EACH

Escola de Artes, Ciências e Humanidades

Universidade de São Paulo

Memória, Envelhecimento e Educação

Mônica Sanches Yassuda

Aula de Erudição

EACH USP
Março de 2017
Plano 1. Definições
2. Memória e a
6. Saúde Pública e relação entre a
Demências: mente e o corpo
Educação como proteção
Memória
Envelhecimento
e
Educação
5. Reserva
cognitiva e 3.Envelhecimento
demências: dados Cognitivo
de pesquisa
4. Modelos
Teóricos e
Metodológicos
Memória: Definições
• Mitologia grega: Deusa
Mnemosine mãe das nove
musas, que inspiram
artistas e cientistas, dentre
elas Clio, a História.
• Fenomenológica:
habilidade de incorporar
experiências e
conhecimentos.
• Cognitiva: aprendizagem,
alteração de Mnemosyne
comportamentos. Títulos alternativos: Lamp of Memory ou
Ricordanza
Dante Gabriel Rossetti 1876-1881
Delaware Art Museum,
Samuel and Mary R. Bancroft Memorial
Sócrates: metáfora do anel de cera
“Pois bem, concede-me propor...que nossas almas
contêm em si um bloco maleável de cera. Digamos
que se trata de um dom da mãe das Musas,
Memória: exatamente como quando, à guisa de
assinatura, imprimimos a marca de nossos anéis,
quando pomos esse bloco de cera sob as sensações
e os pensamentos, imprimimos nele aquilo que
queremos recordar, quer se trate de coisas que
vimos, ouvimos ou recebemos do espírito.”
Paul Ricœur (2007). A memória, a história, o esquecimento. Editora
Unicamp.
 Contribuições de Platão
• A memória é representação um objeto
ausente (a presença do ausente);

• Recordação como imagem, um objeto

copiado do verdadeiro, o phantasma, em
relação de similitude com o objeto ausente.

Paul Ricœur (2007). A memória, a história, o esquecimento. Editora Unicamp

 Contribuições de Aristóteles

• “A memória é do passado”.

• Distância temporal é inerente à essência

da memória e a diferencia da
imaginação.

Paul Ricœur (2007). A memória, a história, o esquecimento. Editora Unicamp

 Santo Agostinho (354-430)

A busca da lembrança
comprova uma das finalidades
principais do ato de memória:
lutar contra o esquecimento,
arrancar alguns fragmentos de
lembrança à rapacidade do
tempo, ao sepultamento no
esquecimento.

Século XVIII, Biblioteca do Mosteiro de Wiblingen em

Ulm, Alemanha, Dominikus Herberger.
Clio tenta impedir que Chronos destrua os registros
do passado.
 A Memória como um Rastro
• Rastro escrito em suporte material (História);

• Rastro como impressão-afecção na alma;

• Rastro como impressão corporal no cérebro.

 A memória gera debate sobre a relação

entre mente e o corpo biológico.
 Definições
Memória e a
Saúde Pública e relação entre a
Demências: mente e o corpo
Educação como proteção
Memória
Envelhecimento
e
Educação
Reserva cognitiva e
demências: dados
Envelhecimento
de pesquisa Cognitivo

Modelos
Teóricos e
Metodológicos
 Relação entre processos mentais e corpo

• Civilizações pré-históricas
privilegiavam a cabeça
durante conflitos (1500 aC).
• Cérebros trepanados
sugerem que havia alguma
compreensão sobre a
relação entre o cérebro e
problemas de saúde física
ou mental.
Landeira-Fernandez J & Castro FS (2010). Alma, mente
e cérebro na Pré-história e nas primeiras civilizações humanas. Psicologia
Reflexão e Crítica, 23(1), 37-48.
Os egípcios reconheciam que danos na cabeça
poderiam gerar problemas em outras partes do
corpo. Mas consideravam o coração como a sede da
alma/ mente (1200 aC).

Landeira-Fernandez J & Castro FS (2010). Alma, mente e cérebro na Pré-história e nas primeiras civilizações
humanas. Psicologia Reflexão e Crítica, 23(1), 37-48.
Na Mesopotâmia, assírios e babilônicos consideravam o fígado
como a sede da vida e da alma. Praticavam a hepatoscopia,
inspeção do fígado de animais, em busca de sinais dos deuses.

Landeira-Fernandez J & Castro FS (2010). Alma, mente e cérebro na Pré-história e nas primeiras civilizações
humanas. Psicologia Reflexão e Crítica, 23(1), 37-48.
A relação entre a mente e o corpo na linha
do tempo
Neurônios tingidos por Camillo Sinalização Neural
Golgi com nitrato de prata em
1873, a técnica permitiu
visualizar as células neurais pela
primeira vez.
Desenhos de Golgi, Opera Omnia. Hoepli
Editore, Milan.
Desenhos de Santiago Ramón y Cajal das lâminas de
microscópio com tecido neural de gatos, tingidos
com a técnica de Golgi (1887) . Cajal defendeu que os
neurônios eram células separadas que não se
tocavam, mas que de alguma forma se comunicavam.

S. Ramón y Cajal. The retina of vertebrates.

S. Ramón y Cajal. Recuerdos de Mi Vida.
Avanços essenciais sobre sinalização neural: a
formação dos rastros de memória
• 1903 – C. Sherrington – sinapses
• 1910 – H. Dale – neurotransmissores
• 1952 –A. Hodgkin e A. Huxley - potencial de
ação.

É também no século 20 que a possibilidade de envelhecer

se estendeu a um grande número de pessoas.

Nova pergunta: Como a nossa capacidade de formar

novas memórias ou deixar rastros no cérebro envelhece?
 Definições
Memória e a
Saúde Pública e relação entre a
Demências: mente e o corpo
Educação como proteção
Memória
Envelhecimento
e
Educação
Reserva cognitiva e
demências: dados
Envelhecimento
de pesquisa Cognitivo

Modelos
Teóricos e
Metodológicos
Memória e seus
Duração dosubsistemas
traço
Curto Prazo Longo Prazo

Operacional Semântica
Episódica

Implícita
Condicionamento
Priming
Procedimento
 Envelhecimento Cognitivo

Reuter-Lorenz, P. A., & Park, D. C. (2014). How Does it STAC Up? Revisiting the Scaffolding
Theory of Aging and Cognition. Neuropsychology Review, 24(3), 355–370.
 Atrofia cortical se correlaciona com
idade e desempenho cognitivo

Fjell, A.M. (2014). What is normal in cognitive aging? Prog Neurobiol., 117, 20-40.
 Determinantes da grande
variabilidade entre indivíduos

• Modelos gerontológicos iniciais não explicam as diferenças

entre indivíduos no envelhecimento das habilidades mentais
complexas.
Habid et al. (2007). Cogitive and non-cognitive factors contributing to the identification of successful older
adults. Neuropsychol Dev Cogn B Aging Neuropsychol Cogn. 2007; 14(3):257-73.
 Definições
Memória e a
Saúde Pública e relação entre a
Demências: mente e o corpo
Educação como proteção
Memória
Envelhecimento
e
Educação
Reserva cognitiva e
demências: dados
Envelhecimento
de pesquisa Cognitivo

Modelos
Teóricos e
Metodológicos
O Paradigma Dialético e a Perspectiva
da Psicologia Life-Span (Paul Baltes)
• Tem suas raízes no pensamento de Klaus
Riegel (1927-1977)
• Teóricos rejeitam estágios e a ideia do
desenvolvimento linear direcionado à meta
única
• Admitem múltiplas influências simultâneas
(indivíduo, biologia, cultura, ambiente)
• Ressaltam descontinuidade.
 Interação entre fatores de risco e proteção
para declínio cognitivo

Manutenção
cerebral

Desempenho
cognitivo

Ritmo do
declínio
cognitivo

Fratiglioni L., Paillard-Borg S., & Winblad B. (2004). An active and socially integrated lifestyle in late
life might protect against dementia. Lancet Neurology, 3(6):343-53.
Reuter-Lorenz P. A., & Park D. C. (2014). How Does it STAC
Up? Revisiting the Scaffolding Theory of Aging and
Cognition. Neuropsychology Review, 24(3), 355–370.
2006
 Treino da Memória Operacional em pareceria com a
Universidade de Pádova: doutorado da Paula S. Brum
Escolaridade Modalidade Número de Status da
do grupo sessões coleta
Experimento 1 8 -11 anos Individual 3 Concluída
Experimento 2 8-11 anos Grupo 3 Concluída
Experimento 3 4 anos Individual 3 Concluída
Experimento 4 4 anos Individual 6 Concluída
Experimento 5 8-11 anos Grupo 6 Concluída
 Definições
Memória e a
Saúde Pública e relação entre a
Demências: mente e o corpo
Educação como proteção
Memória
Envelhecimento
e
Educação
Reserva cognitiva e
demências: dados
Envelhecimento
de pesquisa Cognitivo

Modelos
Teóricos e
Metodológicos
 Demência ou Transtorno
Neurocognitivo Maior (DSM-V)
1. Sintomas cognitivos ou comportamentais que:
• Interferem com a habilidade no trabalho ou em
atividades usuais;
• Representam declínio em relação a níveis prévios de
funcionamento e desempenho;
• Não são explicáveis por delirium (estado confusional
agudo) ou doença psiquiátrica maior.
 Importância de testes NP sensíveis e específicos :
colaborações com a Univ. de Edimburgo e Heriot Watt
sobre o teste de Memory Binding.
McKhann et al. (2011). The diagnosis of dementia due to Alzheimer's disease: recommendations from the National Institute on Aging-
Alzheimer's Association workgroups on diagnostic guidelines for Alzheimer's disease. Alzheimer’s & Dementia, 7(3):263-9.
Frota et al. (2011). Criteria for the diagnosis of Alzheimer's disease: Recommendations of the Scientific Department of Cognitive Neurology
and Aging of the Brazilian Academy of Neurology. Dementia & Neuropsychologia, 5(3), 146-152.
 DOENÇA DE ALZHEIMER

• Morte acelerada de
neurônios e atrofia cortical
são marcadores da doença
de Alzheimer.
• apoE ε 4 está envolvida na
formação das placas.

• Placas de amiloide,
fragmentos de proteína, se
acumulam entre os
neurônios.
• Emaranhados neurofibrilares
são fibras retorcidas que se
acumulam dentro do
neurônio. American Health Assistance Foundation
 Hipótese da Reserva Cognitiva

• Assimetria entre grau de sinais neuropatológicos e

desempenho cognitivo 10 residentes (M=85,5 anos)
de uma ILPI.

• Alguns indivíduos conseguem suportar maior grau de

insulto neurológico sem alterações clínicas.

• Teriam maior RESERVA COGNITIVA ?

Katzman et al., (1988). Clinical pathological, and neurochemical changes in dementia: a subgroup
with preserved mental status and numerous neocortical plaques. Ann Neurol., 23(2), 138-44.
Evidências Epidemiológicas sobre
Reserva Cognitiva
Estudos epidemiológicos tem evidenciado menor risco para
demências entre pessoas com:

• Escolaridade formal elevada

Bottino et al., 2008; Nitrini et al., 2009; Bezerra et al., 2012

• Complexidade ocupacional elevada

Stern et al., 1994; Correa Ribeiro et al., 2013; Boots et al., 2015

• Forte envolvimento em atividades intelectuais e sociais

Scarmeas et al., 2001; Spósito et al., 2016
Perguntas de Pesquisa Importantes
• Marcadores de reserva, como a EDUCAÇÃO,
protegem estruturas neurais dos danos do
envelhecimento e outros insultos?
Manutenção cerebral
Ou/e

• Amortecem os impactos do envelhecimento e

insultos preservando o desempenho cognitivo?
Reserva cognitiva
 Educação pode influenciar volume,
função e conectividade cerebral

• 36 idosos saudáveis
• Ressonância Magnética estrutural e funcional
• Avaliação da memória, linguagem, funções
executivas e visuo-espaciais e praxia.
• Escolaridade: 11.69 (±3.45), entre 7–20 anos

Arenaza-Urquijo et al. (2013). Relationships between years of education and gray

matter volume, metabolism and functional connectivity in healthy elders. NeuroImage
83, 450–457.
Houve correlação significativa entre volume de massa cinzenta e
anos de escolaridade em 3 regiões na RM estrutural: Giro Cingulado
Anterior, Insula à direita e Giro Temporal Superior à direita
Quanto maior a educação maior era a conectividade entre o
Giro Cingulado Anterior e outras áreas cerebrais.
 Cortex
cingulado
anterior está
envolvido no
controle da
atenção e
memória
operacional:
controle
inibitório

Rezezak et al. (2015). Relationship between Brain Age-Related Reduction in Gray

Matter and Educational Attainment. PLoS One. 16;10 (10): e0140945.
Prince et al. (2013). Global prevalence of dementia: a systematic review and meta-analysis.
Alzheimer’s & Dementia, 9, 63-75.
Entre 111 idosos (22
com demência),
pessoas com notas
maiores que 7 no
ensino fundamental,
tinham menor chance
de desenvolver
demência.
Dekhtyar et al. (2016). Int J
Epidemiol., 45(4), 1207-1215.
Sposito, Neri , & Yassuda (2016). Rev. Bras. Geriatr. Gerontol., 19(1), 7-20.
Neurobiology of Aging, 2012, 33(5):
1007, e1-7.
 Definições
Memória e a
Saúde Pública e relação entre a
Demências: mente e o corpo
Educação como proteção
Memória
Envelhecimento
e
Educação
Reserva cognitiva e
demências: dados
Envelhecimento
de pesquisa Cognitivo

Modelos
Teóricos e
Metodológicos
Organização Mundial da Saúde – Plano de Ação Global da
Saúde Pública para responder às Demências
A Assembléia Mundial da Saúde entre 23-28 de Maio de 2017
reunirá representantes dos 194 Estados Membros da OMS para
discutir a adoção de medidas que visam a conscientização,
prevenção, cuidados e pesquisa sobre as demências.

Brasil será
chamado a
desenvolver o seu
Plano de Ação em
resposta às
demências .
 Plano da OMS para as demências:
7 áreas de ação
1. Demência como uma prioridade na saúde pública
2. Consciência e amabilidade
3. Redução no risco para as demências
4. Diagnóstico, tratamento, cuidado e suporte
5. Suporte para cuidadores
6. Sistemas de informação sobre as demências
7. Pesquisa e inovação em demências
 Plano da OMS para Redução de Risco
Riscos compartilhados Riscos específicos das
com outras DCNT demências

• Inatividade física • Baixo nível educacional

• Obesidade • Inatividade cognitiva
• Dieta inadequada • Isolamento social
• Tabagismo • Depressão na meia idade.
• Abuso de álcool
• Entretanto somente os riscos
Diabetes compartilhados com outras DCNT
• Hipertensão na meia serão alvos e indicadores de progresso
idade.
Necessidade urgente de reduzir a exposição a estes fatores
desde a infância e ao longo da vida.
 Desafios para o Brasil e para o mundo

2015
2030 2050
50 milhões de
75 131
pessoas com
milhoes milhões
demência

60% residem em países de baixa e média renda, podendo subir para 70%

Como garantir justiça etária na alocação de recursos para as

demências, se o bem estar dos idosos será garantido por uma
força de trabalho jovem, saudável e bem treinada?

Prince et al. (2013). Global prevalence of dementia: a systematic review and meta-analysis.
Alzheimer’s & Dementia, 9, 63-75.
Memória, Envelhecimento e Educação
• Relevância sociohistórica da memória;
• Memória: elo que amarra o passado ao
presente, gera coerência aos acontecimentos
pessoais, senso de identidade e histórico
autobiográfico;
• Envelhecimento cognitivo e cerebral são
influenciados pela exposição a fatores de risco
e proteção.
Memória, Envelhecimento e Educação
• Investimentos na educação infantil:
permanência e qualidade;
• Educação continuada e engajamento
intelectual ao longo do ciclo vital;
• Atividade física, alimentação, saúde, redução
do isolamento social;
• Favorecem a RESERVA COGNITIVA e
MANUTENÇÃO CEREBRAL.
Sociedade boa para os idosos é aquela que é boa para
todas as idades
Gerontologia EACH USP:
Instrumentos cognitivos que apoiem o diagnóstico precoce das demências
Intervenções cognitivas e programas de educação continuada
Estratégias de atenção ao paciente e ao cuidador
Gestão do cuidado
Políticas públicas a favor do envelhecimento saudável e significativo