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GRANDE ENTREVISTA/ PCA/ CLÁUDIO DOS SANTOS

JORNAL DE ANGOLA

TEMA: MEDIDAS TRIBUTÁRIAS PARA 2021

1 – O Pacote Tributário aprovado este ano, pela Assembleia Nacional, configura uma nova
era de arrecadação de impostos no país. O que esperar do sistema tributário nacional em
2021?

Não se trata propriamente de uma nova era, mas do seguimento da reforma tributária que tem
sido levada a cabo desde 2010, a AGT perspectiva, em 2021, de modo geral, o alargamento da
base tributária, captando sobretudo aqueles contribuintes que hoje estão no sector informal.

Por outro lado, daremos enfase a cidadania fiscal, queremos que o contribuinte compreenda, por
nosso intermédio, o seu real papel no sistema tributário. Em 2021, vamos maximizar a interação
com o contribuinte, captando as suas melhores experiências para ajustes pontuais aos nossos
módulos de tributação.

2 – Que alterações se impõem na tributação dos bens importados à luz do IVA?

No quadro da tributação dos bens importados, não existem, em bom rigor, novas alterações.
Sucede que, na sequência do que vinha sendo aplicado no OGE 2020, manteve-se fixa em 5% a
taxa do IVA que incide sobre as operações de importação e transmissão dos bens constantes da
lista anexa ao Código do IVA.

O nosso propósito é reduzir ao máximo as isenções no IVA, que acabam distorcendo o seu
conceito e retirando a sua neutralidade.
Manteve-se intacto, igualmente, o valor tributável na importação de bens, incidindo o IVA sobre o
valor aduaneiro.

3 - Que estímulos estão previstos à tributação da Importação dos Insumos Agrícolas?

Para 2021, a intenção é manter o desagravamento da taxa do Imposto sobre o Valor Acrescentado
que incide sobre a importação de insumos agrícolas constantes do Anexo I da Lei do OGE, fixando-
se em 5% a taxa de tributação do IVA na importação e no mercado interno.

Se associarmos estas medidas as tomadas para o alívio económico, em Abril de 2020, observa-
se aqui a preocupação do Estado no auxílio ao tecido empresarial das empresas,
fundamentalmente no sector primário, com realce para a agricultura.

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4 – Casos excepcionais de caducidade das obrigações tributárias. Para 2021, o processo
vai obedecer outros trâmites?

A Pandemia da Covid-19 obrigou o país a adoptar um conjunto de medidas preventivas que


afectaram significativamente o normal funcionamento dos serviços públicos, sobretudo aqueles
que pressupõem um contacto directo entre a Administração Pública e os Particulares, com
destaque para as acções de fiscalização desenvolvidas pela AGT.

Por essa razão, tendo em conta que o prazo de caducidade do exercício de 2015 estaria vencido
agora a 31 de Dezembro de 2020, e sendo que este ano se verificaram constrangimentos
imprevisíveis ao normal desempenho da actividade de fiscalização da AGT derivados da
Pandemia da Covid-19, propôs-se, excepcionalmente, o alargamento do prazo de caducidade do
exercício de 2015, para 31 de Dezembro de 2021.

5 – Que estratégias estão previstas para os contribuintes inseridos no Regime Transitório


e de Não Sujeição do IVA, uma vez que Dezembro termina o prazo de transição ao Regime
Geral?

Com vista a garantir uma gestão mais eficiente do IVA por parte da AGT e dos contribuintes,
permitindo-se que estes disponham de tempo razoável para se adaptarem às exigências que um
imposto do tipo IVA encerra para os contribuintes enquadrados no Regime Geral, onde em 2021,
por determinação legal, os contribuintes enquadrados no Regime Transitório seriam
automaticamente transferidos, propôs-se a criação do Regime Simplificado do IVA, no qual se
enquadram os contribuintes que nos 12 meses anteriores tenham tido um volume de negócios ou
operações de importação igual ou inferior a 350 milhões de kwanzas.

Vale esclarecer, que os contribuintes com este volume de negócios que hoje já se encontram no
regime geral, deverão lá permanecer, pois, uma vez solicitado o enquadramento voluntário neste
regime, a lei obriga a que os contribuintes se mantenham nele durante 5 anos.

7 – Face as mudanças, o que de facto vamos assistir com a entrada do Regime


Simplificado?

Com a entrada em vigor do Regime Simplificado, os sujeitos passivos vão apurar o imposto devido
mensalmente, mediante a aplicação da taxa de 7% sobre o volume de negócios efectivamente
recebidos de operações não isentas de imposto, incluindo os adiantamentos ou pagamento
antecipados.
Os contribuintes enquadrados no Regime Simplificado passam a poder deduzir 7% do total do
imposto suportado, tanto no mercado interno como nas importações, distanciando-se este último
ponto do sistema de dedução do regime transitório, na medida em que os contribuintes deste
regime não podem, hoje, deduzir o IVA suportado nas importações.

8 – Como se efectiva a migração do Regime Simplificado para o Regime Geral?

Mantém-se a mesma filosofia das regras de adesão voluntária, ou seja, os contribuintes que não
desejam permanecer no regime simplificado ao longo de 2021, podem solicitar o seu
enquadramento no regime geral, desde que observem todas as formalidades impostas por lei.
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Importa dar nota que, na passagem para o Regime Geral do Imposto sobre o Valor Acrescentado,
os contribuintes podem deduzir o imposto suportado das mercadorias contidas nas existências
destinadas à venda, adquiridas nos 12 meses anteriores àquela passagem, mediante autorização
da Administração Tributária, desde que reportadas no mapa de fornecedores. No imposto a
deduzir não inclui os serviços adquiridos incorporados no custo das mercadorias destinados à
venda.

Outra grande novidade tem a ver com o reembolso, pois tal não se aplicava ao regime transitório.
Com a alteração proposta, os contribuintes enquadrados no Regime Simplificado poderão solicitar
o reembolso do crédito a seu favor.

9 – Além do Simplificado há outros regime em perspectiva?

Propôs-se ainda a criação de um Regime de Exclusão, que vem afastar de qualquer obrigação em
sede de IVA todos os contribuintes com um volume de facturação anual de até 10 milhões de
kwanzas.

O objectivo desta norma é evitar que pequenos contribuintes como zungueiras, engraxadores,
vendedores de feira, dentre outros, sejam expostos a uma elevada carga de tarefas tributárias de
carácter secundário em sede deste imposto, estando, porém, sujeitos aos demais impostos
conforme as respectivas normas de incidência determinem.

10 – Que iniciativas vão garantir o equilíbrio na concorrência entre os contribuintes.

Visando corrigir distorções à concorrência que se verifica entre os contribuintes enquadrados no


Regime Geral que praticam apenas operações isentas e os contribuintes enquadrados
actualmente no Regime Transitório, consubstanciada no facto destes entregarem, trimestralmente,
3% da sua facturação dos últimos 3 meses, e aqueles nada entregarem aos Cofres do Estado, o
que os coloca numa situação manifestamente vantajosa relativamente aos contribuintes do
Regime Transitório, afectando significativamente a sã concorrência entre estes dois agentes
económicos, foi proposto que os sujeitos passivos do IVA, enquadrados no Regime Geral e no
Simplificado, que pratiquem operações isentas, fiquem obrigados ao pagamento do Imposto de
Selo sobre o recibo de quitação à taxa de 7%, referente à verba 23.3 da tabela anexa ao Código
do Imposto de Selo, aprovado pelo Decreto Legislativo Presidencial n.º 3/14, de 21 de Outubro.

11 - O que vai acontecer aos bens e serviços pagos pelos contribuintes por via TPA?

Como medida de combate a práticas de evasão fiscal e planeamento fiscal agressivo, sobretudo
para aqueles agentes económicos que se dedicam a uma actividade comercial sem
estabelecimento estável ou localizável, e que não prestam declarações ou entregam
irregularmente os imposto à Administração Tributária, foi proposto a aplicação de uma taxa de
2.5% a título de retenção do IVA sobre o valor dos recebimentos obtidos nos TPA - Terminais de
Pagamento Automático, por estes agentes económicos, relativamente às suas transmissões de
bens e prestações de serviços .

Porém, cabe deixar claro, que os contribuintes enquadrados no Regime Geral e simplificado do
IVA que cumprem mensalmente com as suas obrigações declarativas e de pagamento, podem
deduzir na declaração periódica a totalidade do IVA retido.

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12 – Qual será a função das instituições bancárias no controlo dos valores obtidos nos
TPA?

As Instituições Financeiras Bancárias devem assegurar a transferência automática para a Conta


Única do Tesouro dos valores globais retidos pelos terminais de pagamento emitidos aos seus
clientes no prazo de 24 horas após o fecho do período contabilístico do referido aparelho, devendo
ainda, submeter à Administração Geral Tributária por transmissão electrónica de dados um ficheiro
mensal contendo o resumo das operações processadas nos terminais de pagamento electrónicos
por si emitidos aos seus clientes, indicando o valor total dos recebimentos, o valor do imposto
retido, o número do referido aparelho e o NIF associado.

Propôs-se o prazo de 120 dias para que as Instituições Financeiras Bancárias possam
parametrizar os terminais de pagamento automático atribuídos aos seus clientes, para efectuarem
as retenções do IVA ao abrigo deste regime.

13 - No domínio do sector aduaneiro, que mudanças se vão operar?

Com vista a melhorar e simplificar o regime de importação de bens considerados de uso pessoal,
previstos na nova Pauta Aduaneira e por forma a actualizar o valor base que serviu para a
construção da norma, propôs-se na Lei do OGE de 2021 que as mercadorias expedidas pelos
correios por intermédio de operadores de correio ou carga expresso, ou contidas na bagagem
pessoal dos viajantes, desde que reúnam os requisitos do conceito de bens de uso pessoal,
transportadas em quantidades reduzidas e que não excedam por remessa ou por viajante o valor
de 880 000,00 kwanzas ficam dispensadas do procedimento de despacho, do pagamento dos
direitos aduaneiros e a taxa devida pela prestação de serviços.

As mercadorias que não reúnam os requisitos do conceito de bens de uso pessoal ou cujo valor
seja entre superior a 880 000,00 kwanzas e igual ou inferior a 1 320 000,00 de kwanzas, estarão
sujeitas ao procedimento simplificado de despacho nos seguintes moldes:

 Na importação, à tributação por aplicação de uma taxa forfetária de 16% do valor FOB;

 Na exportação, à tributação por aplicação das taxas previstas no regime de exportação


das mercadorias.

As mercadorias cujo valor exceda os 1 320 000,00 de kwanzas são desalfandegadas no


procedimento geral de despacho.

Por outro lado, com vista a desincentivar a exportação de bens alimentares, medicamentos,
equipamentos médicos e bens de biossegurança nacionalizados, propôs-se a sua sujeição ao
pagamento de Direitos Aduaneiros à taxa de 70%, calculado sobre o valor aduaneiro.

14 – Para 2021, há outra alteração que gostaria de destacar?

Não, não há. As mencionadas correspondem as mais notórias e de maior impacto tributário.

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