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11/02/2024, 14:08 UNINTER

SOCIOLOGIA, EXTENSÃO E
COMUNICAÇÃO RURAL
AULA 5

Prof. Alexsandro Ribeiro

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CONVERSA INICIAL

Um grande desafio no campo, em termos de extensão rural, é alcançar uma quantidade

expressiva de produtores com atendimento técnico e capacitação. O processo de divulgação de

conhecimento e de ajuste e aprimoramento das técnicas agrícolas já é um desafio próximo aos

grandes centros urbanos. Nas áreas mais distantes, essa dificuldade se amplia, em parte pela falta de

cobertura de tecnologias digitais, como a rede de telefonia 4G ou ainda a internet via fibra e, por

outro lado, pela necessária inclusão digital do acesso aos equipamentos e ao aprendizado no uso da

tecnologia. O fato é que é preciso encarar esse avanço tecnológico como políticas públicas de

inclusão do campo no meio digital. Com isso, percebe-se que a comunicação é central na sociedade e

no campo não seria diferente. Confira abaixo os temas que serão abordados nesta etapa.

Comunicação e sociedade

A comunicação e a construção da realidade

Tecnologias da comunicação e sociedade da informação

Comunicação e inovação rural


O digital no campo

TEMA 1 – COMUNICAÇÃO E SOCIEDADE

A vida em sociedade é uma relação contínua de comunicação. A depender da perspectiva, a

comunicação pode ser algo tangente ou central. Segundo a abordagem do sociólogo Niklas
Luhmann, por exemplo, a comunicação é a base da relação e do funcionamento da sociedade. De

fato, para Luhmann a sociedade é comunicação (Luhmann, 2005). A sociedade é um sistema


autopoiético, que se reproduz como uma estrutura. Esse sistema é formado por partes, subsistemas

que vão se acoplando. Nessa lógica, um sistema pode ser aberto ou fechado, a depender de sua
capacidade de sobrevivência, de autonomia etc.

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Na lógica entre a conexão de um sistema aberto com outro, o que temos não é a transmissão de

um conteúdo, como um elemento que passa de A para B, mas a reprodução de uma informação, que
é comunicada entre A e B e reproduzida entre os dois. A relação entre esses sistemas é uma relação

de comunicação. Da mesma forma podemos entender a reprodução social na perspectiva de

Durkheim (2007) também pela lógica da comunicação, como elemento de constrangimento social

que busca moldar os indivíduos às regras sociais ou, ainda, de uma perspectiva marxista, pelo viés

analisado pelo filósofo argelino Louis Althusser, com base na reprodução do poder da classe
dominante não apenas pela força repressora do Estado, mas pela da força ideológica, no que

Althusser destaca como aparelhos ideológicos de Estado. Nesse aspecto, a comunicação é exercida
com base nos aparelhos ideológicos, à medida que atua como instituição especializada em reproduzir

as relações de produção e exploração do capitalista (Althusser, 1978, p. 63).

Em todas essas questões observamos como a comunicação tem uma função específica e como

podemos perceber alguns elementos e funcionamentos que nos ajudam a compreender as dinâmicas

sociais. Primeiramente, vamos observar as questões mais simples da comunicação na sociedade,

como sua estrutura e função. Como destaca Lasswell (2002), a comunicação tem uma forma de ser

organizada ou de se manifestar, e expressa uma intencionalidade ou um objetivo. Assim, uma maneira

“conveniente para descrever um ato de comunicação consiste em responder às seguintes perguntas:

quem diz o quê, em que canal, para quem, com que efeito?” (Lasswell, 2002, p. 105). Nesse aspecto,

temos, com as respostas a tais questões, a estrutura da comunicação e sua função.

Outro ponto que Lasswell destaca em sua abordagem sobre a comunicação na sociedade é que

existem ao menos três funções sociais da comunicação que podemos observar. A primeira é a de

vigilância sobre um meio. Nesse aspecto, a comunicação serve como uma espécie de controle ou de
ferramenta para mapear as dinâmicas de um determinado meio. É com base nas comunicações de um

povo, expressas em manifestação em praça pública, por exemplo, que podemos analisar o grau de
insatisfação de um grupo social. Uma segunda função é a correção entre as partes perante um meio.

Aqui, o pesquisador referencia-se na conexão entre os elementos que integram um sistema e na


forma como eles estabelecem vínculo com o meio em que atuam. Por fim, destaca-se (Lasswell, 2002)
a capacidade de transmissão de herança social, ou seja, a reprodução do conhecimento e das

posturas sociais de geração para geração.

Retomando as questões sugeridas por Lasswell para nos ajudar a entender o ato de
comunicação, alcançamos, partindo dessas respostas, elementos fundamentais para compreender a

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comunicação com base em um modelo que consegue sintetizar as formas de comunicação. Esse

modelo denomina-se matemático funcional. De forma lógica, esse paradigma percebe a comunicação

não pelo contexto social, mas pela transmissão de um código por meio de um determinado canal. Os

principais estudiosos que contribuíram para esse modelo foram os matemáticos Shannon e Weaver
(1971). O objetivo dessa proposta de modelo era compreender como reduzir erros de comunicação,

ou seja, como estruturar uma forma em que os dados ou a mensagem inserida em um ponto de um

meio alcançaria uma excelente performance em termos de transmissão, ao longo do caminho, sem
perdas. Nesse paradigma, a estrutura é formada por um emissor, que busca transmitir, por um meio,

uma mensagem em formato de código até que essa mensagem alcance o receptor, que a decodifica

e interpreta. O conteúdo não é importante em termos de contexto, mas sua completa transmissão.

Um ruído é aquilo que pode prejudicar essa transmissão completa. Nesse caso, um ruído pode ser ao

menos de duas dimensões.

A primeira é um ruído mecânico. Em um sistema de rádio ou de ligação analógica, por exemplo,

um ruído mecânico pode ser um rompimento de cabo, ou ainda uma interferência. Em uma

comunicação interpessoal, como uma conversa, um som mais alto de uma ambulância, por exemplo,

que dificulta ouvir a mensagem da fala de um interlocutor, pode ser um ruído mecânico. Assim, a

forma de aumentar as chances de a mensagem alcançar seu objetivo de modo completo é ampliar a

quantidade de vezes, por meio da repetição. Um outro ruído pode ser semântico. Nesse caso, não é

um problema do canal, mas do entendimento ou da interpretação da mensagem. Uma língua

estrangeira não compreendida por um dos agentes da comunicação, ou ainda uma palavra cujo

significado não é conhecido, pode ser um problema semântico.

A forma de contornar é diferente daquela relativa ao problema mecânico pelo fato de que, se
não há um entendimento da palavra, não adianta repetir. Isso não fará com que ela seja interpretada.

É preciso aumentar a quantidade e a variedade de informações, como uma explicação para a palavra
não compreendida. Nesse aspecto, como uma expressão matemática que busca calcular a

performance, sempre teremos um condicionante relativo à proporcionalidade da informação. Quanto


mais repetimos uma informação mais reduzimos os problemas mecânicos, mas prejudicamos o
desenvolvimento de uma solução para um problema semântico que precisa não de maior quantidade,

mas de maior variedade.

TEMA 2 – A COMUNICAÇÃO E A CONSTRUÇÃO DA REALIDADE


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O modelo matemático de comunicação pode apresentar uma série de condicionantes e

limitações quando o assunto é a percepção das dinâmicas de comunicação na sociedade. Mas

certamente é um modelo que dará sustentação a uma lógica da comunicação com base na

cibernética (Wiener, 1984), que busca observar os aspectos comunicacionais entre elementos
sistêmicos e humanos. Assim, a comunicação é um agente de regulação de ambiente, como

percebemos anteriormente. Imagine um sistema como o de regulagem de temperatura de um

ambiente. Um termostato vinculado a um ar-condicionado é um sistema que busca um determinado


equilíbrio do ambiente. Isso, claro, considerando que o equilíbrio é sempre alcançar ou manter a

temperatura indicada por quem regula o aparelho. Todo o sistema tende à desordem, ou seja, tende à

entropia.

Em uma sala com uma temperatura específica, a quantidade de pessoas e suas dinâmicas podem

interferir no meio em que elas estão. Os corpos vão produzir calor ou absorver calor, desregulando o

sistema. Um termostato, como um elemento de retorno ou feedback, tende a capturar ou a fazer uma

leitura. Se estiver fora do padrão estabelecido, ele pode acionar uma série de padrões de ação

preestabelecidas em situações possíveis, como, por exemplo, acionar o redutor de temperatura se o

resultado estiver acima do ponto de equilíbrio. Ou, ao contrário, pode ativar a refrigeração, se o

ambiente apresentar temperatura acima do que é estabelecido como regra. Assim, a relação entre o

termostato e o ar-condicionado atua como uma espécie de agente da neguentropia, seguindo em

ordem contrária à entropia.

Essa regulagem que a comunicação permite e a automatização de um sistema, em certa medida,

é o que nos orienta para o uso dos meios e tecnologias da comunicação ao longo do século XX.

Assim, as mídias atuaram como reguladores de um sistema, aprimorando os fluxos de dados ou de


informações, conectando indivíduos e orientando-os na ação da sociedade. Cabe aqui indicar que os

meios de comunicação, como tecnologias do imaginário, ajudam a construir a realidade socialmente.


Ou seja, conforme as sociedades vão se organizando em cidades complexas, a realidade social

demanda maior mediação da tecnologia para que se concretize para os cidadãos. Como saber o que
ocorre em uma câmara federal ou, ainda, como saber o que ocorre em outros países cujos efeitos
podem impactar nossa realidade social? Com os meios de comunicação e das tecnologias da

informação, como agentes de distribuição da informação e regulagem dos sistemas sociais.

Berger e Luckmann (1973) são sociólogos que se debruçaram sobre a análise da sociologia do
conhecimento e sobre como é construída a realidade de forma social. Para eles, atuamos dentro de

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uma realidade. Há uma relação dialética na construção da realidade e o indivíduo, à medida que

interfere nela e ao mesmo tempo é interferido por ela, é impactado pela realidade que ajuda a

constituir. Nesse aspecto, os autores vão idealizar duas perspectivas de realidade, uma delas objetiva

e a outra subjetiva. Na primeira perspectiva, o que se percebe é o processo de institucionalização e


legitimação. Ou seja, é a realidade que independe da interpretação ou da subjetividade do indivíduo.

Na segunda perspectiva, o que temos é a realidade subjetiva, que é constituída com base em três

momentos: exteriorização, objetivação e interiorização. Ora, em um primeiro momento, o indivíduo


estabelece suas leituras com a observação ao que é externo e consolida-as por meio da linguagem.

Depois, objetifica-as, criando hábitos e instituições pela linguagem. Por fim, internaliza esses hábitos,

criando percepções de realidade do indivíduo (Berger; Luckmann, 1973).

Como aponta Ribeiro (2021), a comunicação e a tecnologia da informação desempenham papel

central no acesso à informação e na socialização. Assim, “longe de recair em um determinismo

tecnológico, reconhecemos que os meios e as suas formas de entendimento social são fundamentais

para criar uma conexão em um universo de oferta quase infinita de informação” (Ribeiro, 2021, p.

128). Ora, os meios expandem as capacidades dos homens, ao mesmo passo que reduzem espaços e

afetam as dinâmicas do tempo. Basta lembrar o tópico em que abordamos McLuhan e a globalização.

Ao longo do século XX, as estruturas de comunicação de massa foram determinantes para um

processo de modernização da cultura e de acesso à informação. Se a educação e a informação são


bens para as classes privilegiadas no começo do século XX, considerando a imprensa como a principal

ferramenta para se alcançar multidões e pensando que a alfabetização é ainda precária nesse ponto, a

partir da década de 1920 o que temos é uma massificação do consumo de informação. Com o rádio

iniciando sua atuação no solo nacional e ganhando maior amplitude em 1930, à medida que é
empregado como política de massificação pelo próprio governo de Getúlio Vargas a população

começa a receber informação pública de forma mais ampla e constante.

Ora, o que temos, portanto, é um aumento da espacialização da comunicação e do enraizamento

no país, considerando as dimensões continentais que o Brasil apresenta, além das estratificações
sociais. Isso se dá inicialmente com o rádio, por seu potencial democrático pela fala (o que facilita o

entendimento e a relação de proximidade entre ouvintes e radialistas) e pelo baixo custo dos
aparelhos usados para a sintonização, e se intensifica com o surgimento da TV no país na década de

1950 e sua popularização a partir dos anos 1970. À medida que a realidade é construída socialmente,
e com base na comunicação e suas tecnologias, o cenário nacional apoiado não em um letramento,

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mas em meios sonoros e visuais, pressiona para uma cultura oral visual mais determinante, o que

ajuda a compreender aspectos culturais da atualidade.

TEMA 3 – TECNOLOGIAS DA COMUNICAÇÃO E SOCIEDADE DA


INFORMAÇÃO

Entre o final do século XX e o início do milênio, intensificou-se a importância da informação na

sociedade, não apenas como um elemento de coesão social, mas como um recurso que gera valores,

capitais e uma ressignificação das funções do mundo do trabalho, sobretudo pelas tecnologias da

comunicação. E quais são essas tecnologias da comunicação que tanto destacamos? Podemos

delimitá-las ao conjunto de recursos tecnológicos, de estrutura física ou digital, empregados em rede

de forma integrada para a circulação e o acesso à informação. Como aponta Ribeiro (2021), a

contemporaneidade como sociedade mediada tecnologicamente é “resultado de um processo de

avanço da mídia e de sua capacidade de criar conexões e significados. Esses sistemas são decorrentes,

assim, dos aprimoramentos da sociedade industrial e consolidaram-se no século XX”.

Apesar de os meios tradicionais terem sido efetivos ao longo do século XX, há de se destacar

suas limitações em termos de participação, ou seja, de duplo fluxo de dados, uma vez que poderiam

apenas ser massivos do emissor para os receptores. Aqui, ao pensar nas tecnologias da comunicação

e da informação, estamos indicando, portanto, os meios mais atuais, meios digitais como

smartphones, tecnologias com capacidade de acesso por Wi-Fi ou Bluetooth, dentre outros. O uso de

tais tecnologias pressiona para um ajuste social que afeta toda a vida humana por meio de um
processo de digitalização. A economia passa a ser digital nesse processo de aprofundado e amplo uso

de tecnologias da comunicação e da informação no dia a dia, a ponto de vivermos em um cenário das


financial technology ou fintechs, empresas de produtos financeiros no meio digital, como os bancos

digitais, sem agências físicas, com total relacionamento virtual com seus clientes.

Esse é um dos exemplos do que definimos como sociedade da informação, que é esse momento
de organização geopolítica em que a produção e a circulação da informação com as tecnologias
digitais permeiam de forma ampla e rizomática a vida da maior parte da população. Vivemos o que o

sociólogo Manuel Castells (2000) destaca como sociedade em rede, com a centralidade dos recursos
tecnológicos e dos meios digitais como espaço de socialização e construção social. Se até o final do

século XX, mesmo com o advento da internet e da massificação dos computadores pessoais, vivíamos

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uma dicotomia da vida on-line e off-line, hoje há uma dissociação entre essas duas instâncias, ao

passo de, em alguns momentos, não ser mais possível perceber a mudança de um estado para outro

(não havendo mais a possibilidade de vida off-line, à medida que as formas de produção, de consumo

e de socialização são demandantes do meio digital).

A sociedade da informação, destaca Castells (2000), consolida-se por meio de, ao menos, três

dimensões. A primeira é a reestruturação produtiva. Aqui, destacamos a mudança de uma revolução


industrial, focada na matriz energética, em bens materiais e no consumo, para uma revolução 4.0,

focada na informação e na implementação de inteligência artificial e automatização no cenário

produtivo. A segunda dimensão é a evolução tecnológica, o que é evidente diante da acentuada


aceleração com que o mercado da tecnologia digital apresenta inovações. Por fim, a terceira

dimensão é a reorganização política. Temos uma revitalização da esfera pública digital com a inclusão

do estado no espaço virtual por meio do e-governo, o que permite maior acesso e representatividade

aos cidadãos.

Outro ponto a destacar é a capacidade de circulação e de produção de conteúdo pelos

consumidores de informação, ou seja, com o cenário digital, os usuários que, nos meios massivos do

século XX eram passivos, considerando que o rádio e a TV, por exemplo, eram unidirecionais, com a

rede e a sociedade da informação assumem um papel ativo. Cada um pode criar um canal de

comunicação, um produto com poder de capilaridade e de impacto. Isso aumenta o consumo da


informação e, consequentemente, pressiona para um aumento da produtividade. A informação deve

circular para não morrer. As linhas do tempo das redes sociais são exemplos dessa frenética produção
de informação, sempre incluindo novos conteúdos em evidência e relegando outros ao ostracismo.

TEMA 4 – COMUNICAÇÃO E INOVAÇÃO RURAL

Retomando nossos olhares para o meio rural, mas com base no que já debatemos nesta etapa,
vamos abordar o tema da comunicação rural. Ora, sabemos que a comunicação não é uma

manifestação apenas tecnológica, mas cultural também. Com isso, o meio em que é desempenhada e
constituída altera suas características.

Bordenave (1988) vai conceituar comunicação rural como o contexto e o conjunto de fluxo de

informação e "de influência recíproca existentes entre os componentes do setor rural e entre eles e os
demais setores da nação afetados pelo funcionamento da agricultura, ou interessados no

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melhoramento da vida rural". Na comunicação rural não apenas as tecnologias são importantes, mas

também a leitura sobre grupos formais e informais, ou seja, a circulação de informações de natureza
pessoal em atividades presenciais e comunitárias também.

Podemos indicar a formação da comunicação rural na mesma perspectiva da formação do


extensionismo rural, pelo fato de que ambos são aliados em termos de política de divulgação e de

compartilhamento do saber no campo. Assim, como aponta Silva (2020), a comunicação rural vai se
consolidar no Brasil conjuntamente com os órgãos públicos que atuam na extensão rural com foco

em levar, para os moradores do campo, conhecimento e tecnologia para aprimoramento da

produtividade. Isso se dá, inicialmente, por meios impressos e comunicação interpessoal, como

palestras, revistas, cartilhas e programas de rádio.

Assim, pensando na abordagem do contexto de constituição do saber, em concomitância com a

conexão cultural da comunidade do campo, a comunicação rural tende a cumprir três funções básicas:

divulgar e compartilhar novas perspectivas de desenvolvimento (o que a aproxima ainda mais da

proposta de extensão rural), oferecer ferramentas para aglutinação e concentração de políticas

públicas por parte dos atores sociais e das comunidades rurais e propiciar a oferta de plataformas de

comunicação com foco na inclusão e no desenvolvimento social (como as rádios comunitárias) (Silva,

2020).

Por meio dessas três questões, vemos a comunicação rural atuando no desenvolvimento do

campo, fortalecendo as comunidades (com os programas de rádio ou ainda com os programas

televisivos que representam a identidade do campo, que abordam sua cultura musical e identitária,
suas vestimentas e falas, bem como seus costumes) e permitindo a divulgação e o conhecimento de

tecnologias que possam aprimorar a produtividade ou ainda dar condições de melhor qualidade de
vida (divulgação de inovação no campo, redes sociais digitais e demais espaços de compartilhamento

de informações sobre uso de novas tecnologias, sem contar as ferramentas de aprendizado focado no
ensino a distância), além de que “possibilitam o conhecimento de formas de obtenção de crédito para

investimentos em insumos e matéria-prima e ajudam na obtenção de informações sobre problemas


que podem atingir o campo” (Silva, 2020).

De forma orgânica, a comunicação rural se dá por vários fluxos, que podem ser verticais e
horizontais, unilaterais ou multilaterais. Como comunicação vertical, podemos perceber aquela que se

dá por um fluxo ascendente ou descendente, dentro de instituições ou de organizações

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burocratizadas. É o caso de cooperativas ou associações em que o quadro diretivo pode apresentar

informação, por exemplo, da mesma forma como uma empresa do agronegócio pode estabelecer um

boletim informativo em que a diretoria ou presidência passam informações para seus funcionários e

produtores. A comunicação verticalizada é aquela que não apresenta uma determinada

hierarquização, sendo realizada entre pares, como é o caso de cooperados diretos ou, ainda, a

comunicação que pode se dar na comunidade em reuniões ou mutirões. Já os fluxos unilaterais ou

multilaterais estão relacionados à multiplicidade de focos de pontos de contato: de um para muitos


ou de muitos para muitos.

Bordenave (1988, p. 30), ao pensar nas categorizações da comunicação rural e ao perceber que a
comunicação rural não é única, mas resultante de uma série de “transformações quantitativas e

qualitativas que se produzem no meio da população rural e na qual os efeitos convergentes

produzem, com o tempo, uma elevação do nível de uma e uma evolução favorável do gênero de

vida”, vai indicar alguns modelos que podem ser adotados no campo.

Um primeiro é o modelo de difusionismo, em que o foco é a transmissão de conhecimento

acerca da inovação tecnológica no campo, encurtando o tempo de circulação dos avanços no meio

acadêmico ou empresarial. Aqui, dialoga mais com a postura do extensionismo rural do século XX,

com foco na produtividade. Assim, Bordenave (1988), afirma que o modelo coloca “forte ênfase na

comunicação, tanto das informações necessárias para avaliar e aplicar inovações, quanto das
mensagens motivadoras e persuasivas que promovem uma atitude inovadora geral”.

Nesse modelo, o que se propõe é uma rede eficiente de transferência de tecnologia. Assim, a
comunicação rural entra na etapa de difusão planejada aliada à extensão após as fases de pesquisa

básica e aplicada da inovação, com foco em promover a adoção da inovação pelos agricultores
inovadores (que são os mais propícios à adoção de inovação) para posterior replicação por outros.

Um outro modelo é o de inovação induzida pelo mercado. Nesse aspecto, o foco é o

investimento do capital e não do espaço institucional educacional público, como é feito de forma
predominante no Brasil. Para isso, percebe-se o caminho que a inovação pode tomar, antes do
investimento, uma vez que a rentabilidade é central no modelo de mercado. A crítica que Bordenave

(1988) faz a esse modelo é que ele privilegia grandes latifundiários, uma vez que os produtores de
baixa renda somente acessariam tal modelo à medida que ele atua em coletivo.

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TEMA 5 – O DIGITAL NO CAMPO

A sociedade da informação não se restringe ao espaço urbano. Na verdade, parte do espaço rural
apresenta avanço tecnológico em comunicação e inovação que supera em muito grande parte das

áreas urbanas, começando pelo número de usuários da rede.

Dados da Pesquisa ABMRA Hábitos do Produtor Rural[1], promovida de forma contínua pela

Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA), apontam que 94% dos produtores

pesquisados têm smartphone e 74% usam a internet para buscar informação, acessando a rede 15 ou

mais vezes ao dia.

A internet e as tecnologias da informação e comunicação digital no campo também são

indicadas como ferramentas de negócio, uma vez que cerca de 75% dos produtores mencionaram

que já usaram aplicativos como WhatsApp para fechar negócios. Ou seja, a conectividade no campo

pressiona para que o produtor esteja ligado à rede e integre a tecnologia ao seu dia a dia. Na
produtividade, isso se dá de forma ainda mais acentuada, com o uso de recursos como drones ou

aplicativos com mapeamento por satélite e geolocalização para acompanhamento da produção,

serviços cada vez mais corriqueiros para médios e grandes produtores.

É preciso considerar que essa inclusão digital no campo se dá em função de um cenário que

acompanha uma tendência mundial. Mesmo assim, é preciso que haja condições para que seja

eliminada a exclusão digital e ampliada a alfabetização e letramento para a tecnologia. Conforme

destaca Sorj (2003), para buscar uma inclusão é fundamental perceber cinco fatores de influência para
maior ou menor difusão do meio digital. O primeiro fator é relativo à questão física da tecnologia e

sua infraestrutura, ou seja, uma rede que garanta o serviço disponível. Muitas vezes o conhecimento
sobre a forma de acesso e o recurso para compra do equipamento pessoal é garantido. Mas o serviço

não alcança, especialmente em função da dimensão continental do Brasil; a cobertura de rede da área
rural é de apenas 23%[2]. Isso significa, portanto, que os dados da pesquisa dos hábitos do produtor

rural indicam o acesso a alguns pontos, mas não em toda a área rural.

O segundo fator é o recurso individual, o que aponta para uma relação de classe econômica e

social quando pensamos em acesso. Aqui, não é apenas a estrutura como serviço, mas a capacidade
econômica para acessar. O terceiro aspecto é relativo ao letramento ou literacia da tecnologia. O

quarto fator refere-se à “capacidade intelectual e inserção social do usuário” (Sorj, 2003, p. 63). Por

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fim, o quinto fator é relativo ao critério de conteúdos que estejam alinhados culturalmente ao recorte

do estrato social.

Em diálogo com Sorj (2003), Darcie (2022) reforça que o acesso à máquina não é sinônimo de

inclusão e que há aspectos geracionais que afetam a dinâmica da digitalização no campo, ou seja, a
forma como a

população se apropria da tecnologia varia de acordo com suas características culturais [...] um dos

motivos que contribui para ampliar a exclusão digital é geracional, já que o campo brasileiro sofre
de uma evasão de sua camada mais jovem há muitos anos que prejudica adoção de novas

tecnologias de comunicação digital.

Além da mudança de qualidade de vida por meio da inclusão digital relacionada, podemos

destacar o impacto do meio digital no campo para a extensão rural e a assistência técnica dos

produtores. Se uma das principais dificuldades da expansão do extensionismo é a falta de recursos e

investimento, que reduz o número de profissionais na assistência técnica e a abrangência da


cobertura, fazendo com que algumas regiões sejam carentes do extensionismo rural, a internet pode

reduzir isso alinhando tecnologia e ação profissional.

Isso ocorre por meio do processo de digitalização da Ater (Assistência Técnica e Extensão Rural)

em alguns estados, cuja intensificação se deu principalmente com a pandemia de COVID-19, por meio

de serviços e produtos digitais como programas de rádio digitais, podcasts, portais na internet, redes

sociais digitais exclusivas para o meio rural, aplicativos de assistência e de capacitação. Aqui, podemos
destacar ao menos três formas de atuação da Ater com a tecnologia: Ater Digital, Ater Remota e Ater
Virtual (Darcie, 2022). Segundo Darcie (2022), na Ater Remota, o trabalho de assistência e de

capacitação se dá de forma complementar entre presencial e virtual. Nesse aspecto, não é


necessariamente uma prática que demanda meios avançados tecnologicamente, podendo ser

realizada com recursos de comunicação mediada. Assim, é uma proposta que pode ser digital ou
analógica.

Considerando a modalidade anterior, a Ater Digital é obrigatoriamente mediada por recursos


digitais, que podem ser desde os mais simples em termos de quantidade de recursos, como SMS, até

recursos mais amplos, como vídeos em sites. Algo que começa a estabelecer uma diferença, além da
maior cobertura, é a relação temporal. Com isso, a Ater pode ser síncrona, ou seja, realizada

conectando ao mesmo tempo extensionista e produtor, em conferência ou ações de capacitação e de


divulgação técnica, ou assíncrona, em que o acesso aos materiais se dá no tempo do produtor.
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Já a Ater Virtual pode ampliar o uso dos recursos digitais para um sistema de atendimento

automatizado, com aplicativos e portais com sistemas de chatbot ou motores de análise de dados

para retorno de resultados. Com isso, com base em algoritmos, alguns cenários são apresentados a

depender das entradas de conteúdos indicadas pelo produtor, agilizando o processo, mas mantendo
uma forma de customização tendo em vista a realidade indicada pelo produtor.

FINALIZANDO

A vida em sociedade é mediada pelos meios de comunicação de massa e pela tecnologia. Com as

cidades tornando-se mais complexas, não é possível alcançar todos os principais acontecimentos

presencialmente. Um cidadão, para exercer sua cidadania, hoje orienta-se sobre seus deveres e

direitos, por exemplo, por meio de recursos como os meios tradicionais de comunicação, como rádio

e TV, ou ainda pelas tecnologias da comunicação e informação, como a internet. No cenário rural,

busca-se uma comunicação rural que aprofunde o uso de tais tecnologias com foco na melhoria de

produtividade e da qualidade de vida. Algo que percebemos é que, paulatinamente, serviços como a

Ater, que primordialmente eram realizados presencialmente, podem ser digitalizados ou realizados

com apoio da tecnologia para melhorar o acesso do produtor ao conhecimento e aos recursos

tecnológicos que promovam a inclusão do campo.

REFERÊNCIAS

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conhecimento. Petrópolis: Vozes, 1973.

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LASSWELL, H. A estrutura e a função da comunicação na sociedade. In: ESTEVES, J. P.

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11/02/2024, 14:08 UNINTER

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