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O Realismo
41. É a orientação ou atitude espiritual que implica a preeminência do
objeto, dada a sua afirmação fundamental, de que nós conhecemos coisas.
Daí o emprego da palavra "realismo", que diz respeito à "coisa" (res)
reconhecida como independente da consciência.
Os idealistas, ao contrário, não obstante todas as suas variações, apegam-
se à tese fundamental de que não conhecemos coisas, mas sim
representações de coisas ou as coisas enquanto representadas.
Vejamos, separadamente, cada uma dessas posições.
O realismo é a atitude natural do espírito humano. Quando o homem
aceita a identidade de seu conhecimento com as coisas que sua mente
menciona, sem formular qualquer pergunta a respeito, nós temos o realismo
ingênuo, que é pré-filosófico, ou seja, anterior a qualquer pergunta, a
qualquer "problema". É a atitude do homem comum, que não se propõe o
problema da adequação entre as "noções do real" e a realidade mesma, nem
imagina a possibilidade do pretender-se reduzir tudo ao plano do sujeito que
conhece. Conhecemos coisas e as coisas são como as percebemos.
No realismo ingênuo, há uma aceitação espontânea do que se oferece ao
homem como suscetível de suas sensações e de sua representação. É claro
que esta atitude não possui em si qualquer significado filosófico, porquanto
não envolve nenhuma indagação sobre a certeza e a validade universal do
conhecimento.
Quando o realismo indaga de seus fundamentos e procura demonstrar
que suas teses são verdadeiras, é que surge propriamente a atitude
filosófica, que não deixa, porém, de ser "atitude natural", como tendência
comum do espírito humano. Poderíamos denominá-lo realismo tradicional,
visto como a corrente que sustenta tal maneira de ver é aquela que invoca a
tradição clássica, de Aristóteles aos nossos dias.
Os que adotam uma atitude realista seguem orientações diversas, como,
por exemplo, os que se apoiam em dados das "ciências naturais", ou os que
se fundam em pressupostos do criticismo transcendental, ou do
intelectualismo aristotélico.
Quando o realismo acentua a verificação de seus pressupostos e conclui
pela funcionalidade sujeito-objeto, distinguindo as camadas cognoscíveis
do real assim como a participação, não apenas ativa, mas criadora do
espírito no processo gnoseológico, temos o realismo critico.
Distingue-se este por admitir que conhecer é sempre conhecer algo posto
fora de nós, mas que, se há conhecimento de algo, não nos é possível
verificar se o objeto, que nossa subjetividade compreende, corresponde ou
não ao objeto tal como é em si mesmo. Também não se pode asseverar, de
antemão, que tal "objeto" não possa ser enriquecido ou retificado cm
virtude de novas captações de aspectos diversos do real. Concebe, pois, o
conhecimento como um processo no qual o sujeito cognoscente contribui
criadoramente, convertendo "algo" em "objeto".
42. O realismo apresenta muitos argumentos para mostrar a verdade de
sua tese, no sentido de que os objetos correspondem, parcial ou totalmente,
aos conteúdos da percepção, ou, no sentido de que as coisas preexistem
com as mesmas qualidades, antes do homem as conhecer, de maneira que o
conhecimento sempre se refere a algo que se não inclui no puro ato de
conhecer.
Entre os argumentos invocados, lembraremos apenas três, para
simplificar a explanação da matéria. Dizem os realistas que a espécie
humana varia de indivíduo para indivíduo, e que cada homem não é mais
hoje o que foi ontem. Não existe uma igualdade biopsíquica entre os
indivíduos, visto como todos são diferentes quanto às suas qualidades
físicas ou às aptidões psíquicas.
Ora, se todos os homens são diversos, mas chegam à mesma afirmação a
respeito de "algo" percebido, é porque existem em "algo" elementos
estáveis, não subordinados às variações subjetivas. Se o sujeito fosse fator
"determinante" daquilo que se conhece, haveria uma percepção distinta para
cada sujeito e não seria possível haver ciência, nem comunicação de
ciência. Se existe intersubjetividade dos objetos da percepção e uma ciência
comum entre os homens, ciência esta que uma geração transmite às outras,
é porque existe um elemento real que as percepções "reproduzem", parcial
ou totalmente, sendo dotado de qualidades que não se subordinam ao
esquema deste ou daquele outro indivíduo, ou à subjetividade em geral.
Acrescentam os realistas que se o real pudesse ser reduzido ao
pensamento, ou à ideia, não haveria explicação possível para o erro. Se
ideia e objeto são uma e a mesma coisa, toma-se impossível conceber-se
uma ideia inadequada, por sua não correspondência ao objeto.
Finalmente, invoca-se a independência existente entre a percepção e os
objetos da percepção, da qual resulta que os objetos, observados em tempos
diversos c sujeitos a variações múltiplas, possuem um ser real não redutível
à consciência percipiente.
Há, portanto, no realismo, a tese ou doutrina fundamental de que existe
correlação ou uma adequação da inteligência a "algo" como objeto do
conhecimento, de maneira que nós conhecemos quando a nossa
sensibilidade c inteligência se conformam a algo de exterior a nós.
Conforme o modo de entender-se essa "referibilidade a algo", bifurca-se o
realismo em realismo tradicional e realismo crítico, sobre o qual
volveremos logo mais.
O Idealismo
Posição Ontognoseológica