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DIREITO DO TRABALHO I – material 06


(Lázaro Luiz Mendonça Borges)

5. RELAÇÕES ESPECIAIS DE TRABALHO (continuação)

Adiante veremos os seguintes tipos de relações especiais de trabalho: autônomo, eventual,


avulso, de estágio, de cooperativas de mão-de-obra, trabalho voluntário e o trabalho
religioso.

5.1. Contrato de trabalho autônomo:

Nesse tipo de trabalho o prestador dos serviços atua como patrão de si mesmo, sem
subordinação aos poderes do de comando do empregador; ele conserva a liberdade de
iniciativa e de gerir sua própria atividade e, em consequência, suporta por conta própria os
riscos decorrentes do negócio. Explora se ofício por conta e risco. O próprio trabalhador
estabelece as regras para o oferecimento de seu serviço.

O trabalho autônomo é caracterizado pelo fato de o trabalhador (prestador dos serviços) ser o
responsável pela definição do tempo e do modo de execução daquilo que lhe foi contratado.

A Lei 8.212/1991 - define no artigo 12, inciso V, “h”, que o trabalhador autônomo é “pessoa
física que exerce, por conta própria, atividade econômica de natureza urbana, com
fins lucrativos ou não”.
Diferença entre o autônomo e o emprego – este presta serviço por conta alheia e não sofre
qualquer risco de sua atividade, enquanto aquele a exerce por conta própria e risco.
Exemplos: motorista de táxi, representante comercial autônomo etc.

5.2. Contrato de trabalho eventual:

Trabalhador eventual é aquele que presta serviço de natureza urbana ou rural em caráter
eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de emprego.

É o trabalho ocasional, ou seja, aquele que não se insere no âmbito das atividades de uma
empresa. Presta serviços esporádicos a uma ou mais de uma pessoa.
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Exemplos: o trabalhador que cuida do jardim da empresa; eletricista que repara a instalação
elétrica da empresa; pessoa que vai consertar o encanamento, pintor, pedreiro etc.

5.3. Contrato de trabalho avulso:

Entende-se por avulso aquele trabalhador que, associado ou não a entidade sindical, presta
serviço de natureza urbana ou rural a diversas, sem vínculo empregatício, mas com a
intermediação obrigatória do OGMO (órgão gestor de mão de obra) ou do sindicato da
categoria.

O trabalhador avulso pode ser portuário e não portuário.

O não portuário é o avulso que presta serviços de carga e descarga de mercadorias,


trabalhando para diversos tomadores, sem vínculo de emprego, obrigatoriamente
intermediado pelo sindicato da categoria. Essa categoria é regida pela Lei n. 12.023/2009.
O portuário - é aquele que presta serviços da capatazia, estiva, conferência de carga, conserto
de carga, bloco e vigilância de embarcações na área dos portos, ou seja, para diversos
tomadores. É atualmente regido pela Lei n. 12.815/2013 (que revogou expressamente a Lei n.
8.630/93 – a lei que anteriormente regia tal relação) e intermediado pelo OGMO -(Órgão
Gestor de Mão-de-Obra).

São características do trabalhador avulso:


a) liberdade na prestação de serviço, sem vínculo de emprego;
b) pode prestar serviços a mais de um tomador de serviço;
c) o Sindicato ou o órgão gestor de mão-de-obra fazem a intermediação da
mão-de-obra, colocando os trabalhadores onde é necessário o serviço, cobrando valor pelos
serviços, já incluído os direitos trabalhistas e os encargos previdenciários e fiscais e fazendo o
rateio entre as pessoas que participaram da prestação de serviços;
d) o serviço é prestado o beneficiário em curto período.

Exemplos de trabalhadores avulsos: estivador, ensacador de café, cacau, sal e similares,


classificador, empacotador e movimentador de mercadorias, conferente e consertador de
cargas e descargas, vigia portuário, amarrador de embarcação etc.

Segue abaixo decisão recente sobre o assunto em comento:


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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO
PROCESSO TRT/SP nº 0002770-68.2013.5.02.0441 - 4ª Turma
RECURSO ORDINÁRIO
RECORRENTE: OGMO ÓRGÃO GESTOR DE MÃO DE OBRA
PORTUÁRIA DE SANTOS
RECORRIDO: ATHUS BELLINI MONGIATI
ORIGEM: 1ª VARA DO TRABALHO DE SANTOS -SP
OGMO. Responsabilidade civil. Agressão praticada pelos trabalhadores avulsos
a seu empregado. No caso em tela, o autor fazia escala da mão de obra
necessária à operação portuária, estando sujeito a pressões por parte dos
trabalhadores avulsos. Ficou evidenciado que ele permanecia em condições
inseguras de trabalho, sofrendo ameaças dos trabalhadores avulsos, chegando
ser vítima de agressão física. Era ônus do OGMO neutralizá-las,
independentemente de os trabalhadores avulsos não serem seus empregados. O
art. 33 da Lei 12.815/2013 exclui o OGMO da responsabilidade "por prejuízos
causados pelos trabalhadores portuários avulsos aos tomadores dos seus
serviços ou a terceiros", não se referindo aos seus próprios empregados. Cabe
ao empregador zelar pela segurança dos seus empregados (cláusula implícita no
contrato), garantindo a preservação da integridade física e psíquica do
trabalhador, dimensão do direito de personalidade vinculado à dignidade
humana, nos termos dos artigos 7o., XXII. 225 e 200, VIII da CF/88. A omissão
quanto a este dever caracteriza ato ilícito, ensejando a reparação civil, nos
termos dos artigos 186 e 927 do Código Civil c/c art. 8o. da CLT. Recurso não
provido.

5.4. O trabalho de estágio:

O estágio era regulado pela Lei n. 6.494/1977. Atualmente o estágio é regido pela Lei n.
11.788/2008. Ele tem finalidade pedagógica e de aprendizado. O artigo 1º da referida lei
conceitua o estágio e aponta a sua finalidade:

Art. 1o Estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no


ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de
educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de
educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação
especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da
educação de jovens e adultos.
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5.4.1. Aspectos formais:

a) matrícula e frequência regular do estagiário, atestados pela instituição de


ensino, em curso superior, de educação profissional; de ensino médio; de educação especial; e
nos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e
adultos;
b) termo de compromisso firmado entre o estudante, a parte concedente do
estágio e a instituição de ensino;
c) compatibilidade entre as atividades desenvolvidas no estágio e aquelas
previstas no termo de compromisso;
d) acompanhamento efetivo do professor orientador da instituição de
ensino e supervisor da parte concedente, comprovado mediante a apresentação, em período
não superior a 06 meses de relatórios das atividades;
e) duração máxima de 02 (dois) anos, exceto quando se tratar de estagiário
portador de deficiência.

5.4.2. Tipos de estágio:

O estágio pode ser obrigatório e não-obrigatório (artigo 2º, da Lei 11.788/2008), abaixo
transcrito:

Art. 2o O estágio poderá ser obrigatório ou não-obrigatório, conforme


determinação das diretrizes curriculares da etapa, modalidade e área de ensino e
do projeto pedagógico do curso.
§ 1o Estágio obrigatório é aquele definido como tal no projeto do curso, cuja
carga horária é requisito para aprovação e obtenção de diploma.
§ 2o Estágio não-obrigatório é aquele desenvolvido como atividade opcional,
acrescida à carga horária regular e obrigatória.
§ 3o As atividades de extensão, de monitorias e de iniciação científica na
educação superior, desenvolvidas pelo estudante, somente poderão ser
equiparadas ao estágio em caso de previsão no projeto pedagógico do curso.

O obrigatório - é aquele definido como projeto do curso e cuja carga horária é requisito para
a aprovação e obtenção do diploma.
Não obrigatório - é desenvolvido como atividade opcional, acrescida à carga horária regular e
obrigatória.
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5.4.3. Jornada de trabalho do estagiário:

A jornada de trabalho será definida de comum acordo entre a instituição de ensino, a parte
concedente e o aluno, mas não poderá ultrapassar:
a) 04 horas diárias e 20 semanais, no caso de estudantes de educação
especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional de educação de
jovens e adultos;
b) 06 horas diárias e 30 semanais, no caso de estudantes do ensino
superior, da educação profissional de nível médio e do ensino médio regular.

5.4.4. Direitos do Estagiário:


a) bolsa ou qualquer contraprestação para o estágio não obrigatório. Para o
estágio obrigatório é facultativa a concessão de bolsa ou equivalente;
b) auxílio-transporte (para o estágio não-obrigatório);
c) seguro contra acidentes pessoais (para ambos);
d) recesso de 30 dias, preferencialmente no período das férias escolares, de
forma remunerada para o estágio remunerado, e em qualquer hipótese desde que o período de
estágio seja superior a 01 ano;
e) jornada de trabalho;
f) termo de realização do estágio com a indicação das atividades
desenvolvidas, dos períodos e da avaliação de desempenho, devidas pela parte concedente.

5.4.5. Limites para a contratação de estagiários:

Visando coibir o abuso do direito de contratar estagiários, o artigo 17 da Lei n. 11.788/2008


dispõe o seguinte:

Art. 17. O número máximo de estagiários em relação ao quadro de pessoal das


entidades concedentes de estágio deverá atender às seguintes proporções:
I – de 1 (um) a 5 (cinco) empregados: 1 (um) estagiário;
II – de 6 (seis) a 10 (dez) empregados: até 2 (dois) estagiários;
III – de 11 (onze) a 25 (vinte e cinco) empregados: até 5 (cinco) estagiários;
IV – acima de 25 (vinte e cinco) empregados: até 20% (vinte por cento) de
estagiários.
§ 1o Para efeito desta Lei, considera-se quadro de pessoal o conjunto de
trabalhadores empregados existentes no estabelecimento do estágio.
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§ 2o Na hipótese de a parte concedente contar com várias filiais ou


estabelecimentos, os quantitativos previstos nos incisos deste artigo serão
aplicados a cada um deles.
§ 3o Quando o cálculo do percentual disposto no inciso IV do caput deste
artigo resultar em fração, poderá ser arredondado para o número inteiro
imediatamente superior.
§ 4o Não se aplica o disposto no caput deste artigo aos estágios de nível
superior e de nível médio profissional. (grifei)

5.5 - Cooperativas de mão-de-obra:

As relações de trabalho entre os cooperados não se encontram abrangidas pelo Direito do


Trabalho.

As cooperativas de trabalho são sociedades de trabalhadores autônomos de uma mesma região


geográfica que, por afinidade profissional e em número mínimo de sete (artigo 6º da Lei n.
12690/2012), aglutinam-se espontaneamente com o objetivo de oferecer em bloco – mediante
autogestão e de modo mais competitivo – seus serviços laborais com vistas à obtenção de
melhor qualificação, renda, situação socioeconômica e condições gerais de trabalho.

A regência legal das cooperativas de trabalho é dada pela Lei n. 12.690/2012, e, no que com
ela não colidir, pelas Leis n. 5.764/1971 e 10.406/2002 (Código Civil), cabendo ao Ministério
do Trabalho e Emprego, no âmbito de sua competência, a fiscalização do cumprimento das
referidas normas.

A relação estabelecida entre os cooperados é de coordenação, não havendo margem para


qualquer ato de subordinação jurídica interna. Os cooperados mantêm consigo seus
instrumentos de trabalho e não estão submetidos ao poder diretivo do contratante.

A cooperativa de trabalho pode ser de produção, quando constituída por sócios que
contribuem com trabalho para a produção em comum de bens e a cooperativa detém, a
qualquer título, os meios de produção; ou de serviço, quando constituída por sócios para a
prestação de serviços especializados a terceiros, sem a presença dos pressupostos da relação de
emprego.
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5.6 – Trabalho voluntário:

A Lei n. 9.608/1998 conceitua trabalho voluntário como a atividade não remunerada, prestada
por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza ou instituição privada de fins não
lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de
assistência social, inclusive mutualidade.

O serviço voluntário não gera vínculo empregatício, nem obrigação de natureza trabalhista
previdenciária ou afim.

O serviço voluntário será exercido mediante a celebração de termo de adesão entre a entidade,
pública ou privada, e o prestador do serviço voluntário, dele devendo constar o objeto e as
condições de seu exercício.

O prestador do serviço voluntário poderá ser ressarcido pelas despesas que comprovadamente
realizar no desempenho das atividades voluntárias. As despesas a serem ressarcidas deverão
estar expressamente autorizadas pela entidade a que for prestado o serviço voluntário.

5.7 – Trabalho religioso:

Tem sido frequente nos tribunais trabalhistas ações com pedidos de reconhecimento de
vínculo de emprego entre o que exerce trabalho religioso e a entidade religiosa a que este está
vinculado, mormente pastores e obreiros.

De forma majoritária, o TST vem entendendo que não há possibilidade de reconhecimento do


referido vínculo, uma vez que a relação entre o pastor e a Igreja é vocacional, portanto, não há
que se falar na presença do requisito da onerosidade.

Abaixo, algumas decisões sobre tal tema:

PROCESSO TRT - RO - 0001632-23.2012.5.18.0161


RELATOR : DESEMBARGADOR PLATON TEIXEIRA DE
AZEVEDO FILHO
RECORRENTE(S) : MARDONIO ROGÉRIO CARVALHO DA SILVA
ADVOGADO(S) : PEDRO HENRIQUE MEDEIROS
RECORRIDO(S) : IGREJA INTERNACIONAL DA GRAÇA DE DEUS
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ADVOGADO(S) : ALEXANDRE PEREIRA DE ANDRADE E OUTRO(S)


ORIGEM : VT DE CALDAS NOVAS
JUIZ(ÍZA) : MARIA APARECIDA PRADO FLEURY BARIANI
EMENTA : VÍNCULO DE EMPREGO. PASTOR DE IGREJA. INEXISTÊNCIA. A atividade
religiosa, como a celebração de sacramentos, a pregação em cultos, a assistência espiritual e social
de terceiros e a divulgação da palavra dita sagrada em geral, não gera vínculo de emprego com as
instituições em que os religiosos professam a fé, haja vista que se trata de atividade voluntária,
decorrente de inclinação vocacional para a atividade espiritual e insuscetível de valor econômico.
Desvirtuada a finalidade da Igreja, pela transformação desta em veículo de arrecadação de doações
para fins diversos da manutenção do próprio templo religioso ou para as obras de caridade típicas
dessas instituições, com plena ciência do líder religioso que nela prega, não tem o condão de alterar
a natureza da relação entre este e a ordem a que pertence, mas sim revela a prática de fraude deste e
dos demais membros que administram esta ordem contra a comunidade de fiéis que ali frequenta.

PROCESSO TRT - RO - 0001573-52.2011.5.18.0005


RELATOR: DESEMBARGADOR PAULO PIMENTA
RECORRENTE(S): EVANDRO ROCHA DE LIMA
ADVOGADO(S): MICHELLE SABENÇA PORTELA
RECORRIDO(S): IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS
ADVOGADO(S): LUCIANA CARLA DOS SANTOS VAZ
ORIGEM: 5ª VT DE GOIÂNIA
JUIZ(ÍZA): SILENE APARECIDA COELHO
EMENTA: VÍNCULO DE EMPREGO. PASTOR. IGREJA EVANGÉLICA. INEXISTÊNCIA.
Admitida a prestação de serviço de cunho religioso, motivada eminentemente por sentimento
vocacional, não se fazem presentes os requisitos configuradores de uma típica relação
empregatícia, nos moldes da CLT, entre o pastor e a Instituição Religiosa. Recurso do reclamante a
que se nega provimento.

Data de Publicação: 18/06/2013


Órgão Julgador: Sétima Turma

Relator: Convocado Marcio Toledo Goncalves

Revisor: Paulo Roberto de Castro

Tema: RELAÇÃO DE EMPREGO - TRABALHO RELIGIOSO

Divulgação: 17/06/2013. DEJT. Página 293. Boletim: Não.

EMENTA: PASTOR EVANGÉLICO X IGREJA. RELAÇÃO DE EMPREGO. Embora o


exercício pastoreio necessite de atividade intelectual e física, o traço de união com a Igreja é,
exclusivamente, a fé religiosa, decorrente da vocação ou aptidão para envolvimento em serviço
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religioso, sem a conotação material que envolve o trabalhador comum. Recurso a que se nega
provimento.
(TRT da 3.ª Região; Processo: 01259-2012-095-03-00-0 RO; Data de Publicação: 18/06/2013;
Órgão Julgador: Sétima Turma; Relator: Convocado Marcio Toledo Goncalves; Revisor: Paulo
Roberto de Castro; Divulgação: 17/06/2013. DEJT. Página 293)

Data de Publicação: 17/04/2013


Órgão Julgador: Primeira Turma

Relator: Maria Stela Alvares da S. Campos

Revisor: Convocado Paulo Mauricio R. Pires

Tema: RELAÇÃO DE EMPREGO - TRABALHO RELIGIOSO

Divulgação: 16/04/2013. DEJT. Página 45. Boletim: Não.

EMENTA: PASTOR - RELAÇÃO DE EMPREGO NÃO CONFIGURADA. Admitida a prestação


de serviços pela reclamada, presume-se que estão presentes estes elementos, cabendo à reclamada o
ônus de demonstrar que a existência de relação jurídica distinta daquele cujo reconhecimento se
pleiteia. Desse encargo, a recorrida conseguiu se desincumbir, demonstrando que o autor mantinha
com ela vínculo de outra natureza. O reclamante exercia os misteres relacionados à fé, não
prestando serviços à recorrida. Logo, não se trata de serviço prestado em troca de salário, mas de
serviço baseado na fé e na ideia de participação dos membros da igreja.
(TRT da 3.ª Região; Processo: 01349-2012-081-03-00-9 RO; Data de Publicação: 17/04/2013;
Órgão Julgador: Primeira Turma; Relator: Maria Stela Alvares da S. Campos; Revisor: Convocado
Paulo Mauricio R. Pires; Divulgação: 16/04/2013. DEJT. Página 45)

Data de Publicação: 05/10/2012


Órgão Julgador: Primeira Turma

Relator: Convocada Erica Aparecida Pires Bessa

Revisor: Convocado Paulo Mauricio R. Pires

Tema: RELAÇÃO DE EMPREGO - TRABALHO RELIGIOSO

Divulgação: 04/10/2012. DEJT. Página 34. Boletim: Sim.

EMENTA: VÍNCULO DE EMPREGO. PASTOR. IGREJA EVANGÉLICA. A configuração do


vínculo empregatício está condicionada à presença dos requisitos elencados no art. 3º da CLT,
quais sejam, a pessoalidade, a onerosidade, a habitualidade e a subordinação jurídica, que é a pedra
de toque da relação de emprego. Se há elementos nos autos que autorizem concluir pela existência
da subordinação, não se vislumbrando, como quer fazer crer a reclamada, apenas a dedicação de
natureza exclusivamente religiosa, motivada por fatores espirituais, o reconhecimento do vínculo
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de emprego se impõe. No caso, o exercício da função de Pastor não se reverte apenas em proveito
da comunidade religiosa, com o emprego voluntário dos dons sacerdotais para a evangelização dos
fiéis, mas sim à pessoa jurídica da Igreja, que, como se defluiu dos autos, exigia a prestação de
serviços nos exatos moldes por ela determinados, inclusive com a exigência de "produção", que em
nada se coaduna com a pura e simples evangelização de fieis e convicção religiosa.
(TRT da 3.ª Região; Processo: 00210-2012-075-03-00-6 RO; Data de Publicação: 05/10/2012;
Órgão Julgador: Primeira Turma; Relator: Convocada Erica Aparecida Pires Bessa; Revisor:
Convocado Paulo Mauricio R. Pires; Divulgação: 04/10/2012. DEJT. Página 34)

Data da publicação: 05/10/2015


PROCESSO TRT - RO-0010219-34.2014.5.18.0009
RELATORA : DESEMBARGADORA KATHIA MARIA BOMTEMPO DE ALBUQUERQUE
RECORRENTE(S) : IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS
ADVOGADO(S) : LUCIANA CARLA DOS SANTOS VAZ
RECORRIDO(S) : JOSE RAIMUNDO LOPES
ADVOGADO(S) : LEONARDO GONÇALVES BARIANI
ORIGEM : 9ª VARA DO TRABALHO DE GOIÂNIA
JUIZ : WANDERLEY RODRIGUES DA SILVA
EMENTA
"VÍNCULO DE EMPREGO. PASTOR. IGREJA EVANGÉLICA. INEXISTÊNCIA. Admitida a
prestação de serviço de cunho religioso, motivada eminentemente por sentimento vocacional, não
se fazem presentes os requisitos configuradores de uma típica relação empregatícia, nos moldes da
CLT, entre o pastor e a Instituição Religiosa." (RO-0001573-52.2011.5.18.0005, Relator:
Desembargador Paulo Pimenta, DEJT 17/02/2012)

PROCESSO Nº TST-RR-34600-12.2008.5.01.0035

ACÓRDÃO
(8ª Turma)
GMMEA/mmp/acnv
RECURSO DE REVISTA - PROCESSO ELETRÔNICO – VÍNCULO EMPREGATÍCIO.
PASTOR EVANGÉLICO. SÚMULA 126 DO TST. O Regional, examinando o conjunto fático-
probatório constante dos autos, concluiu restarem presentes os requisitos caracterizadores do
vínculo de emprego. Eventual conclusão contrária somente seria possível mediante o reexame de
fatos e provas, o que esbarra no óbice de que trata a Súmula 126 do TST. Recurso de Revista não
conhecido.
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JULGAMENTO EXTRA PETITA. COMISSÕES. Incólume o princípio da adstrição, uma vez


que o acórdão regional foi proferido em observância aos termos da exordial. Recurso de Revista
não conhecido.
MULTA PREVISTA NO ART. 477, § 8º, DA CLT. VÍNCULO EMPREGATÍCIO
RECONHECIDO EM JUÍZO. Nos termos da jurisprudência do TST, constatada a mora no
pagamento das verbas rescisórias, devida é a multa prevista pelo art. 477, § 8º, da CLT, ainda que
controvertida a existência de vínculo de emprego entre as partes ou controverso o direito à
percepção dessas verbas. A incidência da referida multa prende-se ao mero fato objetivo
concernente ao atraso no pagamento das verbas rescisórias, sem culpa do empregado. Recurso de
Revista não conhecido.

PROCESSO Nº TST-RR-1007-13.2011.5.09.0892

ACÓRDÃO
3ª Turma
GMAAB/gfn/lp/aab/smf
I - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. PASTOR DE IGREJA.
VÍNCULO DE EMPREGO. Diante de possível violação do art. 3º da CLT, deve-se dar
provimento ao agravo de instrumento, para melhor exame do recurso de revista. Agravo de
instrumento conhecido e provido.
II – RECURSO DE REVISTA. PASTOR DE IGREJA. VÍNCULO DE EMPREGO.
CONFIGURAÇÃO. Trata-se de demanda em que pastor de igreja pretende o reconhecimento do
vínculo de emprego com a Igreja, referente ao período em que exerceu esse ofício. A Corte
Regional manteve a improcedência da reclamação, ao fundamento de que a atividade do autor é de
cunho estritamente religioso, na medida em que o ofício realizado foi motivado por uma vocação
religiosa e visava principalmente a propagação da fé. No entanto, verifica-se a existência do
vínculo de emprego. No entanto, restou apurado nos autos, pelos fatos e provas fartamente
descritos pelo Regional, que: a) os pastores precisavam estar presentes a reuniões habituais, em que
eram doutrinados (treinados) para o atendimento de campanhas de arrecadação de receitas; b) havia
horário diário definido para o exercício desse trabalho, sujeito a fiscalização e com folga semanal;
c) os depoimentos revelaram a vinculação à Central de Curitiba, onde ocorriam reuniões periódicas
com a definição de diretrizes a serem seguidas e para onde o autor deveria se reportar caso tivesse
algum problema administrativo; d) o trabalho, de natureza não eventual, destinado ao atendimento
das necessidades da instituição, consistia no
gerenciamento da igreja e na participação obrigatória em cultos e programas de rádio e televisão,
cujo fim não era a divulgação da ideologia da instituição religiosa, mas sim a arrecadação de
receita, servindo a religião apenas de meio para o convencimento dos fiéis; e, e) os pastores
trabalhavam, na verdade, pela remuneração mensal, como vendedores da ideologia religiosa da
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entidade, com obrigação de atingir quotas obrigatórias de venda de revistas e jornais, com
subordinação a metas de arrecadação, sob pena de despedida. Por outro lado, o autor não se
limitava a trabalhar mediante diretrizes institucionais gerais de exercício da fé religiosa. Atuava
cumprindo tarefas determinadas, mediante fiscalização (com controle direto e indireto de
desempenho) e de forma remunerada, cumprindo os objetivos da instituição, em que angariar
receita era o objetivo principal, que era realizado com o auxílio persuasivo da religião junto aos
fiéis. Diante desse quadro, o fundamento do Regional de que “o autor tornou-se membro da
reclamada, movido por fatores que não se coadunam com os econômicos, conforme se
extrai da ficha pastoral, à fl. 244, onde consta como motivo de sua conversão o seguinte:
"desenganado pelos médicos" não se mostra apto a afastar o vínculo. A ficha pastoral de
ingresso na instituição e de conversão à ideologia da igreja teve o seu conteúdo descaracterizado
pelos depoimentos, sendo o contrato de trabalho um contrato realidade, cuja existência decorre do
modo de prestação do trabalho e não da mera declaração formal de vontade. Esta Corte Superior,
em situações idênticas, reconheceu o vínculo de emprego de pastor de igreja. Precedentes.
Reconhecida a relação de emprego do autor com a Igreja Universal do Reino de Deus, referente ao
período em que desempenhou as funções de pastor, devem os autos retornar à origem, a fim de que
examine as verbas decorrentes dessa relação. Recurso de revista conhecido por violação do art.
3º da CLT e provido, no particular.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. Os honorários assistenciais são devidos somente quando
preenchidos os requisitos da Lei nº 5.584/70, na forma das Súmulas nº 219 e 329 do TST e OJ nº
305 da SBDI-1/TST. Assim, tem-se como pressuposto para o deferimento dos aludidos honorários
a assistência pelo sindicato da categoria profissional e a percepção de salário inferior ou igual à
dobra do salário mínimo ou a prova da situação econômica insuficiente ao sustento próprio ou de
sua família. Constata-se, no caso, a ausência da assistência sindical. Diante desse contexto, a
decisão recorrida está em conformidade com as Súmulas 219 e 319 desta Corte, motivo pelo qual
incide o óbice do art. 896, § 4º, da CLT (Lei 9.756/98). Recurso de revista não conhecido.

6. A TERCEIRIZAÇÃO NO DIREITO DO TRABALHO

Sob o prisma empresarial, a necessidade de especialização, o desenvolvimento de novas


técnicas de administração para melhor gestão dos negócios e aumento de produtividade e a
redução de custos fomentam a contratação de serviços prestados por outras empresas, no
lugar daqueles que poderiam ser prestados pelos seus próprios empregados, expediente que
pode trazer problemas trabalhistas e que se denomina terceirização.
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6.1. Conceito de terceirização:

Entende-se terceirização como o “processo de descentralização das atividades da empresa, no


sentido de desconcentrá-las para que sejam desempenhadas em conjunto por diversos centros
de prestação de serviços e não mais de modo unificado numa só instituição”. (Amauri
Mascaro Nascimento)

Terceirização é o fenômeno pelo qual se dissocia a relação econômica de trabalho da relação


justrabalhista que lhe seria correspondente. (Maurício Godinho Delgado)

O referido autor explica que “por tal fenômeno insere-se o trabalhador no processo produtivo
do tomador de serviços sem que se estendam a este os laços justrabalhistas, que se preservam
fixados com uma entidade interveniente”. Ele diz ainda que “a terceirização provoca uma
relação trilateral em face da contratação de força de trabalho no mercado capitalista: o obreiro,
prestador de serviços, que realiza suas atividades materiais e intelectuais junto à empresa
tomadora de serviços; a empresa terceirizante, que contrata este obreiro, firmando com ele os
vínculos jurídicos trabalhistas pertinentes; a empresa tomadora de serviços, que recebe a
prestação do labor, mas não assume a posição clássica de empregadora desse trabalhador
envolvido”.

6.2. Terceirização lícita e ilícita:

Há uma distinção, no Direito do Trabalho, entre terceirização lícita e ilícita. Ressalta-se,


todavia, que as hipóteses de terceirização lícita são excetivas.

6.2.1. Terceirização lícita: as situações-tipo de terceirização lícita estão


claramente assentadas pelo texto da Súmula 331 do TST.

a) situações que autorizem contratação de trabalho temporário


(Súmula 331, I). São as situações expressamente especificadas pela Lei nº 6.019/1974
(necessidades transitórias de substituição de pessoal regular e permanente da empresa
tomadora ou se trata de necessidade resultante de acréscimo extraordinário de serviços dessa
empresa). Os direitos dos trabalhadores temporários estão elencados no artigo 12 da referida
lei.

b) atividades de vigilância – regidas pela Lei 7.102/1983 (Súmula 331,


III, 1ª parte). Não apenas o segmento bancário, mas quaisquer segmentos do mercado de
14

trabalho, que contratem serviços de vigilância mediante empresas especializadas (que


obedeçam às normas de legislação específica, anteriormente dirigida apenas a empresas de
vigilância bancária) poderão, no tocante a esse tipo de força de trabalho e serviços
especializados, valer-se do instrumento jurídico da terceirização.

Vigilante x Vigia – vigia é empregado não especializado, que se vincula ao próprio ente
tomador de seus serviços (trabalha, em geral, em condomínios, guarda de obras, pequenas
lojas etc.). Vigilante é membro de categoria especial, diferenciada – ao contrário do vigia, que
se submete às regras da categoria definida pela atividade do empregador, bem como quanto à
formação e treinamento da força de trabalho.

c) atividades de conservação e limpeza (Súmula 331, III, 2ª parte).


Esse rol de atividades foi um dos primeiros a ensejar práticas terceirizantes no mercado de
trabalho privado do país.

d) serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador. Esse


grupo envolve atividades não expressamente discriminadas, mas que se caracterizam pela
circunstância inequívoca de serem atividades que não se ajustam ao núcleo das atividades
empresariais do tomador de serviços – não se ajustam, pois, às atividades-fim do tomador.

6.2.2. Terceirização ilícita: excluídas as quatro situações-tipo acima


demonstradas, que ensejam a terceirização lícita no Direito brasileiro, não há no nosso
ordenamento jurídico algum preceito legal a dar validade trabalhista a contratos mediante os
quais uma pessoa física preste serviços não-eventuais, onerosos, pessoais e subordinados a
outrem, sem que esse tomador responda juridicamente pela relação laboral estabelecida. Não
se trata de se discutir, nesses casos, se a empresa terceirizante é licitamente constituída e
patrimonialmente idônea, já que o núcleo da temática examinada não diz respeito à
responsabilidade trabalhista, mas a vínculo de emprego.

6.3. Atividade-fim e atividade-meio:

6.3.1. Atividade-fim: atividades-fim, segundo Maurício Godinho Delgado,


podem ser conceituadas como as funções e tarefas empresariais e laborais que se ajustam ao
núcleo da dinâmica empresarial do tomador dos serviços, compondo a essência dessa
dinâmica e contribuindo inclusive para a definição de seu posicionamento e classificação no
contexto empresarial e econômico. São, portanto, atividades nucleares e definitórias da
essência da dinâmica empresarial do tomador dos serviços.
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Portanto, atividade-fim deve ser entendida como a tarefa intimamente relacionada ao objetivo
social da empresa, normalmente identificado em seus estatutos constitutivos.

6.3.2. Atividade-meio: atividades-meio, também conforme ensina o


mesmo autor, são aquelas funções e tarefas empresariais e laborais que não se ajustam ao
núcleo da dinâmica empresarial do tomador dos serviços, nem compõem a essência dessa
dinâmica ou contribuem para a definição de seu posicionamento no contexto empresarial e
econômico mais amplo. São, portanto, atividades periféricas à essência da dinâmica
empresarial do tomador dos serviços. Ilustrativamente, são as atividades de transporte,
conservação e limpeza. Podem ser também outras atividades meramente instrumentais, de
estrito apoio logístico ao empreendimento (serviço de alimentação aos empregados do
estabelecimento etc.).

6.4. Súmula 331 do TST:

Assim estabelece a súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho:

SÚMULA 331. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS.


LEGALIDADE (nova redação do item IV e inseridos os itens V e VI à
redação) - Res. 174/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.2011
I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se
o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho
temporário (Lei nº 6.019, de 03.01.1974).
II - A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não
gera vínculo de emprego com os órgãos da Administração Pública direta,
indireta ou fundacional (art. 37, II, da CF/1988).
III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de
vigilância (Lei nº 7.102, de 20.06.1983) e de conservação e limpeza, bem como
a de serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde que
inexistente a pessoalidade e a subordinação direta.
IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador,
implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços quanto àquelas
obrigações, desde que haja participado da relação processual e conste também
do título executivo judicial.
V - Os entes integrantes da Administração Pública direta e indireta respondem
subsidiariamente, nas mesmas condições do item IV, caso evidenciada a sua
conduta culposa no cumprimento das obrigações da Lei n.º 8.666, de
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21.06.1993, especialmente na fiscalização do cumprimento das obrigações


contratuais e legais da prestadora de serviço como empregadora. A aludida
responsabilidade não decorre de mero inadimplemento das obrigações
trabalhistas assumidas pela empresa regularmente contratada.
VI – A responsabilidade subsidiária do tomador de serviços abrange todas as
verbas decorrentes da condenação referentes ao período da prestação laboral.

Há que se ponderar, todavia, a possibilidade de incomunicabilidade de condutas e de


responsabilidades. Há condutas isoladas praticadas ou pela empresa prestadora ou pela
empresa cliente contra o empregado terceirizado que são absolutamente incomunicáveis.
Essas condutas, que não permitem a extensão da responsabilização além da pessoa do lesante,
têm por pressuposto indispensável a prática de ato que seja do exclusivo conhecimento do
praticante do ato violador.

Por exemplo, a empresa prestadora contrata trabalhadores com a promessa de pagamento de


salário “por-fora” e coloca-os à disposição de uma empresa tomadora não ciente de tal
situação. Não é razoável entender que esta última seja responsabilizada subsidiariamente por
eventual inadimplemento da empresa prestadora.

Data de Publicação: 27/10/2010


Órgão Julgador: Nona Turma

Relator: Ricardo Antonio Mohallem

Revisor: Joao Bosco Pinto Lara

Tema: DANO MORAL - RESPONSABILIDADE

Divulgação: 26/10/2010. DEJT. Página 108. Boletim: Não.

EMENTA: TOMADORA DE SERVIÇOS. DANO MORAL. FATO GERADOR OCORRIDO


APÓS A RESCISÃO CONTRATUAL. AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE. A tomadora
de serviços não responde por danos morais posteriores à rescisão contratual e relacionados ao
descumprimento dos deveres pós-contratuais.
(TRT da 3.ª Região; Processo: 00503-2010-079-03-00-7 RO; Data de Publicação: 27/10/2010;
Órgão Julgador: Nona Turma; Relator: Ricardo Antonio Mohallem; Revisor: Joao Bosco Pinto
Lara; Divulgação: 26/10/2010. DEJT. Página 108)

Entretanto, segue abaixo decisão em sentido contrário:

PROCESSO TRT/SP N.º 0001366-28.2013.5.02.0361 12ª Turma


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ORIGEM: 01ª VARA DO TRABALHO DE MAUÁ


RECURSO ORDINÁRIO
1. RECORRENTE: VITOPEL DO BRASIL LTDA
2. RECORRENTE: BRASKEM QPAR S/A
3. RECORRENTE: JOSÉ VALÉRIO NETO
1. RECORRIDO: CA BENJAMIM PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS LTDA
EMENTA: TERCEIRIZAÇÃO. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DO ÚLTIMO
TOMADOR DA CADEIA. CÁLCULO PROPORCIONAL DAS VERBAS RESCISÓRIAS.
INVIABILIDADE. Ao praticar a terceirização de serviços, a empresa deve estar ciente de que está
trazendo um trabalhador estranho para dentro de seus muros, trabalhador este que é empregado de
uma empresa alheia ao seu controle etc. Se o contrato daquele trabalhador com a empresa de
prestação de serviço é longo, corre-se o risco de haver resilição justamente num contrato de
prestação de serviços (de cunho empresarial) com curto interregno, vindo a última empresa
tomadora a responder por todas as verbas devidas e não pagas pela empregadora, concernentes ao
período respectivo do contrato, incluindo títulos que refletem o tempo de serviço, obviamente.
Terceirizar é correr riscos, os quais não podem ser suportados pelo trabalhador. Quando dizemos
riscos, estamos nos referindo, inclusive, a arcar com verbas que eventualmente possam ter surgido
em contratos firmados com outros tomadores (multa do FGTS, aviso prévio proporcional,
indenização do seguro-desemprego etc.). O que não seria razoável é exigir que o empregado fizesse
uma tabela de proporção de responsabilidade de cada tomador entre as verbas trabalhistas devidas
na resilição, ou mesmo, levar tal prática para a liquidação, tornando-se ainda mais morosa a
execução trabalhista.

6.5. Responsabilidade solidária e subsidiária:

‘Responsabilidade’ tem o significado de responsabilizar-se, vir garantido, assegurar, assumir o


pagamento do que se obrigou, ou do ato que praticou.

A responsabilidade será solidária quando em uma mesma obrigação houver mais de um


responsável pelo seu cumprimento. Caso se esteja diante de uma situação na qual a
responsabilidade é solidária, poderá o credor exigir o cumprimento da responsabilidade de
ambos os devedores ou de apenas um deles, cabendo àquele que cumprir a obrigação o direito
de regresso contra o devedor solidário.

Na responsabilidade subsidiária a obrigação não é compartilhada entre dois ou mais


devedores. Há apenas um devedor principal. Todavia, na hipótese do não cumprimento da
obrigação por parte deste, outro sujeito responderá subsidiariamente pela obrigação.
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No caso da terceirização, a tomadora que contrata o serviço terceirizado responde


subsidiariamente pelas obrigações não cumpridas pela empresa responsável pela contratação
do empregado. Essa responsabilidade se justifica, pois apesar de não ser o contratante direto
do empregado, a empresa que utiliza da terceirização se beneficia da mão de obra do
trabalhador terceirizado, devendo então arcar com os riscos de sua atividade. Esse é o
entendimento claramente exposto na Súmula 331 do TST.

Importante lembrar que a jurisprudência firmou que a responsabilidade subsidiária do


tomador de serviços, em situações de terceirização, somente poderá ser declarada caso esse
tomador componha o polo passivo da lide trabalhista instaurada.

6.6. Culpa in eligendo e culpa in vigilando:

A culpa é dita in eligendo (ou in eligendum) quando decorre da má escolha do preposto e in


vigilando (ou in vigilandum) quando da falta de atenção com o procedimento de outrem pelo qual
o responsável deve pagar.

Maurício Godinho Delgado enfatiza que se a entidade estatal pratica terceirização com
empresa inidônea (isto é, empresa que se torne inadimplente com relação a direitos
trabalhistas) comete culpa in eligendo (má escolha do contratante), mesmo que tenha firmado a
seleção por meio de processo licitatório. Ainda que não se admita essa primeira dimensão da
culpa, incide, no caso, outra dimensão, no mínimo da culpa in vigilando (má fiscalização das
obrigações contratuais e seus efeitos). Passa, desse modo, o ente do Estado a responder pelas
verbas trabalhistas devidas pelo empregador terceirizante no período de efetiva terceirização
(inciso IV da Súmula 331, TST).

Completa o doutrinador que, assim, quer em face da responsabilidade objetiva do Estado,


quer em face de sua responsabilidade subjetiva, inerente a qualquer pessoa jurídica, as
entidades estatais respondem, sim, pelos valores resultantes dos direitos trabalhistas devidos
pelos empregadores envolvidos com contratos terceirizantes com tais entidades.

6.7. Da tramitação do projeto de lei que regulamenta a terceirização:

Abaixo, notícia veiculada no sítio eletrônico do Senado Federal:


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O novo presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Ives Gandra Martins Filho, defendeu
nesta terça-feira (23) a aprovação de um marco regulatório da terceirização. Ele discutiu o tema em
visita ao presidente do Senado, Renan Calheiros, acompanhado do corregedor-geral da Justiça do
Trabalho, Renato de Lacerda Paiva.

A terceirização é tema do PLC 30/2015, que tramita no Senado, já tendo sido aprovado na Câmara
dos Deputados. Segundo Ives Gandra, uma aproximação maior do Congresso com o Judiciário
trabalhista pode ajudar a destravar o tema e produzir uma lei que dê segurança jurídica nesse
campo.

- Hoje temos apenas uma súmula do TST que trata da terceirização. A Súmula 331 diz o que é
possível fazer ou não, se é atividade-fim ou atividade-meio. Enquanto não tivermos uma legislação
explicando quais direitos devem ser garantidos ao trabalhador, o que é possível ou não terceirizar,
um juiz vai decidir de um jeito e outro juiz, de outro. As empresas e o próprio setor público ficam
desnorteados. Se conseguirmos uma lei melhor trabalhada, que dê explicações melhores a alguns
marcos mais definidos, poderemos dar mais segurança não só às empresas, mas aos trabalhadores
— argumentou.

Para o jurista, quem mais sofre com a falta de regulamentação, hoje, é o trabalhador do setor
público.

— As empresas acabam sumindo. Ficam os mesmos trabalhadores com uniformes diferentes. E no


setor privado não se sabe o que é possível terceirizar, se é atividade-fim em alguma modalidade ou
apenas a atividade-meio.

Segundo Renan Calheiros, é fundamental estabilizar as relações de terceirização no Brasil.

— A regulamentação da terceirização é importante para as empresas e para os trabalhadores. Essa


posição eu sempre defendi, continuo a defender. Isso é modernidade. É uma questão de fato que já
existe, que precisa ser regulamentada, para acabar com essa insegurança que inclusive dificulta
investimentos. É esse o debate que temos que fazer.

Criação de cargos

Outro assunto tratado na audiência entre os presidentes do Senado e do TST foi o projeto que cria
cargos de provimento efetivo e em comissão no quadro de pessoal do TST (PLC 100/2015). De
acordo com o presidente do TST, hoje existe uma defasagem de servidores no tribunal.

— Estamos com aproximadamente 300 mil processos para serem julgados e não temos servidores
suficientes para dar apoio aos ministros. Estamos pagando horas extras para os servidores.

Posse

No encontro, Ives Gandra convidou Renan Calheiros para sua posse, a ser realizada na próxima
quinta-feira (25). Ele substitui o ministro Antônio José de Barros Levenhagen na presidência do
TST.

Com informações da Assessoria de Imprensa da Presidência do Senado

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