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Alberto Domingos Guiambisse

Licenciatura em Ensino de Filosofia

Disciplina Ética Fundamental

Tema: Ética da Filosofia Africana

Maxixe

25 De Abril de 2023
Alberto Domingos Guiambisse

Ética da Filosofia Africana

Trabalho Científico, apresentado ao Curso de Ensino


de Filosofia para efeitos de avaliação

Docente: Cássamo Ussene Mussagy

Maxixe

25 De Abril de 2023

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Índice
Introdução............................................................................................................................................4
Objectivos.........................................................................................................................................4
 Geral......................................................................................................................................4
 Específicos...........................................................................................................................4
Metodologias....................................................................................................................................4
Filosofia Africana.............................................................................................................................5
Conceito de Ética, Moral e Ubunto...............................................................................................6
A Ética ubunto e os seus aspectos................................................................................................6
Aspectos éticos............................................................................................................................6
Aspectos religiosos..........................................................................................................................6
Aspectos políticos............................................................................................................................7
Algumas características da sociedade contemporânea.............................................................8
Ubuntu como liberdade indivisível...............................................................................................9
As relações entre “Eu e o Outro”: ubuntu como pratica ética da singularidade..................9
Conclusão............................................................................................................................................10
Referência Bibliográfica...................................................................................................................12

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Introdução
Segundo Desmond Tutu, Prêmio Nobel da Paz e Arcebispo Sul Africano, “Ubuntu é
a essência de ser uma pessoa”, “significa que somos pessoas através de outras pessoas”,
“que não podemos ser plenamente humanos sozinhos”, “que somos feitos para a
interdependência”. Praticar Ubuntu “é estar aberto e disponível aos outros" e “ter
consciência de que faz parte de algo maior e que é tão diminuída quanto seus semelhantes
que são diminuídos ou humilhados, torturados ou oprimidos” (idem). A pessoa ou instituição
que pratica Ubuntu reconhece que existe por que outras pessoas existem. Reconhece,
portanto, que existem formas singulares de expressão de humanidade, e que as
singularidades, como tais, têm igual valor.

Antonio Negri3 denomina de Comum a forma democrática que pode assumir a


multidão, que é, segundo ele, a denominação de uma multiplicidade de singularidades. O
Comum é Ubuntu, uma relação social de interdependência, que tem a igualdade como
princípio material. No conceito de Comum, como na filosofia Ubuntu, a igualdade é
condição. Portanto, não há constituição do Comum sem aberturas às singularidades,
reconhecimento material de sua importância e potencialização de suas capacidades
criativas. Uma política de constituição do Comum é a afirmação da ética Ubuntu, através da
afirmação da igualdade contra o privilégio, da multiplicidade contra a uniformidade, do
respeito contra o preconceito, da inclusão contra a exclusão e da criação de meios que
assegurem “humanidade” para os muitos de uma coletividade e, objetivamente, acesso aos
direitos definidos como “humanos”.

Objectivos
 Geral

Compreender a filosofia africana com vista em vários autores.

 Específicos

Conceituar a filosofia africana;

Analisar a origem da filosofia africana;

Descrever a importância de Unbutu na filosofia africana.

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Metodologias
Para a realização deste trabalho, utilizou-se o método de abordagem (revisão
bibliográfica), que consiste na recolha de informações nos sites da internet assim
como informações dos livros.

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Filosofia Africana

Filosofia africana é uma etnologia com pretensão filosófica. Para falar da


etnologia eles recorrem a dois parâmetros: a escrita e a não escrita. Eles defendem
que a história se conta através da escrita, e por isso mesmo, os povos sem escrita
são considerados primitivos, selvagens, sem história. Ao contrário dos povos com
escrita, são nobres, têm história.

Portanto, em Houtondji as sociedades sem escrita são negadas. A história


se interessa pelo passado das sociedades europeias e a etnologia fala dos povos
selvagens. A capacidade abstractiva dos africanos não se põe em causa. Este
pensamento será rejeitado por um grupo de filósofos como, Placide Tempels,
Anyaw, Alex Kagame, John Mbiti. Para eles, os africanos têm os seus
acontecimentos nas crenças, mitologias e tradições dos seus antepassados. A
Filosofia africana é um pensamento especulativo que se encontra nos provérbios,
nas máximas, nos costumes que os africanos herdaram dos seus antepassados
através da tradição oral. Para isso, a função do Filósofo africano é de coleccionar,
revelar, interpretar e difundir os provérbios, os contos folclóricos. Assim
estaríamos em pé de igualdade com o europeu.

Os defensores da etnologia afirmam que não existe filosofia africana


porque em África os conhecimentos são transmitidos por meio da oralidade. Estes
conhecimentos encontram-se nos contos, provérbios, lendas, mitos.

• A etnologia é ciência dos povos sem escrita, sem história. O que existe
na África é etnologia, não Filosofia.

• Os defensores da existência da Filosofia africana afirmam que os


contos, as lendas, os provérbios trazem dentro deles um conhecimento. A missão
do filósofo africano é de coleccionar, revelar, interpretar e difundir estes contos,
mitos, provérbios através da escrita.

• Para os etnólogos, África não tem Filosofia porque não escreveu os


seus conhecimentos, eles transmitem-se pela oralidade. O ocidente tem história
porque escreveu. Os seus conhecimentos são obtidos pela escrita.

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Conceito de Ética, Moral e Ubunto
O termo Ética é entendido como uma reflexão sobre os princípios e normas
de convivência social dentro dos padrões estabelecidos de um comportamento
moralmente aceite. Este não é mais do que um compromisso com valores imutáveis
e permanentes da natureza humana: valores morais e valores culturais. O temo
vem do grego, “ethos” que significa carácter ou costume, e muitas vezes
manifestada por actude. Enquanto a moral é a ciência filosófica que se preocupa
com a prática diária enquanto comportamento. Todavia, a moral é objecto da
reflexão ética visto que a ética reflecte a razão de ser de comportamento, isto é,
aspectos referentes a prática do bem em relação ao mal. No contexto africano
segundo Malomalo, (2014), entende-se Ubunto como uma ética baseada no
sentimento de amor, fraternidade, generosidade, solidariedade, compaixão com o
outro e o desejo sinceiro de harmonia entre os seres humanos que se traduz no “Eu
sou porque Tu és”.

A Ética ubunto e os seus aspectos

Aspectos éticos
De acordo com Ramose (2001) a palavra ubuntu origina-se da combinação
dos termos ubu e ntu. Ainda para Ramose (2001), o prefixo ubu contempla a ideia
do Ser em seu modo dinâmico, integral, anterior às manifestações particulares ou
modos de existência, em um constante movimento, e o sufixo ntu indica toda
manifestação particular, os modos distintos de existência. Nesse sentido, a
compreensão da palavra ubuntu nos permite indicar tudo o que está em nosso
convívio, tudo aquilo que temos em comum em uma realidade integradora de tudo
o que está se transformando.

Aspectos religiosos
O conceito do ubuntu define um individuo em termos de seus
relacionamentos com os outros, e enfatiza a importância como um conceito
religioso, assentado na máxima zulu umuntu ngumuntu ngabantu (uma pessoa é
uma pessoa através de outras pessoas), que aparentemente parece não ter
conotação religiosa na sociedade ocidental. Assim aqueles que compartilham do
princípio do ubuntu no decorrer de suas vidas continuarão em união com os vivos
após a sua morte. (LOUW, 1998, p 28)
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Aspectos políticos
Ubuntu é visto como um dos princípios fundamentais da nova república da
África do Sul e está intimamente ligado à ideia da renascença africana. No
Zimbabwe, ubuntu tem sido usado como forma de resistência às opressões
existentes. Na esfera política, o conceito do ubuntu é utilizado para enfatizar a
necessidade da união e do consenso nas tomadas de decisão, assumindo-se uma
ética humanista.

Diferentemente da filosofia ocidental derivada do racionalismo iluminista,


o ubuntu não coloca o indivíduo no centro de uma concepção do ser humano. Este
é todo o sentido do ubuntu e do humanismo africano. A pessoa só é humana no
meio da sua pertença a colectivo humano; a humanidade de uma pessoa é definida
por meio de sua comunidade para com os outros: o valor da sua humanidade esta
directamente relacionado à forma como ela apoia activamente a humanidade e a
dignidade de uma pessoa é definida por seu compromisso ético com sua irmã e seu
irmão. Visto que o princípio central do ubuntu é o respeito mútuo, pois ele está em
consonância com a epistemologia africana de modo mais geral, e,
consequentemente, mais em harmonia ecológica com a terra do que a
epistemologia do racionalismo ocidental, que é linear, exploradora e insustentável.
(MALOMALO, 2014, p.30)

Individualismo e Ubuntu

Para Broodryk, (1997, p.56), o individualismo ressalta aspectos


aparentemente solitários das existências humanas, em detrimento dos aspectos
comuns. Segundo o espírito de ubuntu as pessoas não devem levar vantagem
pessoais em detrimento do bem-estar do grupo. Para que uma pessoa seja feliz
será preciso que todos do grupo se sentiam felizes estando conectados uns com os
outros, e essa relação estende-se aos ancestrais e aos que ainda nascerão.

No ocidente o individualismo muitas vezes se traduz em uma


competitividade impetuosa, isso esta em contraste com a preferência africana para
a cooperação, o trabalho em grupo ou equipe.

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Algumas características da sociedade contemporânea
Lendo atentamente Manuel Castells (1999), pode-se perceber que, a
racionalidade europeia, ao contrário, é egocêntrica, pois ela opta por sobrepor o
“Eu” ao “Nós”. Essa escolha, ao longo da história ocidental, materializou-se na
forma de dominação. Com efeito, a Europa aparece marcada pelo desejo de
subjugar a tudo e a todos. Isso pode ser observado no caso do Império Romano,
cuja ânsia por expandir suas fronteiras parecia insaciável; na Igreja, instituição que
concentrou em suas mãos o poder temporal e espiritual, na Idade Média; na própria
ciência moderna, que entendeu a natureza como algo totalmente objectivo
(externo ao homem) a ser dominado por este; no capitalismo, que reduz as outras.

A sociedade contemporânea apresenta, dentre outras, as seguintes


características:

▪ Globalização: Sobre a globalização, não podemos deixar de citar Manuel


Castells (1999), que assinala vários acontecimentos históricos os quais têm
transformado a paisagem social da vida humana, tais como: a desagregação do
bloco soviético e as mudanças de políticas económicas nas nações de regimes
socialistas, pondo fim à guerra fria e a reestruturação profunda do capitalismo.

▪ Tecnologização: Nossa sociedade é marcada pelo avanço tecnológico.


Para Castells, uma das características da globalização é a capacidade ou falta de
capacidade das sociedades para dominar a tecnologia e em particular as que são
estrategicamente decisivas em cada período histórico, define em boa parte seu
destino.

▪ Conhecimento: Por uns a sociedade contemporânea é denominada


“sociedade de informação”; por outros, “sociedade do conhecimento” ou “do
aprendizado”. O fato é que o conhecimento desempenha, na actualidade, papel
estratégico. Esse desenvolvimento cognitivo só foi possível graças ao paradigma da
ciência moderna, assentado na razão, na divisão/análise e na máxima “conhecer
para controlar”

▪ Consumismo: Fruto do desenvolvimento do capitalismo, o consumismo é


outra característica de nossa sociedade. Quando o mercado determina o estilo de
vida.

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▪ Crise de moralidade: Anthony Giddens (2002) aponta para um certo
empobrecimento moral, uma certa crise de valores, uma certa crise de moralidade.
E ao lado de um alto grau de reflexividade social, surge uma preocupação com a
reconstrução da tradição como uma forma de enfrentar as demandas cambiantes
das sociedades modernas. A reconstrução da tradição pode ser observada, por
exemplo, na busca, cada vez mais intensa, de novas experiências religiosas, novas
formas de espiritualidade.

Com estas características infelizmente, podemos perceber que ao contrário


da ética Ubunto verifica-se a tendência de sobrepor os bens materiais ao ser
humano, a adoção de um estilo de vida egoísta/egocêntrico, a insistência em
recorrer à violência como estratégia para a solução de conflitos factor este que se
contradiz com a ética na visão africana.

Ubuntu como liberdade indivisível


Para me envolver com o outro como sujeito, como individuo livre, como eu
mesmo, como outro ser humano, eu também tenho de me tornar sujeito,
reconhecendo nossa sujeição comum á história, á contingência e ao destino.
(HAWS, 2001-p123)

Na óptica do ubuntu, a liberdade e a autonomia do indivíduo andam de


mãos dadas com a responsabilidade pelos outros. É por isso que ubuntu significa
principalmente a interconectividade dos seres humanos, ou seja, seres
fundamentalmente livres em relação no respeito um ao outro, (I am because you
are).

As relações entre “Eu e o Outro”: ubuntu como pratica ética da singularidade


A ética ubuntu nos ajuda a perceber que viemos a um mundo com
obrigações para com os outros e esses outros tem obrigações para connosco, pois
são eles que nos ajudam a encontrar nossos caminhos para nos tornarmos uma
pessoa única e singular.

Portanto, o ubuntu está intermitentemente conectado ao porquê e ao como


o ser humano é uma prática ética”. Isto se explica pelo facto de que “sempre
nascemos com obrigações para com os outros e não podemos escapar delas, assim

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como elas, por sua vez, têm de ser pessoas éticas na medida em que nos ajudam a
formar nosso caminho para nos tornarmos pessoas. (HAWS, 2001, p.140).

Ubuntu é uma noção fundamentalmente ética do que significa ser um ser


humano. Por conseguinte, é um aspecto crucial do que veio a ser conhecido como
humanismo africano. É claro que o ubuntu teve certa importância na política sul-
africana e foi muitas vezes aplicado como uma ideologia nacionalista africana. Há
razões importantes para reconhecer os valores africanos como cruciais para o
diálogo da humanidade, já que eles foram excluídos durante muito tempo. Mas o
ubuntu, como uma ética em que praticamos o que significa ser humano em nossas
atividades quotidianas, não se justifica apenas devido a suas raízes indígenas na
África do Sul, mais especificamente nas línguas zulu e xhosa. Por isso, uma ética
como a ubuntu será sempre contestada, e é um erro reduzi-la a uma ideologia
nacionalista africana.

Conclusão
No artigo atinente a reflexão em torno da ética ubunto pode-se peeceber
que a filosofia Ubuntu representa uma das contribuições mais originais da filosofia
africana, pois o seu o potencial ético não deve ser desprezado. Entretanto, a África
precisa de aprender a pensar de modo descolonizado, pelo facto que os filósofos
africanos estejam mais comprometidos com essa tarefa em relação aos ocidentais
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sendo deste modo a corrente filosófica Ubunto um testemunho de solidariedade e
compaixão de uns com os outros.

Portanto a ética Ubunto deve ser entendida como, uma pensamento


filosófico na qual todos são encorajados a viver o seu sonho e trazer os talentos e
habilidades para o bem de todos e de todo; Um mundo de amor pela criação,
partilha e dadiva em que toda gente tem tudo o que precisa para sua felicidade;
Uma unidade e liberdade em conformidade com as leis da natureza e por fim Uma
sabedoria e justiça que cada pessoa carrega no seu coração em prol do outro.

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Referência Bibliográfica
DIOP. C. A. The cultural unity of black africa. 5. ed. Chicago: Third World Press,
1990.

CUNHA JÚNIOR, H. NTU. Revista Espaço Académico, Maringá, n. 108, p.81-92, Maio
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GIDDENS, A. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2002.

KAGAME, A. La philosophie Bantu-Rwandaise de l’Etre. Bruxelas: ARSC, 1956.

JONAS, H. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para uma civilização


tecnológica. Rio de Janeiro: PUC Rio, 2006.

NIETZSCHE, F. Ditirambos de Diónisos. Lisboa: Guimarães Editores, 1993.

TEMPELS, P. F. La philosophie bantoue. Paris: Présence Africaine, 1945.

VIEGAS M., CHIULUME, Z, Manual de Ética e Deontologia Profissional, Maputo,


2011,

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