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Intercultural
entre o estoicismo e a filosofia Ubuntu
e entre Luc Ferry e Djamila Ribeiro
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Introdução
Filosofia intercultural e
pensamento alargado
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Por isso, ele primeiro
realizou escuta ativa para
absorver os conteúdos da
filosofia africana em solo
africano e por filósofos
africanos. Ou seja,
Kimmerle saiu de sua bolha
cognitiva de filósofos
europeus e direcionou-se
rumo a uma jornada de
aprendizagem por imersão
na cultura acadêmica dos
filósofos africanos.
Ao voltar à Alemanha,
Kimmerle registrou tudo o que aprendeu sobre a filosofia africana (por exemplo,
neste livro em alemão na imagem acima “Filosofia Africana no Contexto da Filosofia
Mundial”) e em seguida promoveu diálogos interculturais de igual para igual sem
inferiorizar nem julgar depreciativamente a cultura do outro.
Por fim, ele realizou algumas reflexões comparativas sobre diferenças, semelhanças
e complementaridades entre a filosofia africana, a filosofia européia e as filosofias
de outras regiões do mundo e se perguntou o que a filosofia européia poderia
aprender com os filósofos africanos para enriquecer ainda mais o desenvolvimento
presente e futuro da filosofia européia e mundial em diálogo.
A ideia de diálogo intercultural proposta por Heinz Kimmerle tem semelhança com a
ideia de “pensamento alargado” de Kant desenvolvida também por Luc Ferry nos
capítulos 4 e 6 do seu livro “Aprender a Viver: Filosofia para os novos tempos”.
“Pensamento alargado” é justamente a capacidade de mover-se para fora de sua
própria bolha cognitiva e cultural com a intenção de conhecer e se interessar pela
cultura do outro. A prática do “pensamento alargado” amplia o leque de perspectivas
e pode enriquecer o próprio desenvolvimento tornando-o mais significativo e com
mais sentido nas redes de interconexões humanas.
Luc Ferry passou por uma experiência prática de diálogo pelo pensamento alargado
com o filósofo francês André Comte-Sponville.
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Um dia, escrevi um livro com meu amigo André
Comte-Sponville, o filósofo materialista pelo qual
tenho o maior respeito e amizade. Tudo nos
opunha: tínhamos aproximadamente a mesma
idade, poderíamos ter sido competidores. André
vinha, politicamente, do comunismo; eu, da direita
republicana e do gaullismo. Filosoficamente ele se
inspirava completamente em Spinoza e nas
sabedorias do Oriente; eu, em Kant e no
cristianismo. Encontramo-nos e, em vez de nos
odiar, como teria sido simples fazê-lo, começamos
a acreditar um no outro, quero dizer, a não supor
a priori que o outro estava de má-fé, mas a
procurar, com todas as forças, compreender o que
poderia seduzir e convencer numa visão de
mundo diferente da nossa própria.
Graças a André, compreendi a grandeza do
estoicismo, do budismo, do
spinozismo, de todas as
filosofias que nos convidam
a "esperar um pouco
menos e amar um pouco
mais". Compreendi
também o quanto o peso
do passado e do futuro
estraga o gosto do
presente e até gostei mais
de Nietzsche e de sua
doutrina da inocência do
devir. Nem por isso me tornei materialista, mas não posso mais
dispensar o materialismo para descrever e pensar algumas
experiências humanas. Em suma, acredito ter alargado o horizonte
que era o meu até algum tempo atrás.
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Parte 1
Estoicismo e Ubuntu
Ao longo de nossa disciplina de Filosofia no curso de Administração, estudaremos
todo o livro do Luc Ferry “Aprender a Viver: Filosofia para os Novos Tempos”. Esse
livro nos apresenta um amplo panorama do desenvolvimento da filosofia ocidental
em cinco fases principais.
No capítulo 1 deste livro, Luc Ferry propõe que as diversas fases da história da
filosofia ocidental sejam estudadas em três diferentes campos de conhecimento do
esforço racional filosófico:
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Algumas raízes da civilização ocidental na filosofia
estóica da antiguidade greco-romana
O capítulo 2 do livro do Luc Ferry trata da filosofia estóica que foi inicialmente
desenvolvida por Zenão de Cítio por volta de 300 a.C.
Zenão inspirava-se em toda uma tradição filosófica que inclui Sócrates, Platão,
Aristóteles e Heráclito entre outros pioneiros da filosofia grega.
a) Visão de mundo
Além disso, os estóicos observavam que havia toda uma racionalidade imanente (ou
seja, inerente) que eles denominavam de “logos”.
A palavra grega que deu origem ao nosso termo “teoria” significava ver o divino nas
coisas, ou seja, ver o essencial nas coisas. Portanto, a visão de mundo dos estóicos
era resultado de uma atividade contemplativa que identificava a harmonia e a
racionalidade viva inerente ao todo.
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É, pois, esse divino, que não tem nada de um Deus pessoal, mas se
confunde com a ordem do mundo, que os estóicos nos convidam a
contemplar (theorein).
A atividade teórica dos estóicos visava criar uma visão de mundo para buscar
sentido na realidade que nos cerca e servir de inspiração à vida prática dos seres
humanos.
Imagine um fabricante de um violão (um luthier). Ele se vê diante de dezenas de
peças no seu balcão. Quando ele pega entre os dedos um pequeno componente do
violão, o artesão já tem em mente o lugar daquela pequena peça no futuro violão
como um todo. De modo semelhante, os pensadores estóicos buscavam contemplar
o todo (visão de mundo) com a intenção prática de se ajustar a esse todo
harmonioso e inerentemente racional.
Portanto, a concepção de justiça pelo estoicismo estava relacionada com a noção
de se ajustar ao todo, ou seja, de você “encontrar o teu lugar” no todo.
O pensador romano, Cícero, descreveu o que ele aprendeu com o estoicismo para a
vida ética: "Aquele que quer viver de acordo com a natureza deve partir da visão de
conjunto do mundo e da previdência"
Epicteto era um importante filósofo estóico na Roma antiga que não escrevia textos
filosóficos, mas ensinava filosofia pela oralidade ao falar livremente ao público de
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seus alunos que o escutavam. Ele considerava que
não precisamos temer a nossa morte, porque, de
algum modo modificado, continuaremos existindo no
todo cósmico e harmonioso, mesmo depois da morte.
Um aluno de Epicteto escreveu esse ensinamento do
seu mestre: “As folhas caem, o figo seco substitui o
figo fresco, a uva seca, o cacho maduro, eis, para ti,
palavras de mau agouro! De fato, aí só existe
transformação de estados anteriores em outros; não
existe destruição, mas um arranjo e uma disposição
bem regulados. A emigração não é senão uma
pequena mudança. A morte é uma mudança maior, mas não vai do ser atual ao não
ser, e sim ao não ser do ser atual. — Então, não serei mais? — Tu não serás mais o
que és, mas outra coisa da qual o mundo precisará”.
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Outro desafio importante é o de superar a nossa tendência a nos apegarmos às
pessoas e nos apegarmos às coisas, apesar de sabermos que tudo na vida é
transitório. Neste sentido, lemos as palavras faladas por Epicteto sobre o apego: “O
primeiro e principal exercício, o que conduz de imediato às portas do bem, consiste,
quando uma coisa nos prende, em considerar que ela não é daquelas que não nos
podem ser tiradas”.
Para os sábios estóicos, os momentos de vida com mais sentido existencial são
momentos de superação da percepção de dualidade entre o sujeito e o mundo que
o cerca. Em momentos de contemplação, podemos intuir a harmonia da vida que
observamos. Essa experiência pode nos levar a amar a realidade como ela é e a
obtermos momentos que nos parecem que “ficam” por serem especialmente
significativos.
Essa é a ideia chave do “amor fati”, ou seja, a atitude mental de amar a realidade
como ela é.
Tente lembrar, por exemplo, dos momentos mais significativos de conexão com a
natureza na tua biografia: ao contemplar um céu estrelado, ou então, ao observar
sem pressa um pôr do sol ou uma paisagem, ou então, ao colocar um óculos
aquático para observar o magnífico jogo de cores e formas dos peixes e algas
debaixo da água do mar.
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Momentos contemplativos de conexão com a natureza proporcionam experiências
preciosas que podem mudar sutilmente, ao menos por alguns momentos, a nossa
percepção de relação com o tempo.
Momentos que não escorrem como areia caindo entre os dedos de nossas mãos.
Momentos que não escorrem como areia caindo na ampulheta num fluxo constante
demonstrando visualmente que o tempo cronológico não pára. Os momentos de
nossa vida escapam continuamente de nós. Nenhum momento parece que “fica”
diante da incessante impermanência, como dizem os budistas.
Momentos especiais de conexão com a natureza podem sim trazer uma experiência
subjetiva de “supressão do tempo” de tão significativo que são estes momentos para
a nossa busca por sentido de vida com alguma satisfação existencial.
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Filosofia Ubuntu - Um breve roteiro de estudo
Gratidão à Letícia Faria por indicar o livro da Adriana
Barbosa e gratidão ao Cainã Nascimento por indicar o
livro do Nei Lopes e Luiz Antônio Simas
Nelson Mandela
Recomendo que você assista esse pequeno vídeo de Mandela explicando alguns
aspectos da filosofia Ubuntu (com opção de legenda em português):
https://www.youtube.com/watch?v=9QnEaKZ_4kY
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Mandela foi ganhador do prêmio Nobel da Paz
em 1993. No site do prêmio Nobel, o professor
universitário Anders Hallengren escreveu um
artigo sobre alguns marcos biográficos de
Nelson Mandela praticando a filosofia Ubuntu
como líder e administrador.
Anders Hallengren considera que Mandela desenvolveu uma visão de mundo muito
única que o ajudou a ser um líder efetivo na tensa situação pós- aparthaid.
Mandela foi filho de um líder de uma tribo da etnia Xhosa, na África do Sul, que faz
parte do grupo de línguas e culturas Bantu.
Durante sua juventude, Mandela fez parte do grupo que criou a Liga da Juventude
do ANC no Centro Social de Homens Bantu, em 1944.
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“reconheceram que uma lesão a um é uma lesão a todos”; que é a
essência da filosofia do Ubuntu aplicada universalmente.
No livro “Filosofias Africanas”, Nei Lopes e Luiz Antonio Simas explicam de modo
simples e direto alguns focos essenciais das filosofias africanas.
Ao agradecer pela força vital que beneficia a nós e a todos os seres vivos, os povos
africanos tinham uma atitude social de incluir as pessoas e não de excluí-las.
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Então, para o africano, o valor supremo da existência é a Energia que
percorre a rede única que conecta todos os seres do Universo. E o bem
maior é captar dela o máximo de sua intensidade.
Tudo que vimos até aqui neste roteiro de estudo foi uma preparação para a parte
mais importante que é você ler como o Professor Wanderson Flor do Nascimento
explica a ideia do Ubuntu. O Prof. Dr. Wanderson do Nascimento é docente de
Filosofia Africana na Universidade de Brasília - UNB.
Por gentileza, leia estas 6 páginas do livro online gratuito dele “Entre apostas e
heranças. Contornos africanos e afro-brasileiros na educação e no ensino de
filosofia no Brasil”. Dentro do capítulo “ubuntu, ancestralidade e formação”, você
encontrará o tópico “ubuntu e a afirmação da integração comunitária” da página 45 à
51 na numeração das páginas em branco (que é o mesmo trecho da paginação 47 a
53 na numeração do aplicativo / software pdf) -
https://philpapers.org/archive/NASEAE.pdf
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Veremos com mais detalhes abaixo que a
pesquisadora sul-africana Dra. Itayi
Mutsonziwa constatou alguns paralelos entre
ubuntu e budismo. Deste modo, quando eu
leio este trecho do Professor Wanderson
Flores do Nascimento, penso num paralelo
com uma ideia semelhante do famoso monge
budista vietnamês Thich Nhat Hanh. Esse
mestre budista dizia que a pessoa que pratica
um auto conhecimento meditativo mais
aprofundado pode chegar à seguinte experiência de seu sujeito: eu não sou, mas eu
“inter-sou”. Ou seja, nós somos graças às nossas múltiplas interconexões. Inter-ser
(em inglês: “interbeing”).
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e, de outro lado, uma relação com a comunidade, com o entorno, com
o ambiente.
Esse trecho acima é essencial para estudarmos o livro da Adriana Barbosa e para
estudarmos com mais profundidade o livro da Djamila Ribeiro e identificarmos em
que medida estas autoras expressam a formação do sujeito em interconexão com a
natureza, a ancestralidade e a comunidade.
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psicométrica para aferir o grau de atitudes mentais consonantes com a ideia de
ubuntu nas pessoas que trabalham nas empresas. Depois de conversar com vários
especialistas na filosofia ubuntu e realizar mensurações quantitativas, Matsuzawa
constatou três atributos principais da experiência mental que as pessoas têm com o
ubuntu na África do Sul: Interconexão, senso de humanidade e compaixão.
Ela também identificou a consonância da sabedoria ubuntu com o budismo e o
confucionismo entre outras filosofias não européias.
https://repository.up.ac.za/handle/2263/79761
(...) é preciso que nos comovamos com qualquer situação precária que
atinja alguém e passemos a nos posicionar sobre isso. E longe de ser
um gesto meramente altruísta, é uma postura de responsabilidade
com a totalidade da humanidade que habita em cada um dos
existentes humanos.
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religiões afro-brasileiras, irmandades negras, movimentos negros, congadas,
moçambique, imprensas negras.
Sem saber se daria certo e sem dinheiro, fiz o que qualquer pessoa
jovem deveria ter o direito de fazer: imaginei.
Ser empreendedor é sair da zona de conforto e assumir riscos. E isso pode ser um
processo muito solitário e angustiante se não houver pessoas que escutem,
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compreendam e apoiem a futura empreendedora. Adriana escreve sobre a
importância de ter contado com um grupo de amigas negras que a acolheram e
apoiaram moralmente nas fases iniciais de elaboração da ideia da futura Feira
Preta.
A empreendedora honra todo o esforço das pessoas mais velhas que deram a
fundamentação para ela alçar voo empreendedor.
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A Feira Preta começou com um pequeno público na cidade de São Paulo e foi
gradativamente aumentando a sua abrangência para maiores públicos e mais
cidades ao longo de duas décadas de existência.
Adriana entende que a forma de empreender na Feira Preta é diferente das teorias
de empreendedorismo mais difundidas na literatura profissional.
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Também carregamos o peso de não poder errar. Qualquer erro pode ser
usado como reforço de estereótipos racistas que questionam a nossa
capacidade ou nossa inteligência enquanto grupo.
Eu trabalhei na 3M, uma empresa multinacional inovadora que tinha uma política
corporativa oficial de “tolerância ao erro”. Inovação é feita de novas ideias que
funcionam. Fazer novas ideias funcionarem é um processo que envolve
necessariamente muitos erros para se chegar aos acertos que levarão ao
amadurecimento da nova ideia até ela ser realmente viável e efetiva. Por isso,
imagino que esse efeito do racismo descrito pela Adriana requeira uma intenção
muito forte para ser superado e permitir o desenvolvimento de inovadores que
driblem estes estereótipos em organizações que saibam diminuir os vieses mentais
raciais.
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Fico tentando compreender essa frase misteriosa. Imagino a Adriana vindo até mim
e me falando: “Olá, eu sou uma empreendedora negra, mas não quero que você,
pessoa branca, me racialize em todos os momentos”. Em síntese essa frase me
parece dizer algo como: “Olá, eu sou uma empreendedora negra que espera por
alguns momentos em que eu não seja vista como pessoa negra”. Um paradoxo?
Mesmo com estas aparentes contradições, essa frase da Adriana faz bastante
sentido para mim depois desse mergulho que realizei em diálogos e estudos sobre
relações étnico raciais. Um motivo se refere ao estilo da filosofia Ubuntu que é
dinâmico num fluxo de significados que podem mudar de acordo com novos
contextos e novos momentos. E o outro motivo é pelo conteúdo. Ao longo dos
séculos, as pessoas afrodescendentes ressignificaram o entendimento sobre a cor
de pele que era utilizada como marcador social pelos escravocratas europeus de
1444 (primeiro leilão de escravizados africanos em Portugal, segundo o livro do
Laurentino Gomes - “Escravidão - Volume I”) até 1888 no Brasil (Lei Áurea). Para
legitimar o lucrativo mercado de venda de pessoas africanas escravizadas,
religiosos, filósofos e cientístas por séculos fabricaram ideias de supremacia branca.
Os movimentos negros no Brasil, nos EUA e em outras regiões do mundo decidiram
ressinignicar o termo “negro” (em inglês “black”) para expressar a valorização da
cultura africana e afrodiaspórica (que inclui a cultura afro-brasielira) e para
demandar o fim de injustiças raciais e desigualdades. Foi isso o que eu compreendi
até agora como leigo interessado em aprender mais sobre relações étnico raciais.
Por isso, penso que quando uma pessoa branca fala constantemente o termo
“negro” em todas as situações sem fazer uso de um tato étnico-racial, ela pode estar
sendo inconveniente ao trazer tematicas de racialização em momentos fora de
contexto, nos quais o lider afrodescendente interlocutor preferiria falar de outros
temas e contribuir com outros conhecimentos, não necessáriamente ligados sempre
ao viés racial.
Não sei se estou compreendendo a frase da Adriana de modo adequado. O que sei
é que a frase dela me convida ao movimento, me convida a ativar um sensor social
étnico-racial para me deixar guiar pelo colega afrodescendente em quais momentos
para ele faz sentido as temáticas raciais e em quais momentos não.
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De modo semelhante, como homem, sinto que não faz sentido eu sempre falar de
machismo. E também não faz sentido eu nunca falar de machismo. Mas faz mais
sentido eu conversar sobre machismo, quando uma mulher traz o tema, sem que
eu, como homem, force o tema machismo de modo automático e pedante em todos
os momentos, mesmo em situações em que o tema não faça sentido para ela.
Penso que essa frase sobre o tempo que dá sentido à dor é uma poética imagem
para ilustrar o processo de ressignificação.
Faz tempo que a Feira Preta trabalha com o conceito de ecossistema. Isso
significa que a gente não vai existir se não for conectado, entrelaçado como
uma rede de empreendimentos e com esse olhar sistêmico de transformação.
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Perguntas:
a) Quais foram as 3 a 5 ideias sobre as Filosofias Africanas (trechos do Nei Lopes e
Luiz Antonio Simas) e sobre a Filosofia Ubuntu (texto do Prof. Dr. Wanderson Flor
do Nascimento) que mais te proporcionaram um novo aprendizado e ou que mais
fizeram sentido para você?
b) Que relação você vê entre essas ideias filosóficas e os casos de Nelson Mandela
e Adriana Barbosa?
c) Faça uma reflexão comparativa entre a filosofia estóica greco-romana (que você
estudou no capítulo 2 do livro do Luc Ferry “Aprender a Viver: Filosofia para os
Novos Tempos”) e a filosofia Ubuntu.
3. Uma entrevista com Adriana Barbosa sobre a Feira Preta - “CEO da Feira Preta
fala como o evento impactou o próprio processo de racialização” -
https://www.youtube.com/watch?v=lLNjTJY_-r4
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Parte 2
Luc Ferry e Djamila
Ribeiro
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a definição do princípio da igual dignidade em todos os seres humanos como
diretriz para organizar a convivência prática nas sociedades ocidentais.
Como vimos, a religião cristã limitou o campo da reflexão filosófica racional que
praticamente não teve nenhum papel na construção da nova visão de mundo após a
fase de predominância do estoicismo no público das massas cultas na civilização
ocidental. Esse fato, da racionalidade filosófica ter sido limitada poderia nos levar a
imaginar que seriam ruins as consequências dessa visão de mundo religiosa no
plano ético. No entanto, Luc Ferry, que é um filósofo contemporâneo ateu, considera
que as contribuições dos filósofos cristãos no plano ético foram muito racionais e
benéficas para a vida prática nas sociedades ocidentais. O autor do livro considera
até mesmo que os filósofos cristãos participaram do nascimento da ideia moderna
de humanidade.
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Na Grécia clássica, muitos filósofos consideravam que as pessoas tidas como
“melhores” (com “mais virtudes”), mais fortes, mais “belas”, mais inteligentes
deveriam comandar as demais pessoas. Essa é a ideia da “aristocracia” que
literalmente significaria o “governo dos melhores”.
Além disso, a ideia do livre arbítrio proporcionou uma nova reflexão sobre a
igualdade entre todas as pessoas. As pessoas são muito diferentes entre si, porque
as capacidades e qualidades humanas são distribuídas de modo desigual entre elas
e não de modo igual. No entanto, todos os seres humanos são igualmente
portadores da dignidade humana, porque cada ser humano pode escolher
livremente (“livre arbítrio”) o modo como vai utilizar suas capacidades e qualidades.
Portanto, todos nós somos iguais na nossa dignidade humana, porque todos nós
temos o dom do livre arbítrio.
Por meio dessa elaborada reflexão racional, as idéias dos filósofos cristãos sobre a
dignidade humana e sobre o livre arbítrio resultaram na ideia do princípio da
igualdade entre todos os seres humanos. Essas ideias vão ser retomadas na
Revolução Francesa pelo lema “Liberdade, igualdade e fraternidade”.
Luc Ferry considera que essa ideia dos filósofos cristãos sobre a igualdade na
dignidade humana é uma ideia decisiva no desenvolvimento das democracias
ocidentais.
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(...) a ideia de igual dignidade de todos os seres humanos faz sua
primeira aparição: então, o cristianismo estará mais ou menos
secretamente na origem da democracia moderna.
Além disso, o autor considera que os filósofos cristãos vão contrapor o princípio de
aristocracia dos gregos clássicos, pelo princípio da “meritocracia” no sentido das
pessoas que fazem bom uso do seu “livre arbítrio” individual ao realizar boas
escolhas sobre o modo como vão utilizar as suas capacidades pessoais na vida
prática em sociedade.
Uma outra importante contribuição do cristianismo para a vida ética, segundo Luc
Ferry, é a grande ênfase na consciência individual de cada pessoa para refletir
sobre as atitudes que consideram ser mais justas em situações práticas específicas.
Como exemplo, o autor comenta essa passagem da Bíblia cristã sobre a mulher
adúltera (no capítulo 8 do Evangelho de João):
“Porém Jesus foi para o monte das Oliveiras. E, pela manhã cedo, voltou
para o templo, e todo o povo vinha ter com ele, e, assentando-se, os
ensinava. E os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em
adultério. E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi
apanhada, no próprio ato, adulterando, e, na lei, nos mandou Moisés que as
tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes? Isso diziam eles, tentando-o,
para que tivessem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia com
o dedo na terra. E, como insistissem, perguntando-lhe, endireitou-se e
disse-lhes: Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire
pedra contra ela. E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra. Quando ouviram
isso, saíram um a um, a começar pelos mais velhos até aos últimos; ficaram
só Jesus e a mulher, que estava no meio. E, endireitando-se Jesus e não
vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles
teus acusadores? Ninguém te condenou? E ela disse: Ninguém, Senhor. E
disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te e não peques mais.”
(https://www.biblegateway.com/passage/?search=Jo%C3%A3o%208%3A1-1
1&version=ARC)
Luc Ferry (que, como já vimos, é um filósofo contemporâneo ateu) considera que
esse trecho é um convite para que cada pessoa visite a voz de sua própria
consciência antes de julgar uma outra pessoa ao seguir normas e regras
burocráticas automaticamente sem refletir. Não se trata de negar o cumprimento das
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leis, mas de promover a justiça de modo complementar às leis, por meio da
interiorização da reflexão na consciência pessoal e no diálogo.
Luc Ferry considera que essa subordinação da racionalidade filosófica por líderes
religiosos cristãos gerou uma limitação que manteve-se até os dias de hoje nos
campos de atuação da filosofia, apesar da limitação atual não ser mais comandada
pela religião.
A filosofia deixou de ser “amor à sabedoria” como indica a tradução literal do termo
“filosofia” do grego para o português. Isso porque, desde o fim da difusão do
estoicismo, o ocidente não enfatiza mais o campo da filosofia referente à busca por
sentido de vida existencial, mas tem focado quase exclusivamente nos dois outros
campos da filosofia que são a visão de mundo e os princípios éticos para a vida
prática.
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No entanto, os pensadores cristãos recomendam uma modalidade de amor com
atributos religiosos (e diferente do amor-apego) que eles denominam de “amor em
Deus” por acreditarem que essa modalidade de amor “é mais forte do que a morte”.
Agostinho, por exemplo, relata: “a morte da minha mãe não era desgraça, ela ainda
estava viva na principal parte de si mesma”. A mãe de Agostinho já era cristã antes
dele. Ele considera que a melhor parte do ser dele como do ser da mãe dele seria o
amor que cada um deles tem por Deus ao cultivar o senso do sagrado. Com isso,
Agostinho poderia amar a mãe dele na modalidade de amor denominada de “amor
em Deus” que, na crença cristã, possibilitaria a expectativa religiosa de superar a
morte, ao imaginarem a perspectiva de mãe e filho voltarem a se encontrar depois
da morte.
Essa experiência religiosa de “amor em Deus” também poderia ser expandida além
do círculo da família de uma pessoa e abranger seus “amigos em Deus”. Nas
palavras de Santo Agostinho: “Só não perde nenhum de seus amigos aquele que só
ama alguém Naquele que não se pode perder nunca”
Entre os anos 1540 e 1690, Copérnico, Galileu, Descartes e Newton iniciaram uma
revolução científica que abalou fortemente as visões de mundo propostas pelo
estoicismo e pelo Cristianismo. Agora, os seres humanos cultos na Europa
sentiam-se sem um cosmos e sem uma lógica divina para fundamentar a busca
racional por uma visão de mundo, por princípios éticos e por sentido de vida
existencial.
a) Visão de mundo
Nos séculos anteriores a essa revolução científica, alguns líderes religiosos cristãos
tinham inventado dogmas sobre temas como a idade do nosso planeta, as relações
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entre os planetas e o sol, a idade das espécies, entre outros temas. No entanto, os
novos resultados empíricos e teóricos dos cientistas geraram evidências científicas
que negaram estes dogmas dos líderes religiosos, o que prejudicou a confiança das
pessoas na possibilidade da religião proporcionar uma visão de mundo realmente
racional.
Portanto, a visão de mundo agora não era mais contemplativa como a dos estóicos,
mas ela se tornou influenciada pela atitude investigativa e experimental dos
cientistas que passam a praticar a atividade intelectual conceitual com base em
fatos observáveis para propor as leis de causalidade que visam explicar os diversos
fenômenos da natureza e da sociedade.
A nova visão de mundo com base nos resultados das pesquisas experimentais
substituiu os referenciais anteriores (cosmos e divindade). Agora, a nova visão de
mundo científica inspirava os pensadores ocidentais na busca por novos princípios
éticos para a vida prática em sociedade. Por este motivo, os filósofos modernos
buscaram embasar novas referências e inspirações numa renovada compreensão
sobre a natureza do próprio ser humano. É por isso que denomina-se essa nova
fase de “humanismo”.
Humanismo é a denominação para essa intenção de fundamentar a nova civilização
ocidental não na compreensão do cosmos nem da divindade, mas sim na renovada
compreensão sobre as características únicas e distintivas dos seres humanos em
relação aos animais.
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do que é o ser humano: “Art.1.º Os Homens nascem e são livres e iguais em
direitos”.
Rousseau foi o filósofo francês que propôs que a característica mais essencial do
ser humano é a liberdade. Ele denominou essa liberdade de “perfectabilidade”. Os
animais não têm liberdade, porque são limitados pela programação inflexível do
instinto animal. É a natureza que faz com que um pombo seja relativamente perfeito
como pombo que se alimenta de grãos. É a natureza que faz com que um gato seja
relativamente perfeito como gato que se alimenta de carne. Um pombo não pode
escolher em liberdade desenvolver habilidades de gato e nem um gato pode
escolher livremente desenvolver habilidades de pombo. A natureza já programou,
com considerável grau de perfeição, o comportamento de cada um desses animais
de modo determinístico de acordo com o instinto de cada espécie animal.
Diferente dos animais, o ser humano conta com muito mais margem de escolha livre
para se aperfeiçoar (“perfectabilidade”) em novas capacidade que ele não possuía
ao nascer. Portanto, Rousseau considera que a característica única do ser humano
que o diferencia dos animais é a perfectibilidade, ou seja, é um considerável grau de
liberdade em relação aos instintos para desenvolver e aperfeiçoar novas
capacidades por escolha própria.
Além disso, o ser humano pode usar a sua liberdade para realizar projetos
intencionais de maldade (por exemplo, ao fabricar instrumentos de tortura) e
também pode usar a sua liberdade para realizar projetos que expressam
generosidade.
(...) o homem pode afastar-se das regras naturais, e até mesmo criar
uma cultura que se opõe a elas quase termo a termo — por exemplo,
a cultura democrática que vai tentar resistir à lógica da seleção natural
para garantir a proteção dos mais fracos.
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Para Kant, a pessoa madura tem a possibilidade de exercer a sua liberdade para
escolher ações pelo princípio dos “imperativos categóricos”. Essa escolha surge de
um senso de dever e de responsabilidade com o bem coletivo.
Kant também considera que a pessoa que exerce a sua liberdade para realizar uma
ação desinteressada do egoísmo e voltada para o bem comum está demonstrando
a sua “boa vontade”. Atos de “boa vontade” por respeitar os “imperativos
categóricos” que superam os egoísmos pessoais são atos que geram “mérito”
social, por beneficiarem o bem comum.
Um mal entendido muito frequente das pessoas que falam automaticamente pelo
senso comum sem refletir é a ideia completamente errada de que “individualismo”
seria sinônimo de “egoísmo”. Não é.
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Descartes transformou essa fragilidade das incessantes dúvidas em uma força.
Trata-se da força da experiência da consciência subjetiva como base de toda e
qualquer atividade racional.
Esse filósofo e matemático francês que fundou a era moderna na história das ideias
realizou uma corajosa simulação mental. Ele colocou diante de sua consciência toda
uma lista das certezas que lhe foram trazidas pela sua educação na família, igreja,
escola e faculdade. Em seguida, ele desenvolveu uma abordagem metódica e
sistemática para duvidar de cada uma das suas antigas certezas. Com isso, ele
notou que nenhuma das suas antigas certezas resistia ao poder estrondoso da
dúvida intencional gerada pelo seu raciocínio crítico. Portanto, nenhuma de suas
certezas antigas continuava a ter o poder de fundamentar um senso de verdade em
sua consciência.
Isso significa que, ao pensar criticamente sobre cada uma de suas antigas certezas,
ele não sentia-se mais ancorado em um senso de realidade confiável. Suas antigas
certezas não proporcionavam mais ao Descartes nenhuma experiência mental de
sentir-se conscientemente existente.
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Você observará que (...) para Descartes (...) é o homem, o sujeito
humano, que se torna o fundamento de todos os pensamentos e de
todos os projetos
Essa autoconsciência demonstrada por Descartes pode ser uma nova fonte
inabalável de autoconfiança em cada sujeito humano.
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Apesar destas três desajeitadas propostas de busca de sentido existencial pela
fabricação de ideologias, Luc Ferry apresenta uma outra proposta mais sensata que
é a ideia de Kant de “pensamento alargado”.
A pessoa que se fecha no modo de pensar com o qual está confortavelmente mais
habituada limita-se a si mesma e conta com um portfólio de menos experiências e
escassos recursos cognitivos para dar mais sentido e senso de direção aos rumos
de sua vida. Na linguagem atual, poderíamos explicar essa ideia em termos da
atitude de fechar-se em sua própria “bolha cognitiva e afetiva”.
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As fases iniciais da trajetória de formação de sujeito
da filósofa Djamila Ribeiro
Com o intuito de praticarmos o “pensamento alargado” proposto por Kant e Luc
Ferry e tentarmos exercitar-nos na prática da “filosofia intercultural” elogiada por
Mogobe Ramose e proposta por Heinz Kimmerle, estudaremos, na sequência,
reflexões sobre o livro “Cartas para a minha avó” da filósofa brasileira Djamila
Ribeiro.
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Sobre a Carta 1
Querida vó Antônia,
Ao longo do livro, a autora relata que a avó materna, Dona Antonia (falecida aos 68
anos de idade, quando Djamila tinha 12 anos de idade), trouxe amor e afeto para o
processo de formação de sujeito da menina Djamila. Na fase adulta, Djamila soube
colher ainda mais aprendizados desta relação avó-neta, por meio de renovadas
reflexões sobre suas memórias com a avó. Esse amor e afeto da avó protegeram
Djamila de ciclos de brutalização.
Djamila morava com sua mãe, pai e irmãos na cidade de Santos, no litoral do
estado de São Paulo e viajava para Piracicaba, no interior do estado de São Paulo,
para passar as férias na casa de sua avó materna.
Numa destas férias, a menina Djamila foi picada por uma abelha.
(...) você passou uma mistura de ervas que fez meu braço desinchar
rápido, e logo eu estava na rua de novo.
Djamila escreveu as cartas para a falecida avó em tom de diálogo entre duas
mulheres adultas que querem compreender-se mutuamente ainda mais. A autora
expressa perguntas que gostaria de fazer para conhecer melhor a sua avó.
Nunca consegui perguntar a você como foi criar sete filhos com meu
avô. (...) Como você lidava com o racismo. Será que pensava sobre
isso ou foi forçada a naturalizá-lo? Eu não tive tempo de lhe perguntar
nada disso. Quais eram os seus sonhos, seus medos.
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Sobre a Carta 2
Nesta carta, Djamila relata para a avó falecida como foi difícil lidar com o luto pela
morte da mãe dela, a Dona Erani, que faleceu com 51 anos de idade, quando a
autora tinha 20 anos de idade.
No dia do enterro da mãe, uma vizinha, ao invés de acolher o sofrimento da jovem
Djamila, falou para ela “ser forte”.
Sobre a Carta 3
Nesta carta, Djamila relata para avó sobre momentos da infância dela. Aos seis
anos de idade as meninas vizinhas questionaram se faria sentido Djamila brincar
com as bonecas brancas. O pai de Djamila ouviu estas falas e comprou bonecas
negras para Djamila e a irmã dela.
posso dizer que não foi fácil ser uma menina preta em um bairro
majoritariamente branco.
Djamila relata como seu pai e sua mãe foram brutalizados durante a vida deles e
como eles tentavam ser bem rigorosos com os filhos no intuito de “prepará-los” para
a falta de gentileza que encontrariam ao longo dos anos e décadas nas
convivências em sociedade.
A autora relata como era tenso passar a infância sob pressão dos adultos que
expressavam constantemente que ela e os irmãos nunca poderiam praticar nenhum
erro, sob ameaças de severas consequências caso o erro acontecesse.
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(...) mas éramos crianças, íamos errar — e somos seres humanos,
vamos errar. Essa rigidez, porém, acabou acentuando os problemas
de autoestima que o racismo nos causa. Lá em casa, vó, crescemos
entendendo que errar era mais um privilégio de brancos.
Além disso, a menina Djamila ouvia dos adultos que ela não poderia apanhar na
escola nem na rua, senão ela apanharia mais uma vez em casa. Essa falta de
acolhimento era acompanhada por uma justificativa:
Sobre a Carta 7
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Em seguida, ela apresenta uma reflexão a partir da religiosidade de matriz africana
de como as mais velhas e as mais novas encontram-se em mútua colaboração e
parceria: As mais velhas preparando o caminho para as mais novas e as mais
novas dando continuidade ao legado das mais velhas.
Sobre a Carta 9
Djamila também honra todo o esforço da mãe para cuidar e proteger os filhos.
Enquanto o pai incentivou o desenvolvimento intelectual da Djamila, a mãe serviu de
referência (“modelar”) para atitudes de coragem perante os desafios da vida.
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Erani disse para as filhas que saiu de uma escravidão (ser empregada doméstica
em São Paulo) para entrar em outra escravidão (ser dona de casa sob as diretrizes
e a dependência financeira do marido que a traia).
As amigas da Djamila gostavam muito da sabedoria de vida nos conselhos de Dona
Erani. Elas admiravam a inteligência da mãe da Djamila.
Minha mãe teve suas asas cortadas por muitas tesouras, e dizer a ela
que a compreendíamos foi como fazer um pedaço se colar.
Sobre a Carta 17
Djamila conta que a mãe dela com frequência recebia comentários críticos e até
maldosos de vizinhas que tentavam diminuí-la, apesar do grande esforço de Dona
Erani ao caprichar na limpeza do apartamento e no preparo dos lanches, por
exemplo, nas reuniões de mulheres que ocorriam lá para promover a venda de
utensílios plásticos Tupperware. Uma vizinha criticou que o apartamento dela era
muito pequeno e outra vizinha criticou as rachaduras em seus pés.
Dona Erani foi uma mulher com os pés rachados e os olhos tristes. E
foram raras as vezes que alguém, em vez de olhá-la com desprezo ou
desdém, perguntou qual era a história por trás daqueles olhos
castanhos-escuros.
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Perguntas:
a) Ao estudar Luc Ferry, quais são as principais diferenças que você percebe no
significado das palavras “individualismo” e “meritocracia” na filosofia versus no
senso comum?
c) Num tópico chamado “A título de conclusão” Luc Ferry escreve que "Toda grande
filosofia resume em pensamentos uma experiência fundamental da humanidade".
Quais são os pensamentos da Djamila que mais te proporcionaram aprendizado
sobre a experiência dela no processo de formação do sujeito?
Fontes:
BARBOSA, Adriana. Preta potência: como a resistência e a ancestralidade me
ajudaram a criar o maior evento de cultura negra da América Latina. HARLEQUIN,
2021.
FERRY, Luc. Aprender a viver: filosofia para os novos tempos. Objetiva, 2010.
LOPES, Nei; SIMAS, Luiz Antonio. Filosofias africanas: uma introdução. Editora
José Olympio, 2020.
RIBEIRO, Djamila. Cartas para minha avó. Companhia das Letras, 2021.
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