Você está na página 1de 17

A PERCEPÇÃO E ATUAÇÃO DO PROFESSOR EM RELAÇÃO ÀS INTERAÇÕES

ALUNO-ALUNO. (em andamento)

Angélica Silva Vieira


Antônio dos Santos Andrade (Orientador)
PIBIC
Palavras-chave: interação aluno-aluno; representações do professor; ensino-aprendizagem.

INTRODUÇÃO

Este trabalho contém informações relacionadas ao desenvolvimento da pesquisa intitulada “A


percepção e atuação do professor em relação às interações aluno-aluno”. Primeiramente, o
tema é apresentado ao leitor, contendo os conceitos e as pesquisas anteriores que nortearam os
rumos da pesquisa.
Para TAPIA e CELAY (1996) a atuação do professor na sala de aula provoca inúmeros
sentimentos nos alunos, interferindo no estado emocional deles, podendo o professor
prejudicar ou ajudar no desenvolvimento cognitivo destes e na classe como um todo. Estes
sentimentos podem ser formados principalmente através do próprio sentimento do professor -
da sua expectativa em relação ao aluno-, demonstrado através de elogios, repressões, sorrisos
e outras formas de expressão. Deste modo, a possível motivação provocada pelo professor
pode desencadear no aluno um maior empenho na realização das tarefas propostas e
conseqüentemente contribuir para o desenvolvimento cognitivo do aluno.
Segundo esses autores, as pessoas tendem a se preocupar com a imagem que as outras pessoas
fazem dela, influenciando na resolução de uma tarefa sempre que esta se preocupar com uma
boa reputação e se desconcentrar na resolução do problema, interferindo assim no seu
aprendizado.
O contexto de cada sala de aula deve ser bem analisado pelos professores, tendo estes a
função de captar e fornecer metas aos alunos, formando um contexto único, no qual os alunos,
pertencentes a contexto diferente, segundo ZANELLA (2002), tentarão aproximar-se e
identificar-se uns com os outros, enfrentando as diferenças com o intuito de se adaptarem ao
novo grupo.
CARVALHO e PEDROSA (2002) realizaram uma análise das observações feitas sobre os
episódios de atividades lúdicas livres de crianças de 10 a 60 meses, que ao se inserirem em
um ambiente escolar foram capazes de se adaptarem ao contexto para se integrarem ao grupo
de interesse. Um dos casos relatados neste artigo foi o do menino que possuía mais contato
com os adultos e por isso apresentava comportamento e linguagem adulta, mas ao ingressar
em um ambiente cheio de crianças da sua idade, passa a observar seus companheiros com
poucas interações até conseguir assimilar a cultura destes, ou seja, o comportamento e o
linguajar, adquirindo assim uma relação de amizade com as outras crianças. Para este menino,
interagir foi como se “tivesse aprendido uma nova língua e novos modos de se comunicar”
(p.9). O artigo mostra a importância para as crianças do relacionamento com pessoas da
mesma idade e da aceitação destas pelos outros, sendo fundamental a adaptação social e
cultural da criança.
No processo de ensino-aprendizagem, MORO (2000) diz que não basta apenas entregar uma
atividade para os alunos realizarem, pois as atividades devem ser planejadas com o intuito de
provocar conflitos cognitivos nos alunos. Nas investigações realizadas por COLL E
COLOMINA (1996) sobre a relação professor-aluno, ficou demonstrado que os alunos
evoluem melhor com a orientação de um adulto nas atividades, até o momento em que estes
possam realizá-las sozinhos.
Segundo estes autores, nos diálogos se trabalham o equilíbrio cognitivo e a negociação dos
pontos de vistas divergentes (co-regulação), provocando o desenvolvimento das capacidades
verbais e intelectuais - negociação do mundo subjetivo (interior) com o mundo social. Em
desequilíbrio cognitivo as recíprocas ações comunicativas entre os indivíduos provocam o
surgimento de novos conhecimentos. No ambiente escolar, a professora pode agir com o
intuito de provocar o desequilíbrio cognitivo nos alunos para que estes negociem as idéias em
busca de um acordo, de um equilíbrio cognitivo, como é percebido por SIMÃO (2000) que
faz uma análise do dialogo de uma professora com uma aluna segundo os princípios de
Habermas.
Para COLL e MIRAS (1996), a observação mútua é um fator que define a relação dos
indivíduos em interação, já que o modo como se tratam está baseado em sua própria visão e
percepção do outro, assim, em um processo de ensino-aprendizagem, devem ser observados
aspectos como a importância que o aluno dá as expectativas do outro.
As interações entre os alunos possibilitam a aquisição de competências e destrezas sociais,
controle dos impulsos agressivos, melhor adaptação às normas estabelecidas, superação do
egocentrismo, relativização do seu ponto de vista e aumento do nível de aspiração (aos que
querem seguir o ritmo de aprendizagem do colega) e do rendimento escolar (COLL e
COLOMINA, 1996).

2
Segundo COLL E COLOMINA (1996) alguns alunos conseguem bons resultados nas
atividades propostas pelos professores ao resolverem estas sozinhos - comprovada pela
autocorreção -, apesar deste fato, as atividades de interação possuem relações com aspectos
cognitivos, que em um movimento cíclico as capacidades cognitivas são utilizadas para
manter uma interação continua. Existem atividades no qual o aluno é capaz de resolver-las
sozinho, mas, existem outras que é necessário à ajuda de outra pessoa até que seja
interiorizado pelo aluno a estratégia de resolução desta, este fato é enfatizado pelo conceito de
“Zona de desenvolvimento proximal”. Assim, a ajuda que será fornecida à criança dependerá
do grau de dificuldade da tarefa proposta. Para estes autores, nas relações cooperativas há
uma maior necessidade de apoio entre os alunos, pois nem todos os integrantes do grupo
costumam estar no mesmo nível de conhecimento da matéria, mas todos têm a mesma
responsabilidade, o que facilita a continuação dos estudos na matéria trabalhada. Nas relações
tutoriais, os alunos com maior facilidade na matéria do que o(s) outro(s) companheiro(s) se
dispõe a ensinar um ou mais colegas que estejam apresentando dificuldade nesta matéria,
possibilitando o aperfeiçoamento da matéria em questão, sendo uma relação com menor grau
de autoridade em relação a do professor-aluno.
A relação de colaboração entre iguais para estes autores é realizada por alunos que possuem o
mesmo nível de competência e habilidade na matéria, fazendo conjuntamente a tarefa
proposta. Esta colaboração deveria ser uma relação de igualdade e mutualidade, se não fosse
às interferências de fatores externos como a timidez, a dominância e a defesa. Esta relação é
adequada à descoberta e a aprendizagem de novas relações e habilidades, pois permite o
confronto entre os pontos de vistas dos integrantes, reestruturando os seus próprios conceitos
e ganhando mais ferramentas verbais nos diálogos – a fim de regular a sua atividade cognitiva
e interiorizar estratégias de solução de problemas. A competição atrapalha a relação de apoio
entre os alunos, porém consegue dos indivíduos um maior empenho em relação à qualidade
dos trabalhos. O individualismo não atrapalha e nem beneficia as relações já que busca apenas
a satisfação de uma única pessoa.
A execução coletiva em uma tarefa, segundo TAPIA E CELAY (1996), apresenta melhores
resultados devido à possibilidade de uma melhor estruturação da atividade, maior
coordenação entre os alunos - o que é dever de cada um realizar na tarefa - e melhor
explicitação do conteúdo a ser exposto, trabalhando com isso a coordenação cognitiva do
aluno. Nos trabalhos em grupo, os conflitos, controvérsias e discussões permitem ao aluno
rever o seu ponto de vista, fazendo com que busquem novas informações para poder rever e
reestruturar os seus conceitos, em que o tipo e o grau de dificuldade das tarefas e atividades

3
influenciam nas interações. Assim o professor deve considerar o modo como as tarefas são
realizadas pelos alunos e o grau de liberdade que estes terão para escolher os temas e as
resoluções.
MORO (2000) efetuou um estudo de caso segundo proposições da epistemologia genética,
com análise qualitativa microgenética da seqüência completa, gravada em vídeo, dos eventos
referentes às inter-relações, utilizando um modelo de interação interpolar (sujeito-sujeito-
objeto), para mostrar a inter-relação das interações sócio-culturais com a construção
cognitiva, enfatizando o desequilíbrio cognitivo e a co-regulação que desempenha um papel
importante no desenvolvimento das estratégias.
Segundo Moro (2000), uma situação de aprendizagem envolvendo interações sociais entre
crianças que apresentam uma defasagem ótima entre eles, com a devida intervenção do adulto
(mediadora, desafiadora e avaliativa), incluindo um objeto enriquecido (que exija dos sujeitos
o desenvolvimento de estratégias cognitivas na sua realização e possíveis obstáculos ás ações
afirmativas dos sujeitos), são condições necessárias para que as estratégias cognitivas dos
sujeitos se tornem mais elaboradas, planejadas e organizadas. Porém, estas condições não são
suficientes, pois segundo esta autora, para que haja um desenvolvimento das estratégias
cognitivas dos sujeitos é necessário que estes tomem consciência das estratégias e subsistemas
(resolução e resultado) dos outros e dos seus próprios, percebendo diferenças, semelhanças e
oposições, possibilitando ocorrer no sujeito um conflito cognitivo que buscará, segundo
Piaget (1976, apud Moro, 2000), um equilíbrio, ou seja, através de uma abstração reflexiva o
sujeito fará uma nova construção (conceito/estratégia).
Outro fator importante nas interações sociais de aprendizagem é a marca afetiva e o contexto
da situação que é significativa aos sujeitos. A marca afetiva influência nas decisões dos
sujeitos, conforme demonstrou a pesquisa de Moro (2000), em que um sujeito opta por um
dentre os sujeitos participantes do processo de aprendizagem, opta pelas estratégias cognitivas
de um sujeito.
Segundo Clermont, Perret e Bell (1989, apud Loos, 2004), uma situação ou tarefa idêntica
jamais serão vistas da mesma forma por diferentes sujeitos, pois “aspectos cognitivos e
sociais estão presentes e em constante interação” (p.63), sendo responsáveis pela estruturação
das tarefas e das soluções que serão aceitas pelos sujeitos. Dessa forma, os pontos diversos em
uma interação devem ser negociados, com o intuito de se manter uma interação equilibrada,
porém esta é de caráter bidirecional, que exige tanto ações individuais quanto sociais,
tornando-se um processo circular complexo. Mas Loos (2004) avisa que, para um sujeito
conseguir um progresso cognitivo numa interação, este deve possuir certos pré-requisitos

4
cognitivos que o possibilite tomar consciência das divergências que estão sendo debatidas e
tomar “partido” deste desequilíbrio. Mas fica o alerta de que as “maneiras distintas de
representar um mesmo problema podem dificultar, em grande medida, a busca conjunta de
solução” (p.564).
Para Loos (2004) os fatores afetivos estão indissociavelmente relacionados aos sociais e estes
interferem na escolha da resolução da tarefa. Na pesquisa feita por esta autora, ela utilizou um
grupo de alunos de sexta a sétima séries do ensino fundamental, que se dividiram em duplas,
tendo como objetivo destas resolverem quatro problemas algébricos que exigiriam um
abandono de um modo interpretativo familiar para conseguir obter uma concepção nova,
vinda do desequilíbrio das concepções e conhecimentos já existente que foram submetidas a
uma revisão a fim de modificá-las, complementá-las ou rejeitá-las. Assim esta autora descreve
os resultados de sua pesquisa:

“O tipo de relação estabelecida entre os participantes da dupla em interação, em


combinação com a predisposição para a ansiedade de cada um deles, determinou
o clima afetivo que envolveu o trabalho, e esse clima desempenhou um papel
importante na estruturação da tarefa e no encaminhamento das soluções, desde
que pelo menos um dos participantes tivesse requisitos cognitivos mínimos para
dominar a tarefa proposta.” (p.571, Loos, 2004).

Deste modo, as várias pesquisas citadas anteriormente demonstram a importância da interação


aluno-aluno para o processo de ensino aprendizagem, sendo importante a utilização das
interações pelo professor no processo de ensino-aprendizagem em sala de aula. Porém, é
necessário saber como esta interação está sendo utilizada, em quais contextos, se apresenta, e
quais os fatores que interferem neste processo de interação dentro da sala de aula.

OBJETIVOS
Geral
Investigar as percepções dos professores das interações aluno-aluno que ocorrem no contexto
de sala de aula e o aproveitamento das mesmas como recurso de ensino.
Específico
-investigar, através de entrevistas individuais, as percepções dos professores sobre a
importância das interações entre os alunos para o processo de ensino-aprendizagem.

5
-investigar, através de observações em sala de aula, as contribuições das interações aluno-
aluno para o processo de ensino-aprendizagem.
-investigar, através da observação da atuação dos professores em sala de aula, o
aproveitamento voluntário e planejado das interações aluno-aluno no processo de ensino.

METODOLOGIA
Local:
A pesquisa foi realizada numa escola estadual da cidade de Ribeirão Preto. O local das
entrevistas dentro da escola ficou a cargo dos professores para que estes ficassem mais à
vontade. Além das salas de aulas onde ocorrem as observações.

Participantes:
A amostra é composta por seis professores da rede estadual de ensino da cidade de Ribeirão
Preto, todos estão lecionando na mesma escola, sendo todos os professores do primeiro ciclo
do ensino fundamental, de primeira (1ª) à quarta (4ª) série. Vide quadro 1 a descrição das
características dos participantes da pesquisa. Quadro 1: descrição dos participantes (anexo 1)

Procedimentos:
É uma pesquisa etnográfica do tipo estudo de caso com um período exploratório de analise do
contexto. A pesquisadora permaneceu na escola, com o intuito de realizar as entrevistas e as
observações do contexto da sala de aula.
As metodologias utilizadas foram entrevistas semi-estruturadas com professores e
observações participante do trabalho destes professores em sala de aula.
As entrevistas foram realizadas individualmente, divididas em duas etapas, cada uma
apresentando três temas para que o entrevistado elaborasse livremente as suas respostas,
expondo suas idéias tranqüilamente. A duração de cada etapa da entrevista individual foi de
aproximadamente trinta minutos.
Os temas da primeira etapa foram: 1. “Minha formação Profissional”; 2. “Minha experiência
no campo educacional”; e 3. “Meu trabalho na escola atual”;
Os temas da segunda etapa foram: 4.“Minha Turma”; 5. “A interação aluno-aluno e as
atividades escolares”; e a 6. “A importância da interação aluno-aluno”.
Os professores receberam um pedido de autorização para a observação das suas aulas com o
intuito de se investigar as interações aluno-aluno e a atuação dos professores junto às estas.
Os professores foram esclarecidos sobre o trabalho realizado na observação. A pesquisadora

6
tomou precaução a fim de não interferir drasticamente no cotidiano da turma, evitando
qualquer tipo de intromissão nas aulas, permanecendo aproximadamente duas horas por dia
em cada sala por cerca de duas vezes por semana. A pesquisadora portou apenas um diário de
campo para as suas anotações, sentando de preferência no fundo da sala para obter uma
melhor visão de todos os alunos. A observação foi realizada conforme a disponibilidade dos
professores e encerrada no final do ano letivo de 2005.

Materiais:
-diários de campo; um gravador; várias fitas tape.

Análise dos Dados:


Após a colheta dos dados, estes passaram por uma análise de conteúdo, ainda em
desenvolvimento. Esta técnica consiste em uma interpretação, fundamentada em base teórica,
dos dados colhidos nas entrevistas e nas observações.
Todas as técnicas dentro da análise de conteúdo estão sendo considerados, principalmente a
análise de avaliação ou representacional. A análise representacional terá como objetivo
“captar as atitudes“ do professor quanto a sua representação das interações aluno-aluno, pois
através das atitudes o sujeito expressa a sua opnião, sendo a atitude “o nucleo e a matriz que
produz e traduz um conjunto de juizos de valor“ (MINAYO, 2000, p.206), assim estaria sendo
confirmado através das atitudes do professor a posição declarada nas entrevistas.
Outros tipos de análises serão utilizadas durate a análise dos dados, como a de expressão que
focaliza conhecer os traços pessoais do sujeito que impregnam o seu discurso e a temática que
buscará nos temas mais abordados e repetitivos as considerações e a importância da interação
para o professor, pois segundo MINAYO (2000, p.209) “a presença de determinados temas
denota os valores de referência e os modelos de comportamento“.
Outra técnica da análise de conteúdo que está sendo de extrema importância é a da
enunciação. Esta técnica permitirá uma análise mais profunda do discurso do professor, pois a
transcrição do discurso para esta análise deve captar as reações do sujeito, contribuindo para
uma melhor percepção da opnião do sujeito pesquisado. Nesta técnica situamos o sujeito na
situação da produção do discurso, considerando o alinhamento e a dinâmica do discurso, o
estilo do locutor (como é a personalidade da pessoa), os elementos atípicos e as figuras
retóricas. Afinal, uma repetição, um lapso, os jogos de palavras podem revelar as verdadeiras
intensões dos sujeitos no discurso.

7
RESULTADOS

A análise dos dados ainda está em desenvolvimento, não sendo possível apresentar um
resultado completo desta pesquisa neste trabalho. Porém segue abaixo a análise da primeira
entrevista realizada com uma das professoras, contendo apenas um resumo dos resultados da
análise de cada tema desenvolvido pela professora com os seus respectivos “focos temáticos”.
Todas as transcrições das entrevistas estão passando pelo mesmo processo. O resultado geral
destas entrevistas será cruzado com os dados das observações das aulas destas professoras,
produzindo deste modo o resultado desta pesquisa.

Tema 1: “Minha formação profissional”


“Focos temáticos”
Importância da participação na pesquisa
1-valorização da profissão docente
2-justificativa para o trabalho concomitante de docente e advogado: estreita ligação entre
estes dois campos profissionais
3- raciocínio de causalidade: sucesso escolar logo sucesso pessoal
4- raciocínio de causalidade entre contexto familiar e sucesso escolar / pessoal
5- raciocínio de causalidade: sucesso escolar logo sucesso pessoal (idem ao 3)
6-justificativa para o trabalho concomitante de docente e advogado: estreita ligação entre
estes dois campos profissional (idem ao 2)
7- importância da formação e motivação do professor para o sucesso escolar
8- concepção estática da inteligência
9-dificuldades do exercício do papel do professor
10- raciocínio de causalidade: sucesso escolar logo sucesso pessoal (idem ao 3)
11-campo educacional: emprego versus desemprego
12-dificuldades do exercício do papel do professor: resolução do dilema (idem ao 9)
13- importância da relação professor-aluno
14- importância do tipo de educação recebida: pública versus particular
15- importância do professor para a formação acadêmica
16- a importância da formação moral do aluno pelo professor
16a-influência familiar na formação profissional
16b-trabalhar valores e ética nos alunos: adequação á sociedade
16c-trabalhar valores com os alunos é lei

8
16d-trabalhar valores e ética através dos contos infantis
16e-família transfere o papel da formação ética do aluno para a escola
16f-trabalhar valores e ética através dos contos infantis (idem ao d)
17- raciocínio de causalidade: sucesso escolar logo sucesso pessoal (idem ao 3)
18- a importância da formação moral do aluno pelo professor (idem ao 16)
18a-trabalhar valores e ética através dos contos infantis (idem ao 16d)
18b-influência familiar na formação moral
18c-trabalhar valores e ética através das atividades escolares
18d-influência da formação moral do aluno no ambiente familiar
18e-trabalhar valores e ética através das atividades escolares: projetos (idem ao 18c )
18f-tornar o aluno responsável por seus atos
Resumo
A professora da primeira série B se formou em Magistério e depois em Direito, atualmente
atua nestes dois campos profissionais simultaneamente. Durante o desenvolvimento do
primeiro tema, “Minha formação profissional”, a professora discursou sobre a estreita ligação
entre estes dois campos profissionais com a finalidade de justificar a sua atuação profissional
simultânea.
Em seu discurso a professora valoriza a profissão docente, afirmando ser a educação capaz de
transformar os indivíduos em prol da sociedade e benéfica para o próprio indivíduo que
necessita de interações para ser feliz. Assim a professora desenvolve a sua concepção do
papel do professor, que deverá se empenhar na formação dos alunos, principalmente na
formação moral destes.
Para a professora, o papel do professor é formar indivíduos sociais, servindo de modelos a
estes, fornecendo atitudes que devem ser incorporados pelos alunos, levando estes a agirem
conforme as determinações e concepções da sociedade, trabalhando desta forma em seu
discurso a importância da relação professor aluno. E que a formação moral do aluno é um
dever do professor, presente nos “PCNs”, ou seja, é lei. A professora utiliza-se deste
dispositivo legal para defender a formação moral dos alunos.
A professora discursa também sobre as dificuldades enfrentadas pelos docentes,
desenvolvendo a sua concepção de aprendizagem do aluno que inclusive apresentou idéias
contraditórias. Afinal, a professora fala de uma concepção estática da inteligência que se opõe
ao papel do professor transformador e modelador, mas prevalecendo, no final do seu discurso,
a função de transformar a mentalidade dos alunos, resolvendo assim este dilema.

9
A defesa da importância da educação acontece nos raciocínios de causalidade feitos pela
professora, em que esta faz a ligação de sucesso escolar com o sucesso pessoal, sendo
importante manter a escola interessante para o aluno, tornando-se este um dos papeis do
professor. Outro ponto levantado pela professora é a importância do professor trabalhar com a
potencialidade do aluno, acreditando sempre que este é capaz de obter sucesso escolar e
pessoal.
A formação moral segundo a professora trará sérias conseqüências positivas para os alunos,
tendo esta a esperança inclusive de atingir o contexto familiar dos alunos, o qual ela julga ser
influenciador no sucesso escolar dos alunos, fazendo pré-julgamentos negativos em relação às
famílias dos alunos. Deste modo, a professora mostra o interesse de trabalhar valores morais
com os alunos através de contos infantis, de modo a transformar a mentalidade dos alunos.
Assim, a formação acadêmica e moral devem ser trabalhadas simultaneamente pelo professor.
Devendo os professores estarem preparados para exercerem a sua função, estando sempre se
aprimorando.
Para a professora, a participação nas pesquisas é importante para ocorrer trocas de
informações e possibilitar aos profissionais se interarem dos acontecimentos que estão
ocorrendo no campo educacional. Podendo também ajudar a identificar dificuldades e falhas
na atuação profissional dos professores, permitindo a e estes tomarem medidas com a
intenção de melhorar a educação no país.

Tema 2: “Minha experiência profissional”


“Focos temáticos”
1-necessidade da satisfação profissional
2-conseqüências de uma má formação: desinteresse pelo campo profissional
3-campo educacional: emprego versus desemprego (idem ao 11 do tema 1)
4-conseqüências de uma má formação (idem ao 2)
5- a questão da imaturidade na escolha profissional
6-contribuições da prática na formação profissional
7-conseqüências da inexperiência profissional
8-a importância da formação continuada do professor
9- formação social mais importante do que a formação acadêmica do aluno
10- valorização do cargo de professora efetivada pelo concurso público
11- necessidade da satisfação profissional (idem ao 1)

1
12- justificativa para o trabalho concomitante de docente e advogado: estreita ligação entre
estes dois campos profissionais (idem ao 2 do tema 1)
13- raciocínio de causalidade: sucesso escolar logo sucesso pessoal (idem ao 3 do tema 1)
14- pré-julgamento da capacidade dos outros
Resumo
A professora da primeira série B trabalhou em vários ramos profissionais, iniciou uma
faculdade de Economia abandonando depois de um ano, demonstrando preocupação com a
sua satisfação profissional. Apesar da sua valorização da profissão docente ela busca outros
ramos profissionais, como o trabalho concomitante de docente e advogado, se justificando e
mostrando ser importante a explicação deste fato por ela.
A professora faz uma avaliação negativa da sua formação do magistério, segundo os fatos
narrados por ela. A professora atribui a sua má formação no magistério devido à imaturidade,
na época ela não possuía idade nem para escolher uma profissão, muito menos valorizar a
educação.
O tema “Experiência profissional” é desenvolvido pela professora a partir da sua experiência
em outros ramos profissionais, passando pelo desinteresse pelo campo educacional devido à
imaturidade e a má formação, segundo esta, até a narração de episódios da sua prática que
contribuíram para a sua formação docente. A prática é valorizada, mostrando que esta
aprendeu muito durante a sua experiência, principalmente durante o período da sua
inexperiência profissional. Assim ela valoriza a formação continuada.
A professora julga negativamente as suas colegas de trabalho, principalmente as que não
possuem cargos efetivos, utilizando inclusive a participação na pesquisa contra as suas
colegas.
A professora retoma outros “focos temáticos” trabalhados no tema da “Minha formação
profissional”, mostrando a importância destes temas para ela, como a formação moral do
aluno e o papel do professor.

Tema 3: “Meu trabalho na escola atual”


“Focos temáticos”
Importância da participação na pesquisa
1-a importância da ação docente
2-a importância da formação moral do aluno pelo professor (idem ao 16 do tema 1)
2a-trabalhar valores e ética através das atividades escolares (idem ao 18c do tema 1)
2b-conseqüências negativas de uma má formação moral

1
3- a importância da ação docente (idem ao 1)
4-a relação profissional entre os professores
5- a importância da ação docente (idem ao 1)
6-importância do professor para a formação acadêmica (idem ao 15 do tema 1)
7- a importância da relação professor-aluno (idem ao 13 do tema 1)
8-influência do contexto familiar na vida escolar do aluno
9-dificuldade do exercício do papel do professor (idem ao 9 do tema 1)
10- a questão da imaturidade na escolha profissional (idem ao 5 do tema 2)
11- a importância de um curso superior para ministrar aula: independente da area
12-a importância do papel do professor na escolha profissional do aluno
Resumo
Durante todo o desenvolvimento do terceiro tema “Meu trabalho na escola atual”, a
professora discursa sobre a importância do papel do professor, abordando aspectos da ação
docente, objetivos do professor e a relação com os alunos e com os outros profissionais da
escola onde atua. A professora retorna a se referir a sua participação na pesquisa, abordando a
sua importância.
A professora desenvolve a sua concepção da formação moral do aluno. Durante o seu discurso
a professora informa as dificuldades enfrentadas em seu trabalho, abordando o contexto
familiar do aluno e os problemas da escola.
Para a professora é importante ter um curso superior par ministrar aulas, independente da
área, sendo importante para a formação profissional do professor, para a qualidade deste
profissional, que no seu caso foi prejudicado devido à imaturidade para a escolha profissional.
Sendo a questão da imaturidade bastante utilizada pela professora em seu discurso.

Tema 4: “Minha turma”


“Focos temáticos”
1- expectativa do professor de sucesso da turma
2- dificuldade do exercício do papel do professor (idem ao 9 do tema 1)
2a-influências do contexto familiar (extra-escolar) na vida escolar dos alunos
2b-dificuldades em trabalhar com as crianças com necessidades especiais
2c-falta de auxílio de outros mecanismos de apoio social
Resumo
A professora faz descrições da sua turma, em relação à quantidade, ao nível de aprendizagem
e às especificidades dos seus alunos, como alunos com necessidades especiais e pertencentes

1
a famílias desestruturadas. Aproveitando para informar as dificuldades enfrentadas em seu
trabalho, fazendo críticas ao “Estado”.

Tema 5: “A interação aluno-aluno e as atividades escolares”


“Focos temáticos”
1- a importância da formação moral do aluno pelo professor (idem ao 16 do tema 1)
2- a importância das atividades interativas na sociabilidade do aluno
3-a importância da interação tutorial
4- dificuldades de trabalhar com atividades interativas
5- a importância das atividades interativas na sociabilidade do aluno (idem ao 3)
6- a importância da interação tutorial (idem ao 3)
7-a importância da interação para a dinâmica das atividades
8- a importância da interação tutorial (idem ao 3)
Resumo
A professora desenvolve o tema da “A interação aluno-aluno e as atividades escolares” a
partir do papel do professor, da análise de algumas destas atividades e do diagnóstico da
interação dos seus alunos.
A professora demonstra mais uma vez a importância da formação moral, de trabalhar valores
com os alunos. Porém, na análise das atividades, a professora apresenta apenas interações
tutoriais, desenvolvendo a formação moral á partir de atitudes de solidariedade entre os alunos
dentro da sala de aula.
A formação moral foi separada da formação social devido a demonstração pela professora da
grande importância para ela dos valores. A professora mostra os benefícios sociais das
interações, formar cidadãos sociáveis e competentes para a sociedade.
O seu discurso sobre este tema gira mais em torno das interações tutoriais, havendo desta vez
uma polarização aos benefícios dos conteúdos acadêmicos invés dos morais, fato inverso nos
temas anteriores. Das interações tutoriais a professora observa benefícios para os alunos e
para ela, pois dinamiza as atividades e facilita o trabalho dela.
Apesar dos benefícios das atividades interativas, a professora demonstra preocupações em
trabalhar com as interações, informando algumas dificuldades enfrentadas por ela, mas
justificando no final do seu discurso a necessidade deste tipo de trabalho e a importância da
mediação do professor nestas interações.

Tema 6: “A importância da interação aluno-aluno”

1
“Focos temáticos”
Pré-julgamento da posição das suas colegas de trabalho em relação a participação na pesquisa
Importância da participação na pesquisa
Relação profissional com a instituição
1- a importância das atividades interativas na sociabilidade do aluno (idem ao 3 do tema 5)
2-a importância da interação para a dinâmica das atividades (idem ao 7 do tema 5)
3-a importância das atividades interativas na sociabilidade do aluno (idem ao 3 do tema 5)
4- a importância das interações para a vida pessoal
5- a importância da interação para a dinâmica das atividades (idem ao 7 do tema 5)
6- a importância das atividades interativas na sociabilidade do aluno (idem ao 3 do tema 5)
7-dicotomia do contexto escolar e familiar do aluno pelo professor
8- importância da relação professor-aluno (idem ao 13 do tema 1)
9- a importância da formação social do aluno pelo professor
Resumo
No tema “A importância da interação aluno-aluno”, a professora polariza no seu discurso os
benefícios sociais para o aluno, a formação social deste. Sendo o “bom” convívio uma
necessidade humana, fundamental para a sobrevivência e para a felicidade deste. A escola,
segundo a professora, deve ser um local que desenvolva a sociabilidade do aluno, tornando
este de fácil convivência.
Nas atividades propostas pela professora, esta considera que a interação possibilita um melhor
desenvolvimento, planejamento, execução e apresentação das tarefas pelos alunos. Sendo
desta forma, vantajoso o trabalho que envolva as interações entre os alunos, pois torna estas
atividades mais dinâmicas.
A professora neste discurso separa os contextos familiar e escolar do aluno, porém esta
aprofundou o seu discurso sobre as interferências mutuas entre estes dois contextos nos temas
anteriores.
Está presente também neste tema a importância do papel do professor nas interações, como
mediador, e na vida do aluno, na formação social deste, servindo também como “modelo”.
Valorizando desta forma a função do professor, utilizando-se da lei e das possíveis
conseqüências de uma má formação social do aluno para defender sua opinião.
A professora aproveita o ensejo para fazer críticas às outras profissionais que atuam na sua
escola de trabalho, mostrando que esta não possui uma boa interação com algumas
professoras. A professora acredita nos benefícios que a pesquisa trará para ela, mostrando-se
aberta a possíveis criticas de seu trabalho.

1
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

-CARVALHO, Ana Maria Almeida e PEDROSA, Maria Isabel. Cultura no grupo de


brinquedo. Estud. psicol. (Natal), jan. 2002, vol.7, no.1, p.181-188. ISSN 1413-294X.
-COLL, C. e Miras, M. (1996). A representação mútua professor / aluno e suas repercussões
sobre o ensino e a aprendizagem. Em COLL, C., PALACIOS, J., MARCHESI, A (Orgs.).
Desenvolvimento Psicológico e educação: Psicologia da educação. (ALVES, A. M., Trad.)
(Vol. 2, pp. 265-280). Porto Alegre: Artes Médicas Sul (Original publicado em 1993)
-COLL, C. e SOLÉ, I. (1996). A interação professor/aluno no processo de ensino
aprendizagem.Em COLL, C., PALACIOS, J., MARCHESI, A (Orgs.). Desenvolvimento
Psicológico e educação: Psicologia da educação. (ALVES, A. M., Trad.) (Vol. 2, pp. 281-
297). Porto Alegre: Artes Médicas Sul (Original publicado em 1993)
-COLL, C. e COLOMINA, R. (1996). Interação entre alunos e aprendizagem escolar. Em
COLL, C., PALACIOS, J., MARCHESI, A (Orgs.). Desenvolvimento Psicológico e
educação: Psicologia da educação. (ALVES, A. M., Trad.) (Vol. 2, pp. 298-314). Porto
Alegre: Artes Médicas Sul (Original publicado em 1993)
-LOOS, Helga. Ansiedade e aprendizagem: um estudo com díades resolvendo problemas
algébricos. Estud. psicol. (Natal). [online]. set/dez. 2004, vol.9, no.3 [citado 12 Fevereiro
2006], p.563-573. Disponível na World Wide Web: <http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S1413-294X2004000300019&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 1413-294X.
- MORO, Maria Lucia Faria. A epistemologia genética e a interação social de crianças.
Psicol. Reflex. Crit., 2000, vol.13, no.2, p.295-310. ISSN 0102-7972.
-SIMAO, Lívia Mathias. Desequilíbrio e co-regulação em situação de ensino-
aprendizagem: análise segundo o conceito de ação comunicativa (Habermas). Psicol.
Reflex. Crit., 2000, vol.13, no.1, p.33-38. ISSN 0102-7972.
-TAPIA, J. A. e GARCIA-CELAY, I. M. (1996). Motivação e aprendizagem. Em COLL, C.,
PALACIOS, J., MARCHESI, A (Orgs.). Desenvolvimento Psicológico e educação:
Psicologia da educação. (ALVES, A. M., Trad.) (Vol. 2, pp. 161-175). Porto Alegre: Artes
Médicas Sul (Original publicado em 1993)
-ZANELLA, Andréa Vieira, LESSA, Clarissa Terres e DA ROS, Sílvia Zanatta. Contextos
grupais e sujeitos em relação: contribuições às reflexões sobre grupos sociais. Psicol.
Reflex. Crit. , 2002, vol.15, no.1, p.211-218. ISSN 0102-7972.

1
Anexo

1
ANEXO 1
Quadro 1: descrição dos participantes
Séries Nome Sexo Tempo de Formação Vinculo
fictício formação empregatício
1ªB Quitéria F +/-15anos Magistério / Direito Concursada
1ªC Bruna F 20 anos Magistério/ ACT
pedagogia/
psicodedagoga
2ªA Xaine F 22 anos Magistério / Sem informação¹
Pedagogia
3ªA Luiza F 22 anos Magistério Concursada
4ªA Renata F 20 anos Magistério e ACT
pedagogia
4ªR Zazica F Sem¹ Magistério/ Concursada
informação matemática/
pedagogia

Você também pode gostar