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Introdução às concepções de Saúde e Doença a

partir da História da Psicopatologia


Maria Lúcia de Moraes Borges Calderoni

Aula 3

O início da História da
Psicopatologia:

da pré-história aos
primórdios da Psiquiatria
Durante o longuíssimo período que vai da pré-história
humana até o nascimento da Psiquiatria (sec. XVIII), o
enlouquecimento não se distinguiu do conjunto do
adoecer humano. A doença era uma só com sintomas
físicos e psíquicos. No início, as primeiras tentativas de
cura se basearam no ‘empirismo’ e na magia.

O empirismo se refere a todos os fazeres e usos


curativos práticos, inclusive farmacoterápicos, que se
desenvolveram pelo método da tentativa e erro como,
por exemplo, o uso terapêutico de ervas e outras
substâncias. Da magia fizeram e fazem parte todos os
rituais e feitiços ligados à cura de que se tem notícia.
Ao longo da História, como se respondeu à
questão: o que é a doença?

Em quase todas as culturas antigas e


primitivas, as doenças foram entendidas
como:

1- perda ou evasão da alma do paciente;

2- penetração mágica de um objeto


invisível em seu corpo;

3- possessão por espíritos malignos.


Quanto às causas, inclusive das doenças mentais,
os antigos consideraram:
- as causas exteriores percebidas de modo empírico
(ex: uma comida ou substância nociva ingeridas
involuntariamente, um acidente, a agressão de algum
animal);

- influências malévolas de outros seres humanos ou


de seres sobrenaturais
(ex: um feiticeiro, de forma mágica, provoca a evasão
da alma ou a sua posse por espíritos do mal ou faz
com que alguém ingira uma substância tóxica).

- ou transgressão de uma lei ou tabu.


Portanto, seja pela ação de objetos, substâncias, animais,
pessoas ou pela ação de seres sobrenaturais (deuses,
demônios etc.) - sempre pela ação de algo exterior ao
doente – (páthos), o resultado é a perda da alma ou sua
conspurcação (para qualquer tipo de doença do corpo ou
da alma).

Acredita-se que algo nocivo foi introduzido no corpo do


doente ou algo fez com que a alma do doente o
abandonasse. Ou seja, algo essencial (do doente) foi
perdido e/ou algo estranho e nocivo foi acrescentado (ao
doente).

E a responsabilidade desses acontecimentos eram


atribuídas ao próprio enfermo, seja por este ter cometido
algum crime (a doença seria punição ou castigo) ou por ter
azar (azar que pode contagiar outros membros do grupo).
Em suma, as doenças de qualquer tipo eram sempre
entendidas como castigo ou punição e a participação
do doente na sua doença podia se resumir à sua
‘culpa’. Muito tempo vai se passar até que a doença
seja considerada como infortúnio do qual não cabe
qualquer responsabilidade ao enfermo.

No que se refere especificamente à loucura, sua


concepção como algo que não seja índice de erro,
impureza ou pecado é muito recente.
Como conseqüência, o doente é
encarado como alguém que deve ser
temido, castigado, afastado do convívio
(pois está conspurcado), purificado,
abandonado, isolado e, às vezes, até
respeitado como portador de algo
sobrenatural. Os tratamentos variam,
mas em geral tem relação com práticas
mágicas e religiosas. Ex: rituais de
purificação.
Lévi-Strauss diz que podemos encontrar uma
explicação racional para a eficácia da magia.
Uma das suas hipóteses para explicar essa
eficácia é a de que os afetos (cólera, medo etc)
têm poder para atuar concretamente sobre os
mecanismos fisiológicos, por ex., pela
atividade intensa do sistema nervoso
simpático.
Em suma, pode-se morrer de medo, de
angústia ou cólera. E também podemos ser
curados a partir de certas disposições afetivas,
como, por ex., a confiança no médico.
Porém, a magia só faz efeito dentro de um
sistema coletivo ou social de crenças onde

- quem sofre - o doente,

- quem aplica a mágica - o feiticeiro ou


xamã (ou o médico ou o psicanalista) e

- a comunidade à qual ambos pertencem


acreditam nela.
Para que um tratamento seja eficaz (mágico ou científico) é
essencial que :

1 - a convicção de que os estados patológicos tem uma causa e


que esta pode ser atingida e

2 - ‘um sistema de interpretação onde a invenção pessoal


desempenha um grande papel e ordena as diferentes fases do mal,
desde o diagnóstico até a cura.’

Lévi-Straus nos apresenta a relação entre a eficácia do médico,


xamã ou psicanalista e a teorização sobre a doença:
A teorização sobre uma realidade (a doença) em si mesma desconhecida, (que
é exatamente o que fazemos ao criar os sistemas teórico-explicativos sobre
os quais baseamos nossas práticas) se baseia em uma tripla experiência’:

- do próprio xamã (médico ou psicanalista) que experimenta modificações em


si mesmo, ou seja, que se deixa afetar pelo exercício de sua vocação, em suma
que crê que a sua magia (ou técnica ou remédios) tem efeitos reais;

- do doente que melhora ou não e

- do público, do coletivo social, que também tem uma participação


fundamental na cura, pois será a crença coletiva que determinará, ao final, o
sucesso buscado.
É aquilo que na psicanálise, por ex., tem relação com a
transferência, com a confiança que podemos estabelecer
com o terapeuta ou com a abordagem que ele representa.

Aliás, no texto A Eficácia Simbólica teremos um exemplo


fascinante da eficácia dessa espécie de prática curativa
que será comparada pelo autor exatamente com a eficácia
da Psicanálise na nossa cultura.

Lévi-Strauss descreve uma intervenção ‘mágica’ na


consecução de um parto difícil
que resultará numa modificação no ‘real’ do corpo da
parturiente – o bebê que estava em posição errada no
útero, vira-se [ou é ‘virado’ pela manipulação mágica] e
pode nascer.

Mas em quais condições essa ‘eficácia’ é possível? Lévi-


Strauss responde:

“a cura consistiria, pois, em tornar pensável uma


situação dada inicialmente em termos afetivos e (em
tornar) aceitáveis para o espírito, as dores que o corpo
se recusa a tolerar.
Que a mitologia do xamã não corresponda a uma
realidade objetiva, não tem importância: a doente acredita
nela, e ela é membro de uma sociedade que acredita.”

Algumas observações sobre os tratamentos na Medicina


Pré-Técnica

A Medicina Pré-Técnica dispôs de muitas maneiras de


tratamento que variaram conforme o período ou a cultura
a que queiramos nos referir. Vejamos as principais:
a) prática cirúrgica: considerada como uma intervenção direta –
arrancar o mal de onde ele está – e entendida como purificação. A
cirurgia extirpa o mal e o ato de extirpar é o ato de purificar;

b) o recurso farmacêutico: substâncias consideradas benéficas [a


partir dos saberes tradicionais empiricamente constituídos] são
ministradas aos doentes;

c) o recurso dietético – inclui prescrições sobre todos os hábitos


do corpo: andar, jeito de se vestir, alimentação, estar perto do
mar, da montanha, perfumes, ginástica, o sonho, o sono etc.
Exemplo de dietas prescritas: não poder usar lã, só algodão;
nenhum calçado de madeira, só couro; ficar ao ar livre, andar nas
pedras; ficar perto do mar etc;
d) a catarse - que significa purgação, purificação,
limpeza, evacuação, natural ou provocada, por qualquer
via;

e) o ensalmo – que são fórmulas verbais de caráter


mágico, recitadas ou cantadas perante o enfermo para
conseguir sua cura.

Os estudiosos da medicina arcaica vão nos ensinar que


a catarse e o ensalmo possivelmente existem desde o
paleolítico e são encontrados em todas as culturas ditas
‘primitivas’.
Freud falará de ‘cura catártica’ no final do século
XIX e atribuirá à palavra um poder terapêutico. Ele
diz em seu texto “Tratamento Psíquico, Tratamento
da Alma” (1890): “será preciso empreender um
longo percurso para poder compreender o modo
pelo qual a ciência consegue devolver à palavra ao
menos uma parte de seu antigo poder
ensalmador”.
Freud está nos lembrando que a ciência médica
ignorou a palavra (do doente e do médico) como
método de cura, o que coloca uma séria questão
do estatuto da Psicopatologia no seio da Medicina.
Apresento a vocês duas
citações de Jaa Torrano
que se encontram na
Introdução a Teogonia de
Hesíodo e, por último, com
uma citação de Lacan:
“(...) a palavra (...) tinha o poder de fazer o
mundo e o tempo retornarem à sua matriz
originária e ressurgirem com o vigor,
perfeição e opulência de vida com que
vieram à luz pela primeira vez. A recitação
dos cantos cosmogônicos tinha o poder de
por os doentes que os ouvissem em contato
com as fontes originárias da Vida e
restabelecer-lhes a saúde, tal o poder e
impacto que a força da palavra tinha sobre
seus ouvintes”. (Jaa Torrano)
“(...) o que, no caso de Hesíodo, é o mais
real – é especificamente as Palavras. E as
Palavras falam do que é real e do que
não é real, apresentando-os quando e
como elas querem (...). As Palavras falam
tudo, elas apresentam o mundo. Sendo
as Palavras por excelência o mais real e
consistindo o poder delas (...) num
poder de presentificação, é nas Palavras
que reside o ser”. (Jaa Torrano)
“Freud tomou a responsabilidade
– contra Hesíodo, segundo o qual
as doenças enviadas por Zeus
avançam em direção aos homens
em silêncio – de nos mostrar que
existem doenças que falam, e de
nos fazer ouvir a verdade do que
elas dizem”. (Lacan, Escritos)
Conclusão:

através de um longo período de nossa história (e,


certamente em toda a Pré-História humana), a
doença mental não é vista como algo separado do
conjunto das doenças em geral;

a concepção de que a doença mental é uma


‘entidade’ possível de ser discriminada, com
etiologia e tratamentos que lhe são específicos
pertence a um período muito recente de nossa
história;
Essa maneira de encarar as doenças, sobretudo a
doença mental, segue dessa forma por muitos séculos
e somente em 1793, Pinel vai libertar os loucos dos
hospícios-prisões, já em plena Revolução Francesa,
em que pese o fato do gesto de Pinel ser, sobretudo,
um símbolo de uma fase de transição na história da
loucura - transição para o campo moderno da doença
mental e da sua relação com o saber médico.

Na realidade, até hoje não é incomum o louco ser


maltratado como se tivesse, de fato, culpa por sua
insanidade.
Voltando ao início da chamada Medicina Científica:

Será no século V a.C. (Hipócrates) que as práticas


curativas empírico-mágicas iniciam sua conversão
para uma medicina técnica ou científica e essa, ao
tentar esboçar uma teoria racional sobre as
enfermidades e, especialmente, para marcar sua
diferença com a magia e a superstição procura
ater-se ao que era da ordem do visível, do
mensurável e do objetivável.
É difícil medir como e quanto uma palavra pode ser
terapêutica e não é a toa que a Medicina, nos seus
primórdios, foi chamada de ‘arte muda’.

Este é um dos sentidos essenciais da existência de


uma Psicopatologia não identificada com a
especialidade médica psiquiátrica, pois se a primeira
se refere às coisas da alma que não são visíveis e
mensuráveis, o seu acesso exige uma escuta do
páthos - do que em nós não é razoável e objetivável.
Ou seja, para exercer seu ofício, a Psicopatologia
não pode ser ‘arte muda’ nem ‘surda’.

No entanto, ainda hoje, há quem identifique as


práticas psicoterápicas incluindo aí a Psicanálise,
ao não-científico. Para essas concepções, as
práticas de cura ‘pouco mensuráveis’, que
trabalham com técnicas mais ou menos intangíveis
e com um objeto de estudo tão pouco ‘objetivo’
não podem participar legitimamente do nobre
campo do conhecimento científico.
Depois de Hipócrates, Galeno (séc II d.C) é o médico antigo
mais importante. Interessa lembrá-lo porque, retomando
ideias de Aristóteles, ele dirá que o corpo é órganum
(instrumento) da alma (psyché), está subordinado à alma.
Consolida-se na Medicina a ideia da supremacia da alma
sobre o corpo tão cara à tradição judaico-cristã.

Para Galeno, não existe uma doença psíquica discriminada


das outras e todas são consideradas ‘doenças do corpo’, ou
seja, a vida mental e suas perturbações estão reduzidas ao
orgânico. A doença pode atrapalhar o funcionamento da
alma, mas esta não fica doente.
A sede da alma (o corpo) pode ser lesada e, dependendo
do tipo de lesão e do local afetado, teremos os variados
tipos de loucura. Bem parecido com o organicismo radical
da Psiquiatria Biológica atual que talvez não saiba como
sua base teórica é tão antiga!

Ao contrário de Hipócrates, Galeno e toda a medicina


atual não encaram a doença como desequilíbrio entre o
corpo, a alma e o ambiente. Para Galeno, a doença
sempre aparece num lugar específico do corpo, donde a
gênese da especialidades médicas opostas à uma
medicina da totalidade.
Grande parte dos médicos após Galeno passaram a se
ater ao diagnóstico dos sintomas e a tentar saber ler
os sinais da doença no corpo. Deveriam entender de
semiologia (estudo dos sintomas, dos sinais).

Talvez a homeopatia, atualmente, represente a


tendência curativa que recupera a ideia da totalidade.
Os homeopatas (e também os hipocráticos!) afirmam
que o doente deve sempre ser tratado como um
todo.
Assim sendo, a partir do século II d.C., a Medicina vai
se configurando como técnica de curar o corpo
adoecido enquanto os males da alma passam pouco a
pouco a integrar o campo da ética ou da moral,
portanto da filosofia e mais adiante da religião.

Isso se deve ao fato de que a alma é pensada cada vez


mais como ‘incorpórea’ e separada do corpo e as
consequências disso para a Psicopatologia são imensas.
A medicina tomou aos seus cuidados esse corpo
concebido como nossa parte ‘material’, ‘animal’,
poderíamos dizer ‘menos humana’ e a alma
(psique) foi deixando de ser assunto médico.

Essa separação da medicina do corpo e da alma


tem uma de suas origens na ideia antiga, já
citada ao falarmos de páthos: a ideia de que as
doenças da alma são o estado no qual a alma
caiu sob o império das paixões - a alma sã é
dominada pela razão, a alma adoecida é aquela
que perdeu o controle exercido pela razão, é
aquela que está descontrolada, desarrazoada.
Os filósofos estóicos (sec. III a.C até sec. III
d.C.) dirão que o sábio é isento de paixões e
por isso não tem doença da alma. Paixão é
loucura, por isso o sábio não pode ter
paixões. Temos portanto, uma concepção de
loucura completamente moralista: só é
doente da alma quem quer, é uma questão de
escolha – até recentemente vamos encontrar
essas ideias relacionadas, por exemplo, aos
sintomas histéricos.
A faculdade fundamental da alma é julgar. Está
doente aquele que julga mal e a perda dessa
capacidade é a perda do domínio da razão.

Os males somáticos são considerados muito menos


importantes do que os da alma, pois as doenças da
alma a tornam insensível e produzem a
desumanização do doente.

A cura do corpo está nas mãos do acaso, dos


remédios que podem ou não funcionar. Já, a cura da
alma é pura virtude, depende exclusivamente de nós.
A psique doente é aquela incapaz de suportar o
sofrimento, incapaz de resignação e, sobretudo,
incapaz de parar de desejar. Tornou-se
insensível à razão.
Insania significa etimologicamente ‘a ausência de
saúde na alma’.

A mágoa e o desejo são doenças profundas


porque impedem a virtude e a sabedoria. A saúde
é tranquilidade, a alma em sossego cujas marcas
são a constância, a concórdia e a moderação.
A loucura é própria dos ignorantes. Donde
stultitia - estupidez ou desequilíbrio mental.
Donde dementia - perda do poder da mente. O
demente é aquele cuja inteligência não exerce
mais o domínio sobre si mesmo.

Essas concepções fazem com que na Idade


Média, as patologias mentais se tornem assunto
dos padres já que a alma tornou-se ‘alma
espiritual’, incorpórea e superior ao corpo.
Os teólogos (a partir de ideias aristotélicas)
considerarão que a ‘terapêutica da alma’ deve se
basear na palavra severa e violenta do mestre (o
educador moral) que ensine bons hábitos e torne o
homem virtuoso, portanto, mentalmente saudável.

São essas ideias que chegam à Renascença em


termos psicopatológicos. A moral cristã considera
que o homem havia recebido de Deus todo o
necessário para alcançar a harmonia e se
aperfeiçoar, especialmente a razão.
O louco, num certo sentido, é aquele que negou
a sua parcela divina.
É aquele que está amens -fora de si, desvairado;
furiosus - delirante, violento, inacessível a uma
relação humana, reduzido a um estado animal,
estado em que se perdeu a alma espiritual (sede
da razão) que permite ao homem desprender-se
do material (corporal) e chegar ao conhecimento
de Deus ou com insania - o homem submetido às
suas paixões, aos seus apetites inferiores.
Ou seja, aquele que perdeu sua própria
condição de humanidade, perdeu o que o
distinguia dos animais e o aproximava de
Deus. Estão dadas as condições de construção
da ideia de que a loucura se relaciona à
possessão demoníaca e que suas vítimas são
pecadoras e devem ser punidas - o diabo não é
aquele que pretende afastar o homem de Deus?
Esse tipo de pensamento irá se expandir até o
século XVI quando conhece seu apogeu.
Pessotti diz que, nessa época, toda a
classificação da loucura não passa de uma ‘lista
dos diferentes modos de atuação do demônio
sobre o conhecimento e a vida afetiva’. O louco
receberá o tratamento dos sequazes de Satã. Um
dos famosos textos sobre o assunto e talvez o
verdadeiro ‘manual classificatório das patologias
mentais da época’ é o Malleus maleficorum (O
martelo dos malignos) que, publicado em 1484,
faz muito sucesso na Europa até 1669. Toda
doença desconhecida era atribuída ao diabo.
No século XII, os loucos começam a serem segregados como
os leprosos no momento em se vive um período muito
conturbado em função da fome, da peste e da guerra.

É quando se inicia a construção dos asilos nos quais se


internam loucos e indigentes de forma indiscriminada. Dois
séculos depois começam a existir asilos só para loucos.

Em torno de 1453 - o ano da queda de Bizâncio - começa o


período da caça às bruxas no qual o louco passa a ser visto
como perigoso, maldito e contagioso – como o leproso.
É também o período no qual o medo se
estende à sexualidade ligada ao medo do
contágio pela sífilis – medo que se cristaliza em
um temor à sexualidade feminina e à mulher,
que é considerada como um ‘templo
construído sobre uma cloaca’. Assim fala ‘O
martelo dos malignos’: ‘Toda feitiçaria provém
dos desejos carnais que estão instalados nas
mulheres... as mais ardentes, para lograr a
satisfação de seus desejos imundos’.
A ligação entre pecado, perigo, loucura,
sexualidade e feminilidade é um assunto
fascinante e extenso no qual não adentraremos
no momento, mas que terá relações com o
lugar da sexualidade na constituição do
aparelho psíquico para a teoria psicanalítica.

Do início da Era Moderna e da chamada


Revolução Científica até o século XVII, no campo
da psicopatologia, estaremos em plena ‘caça às
bruxas’.
Os loucos serão cada vez mais separados dos sãos,
expulsos de seus lugares de origem, presos ou
queimados como bruxos (em geral, como bruxas). A ‘nau
dos insensatos’ de Bosch é uma das representações do
tratamento reservado aos ‘doentes da alma’.

Como veremos na próxima aula, a Psiquiatria será


gestada neste caldo que mistura o humanismo
renascentista e a explosão da atividade pesquisadora,
científica, artística e filosófica, mas também a Inquisição,
a caça às bruxas e as concepções demonológicas sobre as
patologias mentais.

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