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Regina Company, Inc

O caso relativo à empresa americana Regina Company começa por nos apresentar
aquele que foi o principal responsável pela massiva fraude financeira que iremos estudar
hoje.
Donald Scheelen, que iniciou a sua carreira em Wall Street, tornou-se presidente da
Regina Company em 1980, após ter liderado o departamento de marketing, uma subsidiária
da General Signal Corporation. Ele transformou a empresa, expandindo a sua linha de
produtos, que anteriormente dependia grandemente de apenas um tipo de produto, e
aumentando os gastos com publicidade para competir com Hoover e Eureka (os principais
concorrentes da indústria, à frente da Regina).

Pretendia bombardear a Hoover e liderar face à concorrência. Sheelen, ele ficou


conhecido pela atuação de “cornflake”, onde pretendia demonstrar que o seu aspirador da
Regina, tinha melhor performance do que o produto de Hoover. O Hoover denunciou a
publicidade de Sheelen.

Sob a sua liderança, a empresa apresentou um crescimento aparentemente


espetacular entre 1986 e 1988, com aumento impressionante nas vendas, ativos e lucros.
Rapidamente, Regina entrou na lista de compra de ações, em Wall Street.

Sobre a empresa: O preço das ações disparou e tornou Sheelen e a empresa


milionária. As ações no mercado tinham cerca de 100 milhões em 1988.

No entanto, esse sucesso era ilusório. Sheelen, adulterou os valores. A 30 de junho


de 1988, a empresa veio a sofrer um grande prejuízo.

A Regina enfrentava sérios problemas de qualidade com os seus novos produtos,


apressados para o mercado, houve falhas nas questões de controlo, resultando em altas
taxas de devolução, cerca de 50%. Enquanto os de Hoover e Eureka, tinham uma taxa de
retorno inferiores a 1%.

Em vez de lidar adequadamente com os problemas evidenciados, Scheelen e o


CFO, Vincent Golden, decidiram ocultá-los e manipular as demonstrações financeiras.
Subestimaram as devoluções ( manipulação no sistema onde não seriam registados),
manipulação dos preços das ações, inflacionaram as vendas com transações fictícias e
reduziram indevidamente os custos para aumentar os lucros.

Essa fraude permitiu que a empresa fosse cotada no mercado e valorizou


consideravelmente as suas ações. No entanto, quando a fraude foi revelada, a empresa
faliu, as suas ações perderam valor rapidamente e Scheelen e Golden enfrentaram
acusações de fraude.

Este caso evidencia a manipulação grave de demonstrações financeiras para


esconder falhas operacionais e inflacionar os resultados, resultando em consequências
devastadoras. Destaca a importância crítica de uma supervisão rigorosa e independente
das práticas de contabilidade e da integridade na gestão empresarial para evitar danos
significativos aos investidores, funcionários e à reputação da empresa. A história da Regina
Company serve como um alerta sobre os perigos da falta de transparência e manipulação
de dados financeiros, assim como a importância de haver um processo de auditoria rigoroso
e independente.

1. Elenque os fatores que considera como sendo os mais importantes no caso


apresentando.

Destacamos a manipulação das demonstrações financeiras por Donald Scheelen e o


CFO, de forma a inflacionar os lucros e as vendas, a fim de manter o preço das ações
elevado. Isso incluiu subestimar as devoluções (que ascenderam a 50%, enquanto que a
concorrência apresentava taxa de devolução inferior a 1%), criar faturas falsas e registar
vendas fictícias. Neste aspeto, o que também gerou o adulteramento das devoluções, foi o
facto de Scheelen, ambicionar o dominio no mercado face à concorrência, o que levou a
grandes falhas no processo de verificação de qualidade do produto.

Aqui estão os métodos usados por Donald Scheelen e o CFO Vincent Golden para
manipular os relatórios:

Subestimação de Devoluções de Produtos: A empresa enfrentava altas taxas de


devolução devido à baixa qualidade de seus produtos. Para evitar refletir esses retornos
no balanço financeiro, subestimaram deliberadamente as devoluções nos registos nos
sistemas informáticos, mascarando a realidade da situação financeira.

Criação de Faturas Falsas: Para inflacionar as vendas e os ganhos, foram criadas


faturas falsas para transações que não ocorreram de facto. Essas faturas fictícias foram
inseridas nos registos, aumentando os números de vendas.

Vendas Fictícias ('Ship-in-Place'): Outro método foi registrar vendas antes da


conclusão real das transações, uma prática conhecida como 'ship-in-place'. Pedidos que
ainda não tinham sido entregues ou confirmados foram registados como vendas
concluídas, aumentando assim os números de vendas para atingir as metas
estabelecidas para o trimestre.

Subestimação dos Custos dos Bens Vendidos: Para aumentar os lucros, Scheelen e
Golden também subestimaram os custos associados aos produtos vendidos. Reduziram
os custos dos bens vendidos nos registos, através da sua alteração nos computadores
por parte dos empregados a mando do CFO, aumentando assim os lucros relatados.

Bogus Invoices: Geraram faturas fictícias para pedidos anteriores de clientes com
grandes volumes, por considerarem que estes seriam menos prováveis de responderem
a questionamentos por parte da auditoria. Essas faturas não foram enviadas aos
clientes nem registadas corretamente, gerando vendas fictícias que aumentaram os
números financeiros.

Esses métodos revelam uma série de práticas fraudulentas que Scheelen e Golden
empregaram para manipular sistematicamente as demonstrações financeiras da Regina
Company, escondendo uma realidade financeira debilitada da empresa para manter o
preço das ações alto e enganar investidores e stakeholders.
Outro problema que se mostrou evidente neste caso foi a falha do processo de
auditoria. Embora os auditores da Peat Marwick, a empresa responsável pela auditoria,
tenham descoberto uma transação suspeita (‘ship-in-place’ transação), não conseguiram
desvendar o esquema de manipulação, levando apenas em consideração a palavra do CFO
em como não havia mais nenhuma transação similar registada nas contas da empresa. Isso
levantou questões sobre a eficácia do processo de auditoria.

2. Faça uma revisão analítica das demonstrações financeiras da empresa.


Calcule os principais rácios de liquidez, de solvabilidade, de rendibilidade e de
gestão. Analisando esses dados, identifique as principais áreas de risco.
Justifique a sua resposta.
O rácio de liquidez corrente corresponde ao resultado dos ativos correntes
divididos pelas dívidas de curto prazo. Este rácio financeiro permite analisar a capacidade
que a empresa tem para fazer face às necessidades financeiras de curto prazo.

Rácio de Liquidez Corrente 1986 = Current Assets / Current Liabilities = 24 935 / 14 732 =
1,69

Rácio de Liquidez Corrente 1988 = 94 111 / 23 030 = 4,09

Um valor superior a 1 indica que a empresa é capaz de fazer face às obrigações de


curto prazo. O aumento deste rácio de 1986 para 1988 mostra uma melhoria significativa na
capacidade da empresa em pagar as suas dívidas imediatas sem depender fortemente da
venda de inventário. Geralmente, um rácio de liquidez corrente mais elevado sugere uma
posição financeira mais forte e maior capacidade de enfrentar desafios financeiros de curto
prazo.

O Quick Ratio mede o valor dos ativos líquidos disponíveis em relação ao valor dos
passivos circulantes de uma empresa, ou seja, mede a capacidade de uma empresa a
pagar os seus passivos correntes sem a necessidade de vender o seu inventário ou através
de financiamento adicional.

Quick Ratio 1986 = (Cash and Equivalents + Receivables) / Current Liabilities = (63 + 14
402) / 14 732 = 0,98

Quick Ratio 1988 = (885 + 51 076) / 23 030 = 2,26

O Quick Ratio de 0,98 em 1986 indica que a empresa tinha quase a mesma
quantidade de ativos líquidos imediatamente disponíveis (como dinheiro e contas a receber)
em relação às suas dívidas de curto prazo. Isso sugere uma posição mais estreita para lidar
com as suas obrigações imediatas sem depender dos inventários para cobri-las.

Já em 1988, houve um aumento significativo no Quick Ratio, alcançando 2,26. Isso


mostra uma melhoria considerável na capacidade da empresa em pagar suas obrigações
imediatas sem recorrer aos inventários. A empresa tinha mais que o dobro de ativos
líquidos imediatamente disponíveis em comparação com suas dívidas de curto prazo. Essa
melhoria pode refletir uma gestão mais eficiente dos recebíveis e da caixa da empresa.
O rácio de endividamento é um indicador financeiro que mostra a proporção de
dívida que uma empresa tem em relação ao seu capital próprio. Com este rácio, consegue-
se descobrir o quanto a empresa está dependente de financiamento externo e se o negócio
está sobreendividado.

Rácio de Endividamento a Longo Prazo 1986 = Passivo / Capital Próprio = 30 217 /


12 985 = 2,33

3. Identifique procedimentos de auditoria que poderiam ter ajudado o auditor a


detetar as vendas falsas de 5 milhões de dólares bem como a subvalorização
da devolução das vendas contabilizadas durante o ano fiscal de 1988.

Reconciliação de Vendas e Documentação de Suporte: Revisão detalhada das vendas


registadas com a documentação de suporte, como faturas, ordens de venda, confirmações
de clientes e contratos. Qualquer discrepância entre os registos e documentação poderia
ser um sinal de vendas não autênticas.

Análise de Tendências e Variações Anormais: Comparação das vendas ao longo do


tempo e identificação de variações incomuns ou tendências atípicas. Um aumento repentino
e significativo nas vendas deveria ter levantado suspeitas, e consequentemente ter levado a
outros procedimentos de auditoria para aprofundar e tentar explicar essas variações acima
do esperado.

Confirmação Independente com Clientes: Confirmação independente das vendas com


os clientes listados nos registos. Isso poderia ser feito por meio de comunicações diretas
com os clientes para verificar a veracidade das transações, o que não foi feito por parte da
auditoria independente, que ao deparar-se com uma transação suspeita apenas pediu
confirmação ao CFO, bastando-lhe a sua palavra em como nenhuma outra transação
similar existia.

Revisão dos Prazos de Entrega e Expedição: Verificação dos prazos de entrega e


expedição de produtos vendidos. Se as datas de venda e envio não estiverem alinhadas ou
não houver registos de envio correspondentes, isso poderia indicar vendas fictícias. Este
procedimento seria essencial para detetar as transações de ship-in-place.
Análise das Devoluções e Políticas de Devolução: Revisão detalhada das
devoluções registadas, incluindo comparação com políticas de devolução de outras
empresas do mesmo setor. Uma taxa de devolução significativamente menor do que a
média do setor poderia levantar preocupações.

Testes de Observância e Procedimentos de Controlo Interno: Avaliação dos


procedimentos de controlo interno da empresa para garantir que as políticas de vendas,
registos e controlo de devoluções estejam a ser seguidos conforme documentado.

4. Identifique e discuta os principais objetivos do teste de corte. Que tipo de


distorções poderiam estes testes identificar na auditoria à Regina Company,
Inc.

O teste de corte é uma ferramenta crucial na auditoria financeira, pois tem como
objetivo principal verificar se as transações financeiras, como receitas, despesas e outros,
foram registadas no período apropriado. Outros objetivos do teste de corte, incluem o
seguinte:

- Ao verificar se as transações foram registadas no período correto, garantir assim a


precisão dos relatórios financeiros e a sua conformidade com os princípios....
- Evitar a duplicação ou omissão de transações financeiras, assegurando que cada
transação seja registada uma única vez no período apropriado.
- Testar a eficácia dos controlos internos da empresa em garantir que as transações
sejam registadas no momento apropriado.
- Detetar possíveis fraudes ou manipulações, como o reconhecimento indevido de
receitas em períodos inapropriados para inflacionar os resultados financeiros.

Na auditoria à Regina Company, Inc., os testes de corte poderiam identificar diversas


distorções, nomeadamente:

- Poderiam identificar o reconhecimento indevido de receitas fictícias ou não


realizadas no período incorreto para inflacionar os lucros.
- Poderiam revelar a omissão intencional de despesas ou devoluções de vendas que
deveriam ser registadas no período correto para reduzir os custos e aumentar os
lucros.
- Poderiam evidenciar manipulações deliberadas nos registros de vendas ou custos,
como o registo de vendas fictícias ou a subestimação dos custos de produtos
vendidos.
- Poderiam identificar erros na contabilidade ou falhas nos controlos internos,
indicando problemas na precisão dos registros financeiros.

Podemos assim concluir que os testes de corte são fundamentais para garantir a
precisão dos relatórios financeiros e para detetar possíveis irregularidades que poderiam
distorcer a realidade financeira da empresa.

5. O auditor refere que preferiu confiar na administração. Devem os auditores


confiar nos seus clientes? Em que circunstâncias e em que extensão?

A confiança é um elemento essencial na relação entre auditores e clientes, mas a


confiança cega pode comprometer a integridade da auditoria. Os auditores não devem
apenas confiar nos clientes, mas sim confiar com cautela e validar as informações de
maneira independente, evidenciando factos com provas.

Os auditores devem sempre manter uma relação profissional, porém independente,


com os seus clientes. A confiança não deve comprometer a independência necessária para
realizar uma auditoria imparcial. Embora a cooperação e informações precisas dos clientes
sejam essenciais, os auditores devem validar independentemente as informações
fornecidas. Basearem-se apenas na palavra do cliente pode não ser suficiente.

A confiança nos clientes pode variar com base na reputação do cliente, histórico de
conformidade e integridade da gestão. Clientes com histórico de transparência podem ter
um certo nível de confiança, mas ainda requerem validação independente.

Em áreas de alto risco, como transações complexas, mudanças significativas nos


números ou indícios de fraude, a confiança nos clientes deve ser respaldada por testes
rigorosos e verificações independentes, de forma, a que não hajam conflitos de interesses.

Confiança nos controlos internos do cliente pode reduzir a extensão dos testes
substantivos, mas nunca pode substituir completamente a necessidade de evidências
substantivas independentes.
É essencial que os auditores comuniquem claramente as suas expectativas aos
clientes e solicitem informações de maneira transparente para construir uma relação de
confiança mútua.

Em suma, os auditores devem confiar nos clientes dentro de limites razoáveis,


usando a confiança como um ponto de partida, mas sempre validando as informações de
forma independente. A confiança excessiva sem a devida validação independente pode
comprometer a integridade e a qualidade da auditoria.

No entanto, na relação de confiança entre o auditor e o cliente, é crucial agir em


conformidade com aquilo que é o código de ética do profissional de auditoria, de modo a
que, a confiança que se exerce entre os dois elementos não seja confundida como meio de
facilidades de interesses.

Confiança, essencial:

- Obtenção de recursos para avaliar a posição da empresa,

- Facilita os mecanismos no decorrer da ação do plano de auditoria,

-
Bibliografia

Proteste Investe (Consultado a 31/12/2023)


https://www.deco.proteste.pt/investe/lexicon/r/racio-de-liquidez-corrente

Investopedia, 2023, (Consultado a 31/12/2023)


https://www.investopedia.com/terms/q/quickratio.asp

Sage, 2022, (Consultado a 31/12/2023) https://www.sage.com/pt-pt/blog/racio-de-


endividamento-de-uma-empresa-como-interpreta-lo/

Manual de Auditoria Financeira - Uma análise integrada baseada no risco, Bruno José
Machado de Almeida, 2022

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