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de
Varsóvia
Uma menina, um relógio, um amigo e o muro.
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Polônia, 31 de agosto, 1939
Piotrkow Trybunalski
06h54min
A menina
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direção a janela. Perle não se movia, estava parada, imóvel. Suas mãos no
batente da janela apontavam para uma tensão, afinal o que ela estava vendo?
Sua mãe então decidida a entender o que ela via seguiu seu olhar na mesma
direção de Perle. Do outro lado da rua havia apenas a loja de tecido do
Feinbergs, com a pequena porta e a vitrine de vidro que expunha alguns tecidos
e um manequim com um belo vestido. Seguindo, ao lado, as lojas de
aviamentos e quinquilharias dos Wentniz, a livraria da senhora Marirt, e a
coluna que sustentava a casa sobre a padaria onde moravam já não permitia
mais a visão da pequena rua.
O que estava fazendo com que Perle ficasse tão parada, congelada, sem
dar uma única palavra no momento? Sua mãe então decide entender melhor.
Abaixando ao lado da filha e ficando de joelhos ao seu lado, segura em seus
ombros e a gira em sua direção. Olhos nos olhos, as duas se fitam. A menina
continua estática. – O que aconteceu filha, porque você está tão assustada? O que você
viu? Me mostre, fale alguma coisa! Perle então, apenas se vira em direção da janela
e com uma expressão de confusão e interrogação, por fim balbucia algumas
palavras: - Quem era o homem que estava parado lá fora? Eidel se vira rapidamente,
e se apoiando no batente da janela fica de pé colocando parte do corpo para fora
da janela em uma tentativa brusca de ver a tal pessoa que assustara sua filha...
em vão. Preocupada, mas tentando disfarçar o sentimento, Eidel diz: - Ei, não há
ninguém lá fora, mas já sentiu o cheiro dos seus pães preferidos que o zeide fez para
você? Eles estão açucarados, não é ótimo? Vamos trocar essa roupa, e descer para o
desjejum!
Enquanto ajudava Perle a vestir suas roupas, Eidel notava que a menina
estava, como se, esquecendo do acontecimento que havia lhe causado espanto.
Ela já começava a brincar e a se movimentar evitando que as meias entrassem
de forma correta no pé. Eidel nunca imaginaria que essa pequena bagunça seria
um bom sinal. -Vamos mocinha, não podemos deixar nossos pães esfriando!
Inesperadamente a menina que estava com seu vestido, meias e os sapatos nos
pés, rapidamente se levantou e correu para as escadas. Eidel com um misto de
susto e um sorriso no rosto seguiu perle. Ainda nas escadas a menina gritou: -
Zeide, zeide! Foi a única forma de fazer com que seu avô deixasse o rádio de lado
e esquecesse de ouvir as notícias, afinal a neta sempre foi a sua prioridade!
Virando-se rapidamente em direção a voz da pequena Perle, ele abriu um
sorriso seguido de seus braços para um abraço especial. - Aaaahhhh brachá!!!!!
Minha linda!!!!! Com os olhos fechados e sua neta nos braços àquele padeiro que
estava acordado desde as três horas da manhã sentia-se revigorado. – Dormiu
bem? Perle que sorria nos braços do avô parece que estava voltando no tempo,
tempo esse que era de apenas alguns poucos minutos atrás, mas a figura que ela
olhava pela janela voltou a sua memória. O sorriso se fechou. A testa foi
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franzida, e a pergunta veio... – Zeide, quem é aquele homem que fica sempre próximo
a livraria da senhora Marirt? Dessa vez a expressão facial a mudar foi dele. –
Homem, mas que homem? A pergunta foi feita enquanto ele a colocava no chão.
Durante alguns segundo eles se fitaram, e a pergunta foi novamente feita – Que
homem?
A pergunta não respondida por Perle que deixara um silêncio no ar, foi
interrompida pelas palavras de Eidel... – Papai, não se preocupe, não é nada! Vamos
ao café? Ela fez a última pergunta, apontando para a mesa que estava posta.
Como sempre a mesa estava pronta com aparelho de chá que pertencera a
Ayda, mãe querida de Eidel que deixou boas lembranças e ensinamentos para
sua única filha. E nesse exato momento, como se uma nuvem de fumaça
tomasse o lugar ela viu a sua mãe colocando a última xícara na mesa, e olhando
para ela sorria e acenava com a mão como se dissesse: - Venha, esse é o seu lugar!
Ela lembrou de que naquela mesma mesa tomou uma refeição muito especial
aos dezessete anos, tendo coragem de dizer a frase mais difícil de sua
adolescência. Ela precisava dizer que estava enamorada de um jovem que
amava os livros, mas não de forma a lê-los e sim de fazê-los.
O pai de Perle que estava distante naquela manhã, não estaria presente
no café. Distante cerca de cem quilômetros, ele havia ido em busca de materiais
importantes para a sua prensa. A paixão pelos livros o levara não apenas a
imprimi-los, mas também a criar um jornal. Antes de sair de casa, na noite do
dia trinta, ele havia ido até o quarto de Perle e beijado sua testa. Então descendo
as escadas e beijando sua esposa, ele saiu para dirigir seu pequeno caminhão
que estava estacionado do outro lado da rua, bem em frente de sua gráfica e
jornal.
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