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CEPPS Centro de Estudos e Pesquisas em Psicologia e Saúde

PSICOLOGIA HOSPITALAR E DA SAÚDE

Profa. Ma. Alaide Degani de Cantone

São Paulo
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CEPPS
QUEM SOMOS

A história do CEPPS Centro de Estudos e Pesquisas em Psicologia e Saúde teve o seu início em
agosto de 1996 quando comecei a desenvolver cursos de extensão cultural em Psicologia
Hospitalar com visita técnica hospitalar. Estive com alunos em visitas técnicas no Hospital São
Cristóvão, Hospital Emílio Ribas, Hospital de Reabilitação da FMUSP, Hospital Sepaco, Hospital do
Coração, dentre outros. Em todos eles foram recebidos com muito carinho pelas responsáveis pelo
Serviço de Psicologia: Clara Nakagawa, Silvia Cury, Heloísa Helena de Araújo Campos, dentre
outras.

Em meados de 2004 dei início ao curso de aperfeiçoamento e de formação em Psicologia


Hospitalar, com 120 horas de carga horária, com estágio hospitalar e supervisão, no Hospital São
Caetano e Hospital Emílio Ribas.

Em outubro de 2004 teve início a primeira turma do Curso de Pós-Graduação em Psicologia


Hospitalar com um corpo docente formado por profissionais de renome da área hospitalar e da
saúde. Foi inicialmente realizado no Hospital São Caetano onde implantei e fui responsável pelo
Setor de Psicologia Hospitalar, de agosto de 2002 a agosto de 2005. Desenvolvi neste hospital
vários projetos dedicados ao paciente, aos familiares e acompanhantes bem como à equipe de
profissionais e funcionários. Em parceria com o Instituto de Ensino São Caetano do Sul, que
angariou brinquedos com os seus alunos, implantamos a Brinquedoteca, onde desenvolvi o Projeto
Acalanto, com cerca de 20 estagiários.

O CEPPS Centro de Estudos e Pesquisas em Psicologia e Saúde, teve início pela crença em que o
psicólogo poderia conquistar espaços não somente na área hospitalar como também em diversos
setores da área da Saúde. Além da crença, muita determinação, firmeza de propósitos, seriedade e
capacidade de superação de obstáculos. Foi fundado em outubro de 2001, devidamente inscrito no
CNPJ sob o nº 04.751.637/0001-70, e registro no Conselho Regional de Psicologia de São Paulo
sob no. CRP SP 2380/J, na 1082a Reunião Plenária de 05/10/01.

Desde agosto de 1996, mais de 3000 alunos de diversas universidades, incluindo um número
bastante significativo de psicólogos que já atuam na área hospitalar e da saúde, participaram dos
cursos e eventos científicos do CEPPS. Temos também psicólogos de outros países em nossos
cursos (Argentina, México, África Central, África Oriental e Peru).

Tivemos a satisfação de conhecer e formar vínculos profissionais e laços fortes de amizade com
pessoas de São Paulo (capital e interior) bem como de outros Estados/Cidades tais como Brasília,
Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Belém do Pará, Espírito Santo, Manaus, Amazonas, Paraíba,
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Bahia, Santa Catarina, Paraná, Curitiba, São Luís do Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais,
Recife, Fortaleza, Cuiabá, dentre muitos outros.

Enfatizo que a formação do profissional, a meu ver, além da graduação, pós-graduação, grupos de
estudos, supervisão, análise pessoal, congressos, simpósios, jornadas etc., se dá primordialmente
através da motivação de cada um, da disponibilidade interna e externa, do talento, da habilidade
no lidar com situações estressoras, da humildade, do bom senso, da disponibilidade em aprender
sempre, do respeito nas relações interpessoais – aspectos importantes da maturidade.

Cerca de 27 anos se passaram desde a primeira turma de curso de extensão em Psicologia


Hospitalar… foram anos de trabalho árduo, privilegiando a seriedade e a excelência no
aprimoramento profissional e pessoal.

A base do CEPPS é a seriedade de propósito, conteúdo teórico rico voltado para a atuação do
psicólogo nas áreas da saúde, corpo docente formado por cerca de 30 profissionais de alta
competência e, na sua maioria, referências na área hospitalar bem como de outros setores da
saúde.

Agradeço aos primeiros alunos que acreditaram na seriedade e competência do CEPPS; aos alunos
em curso, que permitem com que eu continue me aprimorando sempre como profissional e como
pessoa. Agradecimento profundo aos professores do CEPPS, que tenho o privilégio de ter sido
aluna da maioria deles no passado e hoje, são meus parceiros profissionais e, acima de tudo,
amigos, colaborando de forma valiosa nessa trajetória árdua e gratificante: a de contribuir com a
excelência na formação do profissional da saúde. Muito obrigada a todos.

Minha filosofia

“Nada acontece, nenhum passo adiante é dado até que um objetivo seja estabelecido.
Sem objetivos as pessoas se perdem na vida.

Tropeçam, nunca sabem onde estão indo, portanto,


elas nunca chegam a lugar nenhum.

O importante não é onde você estava ou onde está,


mas onde você quer estar”.

David J. Schwartz, PHD.

ALAIDE DEGANI CANTONI


Fundadora e Coordenadora Geral do CEPPS

“Cada momento em sua vida


é um ponto de partida”.
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NOSSO ALICERCE:

“(...) o mais importante em um campo científico não é o acúmulo de conhecimentos


adquiridos, mas a utilização dos mesmos como instrumentos para indagar e atuar sobre a
realidade. Existe uma grande diferença entre o conhecimento acumulado e o utilizado: o
primeiro aliena (inclusive o sábio); o segundo enriquece a tarefa do ser humano”. (José
Bleger)

EMENTA:
O adoecimento seguido de internação hospitalar às vezes perdura por dias, semanas ou meses.
Representa um impacto no continuum de vida do ser humano, tanto do paciente quanto dos seus
entes queridos. A situação hospitalar é totalmente nova e desconhecida para o paciente bem como
para os seus familiares, podendo provocar angústias e diversos tipos de temores.

O indivíduo que necessita de um atendimento hospitalar, seja nos casos de ambulatório, na


condição de paciente externo ou como paciente internado, sofre com as exigências, limitações ou
enquadramentos que a instituição hospitalar impõe.

Justifica-se, pois, que desenvolvamos meios para cuidar dos problemas de natureza emocional do
paciente, com o objetivo de eliminar, modificar ou retardar sintomas existentes; de interceder em
padrões perturbadores de conduta visando promover um crescimento e desenvolvimento positivo
da sua personalidade.

A relevância da realização deste Curso é capacitar profissionais de Psicologia a atuarem na área


hospitalar e da saúde visando minimizar o sofrimento gerado pelo adoecimento, pelo impacto do
diagnóstico (às vezes grave e sem prognóstico de cura) e pela diversidade de tratamentos (por
vezes bastante prolongados e dolorosos).
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COORDENAÇÃO GERAL- CEPPS


ALAIDE DEGANI DE CANTONE - CRP-06/45995-9

• Psicóloga Clínica/Hospitalar/Psicossomática – UNIP (1994)


• Especialista em Psicologia e Saúde – Psicologia Hospitalar – PUC/SP (1997)
• Practitioner em Programação Neurolinguística – SBPN (1997)
• Mestre em Psicologia – Universidade São Marcos (2003)
• Formação em Psicossomática no Instituto Paulista de Psicossomática (1996/1999)
• Fundadora e coordenadora de CEPPS – Centro de Estudos e Pesquisas em Psicologia e
Saúde (2001)
• Membro Titular e Fundador do Centro de Estudos e Pesquisas em Psicologia Hospitalar, do
Hospital das Clínicas, da FMUSP (1998)
• Colaboradora Voluntária da Laramara – Associação Brasileira aos Deficientes Visuais (desde
1998)
• Psicóloga Integrante da Equipe Interdisciplinar do Programa de Atendimento à Saúde
Integral do Adolescente, da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, do Hospital das
Clínicas, na Casa do Adolescente – Pinheiros (1996/2001)
• Coordenadora de Grupos Terapêuticos com Adolescentes, Adolescentes Grávidas, Mães e
Pais Adolescentes e Família, na Casa do Adolescente, no Programa de Atendimento à
Saúde Integral do Adolescente do Estado de São Paulo (1996/2001)
• Membro da Comissão Executiva e Científica do V Congresso Brasileiro de Psicologia
Hospitalar (out/2000)
• Membro da Comissão Organizadora do I Congresso Sul-Mineiro de Medicina Psicossomática
(nov/2000/2001)
• Coordenadora do Projeto “Grupoterapia com Acompanhantes de Adolescentes em
Ambulatório Hospitalar Um fator de proteção, no Ambulatório de Ginecologia da Infância e
Adolescência, da FMUSP (1996/2001)
• Coordenadora do Grupo de Reflexão com a Equipe de Psicologia da Divisão de Saúde
Mental do Hospital Pérola Byington (1998)
• Autora do Projeto para a 3ª Idade “Vivendo os Anos Dourados – Grupos Terapêuticos”, no
CEMIPI, Centro de Saúde Pinheiros (1999)
• Ex-coordenadora de grupos terapêuticos desenvolvendo o projeto “Vivendo os Anos
Dourados” na Liga das Senhoras Católicas (1999)
• Ex-Diretora Cultural da Sociedade Paulista de Psicoterapia de Grupo (2000)
• Membro da Câmara de Cursos de Especialização em Psicologia Hospitalar da Associação
Brasileira de Ensino de Psicologia – ABEP.
• Membro Efetivo da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática – ABMP.
• Membro da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar.
• Responsável pela implantação do Projeto de Humanização Hospitalar e do Serviço de
Psicologia e Saúde no Hospital São Caetano (agosto de 2002 a agosto de 2005).
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• Responsável pela coluna de Psicossomática e Psicologia Hospitalar do site


www.redepsi.com.br
• https://www.redepsi.com.br/category/colunistas/psicologia-hospitalar-e-psicossom-and-
aacute-tica14/

• Pesquisadora científica cadastrada no CNPq.


• Responsável pela Coordenação do CEPPS Centro de Estudos e Pesquisas em Psicologia e
Saúde desenvolvendo palestras / workshops quinzenais, cursos de extensão cultural,
aperfeiçoamento e pós-graduação com temas relacionados à área hospitalar e da saúde.
• Coautora do livro Contribuições à Psicologia Hospitalar: Desafios e Paradigmas, Editora
Vetor, 2008, SP.
• Autora de vários trabalhos relacionados com a área da Saúde, apresentados em congressos
no Brasil e exterior.

Publicações sobre Adolescentes:

“Grupoterapia com Adolescentes em Ambulatório – Um fator de Proteção”


(Revista de Psicologia Catharsis, Dez/97)

“Autoestima e Autoimagem e suas Implicações na Adolescência”


(Revista de Psicologia Catharsis, maio/99)

Trabalho com grupos terapêuticos na matéria “Só entre nós”


(Revista Emoção e Inteligência, fev/2000, p. 52)

“Atendimento Integral à Saúde do Adolescente – Grupos Terapêuticos


com Adolescentes na Área Hospitalar – Um fator de Proteção – Uma relação de afeto”.
(Livro dos Anais da VII Semana de Psicologia da Universidade Ibirapuera,
2000, p. 45 a 57)

“Gravidez na Adolescência e suas Implicações numa visão Psicossomática”


(Revista de Psicologia Catharsis, maio/junho 2001)

Resenha: SCHILLER, Paulo. A vertigem da Imortalidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
166p. – Resenhado por CANTONE, Alaide Degani de. 2002. Tipo de texto: acadêmico
(Site: www.redepsi.com.br)

“Um Estudo sobre Aspectos Mãe-Filha na Ocorrência da Gravidez na Adolescência”. Dissertação


(mestrado) apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade São Marcos,
São Paulo, 2004. 220p.
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“O ADOECER NA VISÃO DA PSICOSSOMÁTICA”

“O adoecimento do ser humano é uma das formas de expressão


quando ele se encontra no limiar do sofrimento.
Cabe ao profissional da área da Saúde, buscar compreender
essa forma de linguagem.
Foi a única maneira que o paciente encontrou para dizer
que ele não está absolutamente, conseguindo lidar,
com um certo equilíbrio,
com as situações difíceis da sua vida.

(A.D. Cantone)
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SAÚDE

✓ Ausência de sinais de sofrimento do organismo não é igual à saúde.


✓ Saúde não é somente ausência de enfermidade.
✓ Não é um estado que o indivíduo obterá ou perderá de uma vez por todas.
✓ Não está ligado a um desenvolvimento tão rápido e tão longo ou de algumas de suas
características.
✓ O conceito de saúde não pode nunca ser um conceito estatístico.

SAÚDE MENTAL

Capacidade que o ser humano tem de viver:


✓ Dentro dos limites impostos por seu físico
✓ Com outros seres humanos
✓ Sentindo-se feliz
✓ Produtivamente
✓ Sem se sentir um estorvo

NORMALIDADE

✓ uma personalidade bem integrada é quando há uma adaptação crítica que pressupõe um
ponto de vista histórico, religioso, social e antropológico;
✓ segue um objetivo próprio e tem um propósito de vida assim como ideais os quais deseja
realizar e mobiliza ações em direção ao seu propósito de vida

O QUE É A DOENÇA

✓ não é algo que vem de fora e se superpõe ao homen


✓ é um modo peculiar da pessoa de expressar em circunstâncias adversas
✓ é, como suas outras manifestações, um modo de existir, ou de coexistir, já que o homem
não existe, coexiste.
✓ o ser humano não e um sistema fechado
✓ todo o seu ser se comunica com o ambiente, com o mundo
✓ silêncio – também uma forma de comunicação
✓ os problemas do ser humano são amplos: dor, sofrimento, abandono, desamparo, angústia
✓ cada indivíduo se manifesta de forma peculiar diante da vida
✓ atitudes do cotidiano, maneira de vestir, falar, comportar  adoecer
✓ conhecer o doente  ir além da doença
✓ perceber a pessoa como um todo dentro da sua história, suas aspirações, seus medos, sua
vida, seu modo de adoecer.
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PSICOSSOMÁTICA

✓ filosofia de trabalho
✓ plano de vida
✓ postura profissional
✓ filosofia de vida
✓ posicionamento do profissional diante dos pacientes e pessoas
✓ postura de humildade
✓ redução do desejo de poder
✓ aceitar o paciente – ser – humano - com suas qualidades e dificuldades – como um ser em
experiências na vida – respeitá-lo

“Toda pessoa carente de saúde é, antes de tudo,


uma PESSOA, mesmo quando as suas condições físicas e psíquicas o pareçam negar...”

(Mezomo – I Congresso Brasileiro de Humanização do Hospital e da Saúde. SP, 1980)

“Ninguém é o que quer, senão, na realidade, o que pode.”


A evolução do ser humano tem início na gestação,
no amor com que o pai e a mãe geram um filho;
como este nasce e o que ocorre antes,
durante e após o nascimento,
na forma como é criado um mundo externo facilitador e acolhedor
ou rejeitador e frustrante.

Os pais, a família, a sociedade,


estruturam ou desestruturam o indivíduo.

O homem seria então, uma unidade biopsicossocial


em constante evolução.
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O SIGNIFICADO DA HOSPITALIZAÇÃO
PARA O PACIENTE E FAMILIARES

O indivíduo que necessita de um atendimento hospitalar, seja nos casos de ambulatório, na


condição de paciente externo ou como paciente internado, sofre com as exigências, limitações ou
enquadramentos que a instituição hospitalar impõe.

É fato sobejamente conhecido que, em se tratando de hospitais públicos, a situação de submissão


a que o paciente tem que se expor, desde o enfrentar filas, aceitar a rotina imposta nas consultas e
encaminhamentos e acatar os tratamentos impostos, com as dificuldades a enfrentar pelas
prescrições medicamentosas, muitas vezes de difícil aquisição pelo paciente, se faz presente.

No caso de internação, o paciente tem de abdicar da companhia dos familiares, podendo até perder
a sua identidade pessoal, passando, muitas vezes, a ser um número de prontuário ou um indivíduo
com tal órgão comprometido, nem sempre tratado pelo nome e de forma humanizada.

O fato dos pacientes, em sua maioria, serem contribuintes previdenciários, não o exime de passar
por situações desagradáveis geradas pelo fato das instituições públicas nem sempre corresponder
às necessidades reais dos que dela precisam, muitas vezes com falta de funcionários, condições
materiais inadequadas ou assistência precária.

Vemos assim que a saúde da população exige, da equipe de saúde, uma revisão de seus valores
acadêmicos, pessoais e até sócio-políticos. Poderíamos aqui falar também das intermináveis filas
que o indivíduo tem de enfrentar para cuidar de sua saúde; ou da submissão a que o paciente tem
que ficar sujeito ao aceitar as diferentes formas de intervenções e exames.

CHIATTONE (1984), critica a situação vivenciada por muitos hospitais que investem recursos na
hospitalização, porém apresentam uma desumanização no atendimento.

“O doente passa a ser uma peça de engrenagem e a doença é encarada como um desajuste
mecânico. O homem é despojado de seus aspectos existenciais para se tornar um objeto, um
número de leito ou de prontuário, uma síndrome ou órgão doente. Ao ser doente, resta assistir ao
total aniquilamento de seus direitos existenciais – o direito de ser, de existir quanto pessoa.”

O paciente, assim como seus familiares, tem que se sujeitar às imposições administrativas e
técnicas, nem sempre podendo saber o que se passa com o seu corpo, qual tratamento está sendo
feito. Muitas vezes, o paciente é o último a saber das suas condições de saúde. Não tem acesso às
informações, e não pode participar ativamente de sua própria recuperação.

Dessa forma, o relacionamento dos profissionais da saúde não é com a pessoa em si, mas sim com
aquilo que tem ou sofre: com a doença.
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No momento em que é internado, o paciente tem na sua história pessoal, um momento de cisão do
seu cotidiano, o que gera uma série de problemas para a sua autonomia e transcurso normal de
vida.
São muitos os fatores que contribuem para o surgimento de desgostos e descontentamentos,
resultando em sofrimento, sensação de abandono, medo do desconhecido.

A situação hospitalar é totalmente nova e desconhecida para o indivíduo podendo provocar


fantasias e temores.

Muitas vezes, a pessoa encara a doença como uma agressão externa, uma punição, ocasionando
sentimentos de culpa.

BASAGLIA (1968), quanto à rotulação do paciente, assim se expressa:

“... se torna necessário enfocar esse doente de um modo que coloque entre parênteses a sua
doença. A definição da síndrome já assumiu o peso de um juízo de valor, de um rótulo, que vai
além do significado real da própria enfermidade. O diagnóstico tem o valor de um juízo
discriminatório, o que não significa que procuremos negar o fato de que o doente seja, de alguma
forma, um doente. É este o sentido de colocarmos o mal entre parênteses, ou seja, colocar entre
parênteses a definição e o rótulo. O importante é tomar consciência daquilo que tal indivíduo
representa para mim, de qual é a realidade social em que vive, qual o seu relacionamento com
essa realidade.” É necessário lembrar que, antes de ser um doente, ele é uma pessoa que está
doente.

A internação é uma ruptura na história do indivíduo, pois ele percebe que não é mais o mesmo. Há
um sofrimento diante da imagem de si mesmo, já alterada. O hospital tem uma função separadora,
pois separa o indivíduo da sua família.

Quanto à internação e à perda da autonomia, SEBASTIANI (1984), afirma:


“... o fato de ter sido levado ao hospital e ser internado já implica por si só uma quebra do domínio
sobre si mesmo, pois, neste caso, passará de uma situação de vida como agente, para uma
situação de paciente, tanto no sentido psicológico quanto no orgânico.”

O próprio processo de internação poderá ser sentido como agressão, pois a instituição reforça a
condição de dependência do portador de uma doença, impondo-lhe roupas, camisolão, pijama
típico de hospital, decidindo tudo ou quase tudo pelo paciente. Sabe-se que muitas vezes que
essas imposições são necessárias para o funcionamento viável de uma instituição, porém o
criticável é a forma despersonalizante como isso pode ser feito.

“... a nova situação o colocou fora de sua história, ficando alienado, estranho para si mesmo. O
suceder de sua vida paralisou-se, a percepção não consegue ler a realidade e o futuro está vazio.
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PERESTRELLO (1982) relembra que antigos conceitos negavam as implicações psicológico-


emocionais, assim como a subjetividade da vida emocional, implícita nos relacionamentos
interpessoais e dentro de uma visão organicista, o relacionamento médico-paciente se restringia ao
questionamento da queixa da doença, sua evolução, sua história, sem que se buscasse a reação
emocional.
No entanto, a pessoa é única, com impressões digitais que a distinguem de qualquer outra. Possui
uma fisionomia diferente dos outros, assim como suas próprias formas de viver, de conviver, de
agir, de reagir, tendo uma configuração [única e um funcionamento e um modo de adoecer
também próprios.

Segundo Perestrello (1982):

“A doença não é algo que vem de fora e se superpõe ao homem, e sim um modo
peculiar da pessoa se expressar em circunstâncias adversas. É, pois, como suas outras
manifestações, um modo de existir, ou de coexistir, já que o homem não existe,
coexiste. E como o ser humano não é um sistema fechado, todo o seu ser se comunica
com o ambiente, com o mundo, e mesmo quando, aparentemente não existe
comunicação, isto já é uma forma de comunicação, como o silêncio, às vezes, é mais
eloqüente do que a palavra.”

Seguindo o pensamento de Perestrello, dizemos também que os problemas do ser humano são
amplos, desde a dor, o sofrimento, o abandono, o desamparo, a angústia, e cada indivíduo se
manifesta de um modo pessoal diante da vida, pelas atitudes do cotidiano, pela maneira de falar,
de se vestir e se comportar, assim como pela manifestação de sua doença.

Cada pessoa tem uma história singular, tendo necessidade de contar e ressignificar, ou seja,
reprocessar sua história. Na história singular estão contidas os conteúdos inconscientes, sua
sexualidade, suas condições socioeconômicas. Dessa forma, conhecer o doente vai além do
entendimento da sua doença, pois vai abranger a pessoa como um todo, sua história, suas
aspirações, seus medos, enfim, a sua vida e seu modo de adoecer.

“A saúde é um processo a ser adquirido e conquistado em todos os momentos da vida, assim como
as potencialidades para as realizações. Pode-se dizer que ser saudável é uma conquista contínua e
não algo definitivo e eterno”.
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ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NA ÁREA HOSPITALAR

1. Assistência psicológica - psicoterapia, apoio, suporte psicológico:


- na atividade de assistência psicológica ao paciente de ambulatório e/ou internados
- avaliação e/ou psicodiagnóstico
- apoio/suporte psicológico à família e equipe

2. Consultoria e Interconsulta:
- Não é psicoterapia.
- Conversar, ouvir e fazer o outro profissional perceber o seu paciente
- Investigar as dificuldades que estão obstruindo a relação
- Harmonizar relações

3. Ensino:
- Reflexão crítica sobre a atuação
- Orientação e supervisão
- Estágios e cursos
- Treinamentos

4. Psicologia Preventiva
- funcionários
- comunidade

5. Pesquisa
- trabalho documentado, relatado, dando origem à produção de conhecimentos
teóricos e práticos.
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A EQUIPE MULTIPROFISSIONAL/INTERDISCIPLINAR

“A arte de viver
É simplesmente arte em conviver...
Simplesmente, disse eu?
Mas como é difícil!”

(Mário Quintana)

O conhecimento da atuação de cada profissional é condição indispensável para a implantação eficaz


de um serviço de psicologia; é imprescindível que o psicólogo conheça as atribuições de assistente
social, de nutricionista, do fisioterapeuta etc.

É a partir deste conhecimento que o serviço de psicologia poderá inserir-se no contexto hospitalar,
indo de encontro aos objetivos institucionais, sem o perigo de perda da unidade multidisciplinar.
O hospital é um espaço no qual o psicólogo muitas vezes terá, em circunstâncias diversas,
momentos em que lhe será exigido constante revisão de seus propósitos para que a sua atuação
não se perca isoladamente dentro deste contexto.

A equipe multiprofissional formada por médicos, em suas diversas especialidades, residentes


acadêmicos, enfermeiros, assistentes sociais, nutricionistas, fisioterapeutas ocupacionais,
psicólogos e outros, deverá atuar como um grupo junto aos pacientes e aos familiares.

No trabalho em equipe multiprofissional há a necessidade de uma inter-relação entre os diferentes


profissionais, os quais devem ver o paciente como um todo, numa atitude humanizada. Faz-se
necessário também que o psicólogo transmita seus conhecimentos e percepções do paciente aos
demais membros da equipe, a fim de que estes possam ter uma visão integral do paciente.

Dessa forma, o psicólogo hospitalar, trabalhando em equipe, precisa buscar conscientizar os


demais membros da equipe para o trabalho interdisciplinar, ajudando cada profissional a ter claras
as suas funções, definindo os seus objetivos, facilitando a comunicação entre os membros da
equipe, sendo, muitas vezes, o interlocutor entre os membros da equipe entre si e com os
pacientes e familiares.

O psicólogo buscará alertar os profissionais para a necessidade do conhecimento das atividades dos
outros membros da equipe, trocando informações e buscando atender o mais completamente
possível o paciente.

É conveniente que o psicólogo esteja atento e colabore para o trabalho interativo, contribuindo
para o saber multidisciplinar, facilitando as inter-relações.
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O psicólogo, para facilitar o trabalho interacional, pode organizar grupos para reuniões científicas,
discussões de casos clínicos, buscando aperfeiçoar o atendimento aos pacientes, através da
estruturação de condutas discutidas em equipe. Muitas vezes, há a necessidade de
esclarecimentos, trocas de informações e conhecimentos que permitirão aos profissionais
prepararem melhor o paciente com informações esclarecedoras.

O psicólogo, tendo uma visão integrada do paciente, considerando os aspectos físicos e


emocionais, poderá, junto com a equipe, efetivar as atividades de diagnóstico e de terapia,
detectando os aspectos mais fantasiosos ou irreais que estejam interferindo no aparecimento da
doença, na sua evolução e no processo de recuperação.

É conveniente que junto com a equipe multiprofissionais, o psicólogo discuta os casos ou situações
emergentes no ambulatório e enfermaria, visando melhor compreensão da situação do paciente,
criando espaço para as manifestações emocionais do paciente e sua família.

É de interesse que o profissional conquiste a confiança dos outros profissionais, indicando a


possibilidade de atendimento psicológico, colaborando e mostrando o que pode fazer, achando para
isso, uma linguagem comum, e procurando conhecer a linguagem dos outros profissionais.

É necessário que o psicólogo tenha uma boa relação interpessoal com as chefias e outros
profissionais, mostrando-se flexível, sem perder o aspecto profissional.
Outro aspecto também importante na atuação do psicólogo hospitalar é quanto às outras áreas da
saúde, na medida em que enfoque a interação humana de maneira científica e humanizada,
informando, quando necessário, sobre a existência de variáveis relevantes e de controle, no
relacionamento profissional-paciente, e, sempre que necessário, ajudar ma reflexão sobre as
dificuldades e problemáticas nesse relacionamento.

Cabe, portanto, ao psicólogo hospitalar, dar assistência à equipe profissional, pois sabemos que os
Profissionais de Saúde sofrem um desgaste muito grande no seu trabalho com o doente.

O trabalho em equipe, além de acrescentar conhecimentos e dividir ansiedades, favorece o


surgimento de soluções e todo o trabalho feito nesse sentido, beneficiará sobremaneira a promoção
de uma melhoria na qualidade de vida do paciente.

É indispensável que a equipe de saúde concentre esforços no sentido de humanizar as condições do


paciente durante o processo de hospitalização. O vínculo do paciente com a equipe de saúde
apresenta especificidades que não podem ser excluídas na estruturação do serviço de psicologia no
hospital.
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O relacionamento do paciente com a equipe de saúde deve ser permeado por uma compreensão de
que os profissionais que atuam no setor estão comprometidos entre si com um objetivo comum: o
seu próprio restabelecimento. O desconhecimento dos limites de atuação de cada profissional pode
gerar no paciente uma incerteza muito grande sobre este processo de restabelecimento.

O paciente hospitalizado faz parte de modo indissolúvel do contexto hospitalar sendo cuidado desta
forma, pela totalidade dos profissionais do setor. Um relacionamento precário entre o paciente e a
equipe de saúde pode determinar inclusive sofrimento ao paciente que transcende à própria
enfermidade.

É papel do psicólogo atuar para que esse relacionamento ocorra de maneira satisfatória, intervindo
de modo a levar esses profissionais a uma constante reflexão sobre as atitudes a serem adotadas
para que o setor funcione num ponto ideal de harmonia.

PSICONEUROIMUNOLOGIA
Uma nova visão da inter-relação mente-corpo

Atualmente muitos pesquisadores vêm estudando possíveis efeitos de estados emocionais na


modificação hormonal resultando na alteração no Sistema Imunológico (Bobjerg, 1990).

SISTEMA IMUNOLÓGICO

O sistema imunológico ou sistema imune é de grande eficiência no combate a microorganismos


invasores. Mas não é só isso; ele também é responsável pela “limpeza” do organismo, ou seja, a
retirada de células mortas, a renovação de determinadas estruturas, rejeição de enxertos, e
memória imunológica. Também é ativo contra células alteradas, que diariamente surgem no nosso
corpo, como resultado de mitoses anormais. Essas células, se não forem destruídas, podem dar
origem a tumores.

Células do sistema imune são altamente organizadas como um exército. Cada tipo de célula age de
acordo com sua função. Algumas são encarregadas de receber ou enviar mensagens de ataque, ou
mensagens de supressão (inibição), outras apresentam o “inimigo” ao exército do sistema imune,
outras só atacam para matar, outras constroem substâncias que neutralizam os “inimigos” ou
neutralizam substâncias liberadas pelos “inimigos”.

Além dos leucócitos, também fazem parte do sistema imune as células do sistema mononuclear
fagocitário, (SMF) antigamente conhecido por sistema retículo-endotelial e mastócitos. As primeiras
são especializadas em fagocitose e apresentação do antígeno ao exército do sistema imune. São
elas: macrófagos alveolares (nos pulmões), micróglia (no tecido nervoso), células de Kuppfer (no
fígado) e macrófagos em geral.
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Em 1981, a publicação do livro de Robert Adler, denominado Psiconeuroimunologia deu início a


uma nova disciplina que congrega a pesquisa científica do complexo campo das interligações entre
sistemas endócrino, imunológico e nervoso.

Na sua amplitude maior, a Psiconeuroimunologia visa estudar a inter-relação mente-corpo através


dos mecanismos pelos quais os sistemas psicológicos e fisiológicos se comunicam.

O stress é um estado de sobrecarga do organismo em resposta as influências ambientais: o ser


humano está em constante interação, uma vez que essas interações contínuas frequentemente
envolvem situações em que nos deparamos com ameaças ou então temos que adotar súbitas
mudanças do meio ambiente sendo cada reação uma variante de acordo com a percepção que o
indivíduo tem do evento ocorrido podendo esse manifestar um estado de stress ou não.

O fenômeno do stress ocorre quando uma ou diversas variáveis do organismo são forçadas ao
extremo o que induz a algumas mudanças fisiológicas como garganta apertada, respiração
superficial, pulsação acelerada entre outros com o objetivo de preparar o organismo para lutar ou
fugir. Uma vez passada a situação o organismo volta ao seu estado de relaxamento.

Entretanto quando a resposta de luta ou fuga é prolongada, exigindo uma grande ativação do
organismo, a saúde é prejudicada. O desequilíbrio contínuo causado pelo estado de stress crônico
pode gerar sintomas físicos e psicológicos, dentre esses vários aspectos vamos estudar as
influências do stress no sistema imunológico.

A avaliação das situações, fatos ou eventos decorrentes em nossas vidas irá depender de uma
série de fatores como as experiências vividas, o momento existencial do sujeito e o próprio
desenvolvimento do aparelho psíquico, questões essas que são de uma singularidade muito pessoal
e individual, onde devem ser respeitadas as interações do sujeito com o mundo externo e também
com seu mundo interno, dados os diferentes ângulos de percepção que o sujeito possa vir a ter
tornando determinado evento estressante ou não.

O ser humano abrange uma complexidade onde seus aspectos físicos e mentais estão inserido em
um estado de interação simbiótico, essa interação já era descrita pr Aristóteles “psique (alma) e
corpo reagem um com outro, uma mudança no estado da psique produz uma mudança no corpo e
vice-versa”, sendo assim podemos dizer que todas as doenças tem seus aspectos psicológicos, que
devem ser levados em consideração, não só a doença mas todo o processo de adoecer, a patologia
passa então a ser interpretada como algo que não está “ funcionando bem’’ tanto em suas
características físicas como mentais, adoecer também é a expressão de um estado psíquico atípico
como se o sujeito expressa-se através do soma (corpo) seus males psíquicos.

É plausível de observação que o adoecer está intimamente ligado com a capacidade do sujeito lidar
com suas emoções e sentimentos, a manifestação dos sintomas é um sinal de que algo não vem
fluindo bem há algum tempo, esses sintomas a quebra dos limites. As alterações emocionais estão
18

presentes, antes e durante o curso da patologia, podendo estas alterações emocionais ser dos mais
diversos cunhos, seja um sentimento de insegurança, retraimento social, dificuldade para
expressar seus sentimentos sensibilidade afetiva muito aumentada, e capacidade de lidar com
perdas e frustrações.

Podemos assim então interpretar que a manifestação somática está interligada de maneira muito
próxima a tentativa de manter o prazer, resgatar algo que se perdeu, que tem medo de perder ou
na manutenção de algo em alguém que se quer para o futuro.

PERSONALIDADE E CÂNCER

Por acreditar na relação mente-corpo, alguns autores passaram a estudar possíveis contribuições
psicológicas no aparecimento e na evolução do câncer.

A relação entre o estresse, depressão e enfraquecimento do Sistema Imunológico foi amplamente


analisado por Le Shan (1992), Simonton, Simonton e Creighton (1987), pode ser observado o
desenvolvimento de formações tumorais em pacientes exposto a tal fatores emocionais e
orgânicos.

Câncer ou enfermidade oncológica são denominações utilizadas para descrever um grupo de


doenças que se caracterizam pela anormalidade das células e sua divisão excessiva. Segundo o
oncologista inglês Willis, neoplasia ´´é uma massa anormal de tecido, cujo crescimento excede
aqueles dos tecidos normais e não está coordenados com eles”.

Segundo Yamaguchi (1994) a oncologia é a ciência que estuda o câncer e como ele se forma,
instala-se e progride, bem como as modalidades possíveis de tratamento. O médico que cuida dos
aspectos clínicos é chamado de oncologista clínico. Além deste, outros profissionais envolvidos no
tratamento são o cirurgião oncológico, o radioterapeuta e o psicólogo, que participam de uma
equipe multidisciplinar.

Existe uma grande variedade de tipos de câncer: o carcinoma, que surge nos tecidos epiteliais; o
sarcoma que ocorre nas estruturas de tecidos conectivos, como ossos e músculos; a leucemia que
origina na medula óssea e afeta o sangue; o melanoma que é um câncer de pele, e muitos outros
(Carvalho, 2000).

Todos os diferentes tipos de câncer, provavelmente não têm uma única causa, mas sim uma
etiologia multifatorial (Huges, 1987).
19

Para que a doença ocorra, parece ser necessária uma operação conjunta de vários fatores tais
como, a predisposição genética, exposição por fatores ambientais de risco, contágio por
determinados vírus, o uso de cigarro, a ingestão de substâncias alimentícias cancerígenas, e
muitos outros (Trichopoulos, Li & Hunter, 1996).

Segundo Carvalho (1994) a respeito da influência da estrutura da personalidade no surgimento e


no desenvolvimento do câncer, os dados encontrados na literatura são abundantes e muitas vezes
contraditórios. Este pesquisador fez um levantamento bibliográfico (Le Shan, 1997); Luc Dougall,
1991; Marty, 1993; Temoshok, 1992; e outros e concluiu que, se existirem personalidades
predisponentes ao câncer, este fato indica possibilidade de um trabalho psicoterápico importante
de prevenção.

Seriam pessoas pertencentes ao grupo de maiores possibilidades de adoecerem de câncer, aquelas


consideradas do tipo C, denominação criada por Temoshok.

Diferentes do tipo A (que teriam tendências a doenças cardíacas), as do tipo C não tem crise de
raiva, parecem relaxadas, não são competitivas. Mas sob essa superfície calma, haveria uma
grande dificuldade de autoafirmação, raiva não expressa, ansiedade e sentimentos reprimidos e
uma profunda desesperança. E as histórias de vida de muitos pacientes pesquisados revelaram
infâncias marcadas por negligência, abandono e isolamento com fortes sentimentos de perdas.
Simontom observou que pacientes oncológicos possuem um histórico um histórico que a priori
demonstra uma grande dificuldade de expressar suas emoções sobretudo aquelas agressivas e
hostis. Segundo Leshan freqüentemente esses pacientes oncológicos tiveram sua juventude
marcada por sentimentos de isolamento, desespero ou negligência com relações interpessoais com
características difíceis e que geralmente na vida adulta conseguiram estabelecer um
relacionamento significativo com alguém ou encontraram grande satisfação no trabalho, de forma
que uma pessoa ou um trabalho passou a ser o centro de suas vidas. Sempre que esse
relacionamento era rompido ou trabalho perdido por qualquer razão havia como conseqüência uma
reação de desespero.

Na superação do luto há uma escolha de um novo objeto de amor, substituindo o objeto perdido,
na melancolia não existe a eleição de um novo objeto. No luto o mundo tornou-se vazio, na
melancolia o que se tornou vazio foi o próprio ego propiciando a retirada da libido para o eu. A
energia libidinal identifica-se com o Ego, fazendo com que o sujeito regrida a uma questão
narcísica primária, tornando esse Ego indigno de qualquer investimento de libido, promovendo
assim uma agressão narcísica.
20

Diariamente produzimos milhares de novas células, dentre elas algumas nascem com algum tipo
de alteração no seu padrão genético, frente a isso o sistema imunológico é ativado e destrói essas
células, ditas anormais, pois estas são reconhecidas como não Ego. Frente disso o oncologista de
radiação Carl Simontom levantou a seguinte questão: “O que impede que o sistema imunológico de
uma pessoa, num determinado momento, reconheça e destruas células anormais permitindo
assim, que elas cresçam e se convertam num tumor que ameaça a vida?”

Só conseguiremos responder a essa questão e tantas outras quando estivemos maior consciência
da relação mente-corpo. Freud em seu texto Luto e Melancolia (1917), na melancolia não existe a
eleição de um novo objeto. No luto o mundo tornou-se vazio, na melancolia o que tornou-se vazio
foi o próprio Ego propiciando a retirada da libido para o eu. Enfim podemos notar o rebaixamento
da pulsão que todo ser vivo tem de se apegar à vida (desesperança), comprometendo seu
equilíbrio físico e mental.

Apesar de todo o trabalho realizado por Leshan e Simontom e outros autores, segundo Carvalho
(2002), nem todas as pessoas com história de vida e as características citadas acima
desenvolveram um câncer, e nem todos os pacientes apresentaram o mesmo histórico de vida e
personalidade. Estamos lidando com maiorias obtidas através de estatística sabendo que as
conclusões não se referem a todos os casos. E não temos um conhecimento de conexão dos
processos psicológicos mais profundos.

Um dos pontos mais críticos e desafiadores para os oncologistas é o prognóstico. Esses são
estabelecidos através de dados estatísticos referentes àquele tipo de câncer, naquele órgão e
naquele grau. O que o médico pode saber de cada caso é a porcentagem de tempo de sobrevida ou
de mortalidade.

Como explicar, entretanto, o que ocorre com os 5% que não vem a falecer, em uma probabilidade
de morte? Ou como entender que o mesmo diagnóstico e o mesmo prognóstico podem levar
processos com encaminhamento muito diferentes? São conhecidos casos com prognóstico de
tempo de vida que alcançaram vida longa e casos que chegaram a cura (Carvalho, 2002).

Para a compreensão do ser humano e dos males que o afligem, teremos que romper muitos
dogmas.

E que não podemos percorrer o caminho...


o caminho se faz ao caminhar.
21

O ATENDIMENTO HOSPITALAR À CRIANÇA, AO ADOLESCENTE,


AO ADULTO E AO IDOSO

Há alguns anos atrás, nossa população infantil era bastante numerosa. Mais recentemente, dizia-se
que o “Brasil era um país de jovens”. Hoje, com o progresso da Medicina, sabemos que a
população adulta e, principalmente, idosa, é bastante significativa.

Dessa forma, vemos a necessidade das instituições hospitalares se prepararem para atender a
essas camadas populacionais que, com certeza, mudaram.

Devemos, assim, considerar e nos prepararmos para dar assistência adequada a todos os grupos
nas diferentes fases do desenvolvimento e crescimento, seja o grupo de crianças, adolescentes,
adultos ou idosos.

Pensando no indivíduo como um todo, percebemos que há carência de locais de atendimento e


serviços adequados a cada faixa etária. Sabemos, no entanto, do empenho de certas instituições e
especificamente, de alguns profissionais da saúde, em dar serviço especializado para as diferentes
faixas etárias, por compreenderem que estão vivendo situações de vida diferenciadas.

O atendimento à criança nem sempre é adequado por muitas vezes, em decorrência da doença e
consequentemente, internação, a criança é retirada do meio familiar sem se pensar em substituir
essa carência. Mães e familiares passam a ver a criança apenas nos horários de visitas, o que
certamente, não preenche as suas necessidades afetivas criando, dessa forma, situações de
angústia na família, e, principalmente, na criança.

O profissional pode atuar tentando aliviar o sofrimento da criança quando:


- a criança teme a doença e a hospitalização
- teme um exame ou o medicamento
- teme a equipe de saúde e o próprio ambiente
- quando a criança quer falar de si, da doença, da família
- quando chora a ausência da mãe, da família
- quando se sente abandonada
- quando precisa ser orientada, esclarecida quanto a sua situação no momento
- quando pede explicações sobre um exame
- quando precisa ser preparada para um exame
- quando necessita fazer uma dieta, repouso
- quando necessita ficar no isolamento
- quando a hospitalização é prolongada
- quando a hospitalização é agressiva (exames, condutas, etc)
- quando sente dor
- quando se torna apática
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- quando apresenta distúrbios de conduta


- quando é um paciente terminal
- quando quer e precisa chorar
- quando não recebe visitas freqüentes
- quando necessita de afeto e apoio
- quando se torna rebelde e agressiva
- quando se recusa a brincar
- quando quer falar sobre a morte

O profissional deve atuar procurando:

- incentivar atividades produtivas e expressivas


- levantar e orientar o problema apresentados pelas crianças- diminuir o sofrimento
inerente à hospitalização e ao processo de doença
- melhorar a qualidade de vida do paciente
- fazer com que a criança e a família compreendam a situação de doença e internação
- evitar situações difíceis e traumáticas, sempre que possível
- fazer do paciente e da família elementos ativos no processo
- solicitar a criança para a vida
- aceitar e compreender a criança e a sua doença
- ajudar o paciente e a família a conviverem com a nova situação
- dar espaço para que a criança consiga expressar e elaborar os seus sentimentos

Em relação aos adolescentes, o atendimento hospitalar ainda não é bem desenvolvido no Brasil.
Podemos dizer que há carência de profissionais no atendimento hospitalar para a área ambulatorial
e de enfermaria, assim como há falta de leitos na enfermaria adequados para os adolescentes.
Ultimamente tem se intensificado a responsabilidade social perante os adolescentes e os trabalhos
estão sendo feito salientando suas condições de vida e suas necessidades.

O atendimento ao adulto parece continuar preenchendo as necessidades do ponto de vista


assistencial, médico e, na medida em que outras profissões, inclusive, a dos psicólogos, vêm sendo
solicitadas, está se intensificando o interesse diferenciado por uma abordagem mais global,
multiprofissional.

Quanto ao idoso, a sua freqüência nos hospitais vem crescendo embora ainda encontrem uma
estrutura despreparada para atendê-lo. Nos últimos anos, mais recentemente, estão sendo
desenvolvidos projetos na área da saúde, objetivando dirigir ao idoso as atenções da equipe para o
seu atual momento de vida e buscando, dessa forma, abrir espaços para que haja a promoção da
sua qualidade de vida.
23

ADOLESCENTE E FAMÍLIA

– A Difícil Arte de Adolescer


(*Alaide Degani de Cantone)

A adolescência é uma fase evolutiva na vida do ser humano onde se busca uma nova forma de
visão de si e do mundo; uma reedição de todo desenvolvimento infantil visando definir o caráter
social, sexual, ideológico e vocacional.

Esse processo evolutivo ocorre dentro de um tempo individual e de forma pessoal em que o
adolescente se vê envolvido com as manifestações de seus impulsos intuitivos exteriorizados
através de suas condutas nem sempre aceitas como normais pela sociedade.

Podemos dizer que adolescência é sinônimo de crise, pois o adolescente, em busca de identidade
adulta, passa para o período “turbulento” (variável segundo o seu ecossistema (sociofamiliar).

Segundo a teoria kleiniana, essa fase poderia ser definida como correspondente à positiva
elaboração da posição depressiva.

A esta crise, provocada pela ampla e profunda desestruturação em todos os níveis da


personalidade, segue-se um processo de reestruturação, passando por ocasiões nas formas de
exprimir-se ao longo dos anos.

O eixo central dessa reestruturação é o processo de elaboração dos lutos gerados pelas três perdas
fundamentais desse período evolutivo:

1. Perda do corpo infantil:

Nessa fase, o adolescente vive com muita ansiedade as transformações corporais ocorridas a
partir da puberdade, as quais exigem dele uma reformulação de seus mundos interno e externo.
Muitas vezes, as restrições familiares e sociais para controlar esses impulsos, ameaçam tanto o seu
desenvolvimento que chega a causar retardo em seu crescimento e no aparecimento natural das
funções sexuais próprias dessa fase.

2. Perda dos pais da infância:

Os pais, antes idealizados e supervalorizados, passam a ser alvo de críticas e questionamentos.


Dessa forma, o adolescente busca figuras de identificação fora do âmbito familiar.

Nesta fase, se caracteriza a dependência/independência dos filhos em relação aos pais e vice-
versa; é o momento em que o adolescente busca substituir muitos aspectos da sua identidade
familiar por outra mais individual.
24

3. Perda da identidade e do papel sociofamiliar infantil:

Da relação de dependência natural do convívio da criança com os pais, segue-se uma confusão
de papéis, pois o adolescente, não sendo mais criança e não sendo ainda um adulto, tem
dificuldades em se definir nas diversas situações de sua cultura. No caminho para a sua
independência, sentindo-se ora inseguro, ora temeroso, busca o apoio do grupo, que tem
importante função, pois facilita o distanciamento dos pais permitindo novas identificações.

Para atingir a fase adulta, o adolescente deverá fazer uma síntese de todas essas identificações
desde a infância. Essas perdas se elaboram realizando-se verdadeiros processos de luto,
psicanaliticamente falando.

O adolescente exterioriza os seus conflitos e formas de elaboração de acordo com as suas


possibilidades e as do seu meio, com as suas experiências psicofísicas, ocorrendo o que chamamos
de “patologia normal da adolescência”.

Para se compreender e lidar com adolescentes é fundamental que se conheça essa aparente
“patologia”, chamada “Síndrome da Adolescência Normal”, com as seguintes características:

1. busca de si mesmo e da identidade adulta


2. tendência grupal
3. necessidade de intelectualizar e fantasiar
4. crises religiosas
5. deslocação temporal
6. evolução sexual
7. atitudes sociais reivindicatórias
8. contradições sucessivas em todas as manifestações de conduta
9. separação progressiva dos pais
10. constantes flutuações do humor e do estado de ânimo

O desconhecimento das mudanças que ocorrem no processo adolescer


(1. atingir a adolescência; tornar-se adolescente. 2. Crescer; desenvolver-se. 3. Rejuvenescer,
remoçar, juvenecer. (Novo Dicionário Básico da Língua Portuguesa – Folha/Aurélio),
implicará em dificuldades na relação do adolescente com a família, professores e
profissionais, gerando situações de conflito.

Observamos que os adolescentes assim como os seus familiares estão, na maioria das vezes,
desinformados sobre as mudanças que ocorrem nesta fase, gerando, na maioria das vezes,
conflitos na relação e dificuldades na convivência.
Cabe aos profissionais da área da Saúde preencher essas lacunas com informação, orientação
e, sobretudo, acolhimento.
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“Amadurecer é um ato complicado... Perceber a hora de mudar é ainda mais difícil,


mas não tanto se encontramos uma certa figura capaz de abrir nossos olhos e
mostrar que as possibilidades de vida são ilimitadas...”
(encontrado no diário de uma menina de 12 anos)

GERIATRIA E GERONTOLOGIA

A velhice representa uma aproximação com a morte. Cronologicamente a pessoa está mais
próxima da morte física e isto provoca uma exacerbação da angústia existencial. Por mais que a
idade faça o idoso pensar na sua finitude, o hospital e a doença trazem à tona esta questão da
morte, que nem sempre está disposto a enfrentar, assim como a família e a equipe mal preparada.

O avanço científico no tratamento ao idoso têm apresentado benefícios incontáveis à longetividade


dos pacientes com muita idade propiciando-lhes uma vida mais saudável, digna e com crescente
boa qualidade.

Geriatria, segundo conceito de Pietro de Nicola (1986), significa a medicina do idoso


correspondendo assistência médica, prevenção de doenças, assistência psicológica, assim como
socioeconômica.

A Gerontologia estuda as causas do envelhecimento do homem e suas conseqüências biológicas,


médicas, psicológicas e socioeconômicas (mesmo autor).

Classificação das faixas etárias do idoso:

• 45-60 anos: idade do meio – idade crítica – idade pré-senil – idade do primeiro
envelhecimento
• 60-70 anos: senescência gradual
• 70-90 anos: velhice conclamada
• acima de 90 anos: grande idoso ou longevo
26

ATENDIMENTO NA UTI - O PAPEL DO PSICÓLOGO NA UTI

A UTI (Unidade de Terapia Intensiva) é um local do Hospital que visa beneficiar o paciente
hospitalizado dentro de uma situação de proteção máxima.

São pacientes que necessitam de cuidados intensos, tanto no que diz respeito a aparelhos
hospitalares com alta tecnologia assim como de profissionais que na medida do possível busquem
garantir com a máxima eficiência a vida.

O psicólogo hospitalar estará atuando:

✓ nos aspectos vivenciais da equipe (formação, conteúdos vivenciais


e fatores estressantes da profissão
✓ nos aspectos vivenciais da família: impacto, falta de informação,
incomunicabilidade
✓ nos aspectos vivenciais/situacionais do paciente

Quanto à equipe:
✓ nas relações temporárias de muitos riscos na equipe
✓ nas situações de constante tensão
✓ “sentinelas da morte”
✓ alta rotatividade e absenteísmo
✓ estresse

Fantasias da equipe, quanto ao paciente:

✓ emoção do paciente sentida como fator que comprometeria o


cuidado que a equipe poderia oferecer
✓ “deixar o emocional de lado
✓ “é melhor não mexer com o paciente agora/está dormindo”
✓ Silêncio para não acordar o paciente

Ao profissional caberá indubitavelmente a necessidade de dispor de recursos para lidar com as


situações estressantes da equipe e da família.

Terá que estar coerente com as suas condições orgânicas e emocionais atuais.

Sua forma de atuar será sempre fundamentada em psicoterapia breve, focal, num trabalho de
apoio psicológico, orientação, informação, buscando acima de tudo e sempre, ver o paciente como
um todo buscando da melhor forma possível, melhorar a sua qualidade de vida naquele momento.
27

ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO EM GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA

É uma unidade dentro de um hospital geral e/ou ambulatório que necessita, por parte da equipe de
saúde, uma compreensão específica dos aspectos psicológicos que envolvem questões que afetam
a sexualidade e identidade femininas que sempre permeiam os processos:

✓ doença,
✓ internação
✓ tratamentos
✓ gravidez
✓ parto
✓ puerpério.
✓ ambulatórios de ginecologia e obstetrícia - internação

Maternidade: processo de desenvolvimento da identidade feminina

✓ atuação em grupos de orientação à gravidez, parto e puerpério


✓ planejamento familiar
✓ intervenção focal no pré-parto e pós-parto
✓ gravidez patológica - reflexos emocionais dessa gravidez:
✓ questão de gerar vida x gerar morte
✓ ansiedades, mitos e realidade no acompanhamento à gestante de
✓ alto risco: hipertensão,
✓ diabetes, doenças crônicas, neoplasias, adolescentes,
✓ primigestas idosas.
✓ as questões ligadas à esterilidade e infertilidade: desejo e
✓ impotência, mitos
✓ questões psicológicas da infertilidade

Principais intercorrências na gravidez, parto e puerpério com possibilidades de sérios


reflexos sobre o emocional da pessoa:

✓ abortamentos: espontâneos e provocados


✓ morte neonatal
✓ psicose gravídica
✓ pseudociese (gravidez psicológica)
✓ depressão pós-parto
✓ psicose puerperal
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GINECOLOGIA

✓ DST
✓ Ca ginecológico
✓ problemas afetos à gravidez
✓ menopausa
✓ a desinformação e a submissão ao parceiro

GRAVIDEZ NÃO DESEJADA/NÃO PLANEJADA:

✓ ausência de atitudes de busca de orientação e prevenção


✓ patologia ligadas à má gestão da vida obstétrica
✓ submissão ao parceiro
✓ reprodução do modelo materno
✓ início de vida obstétrica precoce

OS MITOS DA MENOPAUSA:

✓ a idéia de vida em involução


✓ a perda da fertilidade associada à perda da sexualidade (libido)
✓ a desinformação
✓ alterações hormonais, reais e as falsas idéias de “atrofia da sexualidade”
✓ o despreparo da equipe de saúde para abordar e orientar a mulher em
relação à sua saúde, seu corpo, sua sexualidade

SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIAS EM HOSPITAL

O trabalho em emergências na área hospitalar demanda variações nas condições emocionais não
somente do paciente e da família assim como da equipe:

• A relação com questões da morte e do morrer


• O cotidiano do trabalho cercado por vivências ligadas à dor, sofrimento, impotência,
angústia, medo, desesperança, desamparo e perdas (reais e imaginárias)
• A tarefa do profissional da saúde na relação com pacientes poli queixosas, refratárias à
ajuda, agressivas, hostis, autodestrutivas, deprimidas, dependentes e inseguras,
refratárias ao tratamento e à reabilitação.
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• A necessidade de decisões rápidas e precisas, envolvendo às vezes a necessidade de


selecionar pessoas para atendimento ou para utilização de aparelhos hospitalares
• A decisão de uso da vaga hospitalar
• A situação de constante estresse

Para o paciente do Pronto Socorro o que é urgente e emergente num primeiro momento são suas
necessidades básicas que precisam ser atendidas para garantir a sua sobrevivência.

No PS considera-se caso de emergência o paciente que chega em risco iminente de vida.


Realizada essa primeira condição, que é garantir a vida, o paciente é levado a reorganizar-se
diante da nova realidade que se apresenta, ficando sob os cuidados da equipe que visará a
recuperação da sua saúde.

URGÊNCIA OBJETIVA E SUBJETIVA

É necessário diferenciar os dois tipos de urgências para que se defina o atendimento psicológico.

A urgência envolve a imprevisibilidade, as alterações que surgem rapidamente na vida do


indivíduo. As reações psicológicas são as mais variadas, englobando medo, ansiedade,
ressentimentos, abalos na autonomia, sensações de estranheza, alteração da autoestima e na
imagem do eu corporal. Esse quadro fica mais complexo quando o motivo da hospitalização requer
um longo tempo de internação, envolvendo cirurgias e outros procedimentos médicos.

No trabalho com urgências são requeridas do psicólogo hospitalar algumas características pessoais
para que ele lide com as questões emergentes e inesperadas a cada momento com um adequado
equilíbrio emocional visando um trabalho efetivo.

A prática hospitalar é permeada por óbitos que às vezes ele experiência, situações de extremo
desespero, quer do paciente quer dos familiares, sendo requerido do psicólogo:
• Bom senso
• Prontidão interna (habilidade para lidar com situações inesperadas)
• Tolerância à frustração
• Fundamentação teórica
• Redução da onipotência/poder
• Capacidade de conviver em equipe
• Interdisciplinaridade

A situação de urgência é fator estressante para o paciente, para a família e equipe que convivem
com o inesperado a cada momento. Quanto mais preparada e entrosada ela estiver, mais fácil será
abordar o paciente e seus familiares e mais terapêutica será a conduta.
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PACIENTES COM DOENÇAS CRÔNICAS

Entende-se por doença a “desarmonia orgânica ou psíquica que através de sua manifestação
quebra a dinâmica de desenvolvimento do indivíduo como ser global gerando desarmonização da
pessoa; compreende-se esse desequilíbrio como um abalo estrutural na condição de ser dentro de
sua sociocultural”.

Cada vez mais se aprofundam os estudos do adoecimento tanto voltados para o tratamento quanto
às pesquisas.

No Brasil estima-se que atualmente existam cerca de 25 milhões de pessoas portadoras de algum
tipo de patologia crônica. São raras as publicações que enfocam as características comuns em
pacientes com doenças crônicas, enfocando ao contrário, aspectos psíquicos em cada doença
específica.

A prática de saúde instalada no Brasil nos últimos 30 anos foi predominantemente curativa
(prevenção secundária), dando pouca atenção à atenção primária (prevenção) e praticamente
nenhuma à atenção terciária à saúde (reabilitação e cuidados paliativos).

De acordo com Zozaia (1985) doença crônica é qualquer estado patológico que apresente uma ou
mais das seguintes característica:

• que seja permanente


• que deixe incapacidade residual
• que produza alterações patológicas não reversíveis
• que requeira reabilitação
• que necessite períodos longos de observação, controle e cuidados

O indivíduo será considerado paciente crônico se for portador de uma doença incurável. É
importante observar, no entanto, é importante observar que alguns pacientes que têm um longo
tempo de internação procuram manter a cronicidade da doença muitas vezes visando obter
cuidados que fora do hospital não teriam ou ainda, por sentirem necessidade psicológica intensa de
viver dramaticamente um estado crônico que parece ser indispensável ao seu funcionamento
existencial.

Do ponto de vista psicológico, o doente crônico deve ser definido por outros critérios diferentes dos
que se relacionam diretamente com a afecção de que ele sofre ou com as seqüelas das doenças ou
enfermidades que ele apresenta.

Um indivíduo somaticamente “são” ou “normal” pode ser um doente crônico grave, enquanto um
outro indivíduo que apresenta alterações funcionais e lesionais importantes não o é.
31

Segundo estudos de Schneider (1976), entrar na cronicidade da doença implica uma elaboração
psicológica existencial.

A PSICOLOGIA PREVENTIVA
PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA
PROJETO DE VIDA

A higiene mental é um ramo da saúde pública e compreende um conjunto de conhecimentos,


métodos e técnicas para conservar e desenvolver a saúde.

Para Bleger, a carreira de psicologia terá que ser considerada como um fracasso, a partir do ponto
de vista social, se os psicólogos ficam e exclusivamente em sua grande proporção, limitados à
terapêutica individual. A função social do psicólogo clínico não deve ser basicamente a terapia e
sim a saúde pública e, dentro dela, a higiene mental. O psicólogo deve intervir intensamente em
todos os aspectos e problemas que concernem psico-higiene e não esperar que a pessoa adoeça
para recém poder intervir.

O objetivo historicamente mais recente na higiene mental já não se refere tão só à doença ou à
sua profilaxia e sim também à promoção de um maior equilíbrio, de um melhor nível de saúde na
população. Dessa forma, já não interessa somente a ausência de doença e sim o desenvolvimento
pleno dos indivíduos e da comunidade total.
A ênfase da higiene mental translada-se dessa forma, da doença à saúde e, com isto, à atenção da
vida cotidiana dos seres humanos.

O psicólogo clínico deve sair em busca de seu “cliente”: a pessoa no curso do seu trabalho
cotidiano.

O grande passo em psico-higiene consiste em não esperar que a pessoa doente venha nos procurar
e sim sair a tratar e a intervir nos processos psicológicos que gravitam e afetam a estrutura da
personalidade e portanto, as relações entre os seres humanos, motivando com isto o público para
que possa concorrer a solicitar seus serviços em condições que não impliquem em doença.

Isto abre uma perspectiva ampla e promissora para a saúde da população e uma fonte de profunda
gratificação para o profissional.
O relacionamento nos cuidados da saúde deve incluir em sua essência um compromisso de permitir
e estimular as pessoas a serem tão responsáveis quanto possível por seu próprio bem-estar.

Cada pessoa é responsável por sua vida e pela direção dessa vida, embora para muitos indivíduos
esse seja um conceito abstrato e não um princípio dentro do qual vivem e interagem.
32

Estimular essa responsabilidade significaria desenvolver maior sensibilidade às pessoas, ao seu


modo de fazer as coisas, a suas necessidades educacionais, a sua capacidade atual para assumir a
responsabilidade por si mesmas, tanto em períodos de saúde quanto nos de doença, a seus
sistemas de valores, a suas convicções a respeito delas próprias, a sua direção na vida e seus
objetivos.

Significa desenvolver técnicas e métodos para ensinar a autorresponsabilidade para aqueles que
desejam aprender.
Reconhecer e apoiar a capacidade para ser responsáveis, naqueles que já a possuem.

É preciso também aprender a motivar as pessoas a assumir o máximo de responsabilidade que


puderem, e talvez até mais do que já conseguem.

BIBLIOGRAFIA – PSICOONCOLOGIA E PACIENTES TERMINAIS

Editoras: SUMMUS EDITORIAL E EDITORA AGORA

BRIGANDO PELA VIDA


Aspectos emocionais do câncer
Lawrence Leshan

O CÂNCER COMO PONTO DE MUTAÇÃO


Manual para pessoas com câncer – seus familiares e profissionais da saúde
Laurence Leshan

CARTAS DE UM SOBREVIVENTE
O caminho da cura através da transformação interior
Carl Simonton, Reid M. Henson, Brenda Hampton

COM A VIDA DE NOVO


Uma abordagem de autoajuda para pacientes com câncer
Carl Simonton, Stephanie Matthews, e James L. Creighton

CONVERSANDO COM A DOENÇA


Um diálogo de corpo e alma
Albert Kreinheder

A FAMÍLIA E A CURA
O método Simonton para familiares que enfrentam uma doença
Stephanie M. Simonton

O PACIENTE COMO SER HUMANO


Rachel Naomi Remen

POR QUE EU?


O que toda a mulher deve saber sobre o câncer de mama
Rose Kushner

DESFAZENDO MITOS
Sexualidade e câncer
33

BIBLIOGRAFIA POR ASSUNTO

PSICOLOGIA HOSPITALAR

CONTRIBUIÇÕES À PSICOLOGIA HOSPITALAR: DESAFIOS E PARADIGMAS


Editora Vetor, 2008, SP.

O HOSPITAL HUMANIZADO
Mezomo, João C.
Editora Cedas, 1975

URGÊNCIAS PSICOLÓGICAS NO HOSPITAL


Valdemar Augusto Angerami – Camon e Cols.
Editora Pioneira, 1998

E A PSICOLOGIA ENTROU NO HOSPITAL


Valdemar A. Angerami
Pioneira, 1996

PSICOLOGIA DA SAÚDE
Valdemar A. Angerami
Pioneira, 1996

PSICOLOGIA HOSPITALAR – A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO EM HOSPITAIS


Terezinha Calil P. Campos
EPU, 1995

GERAL

O PACIENTE COMO SER HUMANO


Rachel Naomi Remen
Editora Summus, 1993

CONVERSANDO COM O PACIENTE


Bird, F - ed. Marole, 1978, SP

PSICOLOGIA APLICADA À REABILITAÇÃO


Novaes, M.H – ed. Imago, RJ, 1975

A ENTREVISTA DE AJUDA
Alfred Benjamin – ed. Martins Fontes, 1974

DIAGNÓSTICO PSICOLÓGICO
Walter Trinca, ed. EPU

PEDIATRIA

A CRIANÇA E A MORTE
Rimballt – ed. Francisco Alves, RJ, 1979
OBSTETRÍCIA

PSICOLOGIA DA GRAVIDEZ
Maldonado, M.T. – ed. Aeu, RJ, 1978
34

PSICOSSOMÁTICA

MEDICINA DA PESSOA
Luiz Miller de Paiva – ed. Artes Médicas, RJ, 1975

CONCEPÇÃO PSICOSSOMÁTICA – VISÃO ATUAL


Júlio M. Mello – ed. Tempo Brasiliense, RJ, 1983

PSICOSSOMÁTICA HOJE
Julio de Melo Filho e Cols.
Ed. Artes Médicas

LIMITE E ESPAÇO – UMA INTRODUÇÃO À OBRA DE D.W. WINNICOTT


Madeleine Davis – David Wallbridge
Editora Imago

REPRESSÃO E SUBVERSÃO EM PSICOSSOMÁTICA Pesquisas psicanalíticas sobre o corpo


Christophe Dejours
Editora Jorge Zahar

OUTROS

MEDICINA DA PESSOA
Perestrello, D – ed. Livraria Atheneu

O MÉDICO, SEU PACIENTE E A DOENÇA


Barent, M. – ed. Atheneu

A SÍNDROME PSICO-ORGÂNICA CRÔNICA


Bonhomme, P. – ed. Zahar, RJ, 1983

A PESSOA COMO CENTRO


Karl R. Rogers
Ed. USP

PSICOTERAPIA BREVE
Temas básicos de Psicologia
Maurício Knobel
Editora E.P.U.

PSICO-HIGIENE E PSICOLOGIA INSTITUCIONAL


José Bleger
Editora Artes Médicas

TEMAS DE PSICOLOGIA – ENTREVISTAS E GRUPOS


José Bleger
Editora Martins Fontes

A ENTREVISTA DE AJUDA
Alfred Benjamin
Editora Martins Fontes

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