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Ensaio reflexivo de síntese

Problemáticas do contexto de atuação: identificação e possibilidades de enfrentamento

Este ensaio tem como objetivo organizar algumas reflexões sobre as problemáticas
emergentes dos contextos de atuação pedagógica, a partir das discussões da turma no
ambiente virtual e nas aulas presenciais.

Ao longo dessas sete semanas de estudos no ProEF, aprofundamos as reflexões sobre


as problemáticas que enfrentamos na nossa atuação como professoras e professores de
educação física em escolas públicas do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Percebemos
que, mesmo sendo os contextos escolares diferentes e com suas especificidades, as
problemáticas são comuns, porque estão relacionadas aos aspectos históricos da área da
educação física e da educação brasileira. E à medida que estudamos mais e compartilhamos
mais, que nos esforçamos para trazer a realidade vivida nas escolas para o movimento
reflexivo, em diálogo com saberes científicos, vamos entendendo que, diante das
complexidades das problemáticas, não há solucionáticas (usando a palavra do professor
Paulo Fensterseifer). E por isso vamos entrando mais em contato com o sentimento de
angústia. Angústia porque sabemos que não é possível mudar tudo facilmente; que pequenas
mudanças exigem, muitas vezes, grandes esforços; que muitas vezes ficamos fragilizados;
que muitas vezes não sabemos. E mesmo assim, seguimos em frente, porque já é possível
compreender que “a única ação possível é enfrentar a angústia, experimentá-la, visto que ela
é imprescindível para que o indivíduo adquira autonomia, liberdade e possa aprender com os
sentimentos angustiantes” (Borges; Fensterseifer; Fraga, 2021, p. 5). A angústia nos mobiliza
para a ação de aprender, discutir, refletir e buscar as mudanças. O grupo tem um papel muito
importante na administração da angústia, porque passamos a enxergar que não estamos
solitários à deriva; porque compartilhamos e trocamos ideias, estratégias e modos de fazer na
prática pedagógica, ampliando as possibilidades, afinal, “o nós é uma força importante na
procura de novos saberes” (Moraes et al, 2005, p. 30).

As problemáticas elencadas pela turma foram a indisciplina e a visão da comunidade


escolar sobre a educação física. Eu percebo que, nas duas escolas em que trabalho, ambas as
problemáticas estão presentes, mas se apresentam com características específicas, o que exige
de mim traçar ações específicas para enfrentá-las.

Contexto de trabalho 1:

Nesta escola sou professora nos anos iniciais do ensino fundamental, neste ano
trabalho com as turmas do 1º e do 4º anos, mas essa designação não é fixa (em anos
anteriores já trabalhei com o 2º e com o 3º). O horário das minhas aulas é no dia de
planejamento (hora-atividade) das professoras pedagogas de cada turma, e essa condição
acaba formando uma ideia, para a gestão e para a equipe de professoras, de que a educação
física nos anos iniciais serve para preencher a carga horária da hora-atividade, portanto as
aulas são encaixadas e podem ser alteradas conforme a necessidade, quando falta alguma
professora, por exemplo. Ou seja, eu posso ser convocada a “ficar com o 5º ano hoje, porque
a professora precisou trocar o planejamento dela”. Isso prejudica muito o desenvolvimento do
meu planejamento, o aprendizado dos estudantes e a concepção de educação física que eles
vão formando. Penso que essa visão acaba sendo fortalecida pela centralidade dos esportes
que ocorre nos anos finais do ensino fundamental, que é a abordagem adotada pelo meu
colega, professor de educação física na escola há mais tempo do que eu. Ele coloca bastante
ênfase na participação das equipes nos jogos escolares e a escola toda se mobiliza para isso.
Claro que essa participação nos jogos traz frutos muito positivos para as experiências dos
estudantes, porém, por outro lado, sinto que diminui a importância da educação física nos
anos iniciais. As estratégias para o enfrentamento dessas questões, acredito, precisam iniciar
no diálogo com a gestão e colegas acerca dos objetivos da educação física nos anos iniciais,
relacionados ao projeto pedagógico da escola. Nos “espaços de interlocução entre os pares”, é
preciso “testar os argumentos com outros colegas” (González, 2021, p. 143).

Contexto de trabalho 2:

Nesta escola sou a única professora de educação física, atuo com os anos finais, nas
turmas multisseriadas de 6º e 7º anos e de 8º e 9º anos. O problema da indisciplina é o que
está se agravando atualmente na escola. Nas aulas de educação física não ocorrem graves
problemas de indisciplina, o que acontece são agitações em momentos de explicação, atitudes
de desrespeito, como utilização de apelidos, uso de celular em momentos inadequados, e
alguma recusa inicial em não participar de certas atividades práticas das aulas, mas penso que
tenho conseguido intervir quando necessário e resolver pontualmente o que ocorre. Porém, as
ocorrências aumentaram no último mês, principalmente na turma de 8º e 9º anos. Acredito
que o motivo para o aumento da indisciplina é uma certa revolta dos estudantes com o modo
com que eles têm sido tratados por uma professora. Em síntese, a partir do meu ponto de
vista, e a partir de conversas com a referida professora e outras colegas, e da escuta dos
estudantes, entendo que a professora está bastante adoecida emocionalmente/psiquicamente,
ela é bastante exigente (de um modo tradicional) e enfatiza o que os alunos não sabem, não
conseguem aprender. A minha preocupação é que essa situação continue se agravando, pois a
gestão escolar não está conseguindo propor formas de intervenção mais amplas e
construtivas. Tenho notado que os “grandes sermões” para a turma estão se repetindo e a
assinatura de atas de registro de ocorrência aumentou. Essas ações não são resolutivas e são
pouco pedagógicas, por isso percebo a necessidade de uma ação coletiva mais
interdisciplinar, com o apoio da gestão escolar.

Referências:

BORGES, Robson; FENSTERSEIFER, Paulo; FRAGA, Alex. O estado de angústia manifestado por
professores em uma formação continuada: uma análise à luz de Soren Kierkegaard. Educar em Revista,
Curitiba, v. 37, 2021.

GONZÁLEZ, Fernando. Educação Física Escolar: entre o “rola bola” e a renovação pedagógica. In: Desafios da
educação física escolar: temáticas da formação em serviço no ProEF. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2020.

MORAES, Roque; HACKMANN, Berenice; MANCUSO, Ronaldo. De Marte a Narciso: (sobre)vivências em


dissertações de mestrado. Ijuí: Ed. Unijuí, 2005.

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