiros, fornecedores, concorrentes e a

31
sociedade de uma maneira geral. Nesse contexto, o código de conduta ética estabelece regras
permanentes para orientar o comportamento de indivíduos e grupos, com atuação frequente em
locais geograficamente distantes. Por meio do código, é possível alinhar condutas para orientar e
manter a implantação de estratégias organizacionais. Acrescenta-se que o comprometimento das
pessoas com os objetivos da organização é uma exigência ética.
Para tanto, faz-se necessária a implantação de um comitê de ética. Esse é o tema que será
tratado a seguir.

Comitê de ética
Trata-se de um comitê constituído por pessoas de conduta ilibada, indicadas pela diretoria
da empresa e eleitas ou legitimadas pelos funcionários. Cabe ao comitê, entre outras atribuições,
julgar e propor punições para pessoas que tenham transgredido as regras estabelecidas pela
organização. Nesses casos, aplica-se o exposto por Macêdo e colaboradores:

A pessoa em julgamento deve ter amplo direito a defesa e a análise do fato


deve ser realizada em função de provas concretas e critérios claros. A punição
deve assumir um caráter educativo, servindo de exemplo para todos os
empregados. Vale considerar que o foco da atuação do comitê de ética deve
ser na educação para a ética e no reconhecimento às pessoas que apresentam
comportamento ético exemplar (MACÊDO et al, 2015, p. 47).

Outra atribuição do comitê de ética é identificar fatores que levam à ocorrência de condutas
antiéticas, fomentando ações corretivas que conduzam à sua eliminação. Um dos possíveis
instrumentos para a identificação de casos de desvio de conduta é a realização de auditorias.
A partir das reflexões sobre ética e a sua aplicação no ambiente organizacional apresentadas neste
módulo, cabe investigar as problemáticas da sustentabilidade e da responsabilidade social, para melhor
compreender as transformações e os novos desafios postos às organizações na contemporaneidade.

32
MÓDULO II – RESPONSABILIDADE SOCIAL
E GOVERNANÇA

As questões relativas à ética que acabaram de ser levantadas podem parecer, sobretudo antes
de aplicadas a casos concretos, pouco empresariais. No entanto, não é difícil notar que elas estão na
base dos atuais discursos éticos, cada vez mais disseminados, baseados nas noções de
responsabilidade social e ambiental.
Este módulo apresenta, na sua primeira unidade, os fundamentos da responsabilidade social,
partindo de uma consciência individual até a consciência corporativa. As organizações sociais são
tomadas como impulsionadoras da redução de desigualdades, do abuso econômico e do uso
predatório dos recursos naturais. Em seguida, expõem-se ferramentas, modelos e práticas para a
prestação de contas social e são apresentadas algumas regulamentações que a orientam. Por fim,
discute-se como o esforço das corporações em assumir a sua responsabilidade perante a sociedade
se materializa na incorporação dos ditames da responsabilidade social à governança, destacando a
gestão da reputação como ação de acompanhamento da conduta ética empresarial. O módulo
termina com um alerta para a influência do nível de desenvolvimento moral da organização sobre
o seu efetivo engajamento em programas e projetos sociais.

Responsabilidade social e cidadania


Fundamentos da responsabilidade social empresarial
Nos séculos XX-XXI, o mundo se tornou mais populoso, mais interligado por redes de
comunicação e transporte, com o aumento dos fluxos de capitais, informações, mercadorias e
pessoas e forte dependência em relação à ciência e à tecnologia.
Como consequência, cada um de nós experimenta hoje, para o bem e para o mal, o resultado
da soma das ações e decisões de todos os outros. Uma das expressões concretas mais importantes
desse poderio tecnológico é, sem dúvida, a mídia, que gerou, com os desenvolvimentos digitais da
tecnologia, o seu fruto mais recente e impressionante: a Internet. Outros efeitos inegáveis dessas
transformações societárias se materializam no crescimento, em níveis inéditos, da destruição
ambiental e da desigualdade social.
Nesse contexto, as organizações se defrontam com a necessidade de assumir o seu papel junto
aos seus parceiros internos, à comunidade externa e ao meio ambiente, de modo a atuar em prol do
equilíbrio social e ambiental. Ao mesmo tempo, a emissão de certificações e reconhecimentos, por
parte de entidades egressas da sociedade organizada, acirra a competição entre empresas por
posicionamentos que melhorem a sua imagem e reputação.
Os esforços das organizações para fazer face ao seu papel na sociedade e para a obtenção de
certificações se concretizam sob a forma de programas, projetos e ações socialmente responsáveis.
Um marco importante para o pensamento sobre a responsabilidade social empresarial é o ano
de 1899, com a publicação do livro O Evangelho da Riqueza, pelo empresário Andrew Carnegie
(1835-1919), como destacam os autores Stoner e Freeman (1999). Nesse livro, são apresentados
dois parâmetros para a responsabilidade social das grandes empresas: o princípio da caridade e o
princípio da custódia. Macêdo e colaboradores explicam:

Segundo o princípio da caridade, os ricos da sociedade deveriam ajudar os


menos afortunados, a exemplo dos inválidos, dos desempregados, dos
doentes e dos velhos. Já o princípio da custódia sugeria que as empresas e
os ricos desempenhassem o papel de zeladores das fortunas e, assim,
deveriam guardar seu dinheiro, e o dos fundos destinados à caridade, em
confiança, para o restante da sociedade, podendo usar os recursos
provenientes dos fundos caritativos para os fins que a sociedade
considerasse legítimos. Desse modo, realizavam cautelosamente os
investimentos, multiplicando a riqueza da sociedade e a sua própria. Esses
princípios se estenderam na sociedade americana até a década de 1960
(MACÊDO et al, 2015, p. 49).

Outro marco importante dessas ideias data de 1919, quando ocorreu o julgamento do
confronto entre acionistas minoritários e Henry Ford – presidente e acionista majoritário da Ford
Corporation – recuperado por Ashley e colaboradores (2005). O objeto da disputa foi a decisão
tomada por Henry Ford, no ano de 1916, de deixar de distribuir parte dos dividendos para investir
em capacidade de produção, aumento de salários e criação de um fundo de reserva com vistas a
suportar possíveis quedas de receita, em um cenário de tendência de redução no preço dos
automóveis. Tratava-se de uma ação clara de responsabilidade social, com foco no público interno

34
da empresa. No entanto, a Suprema Corte de Michigan foi favorável aos acionistas minoritários, os
Dodges, sob a justificativa de que a corporação existia para o benefício dos seus acionistas, e de que
a prática de filantropia corporativa e investimento em imagem e reputação poderiam ser realizados,
desde que contribuíssem para os lucros dos acionistas.
O primeiro livro com a expressão “responsabilidade social” no título foi publicado em 1953,
por Bowen, e traduzido no Brasil em 1957. Como destacam Wartick e Cochram (1975), o livro
destaca o dever moral, por parte dos administradores de empresas, de implementar políticas, seguir
cursos de ação e tomar decisões que estejam de acordo com os objetivos e valores da sociedade na
qual essas organizações se inserem. Embora o termo stakeholders ainda não tivesse sido apropriado
pelo vocabulário da gestão empresarial, Bowen (1957) defende que os responsáveis por uma
empresa atuem como curadores não só dos acionistas mas também de fornecedores, colaboradores,
consumidores, comunidade vizinha e da sociedade em geral.
Além disso, esse autor ainda salientava a importância do cuidado com as condições de
trabalho, não apenas materiais mas também psicológicas, atentando para o ruído, a higiene, a
segurança, o ritmo de trabalho e a quantidade de horas trabalhadas por cada indivíduo. Finalmente,
recomenda também a oferta de oportunidades de progresso aos colaboradores dentro da
organização, a sua participação no empreendimento, o estímulo à criatividade, ao bom
relacionamento entre colegas e administradores e o respeito à dignidade humana.
Na recomendação de Bowen (1957) quanto à realização de alguma forma de contas sociais,
podem ser encontradas raízes dos balanços sociais e relatório de responsabilidade social elaborados
por empresas contemporâneas:

assim como as empresas sujeitam suas contas a exame por firmas


independentes de contabilidade, poderiam igualmente sujeitar-se a exame
periódico por peritos independentes, estranhos a elas, que avaliassem a
atuação da empresa sob o ponto de vista social (BOWEN, 1957, p. 185).

No entanto, o posicionamento de Bowen a respeito da responsabilidade social das empresas


suscitava discordâncias. Em 1970, Friedman preconizava que a atuação das empresas deveria ser no
sentido de atender ao interesse dos seus acionistas, chamados de shareholders, gerando lucros.
Por outro lado, as corporações vêm-se defrontando, cada vez mais, com críticas e pressões
para elevar os seus níveis de responsabilidade social. Entre os estudos pioneiros sobre esse tema,
destaca-se o recorte analítico de Carrol (1979), que divide a responsabilidade social em quatro
categorias: a) responsabilidade legal, referente ao contrato estabelecido entre a empresa e a
sociedade; b) responsabilidade econômica, de produzir bens e serviços que movimentem a
economia; c) responsabilidade ética, que consiste na obrigação de realizar boas práticas, com
respeito e justiça nos negócios efetivados, e d) responsabilidade voluntária, ou discricional, na esfera
da generosidade e da filantropia.

35
Independentemente dessa categorização e do porte ou localização das organizações, elas são
entidades sociais. Enquanto tais, devem somar um capital social ao seu capital financeiro. Trata-
se de basear os seus relacionamentos com outros agentes em um conjunto de normas e valores
éticos, sociais e políticos.
A ideia da responsabilidade social começou a tomar forma mais concreta sob a forma de ações
com a surgimento do terceiro setor, a partir da segunda metade do século XX, nos Estados Unidos
da América. O terceiro setor é constituído por organizações sem fins lucrativos, como organizações
não governamentais (ONG), organizações da sociedade civil sem fins lucrativos (OSCIP),
institutos, fundações, etc. Surgiu como um contraponto ou uma espécie de mistura entre os dois
setores clássicos da economia – o setor privado, tipicamente formado por empresas, e o setor
público, representado pelo Estado.
Expandindo o conceito de responsabilidade social, Freeman e Gilbert Júnior (1988) pensam
em termos de responsividade social, como que um ponto de partida da responsabilidade social rumo
à estratégia empresarial, entendendo responsividade como a capacidade de uma organização de dar
respostas aos anseios dos stakeholders. Freeman (2004) destaca a necessidade de identificação e
priorização de stakeholders-chave, de modo a promover o balanceamento sistemático das suas
necessidades. Desse modo, torna-se possível integrar as expectativas e os valores prezados por esses
públicos à estratégia da empresa, passando a constituir o seu compromisso social.

O princípio do valor compartilhado é a geração de benefícios


para os dois lados, ou seja, a empresa responsável pela ação
e o stakeholder em tela (Porter e Karmer, 2011).

Porter e Kramer (2006) também defendem a integração entre estratégia empresarial e


responsabilidade social. Os autores destacam o potencial das ações de responsabilidade social como
fonte de inovação, oportunidades e vantagem competitiva. Para tanto, essas ações devem ser
formuladas e executadas a partir de intensa inter-relação com a sociedade de modo a identificar as
suas reais necessidades. Em publicação mais recente, esses autores enfatizam a dependência mútua
entre empresas e sociedade, de modo o princípio do valor compartilhado deve orientar tanto as
decisões empresariais quanto as políticas sociais.
Com a velocidade da circulação de informações e as transformações do mundo globalizado,
as empresas se tornaram mais voláteis e, as suas ações, mais perceptíveis. Desse modo, uma empresa
sem consciência social será pressionada pelos stakeholders a assumir o seu papel na sociedade. Patrus-
Pena e Castro (2010) mostram que a empresa é convidada a participar do aprimoramento da
qualidade de vida social e assumir o compromisso de atrelar a dimensão social aos seus objetivos.
Na figura a seguir, apresentamos um resumo dos principais stakeholders com as quais uma
organização se relaciona.

36
Figura 1 – A empresa e os seus stakeholders

Fonte: Adaptado de MACÊDO et al (2015)

Para Srour (2008), uma empresa ética é aquela que subordina as suas estratégias e atividades a
uma prévia reflexão ética e age de forma socialmente responsável. Cabe observar que a responsabilidade
social vai ajudando a forjar a identidade das empresas, inserindo-as na ética empresarial, que significa a
lisura do comportamento da empresa diante dos seus diferentes stakeholders.
A identidade da empresa é uma espécie de patrimônio moral. A sua reputação é um valor
arduamente construído e pode ser dilapidada por ações socialmente irresponsáveis, que podem
comprometer a manutenção dos seus empregados, clientes e fornecedores.
Desse modo, no atual cenário, as empresas alcançaram um nível de visibilidade que as torna
verdadeiras cidadãs em todas as esferas em que atuam.

Cidadania corporativa
O termo “cidadão”, de acordo com o Dicionário Houaiss (2006), diz respeito ao “indivíduo
que, como membro de um Estado, usufrui de direitos civis e políticos garantidos pelo mesmo
Estado e desempenha os deveres que, nesta condição, lhe são atribuídos”. Quando empresas
desejam alcançar o status de empresas cidadãs, fazem-no por meio das práticas de responsabilidade

37
social. Tendo como referência o conceito de “cidadão”, trata-se do conjunto de esforços por meio
dos quais as empresas assumem os seus direitos e deveres.
Na visão de Melo Neto e Fróes (1999), uma empresa cidadã é aquela que aporta recursos
financeiros, tecnológicos e humanos a projetos comunitário de interesse público, tornando-se
merecedora de respeito, confiança e admiração por parte dos clientes. Além disso, Macêdo e
colaboradores (2015: 55) argumentam que a empresa cidadã traz para junto de si os demais
stakeholders nas esferas econômica e ambiental.
Seguindo uma tendência de associar o papel da empresa cidadã a práticas filantrópicas,
Matten e Crane (2005) entendem que a cidadania corporativa se refere ao papel da corporação na
gestão de direitos de cidadania para os indivíduos. Os autores atribuem três papéis à empresa cidadã
no seu exercício de cidadania junto ao elemento humano, expostos no quadro a seguir:

Quadro 4 – Conceito teórico estendido de cidadania corporativa

cidadania corporativa

conjuntos de direitos papel da empresa cidadã

direitos sociais provedora

direitos civis facilitadora

direitos políticos canal

Fonte: adaptado de Matten e Crane (2005, p. 174)

De acordo com Matten e Crane (2005), as empresas cidadãs não exercem tais papéis com
exclusividade, mas em conjunto com outros agentes sociais. No papel de provedora, a empresa
poderá ou não suprir os indivíduos quanto aos seus direitos sociais. No que se refere ao conjunto
de direitos civis, uma corporação pode capacitar ou restringir esses direitos. Quando se tratam de
direitos políticos, a corporação atua como um canal adicional para o seu exercício.
Além disso, as empresas cidadãs devem realizar esforços para que os seus colaboradores
também se constituam em verdadeiros cidadão, por meio de programas de capacitação e
desenvolvimento intelectual e profissional, ou por meio de programas de educação para a cidadania
e a diversidade, formação ética ou em urbanidade.
Nesse sentido, empresas cidadãs são aquelas que realizam programas e projetos de
responsabilidade social, direcionados tanto ao público interno – colaboradores e os seus familiares –
quanto ao público externo – clientes, fornecedores e demais stakeholders. Desse modo, tal conjunto
de ações pode ser designado como cidadania corporativa.

38
Cidadania corporativa é um conjunto de programas de
projetos de responsabilidade social direcionados aos
públicos externo e interno de uma organização.

Modelos e práticas socialmente responsáveis


Em uma abordagem bastante atual, Srour (2008) define responsabilidade social como o conjunto
de decisões empresariais informadas de modo a agregar os interesses dos stakeholders. Concretamente,
materializa-se naquilo que se denomina balanço social ou ferramentas semelhantes. A seguir, serão
apresentadas as principais ferramentas hoje utilizadas por empresas socialmente responsáveis.

Balanço social
No Brasil, a fundação do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), em
1981, foi fundamental para a intensificação de práticas e difusão de ações de responsabilidade social
empresarial. Trata-se de uma “organização da cidadania ativa”1, sem fins lucrativos, fundada pelo
sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, e os seus companheiros de exílio, Carlos Afonso e Marcos
Arruda, ao retornarem ao Brasil no período de redemocratização, após da ditadura instaurada pelo
golpe empresarial-militar de 1964.
O Ibase foi pioneiro na tarefa de propor um modelo de balanço social e hospedou o balanço
social de diversas empresas, desde os anos 1990 até 2008, quando deixou de hospedar esses balanços
sociais na sua página na internet, passando as empresas aderentes a utilizar outros meios de divulgação.
Outra referência importante nessa área é o conjunto de protocolos denominado de
indicadores Ethos para negócios sustentáveis e responsáveis. Esses indicadores são apurados pelo
Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (Ethos), fundado em 1988, a partir de
questionários preenchidos por representantes das empresas interessadas. Vale considerar que tais
protocolos estão em constante atualização, em sintonia com as novas demandas éticas da sociedade,
da sustentabilidade e do mercado. Por isso, é importante sempre acessar o site2 da instituição para
acompanhar e discutir as mais recentes inovações. A seguir, apresentamos um quadro ilustrativo
dos elementos constituintes dos indicadores Ethos em 2015.

1
Disponível em: https://ibase.br/pt/quem-somos/ Acesso em: nov. 2019.
2
Disponível em: https://www.ethos.org.br/ Acesso em: fev. 2021.

39
Quadro 5 – Indicadores Ethos para negócios sustentáveis e responsáveis

dimensão tema subtema

governança organizacional governança e conduta

prestação de contas
governança e
práticas de operação e práticas anticorrupção
gestão
gestão envolvimento político responsável

sistemas de gestão

dimensão tema subtema

direitos humanos situações de risco para os direitos humanos

relações de trabalho
práticas de trabalho saúde e segurança no trabalho e qualidade
de vida

desenvolvimento humano, benefícios e


social
treinamento
relação com o consumidor,
envolvimento com a consumo consciente
comunidade e o seu respeito ao direito do consumidor
desenvolvimento
gestão de impactos na comunidade e o seu
desenvolvimento

mudanças climáticas

gestão e monitoramento dos impactos sobre


ambiental meio ambiente
os serviços ecossistêmicos e a biodiversidade

impactos do consumo

critérios de seleção e avaliação de


fornecedores

seleção, avaliação e trabalho infantil na cadeia produtiva


fornecedores
parceria com fornecedores trabalho análogo ao escravo na cadeia
produtiva

apoio ao desenvolvimento de fornecedores

Fonte: Instituto Ethos para Negócios Sustentáveis e Responsáveis.

40
Relato de sustentabilidade e Indicadores GRI
Em 1988, foi criada a organização denominada Global Reporting Initiative (GRI), a partir
de uma força tarefa criada pela Organização das Nações Unidas (ONU). A GRI formulou um
modelo que detalha diretrizes para o relato de sustentabilidade das empresas, de modo a
possibilitar a sua padronização internacional.
De acordo com dados da própria organização, que tem representação em vários países,
inclusive no Brasil, até 2010, cerca de mil empresas, em mais de 60 países, declararam utilizar essa
estrutura nos seus relatórios.
O modelo em geral é composto por dois blocos de conteúdos, divididos em conteúdos-padrão
gerais e conteúdos-padrão específicos. Os primeiros demandam informações sobre as políticas de
gestão nas categorias estratégia e análise, perfil organizacional, aspectos materiais identificados e
limites, engajamento dos stakeholders, perfil do relatório, governança, ética e integridade.
Os conteúdos-padrão específicos da GRI, na sua versão G4, encontram-se divididos nas
categorias econômica, ambiental e social. Nessa última, os conteúdos são divididos nas
subcategorias práticas trabalhistas e trabalho decente, direitos humanos, sociedade e responsabilidade
pelo produto. É muito importante considerar que tal modelo está em contínua atualização, seguindo
as novas exigências e perspectivas internacionais da sustentabilidade. Deste modo, é fundamental
acessar o site3 da instituição para estar em sintonia com a novas demandas, que cada vez mais são
apresentadas como normatizações para otimizar seus resultados. Segue um quadro ilustrativo de um
panorama geral das preocupações da GRI.

Quadro 6 – Diretrizes GRI para relato de sustentabilidade – conteúdos-padrão específicos

diretrizes para relato de sustentabilidade GRI – conteúdos-padrão específicos

categoria social
categoria Categoria
Práticas
econômica ambiental direitos responsabilidade
trabalhistas e sociedade
humanos pelo produto
trabalho decente

saúde e
desempenho comunidades
materiais emprego investimento segurança do
econômico locais
cliente

rotulagem de
presença no relações não combate à
energia produtos e
mercado trabalhistas discriminação corrupção
serviços

3
www.globalreporting.org/Pages/default.aspx. Sobre as recentes atualizações, veja, por exemplo, a seguinte notícia do
IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) de outubro de 2020: https://ibgc.org.br/blog/GRI-em-portugues.

41
liberdade de
impactos
saúde e segurança associação e políticas comunicação de
econômicos água
no trabalho negociação públicas marketing
indiretos
coletiva

práticas de treinamento e trabalho concorrência privacidade do


biodiversidade
compra educação infantil desleal cliente

diversidade e trabalho
emissões igualdade de análogo ao conformidade conformidade
oportunidades escravo

igualdade de avaliação de
efluentes e remuneração entre práticas de fornecedores
resíduos homens e segurança em impactos à
mulheres sociedade

mecanismos de
avaliação de queixas e
produtos e fornecedores em direitos reclamações
serviços práticas indígenas relacionados a
trabalhistas impactos na
sociedade

mecanismos de
queixas e avaliação de
reclamações fornecedores
conformidade
relacionadas a em direitos
práticas humanos
trabalhistas

mecanismos
de queixas e
reclamações
transportes
relacionados
a direitos
humanos

geral

avaliação
ambiental de
fornecedores

mecanismos
de queixas e
reclamações
relacionadas a
impactos
ambientais

Fonte: adaptado de www.globalreporting.org/Pages/default.aspx apud MACÊDO et al, 2015.

42
Apesar de não obrigatória, exceto para empresas concessionárias de serviços públicos
submetidas a modelos de agência reguladoras, é crescente a tendência à divulgação de ações,
programas e projetos de cunho ambiental ou social, inclusive com os valores destinados a tais
iniciativas, provenientes do balanço patrimonial ou outras demonstrações financeiras das empresas.
Desse modo, a divulgação de relatórios de sustentabilidade socioambiental é realizada por um
número de empresas cada vez maior. A tendência é crescente porque, nesse cenário, a não divulgação
de um balanço desse tipo termina por criar dúvidas sobre a lisura da atuação de uma empresa,
comprometendo a sua reputação e, com isso, a sua credibilidade.
Além disso, não basta divulgar tais relatos da prestação de contas à sociedade. É preciso que
sejam elaborados com qualidade e esmero, ou seja, não basta elaborar e divulgar tabelas com
números e eventos. É necessário ter cautela para evitar erros ou imprecisões nas informações
fornecidas, que devem estar organizadas de modo a facilitar a compreensão do público.
Irigaray, Vergara e Araújo (2013) realizaram um estudo com as 100 maiores empresas listadas
na BM&FBovespa e constataram que 23 delas apresentam uma visão equivocada a respeito da
responsabilidade social corporativa, confundindo ações de filantropia com o seu próprio negócio e
incorporando ações voluntárias dos seus colaboradores como se fossem as suas. De acordo com os
autores, a ausência de auditoria independente para ratificar informações apresentadas nos relatórios
de responsabilidade socioambiental também contribui para que empresas façam a sua própria
interpretação dos dados relatados.
Rodrigues (2014), responsável por um estudo sobre os relatórios de sustentabilidade
socioambiental da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), publicados pelas empresas
distribuidoras de energia elétrica da região Sudeste do Brasil, encontrou incorreções e lacunas nessas
prestações de contas sociais. A autora constatou elevados índices de acidentes de trabalho,
especialmente envolvendo trabalhadores terceirizados, e muitas ações trabalhistas em curso.
Oliveira (2013) apresenta algumas dicas para minorar o risco de erros em relatórios deste
tipo: a) padronização e identificação das fontes, de modo que as informações possam ser checadas
e comparadas; b) apresentação da evolução dos projetos, com informações baseadas em referências
temporais, permitindo observar a evolução dos dados no tempo; c) uso de linguagem acessível; d)
publicação das críticas, de modo a dar visibilidade a respeito de aspectos que precisam ser
aprimorados; e) transparência, expressando abertamente a posição da empresa mesmo em aspectos
que possam desagradar aos stakeholders, o que facilita o diálogo com as partes discordantes; f)
realização de auditoria externa e g) abertura para recepção de críticas, indicando o nome do
profissional responsável pelo relatório e o contato para recepção de críticas e reclamações.
Oliveira (2013) aponta bons exemplos de empresas socialmente responsáveis no cenário
brasileiro, relatando casos como Natura e O Boticário. O autor analisa práticas socioambientais
dessas empresas junto a comunidades detentoras de conhecimentos sobre o princípio ativo
empregado em alguns dos seus produtos cosméticos. Essas práticas incluem a remuneração desse
conhecimento, a compra de insumos diretamente das comunidades produtoras e a orientação para
o manejo sustentável dos recursos.

43
Normas da responsabilidade social
Além das ferramentas já mencionadas, existem, à disposição das organizações interessadas,
normas técnicas e certificações expedidas por entidades de diferentes nacionalidades. São
instrumentos que realçam os contornos da cidadania corporativa, contribuindo para construção de
uma boa imagem pública da empresa.
O surgimento de novos modelos de normalização das ações de responsabilidade social é
constante, tanto em nível global quanto local. A seguir, são expostos alguns dos seus principais aspectos:

a) ISE BM&FBovespa
A Bolsa de Valores de São Paulo instituiu o índice de sustentabilidade empresarial (ISE). Esse
índice tem por objetivo medir o retorno total de uma carteira teórica composta por ações de, no
máximo, 40 empresas de reconhecido comprometimento com a responsabilidade social e a
sustentabilidade, apurado mediante a adoção de um sistema próprio.
Para participar do ISE, as empresas preenchem, espontaneamente, os instrumentos que
servem de base à seleção. São selecionadas as empresas responsáveis pelas 150 ações mais negociadas
no ano e que tenham estado presentes em pelo menos 50 pregões da bolsa. O conselho deliberativo
do ISE define critérios de responsabilidade social para selecionar as 40 melhores empresas que irão
compor o índice anual, sinalizando para o investidor as empresas que melhor atenderam a tais
critérios naquele ano.

b) Programa Em Boa Companhia


Conhecido também como Bolsa de Valores Sociais e Ambientais (BVS&A), o programa Em
Boa Companhia foi criado, de forma pioneira, pela Bovespa, em 2007, simulando o modelo
operacional de uma bolsa de valores. Funciona como uma plataforma de captação de recursos a
serem investidos em projetos socioambientais de ONGs brasileiras. Desse modo, em uma espécie
de “pregão social”, reúne investidores interessados em contribuir com a educação e a conservação
do meio ambiente com projetos que necessitam de tais recursos.

c) SA 8000
Trata-se de um mecanismo focalizado nos direitos do trabalhador, baseado em uma norma
técnica de origem estadunidense lançada em 1997. O objetivo é certificar organizações que atendam
requisitos claros, com ênfase em saúde e segurança do trabalhador, liberdade de associação e direito
à negociação coletiva, ao mesmo tempo combatendo todas as formas de discriminação no ambiente
de trabalho. Com relação ao público externo, estabelece regulamentações relativas à exploração de
trabalho infantil e trabalho forçado (análogo à escravidão).

44
d) OHSAS 18000
Com foco em saúde e segurança do trabalhador, foi criada a norma ocupacional britânica
Health and Safety Assessment Series, em 1999. A OHSAS 18000 define requisitos mínimos que as
empresas devem cumprir para evitar riscos a que os trabalhadores possam ser expostos, sejam eles
próprios da empresa ou contratados, permanentes ou temporários.

e) ISO 26000
Trata-se de uma norma internacional, lançada no Brasil no ano de 2010, denominada
Diretrizes sobre Responsabilidade Social. De acordo com o Instituto Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), essa norma foi construída por meio de um
processo qualificado como multistakeholder e fruto do esforço conjunto de profissionais de
diferentes países. Ao contrário de outras normas do tipo ISO, a norma ISO 26000 não é
certificadora, mas didática, já que reúne e mostra como inserir do cotidiano das organizações os
princípios para a gestão da responsabilidade social. Tem como principais norteadores, com
referência à responsabilidade social:
 conceitos, termos e definições;
 histórico, tendências, características, temas, princípios e práticas;
 integração, implementação e promoção de comportamentos socialmente responsáveis em
toda a organização e na sua esfera de influência, e
 identificação e engajamento de partes interessadas, com base na celebração de
compromissos e no desempenho dos compromissos acordados.

f) Selo Abrinq Amigo da Criança


Criada em 1990, a Fundação Abrinq é uma ONG que se pauta pelos princípios da
Convenção Internacional dos Direitos da Criança, pela Constituição Federal de 1988 e pelo
Estatuto da Criança e do Adolescente. Desde 2010, também representa a ONG internacional Save
the Children no Brasil. Emite o selo Amigo da Criança, reconhecendo empresas que consigam
comprovar a ausência de trabalho infantil em todo o processamento do seu produto. Esse selo
também pode ser conferido a entidades do primeiro setor, como municípios, por meio do projeto
Prefeito Amigo da Criança.

Fair trade (comércio justo)


No ano de 2009, na Holanda, foi criada a World Fair Trade Organization (WFTO), que
define o comércio justo ou, simplesmente fair trade, como uma parceria comercial baseada em
diálogo, transparência e respeito, em busca de maior equidade no comércio internacional. A ideia
é contribuir para o desenvolvimento sustentável por meio de melhores condições de troca e garantia
de direitos para produtores e trabalhadores situados à margem do mercado, principalmente no
hemisfério Sul. O pagamento de um preço justo no recebimento do produto, além de um bônus
que beneficie toda a comunidade, é um dos seus princípios mais expressivos.

45
Associações representativas de entidades do terceiro setor
O Grupo de Institutos e Fundações Empresariais (GIFE) foi criado, em 1995, com o objetivo
de reunir e fornecer apoio estratégico a institutos e fundações de origem empresarial e outras
entidades privadas que realizam projetos de interesse público. A entidade representa o setor de
responsabilidade social, cria e promove redes de relacionamentos, discussões e trocas de informações
a respeito de questões sociais, difunde conhecimentos, realiza eventos e executa ações agregadoras
para outras entidades sem fins lucrativos.
A Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), criada em 1991,
credencia e organiza entidades do terceiro setor, fazendo vigorar um código de ética para si e para
as organizações a ela associadas. A Abong defende a criação de um marco regulatório para as
organizações do terceiro setor.

Relatórios de agências reguladoras


As agências reguladoras de empresas concessionárias de serviços públicos possuem modelos
próprios e específicos para exigir a prestação de contas socioambientais. Um dos objetivos é a
padronização das informações divulgadas, de modo a permitir a consolidação de informações para
todo o setor. Essa padronização também possibilita a fiscalização das empresas pela agência
reguladora e a realização de auditorias independentes que verifiquem a veracidade e a qualidade dos
dados apresentados. São exemplos de agências reguladoras a Aneel (Agência Nacional de Energia
Elétrica), a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e a ANA (Agência Nacional de Águas).

Governança corporativa
Governança corporativa
Um sistema formalmente instituído de governança corporativa é fundamental para que uma
empresa seja reconhecida como socialmente responsável. De acordo com Ashley e colaboradores
(2005), a governança corporativa constitui um dos pilares que asseguram a confiança dos stakeholders.
No entanto, o que é governança corporativa? Segundo Macêdo e colaboradores (2015):

Exercer a governança no mundo corporativo representa atender a um


conjunto de diretrizes que assegurem a gestão eficaz de métodos, processos
e projetos, a gestão respeitosa e justa das pessoas abrangidas pelo negócio e
o uso e gerenciamento consciente, honesto e responsável dos recursos
materiais, financeiros e naturais (MACÊDO et al, 2015, p. 67).

46
Na visão de Machado Filho (2006, p. 80), a governança corporativa busca o alinhamento de
interesses entre gestores e acionistas, garantindo a transparência entre eles e a equidade entre as
partes acionárias majoritárias e minoritárias, por meio de mecanismos externos e internos.

No âmbito da governança corporativa, acionistas e gestores


recebem o nome de agentes. As interfaces entre eles são
denominadas relações de agência e devem ser baseadas na
transparência.

Esse alinhamento entre as expectativas dos acionistas e as práticas gerenciais é um instrumento


de proteção dos interesses dos primeiros. Na literatura que trata da governança corporativa, tanto
gestores quanto acionistas são denominados agentes. As interfaces entre ambos recebem o nome de
relações de agência. Nessas relações, é importante que vigore a transparência, com o fornecimento
contínuo de informações claras e completas a respeito dos atos dos gestores, com demonstrativos
que demonstrem os resultados auferidos.
No Brasil, é o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), fundado em 1995,
que rege, atualmente, as diretrizes para a governança corporativa e a define assim: “o sistema pelo
qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo as práticas e os
relacionamentos entre proprietários, conselho de administração, diretoria e órgãos de controle”4.
De acordo com o IBGC, uma boa governança transforma princípios em parâmetros, alinhando
interesses que possam preservar e otimizar o valor de uma organização, de modo a preservar o acesso
ao capital e a sua continuidade.
O IBGC possui um programa de certificação para conselheiros de administração e fiscais de
empresas. Empresas socialmente responsáveis valorizam uma boa governança, tendendo a buscar
conselheiros certificados pelo instituto.
Finalmente, o IBGC recomenda quatro princípios básicos para a governança corporativa:
 Transparência – as organizações devem disponibilizar, aos stakeholders, todas as
informações tangíveis e intangíveis que sejam do seu interesse, ainda que não haja
obrigatoriedade legal.
 Equidade – as organizações devem dispensar tratamento justo a todos os sócios e demais
stakeholders, evitando políticas e ações de natureza discriminatória.
 Prestação de contas (accountability) – os agentes de governança das organizações devem prestar
contas da sua atuação e assumir, integralmente, as consequências dos seus atos e omissões.
 Responsabilidade corporativa – os agentes de governança das organizações devem zelar
pela sua sustentabilidade e longevidade, incorporando considerações de natureza social e
ambiental na definição dos negócios e das operações.

4
Disponível em: www.ibgc.org.br Acesso e: nov. 2019.

47
O fortalecimento de mecanismos e práticas de governança corporativa ganhou impulso com
a ocorrência de grandes escândalos financeiros. Um exemplo paradigmático foi o caso da empresa
Enron, nos Estados Unidos, que protagonizou um conjunto de fraudes nas empresas .com,
motivando a promulgação da Lei Sarbanes Oxley (SOx). A partir de então, naquele país, passaram
a vigorar duras penalidades para executivos de empresas, principalmente o diretor financeiro e o
presidente, considerados responsáveis pela condução e fiscalização de controles internos, e pelas
prestações de contas aos acionistas.
A SOx teve reflexos em todo o mundo corporativo, não somente nos Estados Unidos. No
Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) – autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda
e que regula o setor das empresas de capital aberto – modificou regulamentações e instituiu outras.
No Brasil, a história dos negócios é marcada por problemas no âmbito da governança
corporativa, bem como pelo predomínio de empresas e, até mesmo, grandes conglomerados de
propriedade familiar. Para Bornholdt (2005), uma empresa ou um grupo de empresas é considerado
familiar quando apresenta uma ou mais entre as seguintes características: o controle acionário
pertence a uma família, o processo sucessório é realizado dentro da família, cargos estratégicos são
ocupados por membros da família, valores e crenças refletem os dogmas da família, atos de membros
da família têm repercussão dentro da empresa ou, ainda, membros da família são impedidos de
vender parcial ou totalmente a sua participação acionária.
Para empresas familiares, vigora a mesma estrutura de governança das demais empresas:
conselhos, gestão executiva, auditoria independente e assembleia de acionistas. No entanto, as
empresas familiares costumam possuir, além dos organismos já citados, também um conselho de
família, incumbido de deliberar sobre as expectativas e os interesses familiares nos negócios.
Bornholdt (2005) explica que, aos conselhos de família, são atribuídas as funções de desenvolver e
administrar o acordo de acionistas, proteger a memória histórica familiar, fomentar encontros que
promovam o entendimento e a coesão entre os familiares, manejando conflitos e crises; criar e
manter programas de desenvolvimento de herdeiros, com foco no processo de sucessão; elaborar
programa de bem estar para integrantes do grupo familiar e critérios de liquidez e dividendos
destinados aos seus membros. Também cabe aos conselhos de família, na visão do autor, estabelecer
relações com entidades do terceiro setor de modo a gerar programas ou projetos sociais.
Desse modo, em empresas familiares, a governança vai além dos padrões estabelecidos para
outras organizações e varia segundo diferentes configurações, pois integrantes da família podem
trabalhar ou não na empresa, possuir participação acionária diferenciada e manifestar ou não
interesse pelo seu autodesenvolvimento ou no processo sucessório.
No Brasil, há casos frequentes de empresas ou grupos empresariais familiares que enfrentaram
dificuldades ou mesmo cerraram as portas devido a problemas no relacionamento entre os membros
da família, questões de sucessão e herança, e questões relacionadas à governança. São emblemáticos
os casos da fábrica de chocolates Garoto, e os grupos Paes Mendonça e Hermes Macedo.

48
A respeito das empresas familiares, Macêdo e colaboradores (2015) recomendam:

Nas empresas familiares, os trâmites de governança deverão ajustar o foco,


principalmente, nos aspectos relacionados à transparência, à equidade e à
justiça, na diligência das questões que sejam de interesse dos membros da
família, para minorar os riscos de desavenças, não gerar conflitos de interesse
e possibilitar a continuidade dos negócios (MACÊDO et al, 2015, p. 70).

Para os propósitos desse curso, as peculiaridades das empresas ou grupos empresariais


familiares são de particular interessem, uma vez que, de maneira geral, os conselhos de família
costumam desempenhar papel preponderante em ações de responsabilidade social dessas
organizações, influenciando diretamente a sua imagem e reputação.

Gestão da reputação
A reputação diz respeito à maneira pela qual uma pessoa, um produto ou uma organização é
percebida pelos outros. Trata-se de um referencial, uma base em constante processo de lapidação.
Ao contrário da imagem, a reputação sempre se encontra em construção.
A imagem, por sua vez, não é um conceito em construção. Como uma fotografia, que é
clicada e repetida, a imagem é constituída sempre que algo de positivo ou negativo surge em relação
a uma pessoa, produto ou organização. Cada imagem que surge contribui para alterar a percepção
a respeito de um desses elementos.
A boa reputação de uma organização é um status conquistado graças a uma sucessão de
imagens positivas geradas pelas suas ações. Desse modo, a reputação é ativo intangível, capaz de
alterar, para mais ou para menos, o grau de vulnerabilidade ao qual uma organização pode incorrer.
A gestão da reputação ganhou notoriedade mundial com a criação do Reputation Institute,
em 1997. Esse instituto tem representação em diversos países, inclusive no Brasil, e realiza
diagnósticos de reputação para empresas de todos os continentes. O seu modelo de análise envolve
áreas como governança corporativa, ambientes de trabalho, desempenho financeiro, liderança,
inovação, produtos e serviços, cidadania e responsabilidade social.
Assim sendo, é possível perceber que boas práticas sociais e ambientais por parte das
organizações contribuem para gerar imagens positivas ao seu respeito. De modo que, para gerir a
sua reputação, uma empresa deve colocar as suas ações atuais a serviço da construção de uma
imagem positiva no futuro.
Uma gama de autores tece recomendações para a gestão da reputação das organizações. Na
visão de Srour (2008), é preciso manter fortes laços com os públicos de interesse, adotar padrões
internacionais de responsabilidade socioambiental, monitorar riscos, administrar marcas e gerenciar
informações sobre os ambientes externo e interno.

49
Nesse sentido, Patrus-Pena e Castro (2010) agrupam recomendações gerir reputações
organizacionais em sete dimensões: a) dimensão ética, por meio do estabelecimento ou reforço de
propósitos e crenças orientadores das ações na e da empresa; b) dimensão cultural, que busca a
minimização de discrepâncias entre os sistemas formalmente constituídos e a prática, tomando
como pano de fundo o cenário de constante mudança cultural no qual se situam as organizações;
c) dimensão tecnológica, em busca do pareamento entre as tecnologias utilizadas pela empresa e a
sua orientação ética; d) dimensão educativa, de modo a promover um constante aperfeiçoamento
de pessoas que decidem e operacionalizam as ações da empresa, com foco no caráter e nos padrões
éticos; e) dimensão gerencial, que visa manter ou alterar comportamentos, por meio de lideranças
comprometidas com a defesa dos princípios defendidos pela organização; f) dimensão psicológica,
com o intuito de observar características e limitações de pessoas que integram a organização, e g)
dimensão política, que representa a consciência de que cada processo de mudança abrange interesses
divergentes e conflitos ante a necessidade de tomar decisões.
Machado Filho (2006), de forma mais sintética, também aponta alguns aspectos que devem
ser considerados na gestão da reputação de empresas: qualidade dos produtos e dos serviços
oferecidos, boas práticas internas de gestão de pessoas, boas práticas externas junto a clientes,
fornecedores e outros grupos.
É possível perceber que a construção de uma boa reputação organizacional envolve uma
miríade de princípios, práticas e ações, em diferentes esferas. A ausência ou insuficiência da gestão
da reputação de uma empresa pode comprometer anos de esforço, trabalho e investimento.
Problemas que abalem a reputação de uma empresa podem gerar um verdadeiro efeito em cascata,
com consequências para a própria empresa e um ou mais stakeholders. Alguns casos de gestão da
reputação adquiriram notoriedade e se tornaram emblemáticos no mundo corporativo.
Em 1982, o medicamento Tylenol foi posto à venda em frascos envenenados em algumas
farmácias dos EUA, o que resultou na morte de 7 pessoas na cidade de Chicago. A empresa Johnson
& Johnson, fabricante do produto, agiu de forma rápida, transparente e ampla. Os enormes gastos
em função da retirada do produto das prateleiras e da elaboração e divulgação de campanhas
esclarecedoras foram compensados pelo retorno em termos de reputação da empresa que, ao agir
com transparência e sinceridade, conseguiu recuperar e até ampliar a sua fatia do mercado. Mesmo
com o fato de que a responsabilidade pelo crime nunca tenha chegado a ser apurada e punida, a
empresa continua gozando de credibilidade junto à clientela, possivelmente por ter assumido a
dianteira na resolução do problema.

50
Há casos ainda mais contundentes. O banco norte-americano Lehman Brothers enfrentou
sérias dificuldades financeiras, após conceder empréstimos de alto risco e sem cobertura, o que
contribuiu para deflagrar a crise econômica de 2008, jogando os EUA em um abismo fiscal, com
consequências no âmbito da economia mundial, como a falência de bancos comerciais e até de
países, como foi o caso da Islândia.
Quando se trata da reputação de organizações, cabe ainda advertir sobre práticas de marketing
social, que precisam estar fundamentadas em uma ética corporativa consistente. De uma maneira
geral, ações de marketing constituem um programa de comunicação para divulgar produtor e
serviços e, dessa forma, atrair e fidelizar clientes. No entanto, a simples divulgação de ações de
responsabilidade social não é suficiente para a aderência da clientela, que, na atualidade, encontra-
se mais atenta à continuidade dessas ações. Desse modo, qualquer acontecimento ou informação
que não esteja condizente com os valores propalados pela empresa será passível de denúncia.
Assim sendo, é preciso compreender que imagens positivas e a boa reputação de uma empresa só
se tornam consistentes e efetivas quando são baseadas em princípios éticos sólidos. Tais princípios serão
sólidos se estiverem profundamente inculcados nas mentes e nos corações dos indivíduos que agem em
nome da empresa. Desse modo, a organização deve manter pessoas que estejam comprometidas com a
elevação do seu nível moral, tanto na esfera estratégica como no âmbito tático e operacional.

Desenvolvimento moral da organização


A aplicação de conceitos como responsabilidade socioambiental e governança corporativa
depende do estágio de desenvolvimento moral da organização, que determina a qualidade da relação
da empresa com os seus públicos de interesse. Logsdon e Yuthas elaboraram um modelo que
apresenta as forças influenciadoras do desenvolvimento moral da organização, pondo em destaque
o papel dos administradores estratégicos, que projetam, na empresa, as suas expectativas sobre o
nível desejado de desenvolvimento moral. A seguir, a figura apresenta a síntese desse modelo e, na
sequência, os seus componentes são detalhados textualmente.

51
Figura 2 – Influências sobre o desenvolvimento moral organizacional

Fonte: adaptado de Ashley e colaboradores (2005, p. 48).

Expectativas da alta administração


Os gestores estratégicos compõem a alta administração de uma organização. As suas
expectativas morais se concretizam nas escolhas estratégicas sobre processos, pessoas, sistemas e
tecnologias. Desse modo, os gestores estratégicos influenciam, decisivamente, as práticas morais dos
demais gestores e colaboradores.
No processo de formação de expectativas da alta administração sobre as práticas morais dos
demais colaboradores, devem ser levados em conta fatores individuais e fatores ambientais.

52
Fatores individuais
A definição das expectativas de um dirigente sobre a práticas morais dos seus empregados
depende do estágio de amadurecimento do seu raciocínio moral. Essa definição também é
influenciada pelas características da personalidade dos dirigentes.
Por exemplo, uma pessoa emocionalmente amadurecida toma decisões na empresa que levam em
conta as necessidades de todas as pessoas impactadas por tais decisões, pois possui alto grau de empatia.
Da mesma maneira, espera comportamento moral semelhante por parte dos seus empregados.

Fatores ambientais
Os principais fatores ambientais que influenciam a formação das expectativas morais da alta
administração são a pressão da sociedade, a cobrança dos acionistas e os comportamentos morais
praticados pela concorrência.
A pressão da sociedade se materializa em leis, fiscalização e punições exemplares. Trata-se
de um parâmetro decisivo para a constituição de elevadas expectativas morais por parte dos
dirigentes sobre as decisões morais dos seus empregados. Um ambiente de negócios tolerante com
a corrupção, por exemplo, pressiona em sentido contrário. Já um ambiente de negócios
intolerante com desastres ambientais corporativos pressiona no sentido de ações de
responsabilidade ambiental efetivas e consistentes.
Por outro lado, cobranças de acionistas que exigem resultados financeiros imediatos e a
qualquer custo constituem uma elevada pressão sobre as expectativas morais da alta diretoria.
Finalmente, essas expectativas também são influenciadas pelas práticas morais da
concorrência. Se, em determinado setor, empresas concorrentes agem de forma desonesta, negando
direitos trabalhistas aos seus empregados, adotando práticas que põem em risco o equilíbrio
ambiental ou sonegando impostos, os seus custos se tornam tão baixos que a concorrência
socioambientalmente responsável não é capaz de acompanhar. Constitui-se, com isso, um ambiente
de negócios que reduz as expectativas morais dos dirigentes, que tendem a passar a tolerar práticas
imorais com o objetivo de manter a organização competitiva.

Processos organizacionais
Os processos organizacionais constituem meios pelos quais os dirigentes comunicam aos
colaboradores as suas expectativas sobre resultados esperados e padrões de comportamento
desejáveis ou proibidos. Tais processos são definidores de escolhas estratégicas e distribuição de
recursos das organizações.
Desse modo, escolhas estratégicas das empresas refletem expectativas morais dos seus
dirigentes: Quais caminhos serão trilhados? Quais serão nossos parceiros? Quais recursos serão
utilizados?”. Decisões dessa natureza orientam e delimitam as decisões morais dos colaboradores.

53
A distribuição de recursos também é afinada com as expectativas morais da alta
administração. Por exemplo, a escolha dos membros do conselho de ética e a destinação de recursos
para o seu funcionamento refletem a importância atribuída a tal instância por parte daqueles
encarregados de decisões estratégicas no interior das organizações. O mesmo se aplica a atividades
de auditoria ética, processos de socialização de novos empregados e escolhas do objeto e da forma
pela qual empregados são recompensados.

Desenvolvimento moral organizacional


Como foi exposto, as práticas individuais dos colaboradores são diretamente influenciadas
pelas expectativas morais dos dirigentes estratégicos e são concretizadas nos processos
organizacionais. As expectativas da alta administração com relação ao desenvolvimento moral da
organização, por sua vez, são influenciadas por fatores individuais e ambientais.
Dessa configuração, decorre que o conjunto das práticas individuais dos empregados
caracteriza o estágio de desenvolvimento moral da organização. Com base em Logsdon e Yuthas
(1997), Ashley e colaboradores (2005, p. 49) classificam o nível de desenvolvimento moral das
organizações em três estágios: pré-convencional, convencional e pós-convencional.
O nível mais baixo de desenvolvimento moral é o nível pré-convencional, que engloba
organizações que atuam no mercado apena em busca de alcançar os seus objetivos mais imediatos, sem
considerar os interesses das demais empresas. Ou seja, organizações que atuam somente no sentido de
satisfazer demandas dos acionistas. Como explicam Macêdo e colaboradores, são casos em que:

Os significados de ética e responsabilidade social corporativa são restritos e


permitem que os outros atores presentes no ambiente de negócios sejam
usados como meios para o alcance de seus objetivos. Os dirigentes
experimentam prazer ao constatarem o crescimento da empresa no mercado
e isso legitima as decisões tomadas para tal, sem conexões com a moralidade
de seus comportamentos. O processo decisório é orientado para vencer as
empresas concorrentes, porque a derrota causa grande dor e sempre resulta
na demissão dos responsáveis (MACÊDO et al, 2015, pp. 76-77).

Um exemplo de atuação de uma corporação em nível de desenvolvimento moral pré-


convencional é o seguinte: uma grande mineradora precisa fazer a manutenção da barragem de
rejeitos. A legislação recomenda que o processo de manutenção seja realizado de seis em seis meses.
No entanto, em um contexto de queda do valor do minério no mercado internacional, a empresa
se vê diante da necessidade de reduzir os seus custos operacionais. Nesse contexto, a gerência decide
realizar apenas anualmente tal processo de manutenção. Desse modo, atende aos interesses dos

54
acionistas, mas às custas de violar a legislação e expor comunidades vizinhas e o ecossistema ao risco
de um desastre ambiental.
No nível de desenvolvimento moral convencional, as organizações agem por pressão externa e
respeitam exigências legais e contratuais. Nesse nível, o sentido da ética e da responsabilidade social
se resume a cumprir determinações legais. As necessidades dos stakeholders são atendidas dentro do
que se encontra previsto na legislação e nos contratos firmados. Desse modo, os públicos de interesse
são os parceiros de negócios: clientes, investidores, empregados e fornecedores. Trata-se de um nível
que já oferece algum grau de controle social, uma vez que as decisões respeitam as expectativas dos
participantes do ambiente de negócios que são considerados parceiros. É o caso de empresas que se
limitam a cumprir estritamente o que é legalmente estabelecido com os menores custos possíveis.
O estágio de desenvolvimento moral organizacional pós-convencional é o mais avançado.
Ocorre quando a organização se encontra tão impregnada com um dever moral que os princípios
de ética e responsabilidade socioambiental corporativa não são apenas instrumentos para alavancar
o lucro e atender interesses de acionistas, mas para satisfazer as necessidades de todos os públicos de
interesse. Nesses casos, é implantado um modelo ético de gestão, com processos decisórios
orientados por valores universais como justiça, equidade, liberdade, solidariedade, respeito ao
próximo, inclusão, entre outros.
No quadro a seguir, encontram-se sistematizadas as características de organizações situadas
nos três diferentes estágios de desenvolvimento moral organizacional.

Quadro 7 – Desenvolvimento moral das organizações e orientações aos stakeholders

nível de
orientação para os critério de processo
desenvolvimento ênfase
stakeholders decisório
moral

engrandecimento de
orientação apenas cálculo quanto a
pré-convencional si próprio sem
para si próprio prazer/dor
considerar os outros

conceito estrito de expectativas dos


obrigações negativas
convencional mercado, como a lei parceiros de trabalho e
para com os outros
exige controle social

relações com uma


princípios éticos
pós-convencional obrigações positivas larga faixa de
universais
stakeholders

Fonte: Ashley e colaboradores (2005), com base em Logsdon e Yuthas (1997).

55
Finalmente, Ashley e colaboradores (2005) afirmam que a prática efetiva do conceito de
responsabilidade social corporativa exige um novo conceito de empresa, ampliado para comportar a
prática de um novo modelo de relações sociais, políticas e econômicas. Ocorre quando decisões
gerenciais contemplam stakeholders além daqueles considerados parceiros nos negócios, incluindo entes
de fora do ambiente do mercado, tais como instituições do Estado, agentes ambientais e comunidades.

56
MÓDULO III – SUSTENTABILIDADE COMO
VANTAGEM COMPETITIVA

No terceiro módulo, são apresentados o conceito e os fundamentos da sustentabilidade e da


noção de desenvolvimento sustentável, emanados das principais conferências internacionais sobre
o tema. Em seguida, esses conceitos são relacionados ao universo corporativo, e são apresentados os
principais modelos de práticas sustentáveis e de avaliação das mesmas.

Meio ambiente e organizações


Fundamentos e conceitos da sustentabilidade
A mobilização que hoje envolve ONGs certificadoras, de vigilância, filantrópicas, formadores
de opinião e os clamores da sociedade civil em geral tem certamente a ver com o sentimento de que
o atual modelo, hoje soberano sem a concorrência comunista, pode não ser sustentável.
Lopes (2004) denomina “ambientalização” o processo pelo qual a questão da preservação do
meio ambiente se tornou uma questão pública e global, a partir principalmente da Declaração das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, elaborada na Suécia (1972), e da realização da Conferência
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável no Rio de Janeiro (Eco-
92). Além de provocar transformações nos Estados e no comportamento das pessoas, o fenômeno
da ambientalização resulta na configuração de uma nova ordem empresarial que incorpora a crítica
ambientalista e o discurso da participação às ideologias do desenvolvimento. Entre as
transformações, estão a criação de instituições, leis e critérios para tratar da questão ambiental.
Por exemplo, as Avaliações de Impacto Ambiental (AIA) são, hoje em dia, aplicadas em
diversas áreas do mundo. Segundo Bronz (2011, p. 23), o licenciamento ambiental, tal como é
desenvolvido no Brasil, é uma adaptação dos modelos desenvolvidos internacionalmente, que se
tornaram requisitos para os investimentos de capitais estrangeiros e nacionais mobilizados para a
construção de grandes empreendimentos no país.
No caso brasileiro, a implantação destes instrumentos5 se relaciona, principalmente, à pressão
do Banco Mundial, mais importante financiador de empreendimentos tais como projetos
rodoviários e assentamentos rurais nas décadas de 1970 e 1980 do século XX.
Com a globalização, o que se constata é que foi crescendo a percepção da necessidade de se
fazer algo na direção de uma gestão responsável dos recursos comuns da humanidade e do planeta.
Tornou-se cada vez mais claro que o modelo de desenvolvimento vigente não pode atender às
demandas sociais, econômicas e ambientais. A noção de desenvolvimento sustentável surgiu para
tentar atender a essa demanda.
A origem dessa ideia remete ao ano de 1972, quando um grupo de pesquisadores (Clube de
Roma) publicou o estudo Os limites do crescimento (The Limits of Growth), que “previa terríveis
consequências para a qualidade de vida e mesmo para a segurança do planeta caso neste se
continuasse a combinar crescimento geométrico da população com destruição acelerada de recursos
naturais” (Vieira, 2002, p. 41).
No entanto, a proposta formulada pelo Clube de Roma ainda não era palatável para as
instituições internacionais, pois defendia a retração do crescimento – o que implicava um entrave
para o desenvolvimento dos países periféricos. O conjunto crescente de ideias relacionadas à defesa
do meio ambiente foi pouco a pouco perdendo os seus contornos mais radicais. No mesmo ano,
acontecia a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, que ficou conhecida
como Conferência de Estocolmo, da qual resultou a criação do Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente (PNUMA). Além disso, a Conferência de Estocolmo produziu um Plano de Ação
para a Política Ambiental, criou um Fundo Ambiental, que receberia contribuições voluntárias dos
Estados participantes, e também publicou a Declaração Sobre o Ambiente Humano, que se tornou
famosa pelo nome de Declaração de Estocolmo, influenciando discussões posteriores, a partir dos
seus 23 princípios para orientação da humanidade.
Em seguida, surgiram a proposta de Ecodesenvolvimento, associada a Maurice Strong e
Ignacy Sachs, em 1973; a Declaração de Cocoyok, resultado de uma reunião da Conferência das
Nações Unidas sobre Comércio-Desenvolvimento e do Programa de Meio Ambiente das Nações
Unidas, em 1974, e o Relatório Dag-Hammarskjöld, que aprofundou as conclusões da Declaração
de Cocoyok, em 1975.

5
No Brasil, o licenciamento ambiental e a avaliação de impacto ambiental se situam entre os instrumentos preventivos
desenvolvidos com vistas à implantação dos objetivos da Política Nacional de Meio Ambiente, institucionalizada em 31
de agosto de 1981.

58
De acordo com Macêdo e colaboradores:

Dando prosseguimento ao movimento socioambiental em curso, a


Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1983, criou a Comissão Mundial
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, presidida pela norueguesa Gro
Brundtland, que teve como tarefa elaborar “uma agenda global para
mudança”. Entre seus objetivos estavam a análise dos principais problemas
referentes a desenvolvimento e conservação ambiental; a construção de
propostas para enfrentá-los; a formulação de perspectivas de cooperação
internacional diante dos desafios encontrados; a articulação de um maior
engajamento de indivíduos, organizações populares, Estados e iniciativa
privada (MACÊDO et al, 2015, pp. 82-83).

O relatório final dessa comissão, conhecido como Relatório Brundtland, que foi publicado
pela Oxford University Press, com o título de Our Common Future, em 1987, consagrou a definição
de desenvolvimento sustentável mais utilizada até hoje: o desenvolvimento “que atende às
necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras de atenderem às
suas próprias necessidades”6 (CMMD, 1991, p. 9).
Em 1992, vinte anos após Estocolmo, foi realizada a conferência sobre Meio Ambiente da
ONU, conhecida como Eco-92 ou Rio-92. No seu processo de preparação, foi conferida grande
atenção à questão ambiental. Muitas ONGs e entidades ambientais foram constituídas naquele
período. Durante a realização da conferência, merecem destaque, por um lado, a reunião paralela
de ONGs e associações populares e, por outro lado, o compromisso de governos signatários com a
Agenda 21, um enorme documento composto de 4 seções, 40 capítulos e 2 anexos (a edição
brasileira, publicada pelo Senado Federal, tem 598 páginas), dispondo de objetivos, atividades e
considerações sobre os meios de implementação, de um planejamento de uma cooperação
internacional e de ações nacionais e locais em vista do desenvolvimento, do combate à pobreza e da
proteção do meio ambiente.
Passaram-se mais vinte anos, e a Rio+20 – Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável – teve lugar em um cenário de crises em diferentes instâncias e
ceticismos com relação a avanços. No entanto, na esfera corporativa relatos de um fórum próprio
revelam protagonismo desse setor em ações sociais e ambientais. O lançamento do conceito de
economia verde como instrumento para alcançar a sustentabilidade, com uma abordagem mais
econômica, aponta para a adoção de uma economia de baixo carbono, com eficiência no uso de
recursos e socialmente inclusiva.

6
COMISSÃO MUNDIAL SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso futuro comum. RJ: Fundação Getúlio
Vargas, 1991, p. 09.

59
Os princípios emanados das principais conferências mundiais são apresentados de forma
sintética a seguir:

Quadro 8 – Princípios da sustentabilidade

Compartilhamento da atuação da economia


princípio do desenvolvimento sustentável com a preservação ambiental e o
desenvolvimento entre as gerações.

Cooperação entre Estado e sociedade, por


meio da participação de diferentes grupos
princípio da informação e da participação
sociais na formulação e execução de políticas
ambientais.

Imputação ao poluidor do custo social da


princípio do poluidor pagador
poluição gerada.

Fonte: adaptado de MACÊDO et al. (2015).

Princípios da sustentabilidade aplicados ao mundo corporativo


Os princípios voltados para o desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade também
foram sendo apropriados e elaborados no âmbito das empresas. Alguns dos principais exemplos
são apresentados a seguir.
Os Princípios Ceres7 são adotados por um sem número de organizações corporativas com
atuação mundial. Foram formulados e administrados após o desastre ambiental na Baía de Valdez
promovido pela Exxon, em 1989.
Em 1999, Kofi Annan, então secretário geral da ONU, lançou a proposta do Pacto Global,
que prevê princípios relacionados a direitos humanos, trabalho, meio ambiente e corrupção, a
serem adotados voluntariamente por lideranças empresariais, em prol da construção de um
mercado global mais inclusivo e igualitário (PEREIRA, SILVA e CARBONARI, 2012 apud
MACÊDO et al, 2015, p. 86).
No setor financeiro, destacam-se os Princípios do Equador, lançados em 2005 a partir do
acordo entre dez instituições bancárias. Tais princípios visam nortear a concessão de financiamentos
a grandes projetos considerando um conjunto de exigências socioambientais. Mais recentemente,
na Rio+20, o setor de seguros lançou os Princípios para Sustentabilidade em Seguros (PSI), voltados
para a tomada de decisão no negócio, a cadeia de valor (clientes e parceiros), o governo e a sociedade,
e o reporte de suas ações.

7
Disponível em: https://www.ceres.org/about-us. Acesso em: nov. 2019.

60
Cabe destacar ainda os doze princípios para o consumo consciente, elaborados pela ONG
Instituto Akatu, considerados inovadores em relação aos demais, por retomarem o tema do
consumo, enunciado em 1972 como uma das causas dos problemas ambientais8.

Triple bottom line


Pode-se dizer que a tradução do mundo empresarial para o conceito de desenvolvimento
sustentável cunhado pelo Relatório Brundtland, de 1987, se deu na concepção do triple bottom line,
de 1997, segundo o qual as empresas devem incorporar às suas decisões e ações as dimensões
econômica, social e ambiental (ELKINGTON, 2012).
Segundo Elkington (2012), são três os pilares do desenvolvimento sustentável – as dimensões
econômica, social e ambiental. Esses pilares devem ser considerados como placas tectônicas, que se
deslocam, mostrando que o seu comportamento não é uniforme no tempo. Há entre esses pontos
convergências que devem ser observadas e analisadas. O autor acrescenta que os pilares se
movimentam independentemente uns dos outros – sobre, sob e de encontro um ao outro. Desses
movimentos, surgem “entrelinhas”, nas quais ocorrem os efeitos econômico-ambiental,
socioeconômico e socioambiental, equivalentes aos tremores e terremotos quando as placas se
chocam. São efeitos difíceis de identificar e que variam no tempo e no espaço (ELKINGTON,
2012 apud MACÊDO et al, 2015, p. 97). Essas três dimensões ou pilares do desenvolvimento
sustentável são detalhadas a seguir:

a) Pilar econômico – profit


O lucro é o motor para a sobrevivência da empresa e remuneração do capital investido. Nas
empresas de capital aberto, o lucro (profit) é representado pelo valor da ação; nas empresas de capital
fechado, o lucro corresponde ao valor de mercado da empresa. O desafio empresarial é manter o
crescimento e gerar lucro em um mundo caracterizado pelos recursos naturais finitos e em que as
responsabilidades corporativas estão sujeitas à ampliação crescente.
De acordo com os três pilares do desenvolvimento sustentável, o lucro deve estar associado a
práticas de compras sustentáveis, definição de preços justos, remuneração equitativa dos trabalhadores
e investimentos socioambientais. Para dar conta de tal desafio, pode ser necessário inovar produtos e
serviços com base na análise do ciclo de vida do produto, migrar para novos negócios, ampliar ou
abandonar outros, rever constantemente processos de produção para alcançar maior eficiência.
Ferreira (2003) destaca a importância de contabilizar o uso de recursos naturais, considerando
a extração, o uso, a poluição e a recuperação, já que isso afeta o patrimônio das organizações, daí a
necessidade de serem medidos e relatados.

8
Disponível em: https://www.akatu.org.br/noticia/conheca-os-12-principios-do-consumo-consciente/. Acesso em: nov. 2019.

61
b) Pilar ambiental – planet
Planet é o capital natural. A sua mensuração e avaliação é um desafio. Contabilizar a
riqueza natural consiste em considerar os recursos dos ecossistemas (tais como a flora, a fauna,
os recursos hídricos, o solo, etc.), o seu estoque e uso, ou seja, a valoração econômica dos
serviços ambientais que nos prestam.
Com vistas à gestão dos recursos naturais, Elkington (2012, p. 115) classifica o capital natural
como crítico ou renovável. O capital natural crítico deve ser preservado. Já o capital natural
renovável deve ser utilizado de acordo com sua capacidade de regeneração. Essa classificação
contribui para que as empresas possam analisar insumos e matérias-primas utilizados nos seus
processos produtivos com vistas à tomada de decisões e delineamento de estratégias.
A partir de Elkington (2012), Macêdo e colaboradores observam que:

A essa classificação agrega-se a dos recursos não renováveis, para os quais


busca-se a substituição por produtos renováveis. A água, por exemplo, já é
um recurso crítico em algumas localidades; por isso precisa ser preservado
por meio de medidas tais como racionalização de uso, despoluição e
recuperação de nascentes. Quanto ao petróleo, recurso não renovável na
escala temporal de consumo, buscam-se substitutos para seus derivados, de
modo que seu uso se limite como insumo para produtos sem viabilidade
técnica ou econômica para a substituição, como é o caso da gasolina para
aviação. No caso do pescado, que é um recurso renovável, limita-se a pesca
durante o defeso para evitar sua extinção (MACÊDO et al, 2015, p. 99).

c) Pilar social – people


Na leitura de Elkington (2012), esse é o pilar que menos tem avançado desde as conquistas
de direitos do início do século XX. Para o autor, para refletir sobre o capital social, não basta levar
em conta o “capital humano, na forma de saúde, habilidades e educação, mas deve abranger medidas
mais amplas de saúde da sociedade e de potencial de criação de riqueza (ElLKINGTON, 2012, p.
123), ou seja, a capacidade de estabelecer relações de confiança e prosperidade. Em alguns países,
trata-se também da qualificação de pessoas para o trabalho e o exercício da cidadania, prestando-
lhes serviços básicos que lhes permitam obter renda.

d) Interseção econômico-ambiental
Nessa interseção, ocorre a prática da ecoeficiência, induzindo a uma atitude ECO e ECO
(ecologia e economia), que será melhor detalhada adiante, quando apresentados os estágios da
sustentabilidade corporativa. Medidas de ecoeficiência resultam em ganhos para as empresas que as
adotam, mas não necessariamente para o ambiente. Por exemplo, na região de uma bacia hidrográfica:
as indústrias ali instaladas cumprem os padrões de emissão de efluentes, o que não garante que a

62
qualidade do ambiente esteja preservada, uma vez que o corpo hídrico não suporta, necessariamente,
a quantidade de efluentes lançada por todo o conjunto de empresas que atuam na região.

e) Interseção socioambiental
Para Elkington (2012), essa interseção deve ser apreciada sob os pontos de vista interno e
externo das organizações. No âmbito interno, trata-se das políticas inclusivas, que envolvem, por
exemplo, esforços por maior equidade de oportunidade entre gêneros dentro da empresa. Sob o
foco externo, são ações junto a comunidades da circunvizinhança, voltadas para capacitação,
prestação de serviços de saúde, educação e lazer.

f) Interseção socioeconômica
Trata-se da interseção mais evidente na qual ocorre, por um lado, produção, consumo e
venda, e, por outro, geração de emprego, renda e pagamento de impostos. A busca por
sustentabilidade coloca em questão o padrão de consumo da sociedade, a equidade de
oportunidades e a inclusão social. Empresas têm criado produtos e serviços específicos para dar
conta da necessidade de inclusão, como é o caso do microcrédito para financiamento de
microempreendedores individuais e pequenos negócios familiares.

Mensuração de serviços ambientais


A “Avaliação ecossistêmica do milênio”, encomendada pela ONU, e utilizada por diversos
autores como Almeida (2007), Barbieri (2007) e Pereira, Silva e Carbonari (2012), contribui para o
difícil dimensionamento dos assim chamados serviços ambientais, ou seja, os benefícios
proporcionados pela natureza e dos quais usufruímos, a sua importância e necessidade de conservação.
A valoração econômica dos serviços ambientais que os ecossistemas nos oferecem tem sido a forma
encontrada pelo mundo corporativo para justificar ações de conservação do meio ambiente.
A seguir, o quadro apresenta uma sistematização dos principais serviços ambientais apontados
pelos autores a partir das recomendações da ONU:

63
Quadro 9 – Serviços ambientais

serviços ambientais oferecidos pelos ecossistemas

serviços de
serviços regulatórios serviços culturais serviços à saúde
suprimento

diluição da transmissão de
alimentos ar limpo estético
doenças infecciosas

contemplação e saúde
madeira água pura lazer
mental

estímulo estímulo ao sistema


medicamentos regulação de enchentes
intelectual imunológico

senso de
minerais desintoxicação do solo atividades terapêuticas
pertencimento

carvão solo fértil lugares sagrados atividades recreativas

petróleo regulação do clima

controle biológico de
pragas e vetores

serviços de suporte necessários à produção de todos os serviços ecossistêmicos

produção primária

ciclagem de nutrientes

polinização

decomposição

Fonte: adaptado de Barbieri (2007), Almeida (2007), Pereira, Silva e Carbonari (2012) e Chame (2013).

Práticas sustentáveis
Estágios para a sustentabilidade corporativa
Nesse item, apresentamos uma classificação de ações corporativas para a sustentabilidade
sistematizadas em seis estágios, que são fruto da observação prática das empresas ao longo do tempo.
A seguir, o esquema da figura procura demonstrar como a gestão empresarial vai aos poucos
incorporando exigências legais e mercadológicas, em um contínuo processo de aprimoramento.

64
Figura 3 – Estágios da sustentabilidade corporative

Fonte: adaptado de Barbieri (2007) e Willard (2009).

Primeiro estágio
O primeiro estágio corresponde ao atendimento das exigências legais estabelecidas por
processos de licenciamento ambiental, além da fixação de padrões de emissões atmosféricas e
lançamento de efluentes. A satisfação desses padrões de poluição exige das empresas investimentos
em equipamentos e revisão de processos produtivos, além da adoção de medidas corretivas e
tecnologias de final de tubo, ou seja, voltadas para a minimização da poluição como, por exemplo,
a instalação de filtros.
Segundo Bronz, “o licenciamento ambiental, tal como é desenvolvido no Brasil, é uma
adaptação dos modelos desenvolvidos internacionalmente, que se tornaram requisitos para os
investimentos de capitais estrangeiros e nacionais mobilizados para a construção de grandes

65
empreendimentos no país” (Bronz, 2011, p. 23). Egler (2001 apud Bronz 2011) associa o
surgimento destes instrumentos ao Ato da Política Nacional para o Meio Ambiente (The National
Environmental Policy Act – NEPA), aprovado pelo congresso estadunidense em finais de 1969 e que
estabelece as linhas gerais da política nacional de meio ambiente norte-americana. Basso & Verdum
(2006) associam esse surgimento também à Loi relative à la Protection de la Nature, desenvolvida
na França, em 1976. No caso brasileiro, os autores relacionam a implantação destes instrumentos
principalmente à pressão do Banco Mundial, mais importante financiador de empreendimentos
tais como projetos rodoviários e assentamentos rurais nas décadas de 1970 e 1980 do século XX.
No Brasil, o licenciamento ambiental e a avaliação de impacto ambiental se situam entre os
instrumentos preventivos desenvolvidos com vistas à implantação dos objetivos da Política Nacional
de Meio Ambiente, institucionalizada em 31 de agosto de 1981. De acordo com Mazurec, a rigor,
a viabilidade ambiental de um empreendimento é “testada” por meio da Avaliação de Impacto
Ambiental (AIA) de um empreendimento ou atividade potencialmente poluidora. Essa avaliação é
feita por meio de estudos de impacto ambiental – EIA9 (2012, p. 91). Nesses estudos, são
identificados os impactos socioambientais de um empreendimento. A minimização dos impactos
classificados como negativos se dá por meio do planejamento e da execução de medidas mitigadoras.

Segundo estágio
No segundo estágio, a organização alcança a conformidade legal. Trata-se da etapa na qual a
empresa atende todos os requisitos legais, situando-se dentro dos padrões de poluição, tendo obtido
as devidas licenças ambientais, bem como outorga pelo uso da água e atendimento a toda a legislação
ambiental pertinente nas esferas federal, estadual e municipal. No âmbito social, trata-se do
cumprimento do que restou das leis trabalhistas e das normas de segurança.
A não conformidade legal pode afetar a imagem e a reputação da empresa no mercado. Desse
modo, o respeito à legislação passa a ser percebido pelas organizações como um diferencial
competitivo, que pode ser demonstrado aos clientes e demais stakeholders por meio da obtenção de
certificações por exemplo. Entre as certificações mais difundidas no mundo corporativo e passíveis
de serem obtidas ainda no estágio dois se encontram o selo ISO 9000, referente à qualidade de
produtos e serviços, o selo ISO 14000, que certifica a implantação de sistemas de gestão e auditoria
ambiental nos processos produtivos, e a série OHSAS 18001, que se refere à gestão da saúde
ocupacional e segurança dos trabalhadores.

9
Esses estudos (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) foram estabelecidos pela Resolução CONAMA n. 01/1986.

66
Terceiro estágio
O estágio três trata do uso eficiente dos recursos naturais, que inclui a adoção de tecnologias
limpas e programas de ecoeficiência. Vai além das tecnologias de final de tubo, que minimizam a
poluição. As tecnologias características do terceiro estágio resultam em redução de custos e
aumento da produtividade.
Segundo Schimidheiny (2012), a atitude reativa em relação às exigências ambientais seria a
atitude ECO versus ECO (ecologia versus economia), que deve dar lugar à atitude ECO (ecologia)
e ECO (ecoeficiência), de acordo com os parâmetros estabelecidos pelo World Business Council
for Sustainable Development (WBCSD), representado no Brasil pelo Conselho Empresarial
Brasileiro pelo Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Macêdo e colaboradores explicam que:

Adotar um programa de ecoeficiência significa a organização pensar em


todo o seu processo produtivo, das matérias primas aos produtos
resultantes desse processo. Cabe lembrar que a busca de eficiência é um
objetivo conhecido da administração que se traduz em produzir mais com
menos, mantendo a qualidade do produto ou do serviço comercializado.
Como exemplos de ecoeficiência, podemos citar a racionalização do uso de
energia e água, a substituição de alumínio extraído do ambiente por
retorno das latinhas ao processo produtivo, a redução de resíduos gerados
ao longo do processo produtivo. Trata-se de medidas que perpassam as
entradas, o processo e as saídas de um sistema de produção no qual a
metodologia de produção mais limpa (P+L) tem sido adotada. O princípio
prevalente é que a poluição e resíduos são subprodutos de um processo
produtivo indicativos de desperdício e, portanto, de custos a serem
minimizados (MACÊDO et al, 2015, p. 93).

Ainda no terceiro estágio, está prevista a implantação de um sistema de gestão ambiental


(SGA). De acordo com Javir e Óscar González-Benito (2005), a adoção de um SGA propicia à
organização uma política ambiental claramente definida e “uma estratégia que abrange um conjunto
de procedimentos, ações e iniciativas previamente estruturadas, com responsabilidades alocadas às
pessoas e com instrumentos específicos de controle e medição ambiental” (González-Benito e
González-Benito, 2005, pp. 463-465).

Quarto estágio
No estágio quatro, acrescenta-se às ações anteriores a análise de risco. De acordo com a norma
NBR 31000 (ABNT, 2009), o risco é compreendido como a probabilidade de ocorrência de um
determinado evento e o seu resultado, caso ocorra. Ou seja, risco é a chance de acontecer um desvio

67
em relação aos objetivos definidos que tem efeitos negativos sobre as pessoas, o patrimônio ou o meio
ambiente. Com o gerenciamento de riscos, busca-se identificar os eventos de risco, estimar a sua
probabilidade de ocorrência, avaliar os seus efeitos, tomar medidas e determinar ações caso ocorram.
Os passos iniciais da análise de risco consistem em evitar acidentes. Pode tratar-se de um
conjunto de ações destinadas a lidar com eventos de causa natural, como tufões ou enchentes, ou
eventos ocasionados pela ação humana, como explosões, incêndios, derramamento de óleo.
Um passo mais avançado da análise de risco abrange o gerenciamento de intangíveis. Por
valor intangível, compreende-se algo que não pode ser tocado, como credibilidade, confiança,
honestidade ou reputação. Os intangíveis vêm sofrendo crescente valorização por parte dos
stakeholders e sendo percebidos e mensurados, materializando-se em investimentos e maior valor da
ação no mercado, como aponta Ruschel10. Algumas das principais metodologias para a análise de
risco serão apresentadas mais adiante.

Quinto estágio
No quinto estágio, as empresas avançam na análise do ciclo de vida de seus produtos,
voltando sua atenção para a cadeia produtiva na qual se inserem, “do nascedouro do produto ao
túmulo” (MACÊDO et al, 2015, p. 94).
A análise do ciclo de vida pode ser aplicada tanto a produtos existentes quanto a produtos a
serem criados. Trata-se de analisar as matérias-primas e insumos utilizados na sua produção, bem
como a forma ou tecnologia utilizadas, e ainda aspectos como embalagem, distribuição, uso,
descarte e destino final dos resíduos. O objetivo é produzir produtos e serviços que causem menor
impacto negativo ao ambiente. Alguns exemplos são a prática da venda de refil, induzindo ao
aproveitamento da embalagem original; a mudança do meio de transporte, visando à redução da
emissão de gases que contribuem para o efeito estufa, e o uso de recipientes retornáveis.

Sexto estágio
Finalmente, no estágio seis, a empresa se torna capaz de deixar um legado social na localidade
onde se encontra instalada, por meio da construção de parcerias e da inovação continuada. Esse
estágio corresponde à categoria da empresa cidadã, apresentado anteriormente.
Elkington (2012) identifica as parcerias como o desafio do novo milênio, a busca por fazer
face às demandas de sustentabilidade que a sociedade contemporânea impõe. Nessa fase, o setor
corporativo se une ao terceiro setor para a implementação de ações de responsabilidade social, une-
se ao poder público para, por exemplo, construção de infraestrutura e firma parcerias, até mesmo,
com empresas concorrentes, para viabilizar e minimizar, por exemplo, custos relativos à disposição
de resíduos. Teodósio (2008) analisa outra possibilidade ainda mais ousada, as parcerias trissetoriais,

10
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=5608a2sFghQ. Acesso em: nov. 2019.

68
entre poder público, empresas e sociedade civil organizada. O autor analisa três casos concretos: o
programa Um Milhão de Cisternas11, o projeto Novas Alianças e o programa Além das Letras.
Conclui que tais arranjos, altamente complexos, podem tanto criar espaços de cidadania quanto
reproduzir mecanismos de exclusão sob novas roupagens.
A inovação com foco em sustentabilidade consiste na contínua busca por implantar processos
e comercializar produtos e serviços cada vez mais ecoeficientes.
A importância de uma empresa deixar o seu legado social na região em que atua está relacionada
à crescente percepção por parte da sociedade da ocorrência de cidades fantasmas, que se tornaram
assim após a saída de um empreendimento, de regiões devastadas por desastres industriais, ou da
criação de “feudos” – bairros industriais completamente destoantes do seu entorno – no interior de
comunidades. Para a construção de um bom legado social, destacam-se as parcerias e o planejamento
para que, por exemplo, um canteiro de obras seja transformado em uma escola ou museu. Outra
medida é a capacitação e priorização da mão de obra local nos empreendimentos.

Ponderações sobre a sustentabilidade corporativa


Os avanços rumo à sustentabilidade corporativa não acontecem de forma equânime entre as
empresas. A passagem de um estágio a outro está frequentemente associada às demandas às quais as
empresas têm de fazer face. Por exemplo, empresas exportadoras costumam adotar medidas
socioambientais antes de empresas que atuam apenas no mercado interno, pois precisam se
enquadrar em padrões de demanda internacionais. O mesmo se dá com as empresas grandes, em
comparação às pequenas organizações.
Cabe observar ainda que o fato de uma empresa avançar para o estágio seguinte nem sempre
significa que o estágio anterior tenha sido superado. A tendência é que sigam surgindo novas
exigências legais, como a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que leva as empresas de volta à
não conformidade temporária.
Em vez de serem tomados como excludentes, os estágios da sustentabilidade corporativa devem
ser tratados como cumulativos e complementares, apontando para a necessidade de processos
contínuos de aprimoramento – planejar, executar, verificar e agir (PDCA), presente, por exemplo,
nas normas das séries ISO 9000 e 14000, que se referem à qualidade e ao sistema de gestão ambiental.
À medida que crescem as demandas da sociedade, a legislação ambiental vai-se tornando cada
vez mais específica, tratando de temas antes intocados. Por exemplo, a seleção de fornecedores vem
recebendo atenção por meio de exigências de critérios técnicos e de sustentabilidade, com
programas de pré-qualificação e avaliação voltados para os fornecedores. Nesse sentido, vigora o
princípio da responsabilidade compartilhada, segundo o qual toda a cadeia produtiva pode ser
responsabilizada por um dano socioambiental. Tais exigências são atualmente impostas por bancos

11
Disponível em: http://www.asabrasil.org.br/acoes/p1mc. Acesso em: nov. 2019.

69
financiadores e agências seguradoras sobre as ações empresariais. Os bancos estabeleceram
parâmetros que avaliam a responsabilidade socioambiental das empresas, como é o caso do ISE da
BM&FBovespa (apresentado no módulo 2), que subsidia decisões de investimentos.
Diante do exposto, a sustentabilidade corporativa pode também ser considerada como a busca
de vantagem competitiva. Segundo Porter e Kramer (2006), em um mercado competitivo, cada
empresa necessita traçar suas próprias estratégias de competitividade, criando algo que a distinga das
empresas concorrentes e seja reconhecido pelo mercado. Entre essas estratégias, estão a liderança total
pela prática do menor custo e menor preço e a diferenciação por desempenho superior, com liderança
em qualidade, foco em segmentar o setor e atuação seletiva. Práticas como as relatadas, de ações
socioambientais e conformidade legal, podem ser compreendidas como estratégias competitivas de
diferenciação ou de foco adotadas pelas organizações em prol da sua manutenção no mercado.
Desse modo, os estágios da sustentabilidade corporativa ora apresentados e ponderados
demonstram como, ao longo do tempo, as empresas foram incorporando ações socioambientais
e de responsabilidade social.

Gestão sustentável como filosofia de bons negócios


Retorno intangível e gestão do risco corporativo
Como foi exposto anteriormente, no estágio quatro da sustentabilidade corporativa, o risco
é compreendido como a probabilidade de ocorrência de um evento e o seu resultado, caso ocorra.
Com o gerenciamento de riscos, busca-se identificar os eventos de risco, estimar a sua probabilidade
de ocorrência, avaliar os seus efeitos, tomar medidas e determinar ações caso ocorram. Esse tema
ganhou bastante visibilidade por ter sido anunciado como atribuição dos conselhos de
administração, no Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC:

Gerenciamento de riscos: o Conselho de Administração deve assegurar-se de


que a Diretoria identifique preventivamente – por meio de um sistema de
informações adequado – e liste os principais riscos aos quais a sociedade está
exposta, sua probabilidade de ocorrência, bem como as medidas e os planos
adotados para sua prevenção ou minimização (IBGC, 2007, item 2.38).

Os passos iniciais da análise de risco consistem em evitar acidentes. Um passo mais avançado
da análise de risco abrange o gerenciamento de intangíveis (tais como credibilidade e reputação). A
seguir, apresentamos algumas das principais metodologias para a análise de risco.

70
De acordo com o sócio-diretor Marcelo Forma, da ICTS Global, uma empresa de consultoria,
auditoria e serviços em gestão de riscos de negócios, o gerenciamento de riscos contempla os seguintes
passos: identificação de riscos potenciais, priorização dos riscos e mitigação dos riscos.
Para fins de identificação e classificação de riscos, o IBGC propõe uma categorização segundo
a origem (interna ou externa), a natureza dos riscos (estratégicos, operacionais ou financeiros) e o
tipo, conforme a tabela a seguir:

Quadro 10 – Classificação dos eventos de risco

origem dos descrição natureza do risco


tipos
eventos do evento estratégico operacional financeiro

macroeconômico

ambiental

externo social

tecnológico

legal

financeiro

ambiental

interno social

tecnológico

conformidade

Fonte: IBGC (2007, p. 18).

A categorização segundo a origem do risco auxilia a empresa a definir a abordagem a ser adotada
para o seu tratamento, com maior probabilidade de atuar, preventivamente, em riscos de origem interna.
Quanto à categorização de acordo com a natureza do risco, são considerados estratégicos
aqueles associados à perda substancial de valor econômico da empresa. Já os riscos classificados
como operacionais são aqueles que se relacionam com a degradação ou interrupção total ou parcial
das atividades da empresa, com o consequente impacto negativo na sua reputação. Por fim, os
eventos relacionados à gestão do fluxo de caixa ou à confiabilidade das informações transmitidas
são categorizados como riscos financeiros.

71
A definição de tipos para fins de categorização dos riscos é apresentada no quadro a seguir:

Quadro 11 – Tipos de riscos corporativos

tipos de riscos

financeiro perda de vendas, entrada de novos produtos, política fiscal

tecnológico falha, indisponibilidade ou obsolescência de instalações e equipamentos

ambiental danos naturais ou antrópicos com impactos sobre o ambiente

social danos com impactos sobre pessoas

conformidade falta de habilidade ou disciplina da organização para cumprir a legislação

Fonte: IBGC, 2007.

Cabe ressaltar que a identificação e a categorização de eventos de risco variam conforme a


empresa e o ramo de atividade. À classificação por tipo, é possível acrescentar a categorização
reputacional, que se refere aos danos causados à imagem da empresa, à sua credibilidade.
O passo seguinte é a análise da probabilidade de ocorrência de cada evento de risco,
posteriormente à sua identificação. A seguir, o quadro se presta a subsidiar esse tipo de análise.

Quadro 12 – Instrumento para Análise de Riscos da Empresa

eventos probabilidade impacto análise prioridade ação

1 2 3 4 I II III IV

Fonte: adaptado de IBGC (2007).

Na coluna “eventos”, devem ser listados os eventos identificados como portadores de risco
potencial para a empresa. Por exemplo, desabastecimento de energia elétrica, paralisação dos portos,
paralisação dos trabalhadores encarregados de transporte de cargas, aumento das taxas de juros, perda
de mão de obra para o mercado, greves, paralisação de equipamentos, desmatamento, entre outros.

72
Na coluna de “probabilidade”, deve ser assinalado o grau de probabilidade de ocorrência de um
evento, em que o grau 1 indica a menor probabilidade. Do mesmo modo, na terceira coluna, assinala-
se o grau de impacto, classificando o baixo impacto como I, e o impacto crítico como IV. Para cada
um desses atributos, pode ser elaborada uma escala quantitativa ou qualitativa, de modo a estabelecer
critérios mais concretos para a classificação do grau, seja de probabilidade ou de impacto.
Para a coluna “análise”, contribuem os graus atribuídos à “probabilidade” e ao “impacto”,
que são ponderados para a classificação do risco em “baixo”, “moderado”, “sério” e “crítico”. O
risco é considerado baixo quando obtém pontuações 1, em probabilidade, e I, em impacto, ou ainda
1 e II, ou 2 e I. Já o risco crítico ocorre quando o impacto é de grau IV, conjugado com
probabilidade de grau 3 ou 4.
Essa classificação atua como subsídio para a priorização de eventos em relação aos quais há
necessidade de ações imediatas, preenchendo a coluna “prioridade”. Na coluna “ação”, são descritas
as medidas a serem adotadas para mitigação dos riscos.
O IBGC (2007) indica quatro formas possíveis para tratamento dos riscos. A primeira delas
é evitar o risco, optando pelo não envolvimento no risco ou retirada da situação (desfazendo-se de
uma unidade do negócio, por exemplo). Uma segunda opção é a aceitação do risco, retendo-o no
nível em que se encontra ou reduzindo-o por meio de medidas para minorar a sua probabilidade
de ocorrência ou os seus danos, ou transferindo ou compartilhando a probabilidade de risco pela
contratação de seguros. Uma terceira forma se dá por meio de prevenção e redução de riscos e de
danos, com medidas para redução da sua probabilidade de ocorrência e também por meio da
elaboração de um plano de controle para remediação dos danos, em caso de ocorrência. A quarta
forma possível de lidar com riscos é capacitar a organização para identificá-los, antecipá-los,
mensurá-los e mitigá-los (IBGC, 2007, pp. 24-25).

Modelos de avaliação de sustentabilidade


Os modelos de avaliação de sustentabilidade foram elaborados para auxiliar empresas a
organizar e reportar suas ações à sociedade. Existem muitos modelos disponíveis, como foi visto ao
longo desta apostila, como o Balanço Social, os indicadores Ethos para negócios sustentáveis e
responsáveis, a Global Reporting Initiative (GRI), o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), o
selo ISO 26000, entre outros.
Cabe observar que nenhum dos modelos existentes é capaz de medir a efetividade
socioambiental das ações empresariais, ou seja, os seus resultados sobre ecossistemas ou
comunidades, ou ainda o impacto positivo de tais ações sobre o desempenho corporativo. Ainda
assim, as informações reunidas em tais relatórios são úteis para subsidiar tomadas de decisão no
ambiente corporativo. Trata-se de um conjunto de informações, qualitativas ou quantitativas, cujo
registro sistemático, observando-se os devidos critérios de periodicidade, metodologia de coleta e
tratamento, pode constituir indicadores ou índices.

73
Esses indicadores ou índices tornam possível a realização de diagnósticos, bem como
acompanhamento de ações, avaliação de resultados e comparações de dados. Ou seja, são dados que
contribuem para a compreensão de onde se está e onde se deseja chegar, analisando tendências e
construindo cenários. Avaliar a sustentabilidade, dentro do que é possível no ambiente empresarial, é
estabelecer medidas que informem sobre o estado econômico, social e ambiental de uma dada região
em um momento definido do tempo, como um registro fotográfico, e retornar, posteriormente, e
fazer outro registro de forma semelhante, avaliando os resultados das ações executadas.
Além dos modelos de avaliação apresentados anteriormente, cabe destacar o modelo Estrutura
Internacional para Relato Integrado (RI) – International Framework for Integrated Reporting, IR –12,
lançado em 2013 pelo Conselho Internacional para Relato Integrado (ou IIRC, da sigla em inglês),
uma coalizão global de reguladores, investidores, empresas, definidores de padrões, profissionais do
setor contábil e ONGs. O material foi elaborado ao longo de dois anos, com ampla consulta a
stakeholders e aplicado em 100 empresas, 10 delas, brasileiras, e serve de piloto para o lançamento da
estrutura. A expectativa é que essa estrutura possa se tornar padrão para relatórios corporativos.
Breier, Yung e Caten (2011) realizaram uma análise comparativa de seis modelos de avaliação
de sustentabilidade que contemplam as dimensões ambiental, econômica e social. Constataram que,
para cada dimensão, há três tipos de indicadores, assim tipificados por se referirem a aspectos
ambientais, práticas de gestão e potencial de poluição. Na dimensão econômica, há indicadores de
desempenho financeiro e econômico. Na dimensão social, os indicadores se dividem segundo o tema:
recursos humanos internos, sociedade, responsabilidade pelo produto e relação com os stakeholders.
Os modelos apresentados até aqui servem para o reporte de ações empresariais com o objetivo
de avaliar o seu desempenho para além da dimensão econômica e são utilizados para comunicar à
sociedade as ações empreendidas. Frequentemente, são criticados por não subsidiarem tomadas de
decisão da alta administração das empresas.
Há outro tipo de indicadores – aqueles que mostram o estado da sociedade no tempo e no
espaço, mais comumente elaborados por instituições governamentais ou do terceiro setor.
Agentes que não fazem parte do mundo corporativo também vêm elaborando indicadores de
sustentabilidade. A partir do conceito de desenvolvimento sustentável, foram formulados índices e
indicadores que contemplam as dimensões social e ambiental, muito além da dimensão apenas
econômica, classicamente mensurada pelo Produto Interno Bruto (PIB). Nesse sentido, o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) leva em conta, ao mesmo tempo, o PIB per capita, a longevidade
e a educação, e é adotado por diversos países membros da ONU.
Outro indicador interessante é a “pegada ecológica”, que relaciona a captação de recursos
naturais necessários para a produção de um bem com o seu consumo. Demonstra que, se toda a

12
Ver https://integratedreporting.org/wp-content/uploads/2015/03/13-12-08-THE-INTERNATIONAL-IR-FRAMEWORK-Portugese-
final-1.pdf. Acesso em: nov. 2019.

74
população do planeta consumisse como as populações dos países ditos desenvolvidos, não haveria
recursos naturais no planeta suficientes para satisfazer tais demandas.
A cada dois anos, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), instituto público
da administração federal que é o principal provedor de dados e informações no país, publica os
Indicadores do Desenvolvimento Sustentável (IDS), composto por 62 indicadores agrupados em 4
dimensões de sustentabilidade. Na dimensão ambiental, há indicadores sobre terra, água doce,
oceanos, mares e áreas costeiras, biodiversidade e saneamento. Na dimensão social, há dados sobre
população, trabalho, rendimento, saúde, educação e habitação. A dimensão econômica reúne dados
clássicos do quadro econômico relacionados a padrões de produção e de consumo. Finalmente, a
dimensão institucional apresenta indicadores relativos a acordos globais, conselhos, comitês e
organizações da sociedade civil, articulações interinstitucionais, entre outros.
O Butão inovou ao criar o índice de Felicidade Interna Bruta (FIB), que constituiu um
instrumento para as políticas públicas daquele país. O indicador despertou a atenção da ONU, que
criou um grupo para estudar o FIB, do qual resultou a publicação, em 2012, do World Hapiness
Report. Baseia-se na ideia de valorizar a percepção dos indivíduos, em vez dos seus bens e
rendimentos. O FIB mede 9 dimensões: bem-estar psicológico, uso do tempo, vitalidade da
comunidade, diversidade cultural, saúde, educação, diversidade e resiliência ecológicas, padrão de
vida e boa governança.
Durante a conferência da ONU para o meio ambiente, a Rio+20, foi lançado o Inclusive
Wealth Index (IWI), traduzido como índice de enriquecimento inclusivo. O IWI conjuga variáveis
relativas aos capitais econômico, natural e social com a taxa de crescimento demográfico, em uma
perspectiva de longo prazo.
Apesar da proliferação de diversos tipos de índices e indicadores, é possível constatar que
ainda não existe um indicador amplamente aceito para mensurar o chamado “capital natural”, isto
é, a dimensão propriamente ambiental da sustentabilidade. Faz-se necessário mensurar o impacto
temporal e espacial da aplicação de toda nova tecnologia para que seja possível corrigir rumos.

75
CONCLUSÃO

Atualmente, a população mundial é impactada por desastres ambientais causados pela


poluição proveniente da industrialização e da urbanização, pela escassez de recursos naturais, bem
como pela pobreza e pela desigualdade crescentes, associados a eventos climáticos de intensidades
nunca registradas. Todos esses fenômenos têm tido enorme repercussão na opinião pública. Além
disso, a comunidade científica desenvolveu estudos que relacionam a ação do ser humano com a
degradação do meio ambiente. Esses fatores contribuíram para que se atingisse um nível de
consciência ambiental capaz de gerar uma pressão constante sobre legisladores e empresas. Nos
últimos anos, foram aprovadas leis de proteção ambiental, e empresas foram-se adequando para
atender às necessidades do mercado, agora contando com clientes e consumidores desejosos de
reduzir os impactos negativos da ação humana na natureza e nas suas próprias vidas.
Ao mesmo tempo, a construção de uma vida ética no âmbito das diferentes atividades sociais
tem-se constituído em um dos mais importantes desafios do mundo contemporâneo.
Por meio de uma análise crítica acerca da problemática de fundamentação da ética, tratando
das suas condições de legitimação e viabilização, procurou-se descortinar melhores perspectivas de
caminhar em direção a uma sociedade com melhor qualidade de vida para todos.
A efetivação de uma conduta ética depende de esforço individual e coletivo, de construção
participativa, de integração das dimensões da ética, da política e do conhecimento técnico-
científico – o que não pode prescindir de uma abertura à alteridade, e do respeito à diferença e
aos direitos humanos. Sem dúvida, tais esforços podem garantir, em nível individual, uma melhor
autorrealização no trabalho e, em nível institucional ou empresarial, uma maior credibilidade e
prosperidade. Percorrer esse caminho significa repensar, perpetuamente, as condições de
realização dos indicativos éticos em cada contexto, perseguindo um “horizonte ético”.
As formas de implementação dos princípios éticos precisam ser sensíveis a cada situação
específica e esse processo não tem por que ter fim. Sempre haverá o que reformular e aprimorar em
direção à implementação da ética que deve nortear a conduta humana bem como a sua
consequência imediata: a responsabilidade social e ambiental.

78
BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, F. Os desafios da sustentabilidade: uma ruptura urgente. 2. ed. Rio de Janeiro,
Elsevier, 2007.

ASHLEY, P. A. et al (org.) Ética e responsabilidade social nos negócios. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

BARBIERI, J. C. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. 2. ed. atual. e


ampl. São Paulo: Saraiva, 2007.

BAUMAN, Z. Modernidade e ambivalência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999.

BOBBIO, N.: A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus-Elsevier, 2004.

BORNHOLDT, W. Governança na empresa familiar. Porto Alegre: Bookman, 2005.

BOWEN, H. R. Responsabilidades sociais dos homens de negócios. Rio de Janeiro: Civilização


Brasileira, 1957.

BREIER, G. P.; YUNG, C. F.; CATEN, C. S. Análise e síntese de modelos para avaliação da
sustentabilidade em empresas. Encontro Nacional de Engenharia de Produção, XXXI, Belo
Horizonte, MG, 2011.

BRONZ, D. Empreendimentos e empreendedores: formas de gestão, classificações e conflitos a partir


do licenciamento ambiental, Brasil, século XXI. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação
em Antropologia Social, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro – PPGAS/UFRJ.
Rio de Janeiro, 2011.

CHAME, M. Saúde silvestre e humana: experiências e perspectivas. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2013.

CHAUÍ, M.: Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1994.

CARROL, A. A three-dimension conceptual model of corporate performance. The Academy of


Management Review, Nova York, v. 4., n. 4., pp. 497-505, 1979.

ELKINGTON, J. Sustentabilidade: canibais com garfo e faca. São Paulo: Makron Books, 2012.

79
FARAH, Flávio. Ética na gestão de pessoas: uma visão prática. São Paulo: EI, 2004

FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 4. ed. Porto
Alegre: Globo, 1977.

FERREIRA, A. C. S. Contabilidade ambiental: uma informação para o desenvolvimento


sustentável. São Paulo: Atlas, 2003.

FREEMAN, E. R. The stakeholders approach revisited. Zeitschrift fur wirtschafts und


unternehmenethik (zfwu), St. Gallen, v. 5. N. 3., pp. 228-241, 2004.

FREEMAN, R. R.; GILBERT JÚNIOR, D. Corporate strategy and search for ethics. Engelwood
Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1988.

FRIEDMAN, M. The social responsability of business is to increase its profits. The New York Times
Magazine, Nova York, p. SM17, 13 set, 1970.

FIORELLI, J. O.; FIORELLI, M. R.; MEDALHAS JR, M. J. O. Assédio moral: uma visão
multidisciplinar. São Paulo: LTr, 2007.

FOUCAULT, M. O sujeito e o poder. In: DREYFUS, H.; RABINOW, P. Michel Foucault: uma
trajetória filosófica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995.

GIDDENS, A. As consequências da modernidade. São Paulo: Unesp, 1991.

GONZÁLEZ-BENITO, J.; GONZÁLEZ-BENITO, O. A study for the motivation of the


environmental transformation of companies. Industrial Marketing Management, Nova York, v. 34,
pp. 463-465, 2005.

GROSSO, Fernando. La gestión del conocimiento en la empresa. In: LINDO, A. P. et al.


Gestión del conocimiento: un nuevo enfoque aplicable a las organizaciones y la universidad.
Buenos Aires: Norma, 2005.

HABERMAS, J. O discurso filosófico da modernidade. Lisboa: Dom Quixote, 1998.

HARVEY, D. Condição pós-moderna. São Paulo: Edições Loyola, 1992.

80
HIRIGOYEN, M. F. Assédio moral: a violência perversa no cotidiano. 2. ed. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2001.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. Guia de orientação para


gerenciamento de riscos corporativos. São Paulo: IBGC, 2007, 48p.

IRIGARAY, H. A. R.; VERGARA, S. C.; ARAUJO, R. G. Responsabilidade social corporativa: o


que revelam os relatórios das empresas. In: Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-graduação
e Pesquisa em Administração, XXXVII., 2013, Rio de Janeiro, Anais. Rio de Janeiro, Anpad, 2013.

KANT, I.: Resposta à pergunta: o que é ‘esclarecimento’ (aufklärung)? 5 de dezembro de 1783. In:
Textos Seletos. Petrópolis: Vozes, 1974.

KANT, I.: Fundamentação da Metafísica dos Costumes. São Paulo: Abril Cultural, 1984. (Col.
Os pensadores).

LOPES, J. S. L. (coord.) A ambientalização dos conflitos sociais. Rio de Janeiro: Relume Dumará:
Núcleo de Antropologia da Política/UFRJ, 2004.

LIPPMANN, E. O assédio sexual nas relações de trabalho. São Paulo: LTr, 2005.

MACÊDO, I.; RODRIGUES, D.; CHEVITARESE, L.; FREICHAS, S.: Ética e Sustentabilidade.
Série Gestão de Pessoas. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2015.

MACHADO FILHO, C. P. Responsabilidade social e governança: o debate e as implicações. São


Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2006.

MATTEN, D.; CRANE, A. Corporate citizenship: toward an extended theoretical


conceptualization. Academy of Management Review, Nova York, v. 30., n. 1., pp. 166-179, 2005.

MAZUREC, B. M. A. Reconhecimento étnico quilombola no licenciamento ambiental. Dissertação de


Mestrado, 2012. Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e
Sociedade, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Instituto de Ciências Humanas e Sociais.

MELO NETO, F. P.; FRÓES, C. Empreendedorismo social: a transição para a sociedade sustentável.
Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002.

81
MELO NETO, F. P.; FRÓES, C. Responsabilidade social & cidadania empresarial: a administração
do terceiro setor. Rio de Janeiro, Qualitymark, 1999.

MILL, J. S. O utilitarismo. São Paulo: Iluminuras, 2000.

MOREIRA, J. M. A ética empresarial no Brasil. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.

OLIVEIRA, J. A. P. Empresas na sociedade: sustentabilidade e responsabilidade social. 2. ed. Rio de


Janeiro: Elsevier, 2013.

PATRUS-PENA, R.; CASTRO, P. P. Ética nos negócios: condições, desafios e riscos. São Paulo:
Atlas, 2010.

PEREIRA, A. C.; SILVA, G. Z.; CARBONARI, M. E. E. Sustentabilidade, responsabilidade social


e meio ambiente. São Paulo: Saraiva, 2012.

PORTER, M.; KRAMER, M. R. Estratégia e sociedade: o elo entre vantagem competitiva e


responsabilidade social empresarial. Harvard Business Review Brasil, São Paulo, vol. 84, nº 12,
pp. 52-66, 2006.

PORTER, M.; KRAMER, M. R. Criação de valor compartilhado: como reinventar o capitalismo


e desencadear uma onda de inovação e crescimento. Harvard Business Review Brasil, São Paulo, vol.
89, n. 1, pp. 17-32, 2011.

ROBBINS, S.; JUDGE, T.; SOBRAL, F. Comportamento organizacional: teorias e práticas no


contexto brasileiro. 14. ed. São Paulo: Pearse Prentice Hall, 2010.

RODRIGUES, D. F. La etica de la responsabilidade social empresarial. Rosario: UNR, 2014.

SCHIMIDHEINY, S. Mudando o rumo: uma perspectiva empresarial global sobre


desenvolvimento e meio ambiente. Rio de Janeiro: FGV, 1992.

SROUR, R. H.: Ética empresarial: a gestão da reputação. Rio de Janeiro: Campus-Elsevier, 2003.

SROUR, R. H. Ética empresarial: o ciclo virtuoso dos negócios. 3. ed. Rio de Janeiro: Campus-
Elsevier, 2008.

STONER, J. A. FREEMAN, R. E. Administração. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1999.

82
TUGENDHAT, E.: Lições sobre ética. Petrópolis: Vozes, 1997.

VIEIRA, S. C. A construção do conceito de desenvolvimento sustentável. In: FONSECA, D. R. R;


SIQUEIRA, J. C. (orgs.). Meio ambiente, cultura e desenvolvimento. Rio de Janeiro: Sette Câmara, 2002.

WAGNER III, J. A.; HOLLENBECK, J. R. Comportamento organizacional: criando vantagem


competitiva. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

WARTICK, S. L.; COCHRAN, P. L. The evolution of the corporate social performance model.
Academy of Management Review, n. 10, pp. 758-759, 1985.

WEBER, M..: Le Savant et le Politique. Paris: Union Genérale d’Éditions, 1959.

WILLARD, B. The sustainability champion´s guide. Gabriola Island: New Society, 2009.

TEODÓDIO, A. S. S. Parcerias trissetoriais na esfera pública: perspectivas, impasses e armadilhas


para a modernização da gestão social no Brasil. Tese (doutorado em administração de empresas),
Escola de Administração de Empresas de São Paulo, Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, 2008.

Bibliografia comentada
BOBBIO, N.: A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Elsevier/Campus, 2004.
Nessa obra, o historiador e filósofo político italiano analisa a relação entre os direitos
fundamentais homem e o Estado moderno, salientando a necessidade de protegê-los e os
desafios para tanto.

CHAUÍ, M.: Convite à Filosofia. SP, Ática, 1994. Unidade 8, Caps. 4 e 5.


Nessa obra, a Professora Dra. Marilena Chauí expõe os principais conceitos discutidos pela
filosofia, da sua origem na Grécia Antiga até a contemporaneidade. No capítulo 4, apresenta
os principais períodos da história da filosofia. No capítulo 5, discute aspectos da filosofia
contemporânea.

LOPES, J.S.L. A ambientalização dos conflitos sociais. Introdução. Rio de Janeiro: Relume
Dumará, 2004.
O livro reúne artigos de pesquisadores da área de Ciências Sociais a respeito de conflitos
sociais que passam a se expressar em termos de disputas em torno da apropriação de recursos
naturais ou que surgem a partir de problemas considerados ambientais.

83
MACÊDO, I.; RODRIGUES, D.; CHEVITARESE, L.; FREICHAS, S.: Ética e sustentabilidade.
Série Gestão de Pessoas. Rio de Janeiro: FGV, 2015.
Essa publicação da FGV constitui a principal referência para elaboração da presente apostila
e tem como um dos seus autores o professor Leandro Chevitarese, responsável pelo curso.
Apresenta os conceitos de ética, responsabilidade social e sustentabilidade, e analisa a sua
aplicação no mundo corporativo.

SROUR, R. H.: Ética empresarial: a gestão da reputação. RJ: Campus-Elsevier, 2003.


Esse livro apresenta os conceitos de ética e de moral, e trata das lógicas que norteiam a tomada
de decisão nos sistemas capitalistas. Esses conceitos remetem ao papel ético das empresas nos
dias atuais, fundamentados por uma série de exemplos tirados da vida cotidiana empresarial.

84
PROFESSORES-AUTORES
Leandro Chevitarese é doutor em Filosofia pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, na área de Ética, mestre
em Filosofia também pela PUC-Rio, na área de Filosofia da Cultura,
Mestre em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social pelo
Instituto de Psicologia/EICOS da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, na área de Ética Ambiental, e graduado em Filosofia pela
UERJ. Atualmente, é Professor Adjunto de Filosofia do
Departamento de Educação e Sociedade da UFRRJ; professor do Curso de Mestrado em Filosofia
da UFFRJ; professor convidado do doutorado da COPPEAD/ UFRJ, também professor convidado
dos cursos de MBA da FGV, lecionando disciplinas como Ética e Responsabilidade Profissional,
Ética Empresarial e Responsabilidade Social, Ética e Sustentabilidade, Filosofia e Sociologia para
Gestores, Ética profissional, etc., e professor convidado do curso de Especialização em Filosofia
Contemporânea (pós-graduação lato-sensu) da PUC-Rio, lecionando as disciplinas Ética e
Subjetividade na contemporaneidade e Teoria Crítica. É um dos autores do livro Ética e
sustentabilidade, da Série Gestão de Pessoas – FGV Management, publicado pela Editora da FGV.

Natalia Morais Gaspar é doutora em Antropologia pelo


PPGSA/IFCS/UFRJ (2008), com tese versando sobre meio ambiente,
gestão participativa, campesinato e política. Atua como consultora do
Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) em
projeto de controle social sobre a indústria do petróleo na região do
pré-sal, com destaque para impactos sobre comunidades tradicionais.
Na Ong Ibase, atuou como pesquisadora na área de controle social
sobre atividades de petróleo e mineração, indicadores de Direitos
Humanos e Cidadania e Recursos Hídricos. Foi bolsista do Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em projeto de avaliação da Política Nacional de Recursos
Hídricos (PNRH). Foi professora substituta do Departamento de Antropologia Cultural do
IFCS/UFRJ e no Departamento de Ciências Sociais da UFJF (MG). Lecionou na FEUDUC
(Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Duque de Caxias), na Pós-graduação em Geografia e
Meio Ambiente, e na FEUC (Faculdades Unificadas Campograndenses), nos cursos de Pedagogia e
Licenciatura em Ciências Sociais. Recentemente, tem publicado sobre a temática do Licenciamento
Ambiental, a partir da experiência em empresas de consultoria.

85

Você também pode gostar