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Guia do trabalhador independente: novidades para 2023

Quanto custa ser trabalhador independente? Quais as obrigações fiscais e contributivas de quem
trabalha por conta própria? E quais são os seguros obrigatórios?

"Guia do trabalhador independente: novidades para 2023"

Trabalhar por conta própria, ou a recibos verdes, tem vantagens e desvantagens. Se por um lado
há mais flexibilidade e liberdade para escolher o horário e o local de trabalho, por outro há um
conjunto de despesas associadas que devem ser bem orçamentadas.

Enquanto que para os trabalhadores por conta de outrem uma parte dessas despesas é paga pelo
empregador, para quem trabalha por conta própria a fatura pode ser mais pesada.

As contas em causa dependem não só do rendimento, mas também da própria atividade. Isto
porque o enquadramento fiscal não é o mesmo para todos os trabalhadores independentes e,
mesmo em sede de IRS, por exemplo, é diferente se os rendimentos são obtidos através da venda
de produtos ou de serviços.

Por isso, não há contas certas e iguais para todos até porque, como veremos, são muitas as
variáveis que entram nestes cálculos. Preparámos, a este propósito, um guia do trabalhador
independente, que o pode ajudar a perceber melhor quais as obrigações associadas a quem
trabalha por conta própria.

GUIA DO TRABALHADOR INDEPENDENTE: OS IMPOSTOS A PAGAR (IRS E IVA)

IRS e IVA são os dois impostos com que os trabalhadores independentes têm de se preocupar,
mas tudo depende do rendimento que receberem. Isto porque existem limites mínimos até aos
quais estão dispensados de fazer retenção na fonte de IRS e isentos de IVA.

Além disso, as taxas variam também consoante a atividade desenvolvida.

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IRS

Os rendimentos de categoria B, ou seja, os que são obtidos através do trabalho independente,


devem ser declarados e, tal como acontece no caso dos trabalhadores por conta de outrem,
devem ter retenção na fonte. Ou seja, uma parte do que se ganha não chega a entrar no bolso
do trabalhador.

Para quem trabalha por conta de outrem, esse valor fica na posse da empresa, que depois paga
ao Fisco. No caso dos recibos verdes, esse valor é entregue pelo cliente ao Estado.

As taxas de retenção na fonte aplicáveis aos trabalhadores independentes são, de acordo com
o Artigo 101º do CIRS:

• 25% para os rendimentos que constem da tabela de atividades profissionais no artigo


151.º do CIRS, por exemplo engenheiros, enfermeiros, contabilistas;
• 11,5 % para os trabalhadores independentes que não estão previstos na tabela de
atividades profissionais do artigo 151.º do CIRS e atos isolados;
• 16,5% para os rendimentos provenientes de propriedade intelectual (escritores, por
exemplo), industrial ou de prestação de informação sobre experiência nos setores
comercial, industrial ou científico;
• 20% para os rendimentos auferidos em atividades de valor acrescentado, com carácter
científico, artístico ou técnico, definidas em portaria do membro do Governo responsável
pela área das Finanças, por residentes não habituais em território português.

Isto significa que, se o valor do recibo a emitir for de 1000 euros, e sendo um rendimento sujeito
a retenção de 25%, deve fazer a retenção de 250€. Ou seja, recebe 750€ e os restantes 250€
devem ser entregues ao Estado pela empresa a quem passou o recibo.

Dispensa de retenção na fonte

Ainda assim, a retenção na fonte não é obrigatória para todos. Isto é, se no ano anterior os seus
rendimentos ficarem abaixo de um determinado montante, pode não fazer a retenção. Nesse
caso, e ao passar o recibo, deve assinalar a opção Dispensa de Retenção na Fonte / art. 101.º-B,
n.º 1, al. a) e b), do CIRS.

O limite do volume de negócios que dá direito a dispensa de retenção na fonte é, desde 2021,
de 12.500 euros.

Pagamento por conta

Se não faz retenção na fonte terá na mesma de pagar IRS, através dos chamados pagamentos por
conta, feitos três vezes por ano (em julho, setembro e dezembro).

As Finanças, tendo em conta os rendimentos que declarou – em 2021 vão ter em conta os
rendimentos de 2020 – fazem um cálculo e, partindo do princípio que este ano vai manter o
rendimento, cobram-lhe o respetivo IRS.

Os acertos fazem-se quando entregar a próxima declaração: se pagou a mais vai


receber o reembolso, se pagou a menos vai ter de entregar ao Fisco o montante de IRS que ficou
em falta.

Tal como nos casos anteriores, o valor do pagamento por conta vai depender do rendimento,
mas este é mais um fator a ter em consideração quando se fazem as contas a quanto custa ser
trabalhador independente.

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IVA

Em 2022, o pagamento do IVA era obrigatório para quem ultrapassasse os 12.500 euros de
volume de negócios. Em 2023, este limite aumenta para os 13.500 euros, sendo aplicável ao
volume de negócios do ano anterior. Isto significa que se, em 2022, os seus rendimentos brutos
não atingiram os 13.500 euros (mesmo estando enquadrado em regime de IVA), então pode
beneficiar da isenção deste imposto.

Quando o limite é ultrapassado, os trabalhadores independentes mantêm-se isentos da cobrança


de IVA apenas até janeiro do ano seguinte já que, a partir dessa data, têm de apresentar à
Autoridade Tributária e Aduaneira uma declaração de alteração de atividade.
Depois, a partir de fevereiro, está prevista a obrigação de realizar a cobrança de IVA junto das
entidades a quem prestam serviços. Este valor deve ser então entregue ao Estado, podendo, no
entanto, ser deduzido o IVA das despesas relacionadas com a atividade.

A declaração periódica do IVA é mensal ou trimestral, em função da faturação do trabalhador


independente.

Estão também obrigados ao pagamento de IVA os trabalhadores independentes que tenham


contabilidade organizada e que pratiquem operações de importação, exportação ou atividades
conexas.

São igualmente obrigados a pagar IVA se as vendas ou prestação de serviços forem na área dos
desperdícios, resíduos e sucatas recicláveis.

Contabilidade organizada ou regime simplificado?

Os trabalhadores independentes com rendimentos anuais líquidos até 200 mil euros são
automaticamente colocados no regime simplificado, mas podem optar pela contabilidade
organizada.

No regime simplificado não será necessário contratar um contabilista certificado, evitando assim
mais uma despesa. No entanto, este regime também não permite deduzir as despesas com a
atividade. Para efeitos fiscais, apenas é considerada uma parte dos rendimentos obtidos, que
varia conforme a atividade.

O regime de contabilidade organizada também está acessível a quem ganhar menos de 200 mil
euros anuais. E, nesse caso, já permite deduzir despesas com a atividade, mas obriga também a
que sejam considerados os rendimentos brutos anuais.

CONTRIBUIÇÕES PARA A SEGURANÇA SOCIAL

Esta é uma despesa obrigatória, exceto para quem abriu atividade há menos de 12 meses. Nesse
caso, e até para poder beneficiar de proteção social caso seja necessário, pode fazer uma
contribuição voluntária no valor de 20 euros.

No caso dos trabalhadores independentes não abrangidos pelo regime de contabilidade


organizada, o valor da contribuição é calculado trimestralmente, com base nos valores que
constam da declaração trimestral.

Esse rendimento é dividido por três e é aplicada uma taxa de 21,4%. Esse é o valor da contribuição
a pagar. O valor apurado em cada período declarativo, produz efeitos no próprio mês e nos dois
meses seguintes.

O montante a pagar não tem em conta o total do rendimento declarado; é apurado com base no
chamado rendimento relevante. Ou seja, 70% dos rendimentos na prestação de serviços ou 20%
dos rendimentos associados à produção e venda de bens.

Por exemplo: Valor da declaração trimestral = 3000€. Dividindo por três ficamos com um
rendimento médio mensal de 1000€, sendo que 70% equivale a 700€. Sobre estes 700€, aplica-
se a taxa de 21,4%, o que representa uma contribuição mensal de 149,8€.
No entanto, e para pagar mais ou menos, o trabalhador independente pode, quando apresentar
a declaração trimestral, alterar o rendimento relevante, aumentando-o ou diminuindo-o em
intervalos de 5%. Estas alterações podem ser feitas até um limite de 25%, sem prejuízo dos limites
previstos: mínimo de 20,00€ e máximo de 12xIAS (ou seja, 5.765,16€ em 2023).

Para quem tem está abrangido pelo regime de contabilidade organizada, o rendimento relevante
é calculado com base no lucro tributável do ano anterior. Esse valor é dividido por 12, sendo que
o limite mínimo é de 1,5 vezes o valor do IAS (720,65€ em 2023), sobre o qual se aplicará a
respetiva taxa contributiva de 21,4%.

CALENDÁRIO FISCAL DOS TRABALHADORES INDEPENDENTES

Os trabalhadores independentes devem ter sempre à mão as datas das obrigações declarativas e
contributivas, para que nenhuma obrigação com o Estado falhe por esquecimento.

Datas da declaração trimestral à Segurança Social

Por norma, o pagamento das contribuições é mensal e tem de ser efetuado entre o dia 10 e o dia
20 do mês seguinte àquele a que as mesmas respeitam. Já a declaração trimestral deve ser
entregue:

• Até 31 de janeiro, os trabalhadores independentes têm de declarar os rendimentos


respeitantes ao último trimestre do ano anterior (outubro, novembro e dezembro). Tem
também, nesta data, que confirmar ou declarar os valores dos rendimentos relativos ao
ano civil anterior;
• Até 30 de abril, deve submeter os rendimento auferidos em janeiro, fevereiro e março;
• Até 31 de julho, os rendimentos auferidos em abril, maio e junho;
• E até 31 de outubro, os rendimentos que auferiu em julho, agosto e setembro.

Datas de entrega da declaração periódica do IVA

A este respeito também há novidades para 2023. Os prazos de entrega da declaração periódica
do IVA foram alargados. De acordo com o artigo 41º do Código do IVA, a declaração periódica
deve ser submetida no Portal das Finanças:

• Até ao dia 20 do 2.º mês seguinte àquele a que respeitam as operações (declaração
periódica de IVA mensal). Recorde-se que a entrega da declaração periódica de IVA
mensal é obrigatória para quem teve um volume de negócios igual ou superior a 650 mil
euros no ano civil anterior;
• Até ao dia 20 do 2.º mês seguinte ao trimestre do ano civil a que respeitam as operações
(declaração periódica de IVA trimestral), sendo que o pagamento deve ser feito até dia
25. Ou seja:
o 1.º trimestre: entrega até 20 de maio e pagamento até ao dia 25;
o 2.º trimestre: entrega até 20 de setembro e pagamento até ao dia 25;
o 3.º trimestre: entrega até 20 de novembro e pagamento até ao dia 25;
o 4.º trimestre: entrega até 20 de fevereiro e pagamento até ao dia 25.

Nota: Caso o dia de entrega ou pagamento de cada mês coincida com fim de semana ou feriado,
deve entender-se que o prazo termina no primeiro dia útil seguinte.
HÁ ALGUM SEGURO OBRIGATÓRIO PARA OS TRABALHADORES INDEPENDENTES?

Nas contas para perceber quanto custa ser trabalhador independente há mais uma parcela a
acrescentar: o seguro obrigatório. Trata-se de um seguro de acidentes de trabalho, semelhante
ao que é feito para os trabalhadores por conta de outrem.

A principal diferença é que, neste caso, tem de ser pago pelo próprio. O valor do seguro depende
da atividade, dos rendimentos e das coberturas contratadas, pelo que é conveniente estar atento
a todos esses detalhes.

Como é obrigatório, estão previstas coimas entre os 50 e os 500 euros para quem não o tiver.

Artigo originalmente publicado em julho de 2019. Última atualização em janeiro de 2023.

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