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1.

Introdução
Na sociedade atual, é inegável a realidade do alto índice de produção de
resíduos orgânicos no ambiente universitário, sejam eles provenientes de
laboratórios, banheiros e restaurantes. Esses resíduos possuem uma alta
variedade em sua composição, podendo ser ricos em nutrientes,
contaminantes orgânicos e inorgânicos. Quando não tratado de maneira
adequada, os resíduos têm seu destino na atmosfera, nos solos e na água,
resultando em vários problemas no meio ambiente, nos atingindo direta ou
indiretamente. (Jardim, 2002).
Diante dessa problemática, surge a necessidade da identificação,
gerenciamento e tratamento dos resíduos gerados no ambiente universitário
através de um Programa de Gerenciamento de Resíduos Químicos, a fim de
amenizar e reduzir os impactos ambientais causados por eles.
O foco da pesquisa a seguir é de listar e caracterizar métodos de
tratamento de resíduos que poderão ser aplicados na Universidade Federal de
São Carlos campus São Carlos. Para tal, é válido uma breve revisão sobre os
tipos de resíduos a serem tratados.
Há diversos métodos de caracterização e classificação de resíduos que
variam de universidade para universidade, como por exemplo a CENA/USP
(Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo), que
divide os resíduos em onze grupos, enquanto a Universidade Federal do
Paraná os separa em apenas seis grupos. Nessa pesquisa em questão, será
usado o sistema de classificação do Centro de Gestão e Tratamento de
Resíduos Químicos – CGTRQ da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(focando em resíduos aquosos e solventes orgânicos), descrito pela figura
abaixo:
Figura 1 - Classificação dos resíduos e sua destinação

Fonte: Oliveira (2019)


São os métodos: Estação de Tratamento de Efluentes (ETE),
Coprocessamento, Reciclagem e Incineração.
2. Estação de Tratamento de Efluentes
Uma ETE atenderia o tratamento de resíduos aquosos que são gerados
dentro da universidade. De acordo com Jordão & Pessoa (1995), esgotos
domésticos são constituídos de cerca de 99,9% de água e 0,1% de material
sólido. Material esse que é o maior fator da contaminação e poluição das
águas, já que 30% destes são minerais e 70% são de materiais orgânicos e
micro-organismos.
Vale ressaltar que a constituição dos esgotos varia de acordo com uma
série de fatores tais quais o clima, condições socioeconômicas do local, idade
das águas, entre outros.

2.1. Caracterização de Efluentes


Os esgotos sanitários podem ser classificados de diversas formas, como
por exemplo (RATTOVA, 2012):
 Propriedades físicas: sejam elas concentração de sólidos e
temperatura.
 Propriedades químicas: é de suma importância o conhecimento a
respeito das propriedades químicas das águas residuárias para a
escolha do tratamento correto das águas em uma ETE. As principais
propriedades são: composição de matéria orgânica e inorgânica,
acidez volátil, alcalinidade, pH, quantidade de Nitrogênio e Fósforo,
entre outros.
 Propriedades biológicas: associado à quantidade de organismos
encontrados nos efluentes. Os organismos podem ser vírus, algas,
protozoários, entre outros, porém o tipo de organismo responsável
pela decomposição de matéria orgânica são as bactérias. As
bactérias coliformes que são típicas dos organismos de mamíferos
são de fácil identificação e por isso, sua quantidade presente nas
águas é utilizada para indicar o seu índice de contaminação.
(ROCHA, SILVA, 2005)

2.2. Etapas de tratamento


O tratamento, de maneira geral é feito através da remoção de
substâncias indesejáveis e que podem ser prejudiciais à saúde. Para tal, esse
processo é feito em etapas, que são elas:
 Tratamento Preliminar: destina-se para eliminação de sólidos
grosseiros e areia. Ação de ordem física, que usa processos como os
de sedimentação e peneiramento. De maneira geral, os sólidos
grosseiros são mantidos no processo de gradeamento, onde barras
de diversas espessuras barram os maiores sólidos contidos no
efluente. Já a areia é separada pelo processo de sedimentação,
devido à sua densidade, que é maior do que do resíduo aquoso.
(VON SPERLING, 2005)
 Tratamento Primário: aplicado para remoção de sólidos em
suspensão sedimentáveis e sólidos flutuantes (ação de ordem física).
O efluente passa por um decantador e se transforma em um sistema
com um lodo primário bruto (massa de sólidos) na parte inferior e um
material flutuante (óleos e substâncias de baixa densidade) na
superfície. (VON SPERLING, 1996)
Esse lodo é formado por matéria orgânica passível de decomposição
bacteriana, além de emitir odores fortes e desagradáveis, além de
instáveis (ALVES et al., 2017). Por esse motivo, necessita-se de uma
estabilização em um reator de digestão anaeróbia.
Nesse reator, ocorre a diminuição da Demanda Bioquímica e
Química de Oxigênio (DBO e BQO), que são as quantidades
necessárias de oxigênio para estabilizar a matéria orgânica
biodegradável e total existente, respectivamente. Essa diminuição
ocorre através da remoção de sólidos e matéria orgânica (SILVA,
2021).
 Tratamento Secundário: apesar do tratamento anterior retirar parte
da matéria orgânica, se vê necessário a adição de outros
tratamentos. A etapa em questão é definida ela remoção de matéria
orgânica dissolvida, da qual não é separada e retirada por processos
meramente físicos. Por conta disso, trata-se de um processo
majoritariamente biológico, definido por reações bioquímicas feitas
por micro-organismos, que são responsáveis por remover a matéria
orgânica dissolvida no meio. Esse processo também gera um lodo,
porém mais fino que o anterior e sem odores. (SILVA, 2021).
O tratamento terciário é focado na remoção de poluentes específicos, de
natureza normalmente tóxica ou não biodegradável, porém não é uma prática
muito aplicada no tratamento de efluentes brasileiro. (ReCESA, 2008)
3. Coprocessamento
Têm-se como coprocessamento, uma medida sustentável para
tratamento de resíduos. Neste processo, há a queima de resíduos em fornos
de cimento para a produção de clínquer, matéria prima essencial para diversos
tipos de cimento.
Nesse processo, utiliza-se os resíduos químicos como uma espécie de
combustível que substitui o uso de carvão ou coque de petróleo. Nota-se o
caráter ecologicamente correto visto que há a substituição de combustível não
renovável por um renovável, do qual seria descartado por não possuir
nenhuma aplicabilidade.
Dentro dos fornos de cimento, as temperaturas devem ser elevadíssimas
para que o processo ocorra de maneira adequada. A queima dos combustíveis
alcança até 2000 °C de temperatura, além de perdurar por cerca de 4 a 6
segundos em temperaturas acima de 1200 °C (SILVA, 2021). Esse fator
garante a destruição de quase toda a matéria orgânica inserida de maneira
segura e eficaz.
Porém, vale salientar que a técnica de coprocessamento é proibida para
queimas de substâncias como organoclorados, lixo urbano, radioativo e
hospitalar (MAZZER, CAVALCANTI, 2004), sendo utilizado para a queima de
resíduos orgânicos não halogenados.

4. Incineração
O processo de incineração se descreve por um método de tratamento
que se baseia na decomposição térmica, a fim de diminui a toxicidade e volume
do resíduo queimado. Os incineradores trabalham em faixas de 1000 a 1250 °C
durante intervalos de 0,2 a 0,5 segundos. (OLIVEIRA, 2019)
Idealmente, um projeto de um incinerador bem projetado produz baixas
quantidades de cinzas e quantidades aceitáveis de gases como produtos
remanescentes dióxido de Carbono, Oxigênio, dióxido de Enxofre, Nitrogênio,
água, cinzas etc. Porém, quando há a combustão incompleta, pode-se
aparecer substâncias como monóxido de Carbono. (LIMA, 1995)
Vale salientar que as instalações de incineradores variam de preço
dependendo de sua aplicação. Para a queima de resíduos tóxicos, se vê
necessário a instalação de equipamentos que minimizam a emissão de gases
poluentes para a atmosfera. Consequentemente, é necessário maior
investimento e custo de operação para que o processo ocorra de maneira
adequada (MAZZER, CAVALCANTI, 2004). Processo empregado para mitigar
resíduos aquosos e solvente orgânicos halogenados.
5. Rotaevaporadores para separação de solventes
Compreende-se um rotaevaporador ou evaporador rotativo como um
equipamento laboratorial que tem como função principal a separação de
substâncias (em especial, solventes) em misturas a vácuo.
Ele faz a separação da mistura através de destilação simples, na qual, a
mistura é aquecida em um balão de evaporação inclinado e rotatório em banho
maria. O componente de menor temperatura de ebulição (no caso, o solvente)
é evaporado e transportado até um condensador, que retorna a substância ao
seu estado líquido que por sua vez, escoa até um balão de condensação
localizado abaixo do condensador. Dessa forma, as substâncias que
inicialmente estavam misturadas puderam ser separadas para a análise
individual de cada. Segue abaixo uma imagem que descreve o equipamento.
Figura 2 - Componentes de um Rotaevaporador

Fonte: imagem da internet

 Balão de Evaporação: vidraria que contém a mistura inicial que será


submetido ao aquecimento.
 Balão de Condensação: vidraria que irá receber apenas o solvente
anteriormente evaporado e agora condensado pelo condensador
 Condensador: tubo de vidro que possui uma serpentina oca por
onde escoa uma água em baixas temperaturas, para assim
condensar o vapor do compartimento
 Conjunto Mecânico: estrutura que fixa todo o equipamento e
comprime o motor necessário para a rotação do balão de
evaporação.
 Controlador: controla a velocidade de rotação do balão de
evaporação
 Banho de Aquecimento: compartimento normalmente completo por
água que tem como função aquecer a vidraria que se apoia nele.
Também possui um painel de controle de temperatura.
 Tubo de vapor: permite com que o vácuo ocorra ao mesmo tempo
que permite que o balão de evaporação rotacione.

6. Conclusão
O objetivo dessa pesquisa foi aprofundar os conhecimentos a respeito
dos possíveis métodos de tratamento de resíduos de caráter não-sólido
presentes na Universidade Federal de São Carlos, devido a demanda por um
Programa de Gerenciamento de Resíduos.
Ademais, considerou-se um rotaevaporador, equipamento de separação de
substâncias, como uma possível solução para a extração de solventes
orgânicos de resíduos químicos.
Um evaporador rotativo pode ser usado para misturas com diversos
solventes, porém é necessário que cada um possua uma certa temperatura de
ebulição e com isso é necessário a identificação prévia de cada componente
dos resíduos, que implica na regulamentação e gerenciamento de resíduos já
existentes na universidade.
Em suma, é necessário inicialmente a identificação de resíduos passivos
e a rotulação regrada de resíduos ativos para que o trabalho de identificação
de resíduos se situe com o trabalho de tratamento deles.
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