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Gênese das crises financeiras empresariais

Quando examinamos empresas com quadro financeiro desfavorável,


encontramos sinais geralmente parecidos: insuficiência de capital de giro, dificuldades
para honrar pagamentos e peso significativo das despesas financeiras em relação ao
faturamento.

Também são semelhantes as consequências operacionais desse quadro financeiro


ruim: redução da oferta e da qualidade de produtos e serviços, perda de clientes e
fornecedores, além da redução do ânimo dos colaboradores.

Apesar da semelhança dos sintomas mencionados em empresas com situação


financeira adversa, os caminhos que as levam a essa situação são variados.

A maioria das crises financeiras não têm como causa original fatos financeiros e
sim eventos operacionais.

A primeira causa das dificuldades financeiras de uma empresa pode surgir


logo no início de seu funcionamento. Isso acontece quando as vendas não atingem o
patamar necessário para gerar resultado satisfatório. Em muitos desses casos, os
administradores acreditam que o negócio está em fase de maturação e que os resultados
estão a caminho. Apoiada nessa crença, a empresa queima eventuais reservas
financeiras existentes e depois abraça desesperadamente o endividamento. Esta
situação que podemos denominar “decolagem fraca” explica a maioria dos casos de
mortalidade precoce verificados entre as pequenas empresas.

Outro motivo de crise financeira é um começo com vendas fortes e crescendo a


taxas elevadas, acima das expectativas, e que podemos chamar de “decolagem
forte”. Esse fato pode gerar um forte impacto operacional sobre a organização que não
estava preparada para esse excesso de vendas. Em muitos casos, o crescimento rápido
das vendas acarreta perda de qualidade dos produtos ou serviços, seguida de retração
do mercado. Enquanto as vendas continuam aquecidas, a empresa tende a aumentar seus
gastos fixos de forma desordenada. Quando vem a retração das vendas, ocorre um duplo
efeito negativo: menor receita e maiores custos fixos, justamente aqueles de
administração mais difícil.

Além do aumento dos custos fixos, a “decolagem forte” também pode produzir
aumento do endividamento para fazer face à maior necessidade de capital de giro.
Aumento dos custos fixos e do endividamento - geralmente de curto prazo - afeta
negativamente a situação financeira da empresa. Nesses casos, é comum ouvirmos os
administradores afirmarem: “éramos felizes quando a empresa vendia menos”. Este é
um quadro tipicamente vivenciado por pequenas empresas que por causa de seu porte
conseguem alcançar elevadas taxas de crescimento na fase inicial. Também
muitas empresas da nova economia, costumam experimentar crescimento exponencial
em sua fase inicial, ao lado de perdas financeiras expressivas. Aquelas que dispõem de
crédito e bons mecanismos de capitalização podem resistir à crise financeira durante
anos e até reverter o quadro. Um bom exemplo é a Amazon.

Numa situação de normalidade das vendas, custos fora de controle podem ser a
causa de crise financeira. Aumento abrupto dos gastos é um fenômeno típico dos

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custos variáveis. Esse aumento pode não ter sido previsto na análise de viabilidade
econômica tradicional, ainda que esta contenha análise de sensibilidade. O caso mais
comum de aumento dos custos variáveis é quando esses são representados por
commodities ou insumos de preço atrelado a commodities, cujos preços estão
normalmente sujeitos a grande volatilidade. Uma vez que nem sempre é
possível repassar esse aumento de custos aos preços praticados pela empresa, pode
ocorrer um estrangulamento financeiro da empresa. O setor de transporte aéreo vivencia
bastante esse problema por conta do preço do querosene de aviação.

Uma razão menos frequente de crise financeira empresarial é queda de preços –


permanente ou não - dos seus produtos (commodities). Algumas empresas brasileiras do
setor de mineração passaram por isso, tendo amargado pesadas perdas financeiras e
profundas transformações em sua cadeia de produção.

A principal causa de crise financeira empresarial é a perda de mercado que pode


ser lenta e continuada ou rápida. Esse fato está por trás da maioria das crises financeiras
de empresas de todos os portes e segmentos. Quando a perda de mercado se torna
irreversível, a empresa pode tentar mudar sua carteira de produtos e serviços, com
resultados imprevisíveis. Estatisticamente, a maioria das empresas que experimentam
perda lenta e continuada de mercado, não consegue uma solução satisfatória para o
problema. A Kodak ilustra bem esse caso.

Pelo que foi exposto, percebe-se que a situação financeira das empresas
decorre, na maioria dos casos, de decisões não financeiras. Obviamente, escolhas
financeiras erradas podem levar as empresas ao desastre. Mas, estatisticamente, elas são
minoria. A crise financeira pode ser o ato final da história empresarial. Mas, antes dele,
erros estratégicos ou operacionais pavimentam a estrada para o desastre empresarial.

Fonte - IEF – INTITUTO DE ESTUDOS FINANCEIROS. Capital de giro: um desafio permanente.


Disponível em: <http://www.ief.com.br/analise.htm>. Acesso em: 05. jan. 2014.

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