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RESUMO
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O processo de revisã o da PNAB, ocorrido entre 2015 e 2017, foi fortemente marcado por dis‐
putas té cnico-políticas entre o Ministé rio da Saú de e as instâ ncias representativas de secreta‐
rias municipais e estaduais de saú de. As principais mudanças introduzidas pela nova versã o do
PNAB sã o a possibilidade de financiamento de outros modelos de organizaçã o da atençã o bá ‐
sica alé m da Estraté gia Saú de da Família; a ampliaçã o das atribuiçõ es dos agentes comunitá rios
de saú de; a construçã o da oferta nacional de serviços e açõ es essenciais e ampliadas da aten‐
çã o bá sica; e a inclusã o do gerente de atençã o bá sica nas equipes.
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Conclusõ es
Palavras-chave: Política de saú de, atençã o primá ria à saú de, Estraté gia Saú de da Família,
avaliaçã o em saú de, Brasil
A atençã o primá ria à saú de (APS) foi concebida, a partir de Alma-Ata, como oferta de cuidados
primá rios essenciais, fundamentados em tecnologias e mé todos, cientificamente comprovados
e socialmente aceitáveis. Esses cuidados devem estar disponíveis o mais pró ximo possível dos
lugares onde as pessoas vivem e trabalham, colocados ao alcance universal de indivíduos e fa‐
mílias da comunidade, possibilitando sua plena participaçã o, a um custo com o qual a comuni‐
dade e o país podem arcar em cada fase da comunidade seu desenvolvimento, sem espírito de
autoconfiança e autodeterminaçã o ( 1 , 2 ).
A partir da dé cada de 1980, uma mudança no perfil demográ fico e epidemioló gico da popula‐
çã o em todo o mundo, aliada a contextos econô micos restritivos, ao aumento das despesas em
saú de decorrentes da incorporaçã o desordenada de tecnologias de alto custo, à ineficiê ncia e
baixa qualidade dos serviços e à s mudanças no papel do Estado envolveram reformas organi‐
zacionais dos sistemas de saú de em diversos países das Amé ricas e da Uniã o Europeia ( 4 , 5 ).
O objetivo dessas reformas foi a otimizaçã o dos custos em saú de e a cooperaçã o entre os ní‐
veis assistenciais, com o fortalecimento dos serviços de APS e a melhoria da qualidade e efici‐
ê ncia ( 5 ).
Na Amé rica do Sul, as reformas dos sistemas de saú de ocorreram, geralmente, em conjunto
com processos de democratizaçã o, embutidas em mudanças econô micas, sociais e
legais/constitucionais mais amplas que colocavam a saú de como direito humano fundamental,
a serem desenvolvidas como parte das políticas pú blicos que enfatizavam a equidade social e a
democracia participativa. Os modelos de saú de biopsicossocial e intercultural subjacentes a tais
reformas també m implicaram maior ê nfase na família, na comunidade, na prestaçã o de servi‐
ços e políticas intersetoriais e na participaçã o social ( 6 ).
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No Brasil, durante o processo de implementaçã o do Sistema Ú nico de Saú de (SUS), as prá ticas
de APS passaram a ser chamadas de atençã o bá sica, inovaçõ es como política de Estado. A aten‐
çã o bá sica é porta de entrada do SUS e o primeiro nível de atençã o de uma rede hierarquizada
e organizada em complexidade crescente. É definido em formato abrangente, compreendendo
açõ es de promoçã o e proteçã o da saú de, prevençã o de agravos, riscos e doenças, diagnó stico,
tratamento e reabilitaçã o da saú de ( 7 ). Esse conceito está previsto na Constituiçã o Federal
brasileira de 1988 e nas normas que regulamentam o SUS.
Na linha do tempo de construçã o da APS brasileira, os primeiros cuidados primá rios remon‐
tam à Reforma Carlos Chagas, com a criaçã o, em 1920, de postos de profilaxia rural voltados
ao combate à s endemias e epidemias de agravos prioritá rios à é poca ( 8 ). Até a dé cada de
1980, quando foi criado o SUS, prevaleciam modelos centralizados e campanhistas, com oferta
de açõ es voltadas ao controle das grandes endemias e consideradas como “medicina pobre
para pobres”, com uma concepçã o assistencialista e curativa ( 9 – 11 ).
A partir de entã o, experiê ncias de organizaçã o dos cuidados primá rios foram desenvolvidas
em todo o país e serviram como precursoras de açõ es e programas governamentais instituídos
pelo Estado brasileiro e inspirados em modelos de APS de países como Canadá , Cuba, Sué cia e
Inglaterra. No início da dé cada de 1990, foram instituídos o Programa de Agentes Comunitá ‐
rios de Saú de (PACS) e o Programa Saú de da Família (PSF) – que passaram a ser Estraté gia
Saú de da Família (ESF) em 2006 ( 12 – 15 ) –, considerados o marco de uma nova proposta
nacional de APS e parte de uma estraté gia governamental para reestruturar o sistema e o mo‐
delo assistencial do SUS ( 16 , 17 ). Atabela 1apresenta as principais estraté gias, açõ es e pro‐
gramas instituídos ao longo da trajetó ria de consolidaçã o da atençã o bá sica brasileira, a partir
da instituiçã o do PACS e PSF.
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TABELA 1
Ano Estratégias/ações/programas
Criação das equipes de saú de da família ribeirinha e custó dia de unidades básicas de saú de
2010
fluviais.
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Com a instituiçã o e a implementaçã o das diversas açõ es, percebeu-se, entã o, a necessidade de
elaborar uma política nacional que nã o apenas agrupasse as distintas iniciativas, mas revisasse
muitas delas, com vistas a definir prioridades e otimizar os gastos pú blicos. Instituiu-se um
grupo de trabalho no Ministé rio da Saú de, em 2003, que produziu a Política Nacional de Aten‐
çã o Bá sica (PNAB), publicada em março de 2006 (14, 18).
Em que pese o fato de que, em 2003,importantes quadros militantes da Reforma Sanitá ria pas‐
saram a compor os quadros de gestã o do Ministé rio da Saú de (14, 19), em 2006 o cená rio po‐
lítico para a formulaçã o da PNAB se mostrou bastante conturbado, gerando grande insegu‐
rança institucional, sobretudo pela reforma ministerial ocorrida à é poca (14) e pelo fato de
que uma sé rie de açõ es estruturantes da pró pria política ainda nã o havia sido realizada, como,
por exemplo, a regulamentaçã o da categoria profissional do agente comunitá rio de saú de
(ACS), que se deu apenas em outubro do mesmo ano.
Buscando preservar a centralidade da ESF e consolidar uma APS forte, em 2011 houve uma
primeira revisã o da PNAB. Em síntese, o novo texto manteve a essê ncia de 2006 e introduziu
importantes inovaçõ es voltadas à ampliaçã o do acesso, cobertura e resolubilidade da atençã o
bá sica, com destaque para a flexibilidade da carga horá ria mé dica, a introduçã o de novos ar‐
ranjos de equipes e o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade na Atençã o
Bá sica (PMAQ-AB) (20). Tais açõ es vê m sendo implementadas desde entã o, em contraponto a
um cená rio nacional de instabilidade econô mica e política.
Da publicaçã o da PNAB 2011 até os dias atuais, diversos programas e açõ es foram modificados
ou instituídos na atençã o bá sica, como o Programa Mais Mé dicos, as açõ es e instrumentos para
consolidaçã o da integraçã o ensino-serviço, as açõ es de regulaçã o vinculadas ao Telessaú de
Brasil Redes, dentre outras. No intuito de incorporar tais açõ es à PNAB, iniciou-se, em 2015, a
segunda revisã o dessa política.
Tendo como premissa a avaliaçã o como componente da gestã o em saú de e tendo como propó ‐
sito fundamental dar suporte aos processos decisó rios no â mbito do sistema de saú de, o pre‐
sente trabalho apresenta e discute acontecimentos relacionados ao processo de revisã o da
PNAB, concluído em 2017, com vistas a introduzir narrativas que possam contribuir para aná li‐
ses futuras sobre a formulaçã o, implementaçã o e avaliaçã o dessa política.
MATERIAIS E MÉ TODOS
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tos e outros registros pessoais das reuniõ es, encontros e oficinas acerca da revisã o da PNAB,
alé m de relató rios gerenciais e documentos té cnicos e normativos oficiais.
Por meio de triangulaçã o de fontes e dados, procedeu-se à aná lise de conteú do (24). Primeira‐
mente, os autores estabeleceram contato com os materiais que iriam subsidiar a aná lise, apro‐
priando-se dele e deixando-se invadir por impressõ es e orientaçõ es. Em seguida, parte do ma‐
terial foi selecionado e agrupado de forma semelhante ao que foi descrito nos documentos in‐
vestigados, a partir de recortes e extraçã o das ideias mais relevantes, formando, assim, os
temas.
Em que pese o esforço de aná lise crítica do material sistematizado, é importante reconhecer o
lugar de fala e implicaçã o dos autores e destacar que a maior parte do conteú do aqui apresen‐
tado deriva de relatos e registros pessoais. Adicionalmente, há clareza de que se trata de uma
das versõ es possíveis de compreensã o do processo, sendo plausível a existê ncia de outros
pontos de vista, convergentes ou nã o com os apresentados aqui. Em outras palavras, os auto‐
res assumem a perspectiva bourdieusiana (25) da ausê ncia de neutralidade na verdade cientí‐
fica disposta neste manuscrito.
RESULTADOS E DISCUSSÃ O
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FIGURA 1
Alé m disso, uma sé rie de programas e estraté gias foram implementadas na busca de ampliar o
acesso e a integralidade do cuidado na atençã o bá sica. Contudo, persiste o desafio da baixa re‐
solubilidade desses serviços (26, 27).
Diante desse cená rio, gestores municipais e estaduais de saú de, por intermé dio do Conselho
Nacional de Secretarias Municipais de Saú de (CONASEMS) e do Conselho Nacional de Secretá ‐
rios de Saú de (CONASS), mostraram interesse em debater a PNAB entã o vigente, de modo que
fosse discutida, sobretudo, a ampliaçã o do financiamento federal para outras modalidades de
organizaçã o da atençã o bá sica e a possibilidade de novos arranjos na composiçã o da ESF. Em
paralelo, o relató rio da 15ª Conferê ncia Nacional de Saú de, realizada em 2015, propô s garantir
o processo de revisã o da PNAB, de modo a discutir a composiçã o e a carga horá ria de profissi‐
onais da ESF e os crité rios de distribuiçã o de habitantes por equipe.
Assim, em 2015, o Departamento de Atençã o Bá sica (DAB) do Ministé rio da Saú de deu início a
um conjunto de reuniõ es, oficinas e fó runs envolvendo trabalhadores, gestores, usuá rios e
pesquisadores. O objetivo desse esforço foi colher subsídios para a construçã o de estraté gias
voltadas à agenda de fortalecimento da atençã o bá sica para os pró ximos anos e, assim, atuali‐
zar a PNAB.
Daí em diante houve substancial transiçã o governamental, tendo assumido o Ministé rio da
Saú de o engenheiro e deputado Ricardo Barros. Com ele ingressaram novos atores políticos,
abrindo uma janela de oportunidades para que instituiçõ es que vinham pautando o Ministé rio
da Saú de para retomada da agenda de revisã o da PNAB, tais como o CONASEMS e o CONASS,
pudessem recolocar suas pautas centrais, agora de forma mais incisiva, por possuir maior ali‐
nhamento político com os novos componentes da gestã o ministerial.
Vale destacar que uma das primeiras açõ es relacionadas à agenda da atençã o bá sica realizada
pela nova gestã o do Ministé rio foi a revogaçã o das portarias 958 e 959, em 9 de junho de
2016 (portaria GM/MS 1132), em um esforço de conciliaçã o do novo governo com as entida‐
des representativas dos ACS. Por outro lado, tal medida també m resultou de pactuaçã o com o
CONASEMS, sob o compromisso ministerial de retomar a revisã o da PNAB.
Com isso, movido pelo alinhamento político entre os membros do alto escalã o das instâ ncias
componentes da Comissã o Intergestores Tripartite (CIT), o processo de revisã o foi recolocado
enquanto prioridade na agenda governamental, mesmo nã o havendo consenso entre os té cni‐
cos sobre sua tempestividade. Notadamente, esse complexo contexto, sucintamente apresen‐
tado, provocava tensã o ao longo de todo o processo de revisã o, pois a todo momento novos
elementos surgiam e importantes questõ es foram perdidas na arena de disputa. Assim, a
agenda esteve suscetível a mudanças na linha organizativa pensada até entã o para a política de
atençã o bá sica, e projetos concorrentes à queles historicamente defendidos no campo da saú de
coletiva estiveram presentes nas mesas de negociaçã o.
Apesar desse esforço, ao longo de 2017 a agenda ocorreu majoritariamente entre gestores
dos trê s entes, o que foi, inclusive, questionado pelo Conselho Nacional de Saú de. Em resposta,
a CIT propô s consulta pú blica. Durante 15 dias, foram reunidas 8 901 proposiçõ es ao texto em
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Vale destacar que, durante todo o processo ocorrido em 2017, a revisã o da PNAB foi questio‐
nada pelos movimentos sociais, pesquisadores e trabalhadores do SUS. Tais questionamentos
englobaram desde a justificativa de revisã o em um momento de instabilidade política, econô ‐
mica e social, até críticas em torno das propostas em discussã o (29, 30). Apesar desse cená rio,
a agenda de revisã o foi concluída, com a publicaçã o da portaria 2436 de 21 de setembro de
2017, republicada 7 dias depois no anexo XXII da portaria de consolidaçã o n° 02 (7).
A tabela 2 apresenta uma síntese das principais mudanças ou inovaçõ es incorporadas à PNAB
em 2017. A nova PNAB publicada em 2017 passou a reconhecer, financeiramente, outros mo‐
delos de organizaçã o da atençã o bá sica que nã o o modelo da ESF. A ESF ainda manté m-se
como prioritá ria para a expansã o e consolidaçã o da atençã o bá sica no Brasil, tendo sido, inclu‐
sive, definido valor inferior para o financiamento das novas equipes de atençã o bá sica (eAB).
Apesar desse dispositivo, alguns estudos tê m sinalizado a preocupaçã o de que tal medida
possa causar retrocesso no modelo de organizaçã o da atençã o bá sica e, ainda, a provável
perda de recursos para outras configuraçõ es, em um contexto de retraçã o do financiamento
da saú de (30).
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TABELA 2
Comparativo entre a PNAB 2011 e a PNAB 2017 segundo eixos temáticos, Brasil, 2018 a
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a
AB = Atenção básica; ACE = agente de combate a endemias; ACS = agente comunitário de saú de; eAB = equipe
de atenção básica; ESF = Estratégia Saú de da Família; NASF = Nú cleo de Apoio à Saú de da Família; NASF–AB =
Nú cleo Ampliado de Saú de da Família e Atenção Básica; PNAB = Política Nacional de Atenção Básica; UBS =
Unidade Básica de Saú de.
Mesmo com o fato de a PNAB 2017 definir que a eAB deva seguir os mesmos princípios e dire‐
trizes previstos para a ESF, e que deva ter cará ter transitó rio, uma crítica que tem se apresen‐
tado é a possibilidade de essa equipe nã o ter, em sua composiçã o, o ACS. Tal crítica é contun‐
dente quando se reconhece o papel central do ACS na mobilizaçã o e orientaçã o comunitá ria,
assim como na compreensã o e inserçã o territorial (31).
Ainda com relaçã o aos ACS, a nova PNAB amplia suas atribuiçõ es, em consonâ ncia com a nova
redaçã o dada pela lei 13 595/2018 à lei 11 350/2006, que regulamenta o trabalho dos agen‐
tes. Essa inovaçã o tem sido questionada por entidades da saú de coletiva e considerada como
descaracterizaçã o do trabalho do ACS, por priorizar atividades de cunho clínico (30). Embora
esse posicionamento seja vá lido, é importante refletir que a ampliaçã o das atribuiçõ es dos ACS
é agenda da pró pria categoria, que pleiteou junto ao Congresso Nacional tais dispositivos, vide
o projeto de lei 6 437/2016. Assim, qualquer aná lise sobre tal agenda requer reflexõ es mais
profundas e o reconhecimento dos elementos e agentes que a impulsionaram.
A PNAB 2017 reconhece, ainda, o papel do gerente de atençã o bá sica, recomendando sua in‐
serçã o na equipe, a depender da necessidade local, inclusive com apoio financeiro federal. Di‐
versos estudos (32, 33) tê m reportado a importâ ncia desse agente na composiçã o das equipes
de atençã o bá sica. Dados oficiais do Ministé rio da Saú de apontam a atuaçã o de centenas de ge‐
rentes em vá rias localidades do país.
No que diz respeito à oferta nacional de serviços e açõ es essenciais e ampliados da atençã o bá ‐
sica, reconhecida durante o processo de revisã o da PNAB como “carteira de serviços”, é impor‐
tante destacar que tal agenda foi incorporada com base em informaçõ es produzidas nos dois
primeiros ciclos do PMAQ-AB, que evidenciaram que uma parcela expressiva das equipes de
saú de nã o tem ofertado açõ es consideradas essenciais e típicas da atençã o bá sica.
Apesar de tal cená rio e do fato de inú meros municípios já terem implantado suas carteiras de
serviço, somados à existê ncia de estudos (34, 35) que comprovam que a definiçã o dessas car‐
teiras contribui para a diminuiçã o das iniquidades na oferta de açõ es e serviços de atençã o bá ‐
sica, outros estudos (29, 30) criticam a inovaçã o, definindo-a como um descompromisso com o
princípio da integralidade que tendencia a configuraçõ es em torno de cuidados mínimos, recu‐
perando a concepçã o de APS seletiva.
CONSIDERAÇÕ ES FINAIS
Dessa forma, ao final do processo, publicou-se uma Política fruto da arena de disputas trava‐
das no campo da gestã o interfederativa, em que prevaleceram os interesses de parte dos ato‐
res, ao passo que algumas inovaçõ es defendidas tecnicamente foram incorporadas à Política de
forma tímida e superficial. Tal elemento deve despertar maior atençã o à s propostas vigentes, e
ser considerado em futuras aná lises sobre a implementaçã o da atual PNAB.
Somado a esse fato, o cená rio político-econô mico brasileiro se coloca como grande desafio à
operacionalizaçã o da nova Política. A implantaçã o das diretrizes contidas no texto depende de
importante induçã o financeira federal, enquanto que, na contramã o da ampliaçã o do investi‐
mento pú blico em saú de, o que se tem de concreto é a sua limitaçã o, vide a emenda constituci‐
onal 95/2016, a nova proposta de financiamento do SUS– unificaçã o dos blocos de financia‐
mento –, e a elevaçã o dos gastos na atençã o bá sica com o lançamento do Programa de Infor‐
matizaçã o de Unidades Bá sicas de Saú de e do Programa de Formaçã o Té cnica para Agentes de
Saú de. Entretanto, o grau de prioridade desses programas talvez nã o seja eminentemente ur‐
gente para o atual momento da APS no Brasil e seu desenho parece nã o ser o mais adequado.
Adicionalmente, deve-se considerar nesse cená rio a iminê ncia de aprovaçã o de projeto de
Emenda Constitucional que propõ e a ampliaçã o do piso salarial dos ACS e ACE.
Agradecimentos
Footnotes
Como citar Almeida ER, Sousa ANA, Brandão CC, Carvalho FFB, Tavares G, Silva KC. Política Nacional de Aten-
ção Básica no Brasil: uma análise do processo de revisão (2015–2017). Rev Panam Salud Publica. 2018;42:e180.
https://doi.org/10.26633/RPSP.2018.180
Declaração. As opiniões expressas no manuscrito são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem
necessariamente a opinião ou política da RPSP/PAJPH ou da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
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