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5/14/2020

Psicologia da Memória P201


Sumário
• Memória autobiográfica.
• Défices de memória e amnésia
• Excessos de memória.

Memória Autobiográfica (MA)

• Em maior ou menor grau, nós somos a nossa memória aquilo que recordámos
[…] Pinto, 2011, p. 140.
• A MA é o registo dos episódios e factos de uma vida referenciados à pessoa que
os viveu e presenciou e que sobre eles possui uma interpretação e significado.
• MA e memória episódica e semântica. Memórias pessoais registadas num
espaço e tempo próprio. Maior envolvimento e referência pessoal.

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Memória Autobiográfica (MA) – Métodos I

• Indicadores semânticos (prompt-word ou semantic-cuing)


• Palavra – evocação do primeiro episódio pessoal despertado. Galton (1879)
• Pode ser estudada a classe de palavras que mais memória desperta e o tempo que levam a gerar
uma recordação.
• Inconvenientes: Enviesamentos na busca de episódios. Impossibilidade de verificação da
ocorrência do episódio

Memória Autobiográfica (MA) – Métodos II

• Evocação livre, auxiliada e reconhecimento de episódios (e.g. Dudycha e


Dudycha (1933, 1941)
• Inconvenientes: Impossibilidade de verificação da ocorrência do episódio

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Memória Autobiográfica (MA) – Métodos III

• Diários (Linton, 1978; Wagenaar, 1986; Larsen, 1992)


• Linton, 1978: Esquecimento de 30% das entradas mais marcantes (5500 episódios ao longo
de 6 anos)

Memória Autobiográfica (MA) – Distribuição das memórias ao


longo da vida

• As recordações mais frequentes são do período mais recente, seguindo-se uma


diminuição progressiva até à infância com exceção da adolescência e juventude
(onde aumenta).

• Explicação cognitiva: competências cognitivas de repetição, organização, integração e


formação de imagens são mais eficazes na adolescência e juventude

• Explicação social e de personalidade: É na juventude que ocorrem os acontecimentos


estruturantes da vida, experiências mais salientes.

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Memória Autobiográfica (MA) – memórias cintilantes (flashbulb


memories)
• As memórias cintilantes são recordações muito nítidas e detalhadas feitas pelas
pessoas quando descrevem o modo como tomaram conhecimento pela primeira
vez das circunstâncias em que ocorreu um acontecimento único, surpreendente,
dramático e altamente emocional.
• Brown e Kulik (1977) – Morte de J. F. Kennedy, 1963 (13 anos).

Memória Autobiográfica (MA) – memórias cintilantes (flashbulb


memories)
• Podem ser de acontecimentos positivos, mas são muito menos estudados.
• Mecanismo neuronal “Now print!” fixava as seguintes categorias “iluminadas”:

• Onde se soube a notícia


• A duração do evento
• As emoções sentidas
• A fonte da notícia
• As emoções sentidas pelos circunstantes
• Desfecho

• Papel da repetição (Neisser, 1982)


• Podem ser enganadoras e ilusórias

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Memória Autobiográfica (MA) – Amnésia infantil

• Freud (1905) – dificuldade de adultos recordarem episódios da infância (até 6-8


anos) devido a rejeição da sexualidade infantil.
• Dos 20 aos 5 a percentagem de recordações diminui. Abaixo dos 5 anos as
memórias são raras, dispersas e fragmentadas.

Memória Autobiográfica (MA) – Amnésia infantil

• Dudycha e Dudycha (1933): memória mais antiga que jovens eram capazes de
recordar localizava-se --- > 44 meses rapazes; 42 meses raparigas (3-4 anos)
• Se crianças de 3 anos recordam com detalhes certos acontecimentos, porque
não se preservam estas memórias ocorridas antes dos 4 anos?
• Nelson (1992) – origem da MA: inclusão do self na memória episódica e semântica
• Codificação: imaturidade do SN e da linguagem, escassez de conhecimento prévio; uso
deficiente dos processos cognitivos implicados no registo da informação
• Recuperação: Papel de pistas ou indicadores

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Défices de memória e amnésia

• Amnésia designa os défices permanentes de um ou mais tipos de memória


ocorridos na sequência de danos cerebrais.
• Qualquer coisa que implique lesões cerebrais extensas com perda e redução de
tecido cerebral pode ser causa de amnésia.
• Importância da relação estrutura-função para o conhecimento da memória e
para a reabilitação

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Tipos de amnésia

• Amnésia pós-traumática – Estado de confusão, interrompido por momentos de


lucidez, na sequência de coma subsequente ao trauma. Pode demorar minutos,
horas ou semanas.
• Amnésia retrógrada – Incapacidade de se recordar de episódios anteriores ao
trauma. Refere-se à dificuldade de acesso à informação adquirida antes do
começo da desordem de memória e pode ser temporária ou permanente.
• Amnésia anterrógrada – Dificuldade em efetuar novas aprendizagens ou adquirir
novos conhecimentos.

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Amnésia retrógrada

• Teoria da consolidação (Trauma interrompe a consolidação das memórias)


• Ainda é polémico saber se a amnésia retrógrada representa um défice de
consolidação ou de recuperação

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Amnésia anterrógrada

• Ver caso HM e Clive Wearing (Pinto, 2011, p. 322 e seguintes)


• Áreas cerebrais diferentes associam-se a défices diferentes. Geralmente mais do
que uma área estão comprometidas.
• Os amnésicos são capazes de adquirir novos conhecimentos, geralmente
motores.
• Warrington e Weiskrantz (1982) – Dificuldades em formar e registar associações
conscientes entre as novas experiências. Explicação situada ao nível da
codificação.
• Schacter (1987) – Amnésicos revelam dificuldades nas provas explícitas (e.g.
evocação e reconhecimento) em contraste com as implícitas (e.g. completação).
Explicação situada ao nível da recuperação.

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Défices de memória na doença de Alzheimer


• No início confunde-se com o envelhecimento normal (Lapsos de memória para
acontecimentos recentes)
• Pode progredir até dependência total
• Diagnosticada em vida através de testes cognitivos e provas de memória
• O cérebro destes doentes revela atrofia das estruturas principais e acumulação proteica,
sob a forma de emaranhados neurofibrilares e placas amiloides, que causam a morte ou
degeneração dos neurónios interferindo com a transmissão de sinais eletroquímicos.
• Amnésia retrógrada para acontecimentos que vai sendo cada vez mais extensa em
relação ao passado
• Amnésia anterrógrada para eventos próximos (minutos)
• Dificuldades em provas de memória episódica, semântica e de completação. Tiram
vantagem mnésica da manipulação motora.

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Excessos de memória

• Luria (1968) – Shereshevskii (S.)


• Memorizava matrizes de dígitos aleatórios (50).
• Meses mais tarde evocava corretamente a matriz, sem saber que lhe ia ser
pedido isso.
• Imagens sinestésicas
• Podiam dificultar a obtenção do significado

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Excessos de memória

• Hunt e Love (1972) – VP


• Letónia (1934)
• Guerra dos fantasmas, pormenorizado ao fim de 1 ano
• QI 136 na WAIS
• Treino da memória durante a infância

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Excessos de memória

• Kim Peek (1951-2009)


• Memória mais extensa (registo e rapidez de acesso) – Google vivo
• Toda a informação lida era aprendida na ordem dos 98%
• Dificuldade em abstrair, generalizar e formar conceitos
• Ausência de corpo caloso e comissuras anterior e posterior

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Excessos de memória

• Parker, Cahill e McGaugh (2006) – AJ - hipertimésia


• Memória autobiográfica superior (recordava-se de cada dia da sua vida, o
que aconteceu, com quem estava, etc. como se fosse um filme. Dada uma
data, AJ recordava-se de qual o dia da semana, o que sucedeu, …
• Exaustão (percorria a sua vida inteira, todos os dias)
• Calendário mental idiossincrático
• Só memorizava o que para ela tinha interesse

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▪ Ler desenvolvimentos em:

Pinto (2011). Psicologia da aprendizagem e da memória (capítulos 18 e 19). Porto: Livpsic

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