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Setor Agrícola - Aspetos contabilísticos e fiscais

ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

16 O enquadramento das atividades agrícolas em IVA

16.1 IVA - Enquadramento das atividades agrícolas

Em termos de Imposto sobre o valor acrescentado (IVA), a atividade agrícola tem


características próprias que determinam o enquadramento da tributação e que é necessário
abordar.

Lembramos que o IVA é um imposto de base comunitária que tem sido ao longo dos tempos
regulado por várias diretivas do Conselho da União Europeia, pelo que se aplica em todos
os estados membros de forma semelhante. É um imposto que incide sobre a despesa ou
consumo e tributa o "valor acrescentado" das transações efetuadas pelos contribuintes.

As disposições relativas ao sistema comum do IVA da União Europeia são atualmente


reguladas pela Diretiva IVA (Diretiva 2006/112/CE do Conselho, de 28 de Novembro de
2006).

Breve abordagem histórica ao regime do IVA aplicado em Portugal às atividades agricolas

A sexta diretiva do IVA do Conselho, de 17 de Maio 1977 (atualmente revogada e


substituída pela Diretiva IVA), foi a Diretiva que mais tempo teve de aplicação nos estados
membros. Esta Diretiva, no artigo 25.º previa um regime comum forfetário para produtores
agrícolas sempre que a aplicação do regime normal do IVA ou do regime especial (na
legislação nacional regime especial de isenção previsto no artigo 53.º do Código do IVA)
encontrar dificuldades de forma a compensar a carga do IVA paga pelos agricultores
abrangidos relativamente às aquisições de bens e serviços.

Na atual Diretiva IVA, o regime comum forfetário dos produtores agrícolas encontra-se
previsto nos artigos 295.º a 305.º da Diretiva 2006/112/CE do Conselho de 28 de Novembro
de 2006, encontrando-se revogada a Sexta Diretiva.

Portugal até 2015 nunca transpôs para o direito interno o regime forfetário dos produtores
agrícolas.

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Na sequência do Tratado de Adesão de Portugal em 1985, Portugal entendeu que não


estavam criadas a nível interno as condições que permitissem a correta aplicação do regime
comum forfetário previsto na Diretiva, tendo ficado acordado com as autoridades
comunitárias que Portugal aplicaria uma isenção completa (taxa zero) a um conjunto de
fatores de produção agrícola e a um conjunto de bens alimentares de primeira necessidade,
sendo esta taxa zero complementada com as isenções que vieram a ficar consignadas no
artigo 9.º do Código do IVA, conseguindo assim isolar o setor agrícola por forma a que não
viesse a ser afetado significativamente pelo sistema de tributação em IVA (Acórdão do
Tribunal Central Administrativo Sul, Processo 3905/00 de 19/03/02). Esta opção vigorou até
31 de Janeiro de 2012, tendo vindo a ser revogada a isenção prevista no n.º 33 do art. 9.º
com a lei de orçamento do Estado para 2013 (artigo 198.º da Lei n.º 66-B/2012, de 31 de
dezembro).

Esta alteração que originou a revogação do n.º 33 do art. 9.º (onde se encontrava prevista a
isenção para as atividades agrícolas), teve como origem o Acórdão do Tribunal de Justiça
(Quarta Secção) de 8 de março de 2012 no âmbito do processo C-524/10 que tem por
objeto uma ação por incumprimento de Portugal nos termos do artigo n.º 258.º TFUE,
entrada em 11 de novembro de 2010, a pedido da Comissão Europeia. No referido Acórdão
o Tribunal de Justiça declara-se que “ao aplicar aos produtores agrícolas um regime
especial que não respeita o regime instituído pela Diretiva 2006/112/CE do Conselho, de 28
de Novembro de 2006, relativa ao sistema comum do imposto sobre o valor acrescentado e
prever a aplicação de uma percentagem forfetária de compensação de nível zero, a
República Portuguesa não cumpriu as obrigações que lhe incumbem por força dos artigos
296.º a 298.º da referida diretiva”.

Esta alteração estabeleceu novas regras para os contribuintes que, até 31 de dezembro de
2012, estavam dispensados da obrigação da liquidação do IVA nas transmissões de bens e
prestações de serviços no âmbito das atividades agrícolas, silvícolas ou pecuárias.

Para além desta alteração significativa que entrou em vigor em 1 de janeiro de 2013,
também o orçamento do Estado para 2015 (aprovado pela Lei n.º 82-B/2014 de 31 de
Dezembro) introduziu finalmente no código do IVA o regime forfetário dos produtores
agrícolas.

Estas duas alterações introduzem mudanças significativas em termos de IVA na atividade


agrícola, vejamos então o enquadramento atual para efeito de IVA das atividade agrícolas:

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Ø Alterações introduzidas em 1 de Janeiro de 2013 e formalismos e obrigações dos


agricultores

Com a revogação do n.º 33 do artigo 9.º, os agricultores que à data de 31 de dezembro de


2012 se encontravam abrangidos pelo regime de isenção previsto no n.º 33 do artigo 9.º do
Código do IVA, e que, durante aquele ano civil, realizaram um volume de negócios superior
a €10.000 ou que não reúnam as demais condições para o respetivo enquadramento no
regime especial de isenção previsto no artigo 53.º do Código do IVA, deviam apresentar a
declaração de alterações prevista no artigo 32.º do Código do IVA, durante o primeiro
trimestre de 2013 e ficavam submetidos ao regime geral de tributação do IVA a partir
de 1 de abril de 2013. Este prazo foi várias vezes prorrogado até 30 de abril de 2014.
(Despacho n.º 4/2014-XIX do SEAF)

As transmissões de bens e as prestações de serviços no âmbito das atividades de produção


agrícola, exercidas de um modo independente e com carácter de habitualidade, configuram
uma atividade económica no campo de incidência subjetiva do imposto, abrangida pela
alínea a) do n.º 1 do artigo 2.º do Código do IVA, pelo que os agricultores que se encontrem
nestas condições devem apresentar a declaração de início de atividade prevista no artigo
31.º do Código do IVA.

O Ofício Circulado n.º 30.143/2003 de 13/03/2013, da Direção de Serviços do IVA, clarifica


de forma objetiva a obrigação de apresentação da declaração pelos sujeitos passivos de
reduzida dimensão económica, cuja atividade não se encontrava anteriormente declarada
para efeitos de IVA. Existe a obrigação, com efeitos a 1 de abril de 2013, de apresentação
da declaração de início de atividade ou, sendo o caso, da declaração de alterações, para
todos os sujeitos passivos que realizem transmissões de bens ou prestações de serviços no
âmbito das atividades de produção ou exploração agrícola, silvícola ou pecuária,
independentemente da sua dimensão económica, ainda que se trate de operações com
carácter acessório com recurso à sua própria mão-de-obra e equipamentos, que não se
encontrem ainda registados para efeitos de IVA ou que não tenham esta atividade declarada
nos elementos constantes da sua declaração de início de atividade. Este prazo foi
prorrogado quatro vezes, pelo Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, até 30 de abril de
2014

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16.2 Regime Especial de Isenção do artigo 53.º do Código do IVA

Apesar da revogação do n.º 33 do artigo 9.º, os pequenos agricultores, podem ainda


beneficiar da isenção do artigo 53.º do Código do IVA.

Este regime de isenção aplica-se apenas aos sujeitos passivos que:

• Não tenham nem sejam obrigados a ter contabilidade organizada para efeitos do
IRS;
• Não pratiquem importações, exportações ou atividades conexas com alguma destas
operações;
• Não exerçam atividades que consistam em transmissões de bens ou prestações de
serviços do setor de desperdícios, resíduos e sucatas recicláveis, mencionados
no anexo E do Código do IVA;
• Não tenham atingido, no ano civil anterior, um volume de negócios superior a
€12.500147.

Podem, ainda, beneficiar do regime de isenção os retalhistas com um volume de negócios


superior a €10.000 mas inferior a €12.500, que, se fossem tributados, preencheriam as
condições de inclusão no regime dos pequenos retalhistas.

O conceito de volume de negócios está definido no artigo 42.º do Código do IVA, sendo
constituído pelo valor, com exclusão do imposto, das transmissões de bens e prestações de
serviços efetuadas pelo sujeito passivo. Os subsídios ou subvenções não fazem parte do
volume de negócios.

Esta isenção do artigo 53.º é uma isenção simples ou incompleta, caracterizada pela não
liquidação do imposto a jusante, mas também pela não dedução do IVA suportando nas
aquisições de bens e serviços a montante.

Os sujeitos passivos que iniciem a sua atividade devem declarar, na respetiva declaração de
início de atividade, a previsão do volume de negócios relativo ao ano civil corrente, a qual,
depois de confirmada pela Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), é tida em consideração
no enquadramento desse mesmo ano.

147
A Lei do OE2020 alterou o limite de €10.000 para €12.500.

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No entanto, quando o período em referência for inferior ao ano civil, deve converter-se o
volume de negócios relativo a esse período num volume de negócios anual correspondente.

O sujeito passivo no regime especial de isenção de IVA do artigo 53.º tem a


obrigatoriedade de emitir fatura, fatura simplificada ou fatura–recibo com a menção
“IVA – regime de isenção”.

Passagem de um regime de tributação ao regime especial de isenção e vice-


versa

O artigo 54.º do Código IVA determina que, uma vez verificados os condicionalismos
previstos no artigo 53.º do Código do IVA para poder beneficiar da isenção do IVA, se os
sujeitos passivos não isentos pretenderem a aplicação do regime especial nele
estabelecido, devem apresentar uma declaração de alterações. Esta declaração só pode ser
apresentada durante o mês de janeiro do ano seguinte àquele em que se verifiquem os
pressupostos estabelecidos no artigo 53.º e produz efeitos a partir de 1 de janeiro do ano da
sua apresentação.

Por outro lado, o artigo 58.º do Código do IVA determina que os sujeitos passivos
enquadrados no regime especial de isenção estabelecido no artigo 53.º do Código do IVA,
quando deixem de reunir as condições para aplicação do citado regime, estão obrigados a
apresentar uma declaração de alterações de atividade no prazo de 15 dias, tendo em vista o
enquadramento no regime de tributação.

Quando a obrigação da entrega da declaração de alterações de atividade se deve a ter sido


atingido um volume de negócios superior ao limite previsto para aquela isenção, a
declaração é apresentada durante o mês de janeiro do ano seguinte àquele em que o
volume de negócios auferido ultrapassou esse limite, resultando desta alteração, o
enquadramento do sujeito passivo no regime de tributação em 1 de fevereiro desse mesmo
ano (n.º 5 do artigo 58.º do Código do IVA).

Reinício após a cessação da atividade

O artigo 53.º do Código do IVA exige a verificação cumulativa dos requisitos nele previstos,
para que os sujeitos passivos possam beneficiar da isenção aí consagrada.

Contudo, o n.º 2 do artigo 56.º do Código impõe duas limitações à aplicação do regime
especial de isenção, quando os sujeitos passivos reiniciem a atividade após cessação, não

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obstante preencherem as condições exigidas nesta norma legal. Não podem beneficiar do
regime de isenção:

“Nos 12 meses seguintes ao da cessação, os sujeitos passivos que, estando enquadrados


num regime de tributação à data de cessação de atividade, reiniciem essa ou outra
atividade;

No ano seguinte ao da cessação, os sujeitos passivos que reiniciem essa ou outra atividade
e que, se não tivessem declarado a cessação, seriam enquadrados, por força da alínea a)
do n.º 2 do artigo 58.º, no regime normal."

16.3 Regime Forfetário

O Orçamento do Estado para 2015 (Lei n.º 82-B/2014, de 31 de dezembro) aditou ao Código
do IVA o “Regime forfetário dos produtores agrícolas” e os anexos F e G.
Este regime que se encontra previsto nos artigos 59.º-A a 59.º-E, tem como objetivo
compensar os pequenos produtores agrícolas inseridos no regime de isenção de IVA
previsto no artigo 53.º, que, por serem isentos de IVA, não podem deduzir os montantes de
IVA pagos aos seus fornecedores. Aderindo a este regime, os produtores agrícolas isentos
de IVA podem obter uma compensação forfetária calculada a partir da aplicação de uma
percentagem de 6% sobre o total das vendas e serviços agrícolas por si efetuados em cada
ano a outros sujeitos passivos de IVA (empresas, cooperativas, outros produtores,
comerciantes e prestadores de serviços em geral).

Quem pode beneficiar do regime:

Os produtores agrícolas enquadrados no regime de isenção do IVA (artigo 53.º do Código


do IVA) ou que reúnam as condições para beneficiarem daquele regime, designadamente,
que não tenham atingido, no ano civil anterior, um volume de negócios148 (vendas e
prestação de serviços) superior a 12.500 euros, ou que, no ano do início da atividade,
prevejam obter um volume de negócios igual ou inferior àquele montante, que efetuem
transmissões de produtos agrícolas e prestações de serviços que conferem direito à
compensação forfetária149. É importante referir que no ano do início de atividade essa
previsão é anualizada de acordo com o valor indicado na declaração de início de atividade.

148
O valor das ajudas da PAC (subsídios) não faz parte do volume de negócios.
149
Previstas nos anexos F e G do Código do IVA.

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O regime de isenção do artigo 53.º do CIVA e consequentemente no regime forfetário aplica-


se aos sujeitos passivos que reúnam as seguintes condições:

● Produtores agrícolas que não possuam nem sejam obrigados a possuir


contabilidade organizada;

● Não pratiquem operações de importação ou exportação;

● Não exerçam atividades que consistam na transmissão de bens ou prestação de


serviços mencionadas no anexo E do CIVA (sucatas);

● E que não tenham atingido, no ano civil anterior, um volume de negócios superior a
€12.500 ou que, no ano do início da atividade, prevejam obter um volume de
negócios igual ou inferior àquele montante.

O regime forfetário dos produtores agrícolas aplica-se a sujeitos passivos de IRS e IRC,
desde que cumpridas as condições de enquadramento. No caso de sujeitos passivos de IRC
apenas se pode aplicar a entidades do sector não lucrativo que não disponham de
contabilidade organizada e que estejam abrangidas pelo regime especial de isenção do
artigo 53.º do CIVA.

Um produtor agrícola com o regime forfetario pode desenvolver simultaneamente outro tipo
de atividades não agrícolas, desde que, no conjunto das operações que realiza, não
ultrapasse os €12.500 de volume de negócios.

Se a par da atividade agrícola, o produtor agrícola desenvolver uma atividade isenta ao


abrigo do artigo 9.º do Código do IVA, que não confere direito à dedução, pode calcular o
volume de negócios, para efeitos de inclusão no regime forfetário, tomando apenas em
conta os resultados relativos à atividade agrícola.

Como é calculada a compensação forfetária?

O valor da compensação a atribuir resulta da aplicação de uma percentagem de 6% sobre o


total das vendas de produtos agrícolas ou das prestações de serviços agrícolas efetuadas,
em cada ano, a outros sujeitos passivos de IVA (empresas, cooperativas, outros produtores,
comerciantes e prestadores de serviços em geral, transações intracomunitárias), que por
sua vez não beneficiem do regime forfetário.

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A compensação forfetária, não revestindo a natureza de imposto, visa atenuar o impacto do


IVA suportado pelo produtor agrícola na aquisição de bens e serviços necessários ao
exercício da sua atividade, relativamente ao qual não pode exercer o direito de dedução.

1. Exemplo 1:
Um pequeno agricultor que optou pelo regime forfetário, efetuou durante o ano 2019 as
seguintes vendas e prestações de serviços:

Compensação
Vendas e prestações de serviços valor
6%

Venda de produtos agrícolas a cooperativas agrícolas 2.900 € 174 €


Prestações de serviços de sementeira e colheita a sociedades
agrícolas 900 € 54 €
Prestaçõesde serviços de sementeira e colheita a um produtor
agrícola no regime especial de isenção 600 € 36 €
Venda de produtos agrícolas a produtor com regime forfetário 400 € 0€
Venda de produtos agrícolas a estabelecimentos comerciais 1.400 € 84 €
Venda de produtos agrícolas a particulares 570 € 0€
Total 6.770 € 348 €

Compensação a que o agricultor tem direito a pedir à AT (Autoridade Tributária e Aduaneira)


até final de março/2020, referente ao ano de 2019: 348 euros

2. Exemplo 2:
Um pequeno silvicultor que optou pelo regime forfetário, efetuou durante o ano de 2019,
uma venda de €14.000, a uma sociedade, referente à extração de cortiça.
Este silvicultor tem direito a pedir pedir á AT uma compensação forfetária no valor de €840
(6%x€14.000), embora no ano de 2020 já não possa ficar no enquadrado no regime especial
de isenção, e consequentemente no regime forfetário, porque no ano de 2019 ultrapassou o
volume de negócios de €10.000.

Que vendas de produtos agrícolas conferem direito à compensação forfetária?150

São abrangidas pelo regime forfetário do IVA as vendas de bens provenientes diretamente
da exploração do produtor agrícola e que resultem do exercício das seguintes atividades:
I - Cultura propriamente dita:
1 - Agricultura em geral, incluindo a viticultura;
2 - Fruticultura (incluindo a oleicultura) e horticultura floral e ornamental, mesmo em estufas;

150
Anexo F do Código do IVA

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3 - Produção de cogumelos, de especiarias, de sementes, de material de propagação


vegetativa e exploração de viveiros.
II - Criação de animais conexa com a exploração do solo ou em que este tenha carácter
essencial:
1 - Criação de animais;
2 - Avicultura;
3 - Cunicultura;
4 - Sericicultura;
5 - Helicicultura;
6 - Apicultura.
III - Culturas aquícolas e piscícolas.
IV - Silvicultura.
V - São igualmente consideradas atividades de produção agrícola as atividades de
transformação efetuadas por um produtor agrícola sobre os produtos provenientes,
essencialmente, da respetiva produção agrícola com os meios normalmente utilizados nas
explorações agrícolas e silvícolas.

Que prestações de serviços agrícolas conferem direito à compensação forfetária?151

Conferem direito à compensação forfetária as seguintes prestações de serviços, quando


efetuadas com caráter acessório pelo produtor agrícola que utiliza os seus próprios recursos
de mão-de-obra e equipamento normal da respetiva exploração:
1 - As operações de sementeira, plantio, colheita, debulha, enfardação, ceifa e
recolha;
2 - As operações de embalagem e de acondicionamento, tais como a secagem,
limpeza, trituração, desinfeção e ensilagem de produtos agrícolas;
3 - O armazenamento de produtos agrícolas;
4 - A guarda, criação e engorda de animais;
5 - A locação, para fins agrícolas, dos meios normalmente utilizados nas
explorações agrícolas e silvícolas;
6 - A assistência técnica;
7 - A destruição de plantas e animais nocivos e o tratamento de plantas e de
terrenos por pulverização;
8 - A exploração de instalações de irrigação e de drenagem;
9 - A poda de árvores, corte de madeira e outras operações silvícolas.

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Quais as operações que não conferem direito à compensação forfetária?

• Vendas e prestações de serviços agrícolas a consumidores finais (particulares);


• Vendas e prestações de serviços agrícolas a produtores agrícolas enquadrados no
regime forfetário.
• Vendas e prestações de serviços que não se enquadrem no âmbito de uma atividade
agrícola.

Como é solicitada a compensação forfetária?

A compensação forfetária é solicitada pelo produtor agrícola através do preenchimento de


um requerimento de modelo oficial publicado pela portaria n.º 19/2015 de 04 de Fevereiro,
relativo a cada ano, a ser entregue através do Portal das Finanças, até ao último dia do mês
de março de cada ano.

151
Anexo G do Código do IVA

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Posteriormente à data da submissão do pedido a AT procede á análise do pedido, efetuando


a compensação que for devida no prazo de 45 dias a contar da apresentação da declaração,
sendo a transferência bancária efetuada diretamente para a conta bancária que o agricultor
indica na declaração do pedido de compensação.
Caso ocorra a cessação de atividade ou a renúncia ao regime o sujeito passivo pode
sempre pedir a compensação a partir do momento em que ocorre essa alteração tendo
como prazo limite o estabelecido para os pedidos normais.

No pedido de compensação forfetária deve ser inscrito:

a) O valor total das transmissões de bens e a prestações de serviços realizadas no


semestre anterior, que conferem o direito a receber a compensação;
b) Uma lista dos números de identificação fiscal (NIF) dos clientes nas referidas
operações.
• Para confirmar o enquadramento em IVA dos clientes, poderá ser utilizado o serviço
“Consultar Identificação clientes/fornecedores”, disponível no Portal das Finanças.

Como aderir ao regime forfetário?

Produtor agrícola no regime especial de isenção (artigo 53.º do Código do IVA):


• Para o produtor agrícola que já se encontre isento de IVA ao abrigo do artigo 53.º do
Código do IVA para aderir ao regime forfetário do IVA basta apresentar a qualquer
momento uma declaração de alterações em qualquer Serviço de Finanças ou
através do Portal das Finanças (não tem data limite nem um momento próprio para o
fazer, sendo que o regime só será aplicável após a entrega da declaração de
alteração).

Produtor agrícola no regime normal de IVA com condições para estar no


regime especial de isenção:
• Para os produtores agrícolas enquadrados no regime normal do IVA que, reunindo
as condições para beneficiar do regime forfetário, pretendam optar por este regime,
terão de entregar uma declaração de alterações no mês de janeiro do ano seguinte
àquele em que se verifiquem as condições para dele beneficiarem e produz efeito a
partir de 1 de janeiro do ano da apresentação da declaração.

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• Esta opção pelo regime forfetário pressupõe o enquadramento no regime especial de


isenção, acarretando o cumprimento das obrigações previstas no n.º 4 do artigo 54.º
do Código do IVA quando aplicável. Os sujeitos passivos nestas condições devem
proceder, à regularização da dedução efetuada quanto a bens do ativo imobilizado e,
devem também efetuar a regularização do imposto deduzido e respeitante às
existências remanescentes no fim do ano, devendo, em qualquer dos casos, as
referidas regularizações ser incluídas na declaração ou guia referente ao último
período de tributação no regime normal de IVA.

Formalismos e Obrigação de faturação

• Os agricultores que optem pelo regime forfetário estão obrigados a emitir fatura por
cada venda ou prestação de serviços.
• As faturas emitidas pelo agricultor que opte pelo regime forfetário, quer de vendas
quer de prestações de serviços relacionadas com a agricultura, devem conter a
menção «IVA – regime forfetário».
• Se o agricultor para além da atividade agrícola desenvolver outras atividades, essas
faturas devem conter “ IVA – Regime de isenção”
Para o ano 2015 foi criado um regime transitório que permite que durante o ano 2015 a
menção “IVA – regime forfetário” possa ser adicionado às faturas manualmente.

Este regime também se aplica aos pequenos agricultores que utilizem


autofacturação?

Este regime também se aplica a pequenos agricultores, cujas faturas sejam emitidas pelos
seus clientes através do sistema de autofaturação, desde que reúnam as condições e
tenham optado pelo regime forfetário.

Quando cessa o regime forfetário?

• O regime pode cessar quando deixem de se verificar qualquer das condições


previstas para o seu enquadramento.
• O sujeito passivo após a opção pelo regime forfetário também pode renunciar ao
regime apresentando uma declaração de alteração que produz efeito no momento da
sua entrega. Fazendo esta opção de renúncia o agricultor fica obrigado a
permanecer no regime escolhido durante um período de pelo menos 5 anos.

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Pedidos compensação forfetária – alterações a partir de 01/01/2017

O Decreto-Lei n.º 41/2016, de 01 de agosto152, simplifica o regime forfetário dos produtores


agrícolas, definindo-se a anualidade do regime, em substituição da atual entrega semestral
do pedido de compensação forfetária, com aplicação a partir de 1 de janeiro de 2017.

A partir de 2017, o montante da compensação forfetária é calculado mediante a aplicação


de uma taxa de 6% sobre o total das transmissões de bens e das prestações de serviços
que conferem direito à compensação forfetária, realizadas em cada ano.

O pedido da compensação forfetária passa a ser feito anualmente, sendo submetido à


Autoridade Tributária e Aduaneira, até ao último dia de março de cada ano.

Após a análise do pedido, a Autoridade Tributária e Aduaneira procede ao pagamento da


compensação devida, no prazo de 45 dias contados a partir da data de apresentação do
pedido.

Não existe lugar ao pagamento da compensação quando o montante calculado seja inferior
a €10.

De acordo com as disposições transitórias do Decreto-Lei n.º 41/2016, de 1 de agosto, os


pedidos de compensação forfetária referentes aos 1.º e 2.º semestres de 2016 são
efetuados até 31 de agosto de 2016 e 28 de fevereiro de 2017, respetivamente.

16.4 Taxa de IVA aplicável à agricultura

Como já referido, deixou de existir a partir de 1 de abril de 2013, a isenção de IVA para as
transmissões de bens efetuados no âmbito das explorações enunciadas no Anexo A do
Código do IVA (agricultura, silvicultura ou pecuária), bem como as prestações de serviços
agrícolas definidas no Anexo B, quando efetuadas com carácter acessório por um produtor
agrícola que utilize os seus próprios recursos de mão-de-obra e equipamento normal da
respetiva exploração agrícola ou silvícola, seja qual for o volume de negócios auferido, e
foram aditadas à Lista I anexa ao Código do IVA as verbas 4.2 e 5, aplicando-se a taxa
reduzida de IVA. Esta nova redação dada pela Lei do OE2013, com as alterações da Lei do

152
Altera o artigo 59.º B do Código do IVA

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OE2014, tem por base, os números 1 e 2 do artigo 98.º e alínea 11) do anexo III da Diretiva
IVA, relativos à possibilidade de aplicação de taxas reduzidas pelos Estados membros.
A alínea 11) do anexo III da Diretiva IVA, define que os Estados membros podem aplicar
taxas reduzidas à “entrega de bens e prestação de serviços, do tipo utilizado normalmente
na produção agrícola com exclusão dos bens de equipamento, tais como máquinas ou as
construções”.

As verbas 4. e 5. da Lista I anexa ao Código do IVA tem a seguinte redação:

4 - Prestações de serviços normalmente utilizados no âmbito das atividades de produção


agrícola e aquícola listados na verba 5:

4.1 - Prestações de serviços de limpeza e de intervenção cultural nos povoamentos e


habitats, realizadas no âmbito da agricultura, da gestão da floresta e da prevenção de
incêndios.

4.2. - Prestações de serviços que contribuem para a produção agrícola e aquícola,


designadamente as seguintes:

a) As operações de sementeira, plantio, colheita, debulha, enfardação, ceifa, recolha e


transporte;
b) As operações de embalagem e de acondicionamento, tais como a secagem, limpeza,
trituração, desinfeção e ensilagem de produtos agrícolas;
c) O armazenamento de produtos agrícolas;
d) A guarda, criação e engorda de animais;
e) A locação, para fins agrícolas, dos meios normalmente utilizados nas explorações
agrícolas e silvícolas;
f) A assistência técnica;
g) A destruição de plantas e animais nocivos e o tratamento de plantas e de terrenos por
pulverização;
h) A exploração de instalações de irrigação e de drenagem;
i) A poda de árvores, corte de madeira e outras operações silvícolas.

5. - As transmissões de bens e prestações de serviços efetuadas no âmbito das seguintes


atividades de produção agrícola: (Redação dada pela Lei n.º 83-C/2013, de 31 de dezembro,
do OE2014)153

153
Em 2014, a verba 5 passa a ter a designação de "5 - As transmissões de bens e prestações de serviços efetuadas no
âmbito das seguintes atividades de produção agrícola:", passando a abranger, também, as prestações de serviços efetuadas
no âmbito das atividades ali elencadas.

328
Setor Agrícola - Aspetos contabilísticos e fiscais
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

5.1. - Cultura propriamente dita:

5.1.1. - Agricultura em geral, incluindo a viticultura;

5.1.2. - Fruticultura (incluindo a oleicultura) e horticultura floral e ornamental, mesmo em


estufas;

5.1.3. - Produção de cogumelos, de especiarias, de sementes e de material de propagação


vegetativa; exploração de viveiros. (Redação dada pela Lei n.º 83-C/2013, de 31 de
dezembro, do OE2014)154

5.2. - Criação de animais conexa com a exploração do solo ou em que este tenha caráter
essencial:

5.2.1. - Criação de animais;

5.2.2. - Avicultura;

5.2.3. - Cunicultura;

5.2.4. - Sericicultura;

5.2.5. - Helicicultura;

5.2.6. - Culturas aquícolas e piscícolas;

5.2.7. - Canicultura;

5.2.8. – (Revogada)

5.2.9. - Criação de animais para experiências de laboratório.

5.3. – Apicultura;

5.4. – Silvicultura;

5.5. - São igualmente consideradas atividades de produção agrícola as atividades de


transformação efetuadas por um produtor agrícola sobre os produtos provenientes,
essencialmente, da respetiva produção agrícola com os meios normalmente utilizados nas
explorações agrícolas e silvícolas.»

154
No ano de 2013 não é aplicável a taxa reduzida às atividades agrícolas não conexas com a exploração da terra ou em que
esta tenha caráter meramente acessório, designadamente as culturas hidropónicas e a produção em vasos, tabuleiros e outros
meios autónomos de suporte. A Lei n.º 83-C/2013, de 31 de dezembro, do OE2014 alterou a redação da verba 5.1.3 da Lista I
do Código do IVA.

329
Setor Agrícola - Aspetos contabilísticos e fiscais
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Taxas de IVA – Prestações de serviços silvícolas

A verba 4.1 da lista I anexa ao Código do IVA prevê a aplicação da taxa reduzida de IVA
às “Prestações de serviços de limpeza e de intervenção cultural nos povoamentos e
habitats, realizadas no âmbito da agricultura, da gestão da floresta e da prevenção de
incêndios”, no âmbito das atividades de produção agrícola a que se refere categoria 4 da
lista I, em que a verba 4.1 está inserida.

O Oficio-Circulado n.º 30162, de 08/07/2014, da Autoridade Tributária e Aduaneira, Área de


Gestão Tributária, que revoga o Ofício-Circulado n.º 30.096, de 4/07/2009, da Direção de
Serviços do IVA, clarifica a lista de prestações de serviços de limpeza e de intervenção
cultural nos povoamentos realizados em explorações agrícolas e silvícolas.

Lista das prestações de serviços que se enquadram na verba 4.1 da lista I anexa ao Código
do IVA:

4.1. Prestações de serviços silvícolas em beneficiações de povoamentos:


4.1.1. Controlo da vegetação espontânea, designadamente limpeza de matos;

4.1.2. Prospeção (marcação e referenciação) de exemplares de espécies hospedeiras


de agentes bióticos nocivos que apresentem sintomas de declínio e despiste destas
patologias com recurso a amostragem;

4.1.3. Cortes sanitários de exemplares de espécies hospedeiras que apresentem


sintomas de declínio, no âmbito da prevenção e controlo de agentes bióticos nocivos;

4.1.4. Instalação e monitorização de armadilhas e atrativos para captura de agentes


bióticos nocivos;

4.1.5. Aplicação de produtos fitofarmacêuticos;

4.1.6. Aplicação de adubos, fertilizantes e corretivos de solo e instalação de cultura de


melhoramento do solo;

4.1.7. Rolagem;

4.1.8. Podas;

4.1.9. Desramação;

4.1.10. Recolha e destruição de sobrantes florestais;

4.1.11. Seleção de árvores de futuro;

330
Setor Agrícola - Aspetos contabilísticos e fiscais
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

4.1.12. Sinalização da regeneração natural;

4.1.13. Controlo de espécies lenhosas invasoras;

4.1.14. Controlo e redução de densidades em povoamentos;

4.1.15. Seleção de varas em talhadias.

4.2. Prestações de serviços silvícolas em arborizações ou rearborizações, incluindo


adensamentos de povoamento

4.2.1. Limpeza de vegetação espontânea;

4.2.2. Gradagem de destorroamento;

4.2.3. Ripagem;

4.2.4. Subsolagem;

4.2.5. Abertura de valas e cômoros;

4.2.6. Lavoura contínua;

4.2.7. Abertura de regos;

4.2.8. Destruição de cepos de eucalipto;

4.2.9. Marcação e piquetagem;

4.2.10. Abertura de covas;

4.2.11. Plantação;

4.2.12. Sementeira;

4.2.13. Aplicação de adubos, fertilizantes e corretivos de solo;

4.2.14. Colocação de protetores individuais;

4.2.15. Sacha e amontoa.

4.3. Prestações de serviços silvícolas de limpeza em espaço florestal

4.3.1. Abertura e beneficiação de aceiros e de faixas e mosaicos de parcelas de gestão


do combustível, incluindo o uso do fogo controlado.

331
Setor Agrícola - Aspetos contabilísticos e fiscais
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Verba 4.2. a) da lista I do Código do IVA - Operações de sementeira, plantio, colheita,


debulha, enfardação, ceifa, recolha e transporte

Se o agricultor, no âmbito de uma atividade listada na verba 5 da lista I anexa ao Código do


IVA, recorrer a empresas que lhe prestam serviços agrícolas, designadamente de
sementeira, colheita, preparação, embalamento, e acondicionamento de produtos
hortofrutícolas as referidas prestações de serviços beneficiam da aplicação da taxa
reduzida. Mas se os serviços se referem à cedência de mão de obra efetuada por empresas
de trabalho temporário, tais operações não consubstanciam prestações de serviços no
âmbito da atividade agrícola, dado que os serviços prestados pelas empresas de trabalho
temporário cingem-se à mera colocação de pessoal à disposição dos clientes, ainda que
produtores agrícolas155.

As prestações de serviços: espalhar adubo na terra, arrancar cepas, fazer poda de vinhas,
fazer vindima nas vinhas e desmatar terrenos efetuadas mediante a utilização de diferentes
equipamentos motorizados, e que contribuem para a produção agrícola, são tributados à
taxa reduzida de IVA156.

Atendendo que os serviços de transporte não se encontram autonomizados numa alínea


dedicada da lista I do anexo ao Código do IVA (como acontece, por exemplo com a
assistência técnica ou o armazenamento de produtos agrícolas), mas se encontram
relacionados com os serviços de sementeira, plantio, colheita debulha, enfardação, ceifa e
recolha, ou seja, com as operações mais comuns à produção agrícola, aplica-se a taxa
reduzida de IVA ao transporte associado a esta operações, no âmbito da atividade de
produção agrícola, com exclusão das situações elencadas nas alíneas b) a i) da verba 4.1
da lista I anexa ao Código do IVA, quando estas não visem o transporte de matérias-primas
ou bens resultantes da produção agrícola157.

Existem casos em que o adquirente do serviço de transporte não exerce qualquer atividade
de produção agrícola, mas apenas, a de comercialização de produtos e matérias-primas
agrícolas e muitas vezes refatura o serviço de transporte aos produtores agrícolas que

155
Informação vinculativa, Processo n.º 9352, por despacho de 2015-10-20, do SDG do IVA, por delegação do Diretor Geral
da Autoridade Tributária e Aduaneira.
156
Informação vinculativa, Processo n.º 5032, por despacho de 2013-08-19, do SDG do IVA, por delegação do Diretor Geral
da Autoridade Tributária e Aduaneira.
157
Informação vinculativa, Processo n.º 6638, por despacho de 2014-03-28, do SDG do IVA, por delegação do Diretor Geral
da Autoridade Tributária e Aduaneira.

332
Setor Agrícola - Aspetos contabilísticos e fiscais
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

surgem, deste modo, na qualidade de destinatários do serviço de transporte. Nesta situação


o transporte de bens da produção agrícola é faturado à entidade que tem a comercialização
à taxa normal, e esta última entidade refatura o respetivo valor do serviço de transporte ao
produtor dos bens da produção agrícola à taxa reduzida158.

OFÍCIO CIRCULADO N.º 30202 DE 22/05/2018

A Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) vinha entendendo que, face ao elemento literal da
norma, as operações elencadas nas verbas 4.1 e 4.2, da Lista I anexa ao CIVA, apenas
beneficiavam da taxa reduzida quando realizadas no âmbito de uma atividade de produção
agrícola ou aquícola das elencadas nas verbas 5.1 a 5.5 da mesma Lista.

De acordo com o despacho n.º 170/2018-XXI, de 15 de maio, do Secretário de Estado dos


Assuntos Fiscais, á luz dos objetivos das taxas reduzidas e dos princípios estruturantes do
sistema de IVA, a limitação que vinha sendo entendimento da AT é injustificada.

As verbas 4.1 e 4.2, da Lista I anexa ao CIVA, resultam da transposição da alínea 11) do
anexo III da Diretiva 2006/112/CE do Conselho, de 28 de novembro, que define que os
Estados-Membros podem aplicar taxas reduzidas à “Entrega de bens e prestação de
serviços, do tipo utilizado normalmente na produção agrícola com exclusão dos bens de
equipamento, tais como máquinas ou as construções”, não resultando da norma
Comunitária qualquer limitação quanto à sua abrangência em função do adquirente.

Desta forma, para salvaguardar o princípio da neutralidade, a aplicação da verba 4 da Lita I


anexa ao CIVA não deve depender do enquadramento ou da qualidade do adquirente dos
serviços.

Como exemplo, é referido no Ofício Circulado que os serviços de limpeza de terrenos, bem
como o abate e corte de árvores, no âmbito da gestão ativa da floresta e prevenção de
incêndios, beneficiam da taxa reduzida a que se referem, as verbas 4.1 e 4.2, alínea j).

158
Informação vinculativa, Processo n.º 5716, por despacho de 2014-03-28, do SDG do IVA, por delegação do Diretor Geral
da Autoridade Tributária e Aduaneira.

333
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ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Taxa IVA – Arrendamento Rural

Em 19/11/2015, foi disponibilizada a informação vinculativa n.º 5666, por despacho de


18/08/2014, do SDG do IVA, sobre a taxa de IVA a aplicar no âmbito do arrendamento rural.

O arrendamento de terrenos agrícolas está isento de IVA, nos termos da alínea 29) do artigo
9.º do Código do IVA, se:

-“ Não for antecedido de prévia preparação do terreno mediante operações de drenagem,


lavra, socalcagem ou outras que sejam abrangidas pelo conceito de benfeitorias úteis;

- No terreno não se achar implantada qualquer obra (poços, furos, diques de rega, etc)
construída com carácter de benfeitoria ou adquirida por acessão industrial imobiliária nos
termos dos artigos 1339.º e seguintes do Código Civil”.

Os contratos de arrendamento de terrenos agrícolas que não reúnam os requisitos de


isenção previstos e delimitados na alínea 29) do artigo 9.º do Código do IVA e pelo Ofício
Circulado n.º 30.022, de 16/06/2000, ficam sujeitos a tributação em sede de IVA.

Na Informação vinculativa n.º 5666, disponibilizada no Portal das Finanças, é definindo que
a locação de um terreno agrícola em que o arrendatário é um produtor agrícola, que
beneficia dessa mesma locação no âmbito do exercício de uma das atividades de produção
agrícola listadas na verba 5 da Lista I anexa ao Código do IVA, está sujeita à aplicação da
taxa reduzida do IVA.

16.5 Ato Isolado

O IVA é um imposto geral sobre o consumo de bens e serviços, que abrangendo toda a
atividade económica ainda que decorrente de prática ocasional, inclui no conceito de sujeito
passivo um vasto leque de operadores económicos159.

Estão sujeitas a IVA “as transmissões de bens e as prestações de serviços efetuadas no


território nacional, a título oneroso, por um sujeito passivo agindo como tal”.160

São sujeitos passivos de IVA “as pessoas singulares ou coletivas que, de um modo
independente e com carácter de habitualidade, exerçam atividades de produção, comércio
ou prestação de serviços, (…) e, bem assim, as que, do mesmo modo independente,

159
Os seus princípios encontram-se vinculados na Diretiva 2006/112/CE do Conselho, de 28 de novembro.
160
Alínea a) do n.º 1 do artigo 1.º do Código do IVA (CIVA)

334
Setor Agrícola - Aspetos contabilísticos e fiscais
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

pratiquem uma só operação tributável, desde que essa operação seja conexa com o
exercício das referidas atividades, onde quer que este ocorra, ou quando,
independentemente dessa conexão, tal operação preencha os pressupostos de incidência
real do imposto sobre o rendimento das pessoas singulares (IRS) ou do imposto sobre o
rendimento das pessoas coletivas (IRC)”161.

No âmbito do IVA, um ato isolado resulta da realização de uma única operação e não a
prática, ainda que irregular ou esporádica de várias operações sujeitas a tributação,
surgindo, desta forma, como algo contingente ou imprevisível. No caso de verificar-se a
prática reiterada de operações torna-se obrigatório o registo da atividade em sede de IVA.

A prática de um ato isolado, porque preenche os pressupostos de incidência do IRS,


encontra-se sempre sujeito a IVA à taxa legal em vigor para a operação, seja qual for o seu
montante, não se aplicando neste caso o limiar de isenção €12.500 referido no artigo 53.º do
Código do IVA.

Regra geral o “ato isolado” está sempre sujeito a IVA a não ser que a operação subjacente
seja isenta ao abrigo do artigo 9.º do Código do IVA. Estando a operação sujeita a IVA o
respetivo pagamento do imposto deverá ser efetuado pelo sujeito passivo, em qualquer
Serviço de Finanças até ao último dia do mês seguinte ao da conclusão da operação162,
através do impresso de pagamento modelo P2 ou através do Portal das Finanças,
procedendo da seguinte forma:
Início ►Cidadãos ► Pagar ► Documentos ►Documentos de Pagamento ► IVA ► Guia de
Pagamento P2, devendo indicar o número de identificação fiscal e ter em seu poder a senha
de acesso ao Portal das Finanças.

Exemplo 1:
Qual o valor do IVA a pagar derivado de uma venda ocasional, efetuada por um particular,
de madeira (árvores em pé) no montante de €6.000?
Resposta: A transmissão de madeira é uma operação sujeita a IVA e dele não isenta que,
no caso de ato isolado não beneficia do regime de isenção de IVA previsto no artigo 53.º do
Código do IVA. Desta forma a venda ocasional de madeira dever ser tributada à taxa
reduzida de 6% (verba 5.4 da Lista I anexa ao Código do IVA). O valor a pagar de IVA será
€360.

161
Alínea a) do n.º 1 do artigo 2.º do Código do IVA.
162
Conforme n.º 2 do artigo 27.º do Código do IVA

335
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ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Obrigação de emissão de fatura

A Portaria n.º 426-B/2012, de 28 de dezembro, aprovou os modelos designados de faturas-


recibo,163 definindo entre outros, o modelo de fatura-recibo emitido para ato isolado para
prestação de serviços (rendimentos provenientes de atividades profissionais). A emissão da
fatura-recibo para o ato isolado, independentemente da qualidade do adquirente e, ainda
que não solicitada, efetua-se nos prazos definidos no Código do IVA164.
A emissão da fatura-recibo deve ser efetuada o mais tardar no 5.º dia útil seguinte ao do
momento em que o imposto é devido, nas transmissões de bens, no momento em que os
bens são postos à disposição do adquirente e nas prestações de serviços, no momento da
sua realização.

A Lei n.º 82-E/2014165, de 31 de dezembro, alterou o n.º 1 do artigo 115.º do Código do IRS,
passando a existir a possibilidade a partir de 1 de Janeiro de 2015, de emissão de fatura-
recibo para venda de bens, no Portal das Finanças, à semelhança da fatura-recibo dos
prestadores de serviços.

Num ato isolado referente a vendas de bens pode ser utilizado o mecanismo da
autofacturação, em que o requerente, na qualidade de sujeito passivo adquirente, emite a
respetiva fatura por conta do transmitente, desde que observadas as condições previstas no
n.º 11 do artigo 36.º do Código do IVA166. Assim, o requerente deve entregar ao transmitente
dos bens, o duplicado da fatura para que o transmitente efetue o pagamento do imposto
liquidado.

163
Para efeitos do disposto no artigo 115.º do Código do IRS
164
Artigo 36.º do Código do IVA
165
Reforma do IRS

166
Código do IVA, artigo 36.º n.º 11 - A elaboração de faturas por parte do adquirente dos bens ou dos serviços fica sujeita às
seguintes condições:

a) A existência de um acordo prévio, na forma escrita, entre o sujeito passivo transmitente dos bens ou prestador dos serviços
e o adquirente ou destinatário dos mesmos;;

b) O adquirente provar que o transmitente dos bens ou prestador dos serviços tomou conhecimento da emissão da fatura e
aceitou o seu conteúdo.

c) Conter a menção 'autofaturação'.

336
Setor Agrícola - Aspetos contabilísticos e fiscais
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

16.6 Autoliquidação do IVA relativamente a certas transmissões de bens de


produção silvícola

O Decreto-Lei n.º 165/2019, publicado no Diário da República, 1.ª Série, n.º 209, em 30 de
outubro, altera o Código do IVA, estabelecendo um mecanismo de autoliquidação do IVA
relativamente a certas transmissões de bens de produção silvícola.

Este mecanismo consiste na aplicação da inversão do sujeito passivo, passando a


liquidação do IVA, que se mostre devido em certas transmissões de bens de produção
silvícola, a ser efetuada pelo respetivo adquirente, desde que seja sujeito passivo do
imposto com direito à dedução total ou parcial.

Paralelamente é introduzida a obrigatoriedade de autofaturação nas operações em que os


sujeitos passivos adquiram aquele tipo de bens a particulares que, pela sua transmissão, se
tornam sujeitos passivos do imposto.

O Ofício Circulado n.º 30217 de 23/12/2019, da AT, clarifica a aplicação do mecanismo de


autoliquidação do IVA relativamente a certas transmissões de bens de produção silvícola:

Quem está sujeito à inversão do sujeito passivo

A inversão do sujeito passivo prevista na alínea m) do n.º 1 do artigo 2.º do Código do IVA
aplica-se aos sujeitos passivos que disponham de sede, estabelecimento estável ou
domicílio em território nacional e pratiquem operações com direito a dedução total ou parcial
do imposto, quando efetuem aquisições de cortiça, madeira, pinhas e pinhões com casca
localizadas no território nacional.
Tal significa que o adquirente, sujeito passivo do imposto, deve proceder à liquidação do IVA
que se mostre devido naquelas operações.

Que bens estão sujeitos à inversão do sujeito passivo

O mecanismo de inversão do sujeito passivo previsto na alínea m) do n.º 1 do artigo 2.º do


Código do IVA aplica-se às transmissões de cortiça, madeira, pinhas e pinhões com casca.

Para o efeito, considera-se:


– Cortiça: produto resultante da extração da casca ao sobreiro, que não tenha sido objeto de
qualquer transformação, incluindo a cozedura;

337
Setor Agrícola - Aspetos contabilísticos e fiscais
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

– Madeira: produto resultante do abate, poda ou limpeza de planta lenhosa, incluindo os


respetivos sobrantes, que não tenha sido objeto de qualquer transformação para além do
corte. Este conceito abrange a lenha, bem como aparas, estilha e demais excedentes
vegetais resultantes da correspondente exploração agrícola ou florestal;
– Pinhas: Pinhas de pinheiro, em qualquer estado (verde ou seco);
– Pinhão com casca: semente do pinheiro manso, em casca.

A informação vinculativa n.º 17105, de 27/02/2020, DSIVA, define que “Nas transmissões de
determinados bens de produção silvícola (cortiça, madeira, pinhas e pinhões com casca)
que não tenham sido objeto de qualquer transformação (ou seja, resultantes da mera
extração, colheita ou corte), o IVA é devido e entregue ao Estado pelos sujeitos passivos
adquirentes que disponham de sede, estabelecimento estável ou domicílio em território
português e que pratiquem operações que confiram o direito à dedução total ou parcial do
imposto, em conformidade com o disposto na alínea m) do n.º 1 do artigo 2.º do CIVA.
Assim, a transmissão de biomassa florestal (restos do aproveitamento da madeira - cepos
de arvores, ramos, e de diferentes resíduos florestais) resultante de limpezas florestais e
arranques de árvores, que não foi objeto de qualquer transformação para além do corte,
encontra-se abrangida no âmbito do citado mecanismo de autoliquidação, desde que o
sujeito passivo adquirente disponha de sede, estabelecimento estável ou domicílio em
território português e que pratique operações que confiram o direito à dedução total ou
parcial do imposto.
Contudo, na transmissão de biomassa triturada ou processada, não é de aplicar a citada
regra de inversão, dado que já não se está perante um produto resultante do mero abate,
poda ou limpeza e que não tenha sido objeto de qualquer transformação além do corte (no
caso, os sobrantes são objeto de uma transformação para além do corte, a trituração),
devendo, por conseguinte, o transmitente (a Requerente), proceder à liquidação do imposto
nos termos gerais do CIVA”.

A informação vinculativa n.º 17077, de 08/04/2020, DSIVA, define que “a transmissão de


«eucaliptos», para corte, a um adquirente sujeito passivo de IVA que disponha de sede,
estabelecimento estável ou domicílio em território nacional e pratique operações com direito
a dedução total ou parcial do imposto, tendo em vista a obtenção da madeira, configura uma
operação sujeita à regra de inversão prevista na alínea m) do n.º 1 do artigo 2.º do CIVA,
uma vez que não está em causa a transmissão da árvore enquanto bem, mas da madeira
que resultará do seu abate e corte, ainda que estas operações sejam realizadas pelo
adquirente”.

338
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ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

OBRIGAÇÃO DE FATURAÇÃO E LIQUIDAÇÃO DO IMPOSTO

Quando o transmitente é um sujeito passivo que exerce uma atividade com carácter
de habitualidade

De acordo com a regra de inversão do sujeito passivo, o vendedor dos bens emite uma
fatura sem liquidação de IVA, a qual deve conter a expressão “IVA – Autoliquidação”. Por
sua vez, o adquirente liquida o imposto devido pela aquisição, aplicando a taxa em vigor,
podendo a liquidação ser efetuada na fatura emitida pelo fornecedor ou em documento
interno emitido para esse efeito.
O imposto assim liquidado confere direito à dedução nos termos previstos na alínea c) do n.º
1 do artigo 19.º do Código do IVA, sem prejuízo do disposto no artigo 23° do mesmo Código,
quando se trate de sujeito passivo com limitações no direito à dedução.

Quando o transmitente se torna sujeito passivo pela realização de uma das operações
referidas na alínea m) do n.º 1 do artigo 2.º do Código do IVA

Nestes casos, compete ao adquirente elaborar a fatura que titula a operação, devendo
liquidar na mesma o correspondente imposto, o qual confere direito à dedução de acordo
com o referido no parágrafo anterior.
Não sendo aplicáveis os condicionalismos previstos no n.º 11 do artigo 36.º do Código do
IVA, não é exigido qualquer acordo prévio ou prova de que o transmitente dos bens tomou
conhecimento da emissão da fatura e aceitou o seu conteúdo.
Tendo em atenção o disposto no n.º 1 do artigo 5.º e no n.º 4 do artigo 7.º do Decreto-Lei n.º
28/2019, de 15 de fevereiro, estas faturas são emitidas em nome e por conta do
transmitente, em série convenientemente referenciada, devendo ser datadas e numeradas
de forma progressiva e contínua por um período não inferior a um ano fiscal.

OBRIGAÇÕES DECLARATIVAS

Face às alterações verificadas e no que toca ao preenchimento das declarações periódicas,


deve ser observado o seguinte:

Quanto ao transmitente
– Quando o transmitente é um sujeito passivo do regime normal que exerce uma atividade
com carácter de habitualidade, deve inscrever estas operações no campo 8 do quadro 06 da
declaração periódica do IVA.

339
Setor Agrícola - Aspetos contabilísticos e fiscais
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

– Quando o transmitente se torna sujeito passivo pela realização de uma destas operações
e o respetivo valor for igual ou inferior a € 25.000, não existe qualquer obrigação declarativa
em sede de IVA.
Quando aquele valor for superior a € 25.000, o transmitente deve proceder à entrega de
uma declaração de início de atividade (nos termos dos artigos 31.º e 35.º do Código do IVA)
antes de realizar a operação, assinalando para o efeito o campo 7 do respetivo Quadro 08.
Nestes casos não existe obrigação de entrega da declaração periódica do IVA.

Quanto ao adquirente

Competindo ao adquirente a liquidação do imposto por aplicação da inversão do sujeito


passivo, os respetivos montantes devem ser inscritos na declaração periódica, nos campos
1 ou 3 (base tributável) e 2 ou 4 (imposto liquidado), todos do Quadro 06, consoante a taxa
que seja aplicável aos bens.
Simultaneamente, pode inscrever o imposto dedutível nos campos 21, 22 ou 24, todos do
Quadro 06, consoante se trate de inventários (existências) ou outros bens e serviços.
Finalmente, tratando-se de operações que, não obstante a obrigação legal de liquidar o
imposto, não fazem parte do volume de negócios do declarante, o respetivo valor tributável
deve ainda ser inscrito no Quadro 06A da declaração periódica.
Não existindo campo específico para o efeito e enquanto o mesmo não for criado, aquele
montante deve ser inscrito no campo 105 (Emissão de gases com efeito de estufa) do
referido Quadro.

ENTRADA EM VIGOR

De acordo com o disposto no artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 165/2019, de 30 de outubro, o


mecanismo de autoliquidação do IVA relativamente a certas transmissões de bens de
produção silvícola, previsto na alínea m) do n.º 1 do artigo 2.º do Código do IVA, entrou em
vigor no dia 1 de janeiro de 2020.

340
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ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

16.7 Outras situações particulares relacionadas com taxas de atividades


agrícolas formalismos e obrigações

Prestação de serviços de transformação de azeitona em azeite - Taxa 6% no continente e


4% na região autónoma dos Açores e 5% na região autónoma da Madeira

A prestação de serviços de transformação da azeitona em azeite, enquadra-se na alínea c)


do n.º 2 do artigo 4.º do CIVA, pelo que, aplicando-se a norma referida no n.º 6 do artigo
18.º, é sujeita a IVA à taxa de 6%, 4% ou 5% (o azeite tem enquadramento na verba 1.5.1
da Lista I anexa ao CIVA).

Maquia - Taxa 6% no continente, 4% na região autónoma dos Açores e 5% na região


autónoma da Madeira

Maquia é a porção de azeite que os lagareiros recebem dos agricultores em paga da


transformação de azeitona em azeite. Esta situação particular inclui duas operações
distintas, pelo que existe em relação à tributação em IVA duas fases distintas do circuito
económico, uma aquando da realização da prestação de serviços e outra na venda do
produto, vejamos então como são tributadas em sede de IVA.

A prestação de serviços de transformação da azeitona em azeite, enquadra-se na alínea c)


do n.º 2 do artigo 4.º do CIVA, pelo que, aplicando-se a norma referida no n.º 6 do artigo
18.º, é sujeita a IVA à taxa de 6% (o azeite tem enquadramento na verba 1.5.1 da Lista I
anexa ao CIVA).

Ainda que o pagamento dos referidos serviços seja efetuado através da “maquia”
(quantidade de azeite que o lagareiro recebe em paga dos seus serviços), continuamos
perante uma prestação de serviços, sujeita a IVA à taxa de 6%, por enquadramento nas
disposições atrás referidas.

341
Setor Agrícola - Aspetos contabilísticos e fiscais
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Quanto à entrega da “maquia” por parte do agricultor, é uma transmissão de bens sujeita a
imposto à taxa de 6%, devendo o agricultor emitir fatura que cumpra os requisitos do art.
36.º do CIVA167.

Os olivicultores regra geral procedem à transformação das azeitonas em azeite, para venda
ou consumo. Em regra recorrem ao serviço de terceiros (lagares) para proceder a essa
transformação.
Por outro lado as empresas produtoras de azeite (lagares) transformam a azeitona de
terceiros, podendo para o efeito cobrar uma percentagem sobre a produção a pagar em
espécie pelos olivicultores com uma porção de azeite ou serem pagos por meios
monetários.Com já referimos essa porção de azeite é designada por “maquia”.

Vamos então analisar as várias hipóteses existentes e que procedimentos devem ser
efetuados a nível do tratamento do IVA e dos vários formalismos e obrigações a cumprir.

• 1.º Cenário

O Agricultor colhe a azeitona e entrega ao lagar para transformar em azeite e paga o serviço
do lagar com dinheiro e recolhe o seu azeite
Neste cenário estamos perante uma prestação de serviços de transformação das azeitonas
do olivicultor em azeite, efetuada pelo lagar de azeite. Esta operação será enquadrada como
uma prestação de serviços em termos de IVA, ficando enquadrada nos termos da alínea c)
do n.º 2 do artigo 4.º do Código do IVA (CIVA).

Apesar desta operação de transformação das azeitonas do olivicultor em azeite ser


enquadrada como prestação de serviços, a taxa a aplicar na respetiva liquidação de IVA
será a taxa prevista tal como se fosse enquadrada como uma transmissão de bens,
conforme o disposto no n.º 6 do artigo 18.º do CIVA.

167
Esta obrigação poderá ser substituída pela denominada auto-facturação. A auto-facturação consiste na adopção de um
sistema de facturação segundo o qual o cliente se substitui aos seus fornecedores na emissão das respectivas facturas, pelo
que o lagar pode substituir o agricultor na emissão da factura.
As condições para esta premissa encontram-se definidas no n.º 11 do artigo 36.º. Isto é, a elaboração de facturas por parte do
adquirente fica sujeita à existência de um acordo prévio, por escrito, e o adquirente terá que provar que o transmitente dos
bens ou prestador dos serviços tomou conhecimento da emissão da factura e aceitou o seu conteúdo. Actualmente, o CIVA
prevê no n.º 5 do artigo 19.º a aceitação da autofacturação sem necessidade de autorização prévia dos Serviços do IVA.

342
Setor Agrícola - Aspetos contabilísticos e fiscais
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Neste caso, como a prestação de serviços referente à transformação da azeitona em azeite


se enquadra na alínea c) do n.º 2 do artigo 4º do CIVA, em conjugação com o n.º 6 do artigo
18º do CIVA, a taxa a aplicar será de 6%, uma vez o azeite tem enquadramento na verba
1.5.1 da Lista I anexa ao CIVA.

De acordo com as regras gerais do IVA, a obrigação da liquidação e entrega ao Estado do


imposto pertence ao lagar de azeite, que será o sujeito passivo de imposto, nos termos da
alínea a) do nº 1 do artigo 2º do CIVA.

O prestador de serviços (lagar de azeite) tem ainda a obrigação nos termos do artigo 29.º do
CIVA de emitir a respetiva fatura ao agricultor olivicultor pelos serviços prestados.

Circuito documental:

Fatura:
ü O lagar emite fatura ao agricultor dos serviços de transformação à taxa de 6%.
Documentos de transporte:
ü Transporte da azeitona pelo produtor, ou por sua conta, para o lagar – dispensado de
emissão de documento de transporte (art. 3.º do decreto-Lei 147/2003 – RBC
Regime dos bens em circulação)
ü Transporte do azeite após transformação – Tem que ser acompanhado com
documento de transporte

• 2.º Cenário

O Agricultor colhe a azeitona, entrega ao lagar para transformar em azeite e paga com uma
porção de azeite correspondente ao valor da prestação de serviço (pagamento em espécie)
e recolhe o restante azeite para vender ou consumir.

Neste cenário ainda poderemos equacionar duas hipóteses:

1.ª Hipótese

Agricultor que transforma a azeitona num lagar apenas para consumo do azeite.
Nesta hipótese é onde se tem levantado mais problemas decorrentes da revogação da
isenção anteriormente prevista no n.º 33 do art. 9.º do CIVA.

343
Setor Agrícola - Aspetos contabilísticos e fiscais
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Na prática, esta operação traduz-se em duas operações distintas uma efetuada pelo lagar e
outro pelo agricultor olivicultor.
Vejamos então o terá que se assegurar em cada um dos intervenientes.

Em primeiro lugar, existe a prestação do serviço de transformação das azeitonas do


olivicultor em azeite, efetuada pelo lagar de azeite. Esta operação será enquadrada como
uma prestação de serviços em termos de IVA, ficando enquadrada nos termos da alínea c)
do n.º 2 do artigo 4.º do Código do IVA (CIVA).

Portanto, quando o lagar de azeite efetuar a transformação das azeitonas do olivicultor, e


proceder à entrega do azeite (produto final), essa operação será enquadrada como uma
prestação de serviços para efeitos de liquidação de IVA.

Apesar desta operação de transformação das azeitonas do olivicultor em azeite ser


enquadrada como prestação de serviços, a taxa a aplicar na respetiva liquidação de IVA
será a taxa prevista tal como se fosse enquadrada como uma transmissão de bens,
conforme o disposto no n.º 6 do artigo 18.º do CIVA.
Neste caso, como a prestação de serviços referente à transformação da azeitona em azeite
se enquadra na alínea c) do n.º 2 do artigo 4º do CIVA, em conjugação com o n.º 6 do artigo
18º do CIVA, a taxa a aplicar será de 6%, uma vez o azeite tem enquadramento na verba
1.5.1 da Lista I anexa ao CIVA.

O enquadramento descrito não se altera, ainda que o referido serviço do lagar seja efetuado
através de um pagamento em espécie: a “maquia” (quantidade de azeite que o lagareiro
recebe em paga dos seus serviços).

De acordo com as regras gerais do IVA, a obrigação da liquidação e entrega ao Estado


deste imposto pertence ao lagar de azeite, que será o sujeito passivo de imposto, nos
termos da alínea a) do nº 1 do artigo 2º do CIVA.

Este IVA liquidado pelo lagar de azeite e repercutido ao olivicultor na fatura da prestação de
serviços será “pago”, conjuntamente com o valor bruto da prestação de serviço, pela entrega
da referida maquia, sendo este um pagamento em espécie.
A entrega da “maquia” por parte do olivicultor será a segunda operação.

344
Setor Agrícola - Aspetos contabilísticos e fiscais
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Na verdade, esta entrega da “maquia”, como pagamento pela prestação de serviços, será
considerada uma transmissão de bens efetuado pelo agricultor independentemente de ser
para seu consumo, nos termos do artigo 3º do CIVA.
Nesta operação, o olivicultor terá que efetuar a respetiva liquidação de IVA (à taxa de 6%
pelo mesmo enquadramento atrás descrito) na fatura de venda do azeite ao lagar referente
à maquia entregue.
De referir, ainda, que o valor que servirá de base para a liquidação do imposto será o valor
normal dos bens dados em troca, conforme o disposto no nº 3 do artigo 16º do CIVA.
O valor normal dos bens ou serviços deverá entender-se como o preço que um adquirente
ou destinatário teria de pagar, no estádio de comercialização onde é efetuada a operação e
em condições normais de concorrência a um fornecedor ou prestador independente, no
tempo e lugar em que é efetuada a operação ou no tempo e lugar mais próximos, para obter
os bens ou serviços, conforme o disposto no nº 4 do artigo 16º do CIVA.

Por último, de referir, também que nos termos da alínea b) do nº 1 do artigo 29º do CIVA,
ambos os intervenientes nas duas operações (prestação de serviços e a entrega da
maquia), sendo sujeitos passivos referidos na alínea a) do nº 1 do artigo 2º do mesmo
Código, estarão obrigados a emitir fatura por cada transmissão de bens (pela entrega da
maquia) ou prestação de serviços (pela transformação das azeitonas em azeite).

Só não existirá liquidação de IVA nesta operação se o lagar for uma cooperativa se a
mesma se enquadrar no nº 6 do artº 3º do CIVA onde se refere que não são consideradas
transmissões de bens as cedências devidamente documentadas feitas por cooperativas aos
seus sócios, de bens, não embalados para fins comerciais, resultantes da primeira
transformação de matérias-primas por eles entregues, na medida em que não excedam as
necessidades do seu consumo familiar, tendo sempre presente as regres e limites
especificados na portaria 1158/2000 (20 litros X (n+2), sendo que n corresponde ao numero
de pessoas de maioridade, ligadas por laços de parentescos, afinidade ou uma união de
facto, vivendo sobre o mesmo teto, em comunhão de mesa e habitação, e 2 constitui um
acréscimo para considerar o pessoal doméstico e hóspedes)

Circuito documental:

Fatura:
ü O lagar emite fatura ao agricultor dos serviços de transformação à taxa de 6%.

345
Setor Agrícola - Aspetos contabilísticos e fiscais
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

ü O agricultor emite fatura ao lagar do azeite que lhe vende para pagamento dos
serviços de transformação
Neste caso não há pagamento em dinheiro existe apenas encontro de contas entre as
partes.
Documentos de transporte:
ü Transporte da azeitona pelo produtor, ou por sua conta, para o lagar – dispensado de
emissão de documento de transporte (art. 3.º do decreto-Lei 147/2003 – RBC
Regime dos bens em circulação)
ü Transporte do azeite após transformação – Tem que ser acompanhado com
documento de transporte

2.ª Hipótese

Agricultor que transforma a azeitona em azeite paga o serviço com azeite (pagamento em
espécie) e vende o restante azeite ao lagar

É em tudo idêntico à 1.ª hipótese, mas existe no fim a venda total do azeite ao lagar.
Na prática, esta operação traduz-se em duas operações distintas uma efetuada pelo lagar e
outro pelo agricultor olivicultor.
Vejamos então o terá que se assegurar em cada um dos intervenientes.

Em primeiro lugar, existe a prestação do serviço de transformação das azeitonas do


olivicultor em azeite, efetuada pelo lagar de azeite. Esta operação será enquadrada como
uma prestação de serviços em termos de IVA, ficando enquadrada nos termos da alínea c)
do n.º 2 do artigo 4.º do Código do IVA (CIVA).

Portanto, quando o lagar de azeite efetuar a transformação das azeitonas do olivicultor, e


proceder à entrega do azeite (produto final), essa operação será enquadrada como uma
prestação de serviços para efeitos de liquidação de IVA.

Apesar desta operação de transformação das azeitonas do olivicultor em azeite ser


enquadrada como prestação de serviços, a taxa a aplicar na respetiva liquidação de IVA
será a taxa prevista tal como se fosse enquadrada como uma transmissão de bens,
conforme o disposto no n.º 6 do artigo 18.º do CIVA.
Neste caso, como a prestação de serviços referente à transformação da azeitona em azeite
se enquadra na alínea c) do n.º 2 do artigo 4º do CIVA, em conjugação com o n.º 6 do artigo

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Setor Agrícola - Aspetos contabilísticos e fiscais
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

18º do CIVA, a taxa a aplicar será de 6%, uma vez o azeite tem enquadramento na verba
1.5.1 da Lista I anexa ao CIVA.

O enquadramento descrito não se altera, ainda que o referido serviço do lagar seja efetuado
através de um pagamento em espécie: a “maquia” (quantidade de azeite que o lagareiro
recebe em paga dos seus serviços).

A entrega da “maquia” por parte do olivicultor será a segunda operação que neste caso é
efetuada em conjunto com a venda do restante azeite ao lagar.
Nesta operação, o olivicultor terá que efetuar a respetiva liquidação de IVA (à taxa de 6%
pelo mesmo enquadramento atrás descrito) na fatura de venda do azeite ao lagar referente
à maquia e ao azeite entregue.
Por último, de referir, também que nos termos da alínea b) do nº 1 do artigo 29º do CIVA,
ambos os intervenientes nas duas operações (prestação de serviços e a entrega da
maquia), sendo sujeitos passivos referidos na alínea a) do nº 1 do artigo 2º do mesmo
Código, estarão obrigados a emitir fatura ou documento equivalente por cada transmissão
de bens (pela entrega da maquia) ou prestação de serviços (pela transformação das
azeitonas em azeite).

Circuito documental:

Fatura:
ü O lagar emite fatura ao agricultor dos serviços de transformação à taxa de 6%.
ü O agricultor emite fatura ao lagar do azeite que lhe vende (maquia + restante azeite)
Documentos de transporte:
ü Transporte da azeitona pelo produtor, ou por sua conta, para o lagar – dispensado de
emissão de documento de transporte (art. 3.º do decreto-Lei 147/2003 – RBC
Regime dos bens em circulação)

3.º Cenário

O Agricultor colhe a azeitona e transforma em azeite no seu próprio lagar e depois vende o
azeite.
A operação de transformação é uma operação interna de incorporação de matérias-primas
(azeitona) no processo de transformação.

347
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ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Circuito documental:

Fatura:
ü O lagar emite fatura da venda do azeite aos seus clientes
Documentos de transporte:
ü Transporte da azeitona pelo produtor, ou por sua conta, para o lagar – dispensado de
emissão de documento de transporte (art. 3.º do decreto-Lei 147/2003 – RBC
Regime dos bens em circulação)
ü Transporte do azeite após a venda – Tem que ser acompanhado com documento de
transporte

• Outras situações particulares

- Apanhadores de azeitona
Os olivicultores regra geral contratam, na altura da campanha, apanhadores para a apanha
da azeitona.
Esses serviços podem ser pagos como trabalho independente ou como trabalho
dependente.
Dentro do trabalho independente ou dependente o trabalho pode ser pago em espécie (litros
de azeite) ou em dinheiro.
O caso mais sensível é o do pagamento em espécie (litros de azeite) por essa apanha,
vejamos então neste caso que procedimentos devem ser efetuados a nível fiscal e
documental.

Pagamento do serviço (como trabalho independente) de apanha em litros de azeite


Esta operação consubstancia um serviço prestado pelos apanhadores, o que significa que
estamos perante uma prestação de serviços em termos de IVA, ficando enquadrada no
artigo 4.º do Código do IVA (CIVA).
De acordo com as regras gerais do IVA, a obrigação da liquidação e entrega ao Estado do
imposto pertence ao prestador de serviços, embora o adquirente o possa substituir na
obrigação da emissão da fatura emitindo uma autofacturação em nome e por conta do
prestador de serviços.
Como o serviço é pago em litros de azeite pelo agricultor, este (agricultor) terá que passar
uma fatura aos apanhadores de azeitona do azeite vendido.
Quer o prestador de serviços quer o agricultor tem que estar coletados nas finanças (tem
que ter o inicio de atividade)

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ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Circuito documental:

Fatura:
ü Os apanhadores emitem fatura ao agricultor dos serviços da apanha à taxa de 6% ou
isento de IVA ao abrigo do art. 53.º se for esse o enquadramento do sujeito passivo.
ü O agricultor passa fatura ao apanhador da venda do azeite.
Documentos de transporte:
ü Transporte da azeitona pelo produtor, ou por sua conta, para o lagar – dispensado de
emissão de documento de transporte (art. 3.º do decreto-Lei 147/2003 – RBC
Regime dos bens em circulação)
ü Transporte do azeite após transformação – Tem que ser acompanhado com
documento de transporte

Auto-facturação:

O sistema de autofacturação, cada vez mais utilizado entre os operadores económicos,


consiste na adoção de um sistema de faturação segundo o qual o cliente se substitui aos
seus fornecedores na emissão das respetivas faturas.
A necessidade de tal procedimento prende-se com a existência de determinadas atividades
económicas que, pela sua informalidade, de pequenos vendedores, não dispõem de
estrutura de natureza administrativa que lhes permita emitir faturas que contenham todos os
elementos exigidos pelo artigo 36.º, n.º 5 do Código do IVA.

Neste caso a empresa adquirente deve dispor no seu sistema informático de serie próprias
para esse efeito.
Estes mesmos documentos, que podemos designar como faturas próprias em aquisições a
terceiros devem conter todos os requisitos exigidos pelo artigo 36.º, n.º 5 e devem ser
comunicadas pelos prestadores de serviços ou adquirente.
A elaboração de faturas por parte do adquirente dos bens ou dos serviços em substituição
do fornecedor fica sujeita a:
ü Existência de um acordo prévio, por escrito, entre o sujeito passivo transmitente dos
bens ou prestador dos serviços e o adquirente ou destinatário dos mesmos;
ü E o adquirente terá que provar que o transmitente dos bens ou prestador dos
serviços tomou conhecimento da emissão da fatura e aceitou o seu conteúdo(esta
prova faz-se, por exemplo pela assinatura do fornecedor ou prestador de serviços na
fatura ou documento equivalente emitida pelo adquirente).

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ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

16.8 Tributação em sede de IVA dos subsídios atribuídos às atividades


agrícolas

Regra geral as atividades agrícolas podem recorrer a 3 tipos de subsídios:

Ø Subsídio ao investimento

Ø Subsídio para compensação de preços (onde se inserem as indemnizações


compensatórias destinadas a compensar, por razões sociais ou derivadas de
dificuldades de um sector económico, os baixos preços de venda praticados (preços
inferiores à normal rentabilidade da empresa subvencionada), desde que sejam
estabelecidas com referência ao preço ou quantidade transmitidas.

Ø Subsídios à exploração não diretamente ligados aos preços (onde se inserem


nomeadamente os subsídios para contratação de pessoal e formação)

Vejamos então o tratamento em sede de IVA dos subsídios recebidos pelas entidades que
desenvolvam atividades agrícolas atendendo aos vários enquadramentos possíveis
(exclusivamente isento, exclusivamente sujeito ou misto)

Sujeitos passivos exclusivamente isentos (Situação em vigor até 31/12/2012)

Se a entidade que desenvolve atividade agrícola estiver enquadrada na isenção prevista no


art. 9.º e não tiver qualquer outra atividade sujeita, isto é, for exclusivamente isento, os
subsídios recebidos não influenciam aquele enquadramento.

O que significa que quer a entidade agrícola receba subsídios ao investimento,


compensação de preço168 ou subsídios à exploração, os mesmos também beneficiam da
isenção enquanto operações ativas da entidade.

No âmbito da atividade agrícola a partir de 2013 esta situação de isenção prevalece para os
sujeitos passivos enquadrados no regime especial de isenção previsto no artigo 53.º do
Código do IVA.

168
Os subsídios directamente conexos com o preço de cada operação acompanham em termos de sujeição ou isenção a
operação em função da qual são concedidos.

350
Setor Agrícola - Aspetos contabilísticos e fiscais
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Sujeitos passivos exclusivamente sujeitos

Se a entidade for exclusivamente sujeito a IVA em todas as operações que pratica, vejamos
os como deve proceder no tratamento dos subsídios em sede de IVA.

Subsídios ao investimento – Conforme resulta do disposto no n.º 4 do art. 23 do CIVA os


subsídios ao investimento não interferem com o IVA, seja no que se refere à liquidação, seja
no que se refere à dedução, pelo que a entidade nada terá que fazer em sede de IVA em
relação a este tipo de subsídios.

Subsídios para compensação de preços – Conforme estabelece a alínea c) do n.º 5 do


artigo 16.º do CIVA, este tipo de subvenções estão sujeitas a IVA, no entanto quando estas
estão relacionadas com a atividade agrícola são excluídas da tributação em IVA.

Isso é, embora sujeitos, os subsídios (subvenções) que são oriundos da Comunidade


Europeia (e atribuídos, nomeadamente através do IFAP), têm um tratamento especial. Este
enquadramento encontra-se vinculado no despacho favorável do Secretário de Estado dos
Assuntos Fiscais, de 15.10.91 onde refere que são de excluir da tributação em IVA as
subvenções comunitárias à agricultura.

Subsídios à exploração não diretamente ligados aos preços - Se o sujeito passivo estiver no
regime geral e praticar exclusivamente atividades sujeitas, o facto de receber subsídios não
tributados em IVA (fora do campo de imposto como é o caso dos subsídios à exploração)
169
não influencia o direito à dedução conforme previsto no art. 23.º do CIVA com as
alterações introduzidas pela Lei do Orçamento do estado para 2008.

Este enquadramento é reforçado pelo entendimento expresso no ponto VI - 6 a) do Ofício-


Circulado n.º 30103, de 23/ 05/ 2008 onde se refere que:

169
Anteriormente a 2008, antes da alteração introduzida pelo OE para 2008 - Lei n.º 67-A/2007, de 31 de Dezembro, os
subsídios à exploração embora não sujeitos a IVA (fora do campo do imposto) quando fossem recebidos por sujeitos passivos
de IVA “exclusivamente” sujeitos, influenciavam o direito à dedução do imposto, levando na prática a que as entidades que
recebessem esses subsídios ficassem enquadradas num regime misto no que respeitava ao direito à dedução. No entanto se
os subsídios à exploração estivessem directamente relacionados com a actividade agrícola, ficavam excluídos dessa limitação
do direito à dedução conforme o teor da informação n.º 130, de 15/10/91 do Gabinete do Subdirector-Geral do IVA averbada de
despacho concordante do Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais da mesma data, pelo que, tais subvenções comunitárias
à agricultura não eram de incluir no numerador nem no denominador da fracção a que se refere o artigo 23.º do Código do IVA.

351
Setor Agrícola - Aspetos contabilísticos e fiscais
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

“6. No que respeita às subvenções não tributadas, porque não conexas com o preço das
operações tributáveis, deve atender-se ao seguinte:
a) Caso a subvenção vise financiar operações decorrentes de uma atividade económica
sujeitas a IVA, o respetivo montante deve integrar o denominador do pró-rata previsto no n.º
4 do artigo 23.º do CIVA no caso dos sujeitos passivos mistos, não tendo qualquer influência
no montante do imposto dedutível no caso dos sujeitos passivos integrais.”

Sujeitos passivos mistos

São considerados sujeitos passivos mistos, os sujeitos passivos que praticam em


simultâneo atividade sujeitas a IVA e atividade isentas.

Exemplo se situações em que este enquadramento pode ocorrer:

- Atividade agrícola sujeita e atividade isenta ensino (escolas agrárias).


- Atividade agrícola sujeita e atividades isentas de associações sem fins lucrativos.

Vejamos então como proceder no tratamento dos subsídios em sede de IVA quando o
enquadramento da atividade agrícola, é mista.

Subsídios ao investimento – Conforme resulta do disposto no n.º 4 do art. 23 do CIVA os


subsídios ao investimento não interferem com o IVA, seja no que se refere à liquidação, seja
no que se refere à dedução, pelo que a entidade nada terá que fazer em sede de IVA em
relação a este tipo de subsídios.

Subsídios para compensação de preços – Conforme estabelece a alínea c) do n.º 5 do


artigo 16.º do CIVA, este tipo de subvenções estão sujeitas a IVA, no entanto quando estas
estão relacionadas com a atividade agrícola são excluídas da tributação em IVA.
Isso é embora sujeitos, os subsídios (subvenções) que são oriundos da Comunidade
Europeia (e atribuídos, nomeadamente através do IFAP), têm um tratamento especial. Este
enquadramento encontra-se vinculado no despacho favorável do Secretário de Estado dos
Assuntos Fiscais, de 15.10.91 onde refere que são de excluir da tributação em IVA as
subvenções comunitárias à agricultura.

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ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Subsídios à exploração não diretamente ligados aos preços - Se o sujeito passivo pratica
simultaneamente operações sujeitas e isentas, o facto de receber subsídios não tributados
em IVA (fora do campo de imposto como é o caso dos subsídios à exploração) pode limitar
o direito à dedução conforme previsto no artigo 23.º do CIVA.

Assim, se os subsídios estiverem diretamente relacionados com a atividade agrícola, ficam


excluídos dessa limitação do direito à dedução conforme o teor da informação n.º 130, de
15/10/91 do Gabinete do Subdiretor-Geral do IVA averbada de despacho concordante do
Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais da mesma data, pelo que, tais subvenções
comunitárias à agricultura não são de incluir no numerador nem no denominador da fração a
que se refere o artigo 23.º do Código do IVA.

Casos os subsídios respeitam a outras atividades desenvolvidas pela entidade, como por
exemplo atividade hoteleira de turismo rural, já vão limitar o direito à dedução.
Esta limitação verifica-se na prática pela influência negativa no direito à dedução, já que os
valores dos subsídios devem ser considerados no denominador da fração para cálculo do
valor do pró-rata.

IVA – Subvenções À Agricultura e Pecuária

Informação n.º 1122, de 93.01.20, averbada do despacho concordante de 93.02.15 do Exm.º


Senhor Subsecretário de Estado Adjunto da Secretaria de Estado Adjunta e do Orçamento

1. A alínea c) do n.º 5 do art.º 16.º do Código do IVA (CIVA), aditada pelo Decreto-Lei n.º
195/88 de 12 de Junho, determina a inclusão no valor tributável das transmissões de bens
e das prestações de serviços, das subvenções diretamente conexas com o preço de cada
operação, considerando como tais as que são estabelecidas em função do número de
unidades transmitidas ou do volume dos serviços prestados e sejam fixadas anteriormente
à realização das operações.
2. Vem esta regra inspirar-se na 6.ª Diretiva do Conselho das Comunidades de 17 de Maio
de 1977 (77/388/CEE), mais precisamente no art.º 11.º-A, n.º1, alínea a), a qual inclui no
valor tributável, asa subvenções diretamente relacionadas com o preço de tais operações.
3. Importa pois saber qual o âmbito e limite deste preceito e verificar se as subvenções a
que se refere o oficio n.º 742/92/DA-P de 24.11.92 da CAP, se enquadram ou não no
espirito do mesmo.

353
Setor Agrícola - Aspetos contabilísticos e fiscais
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

4. Foi já anteriormente emitido entendimento destes serviços no sentido de se considerar


como de integrar no valor tributável sujeito a imposto, apenas aqueles subsídios ou
subvenções que estando diretamente conexas com os preços de cada operação,
preencham cumulativamente duas condições:
4.1 sejam estabelecidas em função do número de unidades transmitidas ou do volume de
serviços prestados;
4.2 sejam fixadas anteriormente à realização das operações.
5. Assim quando as subvenções sejam atribuídas em função da área cultivada, afastar-se-á
a sua inclusão na matéria tributável pois não existirá conexão direta com o preço final do
bem.
6. Em relação a outras subvenções há que dar especial destaque àquelas que são oriundas
das comunidades europeias (CEE).
7. Assim, foi já transmitido entendimento por estes Serviços através da informação n.º 130
de 15 de Outubro de 1991 do Gabinete do Subdiretor-Geral o qual mereceu despacho
favorável de Sua Excelência o Senhor Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais em
15.10.91.
8. E, nessa informação, veiculado parecer no sentido de excluir da tributação em IVA as
subvenções comunitárias à agricultura, até que a incidência do imposto seja tomada em
conta no estabelecimento dos respetivos montantes. Refere-se ainda nessa informação
que não deverão sequer ser consideradas essas subvenções para efeitos de cálculo do
prorata (excluidas de numerador e do denominador).
9. São pois este Serviços de opinião, e de acordo com o veiculado no referido despacho de
Sua Excelência o Senhor Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, que será de excluir
da tributação em IVA qualquer subvenção comunitária dirigida à agricultura ou pecuária,
não devendo também ser considerada para efeitos de calculo de prorata.
10. Mais se esclarece que, os subsídios à contabilidade e ao gasóleo, ainda que tipifiquem
um subsídio à exploração, não existe um elemento de conexão inequívoco entre os
subsídios atribuídos e os preços ou quantidades das operações, subsidiadas pelo que
também não deverão ser tributados, conforme informação n.º 1913, de 91.07.04, que
mereceu despacho concordante de 91.07.05.

16.9 Transferência de direitos RPB – Tributação em IVA

A transmissão onerosa de direitos de pagamento de ajudas comunitárias, nomeadamente


do Regime de Pagamento de Base (RPB) previsto na Portaria n.º 57/2015, de 27 de
fevereiro, e respetivas alterações, regra geral está sujeita a tributação em IVA à taxa normal.

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Setor Agrícola - Aspetos contabilísticos e fiscais
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

No entanto, no caso da primeira atribuição dos direitos que é feita pelo Estado a título
gratuito aos agricultores, tal operação não é considerada uma operação sujeita a IVA170,
constituindo uma operação fora do campo do imposto.

As transferências dos direitos de pagamento a título oneroso, são um negócio jurídico


celebrado, entre agricultores que exercem a atividade agrícola, que são regra geral sujeitos
passivos de IVA171. Ainda que o cedente vendedor não seja sujeito passivo de IVA, esta
operação de venda dos direitos reveste a forma de uma só operação tributável (ato isolado),
sendo tributável em IVA.

No âmbito da transferência dos direitos de pagamento, podemos diferenciar três situações


distintas:

1. Transferência efetuada através de venda dos direitos sem a terra;


2. Venda dos direitos, acompanhada da venda da terra explorada;
3. Transferência dos direitos com o arrendamento da terra.

No caso de transferência por venda de direitos não acompanhada de transferência de


“terra”, pelo facto destes direitos serem bens intangíveis, a respetiva transmissão é
qualificada para efeitos de IVA como prestação de serviços172, sujeita a tributação,
constituindo uma operação não abrangida por qualquer exclusão ou isenção em sede de
IVA, sendo tributada à taxa normal, por não se enquadrar no âmbito das prestações de
serviços agrícolas definidas na verba 4.2 da Lista I anexa ao Código do IVA.

A transmissão dos direitos, em conjunto com a venda da terra, na perspetiva da Autoridade


Tributária e Aduaneira, carecerá de uma análise casuística e deverá ser avaliada caso a
caso. Normalmente, as transações de venda de direitos com a terra, têm caraterísticas de
uma transmissão única, pelo que a transmissão de direitos constitui uma operação
acessória da transmissão da terra, ficando a operação isenta de IVA173.

170
Nos termos do artigo 2.º da Diretiva de IVA
171
Nos termos do disposto na alínea a) do n.º 1 do artigo 2.º do CIVA
172
Alínea a) do artigo 25.º da Diretiva de IVA
173
N.º 30 do artigo 9.º do Código do IVA

355
Setor Agrícola - Aspetos contabilísticos e fiscais
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Se a transferência dos direitos for acompanhada de arrendamento da terra, porque as duas


operações não são separáveis, esta situação configura uma única operação abrangida pela
isenção de IVA prevista no n.º 29 do artigo 9.º do Código do IVA.

O arrendamento de terrenos agrícolas está isento de IVA, nos termos da alínea 29) do artigo
9.º do Código do IVA, se:

-“Não for antecedido de prévia preparação do terreno mediante operações de drenagem,


lavra, socalcagem ou outras que sejam abrangidas pelo conceito de benfeitorias úteis;

- No terreno não se achar implantada qualquer obra (poços, furos, diques de rega, etc)
construída com carácter de benfeitoria ou adquirida por acessão industrial imobiliária nos
termos dos artigos 1339.º e seguintes do Código Civil”.

Os contratos de arrendamento de terrenos agrícolas que não reúnam os requisitos de


isenção previstos e delimitados na alínea 29) do artigo 9.º do Código do IVA e pelo Ofício
Circulado n.º 30.022, de 16/06/2000, ficam sujeitos a tributação em sede de IVA.

Na Informação vinculativa n.º 5666174, disponibilizada no Portal das Finanças, é definindo


que a locação de um terreno agrícola em que o arrendatário é um produtor agrícola, que
beneficia dessa mesma locação no âmbito do exercício de uma das atividades de produção
agrícola listadas na verba 5 da Lista I anexa ao Código do IVA, está sujeita à aplicação da
taxa reduzida do IVA.

174
Por despacho de 18/08/2014, do SDG do IVA

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