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Quanto custa ser trabalhador independente? Quais as obrigações fiscais e contributivas de quem
trabalha por conta própria? E quais são os seguros obrigatórios?
Trabalhar por conta própria, ou a recibos verdes, tem vantagens e desvantagens. Se por um lado
há mais flexibilidade e liberdade para escolher o horário e o local de trabalho, por outro há um
conjunto de despesas associadas que devem ser bem orçamentadas.
Enquanto que para os trabalhadores por conta de outrem uma parte dessas despesas é paga pelo
empregador, para quem trabalha por conta própria a fatura pode ser mais pesada.
As contas em causa dependem não só do rendimento, mas também da própria atividade. Isto
porque o enquadramento fiscal não é o mesmo para todos os trabalhadores independentes e,
mesmo em sede de IRS, por exemplo, é diferente se os rendimentos são obtidos através da venda
de produtos ou de serviços.
Por isso, não há contas certas e iguais para todos até porque, como veremos, são muitas as
variáveis que entram nestes cálculos. Preparámos, a este propósito, um guia do trabalhador
independente, que o pode ajudar a perceber melhor quais as obrigações associadas a quem
trabalha por conta própria.
IRS e IVA são os dois impostos com que os trabalhadores independentes têm de se preocupar,
mas tudo depende do rendimento que receberem. Isto porque existem limites mínimos até aos
quais estão dispensados de fazer retenção na fonte de IRS e isentos de IVA.
1
IRS
Para quem trabalha por conta de outrem, esse valor fica na posse da empresa, que depois paga
ao Fisco. No caso dos recibos verdes, esse valor é entregue pelo cliente ao Estado.
As taxas de retenção na fonte aplicáveis aos trabalhadores independentes são, de acordo com
o Artigo 101º do CIRS:
Isto significa que, se o valor do recibo a emitir for de 1000 euros, e sendo um rendimento sujeito
a retenção de 25%, deve fazer a retenção de 250€. Ou seja, recebe 750€ e os restantes 250€
devem ser entregues ao Estado pela empresa a quem passou o recibo.
Ainda assim, a retenção na fonte não é obrigatória para todos. Isto é, se no ano anterior os seus
rendimentos ficarem abaixo de um determinado montante, pode não fazer a retenção. Nesse
caso, e ao passar o recibo, deve assinalar a opção Dispensa de Retenção na Fonte / art. 101.º-B,
n.º 1, al. a) e b), do CIRS.
O limite do volume de negócios que dá direito a dispensa de retenção na fonte é, desde 2021,
de 12.500 euros.
Se não faz retenção na fonte terá na mesma de pagar IRS, através dos chamados pagamentos por
conta, feitos três vezes por ano (em julho, setembro e dezembro).
As Finanças, tendo em conta os rendimentos que declarou – em 2021 vão ter em conta os
rendimentos de 2020 – fazem um cálculo e, partindo do princípio que este ano vai manter o
rendimento, cobram-lhe o respetivo IRS.
Tal como nos casos anteriores, o valor do pagamento por conta vai depender do rendimento,
mas este é mais um fator a ter em consideração quando se fazem as contas a quanto custa ser
trabalhador independente.
2
IVA
Em 2022, o pagamento do IVA era obrigatório para quem ultrapassasse os 12.500 euros de
volume de negócios. Em 2023, este limite aumenta para os 13.500 euros, sendo aplicável ao
volume de negócios do ano anterior. Isto significa que se, em 2022, os seus rendimentos brutos
não atingiram os 13.500 euros (mesmo estando enquadrado em regime de IVA), então pode
beneficiar da isenção deste imposto.
São igualmente obrigados a pagar IVA se as vendas ou prestação de serviços forem na área dos
desperdícios, resíduos e sucatas recicláveis.
Os trabalhadores independentes com rendimentos anuais líquidos até 200 mil euros são
automaticamente colocados no regime simplificado, mas podem optar pela contabilidade
organizada.
No regime simplificado não será necessário contratar um contabilista certificado, evitando assim
mais uma despesa. No entanto, este regime também não permite deduzir as despesas com a
atividade. Para efeitos fiscais, apenas é considerada uma parte dos rendimentos obtidos, que
varia conforme a atividade.
O regime de contabilidade organizada também está acessível a quem ganhar menos de 200 mil
euros anuais. E, nesse caso, já permite deduzir despesas com a atividade, mas obriga também a
que sejam considerados os rendimentos brutos anuais.
Esta é uma despesa obrigatória, exceto para quem abriu atividade há menos de 12 meses. Nesse
caso, e até para poder beneficiar de proteção social caso seja necessário, pode fazer uma
contribuição voluntária no valor de 20 euros.
Esse rendimento é dividido por três e é aplicada uma taxa de 21,4%. Esse é o valor da contribuição
a pagar. O valor apurado em cada período declarativo, produz efeitos no próprio mês e nos dois
meses seguintes.
O montante a pagar não tem em conta o total do rendimento declarado; é apurado com base no
chamado rendimento relevante. Ou seja, 70% dos rendimentos na prestação de serviços ou 20%
dos rendimentos associados à produção e venda de bens.
Por exemplo: Valor da declaração trimestral = 3000€. Dividindo por três ficamos com um
rendimento médio mensal de 1000€, sendo que 70% equivale a 700€. Sobre estes 700€, aplica-
se a taxa de 21,4%, o que representa uma contribuição mensal de 149,8€.
No entanto, e para pagar mais ou menos, o trabalhador independente pode, quando apresentar
a declaração trimestral, alterar o rendimento relevante, aumentando-o ou diminuindo-o em
intervalos de 5%. Estas alterações podem ser feitas até um limite de 25%, sem prejuízo dos limites
previstos: mínimo de 20,00€ e máximo de 12xIAS (ou seja, 5.765,16€ em 2023).
Para quem tem está abrangido pelo regime de contabilidade organizada, o rendimento relevante
é calculado com base no lucro tributável do ano anterior. Esse valor é dividido por 12, sendo que
o limite mínimo é de 1,5 vezes o valor do IAS (720,65€ em 2023), sobre o qual se aplicará a
respetiva taxa contributiva de 21,4%.
Os trabalhadores independentes devem ter sempre à mão as datas das obrigações declarativas e
contributivas, para que nenhuma obrigação com o Estado falhe por esquecimento.
Por norma, o pagamento das contribuições é mensal e tem de ser efetuado entre o dia 10 e o dia
20 do mês seguinte àquele a que as mesmas respeitam. Já a declaração trimestral deve ser
entregue:
A este respeito também há novidades para 2023. Os prazos de entrega da declaração periódica
do IVA foram alargados. De acordo com o artigo 41º do Código do IVA, a declaração periódica
deve ser submetida no Portal das Finanças:
• Até ao dia 20 do 2.º mês seguinte àquele a que respeitam as operações (declaração
periódica de IVA mensal). Recorde-se que a entrega da declaração periódica de IVA
mensal é obrigatória para quem teve um volume de negócios igual ou superior a 650 mil
euros no ano civil anterior;
• Até ao dia 20 do 2.º mês seguinte ao trimestre do ano civil a que respeitam as operações
(declaração periódica de IVA trimestral), sendo que o pagamento deve ser feito até dia
25. Ou seja:
o 1.º trimestre: entrega até 20 de maio e pagamento até ao dia 25;
o 2.º trimestre: entrega até 20 de setembro e pagamento até ao dia 25;
o 3.º trimestre: entrega até 20 de novembro e pagamento até ao dia 25;
o 4.º trimestre: entrega até 20 de fevereiro e pagamento até ao dia 25.
Nota: Caso o dia de entrega ou pagamento de cada mês coincida com fim de semana ou feriado,
deve entender-se que o prazo termina no primeiro dia útil seguinte.
HÁ ALGUM SEGURO OBRIGATÓRIO PARA OS TRABALHADORES INDEPENDENTES?
Nas contas para perceber quanto custa ser trabalhador independente há mais uma parcela a
acrescentar: o seguro obrigatório. Trata-se de um seguro de acidentes de trabalho, semelhante
ao que é feito para os trabalhadores por conta de outrem.
A principal diferença é que, neste caso, tem de ser pago pelo próprio. O valor do seguro depende
da atividade, dos rendimentos e das coberturas contratadas, pelo que é conveniente estar atento
a todos esses detalhes.
Como é obrigatório, estão previstas coimas entre os 50 e os 500 euros para quem não o tiver.