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Trabalho sexual

PJDCS – MP – FPCE – UP
Alexandra Oliveira
8 e 9 de novembro de 2021
Com quem trabalha?
(n=121; trabalho sexual de apartamento)

No caso de não trabalhar sozinh@, que


relação tem com as pessoas com quem
trabalha?
Colegas que também alugaram um
espaço a um senhorio comum 44,3%
(arrendamento de quarto)

Tal como eu, geridos por uma pessoa a


20,3% do total quem damos uma percentagem dos 32,9%
lucros

Colegas com quem trabalha em


cooperação (repartição das despesas, 22,9%
auto-gestão do espaço)

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0% 10% 20% 30% 40% 50%
Da prostituição de apartamento na cidade de
Lisboa(oliveira, 2013)

• UP-FPCE/OSHO-GAT
• Questionários (n=121) e entrevistas (n=8)
• Amostra:
• 44,6% de mulheres
• 35,5% de homens
• 19,8% de transexuais (H>M)
• Faixa etária maioritária: entre os 26 e os 35 anos de idade
(51,2%). Média = 30.13 anos (DP = 7.12)

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Nacionalidade (OLIVEIRA, 2013)

Outras nacionalidades:
- 9,1% (N=11)
- Países da Ásia, África, América do
Sul e Europa de Leste

Dos 76% de estrangeiros/as (N=92),


- 51,7%: em situação regular;
- 18%: em processo de regularização;
- 30,3%: em situação irregular.

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Percentagem de imigrantes entre @s
trabalhador@s do sexo

• Dados de investigações:
• 45.6% (Dias et al, 2014)
• 65% (Ribeiro et al, 2008)
• 76% (Oliveira, 2013)

• Dados dos projetos de intervenção:


• 56% (TAMPEP, 2009)
• 80% (Porto G/APDES, 2012)

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Tráfico para fins de
exploração sexual
• Portugal: Dados do Observatório do Tráfico de Seres
Humanos (OTSH – 2020)
• Segundo tipo de tráfico com mais sinalizações, embora
com uma diferença significativa face ao tráfico para fins de
exploração laboral – tendência observada em anos
transatos
• 2020: 10 sinalizações; 5 confirmadas
• Neste tipo de tráfico destaca-se a já referida Operação El
Pibe (Confirmado – Aveiro), com 5 vítimas, nacionais da
Roménia, e na qual foram investigados ainda os crimes de
associação criminosa, lenocínio agravado e o
branqueamento de capitais:

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Psicologia
• Os primeiros estudos psicológicos procuraram patologias nestas
mulheres que não conseguiam provar de forma clara: a patologia
apenas foi demonstrada de forma convincente em grupos muito
específicos de prostitutas, as que tinham sido sujeitas a um trauma

• O perfil psicológico clássico da prostituta descrevia uma mulher


sexualmente frígida, com uma infância marcada pela privação e o
abuso, que era hostil em relação aos homens e uma lésbica latente
ou assumida (Glover, Greenwald, James, Kemp, …)

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Psicologia

• A vitimação na infância
• Aparece em vários estudos (segunda metade do século XX), como
um fator explicativo da prostituição
• As pesquisas iniciais evidenciaram uma proporção relativamente
elevada de vítimas de abuso sexual entre as prostitutas (a maioria
destas investigações foi efetuada com amostras não
representativas da totalidade das prostitutas, por ex., entre
mulheres presas, prostitutas de rua ou utentes de projetos
específicos - Vanwesenbeeck, 2001).

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Exner Jr., Wylie, Leura e Parrill (1977)
• Some psychological characteristics of prostitutes:
• 95 prostitutas (categorias intraprofissionais) x grupo de controlo
• entrevistas, MMPI, WAIS e Roscharch

• Concluíram:
• as prostitutas das classes mais altas (call girls e apartamentos) não diferem
significativamente do grupo de controlo
• a esmagadora maioria dos casos que investigaram não se relacionava com
qualquer patologia

• Criticam os estudos que descrevem as prostitutas como


psicologicamente desajustadas, mergulhadas num estado
patológico de desamparo e confusão e levando uma vida de
escravatura relativamente a proxenetas
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Modelo
multidimensional
de Cathy Widom
(1983)

- Explicação que articula


diversas variáveis

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Modelo multidimensional
de Cathy Widom (1983)

Fatores presentes no modelo (fatores em interação):


• Predisposições individuais (fatores genéticos e fisiológicos)
• Experiências de socialização (influência subcultural e dos pares; famílias
desfeitas, casos de psicopatologia na família, o abuso infantil e as
experiências sexuais precoces)
• Personalidade
• Atitudes, normas e expectativas da sociedade
• Fatores situacionais (condições de vida precárias, toxicodepend.,
desemprego, persuasão por proxeneta, …)
• Características socioeconómicas e demográficas
• Resposta da sociedade ao comportamento (nomeadamente a
estigmatização)
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Estudos compreensivos

• Mais recentemente:
• Explicação > compreensão
• Causas > Processos (dimensão temporal)

• Abordagem da complexidade (diversos atores, fontes e


contextos)

• Utilização de abordagens proximais: métodos como a


etnografia

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Ribeiro, Silva, Schouten, Ribeiro e Sacramento
(2008)
• Vidas na raia. Prostituição
feminina em regiões de fronteira
• Entrevistas a prostitutas, clientes,
gerentes de casas; observações em
clubes e na rua
• Quase todas brasileiras
• Concluem que as mulheres prostitutas
denotam uma componente estratégica
e margem de relativa liberdade na sua
opção em começar este modo de vida,
ainda que condicionadas por fatores de
diversa ordem na entrada e
manutenção da atividade.

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Ribeiro, Silva, Schouten, Ribeiro e Sacramento
(2008)

• “não obstante os constrangimentos estruturais, as redes


e facilidades organizacionais e, no limite, as situações de
precariedade socioeconómica e vulnerabilidade jurídica
(…) se apresentarem como condições integradoras e
propiciadoras da prostituição, elas não são as únicas nem
são absolutamente determinantes. (…) para não cair em
explicações deterministas, [dever-se-á revalorizar] a
perspectiva dos actores sociais, o seu maior ou menor
espaço de manobra face às estruturas, as conveniências
ou vantagens em persistirem nesta actividade”

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Joanna Phoenix (2000)

• Defende uma combinação das duas explanações habituais


sobre a entrada na prostituição:
• Se é verdade que existem condições sociais e materiais que
influenciam (como a pobreza, o isolamento social, a falta de
habitação, a exploração por um proxeneta, a violência e a
vitimação)

• Também é certo que as suas capacidades individuais para a


acção intencional (Giddens, 1984) concorrem para o seu
envolvimento na prostituição. Através do significado dos
seus discursos é possível entender estas mulheres como
agentes sociais capazes de lidar com os constrangimentos
estruturais que enfrentam.

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A. OLIVEIRA (2011)

• Para se compreender um comportamento complexo como é


a prostituição devemos recusar determinismos e explicações
simplistas e compreendê-lo tendo em conta:
• A diversidade de trajetórias e experiências, os processos e os
contextos e os sentidos e significações que o indivíduo atribui

• Apesar dos fatores estruturais (económicos, sociais, culturais)


existentes e que se podem considerar influências no
percurso, é a capacidade de auto-determinação individual o
mais forte motivo da entrada, permanência e saída do
trabalho sexual

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Trabalho sexual X prostituição

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Prostituição

• A prostituição é o desempenho comercial de relações sexuais (vaginais, orais,


anais ou masturbatórias), entre outras atividades com conotação sexual
(Oliveira, 2008)

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Trabalho sexual

• Expressão gizada por: Carol Leigh (1979)

• Serviços ou desempenhos sexuais comerciais


(prostituição, pornografia, striptease, danças eróticas,
chamadas eróticas, …) (Weitzer, 2000)

• Atividade sexual comercial

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Trabalho sexual

- Inclusivo
- Contribui para desestigmatização
- Acentua as questões laborais
- Termo proposto e defendido pelos próprios atores do comércio do sexo

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Caracterização do trabalho sexual

O trabalho sexual é multiforme, compreende diversos


tipos de atores e de práticas e desenrola-se em múltiplos
contextos

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Tipos de trabalho sexual

• Trab. sexual de rua X Trab. sexual de interior

Prostitutxs de rua Prostitutxs Outrxs trabalhadores


do sexo

Call girls /Acompanhantes Atores pornográficos


Casa de massagens Strip teasers
Apartamento Massagistas erótica/os
Bar Web cam girls/boys
Bordel Alternadeiras
Dominadora/es, ...

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Quem são @s trabalhador@s do sexo?

• Interior > de rua:


• Apenas uma minoria d@s prostitut@s trabalham na rua:
10–30% (Alexander, 1987; Matthews, 1997; O’Leary and Howard,
2001; Weitzer, 2005)

Muitos dos problemas associados com a ‘prostituição’ estão


concentrados na prostituição de rua, sendo muito menos evidentes no
setor indoor
(Weitzer, 2007)

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Referências bibliográficas
• Oliveira, A. (2003). Actores do trabalho sexual: características comuns e traços distintivos. Psicologia: teoria, investigação e prática, 2, 169-186.
• Oliveira, A. (2011). Andar na vida: Prostituição de rua e reacção social. Coimbra: Almedina.
• Oliveira, A. (2013). Da prostituição de apartamento na cidade de Lisboa: Características e significados. Porto: FPCEUP.
• Phoenix, J. (1999). Making sense of prostitution. London: McMillan.
• Ribeiro, M., Silva, M.C., Schouten, J., Ribeiro, F. B. & Sacramento, O. (2008). Vidas na raia. Prostituição feminina em regiões de fronteira. Porto:
Edições Afrontamento.
• Vanwesenbeeck, I. (2001). Another decade of social scientific work on sex work: a review of research 1990-2000. Annual Review of Sex
Research. Disponível em : http://www.findarticles.com/p/articles/mi_qa3778/is_200101/ai_n8932379 (13.3.2007).
• Weitzer, R. (2007). Prostitution: facts and fictions. Contexts, 4, 28-33.
• Widom, C. (1984). Sex roles, criminality, and psychopathology. In C. S. Widom (Ed.) Sex roles and psychopathology. New York: Plenum Press.

Leituras recomendadas:
• Oliveira, A. (2017). Prostituição em Portugal. Uma atividade marginalizada num país que tolera mais do que persegue. Bagoas - Estudos
gays: gêneros e sexualidades, 11, 17, 201-224
• Weitzer, R. (2007). Prostitution: facts and fictions. Contexts, 4, 28-33.

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