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Recomendações Especiais para o Projeto e

Execução de Lajes de Fundação


Special recommendations for the design and construction of foundation slabs

Traduzido do CEB-FIP Bulletin No. 73 (1970) por Thiago Araujo Macedo

1 Campo de Aplicação Se as condições geométricas prescritas não


forem satisfeitas, a laje pode ser considerada
Este Apêndice [do CEB-FIP(1970) ] lida com como governada pela teoria de vigas ou placas
métodos de dimensionamento e detalhamento e calculada com as recomendações correspon-
para lajes com propriedades geométricas de- dentes.
nidas nas Figuras 1 e 2. Se a dimensão d da laje de fundação for me-
nor que, em todas as direções, que 1/2 · ht , esta
pode ser admitida como uma fundação volumé-
trica e as recomendações desse Apêndice não
se aplicam.

2 Hipóteses de Dimensiona-
mento

É assumido que o comportamento do solo é


elástico e que a estabilidade é garantida so-
mente por forças elásticas, que são transmiti-
das à laje através da superfície de contato.
Como resultado, a distribuição de tensões
Figura 1: Lajes apoiadas sobre o solo. devidas às reações do solo ou estacas na su-
perfície de contato com a laje é linear (Figura
3).

Figura 2: Lajes apoiadas sobre estacas.

A espessura da laje pode variar do contorno


do pilar até a borda externa, desde que ga- Figura 3: Distribuição de tensões no solo.
rantidas as condições de resistência ao cisa-
lhamento em todas as seções, além de que os Se o sistema de forças externas aplicadas na
cobrimentos nas ancoragens sejam sucientes. laje não pode ser balanceada sem a introdução

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de tensões de tração na superfície de contato,
pode ser assumido que a distribuição de ten-
sões será como mostrado na Figura 4.

Figura 5: Seção S1 .

Esta recomendação leva em conta o fato de,


quando se lidando com pilares alongados (Fi-
gura 6), o momento pode ser incrementado
além da seção na face do pilar ou parede.
Figura 4: Equilíbrio de tensão de tração.

Para lajes sobre estacas, pode ser assumido


que a estabilidade da laje pode ser garantida
por estacas tracionadas, desde que a força de
tração seja adequadamente contrabalanceada
pelo peso próprio do fuste, a resistência do
atrito lateral, a área de aço longitudinal e a
eciência da ancoragem com a laje.
Pode ser assumido que o equilíbrio de esfor-
ços horizontais que possam existir na laje seja Figura 6: Pilares alongados.
provido unicamente por forças de atrito desen-
volvidas na superfície de contato laje-solo. A profundidade efetiva da seção S1 é tomada
Não deve ser assumido que as forças de atrito como igual à profundidade efetiva da seção pa-
possam reduzir esforços de tração da armadura ralela à seção S1 e situada na face do pilar ou
principal das lajes. parede, a menos que esta profundidade exceda
1.5 vezes a extensão d da laje medida perpen-
dicularmente a esta seção.
3 Detalhamento da Arma- Neste último caso, a profundidade efetiva
deve ser limitada a 1.5 · d. Para lajes sobre es-
dura Inferior tacas, o valor de d é tomada a partir da estaca
mais afastada da seção considerada (Figura 7).
3.1 Seção de Referência S1
A seção S1 da laje deve ser tomada em consi-
deração para a determinação da armadura in-
ferior, e é denida da seguinte maneira:

ˆ É plana, normal à superfície de contato e


leva em conta as dimensões totais da laje;
ˆ É situada entre as faces do pilar ou parede
a uma distância de 0.15 · a da face, onde a
é a dimensão do pilar ou parede medida na
direção perpendicular à seção considerada
(Figura 5).

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De maneira geral, o momento etor que uma
seção de referência pode resistir não deve ser
menor que 1/5 do momento que pode ser resis-
tido por seções de referência ortogonais a esta.
Para armaduras ortogonais, a área de aço
transversal em cada direção deve ser pelo me-
nos 1/5 da área de aço principal.
Se o peso próprio da laje e do solo sobre esta
forem levados em consideração no cálculo das
reações do solo, estes efeitos devem ser dedu-
zidos quando se calculando os momentos.
Se os momentos etores resultantes forem
Figura 7: Laje sobre Estacas. negativos, à laje deverá ser adicionada arma-
dura superior capaz de resistir a esses esforços
(Figura 9).
3.2 Quantidade de Armadura In-
ferior

O momento etor na seção de referência S1 é


o momento calculado levando-se em considera-
ção todas as reações do solo ou pilares atuando
na parte da laje restrita por esta seção e que
não é cruzada pelo eixo do pilar ou parede (Fi-
gura 8).

Figura 9: Momento negativo.

4 Posicionamento da Arma-
dura Inferior

4.1 Comprimento das Armadu-


ras Inferiores
Figura 8: Esforços considerados para denição
do momento. Em todos os casos, a armadura inferior con-
forme dimensionada nos capítulos anteriores
A área de armadura cruzando a seção de re- deve ser estendida sem nenhuma redução por
ferência deve ser determinada de acordo com toda a extensão da laje.
recomendações práticas para armaduras de vi-
gas de concreto armado sob exão simples, ba- 4.2 Lajes Apoiadas Sobre o Solo
seada nas propriedades geométricas da seção
denidas nas seções anteriores e os momentos Se a superfície de contato da laje for qua-
etores aplicados. drada, a armadura pode ser uniformemente
Se a armadura inferior não for ortogonal às distribuída de forma paralela aos lados do qua-
seções de referência, sua contribuição para re- drado.
sistência à exão deve ser avaliada conforme Um incremento na resistência ao cisalha-
recomendações práticas de lajes. mento pode ser obtido para lajes lisas a par-

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tir do arranjo de uma maior densidade de ar-
maduras nas faixas paralelas aos lados do qua-
drado, de forma simétrica em cada face do pi-
lar até uma largura a + 2 · ht (Figura 10).

2 · (a + 2 · ht ) · A
Figura 12: b′ ≤ a + 2 · ht ; na
a′ + a + 2 · ht
faixa central.

Caso a extensão da laje d não exceda a altura


Figura 10: Faixas de Armadura. ht , a armadura inferior deverá ser totalmente
ancorada na borda externa da laje (Figura 13),
Em outros casos, a armadura paralela ao sendo o comprimento de ancoragem calculado
maior lado (de comprimento a′ ) deve ser uni- a partir do nal do trecho reto das barras.
formemente distribuída através da largura b′
da laje.
Armaduras paralelas à menor dimensão (b′ )
devem ser posicionadas de maneira que a fra-
2 · b′
ção da área total A = ′ seja situada numa
a + b′
faixa central sob o pilar com largura igual a b′
(Figura 11).

Figura 13: Comprimento de Ancoragem.

Se o comprimento da laje exceda a altura


ht , a armadura inferior deverá ser totalmente
ancorada após a seção situada à distância ht
da face do pilar (Figura 14).

2 · b′ · A
Figura 11: b′ ≥ a + 2 · ht ; ′ na faixa
a + b′
central.

Nos casos acima, a+2·ht deve ser substituído


por b′ se a + 2 · ht for maior que b′ (Figura 12).

Figura 14: Comprimento de Ancoragem.

Os parágrafos anteriores asseguram que sob


nenhuma hipótese a armadura deverá ser in-
terrompida antes da face externa da laje.

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4.3 Lajes Apoiadas sobre Estacas 4.3.2 Caso Geral

4.3.1 Laje Sobre Duas Estacas A armadura inferior para balancear o momento
etor pode consistir parcialmente de barras po-
A armadura inferior deverá ser estendida, sem sicionadas em faixas sobre as estacas.
nenhuma redução em área de aço, por todo o Os arranjos de armaduras a seguir podem
comprimento da laje. Esta deverá ser ancorada ser adotados quando as estacas são posiciona-
além do plano vertical do eixo das estacas, de das nos vértices de um polígono regular, com
modo que resista a uma força de tração igual um pilar centrado.
a 0.8 vezes a força de tração de cálculo das
armaduras (Figura 15).

Figura 17 Figura 18

Figura 15: Laje sobre duas estacas.

Essa recomendação está de acordo com a que


lida com o posicionamento da armadura prin-
cipal de vigas-parede. Figura 19
A armadura inferior poderá ser distribuída
em múltiplas camadas e a ancoragem poderá A armadura deverá sempre ser arranjada de
ser ampliada a partir de ganchos 180◦ sobre as tal forma que existam ancoragens adequadas
estacas (Figura 16) além das estacas.
Pode se considerar que isso é garantido
quando a armadura que cruzar a superfície
concêntrica com raio equivalente a 3x o raio
da estaca desta pode suportar uma força de
tração igual a 0.8x a reação característica da
estaca.
Neste cálculo, somente barras que são anco-
radas após o eixo da estaca podem ser levadas
em consideração (Figura 20).

Figura 16: Ancoragem das armaduras em duas


camadas (a) e com gancho 180◦ (b).

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a uma das seções da laje limitada pela seção
de referência S2 denida no item seguinte.
Para laje suportando uma parede, o cortante
de referência é avaliado por unidade de com-
primento da laje.

6.2 Seção de Referência S2


6.2.1 Caso Geral

A seção de referência S2 é perpendicular à su-


perfície de contato da laje com o solo, e sua
Figura 20: Superfície para ancoragem reta das largura b2 é dada por:
barras sobre estacas.
b2 = b + h

5 Condições Aderência onde b é a dimensão do pilar medida na direção


de
horizontal paralela à seção e h é a profundidade
para a Armadura Inferior efetiva da laje tomada na face do pilar (Figura
em Lajes Apoiadas Sobre 21).
o Solo

Denições:
T1∗ = Força cortante de cálculo na seção de
referência S1 (por unidade de comprimento).
n = Número de barras por unidade de com-
primento.
A condição governante é:

T1∗ ≤ 0.9 · hnp · τd1

onde τd1

deve ser tomada como sendo 1.8 · σb∗
(para barras de alta aderência).
O valor limitante (relativamente baixo) de

τd1 = 1.8 · σb∗

é obtido a partir de ensaios em lajes quadradas


e pode ser explicado a partir da concentração
de esforços no centro da laje, e os valores de
cálculo T1∗ são determinados com a hipótese de Figura 21: Seção S2 .
existir uma distribuição uniforme sobre toda a
largura da laje. Caso a superfície de contato da laje e a se-
ção transversal do pilar seja quadrada ou cir-
cular, concêntrica e uniformemente solicitada,
6 Resistência ao Cisalha- as propriedades da seção de referência S2 são
mento tais que levam às mesmas vericações de pun-
ção e cisalhamento de lajes.
6.1 Cortante de Referência
Quando lajes são alongadas e submetidas a
reações não uniformes do solo, não deve ser as-
O cortante de referência T ∗ deve ser tomado, sumido que o valor médio do esforço cortante
na superfície de contato, como igual à compo- através da superfície de punção é representa-
nente normal da resultante das forças aplicadas tivo como valor de cálculo.

6
Para laje sob paredes, a largura b2 deve ser Tais lajes podem ser tratadas como vigas lar-
tomada como igual à largura unitária da laje gas.
onde o esforço cortante T será avaliado.
A profundidade efetiva h2 na seção de re-
6.2.3 Lajes Apoiadas Sobre Esta-
ferência S2 é igual à profundidade efetiva da
laje medida através da seção considerada. Se cas Próximas ao Pilar
esta profundidade exceder 1.5x a distância d1 Este caso trata de lajes apoiadas sobre esta-
da laje calculada dessa seção, então a profun- cas tal que uma ou mais estacas encontram-se
didade efetiva h2 deverá ser limitada a 1.5 · d1 . posicionadas total ou parcialmente a uma dis-
Para lajes sobre estacas, a distândia d1 é tância da face do pilar menor que metade da
a distância que separa a seção considerada do profundidade efetiva h da laje (Figura 24).
eixo da estaca mais afastada desta (Figura 22).

Figura 22: Laje sobre estacas.

A seção S2 está situada fora do pilar a uma


distância de sua face igual a metade da pro-
fundidade efetiva h da laje, medida em planta,
com exceção dos dois casos descritos nos pará-
grafos a seguir.
Figura 24: Estacas próximas ao pilar.
6.2.2 Lajes Alongadas

Uma laje alongada é aquela que d, medido da Neste caso, a seção de referência S2 é situada
face do pilar, é maior que 1.5 vezes a largura b na face do pilar.

da laje perpendicular a essa distância (Figura


23).
6.3 Cisalhamento Limite

6.3.1 Lajes Apoiadas sobre o


Solo

A força cortante na seção de referência S2 não


deve exceder os seguintes valores:
15 · b2 · h2 √ p ′
T2∗ = · ρ0 · Rbk
γb
Figura 23: Lajes alongadas. 1.5 · b2 · h2 p ′
T2∗ = · Rbk
γb
Neste caso, a seção de referência S2 relativa
ao esforço cortante é situada na face do pilar e onde ρ0 é a densidade de armadura longitudi-
perpendicular à direção da distância d. nal com referência à seção S2 .

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Aa priedades geométricas da seção e a intensidade
ρ0 =
b2 · h2 ou localização das reações possam produzir cir-
onde Aa é a área de aço da armadura longi- cunstâncias que sejam mais desfavoráveis do
tudinal correspondente à largura b2 da seção que as que ocorrem nas seções de referência.
S2 . Próximo às estacas de quina, por exemplo.
O segundo limite, derivado do primeiro a Neste caso, a força cortante que se aplica à
partir da imposição de ρ0 = 0.01, é dado por seção é igual à reação R∗ da estaca avaliada.
razões de segurança, tal que não há resultados A seção que deve ser checada ao cisalha-
de ensaios com ρ0 ≥ 0.01. mento é situada a uma distância da face da
Ademais, deve ser frisado que grandes den- estaca igual a metade da profundidade efetiva
sidades de armaduras raramente são adotadas, h1 da laje medida a partir da estaca.
A largura b2 é igual à profundidade h1 mais

uma vez que o critério de aderência (Seção 5)
torna-se o fator dominante. a largura da estaca.
A profundidade efetiva h2 é a profundidade

Os valores limites de T2∗ podem ser aumen-
tados caso exista armadura transversal na laje. efetiva da seção previamente denida.
A reação R∗ da estava deve ser no máximo
igual à reação limite Rm∗
dada pela equação:
6.3.2 Lajes sobre Estacas
12 ′ ′ p ′
O cisalhamento de referência T , avaliado nas ∗
Rm = · b · h · Rbk
γb 2 2
seções de referência S2 denidas acima, devem
ser menores ou iguais ao limite Tm dado pela
expressão:
!
25 d p ′
Tm∗ = · 1− · b2 · h2 · Rbk
γb 5·h
onde b2 , h e h2 são dados em 6.2 e d é a dis-
tância máxima da laje medida à estaca mais
afastada da seção S2 .

Seção AA
Figura 26: Cortante em estacas afastadas.
Figura 25: Distância d da seção S2 . O tratamento deste capítulo não se aplica a
lajes apoiadas sobre duas estacas.

6.4 Resistência Local ao Cor-


tante
7 Armadura Secundária

A resistência local ao cortante deve ser veri- A princípio armaduras secundárias distribuí-
cada em qualquer seção da laje onde as pro- das horizontalmente e verticalmente não são

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obrigatórias, com exceção de lajes apoiadas so- 8 Créditos da Tradução
bre duas estacas.
Uma laje sobre duas estacas deve ser provida Este texto é uma tradução livre (não ocial)
de: do Appendix 4 do CEB Information Bulletin
ˆ Em sua porção superior, armadura longi- No. 73 de 1970 - International recommen-
tudinal por todo o comprimento da laje, dations for the design and construction
com área de aço não menor que um décimo of concrete structures feita pelo Engenheiro
da área de aço inferior. Civil Thiago Araujo Macedo em 2023 para
que engenheiros que não dominem a língua in-
ˆ Em suas faces, uma malha de armaduras glesa possam ter acesso aos conhecimentos pre-
verticais e horizontais: sentes no documento original.
A armadura vertical deve consistir de es- Qualquer erro de tradução poderá ser comu-
tribos ao redor das barras longitudinais nicado no e-mail thiagoaramac@gmail.com.
superiores e inferiores Qualquer erro de interpretação do texto ou
A armadura horizontal deve consistir de utilização inadequada das formulações apre-
estribos ao redor da armadura vertical (Fi- sentadas em projetos reais são de integral res-
gura 27). ponsabilidade do leitor.

ˆ A área de uma barra (em cm2 ) é dada pela


expressão:
A = 0.0025 · b · t para barras lisas ou,

A = 0.0020 · b · t para barras nervuradas.


Figura 27: Armaduras para lajes sobre duas


estacas.

Nestas expressões, b′ é a largura da laje e t é


o espaçamento das barras. Se o comprimento
b′ for maior que metade da altura total da laje
ht , então ht /2 deve substituir b′ nas expressões
acima.

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