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1.

Definições básicas

 Memória é a capacidade de registrar, manter e evocar as


experiências e os fatos já ocorridos.

A memória relaciona-se com o nível de consciência, com a


atenção e com o interesse afetivo.

De modo geral, aprendemos elementos provenientes de


experiências vivenciadas em bloco, nas quais diversas
modalidades sensoriais interagem , em contexto emocional
determinado e com significações pessoais e sociais
específicos.
2.1. Memória

É composta por três fases ou elementos básicos:


- Fase de registro (percepção, gerenciamento e início da fixação)

O processo de fixação depende de:

1. Nível de consciência e estado geral do organismo (indivíduo


desperto, bem-nutrido, não muito cansado, calmo, etc.)
2. Atenção global e capacidade de manutenção de atenção
concentrada sobre o conteúdo a ser fixado
3. Sensopercepção preservada
4. Interesse e colorido emocional relacionado ao conteúdo mnêmico
a ser fixado assim como vontade e afetividade.
2.1. Memória

5. Conhecimento anterior (elementos já conhecidos ajudam a adquirir


elementos novos)
6. Canais sensoperceptivos envolvidos na percepção
7. Organização temporal das repetições (distribuição harmônica e
ritmada no tempo auxilia na fixação de novos elementos)
8. Capacidade de compreensão do conteúdo a ser fixado

- Fase de conservação (retenção)

O processo de conservação (retenção) depende de:

1. Repetição (mais facilmente se conserva)


2. Associação com outros elementos (cadeia de elementos mnêmicos)
2.1. Memória cognitiva ou psicológica

 Fase de evocação ou lembranças, recordações ou recuperação


(capacidade de recuperar e atualizar os dados fixados)
 Esquecimento: É o oposto da evocação, caracteriza-se pela
impossibilidade de recordar ou evocar

Em relação ao processo temporal de aquisição e evocação de


elementos mnêmicos, a neuropsicologia moderna divide a memória em
quatro fases ou tipos:

1. Memória imediata ou de curtíssimo prazo ( de poucos segundos


até 1 a 3 minutos) : Retém o material (palavras, números , imagens,
etc.) logo após ele ser percebido. É limitada e depende da
concentração, da fatigabilidade e de certo treino.
2.1. Memória cognitiva ou psicológica

2. Memória recente ou de curto prazo (de poucos minutos até 3 a


6 horas).

- Capacidade de reter a informação por um curto período

3. Memória remota ou de longo prazo (de meses até muitos anos)

- Capacidade de evocação de informações e acontecimentos


ocorridos no passado, geralmente após muito tempo do evento
(pode durar por toda a vida). Tem uma capacidade bem mais ampla
e relaciona-se com o diversas áreas do cérebro.
2.1. Memória cognitiva ou psicológica

 Priming

- Fenômeno normal e importante do processo de recordação


ou evocação.

- Pode ser traduzido como dicas evocadoras de lembranças


bem mais amplas pois, fragmentos de um conteúdo mnêmico
amplo são evocados e, a partir deles, todo o resto é
gradativamente recuperado.

Exemplo: Músico -> acordes -> toda a canção


2.1. Memória cognitiva ou psicológica

 Esquecimento

Caracteriza-se como sendo o oposto da evocação e se dá por três


vias :

1. Esquecimento normal, fisiológico: Desinteresse do indivíduo ou


desuso.
2. Esquecimento por repressão: Conteúdos desagradáveis ou pouco
importantes são esquecidos, ficam estocados no pré-consciente e
assim, podem voltar, por esforço próprio do sujeito à consciência.
(vídeo Valsa com Bashir)
3. Esquecimento por recalque : Conteúdos mnêmicos insuportáveis
são banidos da consciência e ficam estocados no inconsciente,
podendo ser recuperados apenas em circunstâncias especiais.
2.1. Memória cognitiva ou psicológica

 Lei da regressão mnêmica


Formulada por Théodule Ribot há mais de 120 anos , a “Lei da
regressão mnêmica” diz que:

Um indivíduo que sofre lesão ou doença cerebral, sempre que esse


processo patológico atinge seus mecanismos de registro e recordação,
tende a perder os conteúdos da memória (esquecimento) seguindo
algumas regularidades.

O esquecimento se dá da seguinte forma:


1. O sujeito perde as lembranças e seus conteúdos na ordem e sentido
inverso que os adquiriu
2. Ele perde primeiro elementos recentemente adquiridos, e depois os
mais antigos
2.1. Memória cognitiva ou psicológica

1. Ele primeiro perde elementos mais complexos e, depois, os


mais simples.

2. Perde primeiro os elementos mais estranhos, menos


habituais e, só posteriormente, os mais familiares.

3. Perde primeiro os conteúdos mais neutros, depois os


elementos afetivos e, por fim, hábitos e comportamentos
costumeiros mais profundamente enraizados no
repertório comportamental mental.
Localização da memória

Córtex posterior (Informação é percebida)  Córtex Pré-frontal (capta e


armazena)  Lobo frontal (retém informação por um tempo)  Hipocampo 
Lobo Frontal (depois de alguns anos pode ter acesso sem ajuda do hipocampo)
Serão apresentadas:
Tipos de memória

Adquirida de Adquirida de
forma forma
plenamente plenamente
consciente. consciente.

eventos
autobiográficos
e
conhecimentos
gerais

habilidades e
capacidades
4.2.1. Memória de trabalho

 É a combinação de habilidades de atenção e da memória


imediata.

 É, de modo geral, explícita e declarativa.

 São mantidas ativas por um curto período de tempo


(máximo de 1 a 3 minutos).

 Seleciona um plano de ação e realiza determinada tarefa.


É um “gerenciador” de memória.

 Regiões corticais pré-frontais.


Investigação semiológica da memória de
trabalho

Observa-se cuidadosamente o grau de habilidade


do paciente em prestar atenção e se concentrar.

Dificuldade em realizar novas tarefas que incluam


execução de várias etapas distintas em uma
sequência após instrução.
Valor diagnóstico das alterações da memória
de trabalho

Em ordem de frequência, ocorrem:


 Nas demências vasculares, na subforma ou variante frontal
da demência frontotemporal.
 Na demência de Alzheimer.

 Na DCL (demência com corpos de Lewy) .

 Na esclerose múltipla.

 No traumatismo craniano.

 Em quadros de esquizofrenia, transtorno de déficit de


atenção/hiperatividade e transtorno obsessivo-compulsivo.
No envelhecimento normal (dificuldades leves).
4.2.2. Memória episódica

• Forma mais relevante de memória para a clínica


neurológica, psiquiátrica e neuropsicológica.

• É explícita e declarativa, relacionada a eventos específicos


da experiência pessoal do indivíduo, ocorridos em
determinado contexto.

• Sua perda obedece à lei de Ribot.

• Regiões da face medial dos lobos temporais, em especial,


hipocampo e os córtices entorrinal e perirrinal.
(memória episódica)
Investigação semiológica da memória episódica

Quando o sujeito vai se tornando incapaz de reter e


lembrar informações e experiências recentes de
maneira correta e acurada (dinâmica).

Para a avaliação, é preciso que sejam investigadas


outras áreas cognitivas, além da memória.

Sinais neurológicos focais e alterações de possíveis


doenças sistêmicas também devem ser pesquisados.
Valor diagnóstico das alterações da memória
episódica

Ocorrem principalmente nas demências


degenerativas (Alzheimer, DCL e a demência
frontotemporal).

Os déficits de memória instalam-se de forma lenta


e progressiva.

Pode ocorrer nas demências vasculares e em


algumas formas de esclerose múltipla, a perda
geralmente se dá em forma de graus, nesses
casos.
4.2.2. Memória semântica
 Refere-se a aprendizagem, conservação e utilização de
algo que pode ser designado como o arquivo geral de
conceitos e conhecimentos factuais do indivíduo.

 É sempre explícita e declarativa.

 Registro e retenção de conteúdos em função do


significado que tem.

 Regiões inferiores e laterais dos lobos temporais,


sobretudo no hemisfério esquerdo.
(memória semântica)
Investigação semiológica da memória
semântica

Verifica-sea dificuldade do paciente em


tarefas como nomear itens cujos nomes
previamente sabia.

Pacientes com alterações mais avançadas:


revelam déficits de duas vias na nomeação.
Apresentam também empobrecimento
marcante de conhecimentos gerais.
Valor diagnóstico das alterações da memória
semântica

• A demência de Alzheimer.

• Áreas temporais ínfero-laterias -> alteração


de memória semântica.
4.2.3. Memória de procedimentos
 Tipo de memória automática, geralmente não-
consciente. Habilidades motoras e perceptuais,
visuoespaciais e automáticas relacionadas ao
aprendizado de línguas.

 Em geral, é implícita e não-declarativa. No entanto, na


aquisição da habilidade pode ser implícita ou explícita.

 Memorização de forma lenta, por meio de repetições e


múltiplas tentativas.

 Área motora suplementar (lobos frontais), gânglios da


base e o cerebelo.
(memória de procedimento)
(memória de procedimento)

Estriado (putâmen) Estriado (caudado)

Globo pálido externo Tálamo


Núcleo subtalâmico
Globo pálido interno

Substância negra

Cerebelo
Investigação semiológica da memória de
procedimentos

Perda de habilidades motoras ou visuoespaciais


previamente aprendidas ou grande dificuldade em
aprender novas habilidades.

Eventualmente, pode reaprender essas habilidades.

Comum na doença de Parkinson, Coréia de


Huntington, paralisia supranuclear progressiva
Principais transtornos neuropsicológicos
da memória
5.1. Alterações quantitativas

 Hipermnésias

 Aumento do número e velocidade de elementos


mnêmicos e diminuição da clareza e precisão

 Aceleração geral do ritmo psíquico

 Típica de pacientes maníacos


Esquecimento x Amnésia

Esquecimento = Disfunção da atenção,


relacionadas a questões afetivas, sem deficiência na
capacidade real da memória.

Amnésia= Falta da capacidade de fixar, manter e


evocar antigos conteúdos.

 Todo registro mnêmico sempre está sujeito a


influência do estado emocional .
5.1. Alterações quantitativas

 Amnésias
 Perda da memória
 Falta da capacidade de fixar, manter e evocar antigos
conteúdos
 Subdivide-se em duas causas:
 Psicogênica

• Perda de memórias especificas e com valor psicológico


especifico

 Orgânica

• Não seletiva
• Obedece a lei de Ribot
5.1. Alterações quantitativas

 Subdivide-se quanto ao conteúdo em:


 Amnésia Anterógrada (Fixação)
• Perda da capacidade de fixação de elementos mnêmicos a partir
do momento da lesão cerebral ou doença cerebral.

 Amnésia retrógrada (Evocação)


• Perda da capacidade de evocar elementos mnêmicos anteriores ao
trauma.
• Mito do “Quem sou eu?”
• Possui causa orgânicas e psicológicas
5. Alterações patológicas da memória

5.2. Alterações qualitativas (Paramnésias)


São deformações na evocação de conteúdos mnêmicos.

 5.2.1. Ilusões mnêmicas

 Acréscimo de conteúdos falsos a uma memória verdadeira.


 Forma mais freqüente de paramnésia.
 Importante papel na psicopatologia, no estudo da
sintomatologia psicótica
 Presentes em casos de esquizofrenia, paranóia, histerias
graves e nos transtornos de personalidade.
5.2. Alterações qualitativas

 5.2.2. Alucinações mnêmicas

 Falsas memórias, criadas pelo individuo, que as toma como


reais, não possuindo ligação com a realidade.
*São através dos conteúdos das ilusões e alucinações mnêmicas que são elaborados os
delírios, sendo chamados de delírio imaginativo e delírio mnêmico.

 5.2.3. Fabulações
 São falsas memórias criadas pelo sujeito para preencher
lacunas das memórias reais.

 Não são produzidas intencionalmente pelo indivíduo.

 Podem ser produzidas através de sugestão,o que as


diferenciam das ilusões e alucinações mnêmicas
Alterações de reconhecimento
6.1. Agnosias

 São os déficits do reconhecimento de estímulos sensoriais,


objetos e fenômenos, que não podem ser explicadas por
um déficit sensorial, por distúrbios da linguagem ou por
perdas cognitivas globais.

 Modalidade sensorial na qual o indivíduo perde a


capacidade de reconhecimento.
6.1. Agnosias

 Em relação as causas, subdividem-se em:


 Agnosia Aperceptiva
 Déficit do processamento visual (consequência da lesão bilateral das áreas
visuais primárias)
 Prejudica o processo de apercepção normal
 Impossibilita o reconhecimento visual adequado do objeto

 Agnosia Associativa
 Déficit da formação do fenômeno perceptivo.
 Após o reconhecimento, não é possível associar corretamente um
sentido (significado) ao objeto reconhecido sensorialmente.
 É a alteração no processo de acoplagem de um sentido a certa
apercepção.
6.1. Agnosias

 Em relação a forma, subdividem-se em:


 Agnosias Táteis
 Astereognosia
• Incapacidade de reconhecer as formas dos objetos através do tato
estando de olho fechado.
 Agnosia Tátil Propriamente Dita
• Identificação das formas do objeto, mas há a incapacidade de
reconhecer o objeto globalmente.

 Agnosias Visuais
 Não há o reconhecimento, pela visão, do objeto.
 “O paciente enxerga-os, pode descrevê-los, mas não sabe o que
realmente são.”
6.1 Agnosias
6.1 Agnosias

 Anosognosia
 Incapacidade de reconhecer o déficit ou a doença que possui.

 Anosodiaforia
 Incapacidade de reconhecer o estado afetivo no qual se encontra.

 Simultanagnosia
 Incapacidade de reconhecer mais de um objeto ao mesmo tempo.

 Comprometimento da Grafestesia
 Grafestesia = Reconhecimento da escrita pelo tato
 Indicativo de déficit da integração sensório-motora a nível cortical

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