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CONCLUSÃO......................................................................................................................................... 77
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................................... 79
PROFESSOR-AUTOR ............................................................................................................................. 85
MÓDULO I – ÉTICA, MORAL E VALORES
Neste primeiro módulo, será introduzida a temática da ética, bem como as suas distinções em
relação à moral, ao direito, à política e à religião, bem como a trajetória desse conceito no ocidente – da
Grécia antiga à modernidade. Em seguida, o mundo contemporâneo é analisado com ênfase na sua
condição pós-moderna e nos seus desafios éticos. Nesse contexto, apresenta-se a possibilidade de
construção de uma liderança afinada com tais desafios, associando a prática da ética a resultados
empresariais e sedimentando a perspectiva de construir relações de confiança entre empresas, parceiros,
colaboradores e clientes. Por fim, analisa-se a moralidade presente nas organizações brasileiras.
Campo da ética
Ética e moral
Apesar de o senso comum atribuir o mesmo significado aos termos “ética” e “moral”, esse
curso opera com a distinção entre tais conceitos. Para enriquecer a compreensão da diferença entre
ética e moral, realiza-se uma breve revisão histórica sobre a pluralidade de significados associados
aos termos em pauta.
De uma maneira geral, a tradição filosófica compreende a ética como uma reflexão sobre regras
e valores morais. Essa reflexão filosófica teve início na Grécia clássica, período singular da história da
humanidade, no qual surgiram as primeiras teorizações sobre a natureza e as relações humanas. Nesse
sentido, Ernst Tugendhat discorre sobre a pluralidade de significados atribuídos à moral e à ética:
Na filosofia grega, foi Sócrates (470-399 a.C.) quem iniciou a reflexão sobre as normas morais
estabelecidas em um determinado contexto cultural.
Dirigindo-se aos atenienses, Sócrates lhes perguntava qual o sentido dos costumes
estabelecidos (ethos com eta: os valores éticos ou morais da coletividade, transmitidos de geração a
geração), mas também indagava quais as disposições de caráter (ethos com epsilon: características
pessoais, sentimentos, atitudes, condutas individuais) que levavam alguém a respeitar ou a
transgredir os valores da cidade, e por quê (CHAUÍ, 1994, p. 340).
Desse modo, da Grécia antiga aos tempos atuais, em termos filosóficos, a ética pode ser
compreendida como uma atividade reflexiva a respeito das práticas morais, com o objetivo de
estabelecer os melhores valores para nortear a conduta humana. Transpondo essa abordagem para
o contexto empresarial, a reflexão ética se faz presente na medida em que o gestor precisa justificar
as suas decisões perante os seus colaboradores, clientes, parceiros e diante da sociedade como um
todo. O gestor deve ter clareza a respeito dos critérios a partir dos quais as suas decisões são tomadas
e ser capaz de evidenciar tais princípios, fundamentando eticamente as suas deliberações e
assumindo a responsabilidade pelas suas consequências.
Desse modo, a ética, como uma área da filosofia de caráter normativo e com pretensão à
universalidade, quando aplicada ao meio empresarial, é direcionada, especificamente, para fornecer
uma base de fundamentação teórica que confira legitimidade a esse ramo da atividade humana. A
ética empresarial seria a fundamentação teórica para o sistema prescritivo e normativo vigente nessa
coletividade específica – o meio empresarial, que engloba os princípios pelos quais os indivíduos
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desta coletividade devem agir de determinadas maneiras diante das situações que correntemente se
lhes apresentam. Atualmente, há sentidos ainda mais específicos para a ética aplicada, que se
configuram, concretamente, em códigos de ética próprios da empresa X ou da empresa Y. Também
nesses casos, são sistemas normativos, porque visam regular a conduta humana apresentando
fundamentos pelos quais tais regras devem ser seguidas, e com pretensão à universalidade, pois se
aplicam a todos os indivíduos pertencentes àquelas coletividades – as empresas X ou Y.
De forma simplificada, e a partir do exemplo acima sobre os códigos de ética de empresas
específicas, a moral se refere ao conjunto de regras propriamente dito, que deve ser seguido pelos
indivíduos da empresa, enquanto a ética é o fundamento dessas regras – o conjunto de princípios
pelos quais as normas devem ser observadas, a sua justificativa.
Ética e direito
É comum a confusão entre a “ética” e o “direito” como áreas de conhecimento e atuação, já
que ambas tratam da normatização da conduta humana e pretendem contribuir para a ordem social.
No entanto, a área da ética é muito mais ampla do que a do direito. Um indivíduo pode cumprir
todas as leis e, ainda assim, agir de forma antiética.
Enquanto a legislação estabelece o que não pode ser feito, qualificando tais ações como crimes,
delitos ou contravenções, e prevê punições efetivas para os indivíduos que agem contrariando as leis,
a ética se dedica a pensar o que deve ser feito. De fato, é ético cumprir as leis, mas o cumprimento
das leis é apenas uma parte do conjunto de todos os comportamentos e atitudes regulados pela esfera
da ética. Por exemplo, a mentira, o desrespeito e a intriga são comportamentos antiéticos em
diferentes contextos, embora a sua prática não seja passível de punição legal muitas vezes.
Desse modo, na esfera do direito, é possível afirmar que determinadas ações são qualificadas
como contrárias às leis e que os indivíduos que as praticam podem sofrer uma sanção externa – uma
punição estabelecida e aplicada pelo Estado, por meio das suas diferentes instituições, que visa
impedir a prática de novas transgressões.
No entanto, o que impediria uma atitude moralmente condenável, quando invisível aos olhos da
lei? A ação de alguma sanção interna, produzida pela consciência do próprio agente, poderia evitar tal
conduta, ou seja, a ética se refere à consciência moral dos agentes. Nesse sentido, o campo moral é bem
mais amplo do que o campo jurídico, já que engloba um sem-número de aspectos subjetivos e reflexivos.
A ideia de “sanção interna” não é de fácil definição. É possível imaginar outras formas de
sanções externas para além da punição legal, como a simples reprovação exercida por meio de
olhares ou reprimendas verbais, a circulação de rumores e maledicências ou até medidas de exclusão
daquele indivíduo considerado “antiético” por determinado grupo, sem que nada disso passe pelo
âmbito jurídico. No entanto, quando são consideradas essas outras formas de pressão, pode-se supor
que é a consciência moral do sujeito transgressor que faz com ele seja sensível a tais formas de
pressão, de modo a permitir que elas influenciem o seu comportamento – em suma, que esse tipo
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de coerção está indissociavelmente ligado ao plano interno, subjetivo. No campo jurídico, quer a
consciência do sujeito gere nele culpa, quer não, ele será alvo da punição prescrita, que pode até ser
atenuada pela confissão de culpa e pela verificação de arrependimento notório, mas que continuará
a ser aplicada nos termos da lei.
Por exemplo, um gestor que percebe uma oportunidade de executar um “crime perfeito”,
realizar uma ação transgressora que ninguém poderá perceber ou provar – como cometer ou deixar
de reportar um dano ambiental ou um assédio moral – só poderia ser impedido por uma sanção
interna, uma forma de autocensura que influencia a sua conduta.
A reflexão sobre a distinção entre ética e direito também permite considerar a ética como
condição de possibilidade para o aprimoramento das leis, nas quais se fundamenta o campo do
direito. Em uma sociedade democrática, pretende-se que as leis estejam em sintonia com a
atualidade da reflexão ética da sociedade. Nos casos em que isso não acontece, a defesa de princípios
éticos fomenta lutas sociais – como a mobilização de diferentes setores da sociedade ou campanhas
públicas – para a modificação destas leis.
Ética e política
A origem do termo “política” está inquestionavelmente ligada ao termo grego, polis, que significa
“cidade”. Segundo Norberto Bobbio, “política” significa “tudo o que se refere à cidade e,
consequentemente, o que é urbano, civil, público e até mesmo sociável e social” (Bobbio, 2004, p. 954).
Na atualidade, o termo adquire múltiplos significados, alguns deles pejorativos. Por isso, é
preciso resgatar o sentido positivo do termo, na medida em que todo gestor faz política, uma vez
que precisa gerenciar diferentes interesses em uma coletividade. Ao mesmo tempo, pode-se falar da
“política da empresa”, da “política do sindicato” ou de política em sala de aula.
Em um sentido restrito, a política está associada ao Estado e ao direito. Em um sentido mais
amplo, a política se refere à gestão, tanto em esferas muito amplas, como a política internacional,
quanto em esferas mais reduzidas, como a política de uma empresa. De todo modo, a conotação
do termo “política” é clara, dizendo respeito à administração da pluralidade, da diferença.
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A relação da política com a moral ou com a ética não é de fácil definição, como esclarece
Norberto Bobbio:
Além da alusão a Maquiavel e à dissociação entre uma moral de cunho, à época, fortemente
religioso, e o exercício soberano da política pelo Príncipe, podemos pensar em Platão e na sua
elevação da política acima dos planos da moral e do direito. O muito falado rei-filósofo da
República estava, claramente, na sua pretensa sabedoria, acima de qualquer conjunto de leis ou
costumes vigentes na polis ateniense. Esse sentido ideal, quase divino dado por Platão ao exercício
do poder público era, por sua vez, muito distinto do sentido plural, mais atento aos costumes e às
leis vigentes, verificado na democracia ateniense do seu tempo.
Por outro lado, para que haja um bom gerenciamento, é fundamental que haja ética, ou seja, que
a tomada de decisões seja orientada pela busca de objetivos coletivos, social e ambientalmente justos. A
não articulação entre política e ética leva à armadilha maquiavélica, na qual “os fins justificam os meios”.
Desse modo, para uma gestão eticamente orientada, é necessário estabelecer princípios e
valores que se situem fora da esfera da negociação. Em um paradigma democrático, fazer política
com ética significa que nem tudo é negociável. O limite entre o que pode ser negociado e aquilo
que é considerado inegociável deve ser estabelecido por meio de uma análise ética contínua.
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Ética e religião
Em um contexto societário de proliferação de múltiplas formas de religiosidade e de ateísmo,
e ao mesmo tempo de crescimento da intolerância religiosa, faz-se necessário estabelecer,
claramente, a distinção entre religião e ética. Nesse sentido, observa Tugendhat:
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Fundamentação da ética: da Grécia à Modernidade
Aristóteles (384-322 a.C.), por sua vez, nos apresenta uma distinção
entre saber teorético e saber prático (práxis). O primeiro se refere àquilo
que existe ou acontece independentemente de nós (como a natureza),
enquanto o segundo se aplica àquilo que se refere diretamente às nossas
ações (como a ética). Para o filósofo, a ética não pode ser uma ciência
ideal ou exata, mas sim algo que se aprende com a prática de vida, nos
oferecendo a possibilidade de cultivar uma sabedoria aplicada
(phronesis). Ao longo do curso de aprendizado na vida, é fundamental
que o ato deliberativo seja orientado pela prudência, buscando o meio-
termo, a ponderação, tendo em vista o que é bom para si e para os
outros. Isso significa que, em última análise, nossas ações devem ter
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como fim último a felicidade (eudaimonia), mas deve-se ressaltar que a
felicidade que se busca é a felicidade da polis, ou seja, o que se busca é
aquilo que contemporaneamente chamamos de bem-estar social
(MACÊDO et al, 2015, p. 20).
Ética e modernidade
Após um interregno de cerca de mil anos do período medieval – durante o qual prevaleceu
uma moral cristã baseada no Novo Testamento e na exegese da igreja, e coube à filosofia o papel
subalterno de confirmar os dogmas religiosos –, o período do Renascimento, nos séculos XV e
XVI, pode ser caracterizado, do ponto de vista da filosofia, como um retorno do ocidente à
confiança grega na razão. Com a diferença, em relação aos gregos, de que a razão moderna se
comprometeu com a sistematicidade e desenvolveu intenso apreço pelo método, sendo esse quase
um sinônimo do espírito moderno.
O filósofo contemporâneo Jürgen Habermas afirma que a modernidade pode ser
compreendida como um projeto baseado em uma ampla confiança na Razão humana, na
possibilidade de emancipação da humanidade pelo progresso e acesso à verdade. Para tanto, foram
elaborados grandes sistemas especulativos, como um esforço da Razão para sistematizar a
totalidade da realidade ou do mundo.
Desse modo, a humanidade deveria assumir o seu papel na história por meio de um amplo e
contínuo desenvolvimento da racionalidade, como condição para um futuro próspero. Em síntese, a
tarefa do pensamento moderno era conquistar a autonomia e a liberdade crítica que poderiam permitir
novas conquistas, o que criaria condições para a melhoria da vida humana. Segundo Habermas:
Nesse sentido, nos chamados tempos modernos, articulavam-se uma gama de conceitos
constituintes de um “modo de pensar e agir modernos”. Nesse contexto, o desenvolvimento foi
concebido como um processo essencialmente linear, que envolve a racionalização de todos os setores
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da vida humana e a fundamentação da ética se dá na esfera do sujeito racional e autônomo. David
Harvey, comentando Habermas, afirma:
Embora o termo “moderno” tenha uma história bem mais antiga, o que
Habermas chama de projeto da modernidade entrou em foco durante o século
XVIII. Esse projeto equivalia a um extraordinário esforço intelectual dos
pensadores iluministas “para desenvolver a ciência objetiva, a moralidade e a
lei universais e a arte autônoma nos termos da própria lógica interna destas”.
A ideia era usar o acúmulo de conhecimento gerado por muitas pessoas
trabalhando livre e criativamente em busca da emancipação humana e do
enriquecimento da vida diária. O domínio científico da natureza prometia
liberdade da escassez, da necessidade e da arbitrariedade das calamidades
naturais. O desenvolvimento de formas racionais de organização social e de
modos racionais de pensamento prometia a libertação das irracionalidades do
mito, da religião, da superstição, liberação do uso arbitrário do poder, bem
como do lado sombrio da nossa própria natureza humana. Somente por meio
de tal projeto poderiam as qualidades universais, eternas e imutáveis de toda a
humanidade ser reveladas (HARVEY, 1992, p. 23).
Deontologia Kantiana
Kant buscou contornar o “teatro de infindáveis disputas” que caracteriza a reflexão sobre a
ética na modernidade propondo uma nova forma de fundamentação ética.
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Embora acompanhasse a distinção aristotélica entre saber teórico e saber prático, concebidas
por ele como Razão pura teórica (Crítica da Razão Pura, 1781) e Razão pura prática
(Fundamentação da Metafísica dos Costumes, 1785 e Crítica da Razão Prática, de 1788), Kant propôs
uma ética que se afastava das concepções gregas de “ação pautada no conhecimento do Bem”
(Platão), “ação virtuosa em conformidade com a natureza racional” ou “ação voltada para a
felicidade coletiva” (Aristóteles).
Para Kant, a ação ética é aquela realizada estritamente por Dever – um dever, em última
análise, de preservar a capacidade de escolha que nos define como homens e nos diferencia dos
animais. Desse modo, o dever é uma lei geral que nos é oferecida pela nossa própria razão, de modo
autônomo, independentemente de qualquer contexto histórico, religioso ou cultural.
A razão prática é a liberdade como instauração de normas e fins éticos. Se a razão prática tem
o poder para criar normas e fins morais, tem também o poder para impô-los a si mesma. Essa
imposição que a razão prática faz a si mesma daquilo que ela própria criou é o dever. Com isso,
longe de ser uma imposição externa feita à nossa vontade e à nossa consciência, o dever é a expressão
da lei moral em nós, manifestação mais alta da humanidade em nós. Obedecê-lo é obedecer a si
mesmo. Por dever, damos a nós mesmos os valores, os fins e as leis de nossa ação moral e, por isso,
somos autônomos (CHAUÍ, 1994, p. 345).
Para Kant, todo homem traz, em si, a capacidade de distinguir o bem do mal, ainda que,
frequentemente, faça mau uso dessa capacidade. Nesse sentido, cabe à filosofia, o papel de fortalecer
essa capacidade racional-moral, que luta, de um lado, com desejos a ela contrários, originados da
sociedade ou da natureza animal presente no homem, desejos que se beneficiam, por outro lado, da
falta de clareza humana em relação ao que seja, em última instância e em termos universais, o Bem,
a Virtude, a Felicidade, a Justiça.
A lei fundamental da razão pura prática, tal como formulada por Kant em Fundamentação da
metafísica dos costumes, é a seguinte: “Age segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo
querer que ela se torne uma lei universal” (KANT, 1984, p. 129).
Trata-se de uma ética formal, já que é estabelecida uma lei geral que atua como parâmetro
para a legitimação de qualquer conduta que se pretenda adequada. Não há regras específicas (aja
desse modo ou daquele) ou conteúdos fixos, mas um princípio geral de orientação, de aplicação
universal. Uma ação ética é, no fim, aquela que pode ser realizada por todos sem contradição formal.
Entre os exemplos que Kant oferece para a aplicação de sua ética, o mais conhecido é o caso
da mentira. Como explicam Macêdo e colaboradores:
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Nesse sentido, também uma outra formulação do imperativo categórico kantiano pode ser
acionada, na sua relação com a anterior: “age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua
pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente, como fim e nunca
simplesmente como meio” (KANT, 1974, p. 67). Desse modo, depreende-se que tanto o princípio
de universalização da ação quanto o princípio de dignidade da pessoa humana surgem como
critérios para determinar se uma ação é ética.
Kant diferencia a ação praticada em conformidade com o dever, a ação praticada propriamente por
dever e a ação praticada contrariamente ao dever. Macêdo e colaboradores explicam:
O agir por dever se aplica àqueles que agem estritamente por obediência
ao princípio ético descrito; o segundo modo se refere àqueles que agem de
acordo com o dever, mas apenas por conveniência ou porque os resultados
mostram-se oportunamente favoráveis; e o terceiro modo é aquele em que
os indivíduos agem de modo estritamente egoísta, segundo seus interesses,
em prejuízo da humanidade. Isso significa que atos como mentir, roubar,
descriminar pessoalmente ou culturalmente, flexibilizar regras, modificar
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formas de negociação por interesses de ocasião e outros – que não estão de
acordo com o imperativo categórico – são eticamente reprováveis em
qualquer contexto (MACÊDO et al, 2015, p. 23).
Por fim, Kant é autor de uma das mais importantes considerações éticas acerca do uso positivo
do livre-arbítrio, tendo em vista a perspectiva do esclarecimento (Aufklärung), conhecida como “uso
público e uso privado da razão” (KANT, 1974).
Para Kant, todo cidadão tem não somente o direito como também o dever de fazer “uso
público” da sua razão, ou seja, tem o compromisso social e humanitário de refletir, criticamente,
sobre a sociedade em que vive, trazendo sugestões e propostas sempre que necessário, visando ao
aperfeiçoamento da organização da qual faz parte. No entanto, nesse mesmo sentido, deve saber
distinguir esse uso público de um uso privado. Na medida em que exerça um cargo ou função a ele
confiado, o cidadão deve restringir o uso da sua liberdade e saber respeitar as diretrizes e normas
previamente estabelecidas, ao mesmo tempo em que deve realizar constante reflexão sobre tais
diretrizes e normas, tornando pública essa reflexão sempre que julgar contribuir a reformulação dos
procedimentos que julgue eticamente inadequados.
Utilitarismo inglês
Outro importante grupo de teorias éticas, sobretudo em função da sua ampla influência no
mundo corporativo contemporâneo, é o utilitarismo. Elaborado por Jeremy Bentham (1748-1832)
e John Stuart Mill (1806-1873), o utilitarismo tem, no princípio da utilidade, o critério de avaliação
dos atos humanos. De acordo com Bentham (1979, p. 4), “o princípio aprova ou desaprova
qualquer ação, segundo a tendência que tem de aumentar ou diminuir a felicidade da pessoa cujo
interesse está em jogo”, com base no pressuposto de que a felicidade individual está diretamente
relacionada ao bem-estar coletivo. Nas palavras de Mill, o utilitarismo:
Desse modo, em uma abordagem utilitarista, a ação dotada de “maior valor ético” é aquela
que maximiza a felicidade e minimiza o sofrimento, ou seja, a ação que beneficia ao máximo o
maior número de pessoas. Desse modo, “útil” é o que contribui para o bem-estar da coletividade.
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Trata-se de um critério consequencialista, que recorre a uma análise dos resultados prováveis de cada
ação tendo em vista certa definição de felicidade ligada ao bem comum.
Nesse sentido, a ética utilitarista se diferencia da deontologia kantiana, já que a utilidade de
cada ação é avaliada dentro do seu contexto, não havendo diretrizes a priori, como no caso do
imperativo categórico de Kant. Por outro lado, tanto o utilitarismo inglês quanto a deontologia
kantiana têm, como pressuposta, a capacidade humana de analisar, racionalmente, as consequências
de cada decisão. Desse modo, ambas as abordagens se situam dentro do paradigma moderno, que
enaltece a razão como característica distintiva da espécie humana em relação aos animais.
[...] toda atividade orientada pela ética pode subordinar-se a duas máximas
totalmente diferentes e irredutivelmente opostas. Ela pode orientar-se pela
ética da responsabilidade ou pela ética da convicção. Isso não quer dizer que
a ética da convicção seja idêntica à ausência de responsabilidade e a ética da
responsabilidade à ausência de convicção. Não se trata evidentemente disso.
Todavia, há uma oposição abissal entre a atitude de quem age segundo as
máximas da ética da convicção [...] e a atitude de quem age segundo a ética
da responsabilidade, que diz: “Devemos responder pelas consequências
previsíveis de nossos atos” (WEBER, 1959, p. 152).
Desse modo, em A política como vocação, Weber define a ética da convicção como
principialista, ou seja, baseada em princípios essenciais, estabelecidos a priori, sejam eles conceitos
metafísicos, o imperativo categórico de Kant ou o paradigma dos direitos humanos. São princípios
e regras estabelecidos de forma absoluta e incondicional. Na ética da responsabilidade, ao contrário,
a melhor atitude deve ser escolhida levando em conta o contexto de cada ação e os seus prováveis
resultados, de modo a promover a maximização do bem-estar coletivo. Trata-se de uma ética
consequencialista, que enfatiza que devemos planejar nossos atos e responder pelas suas
consequências. Na leitura de Srour:
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No ambiente organizacional, cada um desses modelos oferece vantagens e desafios, que devem
analisados pelos gestores.
A ética da convicção oferece maior garantia quanto ao respeito, por parte das organizações, a
valores fundamentais para o bem-estar coletivo, como os direitos humanos e a justiça
socioambiental. Além disso, esse modelo de gestão ética também pode contribuir para a
manutenção da ordem e do andamento dos processos, bem como do respeito à hierarquia, por meio
do estabelecimento de critérios para padronizar condutas. Ademais, abre espaço para a otimização
de procedimentos, por meio do exercício da razão pública, incentivando uma postura crítica e
propositiva de cada um dos colaboradores. Por outro lado, esse modelo apresenta pouca
flexibilidade para lidar com situações extraordinárias e exceções, já que toma os valores éticos como
princípios essenciais que não se dobram a contextos específicos ou demandas circunstanciais.
Por sua vez, o modelo baseado na ética da responsabilidade oferece maior flexibilidade e um
maior potencial de análise do contexto, apontando para a escolha, em cada caso, da melhor atitude
a ser tomada de modo a considerar os interesses de todos os envolvidos e de toda a sociedade. São
valorizadas a flexibilidade, a agilidade e a otimização dos resultados. Por outro lado, há maior risco
de perda de princípios éticos e de credibilidade, uma vez que decisões podem ser tomadas de modo
precipitado e sem considerar todos os aspectos envolvidos em um contexto mais amplo. Por
exemplo, nas situações em que os interesses de uma corporação podem ser considerados, em alguma
medida, contrários ao bem-estar coletivo – como no caso de barganhas quanto à compensação a
populações atingidas por desastres industriais –, o modelo utilitarista parece fraco na garantia de
direitos fundamentais para a boa convivência em sociedade.
No ambiente corporativo em geral, o mais frequente é que haja uma composição desses dois
modelos de gestão ética. No entanto, cabe ressaltar que não é possível misturá-los, pois são baseados
em critérios antagônicos. Desse modo, faz-se necessária a análise de ambos os modelos e a decisão
por aplicar um deles, de acordo com o perfil da organização ou de seus setores específicos, evitando
a oscilação irrefletida entre um modelo e outro.
Determinadas áreas, que dependem de grande rigor normativo e fidelidade a princípios –
como segurança do trabalho, controle de qualidade de produtos ou serviço, contabilidade fiscal,
etc. – devem ser submetidas à ética da convicção. De acordo com o perfil da empresa, e com a devida
cautela, o modelo da ética da responsabilidade pode ser aplicado a setores como marketing, gestão de
pessoas, estratégia, e assim por diante.
As características e as vantagens e desvantagens de cada um dos modelos de gestão ética se
encontram sistematizadas no Quadro 1, a seguir:
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Quadro 1 – Ética da convicção e ética da responsabilidade
Decidir é: Decidir é:
a) seguir normas baseadas em princípios a) elaborar previsões a respeito do resultado
éticos estabelecidos e das ações e
b) pensar sobre as normas e propor b) responder pelas consequências profissionais
criticamente. e sociais de cada ação.
Vantagens: Vantagens:
garantia de respeito a valores
adaptabilidade a contextos específicos;
fundamentais;
controle, segurança, manutenção do
agilidade, flexibilidade, foco nos resultados e
processo e da hierarquia, e
autonomia dos colaboradores para refletir
maior calculabilidade dos riscos.
e tomar decisões eticamente embasadas.
Desvantagens: Desvantagens:
dificuldade de lidar com exceções e
perda de princípios éticos e de credibilidade, e
emergências, e
tendência a proliferação de mecanismos
de controle do tempo e do desempenho, tendência a perda de controle e imprudência.
gerando desconforto entre colaboradores.
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descrença. O tempo passou e os resultados esperados não foram obtidos, pois as perspectivas de
progresso e prosperidade universais não se verificaram. O modelo do conhecimento científico
moderno e a sua legitimidade passaram a ser postos em questão. A expectativa de que a
fundamentação do conhecimento e da ética modernos contribuíssem para a construção de uma
sociedade justa, democrática e solidária foi interrompida por eventos que marcaram,
profundamente, a cultura ocidental contemporânea. O principal deles foi a catástrofe da Segunda
Guerra Mundial e a insuportável lembrança de acontecimentos como a fábrica de cadáveres de
Auschwitz, promovida pela Alemanha nazista, e os holocaustos instantâneos de Hiroshima e
Nagasaki, capitaneados pelos Estados Unidos da América.
Esse gestor se chamava Adolf Eichmann e era responsável pela operação dos trens que, na
Alemanha nazista, conduziam judeus e minorias indesejadas aos campos de concentração e de
extermínio. Ele foi capturado na América do Sul depois da guerra e, em um incidente
internacional, levado a Jerusalém para julgamento. A pensadora Hannah Arendt, comissionada
pela revista New Yorker para cobrir o julgamento, registrou-o no livro Eichmann em Jerusalém.
Declarou-se espantada diante do fato de que Eichmann alegava inocência; afirmava não ter
feito nada de ilegal, pois apenas obedecia ordens e as cumpria da forma mais eficiente possível;
apenas desejava progredir como oficial. Indagado sobre o seu conhecimento do destino dos
passageiros, repetia: “Minha função era apenas transportá-los; o que acontecia depois não era
assunto de minha responsabilidade (...)”.
Depois da segunda Guerra Mundial, tornou-se cada vez mais evidente, a partir de exemplos
como o caso de Eichmann, que o fato de se ter conhecimento técnico, gerencial, administrativo,
não garante, de modo algum, que se aja com ética em prol do bem comum – o que,
necessariamente, faz retomar a importância da ética na contemporaneidade.
não é mais (nem menos) que a mente moderna a examinar-se longa, atenta e
sobriamente, a examinar sua condição e suas obras passadas, sem gostar muito
do que vê e percebendo a necessidade de mudança. A pós-modernidade é a
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modernidade que atinge a maioridade, a modernidade olhando-se à distância
e não de dentro, fazendo um inventário completo de ganhos e perdas,
psicanalizando-se, descobrindo as intenções que jamais explicitara,
descobrindo que elas são mutuamente incongruentes e se cancelam. A pós-
modernidade é a modernidade chegando a um acordo com a sua própria
impossibilidade, uma modernidade que se automonitora, que
conscientemente descarta o que outrora fazia inconscientemente (BAUMAN,
1999, p. 288).
Outro sociólogo, Giddens (1991, pp. 56-57), prefere a noção de “modernidade tardia” ou
“modernidade radicalizada”, já que não percebe a transição corrente na contemporaneidade como
uma mudança epistemológica ou uma decomposição da epistemologia e da ética, mas sim como
transformações possíveis para além das instituições da modernidade (GIDDENS, 1991, p. 163). Já
Habermas prefere pensar a modernidade como um “projeto inacabado”, sugerindo que deveríamos
“aprender com os desacertos que acompanham o projeto” (HABERMAS, 1992, p. 118).
Perguntas contundentes, que outrora pareceram soluções, caminhos que se entrecruzam,
misturam-se ou desaparecem, respostas em suspensão, desorientação, ansiedade, enfim, a percepção
de toda essa pressão revela um pouco do modo como experimentamos o advento da crise da
modernidade e, com ela, do niilismo. Em termos sociais, o niilismo é a vivência angustiante da perda
de sentido da vida humana, acompanhada de incerteza a respeito dos caminhos a serem seguidos.
Com relação à ética, especificamente, as questões colocadas pelo niilismo podem ser
relacionadas com a radical dificuldade em fundamentar valores, ou qualquer tipo de diretrizes éticas,
em um contexto de profundo relativismo moral e esvaziamento normativo.
No ambiente organizacional, essa dificuldade se revela no desafio de estabelecer princípios
éticos para profissionais que se sentem descrentes em relação a quaisquer valores morais e movidos
apenas por interesses materiais ou individuais. Um dos desafios éticos que se colocam para os
gestores na sociedade contemporânea se refere à relação entre informação e conhecimento. Trata-
se de uma sociedade altamente tecnológica, caracterizada pela dinamização dos processos de
comunicação e informação – uma espécie de sociedade da informação, em alguma medida
dominada pela necessidade de acolher e replicar informação. Nesse cenário, cabe a todos nós, mas
ainda mais fortemente aos gestores, o desfio de construir a capacidade de analisar, criticamente, o
turbilhão de informações recebidas, avaliando a sua veracidade, pertinência e atualidade, em vez de
replicá-las automaticamente. Ou seja, é tarefa ética de cada gestor pensar, criticamente, sobre cada
informação que recebe, transformando-a em conhecimento – um saber fundamentado e justificado.
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Se nos abstemos de cumprir essa tarefa ética, instala-se a dúvida e a desconfiança de estarmos
sendo influenciados por interesses os mais diversos. Para lidar com esses desafios, é importante
aprofundar a compreensão sobre as relações de poder nas quais estamos inseridos, bem como o
papel ético exigido do líder.
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influencia outros colaboradores. Desse modo, uma das principais características de um líder ético é
a coerência entre as suas palavras e as suas ações.
Grosso (2005) propõe refletir sobre o que denomina “brechas de valores”, situações que
acometem os líderes frequentemente. De acordo com ele, tratam-se de inúmeros equívocos que são
cometidos no cotidiano, na esfera da ética prática, chamada pelo autor de “moral cotidiana”. Segundo
Grosso (2005), há quatro dimensões nas quais o comportamento humano se expressa e que podem
gerar contradições entre o comportamento esperado de uma liderança e as suas efetivas ações. São
elas: (a) o que o líder pensa – os valores solidificados na sua consciência –; (b) o que diz – a forma
como esses valores são transmitidos aos demais de modo a influenciar sua razão –; (c) o que faz –
como os valores do líder são traduzidos em ações –; (d) o que demonstra, por meio da linguagem não
verbal, que pode transcender as ações e alterar o seu significado.
Em outras palavras, ainda que se saiba como agir e o que dizer, também é necessário levar em
conta a forma de expressão, o contexto, a reação do interlocutor, escolhendo a forma e o local
adequados para a comunicação.
Atualmente, um líder precisa justificar as suas ações diante de outros colaboradores, da
empresa e da sociedade como um todo. Para tanto, precisa saber porque faz o que faz. Desse modo,
é essencial conhecer a fundamentação ética das suas escolhas, como foi apresentado nas seções
anteriores. A capacidade de refletir criticamente diante de conflitos e dilemas éticos é condição
básica para o exercício de funções estratégicas. Aqueles que não possuem essa capacidade costumam
permanecer em funções que apenas reproduzem padrões previamente estabelecidos.
Desse modo, é possível inferir que os líderes são atores morais, que traduzem, demonstram e
fomentar a cultura ética corporativa, incorporando-a à cultura organizacional.
Abuso de poder
Para Robbins, Judge e Sobral (2010, p. 406), a chave do poder está na dependência. Os
autores formulam o seguinte postulado geral: “Quanto maior a dependência de B em relação a A,
maior o poder de A sobre B”. Se A controla algo que B deseja, B é dependente de A. Ao mesmo
tempo, quanto mais alternativas B possui para substituir o algo desejado, menos B é dependente de
25
A. Se B não possui nenhuma alternativa para substituir o algo desejado, B é totalmente dependente
de A e é passível de sofrer abuso de poder por parte de A.
Para Wagner III e Hollenbeck (2009), o abuso de poder só ocorre quando o exercício do
poder não está orientado para promover o máximo de bem para a maior quantidade de pessoas,
quando a equidade não é praticada e ocorre desrespeito aos direitos e liberdades individuais.
Assédio moral
O assédio moral é uma forma de abuso de poder. No contexto organizacional, pode ser
cometido tanto por líderes quanto por pares, ou ainda por subordinados em relação ao seu superior.
Hirigoyen oferece a seguinte definição de assédio moral:
Fiorelli, Fiorelli e Medalhas Jr (2007, p. 42) apresentam uma definição de assédio moral que
leva em conta a continuidade no tempo do comportamento abusivo. Dessa forma, um descontrole
emocional eventual, que pode ser objeto de um pedido de desculpas, não pode ser classificado como
assédio moral. Os autores destacam alguns aspectos importantes para a identificação desse
fenômeno, conforme apresentado no Quadro 2 a seguir:
26
Entre as várias formas possíveis de assédio moral, Hirigoyen (2001) destaca:
Deformação da linguagem – comunicação com voz neutra, monocórdica, desagradável,
tom de voz que sugere ameaças veladas ou censuras não verbalizadas.
Recusa à comunicação direta – conflito não explícito, no qual o agressor fere a dignidade
da vítima de forma vaga e sem revelar os motivos. Por exemplo, acusa um colaborador de
incompetência sem apresentar fatos e dados.
Desqualificação – trata-se de negar as qualidades de uma pessoa, dirigir-lhe palavras
ofensivas ou atribui-lhe algum apelido pejorativo.
Isolamento e deterioração do ambiente de trabalho – semear a discórdia, insuflando as
pessoas umas contra as outras.
Afronta à competência – desrespeitar a formação e o talento profissional dos
colaboradores, atribuindo-lhes tarefas irrelevantes, inadequadas à sua qualificação ou,
até mesmo, humilhantes.
Indução ao erro – levar uma pessoa a cometer uma falha, confundindo-a com informações
irrelevantes ou inadequadas, criando oportunidades ou pretextos para que seja alvo de
críticas ou rebaixamentos.
Assédio sexual – é uma modalidade de assédio moral que, por conta das suas
especificidades, será melhor detalhada a seguir.
Assédio sexual
Trata-se de “constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual,
prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício
de emprego, cargo ou função”, conforme definido no Brasil pela Lei n. 10.224, do ano de 2001.
Apesar de definido em lei, não há consenso sobre o conjunto de comportamentos que
poderiam ser classificados como assédio sexual. Robbins, Judge e Sobral (2010, p. 410) definem
assédio sexual como “qualquer atividade indesejada de caráter sexual que afeta o emprego da pessoa
e cria um ambiente de trabalho hostil”. Moreira (2002, p. 143), por sua vez, explica que o “assédio
sexual pode se caracterizar, principalmente, por ações, gestos, palavras e atitudes”, e exemplifica:
enviar ou tornar acessível, à vítima, carta, bilhete, e-mail ou outro meio escrito, contendo
um convite ou insinuação de relacionamento sexual;
tocar o corpo da vítima de forma não profissional;
mostrar partes íntimas do próprio corpo para a vítima;
conduzir, guardar ou mostrar material pornográfico no ambiente de trabalho;
convites para eventos sociais e encontros íntimos;
elogios ao corpo da vítima;
declarações de sentimentos;
piadas e brincadeiras inapropriadas sobre o sexo oposto, sobre a vítima ou tema de
natureza íntima
27
Moreira (2002) também aponta duas situações que provam a existência de assédio sexual.
Uma delas é a troca de favores entre o assediador e a vítima, quando há tolerância porque a vítima
recebe ou acredita receber algum tipo de vantagem profissional. A outra é uma situação hostil,
quando o assédio não é tolerado e a vítima passa ser submetida a agressões verbais e humilhações
por parte do autor, frequentemente um superior hierárquico. No entanto, convém lembrar, como
aponta Lippman (2005), que o assédio sexual pode partir tanto de um superior quanto de um
colega, de ambos os sexos, e pode ser caracterizado por apenas uma ação, desde que fundamentado
em provas. Conforme explicam Macêdo e colaboradores:
O crucial é que não se trata de uma simples cantada, pois caso a vítima
não ceda, ela será alvo de comportamentos característicos de abuso de
poder. Por exemplo, ameaças de demissão, transferência de local de
trabalho, perda de promoção ou outras oportunidades profissionais,
isolamento do grupo, exclusão de informações importantes para o
trabalho. Daí o assédio sexual malsucedido transformar-se em assédio
moral, pela repetição de comportamentos que ferem a dignidade humana
(MACÊDO et al, 2015, p. 42).
Por ser tipificado como crime no Código de Processo Penal brasileiro mas também por ser
um grave desvio ético, o assédio sexual pode causar sérios danos à reputação da organização, e
ainda levar o assediador e o seu superior imediato a responderem, judicialmente, pelos seus atos
ou pelas suas omissões.
Robbins (2010) relaciona um conjunto de ações que contribuem para que uma organização
se proteja contra os assédios moral e sexual:
estabelecer, claramente, o significado de assédio moral e de assédio sexual, e informar todos
os trabalhadores;
comunicar aos empregados que a prática de atos dessa natureza pode resultar em demissão
e processo criminal;
estabelecer e transmitir, aos empregados, a forma pela qual podem prestar queixa;
garantir, publicamente, que a pessoa que formaliza uma queixa estará a salvo de retaliações;
notificar, imediatamente, as áreas jurídica e de recursos humanos, tão logo recebida
uma queixa;
realizar esforços para que um inquérito disciplinar seja aberto e os responsáveis sejam
devidamente punidos;
implementar treinamentos para que os empregados compreendam o significado do assédio
sexual, os seus impactos negativos nas pessoas e no ambiente de trabalho, e as suas
consequências disciplinares.
28
Moral, ética e organizações
Moral nas organizações brasileiras
De acordo com determinadas correntes do pensamento social brasileiro, tanto a formação do
Estado brasileiro quanto a moral da sociedade brasileira foram construídos com base nos valores do
patrimonialismo ibero-americano. De acordo com Raymundo Faoro (1977), pode-se apresentar,
sinteticamente, as características da moral patrimonialista brasileira assim:
Autoritarismo dos dirigentes, percebidos como os “donos do poder”, em um tipo de
relações hierárquicas nas quais há uma grande distância entre aqueles que mandam e
aqueles que obedecem.
Políticas públicas, em vez de serem elaboradas e implementadas com vistas à promoção do
bem-estar coletivo, tornam-se um negócio. Trata-se de controlar a sociedade em prol da
manutenção do poder e da garantia de vantagens privadas, em lugar de buscar a melhoria
de resultados sistêmicos em benefício da coletividade.
Práticas de nepotismo e clientelismo são cotidianas entre os chefes, pois a solidariedade
social só ocorre entre os detentores do poder.
Premissa de que o sucesso da organização depende apenas dos seus dirigentes, enquanto
os dirigidos devem ser rigorosamente vigiados e controlados.
Os dissidentes são excluídos por meio da prática do clientelismo (troca de apoio por
proteção) e cooptação (atrair pessoas para as suas metas).
Com vistas a garantir parcela do poder organizacional para interesses de particulares,
são criadas corporações: uniões de pessoas com alta interdependência e baixa
consciência de objetivos coletivos.
A importância de um indivíduo varia segundo o grau de relacionamento que desenvolve
com os dirigentes.
A aplicação de regras segue interesses particulares e corporativos dos dirigentes.
A liderança é exercida com base na cooptação, no clientelismo, no nepotismo e no
banimento dos “inimigos” da empresa.
A moral do jeitinho implica a prática de corrupção em todos os níveis do empreendimento.
Com base nessa abordagem, a moral patrimonialista da sociedade brasileira comporta, por
um lado, a moral da integridade e, por outro, a moral do oportunismo. Na leitura de Srour (2008,
p. 92), a moral da integridade é o “sistema de normas morais que corresponde ao imaginário oficial
brasileiro e que configura o comportamento decente e virtuoso”. Trata-se da moral ensinada em
escolas e igrejas, embutida nos códigos legais e orientadora da mídia mais responsável. Apologética
da virtude e da inteireza, enumera as qualidades que moldam as pessoas de bem.
Em contraponto, a assim chamada moral do oportunismo corresponde ao imaginário oficioso
brasileiro e apresenta em conjunto de traços, tais como: uma pessoa tem de ser “esperta”; o
29
“jeitinho” é uma prática válida para garantir interesses de particulares, colocados acima dos
interesses coletivos; as práticas são dissimuladas e informais, desfrutando da cumplicidade dos mais
íntimos; não vigoram escrúpulos quando se trata de garantir vantagens ou saciar caprichos; práticas
como suborno, engodo e calote são aceitáveis.
No ambiente organizacional, ocorre duplicidade moral semelhante àquela que ocorre na
sociedade brasileira. À moral da integridade e à moral do oportunismo que ocorrem em nível
societário, correspondem a moral da parceria e a moral da parcialidade no interior das organizações.
A moral da parceria é o referencial a ser perseguido, deve orientar o desenvolvimento das práticas
morais nas organizações. As características desses dois tipos de moral organizacional são sintetizadas
no quadro a seguir, adaptadas de Srour (2008, pp. 106-120):
moral da parcialidade
Políticos generalizados e rotulados como "inúteis que desconhecem os riscos", "parasitas que
nunca colocaram a mão na massa" ou pessoas que "não entendem de negócios".
Suspeita-se de irregularidades nos negócios alheios, mas elas são legitimadas no próprio negócio.
moral da parceria
Negócios como acordos que beneficiam todas as partes, tidas como parceiras.
30
Código de conduta
A necessidade de delimitar a esfera de ação e orientar as formas de atuação dos seus
colaboradores tem levado as organizações da sociedade brasileira contemporânea a reunir
documentos sobre a sua ética interna sob a forma de um código. No meio empresarial, é possível
identificar alguns tipos de códigos morais: código moral, código de conduta, código de ética e
código de conduta ética.
O código moral de uma coletividade pode ter, por origem, a religião ou os valores individuais
da liderança. Nesse caso, é obrigatória a adesão de todos para que façam parte da coletividade, de
modo que diferenças individuais não são respeitadas. Desse modo, entende-se não se tratar de uma
titulação adequada para as organizações.
Já o código de conduta se baseia nas experiências vividas por um grupo social ao longo do
tempo. Contém regras que resolvem problemas morais no curto prazo, mas pode apresentar
desdobramentos negativos a longo prazo. Nada garante que tal código tenha passado pelo crivo da
análise ética. Nesse caso, práticas como a sonegação de impostos regular ao longo dos anos podem
resultar em problemas com fiscalização e dívidas no futuro. Desse modo, tal titulação tampouco é
recomendável para o mundo dos negócios.
No caso do código de ética, é possível dispor de regras éticas orientadoras para o
comportamento: honestidade, igualdade, justiça, etc. No entanto, esse modelo ainda não dá conta
de especificidades axiológicas e comportamentais de diferentes grupos, o que pode se constituir em
dificuldades na medida em que não são consideradas as demanda da ambiência no estabelecimento
dos valores de uma coletividade. Trata-se de uma titulação inadequada para organizações.
Finalmente, o título código de conduta ética constitui um código de conduta que é fruto de
numa reflexão ética, estabelecendo regras a partir de princípios eticamente fundamentados e em
diálogo com as demandas do contexto específico. Nesse caso, a prática de qualquer comportamento
indicado no código vai gerar o bem para a coletividade nos horizontes de curto, médio e longo
prazos. Como explicam Macêdo e colaboradores:
Atualmente, os códigos de ética dizem respeito também às ações em relação aos stakeholders,
ou seja, Estado, acionistas, clientes, colaboradores, parceiros, fornecedores, concorrentes e a
31
sociedade de uma maneira geral. Nesse contexto, o código de conduta ética estabelece regras
permanentes para orientar o comportamento de indivíduos e grupos, com atuação frequente em
locais geograficamente distantes. Por meio do código, é possível alinhar condutas para orientar e
manter a implantação de estratégias organizacionais. Acrescenta-se que o comprometimento das
pessoas com os objetivos da organização é uma exigência ética.
Para tanto, faz-se necessária a implantação de um comitê de ética. Esse é o tema que será
tratado a seguir.
Comitê de ética
Trata-se de um comitê constituído por pessoas de conduta ilibada, indicadas pela diretoria
da empresa e eleitas ou legitimadas pelos funcionários. Cabe ao comitê, entre outras atribuições,
julgar e propor punições para pessoas que tenham transgredido as regras estabelecidas pela
organização. Nesses casos, aplica-se o exposto por Macêdo e colaboradores:
Outra atribuição do comitê de ética é identificar fatores que levam à ocorrência de condutas
antiéticas, fomentando ações corretivas que conduzam à sua eliminação. Um dos possíveis
instrumentos para a identificação de casos de desvio de conduta é a realização de auditorias.
A partir das reflexões sobre ética e a sua aplicação no ambiente organizacional apresentadas neste
módulo, cabe investigar as problemáticas da sustentabilidade e da responsabilidade social, para melhor
compreender as transformações e os novos desafios postos às organizações na contemporaneidade.
32
MÓDULO II – RESPONSABILIDADE SOCIAL
E GOVERNANÇA
As questões relativas à ética que acabaram de ser levantadas podem parecer, sobretudo antes
de aplicadas a casos concretos, pouco empresariais. No entanto, não é difícil notar que elas estão na
base dos atuais discursos éticos, cada vez mais disseminados, baseados nas noções de
responsabilidade social e ambiental.
Este módulo apresenta, na sua primeira unidade, os fundamentos da responsabilidade social,
partindo de uma consciência individual até a consciência corporativa. As organizações sociais são
tomadas como impulsionadoras da redução de desigualdades, do abuso econômico e do uso
predatório dos recursos naturais. Em seguida, expõem-se ferramentas, modelos e práticas para a
prestação de contas social e são apresentadas algumas regulamentações que a orientam. Por fim,
discute-se como o esforço das corporações em assumir a sua responsabilidade perante a sociedade
se materializa na incorporação dos ditames da responsabilidade social à governança, destacando a
gestão da reputação como ação de acompanhamento da conduta ética empresarial. O módulo
termina com um alerta para a influência do nível de desenvolvimento moral da organização sobre
o seu efetivo engajamento em programas e projetos sociais.
Outro marco importante dessas ideias data de 1919, quando ocorreu o julgamento do
confronto entre acionistas minoritários e Henry Ford – presidente e acionista majoritário da Ford
Corporation – recuperado por Ashley e colaboradores (2005). O objeto da disputa foi a decisão
tomada por Henry Ford, no ano de 1916, de deixar de distribuir parte dos dividendos para investir
em capacidade de produção, aumento de salários e criação de um fundo de reserva com vistas a
suportar possíveis quedas de receita, em um cenário de tendência de redução no preço dos
automóveis. Tratava-se de uma ação clara de responsabilidade social, com foco no público interno
34
da empresa. No entanto, a Suprema Corte de Michigan foi favorável aos acionistas minoritários, os
Dodges, sob a justificativa de que a corporação existia para o benefício dos seus acionistas, e de que
a prática de filantropia corporativa e investimento em imagem e reputação poderiam ser realizados,
desde que contribuíssem para os lucros dos acionistas.
O primeiro livro com a expressão “responsabilidade social” no título foi publicado em 1953,
por Bowen, e traduzido no Brasil em 1957. Como destacam Wartick e Cochram (1975), o livro
destaca o dever moral, por parte dos administradores de empresas, de implementar políticas, seguir
cursos de ação e tomar decisões que estejam de acordo com os objetivos e valores da sociedade na
qual essas organizações se inserem. Embora o termo stakeholders ainda não tivesse sido apropriado
pelo vocabulário da gestão empresarial, Bowen (1957) defende que os responsáveis por uma
empresa atuem como curadores não só dos acionistas mas também de fornecedores, colaboradores,
consumidores, comunidade vizinha e da sociedade em geral.
Além disso, esse autor ainda salientava a importância do cuidado com as condições de
trabalho, não apenas materiais mas também psicológicas, atentando para o ruído, a higiene, a
segurança, o ritmo de trabalho e a quantidade de horas trabalhadas por cada indivíduo. Finalmente,
recomenda também a oferta de oportunidades de progresso aos colaboradores dentro da
organização, a sua participação no empreendimento, o estímulo à criatividade, ao bom
relacionamento entre colegas e administradores e o respeito à dignidade humana.
Na recomendação de Bowen (1957) quanto à realização de alguma forma de contas sociais,
podem ser encontradas raízes dos balanços sociais e relatório de responsabilidade social elaborados
por empresas contemporâneas:
35
Independentemente dessa categorização e do porte ou localização das organizações, elas são
entidades sociais. Enquanto tais, devem somar um capital social ao seu capital financeiro. Trata-
se de basear os seus relacionamentos com outros agentes em um conjunto de normas e valores
éticos, sociais e políticos.
A ideia da responsabilidade social começou a tomar forma mais concreta sob a forma de ações
com a surgimento do terceiro setor, a partir da segunda metade do século XX, nos Estados Unidos
da América. O terceiro setor é constituído por organizações sem fins lucrativos, como organizações
não governamentais (ONG), organizações da sociedade civil sem fins lucrativos (OSCIP),
institutos, fundações, etc. Surgiu como um contraponto ou uma espécie de mistura entre os dois
setores clássicos da economia – o setor privado, tipicamente formado por empresas, e o setor
público, representado pelo Estado.
Expandindo o conceito de responsabilidade social, Freeman e Gilbert Júnior (1988) pensam
em termos de responsividade social, como que um ponto de partida da responsabilidade social rumo
à estratégia empresarial, entendendo responsividade como a capacidade de uma organização de dar
respostas aos anseios dos stakeholders. Freeman (2004) destaca a necessidade de identificação e
priorização de stakeholders-chave, de modo a promover o balanceamento sistemático das suas
necessidades. Desse modo, torna-se possível integrar as expectativas e os valores prezados por esses
públicos à estratégia da empresa, passando a constituir o seu compromisso social.
36
Figura 1 – A empresa e os seus stakeholders
Para Srour (2008), uma empresa ética é aquela que subordina as suas estratégias e atividades a
uma prévia reflexão ética e age de forma socialmente responsável. Cabe observar que a responsabilidade
social vai ajudando a forjar a identidade das empresas, inserindo-as na ética empresarial, que significa a
lisura do comportamento da empresa diante dos seus diferentes stakeholders.
A identidade da empresa é uma espécie de patrimônio moral. A sua reputação é um valor
arduamente construído e pode ser dilapidada por ações socialmente irresponsáveis, que podem
comprometer a manutenção dos seus empregados, clientes e fornecedores.
Desse modo, no atual cenário, as empresas alcançaram um nível de visibilidade que as torna
verdadeiras cidadãs em todas as esferas em que atuam.
Cidadania corporativa
O termo “cidadão”, de acordo com o Dicionário Houaiss (2006), diz respeito ao “indivíduo
que, como membro de um Estado, usufrui de direitos civis e políticos garantidos pelo mesmo
Estado e desempenha os deveres que, nesta condição, lhe são atribuídos”. Quando empresas
desejam alcançar o status de empresas cidadãs, fazem-no por meio das práticas de responsabilidade
37
social. Tendo como referência o conceito de “cidadão”, trata-se do conjunto de esforços por meio
dos quais as empresas assumem os seus direitos e deveres.
Na visão de Melo Neto e Fróes (1999), uma empresa cidadã é aquela que aporta recursos
financeiros, tecnológicos e humanos a projetos comunitário de interesse público, tornando-se
merecedora de respeito, confiança e admiração por parte dos clientes. Além disso, Macêdo e
colaboradores (2015: 55) argumentam que a empresa cidadã traz para junto de si os demais
stakeholders nas esferas econômica e ambiental.
Seguindo uma tendência de associar o papel da empresa cidadã a práticas filantrópicas,
Matten e Crane (2005) entendem que a cidadania corporativa se refere ao papel da corporação na
gestão de direitos de cidadania para os indivíduos. Os autores atribuem três papéis à empresa cidadã
no seu exercício de cidadania junto ao elemento humano, expostos no quadro a seguir:
cidadania corporativa
De acordo com Matten e Crane (2005), as empresas cidadãs não exercem tais papéis com
exclusividade, mas em conjunto com outros agentes sociais. No papel de provedora, a empresa
poderá ou não suprir os indivíduos quanto aos seus direitos sociais. No que se refere ao conjunto
de direitos civis, uma corporação pode capacitar ou restringir esses direitos. Quando se tratam de
direitos políticos, a corporação atua como um canal adicional para o seu exercício.
Além disso, as empresas cidadãs devem realizar esforços para que os seus colaboradores
também se constituam em verdadeiros cidadão, por meio de programas de capacitação e
desenvolvimento intelectual e profissional, ou por meio de programas de educação para a cidadania
e a diversidade, formação ética ou em urbanidade.
Nesse sentido, empresas cidadãs são aquelas que realizam programas e projetos de
responsabilidade social, direcionados tanto ao público interno – colaboradores e os seus familiares –
quanto ao público externo – clientes, fornecedores e demais stakeholders. Desse modo, tal conjunto
de ações pode ser designado como cidadania corporativa.
38
Cidadania corporativa é um conjunto de programas de
projetos de responsabilidade social direcionados aos
públicos externo e interno de uma organização.
Balanço social
No Brasil, a fundação do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), em
1981, foi fundamental para a intensificação de práticas e difusão de ações de responsabilidade social
empresarial. Trata-se de uma “organização da cidadania ativa”1, sem fins lucrativos, fundada pelo
sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, e os seus companheiros de exílio, Carlos Afonso e Marcos
Arruda, ao retornarem ao Brasil no período de redemocratização, após da ditadura instaurada pelo
golpe empresarial-militar de 1964.
O Ibase foi pioneiro na tarefa de propor um modelo de balanço social e hospedou o balanço
social de diversas empresas, desde os anos 1990 até 2008, quando deixou de hospedar esses balanços
sociais na sua página na internet, passando as empresas aderentes a utilizar outros meios de divulgação.
Outra referência importante nessa área é o conjunto de protocolos denominado de
indicadores Ethos para negócios sustentáveis e responsáveis. Esses indicadores são apurados pelo
Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (Ethos), fundado em 1988, a partir de
questionários preenchidos por representantes das empresas interessadas. Vale considerar que tais
protocolos estão em constante atualização, em sintonia com as novas demandas éticas da sociedade,
da sustentabilidade e do mercado. Por isso, é importante sempre acessar o site2 da instituição para
acompanhar e discutir as mais recentes inovações. A seguir, apresentamos um quadro ilustrativo
dos elementos constituintes dos indicadores Ethos em 2015.
1
Disponível em: https://ibase.br/pt/quem-somos/ Acesso em: nov. 2019.
2
Disponível em: https://www.ethos.org.br/ Acesso em: fev. 2021.
39
Quadro 5 – Indicadores Ethos para negócios sustentáveis e responsáveis
prestação de contas
governança e
práticas de operação e práticas anticorrupção
gestão
gestão envolvimento político responsável
sistemas de gestão
relações de trabalho
práticas de trabalho saúde e segurança no trabalho e qualidade
de vida
mudanças climáticas
impactos do consumo
40
Relato de sustentabilidade e Indicadores GRI
Em 1988, foi criada a organização denominada Global Reporting Initiative (GRI), a partir
de uma força tarefa criada pela Organização das Nações Unidas (ONU). A GRI formulou um
modelo que detalha diretrizes para o relato de sustentabilidade das empresas, de modo a
possibilitar a sua padronização internacional.
De acordo com dados da própria organização, que tem representação em vários países,
inclusive no Brasil, até 2010, cerca de mil empresas, em mais de 60 países, declararam utilizar essa
estrutura nos seus relatórios.
O modelo em geral é composto por dois blocos de conteúdos, divididos em conteúdos-padrão
gerais e conteúdos-padrão específicos. Os primeiros demandam informações sobre as políticas de
gestão nas categorias estratégia e análise, perfil organizacional, aspectos materiais identificados e
limites, engajamento dos stakeholders, perfil do relatório, governança, ética e integridade.
Os conteúdos-padrão específicos da GRI, na sua versão G4, encontram-se divididos nas
categorias econômica, ambiental e social. Nessa última, os conteúdos são divididos nas
subcategorias práticas trabalhistas e trabalho decente, direitos humanos, sociedade e responsabilidade
pelo produto. É muito importante considerar que tal modelo está em contínua atualização, seguindo
as novas exigências e perspectivas internacionais da sustentabilidade. Deste modo, é fundamental
acessar o site3 da instituição para estar em sintonia com a novas demandas, que cada vez mais são
apresentadas como normatizações para otimizar seus resultados. Segue um quadro ilustrativo de um
panorama geral das preocupações da GRI.
categoria social
categoria Categoria
Práticas
econômica ambiental direitos responsabilidade
trabalhistas e sociedade
humanos pelo produto
trabalho decente
saúde e
desempenho comunidades
materiais emprego investimento segurança do
econômico locais
cliente
rotulagem de
presença no relações não combate à
energia produtos e
mercado trabalhistas discriminação corrupção
serviços
3
www.globalreporting.org/Pages/default.aspx. Sobre as recentes atualizações, veja, por exemplo, a seguinte notícia do
IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) de outubro de 2020: https://ibgc.org.br/blog/GRI-em-portugues.
41
liberdade de
impactos
saúde e segurança associação e políticas comunicação de
econômicos água
no trabalho negociação públicas marketing
indiretos
coletiva
diversidade e trabalho
emissões igualdade de análogo ao conformidade conformidade
oportunidades escravo
igualdade de avaliação de
efluentes e remuneração entre práticas de fornecedores
resíduos homens e segurança em impactos à
mulheres sociedade
mecanismos de
avaliação de queixas e
produtos e fornecedores em direitos reclamações
serviços práticas indígenas relacionados a
trabalhistas impactos na
sociedade
mecanismos de
queixas e avaliação de
reclamações fornecedores
conformidade
relacionadas a em direitos
práticas humanos
trabalhistas
mecanismos
de queixas e
reclamações
transportes
relacionados
a direitos
humanos
geral
avaliação
ambiental de
fornecedores
mecanismos
de queixas e
reclamações
relacionadas a
impactos
ambientais
42
Apesar de não obrigatória, exceto para empresas concessionárias de serviços públicos
submetidas a modelos de agência reguladoras, é crescente a tendência à divulgação de ações,
programas e projetos de cunho ambiental ou social, inclusive com os valores destinados a tais
iniciativas, provenientes do balanço patrimonial ou outras demonstrações financeiras das empresas.
Desse modo, a divulgação de relatórios de sustentabilidade socioambiental é realizada por um
número de empresas cada vez maior. A tendência é crescente porque, nesse cenário, a não divulgação
de um balanço desse tipo termina por criar dúvidas sobre a lisura da atuação de uma empresa,
comprometendo a sua reputação e, com isso, a sua credibilidade.
Além disso, não basta divulgar tais relatos da prestação de contas à sociedade. É preciso que
sejam elaborados com qualidade e esmero, ou seja, não basta elaborar e divulgar tabelas com
números e eventos. É necessário ter cautela para evitar erros ou imprecisões nas informações
fornecidas, que devem estar organizadas de modo a facilitar a compreensão do público.
Irigaray, Vergara e Araújo (2013) realizaram um estudo com as 100 maiores empresas listadas
na BM&FBovespa e constataram que 23 delas apresentam uma visão equivocada a respeito da
responsabilidade social corporativa, confundindo ações de filantropia com o seu próprio negócio e
incorporando ações voluntárias dos seus colaboradores como se fossem as suas. De acordo com os
autores, a ausência de auditoria independente para ratificar informações apresentadas nos relatórios
de responsabilidade socioambiental também contribui para que empresas façam a sua própria
interpretação dos dados relatados.
Rodrigues (2014), responsável por um estudo sobre os relatórios de sustentabilidade
socioambiental da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), publicados pelas empresas
distribuidoras de energia elétrica da região Sudeste do Brasil, encontrou incorreções e lacunas nessas
prestações de contas sociais. A autora constatou elevados índices de acidentes de trabalho,
especialmente envolvendo trabalhadores terceirizados, e muitas ações trabalhistas em curso.
Oliveira (2013) apresenta algumas dicas para minorar o risco de erros em relatórios deste
tipo: a) padronização e identificação das fontes, de modo que as informações possam ser checadas
e comparadas; b) apresentação da evolução dos projetos, com informações baseadas em referências
temporais, permitindo observar a evolução dos dados no tempo; c) uso de linguagem acessível; d)
publicação das críticas, de modo a dar visibilidade a respeito de aspectos que precisam ser
aprimorados; e) transparência, expressando abertamente a posição da empresa mesmo em aspectos
que possam desagradar aos stakeholders, o que facilita o diálogo com as partes discordantes; f)
realização de auditoria externa e g) abertura para recepção de críticas, indicando o nome do
profissional responsável pelo relatório e o contato para recepção de críticas e reclamações.
Oliveira (2013) aponta bons exemplos de empresas socialmente responsáveis no cenário
brasileiro, relatando casos como Natura e O Boticário. O autor analisa práticas socioambientais
dessas empresas junto a comunidades detentoras de conhecimentos sobre o princípio ativo
empregado em alguns dos seus produtos cosméticos. Essas práticas incluem a remuneração desse
conhecimento, a compra de insumos diretamente das comunidades produtoras e a orientação para
o manejo sustentável dos recursos.
43
Normas da responsabilidade social
Além das ferramentas já mencionadas, existem, à disposição das organizações interessadas,
normas técnicas e certificações expedidas por entidades de diferentes nacionalidades. São
instrumentos que realçam os contornos da cidadania corporativa, contribuindo para construção de
uma boa imagem pública da empresa.
O surgimento de novos modelos de normalização das ações de responsabilidade social é
constante, tanto em nível global quanto local. A seguir, são expostos alguns dos seus principais aspectos:
a) ISE BM&FBovespa
A Bolsa de Valores de São Paulo instituiu o índice de sustentabilidade empresarial (ISE). Esse
índice tem por objetivo medir o retorno total de uma carteira teórica composta por ações de, no
máximo, 40 empresas de reconhecido comprometimento com a responsabilidade social e a
sustentabilidade, apurado mediante a adoção de um sistema próprio.
Para participar do ISE, as empresas preenchem, espontaneamente, os instrumentos que
servem de base à seleção. São selecionadas as empresas responsáveis pelas 150 ações mais negociadas
no ano e que tenham estado presentes em pelo menos 50 pregões da bolsa. O conselho deliberativo
do ISE define critérios de responsabilidade social para selecionar as 40 melhores empresas que irão
compor o índice anual, sinalizando para o investidor as empresas que melhor atenderam a tais
critérios naquele ano.
c) SA 8000
Trata-se de um mecanismo focalizado nos direitos do trabalhador, baseado em uma norma
técnica de origem estadunidense lançada em 1997. O objetivo é certificar organizações que atendam
requisitos claros, com ênfase em saúde e segurança do trabalhador, liberdade de associação e direito
à negociação coletiva, ao mesmo tempo combatendo todas as formas de discriminação no ambiente
de trabalho. Com relação ao público externo, estabelece regulamentações relativas à exploração de
trabalho infantil e trabalho forçado (análogo à escravidão).
44
d) OHSAS 18000
Com foco em saúde e segurança do trabalhador, foi criada a norma ocupacional britânica
Health and Safety Assessment Series, em 1999. A OHSAS 18000 define requisitos mínimos que as
empresas devem cumprir para evitar riscos a que os trabalhadores possam ser expostos, sejam eles
próprios da empresa ou contratados, permanentes ou temporários.
e) ISO 26000
Trata-se de uma norma internacional, lançada no Brasil no ano de 2010, denominada
Diretrizes sobre Responsabilidade Social. De acordo com o Instituto Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), essa norma foi construída por meio de um
processo qualificado como multistakeholder e fruto do esforço conjunto de profissionais de
diferentes países. Ao contrário de outras normas do tipo ISO, a norma ISO 26000 não é
certificadora, mas didática, já que reúne e mostra como inserir do cotidiano das organizações os
princípios para a gestão da responsabilidade social. Tem como principais norteadores, com
referência à responsabilidade social:
conceitos, termos e definições;
histórico, tendências, características, temas, princípios e práticas;
integração, implementação e promoção de comportamentos socialmente responsáveis em
toda a organização e na sua esfera de influência, e
identificação e engajamento de partes interessadas, com base na celebração de
compromissos e no desempenho dos compromissos acordados.
45
Associações representativas de entidades do terceiro setor
O Grupo de Institutos e Fundações Empresariais (GIFE) foi criado, em 1995, com o objetivo
de reunir e fornecer apoio estratégico a institutos e fundações de origem empresarial e outras
entidades privadas que realizam projetos de interesse público. A entidade representa o setor de
responsabilidade social, cria e promove redes de relacionamentos, discussões e trocas de informações
a respeito de questões sociais, difunde conhecimentos, realiza eventos e executa ações agregadoras
para outras entidades sem fins lucrativos.
A Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), criada em 1991,
credencia e organiza entidades do terceiro setor, fazendo vigorar um código de ética para si e para
as organizações a ela associadas. A Abong defende a criação de um marco regulatório para as
organizações do terceiro setor.
Governança corporativa
Governança corporativa
Um sistema formalmente instituído de governança corporativa é fundamental para que uma
empresa seja reconhecida como socialmente responsável. De acordo com Ashley e colaboradores
(2005), a governança corporativa constitui um dos pilares que asseguram a confiança dos stakeholders.
No entanto, o que é governança corporativa? Segundo Macêdo e colaboradores (2015):
46
Na visão de Machado Filho (2006, p. 80), a governança corporativa busca o alinhamento de
interesses entre gestores e acionistas, garantindo a transparência entre eles e a equidade entre as
partes acionárias majoritárias e minoritárias, por meio de mecanismos externos e internos.
4
Disponível em: www.ibgc.org.br Acesso e: nov. 2019.
47
O fortalecimento de mecanismos e práticas de governança corporativa ganhou impulso com
a ocorrência de grandes escândalos financeiros. Um exemplo paradigmático foi o caso da empresa
Enron, nos Estados Unidos, que protagonizou um conjunto de fraudes nas empresas .com,
motivando a promulgação da Lei Sarbanes Oxley (SOx). A partir de então, naquele país, passaram
a vigorar duras penalidades para executivos de empresas, principalmente o diretor financeiro e o
presidente, considerados responsáveis pela condução e fiscalização de controles internos, e pelas
prestações de contas aos acionistas.
A SOx teve reflexos em todo o mundo corporativo, não somente nos Estados Unidos. No
Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) – autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda
e que regula o setor das empresas de capital aberto – modificou regulamentações e instituiu outras.
No Brasil, a história dos negócios é marcada por problemas no âmbito da governança
corporativa, bem como pelo predomínio de empresas e, até mesmo, grandes conglomerados de
propriedade familiar. Para Bornholdt (2005), uma empresa ou um grupo de empresas é considerado
familiar quando apresenta uma ou mais entre as seguintes características: o controle acionário
pertence a uma família, o processo sucessório é realizado dentro da família, cargos estratégicos são
ocupados por membros da família, valores e crenças refletem os dogmas da família, atos de membros
da família têm repercussão dentro da empresa ou, ainda, membros da família são impedidos de
vender parcial ou totalmente a sua participação acionária.
Para empresas familiares, vigora a mesma estrutura de governança das demais empresas:
conselhos, gestão executiva, auditoria independente e assembleia de acionistas. No entanto, as
empresas familiares costumam possuir, além dos organismos já citados, também um conselho de
família, incumbido de deliberar sobre as expectativas e os interesses familiares nos negócios.
Bornholdt (2005) explica que, aos conselhos de família, são atribuídas as funções de desenvolver e
administrar o acordo de acionistas, proteger a memória histórica familiar, fomentar encontros que
promovam o entendimento e a coesão entre os familiares, manejando conflitos e crises; criar e
manter programas de desenvolvimento de herdeiros, com foco no processo de sucessão; elaborar
programa de bem estar para integrantes do grupo familiar e critérios de liquidez e dividendos
destinados aos seus membros. Também cabe aos conselhos de família, na visão do autor, estabelecer
relações com entidades do terceiro setor de modo a gerar programas ou projetos sociais.
Desse modo, em empresas familiares, a governança vai além dos padrões estabelecidos para
outras organizações e varia segundo diferentes configurações, pois integrantes da família podem
trabalhar ou não na empresa, possuir participação acionária diferenciada e manifestar ou não
interesse pelo seu autodesenvolvimento ou no processo sucessório.
No Brasil, há casos frequentes de empresas ou grupos empresariais familiares que enfrentaram
dificuldades ou mesmo cerraram as portas devido a problemas no relacionamento entre os membros
da família, questões de sucessão e herança, e questões relacionadas à governança. São emblemáticos
os casos da fábrica de chocolates Garoto, e os grupos Paes Mendonça e Hermes Macedo.
48
A respeito das empresas familiares, Macêdo e colaboradores (2015) recomendam:
Gestão da reputação
A reputação diz respeito à maneira pela qual uma pessoa, um produto ou uma organização é
percebida pelos outros. Trata-se de um referencial, uma base em constante processo de lapidação.
Ao contrário da imagem, a reputação sempre se encontra em construção.
A imagem, por sua vez, não é um conceito em construção. Como uma fotografia, que é
clicada e repetida, a imagem é constituída sempre que algo de positivo ou negativo surge em relação
a uma pessoa, produto ou organização. Cada imagem que surge contribui para alterar a percepção
a respeito de um desses elementos.
A boa reputação de uma organização é um status conquistado graças a uma sucessão de
imagens positivas geradas pelas suas ações. Desse modo, a reputação é ativo intangível, capaz de
alterar, para mais ou para menos, o grau de vulnerabilidade ao qual uma organização pode incorrer.
A gestão da reputação ganhou notoriedade mundial com a criação do Reputation Institute,
em 1997. Esse instituto tem representação em diversos países, inclusive no Brasil, e realiza
diagnósticos de reputação para empresas de todos os continentes. O seu modelo de análise envolve
áreas como governança corporativa, ambientes de trabalho, desempenho financeiro, liderança,
inovação, produtos e serviços, cidadania e responsabilidade social.
Assim sendo, é possível perceber que boas práticas sociais e ambientais por parte das
organizações contribuem para gerar imagens positivas ao seu respeito. De modo que, para gerir a
sua reputação, uma empresa deve colocar as suas ações atuais a serviço da construção de uma
imagem positiva no futuro.
Uma gama de autores tece recomendações para a gestão da reputação das organizações. Na
visão de Srour (2008), é preciso manter fortes laços com os públicos de interesse, adotar padrões
internacionais de responsabilidade socioambiental, monitorar riscos, administrar marcas e gerenciar
informações sobre os ambientes externo e interno.
49
Nesse sentido, Patrus-Pena e Castro (2010) agrupam recomendações gerir reputações
organizacionais em sete dimensões: a) dimensão ética, por meio do estabelecimento ou reforço de
propósitos e crenças orientadores das ações na e da empresa; b) dimensão cultural, que busca a
minimização de discrepâncias entre os sistemas formalmente constituídos e a prática, tomando
como pano de fundo o cenário de constante mudança cultural no qual se situam as organizações;
c) dimensão tecnológica, em busca do pareamento entre as tecnologias utilizadas pela empresa e a
sua orientação ética; d) dimensão educativa, de modo a promover um constante aperfeiçoamento
de pessoas que decidem e operacionalizam as ações da empresa, com foco no caráter e nos padrões
éticos; e) dimensão gerencial, que visa manter ou alterar comportamentos, por meio de lideranças
comprometidas com a defesa dos princípios defendidos pela organização; f) dimensão psicológica,
com o intuito de observar características e limitações de pessoas que integram a organização, e g)
dimensão política, que representa a consciência de que cada processo de mudança abrange interesses
divergentes e conflitos ante a necessidade de tomar decisões.
Machado Filho (2006), de forma mais sintética, também aponta alguns aspectos que devem
ser considerados na gestão da reputação de empresas: qualidade dos produtos e dos serviços
oferecidos, boas práticas internas de gestão de pessoas, boas práticas externas junto a clientes,
fornecedores e outros grupos.
É possível perceber que a construção de uma boa reputação organizacional envolve uma
miríade de princípios, práticas e ações, em diferentes esferas. A ausência ou insuficiência da gestão
da reputação de uma empresa pode comprometer anos de esforço, trabalho e investimento.
Problemas que abalem a reputação de uma empresa podem gerar um verdadeiro efeito em cascata,
com consequências para a própria empresa e um ou mais stakeholders. Alguns casos de gestão da
reputação adquiriram notoriedade e se tornaram emblemáticos no mundo corporativo.
Em 1982, o medicamento Tylenol foi posto à venda em frascos envenenados em algumas
farmácias dos EUA, o que resultou na morte de 7 pessoas na cidade de Chicago. A empresa Johnson
& Johnson, fabricante do produto, agiu de forma rápida, transparente e ampla. Os enormes gastos
em função da retirada do produto das prateleiras e da elaboração e divulgação de campanhas
esclarecedoras foram compensados pelo retorno em termos de reputação da empresa que, ao agir
com transparência e sinceridade, conseguiu recuperar e até ampliar a sua fatia do mercado. Mesmo
com o fato de que a responsabilidade pelo crime nunca tenha chegado a ser apurada e punida, a
empresa continua gozando de credibilidade junto à clientela, possivelmente por ter assumido a
dianteira na resolução do problema.
50
Há casos ainda mais contundentes. O banco norte-americano Lehman Brothers enfrentou
sérias dificuldades financeiras, após conceder empréstimos de alto risco e sem cobertura, o que
contribuiu para deflagrar a crise econômica de 2008, jogando os EUA em um abismo fiscal, com
consequências no âmbito da economia mundial, como a falência de bancos comerciais e até de
países, como foi o caso da Islândia.
Quando se trata da reputação de organizações, cabe ainda advertir sobre práticas de marketing
social, que precisam estar fundamentadas em uma ética corporativa consistente. De uma maneira
geral, ações de marketing constituem um programa de comunicação para divulgar produtor e
serviços e, dessa forma, atrair e fidelizar clientes. No entanto, a simples divulgação de ações de
responsabilidade social não é suficiente para a aderência da clientela, que, na atualidade, encontra-
se mais atenta à continuidade dessas ações. Desse modo, qualquer acontecimento ou informação
que não esteja condizente com os valores propalados pela empresa será passível de denúncia.
Assim sendo, é preciso compreender que imagens positivas e a boa reputação de uma empresa só
se tornam consistentes e efetivas quando são baseadas em princípios éticos sólidos. Tais princípios serão
sólidos se estiverem profundamente inculcados nas mentes e nos corações dos indivíduos que agem em
nome da empresa. Desse modo, a organização deve manter pessoas que estejam comprometidas com a
elevação do seu nível moral, tanto na esfera estratégica como no âmbito tático e operacional.
51
Figura 2 – Influências sobre o desenvolvimento moral organizacional
52
Fatores individuais
A definição das expectativas de um dirigente sobre a práticas morais dos seus empregados
depende do estágio de amadurecimento do seu raciocínio moral. Essa definição também é
influenciada pelas características da personalidade dos dirigentes.
Por exemplo, uma pessoa emocionalmente amadurecida toma decisões na empresa que levam em
conta as necessidades de todas as pessoas impactadas por tais decisões, pois possui alto grau de empatia.
Da mesma maneira, espera comportamento moral semelhante por parte dos seus empregados.
Fatores ambientais
Os principais fatores ambientais que influenciam a formação das expectativas morais da alta
administração são a pressão da sociedade, a cobrança dos acionistas e os comportamentos morais
praticados pela concorrência.
A pressão da sociedade se materializa em leis, fiscalização e punições exemplares. Trata-se
de um parâmetro decisivo para a constituição de elevadas expectativas morais por parte dos
dirigentes sobre as decisões morais dos seus empregados. Um ambiente de negócios tolerante com
a corrupção, por exemplo, pressiona em sentido contrário. Já um ambiente de negócios
intolerante com desastres ambientais corporativos pressiona no sentido de ações de
responsabilidade ambiental efetivas e consistentes.
Por outro lado, cobranças de acionistas que exigem resultados financeiros imediatos e a
qualquer custo constituem uma elevada pressão sobre as expectativas morais da alta diretoria.
Finalmente, essas expectativas também são influenciadas pelas práticas morais da
concorrência. Se, em determinado setor, empresas concorrentes agem de forma desonesta, negando
direitos trabalhistas aos seus empregados, adotando práticas que põem em risco o equilíbrio
ambiental ou sonegando impostos, os seus custos se tornam tão baixos que a concorrência
socioambientalmente responsável não é capaz de acompanhar. Constitui-se, com isso, um ambiente
de negócios que reduz as expectativas morais dos dirigentes, que tendem a passar a tolerar práticas
imorais com o objetivo de manter a organização competitiva.
Processos organizacionais
Os processos organizacionais constituem meios pelos quais os dirigentes comunicam aos
colaboradores as suas expectativas sobre resultados esperados e padrões de comportamento
desejáveis ou proibidos. Tais processos são definidores de escolhas estratégicas e distribuição de
recursos das organizações.
Desse modo, escolhas estratégicas das empresas refletem expectativas morais dos seus
dirigentes: Quais caminhos serão trilhados? Quais serão nossos parceiros? Quais recursos serão
utilizados?”. Decisões dessa natureza orientam e delimitam as decisões morais dos colaboradores.
53
A distribuição de recursos também é afinada com as expectativas morais da alta
administração. Por exemplo, a escolha dos membros do conselho de ética e a destinação de recursos
para o seu funcionamento refletem a importância atribuída a tal instância por parte daqueles
encarregados de decisões estratégicas no interior das organizações. O mesmo se aplica a atividades
de auditoria ética, processos de socialização de novos empregados e escolhas do objeto e da forma
pela qual empregados são recompensados.
54
acionistas, mas às custas de violar a legislação e expor comunidades vizinhas e o ecossistema ao risco
de um desastre ambiental.
No nível de desenvolvimento moral convencional, as organizações agem por pressão externa e
respeitam exigências legais e contratuais. Nesse nível, o sentido da ética e da responsabilidade social
se resume a cumprir determinações legais. As necessidades dos stakeholders são atendidas dentro do
que se encontra previsto na legislação e nos contratos firmados. Desse modo, os públicos de interesse
são os parceiros de negócios: clientes, investidores, empregados e fornecedores. Trata-se de um nível
que já oferece algum grau de controle social, uma vez que as decisões respeitam as expectativas dos
participantes do ambiente de negócios que são considerados parceiros. É o caso de empresas que se
limitam a cumprir estritamente o que é legalmente estabelecido com os menores custos possíveis.
O estágio de desenvolvimento moral organizacional pós-convencional é o mais avançado.
Ocorre quando a organização se encontra tão impregnada com um dever moral que os princípios
de ética e responsabilidade socioambiental corporativa não são apenas instrumentos para alavancar
o lucro e atender interesses de acionistas, mas para satisfazer as necessidades de todos os públicos de
interesse. Nesses casos, é implantado um modelo ético de gestão, com processos decisórios
orientados por valores universais como justiça, equidade, liberdade, solidariedade, respeito ao
próximo, inclusão, entre outros.
No quadro a seguir, encontram-se sistematizadas as características de organizações situadas
nos três diferentes estágios de desenvolvimento moral organizacional.
nível de
orientação para os critério de processo
desenvolvimento ênfase
stakeholders decisório
moral
engrandecimento de
orientação apenas cálculo quanto a
pré-convencional si próprio sem
para si próprio prazer/dor
considerar os outros
55
Finalmente, Ashley e colaboradores (2005) afirmam que a prática efetiva do conceito de
responsabilidade social corporativa exige um novo conceito de empresa, ampliado para comportar a
prática de um novo modelo de relações sociais, políticas e econômicas. Ocorre quando decisões
gerenciais contemplam stakeholders além daqueles considerados parceiros nos negócios, incluindo entes
de fora do ambiente do mercado, tais como instituições do Estado, agentes ambientais e comunidades.
56
MÓDULO III – SUSTENTABILIDADE COMO
VANTAGEM COMPETITIVA
5
No Brasil, o licenciamento ambiental e a avaliação de impacto ambiental se situam entre os instrumentos preventivos
desenvolvidos com vistas à implantação dos objetivos da Política Nacional de Meio Ambiente, institucionalizada em 31
de agosto de 1981.
58
De acordo com Macêdo e colaboradores:
O relatório final dessa comissão, conhecido como Relatório Brundtland, que foi publicado
pela Oxford University Press, com o título de Our Common Future, em 1987, consagrou a definição
de desenvolvimento sustentável mais utilizada até hoje: o desenvolvimento “que atende às
necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras de atenderem às
suas próprias necessidades”6 (CMMD, 1991, p. 9).
Em 1992, vinte anos após Estocolmo, foi realizada a conferência sobre Meio Ambiente da
ONU, conhecida como Eco-92 ou Rio-92. No seu processo de preparação, foi conferida grande
atenção à questão ambiental. Muitas ONGs e entidades ambientais foram constituídas naquele
período. Durante a realização da conferência, merecem destaque, por um lado, a reunião paralela
de ONGs e associações populares e, por outro lado, o compromisso de governos signatários com a
Agenda 21, um enorme documento composto de 4 seções, 40 capítulos e 2 anexos (a edição
brasileira, publicada pelo Senado Federal, tem 598 páginas), dispondo de objetivos, atividades e
considerações sobre os meios de implementação, de um planejamento de uma cooperação
internacional e de ações nacionais e locais em vista do desenvolvimento, do combate à pobreza e da
proteção do meio ambiente.
Passaram-se mais vinte anos, e a Rio+20 – Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável – teve lugar em um cenário de crises em diferentes instâncias e
ceticismos com relação a avanços. No entanto, na esfera corporativa relatos de um fórum próprio
revelam protagonismo desse setor em ações sociais e ambientais. O lançamento do conceito de
economia verde como instrumento para alcançar a sustentabilidade, com uma abordagem mais
econômica, aponta para a adoção de uma economia de baixo carbono, com eficiência no uso de
recursos e socialmente inclusiva.
6
COMISSÃO MUNDIAL SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso futuro comum. RJ: Fundação Getúlio
Vargas, 1991, p. 09.
59
Os princípios emanados das principais conferências mundiais são apresentados de forma
sintética a seguir:
7
Disponível em: https://www.ceres.org/about-us. Acesso em: nov. 2019.
60
Cabe destacar ainda os doze princípios para o consumo consciente, elaborados pela ONG
Instituto Akatu, considerados inovadores em relação aos demais, por retomarem o tema do
consumo, enunciado em 1972 como uma das causas dos problemas ambientais8.
8
Disponível em: https://www.akatu.org.br/noticia/conheca-os-12-principios-do-consumo-consciente/. Acesso em: nov. 2019.
61
b) Pilar ambiental – planet
Planet é o capital natural. A sua mensuração e avaliação é um desafio. Contabilizar a
riqueza natural consiste em considerar os recursos dos ecossistemas (tais como a flora, a fauna,
os recursos hídricos, o solo, etc.), o seu estoque e uso, ou seja, a valoração econômica dos
serviços ambientais que nos prestam.
Com vistas à gestão dos recursos naturais, Elkington (2012, p. 115) classifica o capital natural
como crítico ou renovável. O capital natural crítico deve ser preservado. Já o capital natural
renovável deve ser utilizado de acordo com sua capacidade de regeneração. Essa classificação
contribui para que as empresas possam analisar insumos e matérias-primas utilizados nos seus
processos produtivos com vistas à tomada de decisões e delineamento de estratégias.
A partir de Elkington (2012), Macêdo e colaboradores observam que:
d) Interseção econômico-ambiental
Nessa interseção, ocorre a prática da ecoeficiência, induzindo a uma atitude ECO e ECO
(ecologia e economia), que será melhor detalhada adiante, quando apresentados os estágios da
sustentabilidade corporativa. Medidas de ecoeficiência resultam em ganhos para as empresas que as
adotam, mas não necessariamente para o ambiente. Por exemplo, na região de uma bacia hidrográfica:
as indústrias ali instaladas cumprem os padrões de emissão de efluentes, o que não garante que a
62
qualidade do ambiente esteja preservada, uma vez que o corpo hídrico não suporta, necessariamente,
a quantidade de efluentes lançada por todo o conjunto de empresas que atuam na região.
e) Interseção socioambiental
Para Elkington (2012), essa interseção deve ser apreciada sob os pontos de vista interno e
externo das organizações. No âmbito interno, trata-se das políticas inclusivas, que envolvem, por
exemplo, esforços por maior equidade de oportunidade entre gêneros dentro da empresa. Sob o
foco externo, são ações junto a comunidades da circunvizinhança, voltadas para capacitação,
prestação de serviços de saúde, educação e lazer.
f) Interseção socioeconômica
Trata-se da interseção mais evidente na qual ocorre, por um lado, produção, consumo e
venda, e, por outro, geração de emprego, renda e pagamento de impostos. A busca por
sustentabilidade coloca em questão o padrão de consumo da sociedade, a equidade de
oportunidades e a inclusão social. Empresas têm criado produtos e serviços específicos para dar
conta da necessidade de inclusão, como é o caso do microcrédito para financiamento de
microempreendedores individuais e pequenos negócios familiares.
63
Quadro 9 – Serviços ambientais
serviços de
serviços regulatórios serviços culturais serviços à saúde
suprimento
diluição da transmissão de
alimentos ar limpo estético
doenças infecciosas
contemplação e saúde
madeira água pura lazer
mental
senso de
minerais desintoxicação do solo atividades terapêuticas
pertencimento
controle biológico de
pragas e vetores
produção primária
ciclagem de nutrientes
polinização
decomposição
Fonte: adaptado de Barbieri (2007), Almeida (2007), Pereira, Silva e Carbonari (2012) e Chame (2013).
Práticas sustentáveis
Estágios para a sustentabilidade corporativa
Nesse item, apresentamos uma classificação de ações corporativas para a sustentabilidade
sistematizadas em seis estágios, que são fruto da observação prática das empresas ao longo do tempo.
A seguir, o esquema da figura procura demonstrar como a gestão empresarial vai aos poucos
incorporando exigências legais e mercadológicas, em um contínuo processo de aprimoramento.
64
Figura 3 – Estágios da sustentabilidade corporative
Primeiro estágio
O primeiro estágio corresponde ao atendimento das exigências legais estabelecidas por
processos de licenciamento ambiental, além da fixação de padrões de emissões atmosféricas e
lançamento de efluentes. A satisfação desses padrões de poluição exige das empresas investimentos
em equipamentos e revisão de processos produtivos, além da adoção de medidas corretivas e
tecnologias de final de tubo, ou seja, voltadas para a minimização da poluição como, por exemplo,
a instalação de filtros.
Segundo Bronz, “o licenciamento ambiental, tal como é desenvolvido no Brasil, é uma
adaptação dos modelos desenvolvidos internacionalmente, que se tornaram requisitos para os
investimentos de capitais estrangeiros e nacionais mobilizados para a construção de grandes
65
empreendimentos no país” (Bronz, 2011, p. 23). Egler (2001 apud Bronz 2011) associa o
surgimento destes instrumentos ao Ato da Política Nacional para o Meio Ambiente (The National
Environmental Policy Act – NEPA), aprovado pelo congresso estadunidense em finais de 1969 e que
estabelece as linhas gerais da política nacional de meio ambiente norte-americana. Basso & Verdum
(2006) associam esse surgimento também à Loi relative à la Protection de la Nature, desenvolvida
na França, em 1976. No caso brasileiro, os autores relacionam a implantação destes instrumentos
principalmente à pressão do Banco Mundial, mais importante financiador de empreendimentos
tais como projetos rodoviários e assentamentos rurais nas décadas de 1970 e 1980 do século XX.
No Brasil, o licenciamento ambiental e a avaliação de impacto ambiental se situam entre os
instrumentos preventivos desenvolvidos com vistas à implantação dos objetivos da Política Nacional
de Meio Ambiente, institucionalizada em 31 de agosto de 1981. De acordo com Mazurec, a rigor,
a viabilidade ambiental de um empreendimento é “testada” por meio da Avaliação de Impacto
Ambiental (AIA) de um empreendimento ou atividade potencialmente poluidora. Essa avaliação é
feita por meio de estudos de impacto ambiental – EIA9 (2012, p. 91). Nesses estudos, são
identificados os impactos socioambientais de um empreendimento. A minimização dos impactos
classificados como negativos se dá por meio do planejamento e da execução de medidas mitigadoras.
Segundo estágio
No segundo estágio, a organização alcança a conformidade legal. Trata-se da etapa na qual a
empresa atende todos os requisitos legais, situando-se dentro dos padrões de poluição, tendo obtido
as devidas licenças ambientais, bem como outorga pelo uso da água e atendimento a toda a legislação
ambiental pertinente nas esferas federal, estadual e municipal. No âmbito social, trata-se do
cumprimento do que restou das leis trabalhistas e das normas de segurança.
A não conformidade legal pode afetar a imagem e a reputação da empresa no mercado. Desse
modo, o respeito à legislação passa a ser percebido pelas organizações como um diferencial
competitivo, que pode ser demonstrado aos clientes e demais stakeholders por meio da obtenção de
certificações por exemplo. Entre as certificações mais difundidas no mundo corporativo e passíveis
de serem obtidas ainda no estágio dois se encontram o selo ISO 9000, referente à qualidade de
produtos e serviços, o selo ISO 14000, que certifica a implantação de sistemas de gestão e auditoria
ambiental nos processos produtivos, e a série OHSAS 18001, que se refere à gestão da saúde
ocupacional e segurança dos trabalhadores.
9
Esses estudos (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) foram estabelecidos pela Resolução CONAMA n. 01/1986.
66
Terceiro estágio
O estágio três trata do uso eficiente dos recursos naturais, que inclui a adoção de tecnologias
limpas e programas de ecoeficiência. Vai além das tecnologias de final de tubo, que minimizam a
poluição. As tecnologias características do terceiro estágio resultam em redução de custos e
aumento da produtividade.
Segundo Schimidheiny (2012), a atitude reativa em relação às exigências ambientais seria a
atitude ECO versus ECO (ecologia versus economia), que deve dar lugar à atitude ECO (ecologia)
e ECO (ecoeficiência), de acordo com os parâmetros estabelecidos pelo World Business Council
for Sustainable Development (WBCSD), representado no Brasil pelo Conselho Empresarial
Brasileiro pelo Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Macêdo e colaboradores explicam que:
Quarto estágio
No estágio quatro, acrescenta-se às ações anteriores a análise de risco. De acordo com a norma
NBR 31000 (ABNT, 2009), o risco é compreendido como a probabilidade de ocorrência de um
determinado evento e o seu resultado, caso ocorra. Ou seja, risco é a chance de acontecer um desvio
67
em relação aos objetivos definidos que tem efeitos negativos sobre as pessoas, o patrimônio ou o meio
ambiente. Com o gerenciamento de riscos, busca-se identificar os eventos de risco, estimar a sua
probabilidade de ocorrência, avaliar os seus efeitos, tomar medidas e determinar ações caso ocorram.
Os passos iniciais da análise de risco consistem em evitar acidentes. Pode tratar-se de um
conjunto de ações destinadas a lidar com eventos de causa natural, como tufões ou enchentes, ou
eventos ocasionados pela ação humana, como explosões, incêndios, derramamento de óleo.
Um passo mais avançado da análise de risco abrange o gerenciamento de intangíveis. Por
valor intangível, compreende-se algo que não pode ser tocado, como credibilidade, confiança,
honestidade ou reputação. Os intangíveis vêm sofrendo crescente valorização por parte dos
stakeholders e sendo percebidos e mensurados, materializando-se em investimentos e maior valor da
ação no mercado, como aponta Ruschel10. Algumas das principais metodologias para a análise de
risco serão apresentadas mais adiante.
Quinto estágio
No quinto estágio, as empresas avançam na análise do ciclo de vida de seus produtos,
voltando sua atenção para a cadeia produtiva na qual se inserem, “do nascedouro do produto ao
túmulo” (MACÊDO et al, 2015, p. 94).
A análise do ciclo de vida pode ser aplicada tanto a produtos existentes quanto a produtos a
serem criados. Trata-se de analisar as matérias-primas e insumos utilizados na sua produção, bem
como a forma ou tecnologia utilizadas, e ainda aspectos como embalagem, distribuição, uso,
descarte e destino final dos resíduos. O objetivo é produzir produtos e serviços que causem menor
impacto negativo ao ambiente. Alguns exemplos são a prática da venda de refil, induzindo ao
aproveitamento da embalagem original; a mudança do meio de transporte, visando à redução da
emissão de gases que contribuem para o efeito estufa, e o uso de recipientes retornáveis.
Sexto estágio
Finalmente, no estágio seis, a empresa se torna capaz de deixar um legado social na localidade
onde se encontra instalada, por meio da construção de parcerias e da inovação continuada. Esse
estágio corresponde à categoria da empresa cidadã, apresentado anteriormente.
Elkington (2012) identifica as parcerias como o desafio do novo milênio, a busca por fazer
face às demandas de sustentabilidade que a sociedade contemporânea impõe. Nessa fase, o setor
corporativo se une ao terceiro setor para a implementação de ações de responsabilidade social, une-
se ao poder público para, por exemplo, construção de infraestrutura e firma parcerias, até mesmo,
com empresas concorrentes, para viabilizar e minimizar, por exemplo, custos relativos à disposição
de resíduos. Teodósio (2008) analisa outra possibilidade ainda mais ousada, as parcerias trissetoriais,
10
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=5608a2sFghQ. Acesso em: nov. 2019.
68
entre poder público, empresas e sociedade civil organizada. O autor analisa três casos concretos: o
programa Um Milhão de Cisternas11, o projeto Novas Alianças e o programa Além das Letras.
Conclui que tais arranjos, altamente complexos, podem tanto criar espaços de cidadania quanto
reproduzir mecanismos de exclusão sob novas roupagens.
A inovação com foco em sustentabilidade consiste na contínua busca por implantar processos
e comercializar produtos e serviços cada vez mais ecoeficientes.
A importância de uma empresa deixar o seu legado social na região em que atua está relacionada
à crescente percepção por parte da sociedade da ocorrência de cidades fantasmas, que se tornaram
assim após a saída de um empreendimento, de regiões devastadas por desastres industriais, ou da
criação de “feudos” – bairros industriais completamente destoantes do seu entorno – no interior de
comunidades. Para a construção de um bom legado social, destacam-se as parcerias e o planejamento
para que, por exemplo, um canteiro de obras seja transformado em uma escola ou museu. Outra
medida é a capacitação e priorização da mão de obra local nos empreendimentos.
11
Disponível em: http://www.asabrasil.org.br/acoes/p1mc. Acesso em: nov. 2019.
69
financiadores e agências seguradoras sobre as ações empresariais. Os bancos estabeleceram
parâmetros que avaliam a responsabilidade socioambiental das empresas, como é o caso do ISE da
BM&FBovespa (apresentado no módulo 2), que subsidia decisões de investimentos.
Diante do exposto, a sustentabilidade corporativa pode também ser considerada como a busca
de vantagem competitiva. Segundo Porter e Kramer (2006), em um mercado competitivo, cada
empresa necessita traçar suas próprias estratégias de competitividade, criando algo que a distinga das
empresas concorrentes e seja reconhecido pelo mercado. Entre essas estratégias, estão a liderança total
pela prática do menor custo e menor preço e a diferenciação por desempenho superior, com liderança
em qualidade, foco em segmentar o setor e atuação seletiva. Práticas como as relatadas, de ações
socioambientais e conformidade legal, podem ser compreendidas como estratégias competitivas de
diferenciação ou de foco adotadas pelas organizações em prol da sua manutenção no mercado.
Desse modo, os estágios da sustentabilidade corporativa ora apresentados e ponderados
demonstram como, ao longo do tempo, as empresas foram incorporando ações socioambientais
e de responsabilidade social.
Os passos iniciais da análise de risco consistem em evitar acidentes. Um passo mais avançado
da análise de risco abrange o gerenciamento de intangíveis (tais como credibilidade e reputação). A
seguir, apresentamos algumas das principais metodologias para a análise de risco.
70
De acordo com o sócio-diretor Marcelo Forma, da ICTS Global, uma empresa de consultoria,
auditoria e serviços em gestão de riscos de negócios, o gerenciamento de riscos contempla os seguintes
passos: identificação de riscos potenciais, priorização dos riscos e mitigação dos riscos.
Para fins de identificação e classificação de riscos, o IBGC propõe uma categorização segundo
a origem (interna ou externa), a natureza dos riscos (estratégicos, operacionais ou financeiros) e o
tipo, conforme a tabela a seguir:
macroeconômico
ambiental
externo social
tecnológico
legal
financeiro
ambiental
interno social
tecnológico
conformidade
A categorização segundo a origem do risco auxilia a empresa a definir a abordagem a ser adotada
para o seu tratamento, com maior probabilidade de atuar, preventivamente, em riscos de origem interna.
Quanto à categorização de acordo com a natureza do risco, são considerados estratégicos
aqueles associados à perda substancial de valor econômico da empresa. Já os riscos classificados
como operacionais são aqueles que se relacionam com a degradação ou interrupção total ou parcial
das atividades da empresa, com o consequente impacto negativo na sua reputação. Por fim, os
eventos relacionados à gestão do fluxo de caixa ou à confiabilidade das informações transmitidas
são categorizados como riscos financeiros.
71
A definição de tipos para fins de categorização dos riscos é apresentada no quadro a seguir:
tipos de riscos
1 2 3 4 I II III IV
Na coluna “eventos”, devem ser listados os eventos identificados como portadores de risco
potencial para a empresa. Por exemplo, desabastecimento de energia elétrica, paralisação dos portos,
paralisação dos trabalhadores encarregados de transporte de cargas, aumento das taxas de juros, perda
de mão de obra para o mercado, greves, paralisação de equipamentos, desmatamento, entre outros.
72
Na coluna de “probabilidade”, deve ser assinalado o grau de probabilidade de ocorrência de um
evento, em que o grau 1 indica a menor probabilidade. Do mesmo modo, na terceira coluna, assinala-
se o grau de impacto, classificando o baixo impacto como I, e o impacto crítico como IV. Para cada
um desses atributos, pode ser elaborada uma escala quantitativa ou qualitativa, de modo a estabelecer
critérios mais concretos para a classificação do grau, seja de probabilidade ou de impacto.
Para a coluna “análise”, contribuem os graus atribuídos à “probabilidade” e ao “impacto”,
que são ponderados para a classificação do risco em “baixo”, “moderado”, “sério” e “crítico”. O
risco é considerado baixo quando obtém pontuações 1, em probabilidade, e I, em impacto, ou ainda
1 e II, ou 2 e I. Já o risco crítico ocorre quando o impacto é de grau IV, conjugado com
probabilidade de grau 3 ou 4.
Essa classificação atua como subsídio para a priorização de eventos em relação aos quais há
necessidade de ações imediatas, preenchendo a coluna “prioridade”. Na coluna “ação”, são descritas
as medidas a serem adotadas para mitigação dos riscos.
O IBGC (2007) indica quatro formas possíveis para tratamento dos riscos. A primeira delas
é evitar o risco, optando pelo não envolvimento no risco ou retirada da situação (desfazendo-se de
uma unidade do negócio, por exemplo). Uma segunda opção é a aceitação do risco, retendo-o no
nível em que se encontra ou reduzindo-o por meio de medidas para minorar a sua probabilidade
de ocorrência ou os seus danos, ou transferindo ou compartilhando a probabilidade de risco pela
contratação de seguros. Uma terceira forma se dá por meio de prevenção e redução de riscos e de
danos, com medidas para redução da sua probabilidade de ocorrência e também por meio da
elaboração de um plano de controle para remediação dos danos, em caso de ocorrência. A quarta
forma possível de lidar com riscos é capacitar a organização para identificá-los, antecipá-los,
mensurá-los e mitigá-los (IBGC, 2007, pp. 24-25).
73
Esses indicadores ou índices tornam possível a realização de diagnósticos, bem como
acompanhamento de ações, avaliação de resultados e comparações de dados. Ou seja, são dados que
contribuem para a compreensão de onde se está e onde se deseja chegar, analisando tendências e
construindo cenários. Avaliar a sustentabilidade, dentro do que é possível no ambiente empresarial, é
estabelecer medidas que informem sobre o estado econômico, social e ambiental de uma dada região
em um momento definido do tempo, como um registro fotográfico, e retornar, posteriormente, e
fazer outro registro de forma semelhante, avaliando os resultados das ações executadas.
Além dos modelos de avaliação apresentados anteriormente, cabe destacar o modelo Estrutura
Internacional para Relato Integrado (RI) – International Framework for Integrated Reporting, IR –12,
lançado em 2013 pelo Conselho Internacional para Relato Integrado (ou IIRC, da sigla em inglês),
uma coalizão global de reguladores, investidores, empresas, definidores de padrões, profissionais do
setor contábil e ONGs. O material foi elaborado ao longo de dois anos, com ampla consulta a
stakeholders e aplicado em 100 empresas, 10 delas, brasileiras, e serve de piloto para o lançamento da
estrutura. A expectativa é que essa estrutura possa se tornar padrão para relatórios corporativos.
Breier, Yung e Caten (2011) realizaram uma análise comparativa de seis modelos de avaliação
de sustentabilidade que contemplam as dimensões ambiental, econômica e social. Constataram que,
para cada dimensão, há três tipos de indicadores, assim tipificados por se referirem a aspectos
ambientais, práticas de gestão e potencial de poluição. Na dimensão econômica, há indicadores de
desempenho financeiro e econômico. Na dimensão social, os indicadores se dividem segundo o tema:
recursos humanos internos, sociedade, responsabilidade pelo produto e relação com os stakeholders.
Os modelos apresentados até aqui servem para o reporte de ações empresariais com o objetivo
de avaliar o seu desempenho para além da dimensão econômica e são utilizados para comunicar à
sociedade as ações empreendidas. Frequentemente, são criticados por não subsidiarem tomadas de
decisão da alta administração das empresas.
Há outro tipo de indicadores – aqueles que mostram o estado da sociedade no tempo e no
espaço, mais comumente elaborados por instituições governamentais ou do terceiro setor.
Agentes que não fazem parte do mundo corporativo também vêm elaborando indicadores de
sustentabilidade. A partir do conceito de desenvolvimento sustentável, foram formulados índices e
indicadores que contemplam as dimensões social e ambiental, muito além da dimensão apenas
econômica, classicamente mensurada pelo Produto Interno Bruto (PIB). Nesse sentido, o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) leva em conta, ao mesmo tempo, o PIB per capita, a longevidade
e a educação, e é adotado por diversos países membros da ONU.
Outro indicador interessante é a “pegada ecológica”, que relaciona a captação de recursos
naturais necessários para a produção de um bem com o seu consumo. Demonstra que, se toda a
12
Ver https://integratedreporting.org/wp-content/uploads/2015/03/13-12-08-THE-INTERNATIONAL-IR-FRAMEWORK-Portugese-
final-1.pdf. Acesso em: nov. 2019.
74
população do planeta consumisse como as populações dos países ditos desenvolvidos, não haveria
recursos naturais no planeta suficientes para satisfazer tais demandas.
A cada dois anos, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), instituto público
da administração federal que é o principal provedor de dados e informações no país, publica os
Indicadores do Desenvolvimento Sustentável (IDS), composto por 62 indicadores agrupados em 4
dimensões de sustentabilidade. Na dimensão ambiental, há indicadores sobre terra, água doce,
oceanos, mares e áreas costeiras, biodiversidade e saneamento. Na dimensão social, há dados sobre
população, trabalho, rendimento, saúde, educação e habitação. A dimensão econômica reúne dados
clássicos do quadro econômico relacionados a padrões de produção e de consumo. Finalmente, a
dimensão institucional apresenta indicadores relativos a acordos globais, conselhos, comitês e
organizações da sociedade civil, articulações interinstitucionais, entre outros.
O Butão inovou ao criar o índice de Felicidade Interna Bruta (FIB), que constituiu um
instrumento para as políticas públicas daquele país. O indicador despertou a atenção da ONU, que
criou um grupo para estudar o FIB, do qual resultou a publicação, em 2012, do World Hapiness
Report. Baseia-se na ideia de valorizar a percepção dos indivíduos, em vez dos seus bens e
rendimentos. O FIB mede 9 dimensões: bem-estar psicológico, uso do tempo, vitalidade da
comunidade, diversidade cultural, saúde, educação, diversidade e resiliência ecológicas, padrão de
vida e boa governança.
Durante a conferência da ONU para o meio ambiente, a Rio+20, foi lançado o Inclusive
Wealth Index (IWI), traduzido como índice de enriquecimento inclusivo. O IWI conjuga variáveis
relativas aos capitais econômico, natural e social com a taxa de crescimento demográfico, em uma
perspectiva de longo prazo.
Apesar da proliferação de diversos tipos de índices e indicadores, é possível constatar que
ainda não existe um indicador amplamente aceito para mensurar o chamado “capital natural”, isto
é, a dimensão propriamente ambiental da sustentabilidade. Faz-se necessário mensurar o impacto
temporal e espacial da aplicação de toda nova tecnologia para que seja possível corrigir rumos.
75
CONCLUSÃO
78
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O livro reúne artigos de pesquisadores da área de Ciências Sociais a respeito de conflitos
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83
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Série Gestão de Pessoas. Rio de Janeiro: FGV, 2015.
Essa publicação da FGV constitui a principal referência para elaboração da presente apostila
e tem como um dos seus autores o professor Leandro Chevitarese, responsável pelo curso.
Apresenta os conceitos de ética, responsabilidade social e sustentabilidade, e analisa a sua
aplicação no mundo corporativo.
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PROFESSORES-AUTORES
Leandro Chevitarese é doutor em Filosofia pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, na área de Ética, mestre
em Filosofia também pela PUC-Rio, na área de Filosofia da Cultura,
Mestre em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social pelo
Instituto de Psicologia/EICOS da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, na área de Ética Ambiental, e graduado em Filosofia pela
UERJ. Atualmente, é Professor Adjunto de Filosofia do
Departamento de Educação e Sociedade da UFRRJ; professor do Curso de Mestrado em Filosofia
da UFFRJ; professor convidado do doutorado da COPPEAD/ UFRJ, também professor convidado
dos cursos de MBA da FGV, lecionando disciplinas como Ética e Responsabilidade Profissional,
Ética Empresarial e Responsabilidade Social, Ética e Sustentabilidade, Filosofia e Sociologia para
Gestores, Ética profissional, etc., e professor convidado do curso de Especialização em Filosofia
Contemporânea (pós-graduação lato-sensu) da PUC-Rio, lecionando as disciplinas Ética e
Subjetividade na contemporaneidade e Teoria Crítica. É um dos autores do livro Ética e
sustentabilidade, da Série Gestão de Pessoas – FGV Management, publicado pela Editora da FGV.
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