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Compreensão de texto: algumas questões – Luiz Antônio Marcuschi

● ‌É fato que, apesar de vivermos na era digital, o material didático usado em


sala de aula ainda tem sua importância. No entanto, este material, na maior
parte das vezes, ainda tem seus conteúdos e até mesmo a sua
operacionalização ligados a métodos tradicionais que necessitam ser
adequados às necessidades de sua época. Por isso, melhor do que discutir a
importância do uso do material didático, é discutir em que podemos
melhorá-lo e torná-lo menos monótono, concentrando nossa discussão no
que diz respeito à compreensão textual (p. 4-5).
● ‌A ausência de teorias subjacentes (fundamentos teóricos) por serem
consideradas dispensáveis, impulsiona o ensino de LP a continuar na
mesmice (p. 5).
Noção de língua subjacentes aos LDP
● ‌A língua, nos LDP, é tratada como homogênea, uniforme, desligada da
coletividade. Quanto ao vocabulário, muitas vezes não se ensina, por
exemplo, que uma palavra/expressão/sentença pode ter um sentido figurado,
não podendo ser “traduzida” literalmente. Ou ainda, as estruturas sintáticas
são identificadas de formas linear e as variações linguísticas também são
deixadas de lado (p. 5-6).
● ‌Um manual de LP trata DE Língua Portuguesa e não DA Língua Portuguesa.
Tratar DE Língua Portuguesa é reduzir a sua variedade a uma só forma de
uso da língua, como se ela fosse uniforme e existisse uma única forma
padronizada de manifestá-la. Por outro lado, tratar DA Língua Portuguesa é
abranger o fato da língua se modificar de acordo com a situação, com o meio
social, com a cultura de cada região, entre outros fatores (p. 6).

O problema da compreensão no contexto dos LDP


● ‌A compreensão textual resumida em apenas transcrever/copiar os conteúdos
(p. 7).
● ‌Questionários desconexo ao conteúdo (p. 7).
● ‌As atividades de “compreensão” não trabalham o pensamento crítico dos
alunos, apenas auxiliam a identificar o conteúdo (p. 7).
● ‌Os LDP não incentivam o raciocínio lógico, o pensamento crítico, a
capacidade de opinar e de argumentar (p. 7).
● ‌Nem mesmo os livros mais antigos não davam a devida relevância, muitas
vezes era retirado o excesso de texto dos livros didáticos, mas não havia uma
melhora no quesito compreensão textual, já que ainda deixavam de fora
questões importantes a serem tratadas (como a variação linguística e a
oralidade) (p. 7).

Seções dos LDP dedicadas ao trabalho da compreensão textual


● Não existe um padrão estabelecido na forma pelas quais os materiais
didáticos trabalham a compreensão textual, alguns possuem seções
específicas para questões sobre o texto, enquanto alguns misturam com
outros tipos de questões, costumam variar entre trabalhar o texto sobre várias
perspectivas além da compreensão, como a fonologia, gramática e literatura,
ou se restringem à questões de compreensão objetivas. Na maioria das vezes
os autores tendem a se ater ao texto base para as perguntas e poucos
tendem a fugir dele.

Tipologia das perguntas de compreensão nos LDP


● Os variados tipos de pergunta encontradas nas questões de compreensão
textual foram divididas pelo autor em várias categorias: questões onde a
resposta pode ser encontrada em si mesma, transcrição de trechos do texto,
questões objetivas sobre elementos presentes no texto, questões que exigem
uma análise crítica para a resolução da questão, questões sobre o sentido do
texto como um todo, questões opinativas ou sem uma resposta clara tomando
como base algum elemento do texto, questões não relacionadas ao material
do texto ou sobre a estrutura do texto ou léxico.
● Pode ser observado nas questões subjetivas que os alunos tendem a
responder às questões de forma a agradar o/a professor/a, ao invés de
estabelecer um pensamento crítico.

Observações finais e sugestões de trabalho


● ‌Todas as problemáticas acerca da compreensão textual se dão pela forma
equivocada de tratá-la como um processo de decodificação (p. 11).
● “‌Isso só será superado quando a compreensão for tida como um processo
criador, ativo e construtivo que vai além da informação estritamente textual.
Ou seja, compreender um texto envolve mais do que o simples conhecimento
da língua e a reprodução de informações” (p. 11).

● Algumas sugestões já feitas em Marcuschi (1996) podem ser aqui


repetidas, já que continuam atuais e merecedoras de atenção. São elas:
i. Identificação das proposições centrais do texto:
Uma primeira tentativa de aproximação do texto poderia ser a técnica de
identificação das ideias centrais do texto e as possíveis intenções do autor, na
medida em que muitos aspectos podem não estar envolvidos diretamente nas
informações objetivas do texto.” (p. 11)
ii. Perguntas e afirmações inferenciais:
“Uma alternativa excepcional de trabalhar a compreensão textual é montar um
conjunto de perguntas que exigem a reunião de várias informações para
serem respondidas, ou afirmações que, para serem justificadas, exigiriam
vários passos. Não seriam perguntas objetivas, mas inferenciais; perguntas
cujas respostas não se acham diretamente inscritas no texto.” (p. 12)
iii. Tratamento a partir do título:
“Trabalhar os títulos de textos é uma boa forma de perceber como se constrói
um universo contextual e ideológico para os textos mesmo antes de lê-los.”
(p. 12)
iv. Produção de resumos:
“Uma das atividades mais praticadas no dia a dia é a produção do gênero
textual chamado resumo, mesmo que isso não seja feito na forma de um
resumo em todas as suas características.” (p. 12)
v. Reprodução do conteúdo do texto num outro gênero textual:
“Neste caso estamos fazendo retextualizações de uma modalidade de uso da
língua para outra, ou seja, estamos mudando o texto falado em escrito ou o
contrário.” (p. 12)
vi. Reprodução do texto na forma de diagrama:
“A transformação ou representação de um texto no formato de um diagrama
não é simples e; em geral, causa problemas, mas é importante treinar este
tipo de visão do texto porque ele permite Estabelecer raciocínios e relações
esquemáticas e formais muito importantes.” (p. 13)
vii. Reprodução do texto oralmente:
“Um texto escrito pode ser reproduzido oralmente, tal como vimos acima.
Trata-se de uma forma de retextualização que exige um conjunto de
adaptações e transformações.” (p. 13)
“A escola deve ocupar-se tanto da compreensão Na escrita como na
oralidade.” (p. 13)
viii. Trabalhos de revisão da compreensão:
“Por fim, lembramos que há uma atividade raramente praticada com a
compreensão textual, ou seja, as sucessivas correções (geralmente
autocorreções).” (p. 13)
“A leitura de um texto com a correspondente compreensão registrada por
escrito poderia ser objeto de revisão tempos depois, mediante uma nova
leitura e verificação do que teria mudado na compreensão e por quê.” (p. 13)

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